Mario Persona

O que Respondi Volume 13 (Parte 1)

O que respondi…

aos que me perguntaram sobre a Bíblia

Volume 13 —

Mario Persona


Published by Smashwords

ISBN 9780463085042

Copyright © 2019 by Mario Persona

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Santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. (1 Pedro 3:15)

Ilustração de capa: Billy Frank Alexander

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As citações são da Bíblia nas das versões ACF — Almeida Corrigida Fiel, ARC — Almeida Revista e Corrigida, ARA — Almeida Revista e Atualizada, JND — John Nelson Darby ou eventualmente uma tradução livre baseada nestas versões.

Você encontra o conteúdo deste livro em formato vídeo-áudio em youtube.com/respondidas

Trechos deste livro podem ser reproduzidos, copiados e distribuídos desde que o texto não seja alterado e seja feita a devida referência ao autor. Apreciamos seu apoio e respeito a esta propriedade intelectual.

Prefácio

Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.

Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.

Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.

Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.

Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.

Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço_3minutos.net_. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “_O que respondi”_ passou a servir de complemento aos vídeos_._ Enquanto no “_Evangelho em 3 minutos”_ a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “_O que respondi”_ ela é explicada em detalhes e com referências.

Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.

Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.

Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.

Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.

É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.

Este livro é vendido em formato impresso e distribuído gratuitamente em formato e-book, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor também para a versão e-book. Em nenhum dos casos isso implica algum ganho para o autor que optou por abrir mão dos ganhos com direitos autorais. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro, desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.

Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.

Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).

Mario Persona

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Quem disse que Pastor não é um título honorífico?

Você me ouviu dizer em algum lugar que nenhum cristão no Novo Testamento trazia títulos como os que hoje trazem os ‘Pastores’ antes do nome, tipo ‘Pastor Fulano’, ‘Pastor Sicrano’. E aí argumentou que Paulo era chamado de apóstolo, o que na sua ótica era razão suficiente para chamarmos alguns de “pastor” antes do nome. Realmente, você não encontra nenhum ‘Pastor Fulano’ nas páginas do Novo Testamento porque pastor era um dom dado por Cristo conforme Efésios 4:11. A cristandade adotou essa maneira de qualificar pessoas como fazem com ‘Doutor Fulano’, ‘Engenheiro Sicrano’, ‘Deputado Beltrano’, ‘Comendador Tal’, em sua volúpia por dividir os cristãos entre clérigos e leigos.

Com a adoção de escolas de teologia — algo também estranho à doutrina dos apóstolos — essas pessoas passaram a sair da faculdade com títulos assim, do mesmo modo como um advogado que sai de seu curso de direito com direito ao título por ter estudado e se esforçado para obtê-lo. Estes títulos honoríficos fazem sentido numa escala humana, como no caso de médicos, professores, advogados, políticos, etc., mas nada têm a ver com os dons dados por Cristo.

Até onde eu pude observar, no Novo Testamento só encontramos pessoas identificadas pelo dom no caso de apóstolos, profetas e evangelistas. Mas repare que em nenhum caso o dom vem antes do nome como se fosse um título honorífico. Me corrija se eu estiver enganado, mas em buscas na Bíblia encontrei diversas vezes a forma “Paulo, apóstolo…”, mas nenhuma vez ‘Apóstolo Paulo’. Aliás, quando Pedro o menciona, usa a forma “_irmão”_antes do nome, “como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu”(2Pe 3:15). Isso está bem ao modo como o Senhor Jesus pediu que nos considerássemos mutuamente: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos”(Mt 23:8). E qual a razão de ele ter dito isso? Nada melhor que apresentar todo o contexto para detectar a loucura daqueles que buscam posições eclesiásticas:

Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai [ou padre], porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mt 23:1-12).

Para o dom de profeta também não encontrei qualquer citação do tipo “Profeta Fulano”, mas apenas a identificação de quem era a pessoa, como quando “chegou da Judeia um profeta, por nome Agabo”(At 21:10). Apenas os profetas do Antigo Testamento trazem “_Profeta”_antes do nome, como “Profeta Isaías”. Mas estamos falando aqui dos dons dados por Cristo à igreja em Efésios 4, e faremos bem em observar o modo como os cristãos do primeiro século tratavam uns aos outros, nunca elevando alguém a uma posição honorífica por ter obtido seu dom por esforço próprio ou comenda dos homens, como fazem as pessoas do mundo.

Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores não eram tratados como títulos honoríficos ou eclesiásticos, mas eventualmente era citado o dom apenas para indicar a capacidade que Cristo havia dado àquela pessoa. Era apenas para diferenciar o dom, e isso obviamente era mais expressivo no caso de apóstolos e profetas, que não existem mais, por terem sido eles as pedras do alicerce da casa de Deus. A alegação de alguns hoje de que podem ou devem ser chamados de pastor antes do nome, só porque Paulo era identificado como apóstolo, Agabo como profeta e Filipe como evangelista, é no mínimo pedante. O que esses que querem ser chamados assim procuram? Crédito por possuírem um dom? Ninguém pode se orgulhar de um dom porque é algo que recebeu sem merecer.

…para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro. Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1Co 4:6-7).

Além disso nunca devemos nos esquecer de que os dons de Cristo de Efésios 4 (não confundir com as manifestações do Espírito de 1 Coríntios 12) são dados como dons para o corpo como um todo. São dons universais e não locais ou provisórios, como são as manifestações de 1 Coríntios 12, que literalmente são chamadas, não de “dons espirituais”, mas de “manifestações espirituais”. Alguém que tenha o dom de pastor será reconhecido por seu dom utilitário de pastor em qualquer lugar onde esteja. Eu disse reconhecido pela facilidade e disponibilidade como age no cuidar das ovelhas, não apontado ou ordenado. O mesmo vale para o evangelista, que qualquer um pode identificar por sua prontidão em buscar pecadores e encaminhá-los a Cristo, e o mestre ou doutor, pela facilidade como expõe as Escrituras e tem prazer em explicá-las.

E ele mesmo [Cristo] deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:11-12).

Mas isso obviamente alguém no sistema denominacional não irá entender, porque ali “_pastor”_virou título honorífico e sua atuação é na assembleia local e também como uma espécie de dirigente das reuniões. Esse modelo foi copiado do catolicismo romano, e por isso o pastor protestante tem a mesma função do padre católico, apenas usando uma roupa diferente. Mas sua atuação obviamente inibe a ação do Espírito Santo numa reunião da igreja, onde a ordem não foi dada para que um falasse, mas para que dois ou três falassem e os outros julgassem (Leia 1 Coríntios 14:26 ao final).

Uma experiência me marcou logo nos meus primeiros anos de convertido. Eu já compreendia em algum grau estas coisas quando conversei com um jovem ‘pastor’ presbiteriano. Ele tinha feito faculdade de teologia, sido ordenado ‘pastor’ e designado para ‘pastorear’ uma pequena congregação numa cidade vizinha. Naquele dia ele veio abrir seu coração para me dizer que estava deprimido, que nunca teve jeito para cuidar de pessoas, para dirigir ‘cultos’, para visitar enfermos e tudo o que era exigido dele. O que ele gostava mesmo era de sair pelas ruas evangelizando, pregando nas praças, distribuindo folhetos evangelísticos. Ele tinha um jeito especial de sorrir para as pessoas e seus olhos brilhavam quando falava do Salvador.

Mas ficar confinado aos ditames da organização à qual servia estava sendo demais para ele. Senti pena daquele irmão em Cristo que eu já tinha observado ser um evangelista de mão cheia, um soldado de linha de frente, não de retaguarda. Ele estava mais para Filipe, que era levado pelo Espírito aonde quer que existisse um eunuco pronto para ouvir as boas novas, do que para um Barnabé, “o qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração; porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé”(At 11:23-24 - a propósito leia desde os versículos 19 ao 26 para ver os diferentes dons em ação nesta ordem: evangelista, pastor e mestre). Da conversa que tive com aquele jovem pastor presbiteriano percebi o quanto eu era privilegiado de não ser guiado por alguma organização religiosa que rotula o que cada um deve ser e determina o que cada um deve fazer dentro de suas fileiras eclesiásticas.


A profecia aconteceu, está acontecendo ou acontecerá?

Você escreveu dizendo que seu amigo judeu tenta refutar a interpretação cristã de que a profecia de Isaías 9:6 estaria falando do Messias, da vinda de Jesus em carne quando iria nascer 700 anos mais tarde em Belém da Judeia. Dentre outros argumentos, um é o de que os verbos estão no passado em relação ao profeta, o que poderia indicar eventos já acontecidos. Bem, se assim fosse teríamos de deixar de chamar Isaías de “Profeta” e passar a chamá-lo de “Historiador”, o mesmo para todos os profetas que em algum momento falaram de coisas futuras usando verbos no presente ou passado.

Certamente todo judeu precisa se esforçar em refutar todas as profecias do Antigo Testamento que falam do Messias, e não são poucas, porque a outra opção seria crer nelas e aceitar que o Messias é Jesus, que veio há dois mil anos, morreu numa cruz para nos salvar, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus onde está glorificado à destra do Pai. Ao invés de tentar torcer as profecias, sugira ao seu amigo que ele deveria torcer o braço. Quero dizer, o próprio, “dando o braço a torcer” e reconhecendo que o seu povo esteve errado estes dois mil anos em sua rebelião, incredulidade e rejeição do Messias que é Jesus, o Cristo.

Esta profecia de Isaías alguns judeus atribuem ao Rei Ezequias, porém uma interpretação assim desce atravessada na garganta de qualquer pessoa sincera.

Considere o contexto:

Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galiléia das nações. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. Tu multiplicaste a nação, a alegria lhe aumentaste; todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa, e como exultam quando se repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo da sua carga, e o bordão do seu ombro, e a vara do seu opressor, como no dia dos midianitas. Porque todo calçado que levava o guerreiro no tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue, serão queimados, servindo de combustível ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.” (Is 9:1-7).

Um dos argumentos dos judeus é de que o significado do nome “_Ezequias”_seria “_Força de Deus”_ou “_Energizado por Deus”_e que por isso ele seria o “_Deus Forte”_ou “_Deus Poderoso”_mencionado no versículo 6. Sério?! Ezequias significa Deus?! Apenas aventar tal possibilidade já seria uma blasfêmia para qualquer judeu sincero. Se não bastasse esse “dente” na interpretação, a profecia fala de um menino da Galileia ao qual está destinado ao trono perpetuamente, e Ezequias deve ter nascido em Jerusalém, onde seu pai era rei, e evidentemente não reinou “desde agora e para sempre”(Is 9:7). Ezequias, que também não poderia ser chamado de “Príncipe da Paz”, já que algumas guerras pesam em seu currículo. Por outro lado, temos Jesus, nascido em Belém da Judeia, identificado na doutrina dos apóstolos como Filho de Deus, o equivalente a ser Deus e Homem, e com um currículo que o identifica totalmente como tendo vindo em paz, inclusive sem resistir aos seus algozes. Não seria bem mais fácil o judeu simplesmente dizer, “Oops! Me enganei!”?

Mas não é apenas nesta passagem que os judeus tentam se esquivar de Jesus inventando alguma desculpa para substitui-lo por outro personagem qualquer. O conhecido capítulo 53 de Isaías é também atacado pela incredulidade dos judeus. Ali eles dizem que o “_homem de dores”_seria Israel, que tanto sofreu nas mãos dos gentios. Existem alguns problemas com essa interpretação, porque ali é dito que o Servo “nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca”(Is 53:9), uma característica que passa longe do modo como Israel se comportou durante toda a sua existência. E para confundir mais as coisas para a interpretação judaica, no capítulo seguinte, o 54, os judeus concordam que a “_mulher”_é Israel. Afinal, quem é Israel? O homem de dores do capítulo 53 ou a mulher do 54?

Enquanto alguns judeus são rápidos em afirmar que os sofrimentos descritos pelo “_homem de dores”_de Isaías 53 tenham sido os infligidos aos judeus no holocausto nazista e em outros períodos, ninguém em sã consciência iria acreditar que os judeus quando sofriam estavam sendo feridos “por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades”(Is 53:5), ou seja, por causa de suas próprias (dos judeus) iniquidades que no versículo 9 o profeta Isaías disse não existirem, pois “nunca cometeu injustiça”. Também ninguém acreditaria que aquele povo tenha sido colocado “por expiação do pecado”(Is 53:10), o que faria do povo judeu o salvador do mundo.

Será tão difícil para um judeu perceber que ali está falando de um sacrifício como eram os sacrifícios dos cordeiros? “Como um cordeiro foi levado ao matadouro” (Is 53:7). E como é que o povo judeu poderia, por seu sofrimento, ser considerado como aquele que “justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si… porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores, mas ele levou sobre si o pecado de muitos e intercedeu pelos transgressores”? (Is 53:11-12).

Outro problema em se tentar identificar o “homem de dores”como sendo o povo judeu está no fato de ele ter se voluntariado a sofrer o que sofreu: “Verdadeiramenteele tomou sobre sias nossas enfermidades, e as nossas dores**[ele] levou sobre si**” e não ter passado por esse sofrimento com algum sentimento de revolta, mas sim de submissão, quando “foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca… como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”(Is 54:4,7). O sofrimento do povo judeu não foi voluntário, eles foram obrigados a sofrer. E também não foi recebido passivamente, mas até hoje os judeus ressentem de como seu povo foi perseguido, humilhado e maltratado ao longo dos séculos, e a caça aos criminosos de guerra nazistas é página conhecida da história de Israel. Mas talvez os judeus desistam da ideia de se considerarem o “_servo sofredor”_de Isaías 53 porque este termina morto e sepultado: “E puseram a sua sepultura com os ímpios”(Is 53:9). Estariam os judeus dispostos a considerar sua nação como terminada? Acho que não.

Seu amigo judeu se referiu também ao tempo verbal de algumas profecias que parecem indicar o evento como já tendo acontecido, por usar o tempo no passado. Existem duas maneiras de se abordar essa dificuldade, uma do ponto de vista do tempo e outra do ponto de vista linguístico, embora as duas formas acabem se sobrepondo de alguma maneira. Quando um profeta recebia uma mensagem da parte de Deus ele estava falando de uma esfera que transcendia o mundo, o tempo e a matéria, portanto o modo como ele iria apresentar aquilo poderia variar.

Vou dar um exemplo: em junho de 2016 os astrônomos flagraram uma explosão estelar, e até fotografaram o momento da explosão que irradiou uma luz 570 bilhões de vezes maior que a luz do Sol. Portanto, nos anais da história científica a estrela explodiu em junho de 2016, mas considerando que ela estava a 3,8 bilhões de anos-luz da terra isto significa que aquela explosão aconteceu bilhões de anos atrás e a luz viajou todo esse tempo até chegar à Terra em 2016. Então, quando foi mesmo que a explosão aconteceu? Quando os astrônomos fotografaram o evento ou quando eles nem sequer existiam para fotografar coisa alguma? Mas se eles disseram que viram a estrela explodir, estariam eles mentindo?

Se neste caso os cientistas optaram por anunciar a explosão colocando o verbo no passado, algo do tipo “Detectamos hoje que uma estrela explodiu”, o que dizer da Eta Carinae, uma estrela cem vezes maior que o sol que os astrônomos perceberam que está dando sinais de ir pelo mesmo caminho? Eles anunciaram algo assim: “A Eta Carinae está dando sinais de que irá explodir em um prazo de até dez mil anos”. Apesar de usarem o verbo no futuro, a luz dessa estrela leva nove mil anos para chegar à Terra e pode ser que ela já tenha explodido há muito tempo, mas continua sendo vista como se existisse. Deveriam eles dizer que a estrela explodiu, está explodindo ou explodirá?

Percebe como é complicado explicar as coisas quando expandimos um pouco nossa esfera de percepção? Agora imagine alguém recebendo uma comunicação divina de coisas que iriam acontecer no futuro e nem sequer seria uma questão de percepção visual do evento, como no caso da estrela, mas de coisas que ainda nem existiam no tempo e no espaço. Como o profeta as descreveria? Como um historiador, dizendo que elas já aconteceram, como um repórter ao vivo, dizendo que elas estariam acontecendo, ou como um verdadeiro profeta dizendo que ainda iriam acontecer?

