8. A exclusão da comunhão
Chegamos agora ao ato final de tirar de comunhão e pedimos ao leitor que observe quantos passos precederam esse ato final. Tememos que muitos de nós tenhamos errado em relação a isso. Temos negligenciado tão completamente os passos preliminares do cuidado fraternal e vigilância que o pecado público pode ser atribuído pelo menos em parte à nossa negligência, tanto quanto ao que comete o erro. É claro que onde o pecado manifestou-se num caráter tal que não se possa tolerar, como escrito em 1 Coríntios 5, resta apenas um caminho aberto – “Tirai pois dentre vós a esse iníquo”. A razão para tal ato, entretanto, deve ser clara. Não deve haver lugar para suspeita de mera animosidade pessoal, nem a sugestão de que um partido (uma divisão) na assembleia ganhou seu ponto.
O mal para ser tirado deve ser de tal caráter evidente que não levante suspeita nas mentes daqueles que dele ouvirem, de que severidade indevida foi usada. Podemos estar certos de que se a consciência comum dos santos falha em reconhecer uma conduta como imoral, aqueles que procuram infligir tal disciplina deveriam perguntar a si mesmos se eles não estão errados. De fato, não temos aqui uma daquelas garantias que o amor divino deu, pela qual o povo amado de Deus é apto a receber o aviso e conselho de seus irmãos? Muito mais poderia ser dito sobre este ponto. Acreditamos que não há necessidade de dizer mais nada.
Uma pessoa pecadora que é tirada de comunhão não perde apenas o direito de partir o pão, mas os santos devem separar-se de sua companhia; e ainda, mesmo neste caso há certos limites para a disciplina que sugerimos. Como quem pecou é membro de um lar cristão, um marido ou irmão, seria um erro aplicar literalmente as palavras “com o tal nem ainda comais” (1 Coríntios 5:11). Uma esposa não deveria recusar sentar-se à mesa com seu marido que está em disciplina. Ela manifesta a sua recusa de comunhão de outras maneiras. Seria uma mera perseguição insistir em que ela deixasse de cumprir seus afazeres domésticos.
Podemos ainda mencionar que quando uma pessoa foi tirada de comunhão, é bom de vez em quando ir vê-la, na esperança de que Deus esteja trabalhando sua alma; mesmo a exclusão tem a recuperação como objetivo.
Com relação a este assunto acrescentamos algumas palavras quanto ao aspecto coletivo da disciplina. Temos de insistir que a verdade de um só Corpo e o esforço para manter a unidade do Espírito requer que a verdade da disciplina exercida por uma assembleia seja aceita e aplicada por todas as outras assembleias. Falhar em fazer isto seria independência do mais evidente caráter; mas isto só enfatiza a necessidade de que a disciplina deve ser tal como indicamos, com caráter apropriado conforme a Escritura.
Como já dito, se a ação disciplinar foi tão extrema que suscita dúvidas à consciência dos santos de outros lugares, a assembleia local pode questionar se não cometeu um erro. Em tal situação deveria buscar a comunhão com irmãos de outras localidades que sentem alguma inquietude e apresentar seus exercícios e sua ação disciplinar. Se estivermos conscientes que agimos para o Senhor, podemos estar confiantes que nossos irmãos, nos quais confiamos na integridade espiritual, após conhecerem os fatos, chegarão à mesma conclusão nossa. Também podemos, com a desconfiança em nós mesmos, que vai junto com a real certeza, pedir conselhos complementares e buscar a comunhão daqueles que estão igualmente ligados a nós pelo ato da disciplina.
Ah, quantas divisões do passado resultaram da falha em reconhecer o princípio do que acabamos de falar! Atos extremos de disciplina foram forçados sobre o povo de Deus de tal forma que não lhes foi permitido questionar a justiça de tais atos, mas foram obrigados a concordarem ou então retirar-se da comunhão com a assembleia que exerceu a disciplina.
Não precisamos ser mais específicos aqui, porque, ah, nossos corações estão feridos em pensar nas nossas falhas neste sentido! Deveríamos apenas perguntar, não há mais remédio? Não podemos esperar, em alguma medida pelo menos, reformular nossos passos; e se cremos que severidade indevida foi usada na ação da disciplina, não deveríamos nós, no temor de Deus e em toda simplicidade, concordar e desfazê-la na medida em que podemos?
Este assunto tão importante foi, em alguma medida, apenas tocado superficialmente. Concluindo, animemo-nos mutuamente a praticá-lo em todos os seus vários detalhes. Que haja um despertar entre os santos, uma verdadeira restauração da graça em nossos corações, a qual, enquanto busca cumprir apropriadamente toda disciplina, cuidadosamente observa os limites que a palavra de Deus coloca em cada estágio; e possa nos guardar dos perigos aqui apontados.
S. Ridout
Tradução: Rosimeri Fauth Martins, revisão Paulo Martins.
Texto original: http://www.stempublishing.com/authors/S_Ridout/SR_Disciplines_Limits.html