Depende de como sua linguagem deveria ser usada para impactar seus ouvintes. É o caso de eu contar a você que sonhei que fui almoçar na sua casa e você serviu arroz e feijão. Como devo contar isso, considerando que foi um sonho, que eu nunca fui à sua casa e nem sei onde você mora? Mesmo assim eu uso o verbo no passado, “fui à sua casa e comi arroz e feijão”, porque é a única maneira de eu contar meu sonho. Talvez eu poderia usar algo do tipo “sonhei que teria ido à sua casa e você teria servido arroz e feijão”, mas de uma ou de outra forma eu precisaria escolher como comunicar meu sonho. Em qualquer caso os verbos seriam irreais, pois o fato sequer existiu.

Algumas passagens da profecia intercalam o tempo passado e presente porque o profeta quer transmitir a ação da melhor maneira para os que virão depois dele. Veja o caso de Isaías 53. Baseado em verbos isolados alguém do tempo de Isaías poderia crer que aquilo estava acontecendo naquele exato momento, enquanto outro achar que iria acontecer num dia futuro a partir do momento em que o profeta escreveu, outro, como eu e você, que tudo já aconteceu, tanto a escrita quanto o evento.

Quem deucrédito à nossa pregação? E a quem se manifestouo braço do Senhor? Porque foi subindo... não tinhabeleza… não haviaboa aparência… eradesprezado… não fizemosdele caso algum… eletomousobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levousobre si… ele foiferido por causa das nossas transgressões…” (Is 53:1-5). Até aqui o tempo utilizado é o passado, mas aí você chega ao ponto em que “o castigo que nos traza paz estavasobre ele, e pelas suas pisaduras fomossarados” (Is 53:5). E agora? A paz é presente fundamentada em um castigo passado?

Se continuar a leitura verá que o verbo vai para o futuro, “…quemcontaráo tempo da sua vida?”(Is 53:8) e “…quando a sua alma sepuserpor expiação do pecado,veráa sua posteridade,prolongaráos seus dias, e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, eficarásatisfeito, com o seu conhecimento o meu servo, o justo,justificaráa muitos, porque a as iniquidades deleslevarásobre si”(Is 53:10-11). Mas como poderá ele levar no futuro a iniquidade (no futuro) se foi ferido (no passado) “por causa das nossas transgressões”(Is 53:5) e já “ levousobre si o pecado de muitos”(Is 53:12)? E para deixar tudo mais confuso ainda, compare diferentes traduções da passagem que colocam o verbo em diferentes tempos, o que deixa o texto à mercê dos tradutores. Vamos pegar apenas três traduções diferentes do versículo 3, duas que colocam o verbo “ser” e uma que não estabelece o tempo do verbo, que parece ser como está no original:

Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Almeida Revista e Atualizada)

He is despised and left alone of men” (“Ele é desprezado e abandonado dos homens” - J. N. Darby e também King James).

Despreciado y desechado entre los hombres” (Reina Valera).

Para concluir, sugiro que diga a seu amigo judeu para deixar de procurar pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo e correr logo para os braços de Cristo, reconhecendo-o como seu Messias e Salvador. Porque se ele não enroscar nos tempos dos verbos aqui, vai enroscar em outra passagem até chegar a Daniel 9:26 e descobrir que o Messias já foi cortado (morto), e isso antes de Jerusalém e o Templo (o “santuário”) ter sido destruído no ano 70 da era cristã:

E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário(Dn 9:26).


Não existe dízimo na doutrina dos apóstolos?

Não, você não encontrará o dízimo na doutrina dos apóstolos que está nas epístolas, exceto por alguma citação fazendo referência ao Antigo Testamento e à Lei. Também não encontrará muitas outras coisas, como igrejas denominadas (exceto pela identificação da cidade onde estavam), templos, pastores dirigindo congregações, mulheres falando nas reuniões da igreja, altares, música instrumental na adoração, corais, homilias, danças, ensaios, dias santos, escolas de teologia, um clero distinto dos leigos, roupas ou cadeiras diferentes para certas pessoas do clero, títulos honoríficos, presidente disso, diretor daquilo, etc.

Na doutrina dos apóstolos os cristãos não constroem templos e nem trazem outro nome que diferencie uns dos outros além do nome de Cristo, não se fazem membros de alguma instituição religiosa, não assinam algum contrato para obter carteirinha e nem prestam juramento a algum sistema. Eles são exortados a reconhecer que há um só corpo de Cristo que inclui TODOS os salvos, e a darem testemunho prático disso quando congregarem ao nome do Senhor Jesus para a comunhão e aprendizado da doutrina dos apóstolos, para celebrar a ceia do Senhor à mesa do Senhor, e para a oração.

Individualmente, e não como igreja, eles saem para pregar o evangelho, mas não são capacitados por alguma escola de teologia e nem enviados por alguma junta de missões ou liderança, mas apenas pelo Espírito Santo. Estes que saem na obra do Senhor NUNCA pedem dinheiro aos irmãos para fazer a obra (porque é do Senhor e ele irá prover se for dele), e muito menos de incrédulos. Também não promovem partidos políticos ou apoiam candidatos. São simplesmente cidadãos celestiais que estão momentaneamente vivendo na Terra, um planeta que não lhes pertence e que eles não se iludem em transformar em um “mundo melhor” porque sabem seu destino.

Mas antes que você fique animado com a ideia de não existir a exigência do dízimo na doutrina dos apóstolos, saiba que a beneficência é sim estimulada no sentido de socorrer os mais pobres e enfermos e prover para aqueles que se dedicam ao trabalho do evangelho. No princípio da Igreja os primeiros cristãos até chegaram a ter tudo em comum, mas isso com o tempo e a ruína que se instalou no testemunho cristão mostrou- se impraticável.

Mesmo assim os cristãos são exortados a não se esquecerem “da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada”(Hb 13:16). Também são aconselhados, não a praticar caridade para receber a salvação, pois esta já receberam de graça pela fé em Cristo, mas simplesmente porque o que Deus lhes dá não devem considerar como sendo de si mesmos, mas devem entender que são apenas despenseiros (responsáveis pela despensa) de Deus para distribuir o que Deus lhes dá com sabedoria e para suprir as necessidades da obra e do povo de Deus.

Assim como o Senhor Jesus foi liberal dando sua própria vida por nós, o Espírito através dos apóstolos exorta: “Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa bênção, já antes anunciada, para que esteja pronta como bênção, e não como avareza. E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará” (2Co 9:5-6).

Ao contrário da Lei, quando o israelita era obrigado a dar uma porcentagem fixa, ao cristão é dito que “cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre” (2 Co 9:7-9).

Deus promete a manutenção das necessidades do crente, como abrigo e sustento, não como no Antigo Testamento quando era prometida prosperidade e mesmo riquezas. Ao contrário do que pregam os teólogos da prosperidade, Deus pode prover mais que o necessário, porém apenas para o crente poder ser mais liberal em sua obra para o Senhor, e não para enriquecer. A Palavra de Deus em muitas passagens mostra a loucura que é querer ficar rico:

Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6:8-10). “Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc 12:20-21).

Deu para perceber que esses pregadores da prosperidade transformam seus seguidores em loucos para que caiam em laço, perdição e ruína, se desviem da fé e se traspassem com muitas dores?

Toda provisão do crente vem de Deus: “Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça”, mas vem com um propósito muito definido: “Para que em tudo enriqueçais PARA TODA A BENEFICÊNCIA, a qual faz que por nós se deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos” (2Co 9:10-13).

Portanto, Deus provê para sermos provedores daqueles que têm necessidades e daqueles que trabalham na obra do evangelho sem pedir nada a ninguém. O fato de não pedirem não significa que não necessitem. Muitas vezes necessitam, mas são exercitados a depender só do Senhor que irá mover corações de indivíduos e assembleias para proverem o necessário para levarem o evangelho e o ministério da Palavra. Sempre que um cristão ajuda alguém em suas necessidades, tanto para supri-lo em sua pobreza, como para que o evangelho continua sendo pregado, está produzindo “graças a Deus… muitas graças que se dão a Deus”. Este é o final da história: não o enriquecimento, mas a glória de Deus.

Portanto se você pensou que congregar somente ao nome do Senhor fora das denominações e dos sistemas religiosos e isento do dízimo iria sair mais barato, é melhor pensar de novo. A motivação do crente nas coisas de Deus nunca deve ser material, nem no sentido de dar, nem no sentido de receber. Nem preciso dizer que aquela história de campanhas, votos, promessas e tantas outras coisas praticadas na cristandade hoje não passam de mesquinharias, de pessoas querendo fazer barganha com Deus para de algum modo enriquecerem.


Abrão mentiu?

Você se refere ao capítulo 12 de Gênesis. Sim, Abrão mentiu. Quando foi tentar morar no Egito, para evitar que o matassem para ficar com sua bela esposa, combinou com Sarai para ela dizer que era sua irmã. Mas seu estratagema acabou sendo descoberto, e humilhado publicamente por seu pecado, Abrão foi deportado por Faraó. Vamos ao texto, observando que aqui Deus ainda não tinha mudado o nome de Abrão e Sarai para Abraão e Sara:

E havia fome naquela terra; e desceu Abrão ao Egito, para peregrinar ali, porquanto a fome era grande na terra. E aconteceu que, chegando ele para entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista; e será que, quando os egípcios te virem, dirão: Esta é sua mulher. E matar-me-ão a mim, e a ti te guardarão em vida. Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti. E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios a mulher, que era mui formosa. E viram-na os príncipes de Faraó, e gabaram-na diante de Faraó; e foi a mulher tomada para a casa de Faraó. E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa, com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão. Então chamou Faraó a Abrão, e disse: Que é isto que me fizeste? Por que não me disseste que ela era tua mulher? Por que disseste: É minha irmã? Por isso a tomei por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te. E Faraó deu ordens aos seus homens a respeito dele; e acompanharam-no, a ele, e a sua mulher, e a tudo o que tinha” (Gn 12:10-20).

Mas a mentira não surgiu assim, do nada. É preciso entender como foi que Abrão foi parar no Egito, que é a história nos versículos que antecedem. Deus tinha chamado Abrão para que saísse de Ur e fosse para uma terra que Deus lhe mostraria só depois que desse o passo de fé para sair de onde estava, uma terra que lhe seria dada e à sua descendência. Abrão saiu por fé, caminhou por fé, e chegou à terra prometida por fé. No versículo 7 Deus revela que aquela mesma terra para onde tinha ido, sem que soubesse, é a mesma que lhe fora prometida. Abrão então constrói um altar e adora a Deus ali.

Até aí tudo bem. Mas então a jornada de fé termina e começa a jornada pela vista.

Como os cananeus ainda habitavam a terra, Abrão achou melhor continuar viagem e acabou seguindo em direção ao Neguebe, e era um período de fome (agora chamamos a isso “crise”). Ele não quis esperar Deus acertar as coisas, mas tomou uma decisão, segundo sua própria vontade, de ir morar no Egito. Mas para isso precisaria mentir para preservar sua mulher e sua própria vida. O resto da história é o que lemos há pouco, de como sua mulher foi tomada para fazer parte do harém do palácio de Faraó.

Esta é a ordem das coisas para nosso aprendizado. Deus nos chama para caminhar por fé e a dependermos dele por fé. Fazemos direitinho no começo de nossa conversão e aí se as coisas não saem exatamente como esperávamos; ou se achamos que Deus está demorando para nos valer, decidimos tomar as rédeas de nossa vida e é aí que entra areia na engrenagem. Isto porque quando decidimos dar um passo fora da vontade de Deus aquele passo exige outro passo, que exige outro passo… e quando percebemos estamos mais enrolados que novelo de tricô daqueles que você custa a encontrar a ponta.

O que aconteceu com Abrão depois de ter seu estratagema descoberto? Voltou do Egito para Betel, o lugar onde havia adorado a Deus, e ali volta a adorar a Deus. Não nos é dito que ele tenha feito isso no Egito, apesar de ter saído muito rico de lá graças aos favores alcançados de Faraó. Leia o capítulo 12 inteiro e depois o 13 de Gênesis para ter uma visão panorâmica de toda a história.

Em que ponto de sua jornada você está hoje? Você está onde Deus colocou você para poder adorar de consciência tranquila e livre de subterfúgios e enganação? Ou você está tentando a sorte no Egito, tendo para isso comprometido sua consciência e a Verdade a fim de conseguir alguns privilégios, riquezas e honra? Lembre-se da história de Abrão e lembre-se também da história de Isaque. Ora, o que Isaque tem a ver com isso? É que Abrão voltará a usar do mesmo estratagema no capítulo 20 de Gênesis quando vai morar em Gerar e o rei de lá, Abimeleque, sem saber, toma Sara para seu harém.

Um hábito pode acabar sendo transmitido de pai para filho, e foi isso que aconteceu com Abraão, que acaba sendo imitado por seu filho Isaque em circunstâncias semelhantes.

E perguntando-lhe [a Isaque] os homens daquele lugar acerca de sua mulher, disse: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher; para que porventura (dizia ele) não me matem os homens daquele lugar por amor de Rebeca; porque era formosa à vista. E aconteceu que, como ele esteve ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma janela, e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca sua mulher. Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher; como, pois, disseste: É minha irmã? E disse-lhe Isaque: Porque eu dizia: Para que eu porventura não morra por causa dela. E disse Abimeleque: Que é isto que nos fizeste? Facilmente se teria deitado alguém deste povo com a tua mulher, e tu terias trazido sobre nós um delito. E mandou Abimeleque a todo o povo, dizendo: Qualquer que tocar neste homem ou em sua mulher, certamente morrerá” (Gn 26:7-11).

Na Bíblia encontramos ao menos duas outras vezes quando alguém usa de mentira para um determinado objetivo, mas são ocasiões onde o objetivo foi mais um ato de misericórdia do que a preservação da própria vida, como Abraão e Isaque pensaram estar fazendo, quando no final ficou demonstrado que Deus os protegia de qualquer jeito. Uma foi no caso das parteiras dos hebreus no Egito, que mentiram para Faraó visando salvar os meninos que Faraó ordenou que fossem mortos. Outra foi Raab, a prostituta, que mentiu para não revelar os espias israelenses que estavam escondidos em sua casa. Em ambos os casos o objetivo foi salvar vidas.

Em nenhum lugar Deus nos manda mentir ou permite a mentira, mas nestes dois casos o desejo de obedecer a Deus e salvar outras vidas foi maior que o de autopreservação, que foi a intenção no caso de Abraão e Isaque. Pense nos cristãos que esconderam judeus em suas casas durante a segunda guerra. O soldado entra na casa e pergunta: “Tem algum judeu escondido aqui?” O que seria um ato de compaixão, dizer ao soldado que sim sabendo que isso significaria a morte dos judeus, ou dizer que não na tentativa de salvá-los?

Existem situações em que é difícil determinar como agir. Por exemplo, conheci um homem que foi prisioneiro em um campo de concentração nazista na Segunda Guerra. Sua função era enterrar os judeus que eram fuzilados, mas às vezes ele precisava dar o golpe de misericórdia porque nem todos morriam dos tiros. Alguns ainda estavam vivos e, para não os enterrar vivos, ele batia com a pá na cabeça do moribundo até ter certeza de sua morte antes de enterrá-lo. Como você agiria?


Como o cristão deve se posicionar politicamente?

Provavelmente você não irá concordar com meu posicionamento, principalmente se pertencer a alguma religião cristã que adote a “Teologia do Pacto”, aquela que considera a Igreja uma mera continuação de Israel. Nesta classe estão o catolicismo e a maior parcela do protestantismo e pentecostalismo. É compreensível que discorde, se não tiver percebido as diferentes dispensações ou modos de Deus tratar com a humanidade na Palavra de Deus, e a diferença entre o povo terreno de Deus (Israel) e o povo celestial (Igreja).

Enquanto as condições do país continuam a se deteriorar, existindo sempre a possibilidade de uma intervenção militar para desempatar, e enquanto naturalmente somos afetados em nossas emoções, com posições que desfazem amizades e dividem famílias, é bom lembrar que, para quem crê na Bíblia, a Palavra de Deus, não importa se irá prevalecer o partido “A” ou “B”, o governante “X” ou “Y”. Qualquer um, consciente ou não, fará parte do processo de pavimentação do caminho para o Império Romano revivido e o governo da besta, além do falso profeta (o anticristo).

A esquerda deixou um rastro de sangue na história do mundo (94 milhões de vítimas, segundo “The Black Book of Communism”) e provou não funcionar porque o homem é egoísta por natureza (“Distribuir riqueza? Só se for a do outro!” — diz o coração humano). A direita também teve sua chance de mostrar os dentes ao longo da história (25 milhões só do Nazismo), mas o meu palpite é que será mais para esse lado que os ventos soprarão até a chegada do tirano que será recebido pela população como o salvador do mundo.

Ao cristão cabe ser sábio o suficiente para não se deixar fazer massa de manobra e bucha de canhão, nem de um, nem de outro lado ou partido. Considerando que é Deus quem “muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis”(Dn 2:21), como você se sentiria ao saber que votou ou apoiou contrariamente ao que Deus determinou, caso não tenha sido o seu partido ou candidato o vencedor?

Então alguém dirá: “Mas omissão é pecado!”. Se assim for, Jesus, os apóstolos e os primeiros cristãos poderiam ser chamados de omissos, já que não moveram uma palha para alterar as condições políticas de sua época. Tiveram influência sim, com suas vidas e pregação, mas nunca tentaram mover as peças do xadrez político para as alinharem aos seus próprios caprichos ou interesses. E motivo não faltava, já que eram cruelmente perseguidos, escravizados e mortos por tiranos perto dos quais os líderes de hoje não passam de aprendizes.

Nem Jesus e nem os primeiros cristãos tentaram mudar as coisas porque bem sabiam que o reino de Jesus não era deste mundo. É claro que seus discípulos só foram entender isso mais tarde, e não nos evangelhos, pois ficaram desapontados quando a carreira daquele que seguiam terminou na cruz. “E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram”(Lc 24:21), disseram dois deles pouco antes de Jesus ressuscitado

se revelar a eles. Mas com a vinda do Espírito Santo e a formação da Igreja em Atos 2 tudo ficou muito claro, pelo menos até poucos séculos mais tarde a igreja ser vista “onde está o trono de Satanás”(Ap 2:13), isto é, o mundo.

Um dia Cristo voltará para governar este mundo tendo a Igreja, sua esposa, ao seu lado. Mas ainda não chegou a hora. Neste momento o príncipe daqui é o diabo, Satanás, e um crente sábio irá entender que tentar mudar isso é dar murro em ponta de faca. Os homens entregaram ao diabo todos os reinos do mundo, primeiro ao serem culpados de irem na sua conversa no Éden, depois quando disseram de Jesus:“Não queremos é que este reine sobre nós”(Lc 19:14). Portanto, não se espante quando os governos do mundo são injustos e tomam decisões equivocadas. Isso só confirma que os reinos estão sob o poder de Satanás, não de Cristo.

A condição do mundo atual é a mesma de quando Jesus foi tentado: “E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu” (Lc 4:5-7). Essa condição só irá mudar no futuro, quando o diabo perder os reinos que agora domina: “E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (Ap 11:15).

Ao se despedir de seus discípulos Jesus foi muito claro: “Agora, é o juízo deste mundo; agora, será expulso o príncipe deste mundo. Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em mim” (Jo 12:31-32).

Um irmão costumava dizer que ao lado de cada governante deste mundo existe um demônio pronto para assessorá-lo. Mas será que isso tem fundamento bíblico. Tem, e um exemplo está em Daniel 10: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia”(Dn 10:13). Se você considerar que Miguel é aquele que tinha a missão de proteger Israel, fica evidente que os reis da Pérsia tinham também seu “Príncipe”, que obviamente era um anjo ou espírito maligno. Se você entende profecia sabe que chegará um dia quando o mundo será governado pela besta e pelo anticristo, criaturas energizadas pelo próprio Satanás e que serão recebidas com aplauso e adoração.

Cabe aqui a célebre frase de Paul Henri Spaak, primeiro presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, disse uma vez: “O que queremos é alguém de calibre para fazer uma aliança de todos os povos e nos tirar do lamaçal econômico no qual estamos afundando. Que venha tal homem, seja ele Deus ou o Diabo, e nós o receberemos”. Se esse dia chegar quando você ainda estiver aqui, será que irá querer fazer parte da política que irá aclamar esse líder? Mas não precisa se assustar com o que eu digo porque se você realmente creu em Jesus como seu Salvador e recebeu dele a salvação eterna por graça somente, você será tirado do mundo antes da manifestação da besta e do anticristo.


Deus fixou em 120 anos a idade máxima do homem?

Você perguntou se os 120 anos mencionados em Gênesis 6 seriam o limite de idade para os seres humanos viverem após o Dilúvio, e se esse limite continuaria valendo para hoje.

Não, cento e vinte anos seria o tempo que Deus iria esperar para dar uma chance aos seres humanos de se converterem com a pregação de Noé antes de enviar o dilúvio que mataria a todos.

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos” (Gn 6:3).

Como não houve arrependimento — ao contrário de Nínive, mais tarde, que se arrependeria mediante a pregação de Jonas — Deus enviou o dilúvio 120 anos depois de ter avisado Noé. Esse também foi o tempo dado para Noé ser o pregoeiro da justiça, avisando as pessoas do juízo que estava por vir, e ele fez isso pelo Espírito de Cristo, como aprendemos em 1 Pedro 3:19 e 4:6. Vou acrescentar comentários [entre chaves] para você entender melhor o significado do texto:

Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual [Espírito] também foi, e pregou [por intermédio de Noé] aos espíritos [agora] em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água… Porque por isto foi pregado o evangelho também aos [que hoje estão] mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito”.

Ao comentar a passagem em que Deus dá 120 anos de prazo para os homens se converterem antes de lançar o dilúvio, William MacDonald comenta: “O Senhor avisou que Seu Espírito não contenderia com o homem para sempre, mas que haveria um atraso de cento e vinte anos antes de ocorrer o juízo do dilúvio”. L. M. Grant tem a mesma opinião, dizendo: “Deus, por meio de Seu Espírito, tinha estado contendendo com os homens contra a pecaminosa vontade deles, a Sua paciência chegaria ao fim, embora Ele ainda iria permitir mais 120 anos antes de destruir a civilização”. Outro que comenta algo semelhante é F. B. Meyer: “Mas o Espírito de Deus insistiu com o homem, e apesar de ter sido colocado um limite para Suas súplicas, Deus buscou homens com arrependimento sincero, até que o Seu Espírito Santo recebeu a negativa final e se afastou triste e desapontado. A postergação do juízo foi considerável. O Espírito de Deus aguardou por 120 anos”.

Mais um comentário, de Geisler/Howe, diz: “A passagem entra em conflito com as idades das pessoas que viveram mais que 120 anos em Gênesis 11:12-16. Portanto, a ideia (da longevidade de 120 anos) eu acredito ser baseada numa má leitura ou má interpretação do texto. Os cento e vinte anos mencionados por Deus em Gênesis 6:3 não podem significar um limite para o tempo de vida de seres humanos, já que você encontra pessoas mais velhas que isso que são mencionadas alguns capítulos depois no livro de Gênesis, incluindo o próprio Noé. O significado mais provável é que o Dilúvio do qual Deus havia alertado Noé, não aconteceria até 120 anos após o aviso inicial dado a Noé. Isso é melhor explicado em 1 Pedro 3:20, onde lemos: “Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca”. Portanto, considerando o contexto da passagem de Gênesis 6:3 ele estaria bem conforme ao que encontramos no capítulo 11 do mesmo livro (que fala do tempo de vida de pessoas após o dilúvio)”.


Se os demônios creem por que não são salvos?

Você escreveu dizendo: “A Bíblia diz que crer, até os demônios creem e tremem. Então como você diz que basta crer em Cristo sem fazer nenhuma obra e com isso já se tem a Salvação?” A questão é: será que é isso mesmo que a Bíblia diz? Se ler Tiago 2:19 verá que existe um equívoco na forma como a passagem costuma ser citada por aqueles que defendem a tese de que não basta crer em Cristo para ser salvo. Na Bíblia está assim: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem”.

O que diz aí é que os demônios creem que Deus é um só, e não que creem em Cristo como Salvador. Quando os discípulos perguntaram que obras — no plural — precisariam fazer, o Senhor respondeu no singular e falou da única obra. “Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado”(Jo 6:28-29).

Os demônios nem precisavam crer pela fé em Cristo para saber que ele existe e quem ele é, pois fica muito claro que conhecimento eles tinham quando se encontraram com Jesus na província de Gadara:“Tendo ele chegado ao outro lado, à terra dos gadarenos, saíram-lhe ao encontro dois endemoninhados, vindos dos sepulcros; tão ferozes eram que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram, dizendo: Que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8:28-29).

Obviamente saber que Deus é um só e que Cristo é o Filho de Deus não é suficiente para alguém ser salvo, porque os demônios sabem muito bem disso. E eles não só não podem crer em Cristo, como também não iriam querer crer naquele que irá herdar todas as coisas, considerando que são militantes de Satanás, o arqui-inimigo do Filho de Deus. Eles seguem aquele que sempre quis usurpar o lugar de Cristo como Senhor; eles seguem aquele que é hoje o Príncipe deste mundo, o diabo.


Jesus mandou dar o dízimo?

Você perguntou por que não estaríamos hoje, como cristãos, obrigados a dar o dízimo se o próprio Jesus disse nos evangelhos que o dízimo devia ser pago. Sim, ele disse em Mateus 23:23: “_Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”_A mesma ordem ele repete em Lucas 11:42.

Mas em Mateus 8:4 ele também disse ao leproso curado para ir ao templo oferecer os sacrifícios ordenados pelos sacerdotes de Israel: “vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo”. Esses sacrifícios para quem fosse curado de lepra haviam sido determinados em Levítico 14:4-7 que consistia de “duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e estofo carmesim, e hissopo”, uma das quais era morta “num vaso de barro, sobre águas correntes”, enquanto “a ave viva, e o pau de cedro, e o estofo carmesim, e o hissopo” deviam ser molhados “no sangue da ave que foi imolada sobre as águas correntes. E, sobre aquele que há de purificar-se da lepra” o sangue deveria ser aspergido “sete vezes; então, o declarará limpo e soltará a ave viva para o campo aberto”.

Como você faria hoje caso fosse curado de lepra? Teria um grande problema, primeiro por não existir mais o Templo de Jerusalém. Se fosse até lá tentar oferecer um sacrifício na mesquita islâmica que ocupa hoje o lugar do Templo é provável que algum radical islâmico transformasse você em sacrifício. Você também teria dificuldade de encontrar um sacerdote da linhagem de Levi, como devia ser no mandamento dado pela Lei de Moisés.

Em Mateus 5:23-24, no caso de alguma desavença, Jesus instruiu: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”. Como você fará se brigar com um irmão? Isso terá sido um pecado e no Antigo Testamento, o mesmo que estipulava o dízimo, os pecados exigiam sacrifícios de animais.

Para complicar um pouco mais, veja o que Jesus diz no mesmo capítulo: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5:18).

O dízimo, a oferta pela cura e os sacrifícios pelos pecados, incluindo ofensas contra seu irmão, eram ditados pela Lei dada a Moisés. Portanto, se quiser guardar um mandamento — como o dízimo, por exemplo — terá também de guardar os outros. Mas você talvez alegue que dos sacrifícios de animais nós estamos isentos agora que o Cordeiro de Deus morreu por nós. Bem, mas não eram apenas sacrifícios de animais que eram exigidos pela Lei. Veja alguns exemplos:

Aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Senhor, será morto(Lv 24:16).

Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá; amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue será sobre ele” (Lv 20:9).

Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera(Lv 20:10).

Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso ao Senhor; todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá(Êx 35:2).

Porém se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na moça, então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão, até que morra; pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu pai; assim tirarás o mal do meio de ti” (Dt 22:2021).

Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles” (Lv 20:13).

Agora, para encerrar por aqui (porque são muitos os mandamentos da Lei semelhantes a estes e punidos com a morte), vou acrescentar o mandamento que você mencionou:

Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor…” (Lv 27:30 etc.).

Então, para sua pergunta se Jesus mandou dar o dízimo, a resposta mais uma vez é: Sim, ele mandou, porque o contexto ali dos evangelhos é o judaísmo e ele está tratando com judeus, o povo escolhido por Deus para habitar na terra. Havia o Templo, havia sacerdotes, sacrifícios, pena de morte por apedrejamento para adúlteros, virgens que fornicaram, homossexuais e até filhos que ofendessem os pais. E eram exigidos sacrifícios para quem brigasse com um irmão.

Se você não entender o que na Bíblia é dito a Israel sob a Lei, e o que é dito à Igreja, que só foi formada depois do período dos evangelhos, no capítulo 2 de Atos, irá sempre precisar escolher o que da Lei irá ou não cumprir. É isso que a maioria das religiões cristãs que seguem a Teologia do Pacto fazem, por não entender as diferentes dispensações.

Porém, ao fazer isso — ou seja, escolher qual mandamento da Lei irá ou não cumprir — estará trombando naquilo que Jesus disse: “Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5:18), e também no que Tiago escreveu: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).

Agora preste muita atenção principalmente neste versículo de Tiago e você verá que todo o dinheiro que deu a vida inteira de nada terá valido se você tiver falhado em cumprir qualquer outro ponto da Lei. Será culpado de todos. E, para dificultar ainda mais as coisas, até na hora de dar o dízimo você certamente não cumpriu tudo do jeito que estava escrito: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro”(Ml 3:10). A “casa do _tesouro”_não é a tesouraria de alguma “igreja” abrigada em um templo de tijolos feito por homens. A “_casa do tesouro”_era um aposento do Templo de Jerusalém que foi destruído há quase dois mil anos. Não existe mais. Onde então você iria levar o seu dízimo?


Você conhece minha igreja para poder criticar?

Sua pergunta veio num tom de desafio, depois de você ter lido ou assistido um vídeo no qual respondo a respeito da congregação da qual você é membro. Quase pude escutar você gritando: “VOCÊ CONHECE A CONGREGAÇÃO X”, e no lugar do “X” o nome de sua religião. Como você perguntou nesse tom, talvez nem queira uma resposta, mas estava apenas me desafiando no sentido de tentar mostrar que não posso falar de uma denominação que não conheço.

Como já não é a primeira vez que recebo essa pergunta, no mesmo tom e vinda de alguém da mesma congregação que você frequenta, acredito que a melhor resposta é deixar claro que sua pergunta foi dirigida à pessoa errada. Não era a mim que devia perguntar, mas a outras pessoas com até mais autoridade que eu para responder. Você deveria perguntar assim, anote aí:

Paulo, André, Bartolomeu, Tiago, João, Mateus, Filipe, Simão Pedro, Simão Zelote, Tomé, Matias, Lucas, Marcos, Lídia, Priscila, Áquila, Apolo, Ágabo, Cléofas, Barnabé, Justo, Ananias, Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas, Tito, Filemon, Onésimo, Epafras, Arquipo, Silas, Silvano, Andrônico, Urbano, Narciso, Aristóbulo, Ágabo, Rufus, Hermes, Caio, Lúcio, Tércio, Erasto, Quarto, Onesíforo, Clemente, Sóstenes, Tíquico, Epafrodito, Carpo, Aristarco, Trófimo, Artemas, Dorcas, etc., etc., etc…. Vocês conhecem a Congregação X? Já ouviram falar dela?”

Se eles, que foram sem dúvida cristãos e muitos deles companheiros pessoais de Jesus, nunca ouviram falar dessa tal congregação, então você já sabe o que deve fazer. Nem preciso dizer. E aproveito para transcrever aqui um texto de autor desconhecido que explica bem a loucura que é alguém criar alguma denominação religiosa ou se fazer membro de uma. O título do texto é:

Que denominação é esta?”

Esta é uma pergunta que de um modo geral se faz quando se dá um folheto, ou quando convidamos a alguma reunião para o estudo da Palavra de Deus. Sem dúvida é uma pergunta sábia, especialmente nestes dias de tanta confusão. Mas, o que teria acontecido se a mesma pergunta houvesse sido feita nos dias dos apóstolos? Suponhamos que você tivesse vivido naquela época, e um dia se encontrasse com o apóstolo Pedro e lhe perguntasse:

Pedro, que denominação é esta?

Você pode imaginar a resposta? Pedro, sem dúvida, teria coçado a cabeça completamente perplexo, porque não haviam denominações na sua época. O crente procurava seguir a ordem divina.

Deus tem uma Igreja neste mundo, mas não é uma organização da qual você pode por si próprio tornar-se membro. É possível fazer-se membro de uma “igreja” feita por homens, e depois “deixá-la” se você não ficar satisfeito. Mas você nunca poderia fazer a si mesmo membro da Igreja de Deus, a qual é chamada “a Igreja do Deus vivo”(1 Timóteo 3:5).

Temos que voltar ao fundamento, o qual é Cristo. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”(1 Coríntios 3:11). A Palavra de Deus nos diz que somos pecadores culpados diante dele, perdidos em nossos pecados e “por natureza filhos da ira”(Efésios 2:1-3). Mas Deus, em seu amor e misericórdia, enviou seu próprio Filho a este mundo para pagar por nossos pecados na cruz.

Primeiro o Senhor Jesus veio a Seu próprio povo terreno, Israel. “Veio para o que era Seu e os Seus não O receberam”(João 1:11). Então, foi entregue para morrer na cruz pelos pecados de todo o mundo. Triunfante, se levantou de entre os mortos, ascendeu à destra do Pai, e enviou o Espírito Santo ao mundo no dia de Pentecostes.

Com sua ascensão e a vinda do Espírito Santo, havia chegado o tempo, no programa eterno de Deus, de colocar de lado a nação de Israel, e trazer uma coisa completamente nova - sua Igreja. É chamada“Igreja, que é o Seu Corpo”(Efésios 1:22,23).

Sua Igreja não é “denominada”. Isto é, não tem nome dado pelos homens, nem é uma organização humana, porém é composta de pessoas salvas, tanto judeus como gentios. Não tem lista de membros na terra, e ninguém pode fazer-se membro dela. Mas quando alguém vem a Deus como um pecador culpável, e recebe ao Senhor Jesus Cristo em seu coração como seu Senhor e Salvador, seu nome está escrito no Céu e imediatamente é “acrescentado” à Igreja pelo próprio Senhor (Atos 2:47). Passa a levar, então, o nome de seu Salvador, e é feito uma “_nova criação”_em Cristo (2 Coríntios 5:17). Não necessita outro nome e nem precisa fazer-se membro de algo inventado pelo homem.

Durante o tempo primitivo da Igreja, os crentes se reuniam simplesmente para estudar a Palavra. Não tinham nomes ou organizações denominacionais, e nem o mecanismo da atualidade. Mas as ideias mundanas penetraram mais e mais, e a simplicidade devida a Cristo desapareceu (2 Coríntios 11:3). O homem religioso sempre está acrescentando algo à ordem simples de Deus.

Deus não é o autor de nenhuma denominação. Algumas delas abraçam algumas verdades bíblicas muito sadias, e têm muitos crentes, nascidos de novo, em suas organizações. Mas os crentes são assim divididos uns dos outros por seus nomes. Isto é um pecado contra Deus.

Os crentes primitivos não se “denominavam” ou tinham nomes postos por eles. Eram conhecidos por termos como “discípulos”, “crentes”, “santos”, “cristãos”, ou qualquer nome que pudesse ser levado por TODOS os crentes. Não temos nenhuma base bíblica para levar um nome que não possa ser levado por todos os filhos de Deus neste mundo. Fazer isto é querer dividir o “_um só Corpo”_de Cristo (1 Coríntios 12:12).

O filho de Deus deve ter um sadio e inteligente conhecimento da Palavra de Deus. Não deve estar em jugo desigual tendo comunhão com os inconversos, mas deve “_sair do meio deles”_como nos diz 2 Coríntios 6:14-18. Os crentes devem tratar de, a qualquer custo, se reunir para estudar a Palavra a fim de se edificarem uns aos outros na fé. Muitas vezes isto tem que ser feito em pequenas reuniões caseiras, porque a verdade não é aceita em lugares humanamente elevados. “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”(Hebreus 13:13).


Qual a diferença entre circuncisão, incircuncisão e concisão?

Circuncisão é aquilo que os judeus praticam com a remoção da pele do prepúcio do órgão genital masculino, conforme encontramos em Gênesis 17:11: “E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós”. Por outro lado, a incircuncisão é a condição natural de quem não foi circuncidado. Por isso os gentios ou não judeus são chamados de “incircuncisos”, às vezes também com sentido pejorativo.

Mas podem surgir dúvidas pelo uso inadequado do termo em diferentes traduções da Bíblia, como em Filipenses 3:2-3. Veja estas versões:

Almeida Corrigida Fiel (ACF): “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Na versão 2011 a ACF traz “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da cortadura”).

New Version de John Nelson Darby (DBY): “See to dogs, see to evil workmen, see to the concision.” (“Cuidado com os cães, cuidado com os maus obreiros, cuidado com a concisão”).

Almeida Revista e Atualizada (ARA): “Acautelai-vos dos cães; acautelai-vos dos maus obreiros; acautelai-vos da falsa circuncisão”.

Algumas traduções traduziram a palavra grega “katatome”(“concisão”) como se fosse “peritome”( “circuncisão”). “_Circuncisão”_era o que os judeus faziam e ainda fazem com os filhos, cortando e extraindo a carne do prepúcio. “Concisão” era meramente cortar, uma mutilação, sem tirar a carne. Isto faz toda a diferença e sentido no texto, se lembrarmos que “a carne para nada aproveita”(Jo 6:63) e que a passagem de Filipenses 3 segue dizendo: “_porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito*, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”_(Fp 3:3).

Ou seja, no sentido que o apóstolo está tratando no texto, existe a “concisão”, ou mera mutilação da carne sem extraí-la, existe a “circuncisão” prescrita na Lei mosaica e praticada pelo judaísmo, que nenhum poder real tem sobre a carne que, na prática, não é abandonada, e existe a verdadeira e atual “circuncisão” do cristão, que é o considerar a carne morta, em oposição à “circuncisão” do judaísmo. O apóstolo está se referindo à “circuncisão” dos verdadeiramente nascidos de Deus, que gloriam em Jesus Cristo, não confiam na carne e adoram a Deus “ pelo Espírito” (como aparece na versão Darby, e não“em espírito” como na Almeida Corrigida Fiel, embora possa ser traduzido das duas formas).

Algumas outras versões protestantes e católicas traduzem Filipenses 3:2 assim:

(AVE MARIA) “Cuidado com esses cães! Cuidado com esses charlatães! Cuidado com esses mutilados!”.

(BRITÂNICA) “Acautelai-vos dos cães, acautelai-vos dos maus obreiros, acautelai-vos dos falsos circuncidados”.

(CNBB) “Cuidado com esses cães! Cuidado com esses charlatães! Cuidado com esses mutilados!”.

(NVI) “Cuidado com os cães, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa circuncisão!”.


Como agir quando não existe um mandamento explícito na Bíblia?

O cristão não vive sob a Lei e nem é movido em todas as situações por mandamentos explícitos, mas pelo Espírito de Deus que nos ensina pela sua Palavra. Por isso não faz sentido perguntar se “pode” ou não “pode” para saber como andar de maneira a agradar o Senhor. Por exemplo, “Posso jogar futebol?”, “Posso fumar?”, “Posso usar celular?”, “Posso ir à praia?”, “Posso ver TV?”, etc., são apenas algumas das perguntas que costumo receber, para as quais não existe um mandamento explícito na Bíblia.

Em algumas coisas e situações, o que Deus deseja de nós está muito claro nas páginas das Escrituras, mas em outras precisaremos ter o discernimento que vem do Espírito de Deus e muitas vezes agir com base, não em mandamentos explícitos, mas em princípios encontrados na Palavra, para o que é preciso ser observador para detectar suas sutilezas.

Quando começamos a desprezar essas sutilezas — como são, por exemplo, os princípios — logo acabamos fazendo pouco caso de coisas mais explícitas até que tudo acabe ficando à mercê da vontade de cada um.

Hoje é comum você apontar a alguém um princípio ou padrão sutil na Palavra e o outro dizer: “Ah, mas isso não é um mandamento, então fica a meu critério”, ou “_Ah, isso aí só aparece uma vez na Bíblia!”,_ou “Ah, foi só Paulo quem escreveu isso!”. Quer um exemplo? Quantas vezes você mostrou algo na Palavra para alguém e a pessoa argumentou, “Ah, mas o importante não é ficar apegado à letra, mas amar as pessoas. O amor vem primeiro”. E aí você vai na Palavra e descobre passagens como estas:

Antes, seguindo a verdadeem amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4:15).

Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amorfraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro” (1Pe 1:22).

Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, seja convosco na verdadee amor(2 Jo 1:3).

Por que será que o Espírito Santo escolheu colocar verdade antes de amor nestas passagens? Porque não pode existir amor genuíno a menos que esteja sendo praticado na verdade. Amor sem verdade nada mais é que afeição natural, algo que até animais possuem. Repare que esta ordem nas palavras é um detalhe sutil, mas o olho atento perceberá, desde que esteja acostumado a andar em proximidade do Pai e em comunhão com ele.

Quando eu era menino, meu pai não precisava dizer tudo que ele queria que eu fizesse. Às vezes bastava ele olhar para mim e eu sabia exatamente se ele estava contente, se estava me repreendendo, se queria que eu fosse para um lado ou para o outro. Nenhum outro menino entendia o que ele queria dizer, mas eu sim, porque conhecia a maneira de meu pai olhar. Esta é a maneira como Deus nos guia com o olhar, e não com rédeas.

Mas para que eu entendesse a vontade de meu pai apenas pela expressão de seu olhar precisei antes ouvir muitos “SIM!” e “NÃO!” verbais, e às vezes até acompanhados de disciplina, palmadas, chineladas e cintadas. Se você for da turma do “politicamente correto” não se preocupe; eu sobrevivi como Deus mesmo previa: “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá.”(Pv 23:13). Da mesma forma, se você não ficar encharcado da leitura da Palavra de Deus terá dificuldade de ter seus pensamentos formados por ela quando Deus precisar apenas olhar para você. E se não aprender das reprimendas e disciplinas que ele traz em sua vida, irá continuar como jumento teimoso sofrendo a falta de comunhão com o Pai.

Deus “argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:5-11).

Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti” (Sl 32:8-9).

Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:14-16).

Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5:16).


O costume era de não ser contencioso ou de cobrir a cabeça?

Você leu os textos sobre a mulher cobrir a cabeça (e o homem descobrir) quando ora ou fala da Palavra de Deus, e não concordou. Para você a conclusão da passagem deixa claro que nem Paulo, nem as igrejas de Deus, tinham esse costume de as mulheres cobrirem a cabeça (e os homens descobrirem).

Você citou 1 Coríntios 11:16 e para você a palavra “_costume”_se referia a cobrir (ou descobrir) a cabeça. Ali diz: “_Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.”._É fácil perceber a que “_costume”_Paulo se referia se você trocar a expressão “_ser contencioso”_por “cuspir no prato”. Então ficaria assim:

Se alguém quiser cuspir no prato, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”. De que “costume” então o apóstolo estaria falando? De homens não cobrirem a cabeça e mulheres cobrirem, ou de“ser contencioso”?

O mesmo apóstolo Paulo, chamado de machista por alguns, escreveu: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente” (Fp 2:12-16).

Nesta passagem é possível ver seu uso da palavra “contendas” associado à não obediência da doutrina que lhe foi dada pelo Espírito Santo. Portanto, não faria sentido ele falar tudo aquilo sobre o homem orar com a cabeça descoberta para chegar no final e dizer que não havia esse costume nas igrejas de Deus. Ah, me desculpe! O assunto era a mulher cobrir a cabeça. Mas aí, se era desse “costume” que Paulo estaria falando não ter, como ficaria o ensino sobre o homem descobrir a cabeça quando ora ou profetiza? Seria isso também um costume que nem ele e nem as igrejas de Deus teriam? Ou será que o “não temos tal costume” estaria associado ao “contender”?

Basta consultar uma professora de português para ela dizer a você que a frase “_nós não temos tal costume”_está diretamente relacionada ao que o apóstolo disse imediatamente antes, “se alguém quiser ser contencioso”(1Co 11:16). Ou seja, como cristãos não temos o costume de sermos contenciosos, e vários textos deixam isso tão claro que nem preciso citar onde estão em sua Bíblia.

Andemos honestamente, como de dia, não… em contendas… Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas… me foi comunicado pelos da família de Cloé que hácontendas entre vós…. pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?… desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas… É soberbo, e nada

sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras… Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade… ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam”.

Não faria qualquer sentido o apóstolo escrever tudo o que está do versículo 1 ao 15 de 1 Coríntios 11 só para dizer que não temos esse costume de as mulheres cobrirem a cabeça. Mesmo porque se o “_não temos tal costume”_fosse sobre o assunto que ele discorreu com tantos detalhes, teríamos de incluir nisso a ordem estabelecida no versículo 3, ou seja, “Cristo é a cabeça do homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo”. Acaso deveríamos deixar de lado o _costume_de achar que Cristo é a cabeça do homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo?

Teríamos também de concluir que seria indiferente o homem cobrir ou não a cabeça ao orar, o que deixaria sem sentido os séculos de “costume” de cristãos do gênero masculino que tiravam o chapéu na hora de orar expressando respeito à ordem estabelecida por Deus. Se para a mulher fosse indiferente orar com a cabeça coberta ou descoberta, então o mesmo deveria valer para o homem.

Mas o texto mostra que Deus dá tanta importância ao assunto que não resumiu assim, como poderia ter feito: “Todo homem ou mulher que ora ou profetiza, faça do jeito que achar melhor, porque é indiferente cobrir ou não a cabeça”. Paulo, inspirado pelo Espírito, poderia ter escrito simplesmente isto e as árvores teriam agradecido a economia de papel de bilhões de Bíblias com quase trezentas palavras a menos.


Com que idade aparente estaremos no céu?

Independentemente da idade, a Bíblia diz que todos ressuscitaremos à semelhança de Jesus, ou seja, em um corpo humano. Provavelmente esse corpo aparentará o corpo de Jesus, que morreu na idade de seu completo desenvolvimento biológico, o que se dá por volta dos 30 anos. Deus criou Adão adulto, portanto as crianças também ressuscitarão com o corpo de um adulto, e não serão transformadas em “anjinhos barrocos”. É um grande erro dizer que crianças que morreram foram transformadas em “anjinhos” ou “estrelinhas”. Isso é relegar o ser humano a uma condição inferior àquela que Cristo tem reservada para ele.

Os que morreram em Cristo (isto é, não morreram em seus pecados) ressuscitarão no arrebatamento. Entendo que isso incluirá os santos do Antigo Testamento, crianças, abortivos e santos do Novo Testamento, embora façam parte das diferentes “_famílias”_ou classes de salvos mencionadas na Palavra de Deus. Estarão todos com Cristo, “de quem toma o nome toda família [ou cada família], tanto no céu como sobre a terra”(Ef 3:15 ARA), embora apenas os salvos pela fé dos últimos dois mil anos são os que compõem a Igreja, que é a noiva do Cordeiro.

Todos os espíritos dos que morreram que neste momento estão na presença do Senhor, voltarão aos seus corpos glorificados e subirão para estar com Cristo no céu em corpos de carne e ossos. Não morarão na terra durante o milênio, a qual será habitada pelos judeus e gentios convertidos no período de sete anos que se sucederá ao arrebatamento da igreja e é dividido em “princípio das dores” e “grande tribulação”.

A Bíblia deixa claro que os salvos de todas as eras, inclusive crianças e abortivos, serão muitos, pois os perdidos não serão em maior número que os salvos. A própria Palavra diz que Cristo terá, em tudo, a primazia. Ele não daria ao inimigo a primazia de ter arrastado mais pessoas à perdição do que Cristo à salvação.

E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Cl 1:18).

Tendo isso em conta, que tremendo evento será a ressurreição de todos os salvos e a transformação dos vivos no dia do arrebatamento da Igreja. Embora a “primeira ressurreição”, inaugurada por Cristo, tenha mais de uma etapa e inclua também a ressurreição dos que vierem a crer e a morrer após o arrebatamento, o número dos que subirão será infinitamente maior nesse evento.

Ao contrário dos filmes de Hollywood que incluem incrédulos testemunhando da ressurreição de Jesus, a visão disso será reservada apenas aos salvos como foi a ressurreição do Senhor. Ele nunca foi visto por nenhum incrédulo em seu corpo ressuscitado, e a visão que o mundo guarda dele é de um morto, não de um vivo. A subida dos santos também será como foi a do Senhor, que foi vista apenas pelos discípulos.

Os santos celestiais serão como o Senhor no aspecto moral (1Jo 3:2), e fisicamente (Fp 3:21). Assim como o Senhor estará no “orvalho de Tua mocidade”, eles também serão restaurados à primavera da vida (Sl 110:3). Os santos idosos, cujas faculdades físicas e mentais estiverem arruinadas, serão todos restaurados à força e ao vigor em seus corpos ressuscitados. Nunca mais verão corrupção (1Co 15:42-57; 2Co 5:1-4). Do mesmo modo como foram feitos à semelhança do Senhor moral e fisicamente, os santos celestiais terão as capacidades de seus corpos glorificados imensamente incrementadas. Estarão aptos a visitar a terra, subindo e descendo por toda ela em um instante (Lc 24:30-35), e passarão através de objetos sólidos como paredes, etc. (Lc 24:36-43; Jo 20:19-29). Porém não terão qualidades de onisciência ou onipotência, as quais pertencem somente à deidade.” (Trecho do livro Acontecimentos Proféticos, de Brune Anstey).


Por que o cristão sofre?

Um dia passei em frente a uma dessas “igrejas” neopentecostais e sob o nome da organização havia uma frase: “Não sofra mais!”. A intenção clara era de atrair incautos a se fazerem membros daquela religião para encontrarem nela o alívio para o sofrimento.

Uma das grandes mentiras dos pregadores neopentecostais é negar o sofrimento do crente em Cristo. Muitos deles ensinam que se um crente está sofrendo é por não ter fé ou por estar andando em desobediência a Deus, esquecendo que Cristo sofreu e nunca houve ninguém mais santo do que ele. E é em sua Palavra que encontramos algo que contraria todo o ensino de que o crente esteja imune ao sofrimento: “Foi-me bom ter sido afligido” (Sl 119:71).

Costumamos pensar que apenas o que é bom é bom, nos esquecendo que o bom é inimigo das “coisas mais excelentes”(Fp 1:10). O apóstolo Paulo sabia discernir isso quando escreveu que suas prisões eram excelentes, mesmo que teria sido melhor do ponto de vista humano que ele não estivesse na cadeia.

Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (Fp 1:12-14).

O apóstolo reconhecia também que não era prisioneiro dos romanos, mas do Senhor, que é como se identifica na carta aos Efésios: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor”(Ef 4:1).

Deus age assim muitas vezes para frustrar os planos do inimigo. Quando você dá linha, o peixe até pensa que venceu a parada, até sentir o tranco do anzol. Os irmãos de José tentaram se livrar dele, mas no final ele diz “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida”(Gn 50:20). Satanás podia se regozijar vendo Jesus morto na cruz, mas podemos imaginar sua expressão quando viu o túmulo vazio e os discípulos, outrora tristes, exultando de alegria?

Se vivemos para a glória de Deus, que importa os meios que Deus poderá querer usar para atingir seus objetivos? No passado os judeus passaram um cortado por causa de sua desobediência, e Deus usou até mesmo reis pagãos como o chicote que afligia o lombo de seu povo rebelde. Em Jeremias vemos uma das terríveis maldições que Deus traria ao povo:

Eis que eu enviarei, e tomarei a todas as famílias do Norte, diz o Senhor, como também a Nabucodonosor, rei de Babilônia, meu servo, e os trarei sobre esta terra, e sobre os seus moradores, e sobre todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e farei que sejam objeto de espanto, e de assobio, e de perpétuas desolações” (Jr 25:9).

Reparou que Deus chama Nabucodonosor de “meu servo”? Pense em dois judeus caminhando rumo ao exílio na Babilônia, um praguejando contra o rei de Babilônia sem entender como Deus teria permitido aquilo, e o outro, caminhando por fé, e comentando: “Não se preocupe, meu irmão. Sabe esse rei aí? Ele está na folha de pagamento de nosso Deus. Por isso Deus o chama de ‘meu servo’”.

Quanto a nós, sofrimentos fazem parte do contrato de nossa vida neste planeta hostil que expulsou o Senhor da glória. Se ele sofreu, por que achar que sairíamos sem nenhum arranhão? Considerando que todos os apóstolos, exceto João que morreu em idade avançada, sofreram mortes horríveis, o que vier para nós é lucro. Bom seria podermos dizer como Paulo que “em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.”(Fp 1:20).

Da próxima vez que você pisar em um prego com o pé descalço, ou morder uma pedrinha esquecida no meio do arroz, e segurar a forma de pizza saída do forno, entenderá que o sofrimento tem seu lugar. Se não fosse a dor você teria continuado pisando no prego até ele atravessar seu pé, perderia um dente por morder até o fim, e teria trabalho para desgrudar a carne de seus dedos que iria ficar presa à forma quente da pizza.


Como pode o diabo fazer o bem?

Você diz que foi curado por um médium espírita e pergunta: “Como poderia ser pelo poder do diabo algo que só faz o bem sem pedir dinheiro?”. Sua pergunta deveria ter sido outra. Tipo assim: “Como Satanás demonstrou ter tanto poder ao transportar Jesus do deserto para um alto monte e depois para o pináculo do templo?” (Lc 4:1-13). “Como os magos de Faraó teriam conseguido imitar os sinais de Deus através de Moisés?” (Êx caps. 7-12). “Como o anticristo será capaz de fazer descer fogo do céu?” (Ap 13:13).

No primeiro caso a intenção aparente do diabo era de trazer benefícios para Jesus, oferecendo a ele o poder dos reinos da terra. No segundo Faraó e os egípcios ficaram tão impressionados com a capacidade dos magos de imitarem os sinais de Deus que nem perceberam que aquilo só lhes trouxe problemas maiores, pois eram só pragas. No terceiro o diabo irá energizar um homem com poderes pirotécnicos, pois o povo gosta mesmo é de gente exibida.

Mais uma pergunta que você deveria ter feito é esta: “Como Satanás é capaz de se transformar em anjo de luz e seus ministros em ministros de justiça?”(2Co 11:14-15). Se realmente sua cura ocorreu só posso dizer que você foi vítima de um desses que se transfiguram em “_ministros de justiça”_por meio de quem o inimigo de nossas almas conseguiu mais um adepto para uma religião que nega a obra expiatória de Cristo por meio de seu sangue derramado na cruz.

Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (2Co 11:13-15).

Se Jesus diz que se cremos nele temos TODOS os nossos pecados perdoados, que o crente tem já, aqui e agora vida eterna, que não passará pelo juízo final, mas já passou da morte para a vida (Jo 5:24), e Alan Kardek diz que você precisa reencarnar _trocentas_vezes para eliminar seus próprios pecados, um dos dois está mentindo. Quem você diria ser o mentiroso? O filho de Deus ou aquele inspirado pelo “pai da mentira”? (Jo 8:44).

Não estou afirmando, estou colocando seus neurônios para funcionarem. Não se iluda. Se qualquer mágico de rua é capaz de deixar você espantado com truques baratos, o que dirá de um “querubim da guarda” com milhares de anos de experiência em iludir e poder suficiente para transportar o Filho de Deus de um lugar para o outro na terra. Estes versículos poderão ajudar você a entender que no mundo espiritual nem tudo o que reluz é ouro.

Mas não pense que isto que estou dizendo se aplica apenas ao espiritismo. Também vale para o circo que acontece em igrejas e programas de rádio e TV desses pregadores pentecostais de curas e prosperidade. Se eles não existissem Jesus teria mentido quando disse:

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:22-23).

Perceba que não são apenas pessoas que dizem fazer coisas em nome de algum espírito desencarnado ou de alguma divindade africana que o diabo usa. São pessoas que invocam o nome do Senhor Jesus em seus cultos repletos de desesperados em busca de alguma cura, sinal ou prosperidade.

A pergunta que deve sempre fazer é: “Quanto Satanás está disposto a fazer de bem para ganhar um adepto?”, “_Quanto o traficante está disposto a abrir mão de sua cara cocaína para ganhar um viciado?”_Será que você poderia ser um pouco menos crédulo e olhar para a outra mão do mágico? É com a outra que ele trabalha em oculto, não com aquela que faz as coisas visíveis. E para você depois não dizer que Deus não avisou, aqui vai uma série de passagens que falam do poder do diabo para enganar os incautos.

A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira(2Ts 2:9).

Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios(Ap 16:14).

Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma” (Dt 13:1-3).

Nos quais o deus deste século [Satanás] cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4:4).

Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígiosque, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24:24).

E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 19:20).

E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na terra com sinaisque lhe foi permitido que fizesse em presença da besta” (Ap 13:13-14).

Esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 2:9-12).

E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu” (Lc 4:5-17).


O que esse rabino diz no vídeo está correto?

O que o rabino diz não vem ao caso, porque recebo sempre vídeos de rabinos e perguntas de pessoas que viram o religioso judeu dizer algo e acharam que, por ser um rabino judeu, ele deveria entender alguma coisa das Escrituras. Que parte da palavra “cegueira” e “endurecimento” você não entendeu? Por que você acha que por ser rabino ele terá algum discernimento da Palavra de Deus? Ele pode conhecer história, arqueologia, hebraico, costumes, etc., mas seu discernimento das Escrituras é zero. ZERO!

É mais provável a jumenta de Balaão entender o que Deus quis dizer nas Escrituras do que um judeu que se recusa a crer em Jesus como Salvador. E não sou eu quem diz que o judeu está cego e endurecido em seu entendimento de Deus. É a mesma Escritura que os judeus tanto prezam e nem percebem que Deus avisou que seria assim. Seus próprios profetas escreveram que os judeus não fariam caso do Cristo que surgiria entre eles:

Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum” (Is 53:1-3).

O mesmo profeta Isaías recebeu de Deus a ordem de profetizar contra seu próprio povo avisando-os de que ficariam cegos e surdos para compreenderem as Escrituras:

Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado” (Is 6:9-10).

Então não perca seu tempo com esses vídeos e com o que os rabinos dizem, a menos que seja algum convertido a Cristo. Porque a Palavra de Deus diz que Deus mesmo lhes cegou o entendimento. Depois seria a vez do próprio Messias, Jesus, o Cristo, repetir as palavras dos profetas do passado:

Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi relevado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, pelo que Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos e endureceu- lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure” (Jo 12:37-40).

Isaías também falou dessa cegueira espiritual que viria sobre esse povo, quando escreveu:

Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes. Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado. Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler. Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído; Portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá” (Is 29:10-14).

O apóstolo Paulo recorre aos mesmos profetas quando escreve: “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas” (Rm 11:7-10).

Ele estava citando o Salmo 69 e você ganha um doce se descobrir por causa de terem rejeitado a QUEM que os judeus ficaram nessa condição de cegueira espiritual:

Afrontas me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre. Torne-se- lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha. Escureçam-se- lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com que os seus lombos tremam constantemente. Derrama sobre eles a tua indignação, e prenda-os o ardor da tua ira. Fique desolado o seu palácio; e não haja quem habite nas suas tendas. Pois perseguem àquele a quem feriste, e conversam sobre a dor daqueles a quem chagaste. Acrescenta iniquidade à iniquidade deles, e não entrem na tua justiça. Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos” (Sl 69:20-28).

Se não descobriu, aqui vai a dica: “Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lha chegaram à boca. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados” (Jo 19:28-31).

Esta passagem também revela a incoerência do judeu religioso: por um lado, não apenas negam água a seu Messias moribundo, dando vinagre para aumentar sua sede, e por outro se preocupam em tirar logo os corpos de Jesus e dos dois malfeitores de suas cruzes em sinal de respeito para com o sábado, quando não seria permitido pela Lei mosaica fazerem aquele trabalho.

Felizmente para Israel essa cegueira e endurecimento tem prazo de validade. A Igreja, o corpo de Cristo formado na terra desde sua rejeição pelos judeus, poderá ser tirada daqui a qualquer momento, e então um pequeno remanescente de judeus que nunca tinha ouvido o evangelho irá descobrir que o Messias já tinha estado entre eles, tendo sido rejeitado, morto e ressuscitado. A verdade brilhará para eles ao ponto de enfrentarem todos os obstáculos possíveis para levarem essa mensagem, alguns pagando com a própria vida para isso. Sete anos mais tarde Cristo voltará em glória com os santos arrebatados antes para reinar, e aí os judeus todos o verão: “Verão aquele que traspassaram”(Jo 9:37). Paulo fala desse “_endurecimento em parte”_ou por algum tempo:

Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11:25).

Portanto, esqueça-se de recorrer a judeus, rabinos ou não, para entender as Escrituras porque você vai ficar na mesma cegueira na qual eles têm estado mergulhados nos últimos dois mil anos por determinação do próprio Deus. Concentre-se em Cristo, que é a consumação de todas as profecias do Antigo Testamento, e nos apóstolos e profetas que ele mesmo escolheu para nos legar o Novo Testamento.

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1:1-3).

O mais simples, humilde e analfabeto crente em Jesus conhece melhor as Escrituras do que o mais dotado, ilustre e letrado rabino judeu. Foi assim quando Jesus esteve aqui, e continua sendo assim hoje.

Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” (Mt 11:25-26).

Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (1Co 1:18-31).

Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória” (1 Co 2:6-8).


Você não respeita todas as religiões?

Não, eu não respeito todas as religiões, e nem seria sensato agir assim, apesar da frase “Respeito todas as religiões” parecer politicamente correta. Posso e devo respeitar pessoas, mas não sou obrigado a respeitar suas religiões, palavras e atos. Os antigos astecas, por exemplo, sacrificavam pessoas e algumas tinham o coração arrancado do peito ainda vivas pelas mãos do sacerdote. Era tanta gente trucidada em cada sessão que seus arquitetos aprimoraram o projeto das pirâmides. Acrescentaram em algumas uma canaleta por onde o sangue podia formar uma enxurrada sem comprometer a segurança da escadaria, evitando que alguém escorregasse nela.

Não seria nem um pouco politicamente correto respeitar tamanha crueldade, não é mesmo? Mas talvez você diga que respeita todas as religiões que não sejam cruéis como a dos astecas. Qual, por exemplo? Experimente trocar “religiões” por “medicamentos” para ver o que acontece. Você estaria disposto a aceitar qualquer medicamento, mesmo os falsos que poderiam causar danos à sua saúde? Ou que fossem apenas placebos sem efeito algum? Neste caso você poderia estar respeitando todos os medicamentos, mas não seria uma atitude de respeito para com seu dinheiro.

Já que estamos falando da crueldade do sacerdote asteca de arrancar o coração da vítima do sacrifício, o que você diria se ele arrancasse também dela a possibilidade de sua salvação eterna? É isso que faz uma religião falsa, que engana seu seguidor até ele se encontrar perdido no pós vida. Se estamos falando em graus de crueldade eu diria que nada pode ser mais cruel do que uma pessoa, doutrina ou religião que engane seus seguidores fazendo com que se percam eternamente.

Outro problema de achar que todas as religiões que não arranquem o coração da vítima devem ser respeitadas é perder de vista o que uma pessoa busca encontrar numa religião. Embora a grande maioria esteja interessada em algum paliativo momentâneo para sua saúde, finanças e relacionamentos afetivos, existem aquelas que estão realmente interessadas em seu destino eterno. Como você se sentiria se pedisse informações de que ônibus tomar para um determinado destino e depois descobrisse que gastou seu único dinheiro numa passagem para um destino contrário ao que pretendia?

Jesus declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”(Jo 14:6). Responda rápido: (A) Jesus estava enganado, (B) Jesus estava mentindo ou (C) Jesus estava falando a verdade. Se responder “A” ou “B” é melhor passar longe da Bíblia, porque o tema dela é Jesus, o Salvador, e seria insensato crer em um livro sobre alguém que estava enganado ou era propenso a enganar. Mas se respondeu “C” você acaba de descartar todas as religiões, caminhos e verdades que não sejam a própria Pessoa de Cristo.

Eu até compreendo que, depois de escutar que só Jesus é o caminho, a pessoa que diz que “respeita todas as religiões” esteja querendo parecer politicamente correta. Mas se ela tiver um mínimo de inteligência irá perceber que sua afirmação é a mais soberba, prepotente e ofensiva possível. Por que? Primeiro, ela está declarando conhecer todas as religiões para saber que nenhuma delas arranca corações. Você acha que existe alguém assim na face de um planeta com milhares de crenças? Segundo, ela terá acabado de dar um tapa na cara de quem disse que só Jesus é o caminho, porque pelo menos esta crença terá desrespeitado, pois se a respeitasse teria que considerar todas as outras erradas, o que invalidaria sua tese de que todas são corretas.

Portanto, pela mesma razão que alguém em sã consciência não tomaria qualquer ônibus sem ter a certeza de seu destino, não tomaria um medicamento sem verificar sua eficácia, e nem aceitaria dinheiro visivelmente falso, é uma grande bobagem dizer que você respeita todas as crenças. Isto porque já não está respeitando a declaração de Jesus, de que somente ele é o caminho, a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai a não ser por meio dele. Talvez você pudesse ter dito que respeita todas as pessoas, independentemente de sua religião, e aí estaríamos de comum acordo. Eu também respeito todas as pessoas, até o sacerdote asteca. Mas neste caso, se ele estender sua mão para me cumprimentar eu vou proteger meu peito.

Sinto muito por você e por todas as outras pessoas que “respeitam todas as religiões”, porque isso demonstra que não creem em Cristo como ÚNICO Salvador. Se Jesus não estava enganado, não mentiu, e disse a verdade, então outras afirmações dele também irão selar o seu destino eterno. Quais? Estas:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3:16-18).

Tem certeza de que é sensato embarcar em qualquer ônibus que passar ou tomar qualquer medicamento que encontrar? Não seria melhor conferir antes se o destino daquele ônibus é o mesmo que você pretende e se o medicamento é eficaz, e não se trata de um placebo ou até de um veneno? Você só tem uma chance de acertar, porque a morte irá selar seu destino eternamente, e sua escolha aqui terá feito toda a diferença. No final Deus não irá cobrar de você se foi politicamente correto, mas se creu no Filho dele, por meio de quem deu todas as evidências necessárias para você saber que era genuinamente o único capaz de salvar eternamente o pecador que vai a ele pela fé.

Mas o que difere o cristianismo bíblico de todas as religiões? O cristianismo é a única crença que se distingue de todas as outras, porque ainda que todas tenham em vista uma salvação eterna, seja por purificação, evolução, reencarnação ou o que quer que tenha como alvo, apenas o cristianismo bíblico não tem o esforço próprio como meio para se alcançar esse fim. O verdadeiro evangelho, ou “_boa nova”,_coloca o homem na condição de totalmente inapto de fazer qualquer coisa para “religar-se” (daí vem a palavra “religião”) a Deus.

O verdadeiro evangelho da graça de Deus mostra que você é um pecador tão perdido quanto alguém que caiu num poço profundo e não tem uma escada para sair. No verdadeiro evangelho é Deus que, por meio de Jesus e sua morte e ressurreição, apaga suas transgressões, dá a você uma nova vida e lhe capacita a morar na esfera celestial. E tudo isso vem pela fé em Jesus, uma fé que nem sequer brota na pessoa convertida, mas que é um dom de Deus.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2:8).

Todas as religiões são como alguém gritando lá em cima na boca do poço: “Saia daí, se esforce, você consegue!”. O verdadeiro evangelho mostra como Jesus foi ao fundo do poço para lhe buscar. Agora vem a melhor parte: Jesus não faz isso enquanto você estiver tentando sair dali por seus próprios meios, mas apenas quando desistir de salvar-se a si mesmo. Afinal, como poderia o evangelho ser chamado de boa notícia se colocasse em você o encargo de se salvar? A salvação por graça é isso mesmo, um presente que você recebe de Deus ao reconhecer que não tem meios para pagar por ele. O evangelho não poderia ser chamado de “evangelho da graça de Deus” se fosse uma lista do tipo: “Vá até a loja, escolha o presente, pague com seu cartão”. Aí já não seria graça e nem boa notícia.


Seria falta de amor bloquear alguém nas redes sociais?

Depende da pessoa e do que ela está fazendo ali. A verdade sempre deve vir antes do amor. As redes sociais estão aí e muitos cristãos não perceberam o quando o diabo as utiliza com a conivência de cristãos que lhe servem de inocentes úteis para seus planos de enganar incautos. Por isso é importante ficar atento. A Palavra de Deus está cheia de advertências contra hereges, opositores da Verdade e caluniadores.

Pense em seu perfil numa rede social como sua sala de estar ou jantar, onde você recebe pessoas com as quais tem alguma afinidade e para onde não convida, ou até mesmo expulsa, os que causam transtorno. Costumo usar com frequência a opção de bloqueio nas redes sociais quando encontro pessoas que começam a lançar calúnias, publicar material questionável ou, o que é pior, difamar o bom nome de Cristo. Não seja ingênuo. Satanás irá instigar seus instrumentos a usarem seu espaço, perfil e mural nas redes sociais como plataforma para disseminar heresias.

Às vezes uma ou duas admoestações podem não surtir efeito (e geralmente é o caso com pessoas com más intenções), então o melhor é nem ficar debatendo com elas. O Senhor Jesus voltou as costas aos fariseus quando esses deixaram muito claro sua rejeição. E no ponto alto de sua expulsão do mundo ficou silente diante de Pilatos. “E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti. Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava”(Mc 15:4).

Jesus também ensinou seus discípulos a não perderem tempo com os opositores — e a serem prudentes como serpentes — quando enviou alguns em missão, dizendo para sacudirem a poeira das sandálias dos lugares onde não fossem recebidos. “E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés… Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas”(Mt 10:14-16).

Estamos em um mundo hostil, caminhando em terreno inimigo e minado, portanto não devemos dar trela aos que se opõem à Verdade. É melhor deixá-los falando sozinho do que entabular longas discussões que nos farão perder tempo com eles enquanto outros sinceros precisam de ajuda. E sempre existe o risco de o veneno dos infiéis contaminar ouvintes ou leitores menos preparados. Por isso é preciso usar de sabedoria para saber até onde uma conversa pode ser útil a alguém que está se opondo por estar sinceramente enganado, ou se estamos tratando com um herege de carteirinha, inimigo da cruz de Cristo.

Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas… E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, sermanso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos” (Tt 3:9; 2Tm 2:23-26).

Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18-19).

Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mt 7:6).

Não estou falando aqui de pessoas que meramente discordam por diferenças de opiniões ou falta de entendimento da Palavra, mas de opositores agressivos, que xingam, profanam o nome de Cristo, e podem estar querendo usar seu perfil nas redes sociais para contaminar outros. Jesus os chama de “cães e porcos”, nada politicamente correto, não é mesmo? Bloqueá-los é uma medida sensata, necessária e profilática. Você não coloca telas nas janelas quando há muitos mosquitos querendo entrar para transmitir doenças? O amor nunca deve vir antes da verdade, portanto é primeiro com a verdade que devemos nos preocupar evitando que hereges semeiem suas mentiras ou venham a difamar o bom nome de Cristo usando seu perfil nas redes sociais.

Você receberia em sua casa alguém que pudesse trazer más influências para seus filhos? Não, você fecharia a porta para essa pessoa. Portanto, não se sinta constrangido quando precisar bloquear o acesso de alguém ao seu perfil e mural nas redes sociais. Existem muitas passagens que autorizam proceder assim, e boa parte delas nem sequer está falando de apartar-se de incrédulos, mas sim de pessoas que professam crer em Cristo.

Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o(Tt 3:10).

Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes. Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa [a esfera da profissão cristã hoje no mundo] não somente há vasos [pessoas] de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas [a impiedade, a má doutrina e os vasos], será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2Tm 2:14-21).

E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrinaque aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16:17).

Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmãoque anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu… Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão” (2Ts 3:6,14-15).

Esta passagem, por exemplo, está falando da esfera do testemunho cristão no mundo onde joio e trigo estão misturados. Os homens descritos aqui, que têm aparência de piedade, são cristãos da boca para fora:

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te(2Tm 3:1-5).

A passagem abaixo está falando especificamente daqueles que negam a divindade de Cristo e estão em uma atitude de ativamente disseminarem sua má doutrina. Não se trata de alguém com quem você se encontra casualmente no trabalho, mas de alguém que vai até você com a intenção clara de ensinar o erro. Talvez você ache um exagero agir assim, mas aí eu pergunto: Que parte do “_não o recebais em casa”_você não entendeu?

Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo. Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão. Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa [ou em sua rede social], nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras(2Jo 1:7-11).

Agora, se você acha tudo isso falta de amor cristão e considera muito radical tomar essas atitudes, o que pensar da atitude que os apóstolos tomavam — e só eles tinham esse poder — de não somente evitar tais pessoas, mas de até entregá-las a Satanás para que fossem mortas pelo diabo? Esse poder era exclusividade dos apóstolos e os cristãos não poderiam fazer igual, mas mesmo assim Deus continua agindo com juízo contra aqueles que se opõem à verdade. Sua parte é menos complicada do que entregar alguém à morte como os apóstolos faziam, portanto faça sua parte.

Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti.E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido” (At 5:9-10).

Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1Co 5:3-5).

E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1Tm 1:20).

Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore” (1Tm 5:16).

Talvez você argumente que o cristão deva andar com qualquer um, tolerar e continuar interagindo com pessoas contenciosas ou que negam a Verdade, com o argumento de que Jesus andou com pecadores aqui neste mundo. Sim, ele andou com pecadores, mas eram aqueles que se reconheciam como pecadores, humilhados e sedentos da Verdade, e que largaram mão de coisas, inclusive do próprio ego, para seguir a Cristo. Ele não andava com pessoas contenciosas e inimigas da Verdade, como os fariseus.

Em um certo sentido Deus também “bloqueia” pessoas de sua “rede social”, só que a Bíblia usa o verbo “endurecer coração” ao invés de “bloquear perfil”. Ele fez isso com Faraó depois que este recusou-se a crer nas demandas que Deus fazia através de Moisés. “Porém o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu…”(Ex 7:13,22; 8:15,19,32). Então, depois de Faraó endurecer o próprio coração, foi a vez de Deus endurecer o coração de Faraó com um bloqueio que não tinha mais retorno. “Porém o Senhor endureceu o coração de Faraó”(Ex 9:12).

Ele fará isso também depois do arrebatamento da Igreja, quando os que ouviram o evangelho e não quiseram crer ficarão no mundo e serão forçados por Deus a acreditar na mentira do anticristo.

E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2Ts 2:8-12).


O que significa Eclesiastes 7:10?

Você perguntou o que significa Eclesiastes 7:10: “_Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.”._O versículo fala do erro de se viver no passado e criar ilusões com isso. Os que saíram do Egito acompanhando os israelitas no deserto reclamavam do maná e diziam ter saudades da boa comida no Egito, mas era tudo ilusão: “Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos”(Nm 11:5).

Quem quer viver no passado acaba fantasiando as coisas para que pareçam melhores que o presente, abraçando-as na tentativa de fugir da realidade e das responsabilidades. Talvez você diga que no seu caso o presente está uma droga e não tem como comparar com o passado quando era próspero, saudável e feliz. Mas entenda que o presente é o que você tem e o futuro é o que sua fé em Cristo reserva. O passado são águas que já não estão debaixo de sua ponte e não são elas que movem seu moinho agora.

Então o melhor é ter paciência até você chegar no futuro ou o futuro chegar até você, porque amanhã o presente também será passado e talvez você até sinta uma pontinha de saudade dele se as coisas piorarem um pouco mais. Outro dia vi uma frase de para-choque: “Sorria! Amanhã pode ser pior”. Mas no caso do cristão sabemos que sempre haverá um depois de amanhã glorioso e eterno, portanto o jeito é aguentar o que falta para chegar lá.

Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma(Hb 10:35-39).

Lembre-se de que o Livro de Eclesiastes reúne as impressões de Salomão de tudo o que ele viu e experimentou “debaixo do sol”, o que quer dizer que nem tudo no livro é verdadeiro ou espiritual. É sabedoria do homem terreno para sua vida na terra. São as impressões de quem se desviou dos caminhos de Deus em busca de satisfação passageira e depois descobriu que não valeu a pena.

Espero que você possa dizer como Paulo, que teve um passado brilhante do ponto de vista humano e estava vivendo um presente que era uma desgraça para quem o visse perseguido, humilhado e preso. No entanto, ele dizia de boca cheia:

O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte… Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:7-14).


Quem você pensa que é para me julgar?

Você escreveu indignada depois de ler algo que escrevi, e disparou: “Como você pode dizer que em mim não há nada de bom? Por que você se julga melhor que eu? Você não é Deus e o juízo final ainda não chegou!”. Bem, não sou eu quem diz que não há nada de bom em você (e em mim também). É a Palavra de Deus que afirma. Eis aqui o seu currículo (e o meu) aos olhos de Deus:

Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” (Rm 3:10-19).

Você está iludida quando pensa que a salvação seja uma recompensa que Deus irá dar no final aos que merecerem por bom comportamento nesta vida. Por isso diz que eu devo aguardar o juízo final para saber o que Deus pensa de você. Nem preciso, porque ele já disse em sua Palavra o que pensa de você, de mim e de cada descendente de Adão: pecador perdido. A menos que alguém tivesse pago o preço de sua redenção, não haveria escapatória para a condenação eterna.

A boa notícia é que Cristo pagou na cruz, com seu próprio sangue, esse preço para resgatá-la da escravidão do pecado e da morte. Mas ele só irá valer para você quando deixar de lado sua justiça própria e se reconhecer uma pecadora arruinada e incapaz de merecer a salvação. Nem pense em se apresentar diante de Deus alegando ter sido uma pessoa boa e justa. Não vai funcionar.

Aos olhos dele as suas justiças (e as minhas) não passam de absorventes higiênicos depois de usados. Exatamente, “_trapos de menstruação”_é a tradução literal de Isaías 64:6: “_Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam”._Assim como acontece com o absorvente higiênico usado, nossas “_justiças”_não servem nem para o lixo dos recicláveis, quanto mais para nos justificar diante de Deus!

Não é possível alguém ser salvo pela fé em Cristo enquanto não chegar no ‘fim da picada’ de si mesmo, enquanto não se enxergar com a cara enfiada na lama do fundo do poço, enquanto não se considerar podre ao ponto de ser sem recuperação. É quando o ser humano chega ao fim que Deus começa seu trabalho. Assim é o pecado: você só se submete à salvação que Deus oferece pela fé em Cristo quando reconhece que seu pecado cobre você dos pés à cabeça e não há nada que você mereça vindo de Deus a não ser juízo. Aprenda a declarar, de si mesma, aquilo que o apóstolo Paulo escreve sobre a condição de um pecador incapaz:

Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18).

Depois, dê uma passadinha no balcão da salvação por graça e escreva seu nome na linha pontilhada:

Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer, [nem a ….. inclua nome aqui …..]. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:10-20).

Uma vez feito isso com total convicção, vá àquele que convida e quer salvar, que é Jesus. Para que ele seria chamado de Salvador se não fosse para salvar perdidos? Os que se acham bons, sãos e justos ele não salva porque são pessoas que não se consideram necessitadas ao ponto de precisarem de um Salvador. O convite que ele faz é para pecadores, não para merecedores:

Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento…Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve… Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Mc 2:17; Mt 11:28-30; Jo 5:24).


Atos 14:23

Você viu um vídeo de um clérigo presbiteriano usando a passagem de Atos 14:23 para justificar a eleição de anciãos ou presbíteros pela igreja e queria saber se tem fundamento. Obviamente um vídeo de um“_Reverendo”_não iria ensinar outra coisa que não fosse a eleição de presbíteros pelas igrejas locais, pois disso depende seu título e posição. Vamos à passagem:

E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus. E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”(At 14:21-23).

Se observar a frase “voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia” verá que Paulo e os outros estavam retornando a cidades onde já existiam irmãos congregados, muitos deles convertidos de outra passagem do apóstolo por ali. No entanto aquelas congregações ou assembleias locais não possuíam bispos ou presbíteros eleitos e agora, por direção do apóstolo, eles iriam eleger seus anciãos. Mas até ali essas assembleias haviam funcionado sem pessoas eleitas para essa posição.

Em outra ocasião Paulo envia Tito na missão de eleger presbíteros: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei”(Tt 1:5). A ordem é seguida de recomendações quanto às características e idoneidade das pessoas que seriam eleitas. As duas passagens nos ajudam a entender que os bispos, presbíteros ou anciãos (a mesma coisa com diferentes nomes) eram eleitos por indicação direta dos apóstolos ou por pessoas designadas diretamente por eles para esse fim. As igrejas por si mesmas não elegiam anciãos ou presbíteros independentemente dos apóstolos.

Hoje não temos apóstolos e não temos fundamento para eleger anciãos, mas podemos reconhecer aqueles que se dedicam à guarda e administração do rebanho. São reconhecidos por sua disposição, mas não eleitos ou nomeados, e muito menos intitulados como se tivessem um “Doutor” antes do nome, e menos ainda “Reverendo”, um título que na Bíblia (versão inglesa) aparece apenas para Deus: “He sent redemption unto his people: he hath commanded his covenant for ever: holy andReverendis his name”(Sl 111:9 - King James).

Quando Paulo se despediu dos anciãos de Éfeso ele não disse que os anciãos, bispos ou presbíteros deixariam de existir, mas indicou uma mudança em como eles seriam quando os apóstolos já não estivessem ali para elegê-los. O Espírito Santo seria responsável por colocar no coração de alguns a responsabilidade pelo rebanho. Aqueles anciãos de Éfeso certamente tinham sido eleitos por ordem dos apóstolos, mas Paulo revela o que havia por detrás daquela ordem: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”(At 20:28).

Na ausência dos apóstolos ainda podemos contar com o Espírito Santo para constituir bispos nas assembleias locais, mas não temos qualquer base bíblica para nomeá-los. Certamente podemos reconhecê-los pelo trabalho e características que trazem, e devemos respeitá-los como ensina Hebreus 13:17: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (ARA). Aqui são chamados de _guias_e em algumas versões pastores, mas não no sentido do dom de pastor, mas sim de referências ou zeladores do rebanho.

A tradução Almeida Revista e Atualizada (ARA) está melhor que a Almeida Revista e Corrigida (ARC) ou a Almeida Corrigida Fiel, que traz “porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas”, o que induz ao erro de pensar que eles dariam contas das almas dos homens, quando é cada um que dará conta de si mesmo a Deus. “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”(Rm 14:12).

Mas nada disso tem a ver com nomeação de clérigos por juntas de homens ou votação da igreja, como vemos ser a prática na cristandade hoje, e muito menos com a colocação de um título antes do nome, como “Presbítero Fulano”, “Bispo Sicrano” ou “Reverendo Beltrano”. O mundo gosta de títulos e comendas, mas não devemos seguir o modelo do mundo.


Por que não me deixaram participar do pão e do vinho?

Você sentiu-se indignada quando visitou uma reunião de irmãos congregados somente ao nome do Senhor e não foi convidada a participar do pão e do vinho, como teria acontecido em alguma denominação que costuma frequentar. Sua reação até um pouco tempestiva foi: “Porque não me passaram o pão e o vinho na hora da ceia? Será que não me consideram digna de participar?”.

Sempre que alguém vai pela primeira vez a uma reunião da ceia do Senhor procuro explicar que ali participam do pão e do vinho irmãos que são conhecidos e que já foram antes examinados quanto à não existência de pecados graves que desonrem a Cristo no sentido moral e doutrinário. Depois de algum tempo de conversas e trocas de impressões a pessoa é alegremente recebida à comunhão à mesa do Senhor para participar da ceia do Senhor.

Mas é difícil uma pessoa religiosa entender que devemos seguir o que diz a Bíblia, e não os costumes introduzidos pelas religiões. Veja que é preciso enxergar os dois lados da moeda e certamente você deveria também ser criteriosa ao comer a ceia ao lado de pessoas desconhecidas. Em 1 Coríntios 5, depois de repreender os cristãos de Corinto por estarem comendo lado a lado com um homem que dormia com a madrasta, Paulo advertiu:

Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1Co 5:9-11).

Se naquela época já era temeroso comer com alguém que se dizia irmão sem se certificar de sua condição moral, o que dizer de nossos dias, quando o mal impera na cristandade e pode-se aplicar a ela o que Paulo falou dos judeus em seu descuido para com as coisas de Deus: “Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós”(Rm 2:24). Ligue o rádio ou a TV e se você for uma pessoa sensata saberá do que estou falando. O que mais se vê hoje na mídia são estelionatários travestidos de pastores evangélicos se aproveitando da fragilidade psicológica das pessoas para manipulá-las e aplicar seus golpes.

Será que você iria querer participar de uma ceia ao lado de pessoas assim, fossem elas os lobos que enganam ou os pobres incautos que são enganados? Certamente você iria querer primeiro sentir a temperatura da água antes de mergulhar nela ou a consistência do solo antes de pisar ali. Você não iria querer descobrir tarde demais que estava comendo com quem é “devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador”(1Co 5:11), não é mesmo?

Alegar que Jesus comia com pecadores não vale, porque ele fazia isso para salvar pecadores, não para ter comunhão com eles em seus pecados. E os que se sujeitavam a se aproximar dele eram pecadores contritos, arrependidos, cansados de pecar, e não religiosos altivos e cheios de justiça própria que se consideravam donos de ilibada reputação.

Então entenda que o cuidado com a mesa do Senhor é uma avenida de duas vias. Porque a mesa é do Senhor, e não nossa, a assembleia precisa primeiro conhecer a pessoa recém-chegada para certificar-se de que não seja alguém vivendo em pecado moral, professando doutrinas que denigram a Pessoa e divindade de Jesus, ou que estejam em alguma lista de procurados pela polícia por pedofilia, tráfico de drogas e pessoas, corrupção, etc. Por outro lado, a pessoa recém-chegada que está apenas visitando, neste caso você, precisa conhecer quem são aquelas pessoas para ter certeza de não estar participando de algo que desonre seu Senhor e comprometa seu próprio testemunho.

Vale lembrar que o mesmo cuidado se aplica à coleta que costuma ser feita após a ceia. Os visitantes não participam, porque não temos como verificar se aquele desconhecido que acaba de entrar no recinto não está ali querendo apenas lavar o dinheiro que ganhou com a corrupção ou livrar-se do fruto de um assalto ou de dinheiro ganho com tráfico. Alguns pastores e igrejas se enrolaram com a Polícia Federal por não saberem explicar como cheques de quantias milionárias foram recebidas de pessoas envolvidas com crimes.

Da mesma forma, aquele que visita deve ter cuidado de querer logo ofertar em qualquer lugar sem antes certificar-se de não estar ajudando a sustentar o luxo de algum pregador milionário e estelionatário.


O que significam o cadáver e a águia de Mateus 24?

Ao contrário de muitos que tentam aplicar o capítulo 24 de Mateus à Igreja, o texto fala de um tempo ainda futuro, quando um remanescente de judeus fieis — representados naquele momento pelos discípulos judeus de Jesus — estará na Judeia por ocasião da Grande Tribulação. A passagem diz: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias”(Mt 24:27-28).

Repare que o trecho de sua pergunta está associado à vinda do Senhor como relâmpago e no caráter do Filho do Homem, um título que ele usa para se identificar como o Juiz capacitado a julgar os homens por ter, ele próprio, humanidade. É assim que o apóstolo João o vê na revelação do Apocalipse: “E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem”(Ap 1:12-13).

João não vê a Jesus como o adorável Senhor de cada crente individualmente, nem como o amável Noivo da Igreja, mas como um Juiz terrível e assustador, e isso faz com que caia “a seus pés como morto”(Ap 1:17) e precise ser consolado pelo Senhor. Portanto tenha em mente que a passagem de Mateus 24 ocorrerá após o arrebatamento da Igreja, quando Cristo virá buscá-la e encontrar-se com ela, não na terra, mas quando os crentes forem transformados e levados até as “nuvens, a encontrar o Senhor nos ares”(1Ts 4:17), naquilo que costumamos chamar de arrebatamento. Em sua vinda para julgar as nações ele descerá até a terra.

Águias (algumas versões trazem “abutres”) nos falam de juízo, de rapina, pois são aves que de muito longe podem perceber suas vítimas, vivas ou mortas, e descer em grande rapidez sobre elas. Onde houver corrupção e podridão, ali estará o juízo rápido que virá do céu nesse dia de grande tribulação. Nessa ocasião, a falsa noiva, a Grande Meretriz ou Babilônia de Apocalipse, formada por falsos professos, terá sua recompensa por todo o mal que praticou. Alguém que apenas professe ser cristão, mas nunca nasceu de novo e nem creu em Jesus como Salvador, sempre será visto por Deus como um cadáver, “morto em seus delitos e pecados”(Ef 2:1).

Como já disse, quando isso acontecer a Igreja, formada por todos os verdadeiros crentes, já terá sido arrebatada da terra pelo menos sete anos antes. Tudo o que restará no mundo será a casca oca de uma profissão cristã vazia, com seus templos e rituais, mas sem cristãos verdadeiros.

Enquanto isso um remanescente de judeus que não foi alcançado pelo evangelho da graça nos dias da igreja na terra irá se converter e pregar o evangelho do reino (o mesmo que João Batista pregava). Esses, e também os gentios que se converterem nesse tempo, irão habitar na terra durante o reino milenial de Cristo.


O que você acha do que diz este professor?

Você me enviou um vídeo de um tal “professor” de hebraico que ganha dinheiro vendendo livros, vídeos e cursos para “provar” que a Bíblia estaria errada, que Jesus não seria Deus, que a Trindade seria uma farsa e outras coisas mais. Sério? Você que se diz crente em Jesus e sabe que a Bíblia é a Palavra de Deus ainda perde tempo (e faz outros perderem) com um sujeito assim?! Então vou inventar uma historinha para você nunca mais se esquecer de como deve lidar com esses que são ativistas de Satanás e cujo único objetivo é minar sua fé.

Suponhamos que você acabou de sair da firma onde trabalha e, a caminho de casa, passa por uma rua escura com seu salário em dinheiro no bolso. Seu salário é contadinho, com ele você pretende pagar suas contas e colocar comida na mesa pelos próximos trinta e um dias. Aí um desconhecido aborda você na rua escura apresentando-se como “professor” e especialista em dinheiro. Muito bem articulado, o sujeito faz de tudo para convencer que sua intenção é apenas ajudar você a descobrir se o dinheiro que tem no bolso de sua calça é genuíno ou falso. Ele logo explica que está numa missão de ajudar as pessoas a se livrarem de dinheiro falso.

Neste momento você:

A) Tira todo dinheiro do bolso para conferir nota por nota na frente do desconhecido naquela rua escura.

B) Você entrega todo o seu dinheiro a ele sem pestanejar porque ele disse que é “professor” e entende tudo de dinheiro, e se sente aliviado, nos dois sentidos.

C) Você “pica a mula” (se não souber o que é picar a mula use o Google).

Se você assinalou as opções A ou B acho que nem vai adiantar explicar que você está prestes a ser aliviado de seu salário. Se assinalou a opção C ainda há esperança para você. Então pare de ser ingênuo dando ouvidos a pessoas que querem tirar aquilo que você tem de mais precioso, sua fé em Cristo, na Palavra de Deus e na vida eterna.

Gente como esse “professor” é movida a veneno de serpente e sempre irá querer lançar dúvidas em sua mente para roubar sua esperança. Será que você nem desconfiou que alguém que ganha dinheiro “provando” que a Bíblia está errada deveria ter jogado a Bíblia no lixo há muito tempo, e não ficar por aí tentando estudá-la?

Se a Bíblia e seu conteúdo fossem tão maléficos para as pessoas ao ponto de elas precisarem ser alertadas, ele não cobraria para isso, se fosse alguém honesto e bem-intencionado, mas gritaria dos telhados para elas se livrarem de um livro com tantos erros. E se ele for daqueles que apontam discrepâncias na Bíblia alegando que elas foram acrescentadas e não estão nos originais, você deveria pedir a ele que mostrasse os originais, o que obviamente não irá conseguir porque ninguém os tem.

Portanto, pare de ficar impressionado com pessoas que aparecem balançando títulos de doutor, mestre ou professor, e diplomas de grego, hebraico e aramaico, como se sabedoria humana tivesse algum peso nas coisas de Deus. Se ler 1 Coríntios 1 e 2 verá que Deus não se manifesta através da erudição humana, mas escolhe os menores em termos de sabedoria humana para passar sua mensagem.

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele… E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria… para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1Co 1:25-29; 2:1,5).

Quando o diabo quis conversar com Eva usando um animal, buscou o mais inteligente de todos antes da queda da Criação, a serpente. Foi por intermédio dela que plantou dúvidas na mente de Eva: “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?”(Gn 3:1).

Quando Deus quis conversar com Balaão usando um animal, para avisá-lo de seu mau caminho, escolheu aquele que é sinônimo de estupidez e burrice, uma jumenta. “Então o Senhor abriu a boca da jumenta…”(Nm 22:28).

Você ganha um doce se descobrir de quem Paulo está falando, que ele chama de apóstatas, enganadores e inspirados por demônios: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência”(1Tm 4:1-2). Certamente não está falando daqueles que utilizam da Palavra de Deus de forma genuína para mostrar nela a Verdade, que é Cristo, Deus e Homem.

O alerta dado pelo próprio Senhor aos que se diziam mestres das Escrituras vale para este e outros “professores” que você encontrar ao longo de sua jornada cristã: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” (Jo 8:44).

O apóstolo Pedro também foi usado pelo Espírito para nos deixar um alerta: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (2Pe 2:1-3).


Mario, qual é o seu dom?

Você escreveu perguntando qual seria o meu dom, e logo me lembrei de uma frase de J. N. Darby: “Humildade não é pensar pouco de si; humildade é não pensar em si”. Por isso acho que o melhor é não ficar preocupado se tenho este ou aquele dom e simplesmente fazer aquilo que cair em minhas mãos e precisar ser feito. O cristão que está ocupado com o trabalho que lhe cai nas mãos não terá tempo de pensar se tem ou não tem um dom.

Uma vez vi uma cena hilária na recepção de uma escola de inglês onde tinha ido buscar meus filhos. O marido de uma aluna entrou e pediu se o rapaz da recepção poderia pegar a sombrinha que sua esposa tinha esquecido na sala de aula. “Desculpe, senhor, mas não sou responsável por esse departamento” — respondeu o empertigado recepcionista. Vi o sangue do homem subir à cabeça e ele esbravejou: “Então enquanto não chega o responsável pelo departamento de sombrinhas esquecidas, vou eu mesmo procurar” — e entrou de forma tempestiva nas salas de aula em busca da sombrinha da mulher.

Quando um cristão passa a se achar alguma coisa — tipo responsável por um departamento ou carimbar um crachá com um dom que tem como seu — isso pode atrapalhar quando ele for exortado a “_fazer o trabalho”_de um dom que não possa chamar de seu. Como no caso de Timóteo, que provavelmente não tinha o dom de evangelista mas era encorajado por Paulo a fazer esse trabalho. “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”(2Tm 4:5).

Uma vez eu estava construindo uma casa em Alto Paraíso de Goiás, um lugar onde na época era difícil conseguir alugar um caminhão para transportar material e mão de obra para carregar e descarregar. O costume ali era ficar no posto de gasolina e quando um caminhão em viagem parasse para abastecer, tentar contratar algumas horas para transportar pedras para alicerce, areia tirada da alguma praia na beira do rio, ou terra para aterro extraída de algum barranco.

Consegui combinar algumas horas com o motorista de um caminhão e espalhei a notícia de que precisava de mão de obra para carregá-lo de terra. Além de mim, que também pegava na pá, só tinha conseguido mais um. Então apareceu um jovem todo arrumadinho dizendo que estava desempregado, precisava de dinheiro e coisa e tal, e tinha ouvido dizer que eu iria transportar um caminhão de terra para minha construção.

Quando eu disse que tinha uma pá sobrando ele sentiu-se ofendido: “Pá? Não, senhor, eu não faço trabalho braçal. Sou motorista e tenho até curso. Pensei que fosse para dirigir o caminhão”. Então respondi: “Já entendi… Olha, se você precisar de um arquiteto que tem até curso, procure no barranco que ele estará jogando pá de terra”.

Às vezes a preocupação com o ter ou não ter um dom pode ser pela má interpretação da passagem “procurai com zelo os melhores dons”(1Co 12:31), como se o cristão pudesse sair às compras em um“_Supermercado de Dons”_e escolher nas prateleiras aquele que mais lhe agrade, que ache mais útil, ou que traga maior prestígio entre seus irmãos. Mas o apóstolo não está dizendo aí para nos esforçarmos para receber este ou aquele dom, e sim para termos discernimento de buscarmos nos ocupar com os dons de outros irmãos que trouxerem maior benefício para nós, os melhores dons. Ele está comparando na passagem os dons de ministério com dons de línguas, para mostrar o valor dos que trazem maior benefício.

Dom não é algo que tenhamos condições de conquistar, mas algo que nos é dado com uma determinada finalidade. Existem os dons de Cristo do capítulo 4 de Efésios, e existem os dons ou manifestações do Espírito do capítulo 12 de 1 Coríntios. Se ler o capítulo 14 de 1 Coríntios, que é uma continuação do assunto do capítulo 12, verá que o apóstolo está comparando o dom de falar em línguas estrangeiras com o dom de profecia (falar da parte de Deus ou falar a Palavra de Deus). A conclusão do apóstolo é que o dom de profecia é muito superior ao dom de línguas, porque o primeiro edifica a todos, e o segundo só à pessoa que fala.

Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação” (1Co 14:1-3).


Estes que estão no céu são os cristãos salvos?

Você enviou a passagem de Apocalipse 6:9-10 perguntando se as pessoas ali seriam os cristãos salvos no céu. “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”

A resposta é não, essa cena é ainda futura e mostra as almas de pessoas que serão martirizadas e por isso clamam por vingança. Eles estão “debaixo do altar”, o que é uma figura de sacrifício, foram mortos de forma violenta por amor à Palavra de Deus e por seu testemunho, e seu pedido é de vingança. Não são cristãos, ou seja, não pertencem à igreja (os da Igreja já estarão no céu ressuscitados ou transformados nessa ocasião), mas fazem parte do mesmo contexto dos israelitas do Antigo Testamento, que guerreavam ordenados por Deus para se vingarem dos inimigos de Israel. Portanto entenda que quando a Igreja for arrebatada da terra as coisas voltarão ao modo como Deus lidava com os povos no Antigo Testamento.

O cristão jamais iria pedir vingança por ser perseguido e martirizado, como aprendemos bem do Senhor nos evangelhos e de um caso real, que foi Estêvão em seu apedrejamento: “E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu”(At 7:59-60). Ele seguia o exemplo de graça, misericórdia e perdão do Senhor, que na cruz intercedeu por seus algozes. Embora as duas situações pareçam semelhantes, algumas distinções são dignas de nota.

Estêvão clamou “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”, pois estava sendo morto por mãos de outros, enquanto Jesus disse “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”(Lc 23:46), pois ele não foi morto, mas entregou por si mesmo sua própria vida. Estêvão disse “Senhor, não lhes imputes este pecado”, enquanto o Senhor na cruz disse “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”(Lc 23:34).

Alguém poderia não concordar com o fato de o cristão perdoar seus algozes, enquanto aqueles mártires do princípio das dores estarão clamando por vingança. Alegar que devemos agir de uma determinada maneira só porque está na Bíblia é não entender que existem pessoas, situações e propósitos que diferem neste mesmo volume da Palavra de Deus. Se você não entender as dispensações vai misturar tudo.

A mesma Bíblia nos fala do discernimento, de dividir bem a Palavra da Verdade, portanto é melhor se acostumar com a ideia de que Deus tem dois povos, um terreno, formado por Israel, e um celestial, formado por judeus e gentios convertidos a Cristo na atual dispensação. Quando a Igreja for arrebatada da terra Deus voltará a tratar com seu povo terreno, Israel, que por fim irá habitar a terra com os gentios que se converterem ao Messias na abertura do reino milenial de Cristo.

Quer um exemplo das diferenças entre Israel e Igreja? O louvor. Muitos cristãos cantam os Salmos como se fossem hinos adequados ao cristão. É certo que alguns até se enquadrem em algumas palavras, mas eles são essencialmente hinos judaicos. Anotou o que eu disse? Os Salmos não são hinos cristãos. Se você discorda, tente compor um hino cristão com estes versos tirados dos Salmos:

Certamente Deus esmagará a cabeça dos [meus] inimigos, o crânio cabeludo dos que persistem em seus pecados… para que [eu] encharque os pés no sangue dos inimigos, sangue do qual a língua dos cães terá a sua porção… Puseste os meus inimigos em fuga e exterminei os que me odiavam… Fiquem órfãos os seus filhos e a sua esposa, viúva. Vivam os seus filhos vagando como mendigos… Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!” (Sl 68:21-23; 18:40; ; 137:9).

Você cantaria isso em seu louvor a Deus? Acredito que não. Porém saído da boca de um israelita do Antigo Testamento estaria perfeito, pois afinal estas palavras são letras de seus Salmos e Cânticos de libertação e louvor. Todavia, na doutrina dos apóstolos aprendemos a interceder pelos que nos fazem mal: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem… Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber… Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem”(Rm 12:14,20-21).


Por que o céu é chamado Paraíso se este ficava na terra?

A palavra “Paraíso” aparece em algumas traduções modernas (principalmente em inglês) referindo-se ao Jardim do Éden ou a um lugar de bênção. Por isso costumamos dizer que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, que representava um lugar e condição na terra, e ao ladrão foi prometido que estaria naquele mesmo dia no Paraíso, indicando um lugar e condição no céu.

Paulo, em 2 Coríntios 12:4, também fala do Paraíso como o terceiro céu aonde foi levado. Em Apocalipse 2:7 também é mencionado o “Paraíso de Deus”. Creio que a palavra não seja específica de um lugar, mas pode significar também um estado de bênção. Veja este texto de J. A. Trench:

A palavra “Paraíso” foi popularizada com seu uso na tradução grega do Antigo Testamento para descrever o jardim que Deus plantou para Adão. Ela nunca é usada para descrever algo mais do que um jardim, pomar ou algo parecido, seja daquele ponto mais brilhante de toda a cena da criação de Deus onde ele colocou o homem que ele havia formado, seja daquilo que o homem poderia fazer por si mesmo em sua pequena medida dentro do mesmo caráter.

Séculos mais tarde a memória do Éden sobreviveu para expressar aquilo que era próspero e belo. (Ver Gênesis 13:10 e a alusão de Ezequiel a isso em ez 28 e @@Ezequiel 31.) A palavra nunca é encontrada em conexão com o submundo, as partes baixas da terra, ou o hades.

O uso da palavra no Novo Testamento é consistente com o que vimos, se transportado da terra para o céu como poderíamos esperar. O Paraíso é identificado com o terceiro céu por Paulo em 2 Coríntios 12. Em Apocalipse 2:7 a Árvore da Vida está lá, uma reminiscência do paraíso terrestre, mas preenchendo toda a cena.

O Paraíso, então, aonde o ladrão convertido foi para estar com Cristo naquele dia, foi o ponto mais brilhante em toda a glória celestial; ausente do corpo a ser posto na sepultura, para estar para sempre presente com o Senhor. Você não pode localizar o hades, um termo propositadamente vago para expressar o invisível. É essa condição das coisas a que a dissolução do corpo leva todos igualmente, correspondendo ao hebraico Sheol, ao qual o bendito Senhor abençoado passou, mas onde não seria deixado. (Salmo 16:10) - J. A. Trenchem.


No céu não haverá mais nascimentos?

Você viu o vídeo com o título “Com que idade aparente estaremos no céu?” e ficou com dúvida se todos os ressuscitados, independentemente de serem crianças ou adultos, estarão em corpos adultos como o de Jesus. Se assim for, sua pergunta é: “No céu não haverá mais nascimentos?”.

Muitos confundem terra e céu quando falam da esperança e destino do crente. Por exemplo, católicos e protestantes fundamentalistas acreditam que os cristãos devem evangelizar todo o mundo para prepará-lo para receber o reino de Cristo, e que viverão aqui eternamente numa terra transformada. Se você não compreender a diferença entre a teologia do pacto (aceita pela maioria dos cristãos) e o dispensacionalismo (que separa o que é para Israel e o que é para a Igreja) dificilmente você entenderá estas coisas.

Depois do arrebatamento da Igreja e ressurreição dos que morreram em Cristo, o céu estará cheio de pessoas com seus corpos ressuscitados. Enquanto isso a terra passará por 7 anos de dificuldades culminando na grande tribulação (segunda metade dos 7 anos) e a vinda de Cristo para julgar as nações e introduzir seu reino. Um remanescente de judeus e gentios terá se convertido nesse período e habitará no reino de Cristo na terra.

Nesse reino de mil anos na terra as pessoas continuarão nascendo como hoje, porque não serão pessoas ressuscitadas, mas terão o mesmo corpo que temos hoje. Como a terra (não o planeta inteiro) estará restaurada, o diabo preso e todos vivendo em paz, só morrerá quem pecar. Quando Jesus curava e alimentava multidões ele estava dando uma amostra grátis do que será o reino na terra.

No final dos mil anos Satanás será solto para levantar uma rebelião contra Cristo. Essas pessoas provavelmente terão nascido nesse período de mil anos. Aí a terra e os céus serão destruídos com fogo e Deus criará novos céus e nova terra, dos quais quase nada a Bíblia diz por ser a eternidade, quando não haverá nem tempo e nem matéria como a conhecemos.

Nossa mente atual foi feita para viver e entender coisas no tempo e espaço, por isso nem adiantaria a Bíblia falar da eternidade que estaria além de nossa compreensão. Por acharem que tudo deve caber em nossa caixa craniana, muitos cristãos se limitam a acreditar que seu futuro será numa terra melhorada, e não numa eternidade no céu (enquanto os povos terrenos estarão na nova terra).

A eternidade, os novos céus e a nova terra, são coisas tão fora de nossa capacidade de imaginar que nenhum autor de ficção científica conseguiria descrever. Se algum dia você ouviu a expressão “pensar fora da caixa”, é hora de aplicá-la também no entendimento das escrituras e deixar de lado a teologia do pacto com suas limitações.

Se quiser entender melhor a profecia sugiro a leitura do livro “Acontecimentos Proféticos”, de Bruce Anstey, publicado pela Editora Verdades Vivas que existe para baixar em formato e-book ou adquirir em formato impresso.


Satanás está no céu ou na terra?

Satanás circula nessas duas esferas. Não é onipresente, nem onisciente, mas capaz de ir de um lado para outro e tem a seu serviço um número incontável de assessores — anjos caídos e espíritos imundos — para fazerem o seu trabalho, enquanto ele se ocupa com as questões mais importantes.

Na tentação de Jesus ele estava na terra tentando o Senhor. “Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). No livro de Jó ele estava no céu. “E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles” (Jó 1:6). Em Efésios somos exortados a lutar contra as potestades do mal nos lugares celestiais, ou seja, nos céus. “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12).

Ao contrário do que alguns pensam, Satanás ainda não foi expulso do céu. Talvez o equívoco ocorra por Satanás ser um anjo caído, e alguns acharem que isso significaria que ele caiu do céu. Mas esse “caído” é no sentido de sua posição. Quando um governador cai isso não significa que ele tenha levado um tombo ou sido expulso do lugar onde morava. Ele simplesmente perdeu sua posição e cargo de governador.

A queda de Satanás, no sentido posicional e não geográfico, pode ser vista em Isaías 14:12-14 e Ezequiel 28:12-18 e a maior evidência de que ele e suas hostes continuam no céu é a passagem de Efésios 6:12, na qual somos exortados a lutar em oração “contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade,nos lugares celestiais”. Se Satanás e seus anjos já tivessem sido expulsos dos “_lugares celestiais”_e vivessem hoje exclusivamente na terra, Paulo teria nos enganado em relação ao alvo para onde apontar nossas armas.

Este é apenas mais um dos equívocos da Teologia do Pacto que considera o Apocalipse um livro meramente simbólico que descreve coisas que já teriam acontecido ao longo da história. Os que dizem isso fazem do apóstolo João, não um profeta, mas um historiador.

O diabo será expulso do céu juntamente com seus anjos em Apocalipse 12, que ainda não aconteceu. Então ele estará em tempo integral na terra perseguindo “a mulher que dera à luz o varão”(Ap 12:13). Essa mulher de quem veio o Varão que derrotou o diabo é Israel, pois “sabemos porque a salvação vem dos judeus”(Jo 4:22). Isso nos fala do tempo de grande tribulação pela qual passará o remanescente judeu fiel que irá se converter após o arrebatamento da Igreja. A passagem completa você vê a seguir:

E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram a sua vida até à morte. Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o varão” (Ap 12:9-13).


Existe uma contradição no fato de Deus se arrepender?

Você enviou um _meme_que estaria circulando e apontando para uma aparente contradição em 1 Samuel 15. No versículo 11 diz que Deus se arrependeu e no versículo 29 diz que Deus não se arrepende. Seria isso uma contradição?

Obviamente não existe contradição alguma, exceto na cabeça de pessoas que não conhecem linguagem ou fazem de conta que não conhecem só para atacar a Bíblia. Arrepender-se de um pecado é algo impossível a Deus que nunca pecou, não peca e jamais pecará. Se a pessoa que apontou a suposta “contradição” fosse honesta teria visto que a palavra que antecede a afirmação de Deus é “não mente”, portanto deixando muito claro que está falando de um pecado. A pergunta de quem sabe analisar um texto é: “Deus não se arrepende de que?” A resposta é “de mentir”, que é o verbo que antecede o“arrepender”.

E também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa” (1Sm 15:29).

É impossível a Deus mentir ou pecar, portanto nunca se arrependeu e nem se arrependerá. Porém Deus pode muito bem voltar atrás, que é outro significado da palavra arrependimento, se decidir seguir por um caminho diferente do que tinha seguido antes. Foi o caso nos versículos 10-11: “Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo: Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras”. Ou seja, ele provou que não devia ter colocado Saul como rei segundo o pedido e expectativa do povo de Israel. Por isso Deus iria agora deixar de lado o “Plano A” — ou arrepender-se — e partir para o “Plano B”.


Devo destruir trabalhos de macumba?

Você escreveu dizendo que quando encontra um trabalho de macumba numa encruzilhada, ora com autoridade, destrói tudo e repreende o diabo. Sua dúvida é se estaria agindo corretamente. Não, você está erradíssimo ao fazer isso. Os versículos que usou não têm nada a ver com a questão, pois em Isaías 54:17 o texto diz: “_Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará”._O versículo está falando da proteção que Deus prometeu a Israel (o povo terreno de Deus) e não tem nada a ver com o cristão. Se ler o capítulo inteiro de Isaías irá perceber melhor do que lendo apenas um versículo isolado.

Satanás deve rir à beça de seu show de destruição de trabalhos de feitiçaria. Não é chutando imagens e espalhando farofa que você estará desfazendo as obras do diabo, mas agindo como Jesus agiu quando espoliou o Valente, que é o diabo. Como ele agiu? Libertando pessoas, não chutando ídolos.

Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos” (Lc 11:21).

O crente empenhado na obra de Cristo para libertar pessoas irá pregar o evangelho, porque libertação não significa libertar de vícios, feitiços ou macumbas, mas do pecado que irá levar aquela pessoa para a condenação eterna se não crer em Jesus.

Lutar contra Satanás e seus anjos e demônios também não tem nada a ver com cenas de histeria e gritarias nas encruzilhadas, numa tentativa de repreender o diabo, algo que só Jesus podia fazer, e nem o Arcanjo Miguel ousou em Judas 1:9. Essa luta contra o reino das trevas não é feita aos berros e pontapés nas encruzilhadas, mas de joelhos no chão e muito acima das ruas deste mundo:

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:11-12).

Se você sair por aí chutando imagens, derramando a cachaça e estragando os “trabalhos” logo acabará preso por intolerância religiosa e destruição de propriedade privada, porque aqueles objetos pertencem a alguém. Talvez você irá mencionar os reis e profetas de Israel que destruíam os ídolos pagãos, mas ali era uma teocracia, e aquele era o povo terreno de Deus limpando seu país da influência da idolatria pagã. O cristão não tem lugar neste mundo e sua cidadania é no céu. Veja o apóstolo Paulo, se destruiu algum dos ídolos que encontrou em Atenas:

E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio” (At 17:22-23).

Devia haver mais de uma dúzia de ídolos ali naquele local, alguns habitando hoje as exposições de grandes museus, e Paulo não encostou um dedo neles. Ele pega o gancho no fato de eles terem um pedestal vazio dedicado ao “Deus Desconhecido” e parte daí para pregar. Como você irá querer ganhar uma pessoa com o evangelho da graça de Deus depois de ter quebrado suas tigelas de farofa, sapateado sobre a galinha e chutado a imagem de São Jorge? Não é tentando arrancar o osso de um cão que você fica amigo dele, mas oferecendo algo melhor: um suculento filé.

Provavelmente você aprendeu a agir assim de livros e pregações de pastores pentecostais, portanto sugiro que passe uma borracha no que ouviu deles e jogue seus livros no lixo. E não perca seu tempo com esses pregadores de TV e Youtube entrevistando e repreendendo demônios. Comece a se ocupar mais com Cristo, não com o diabo. Você vai viver menos estressado e vai ter mais gente interessada na mensagem que você tem para passar.

Lembre-se também de que a mensagem do evangelho não é convidar alguém para filiar- se a alguma igreja, oferecer curas e revelações, ou libertar a pessoa de vícios. A mensagem do evangelho é oferecer a ela salvação eterna pela fé em Jesus, não resolução de problemas terrenos. Os que vão atrás de Jesus por causa de interesse estão na lista dos que ele mesmo não confia e são tão materialistas quanto os que fazem oferendas a demônios para estes não perturbarem suas vidinhas aqui.

E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:23-25).


Como fazer uma campanha ou propósito para com Deus?

Expressões como “campanha”, “propósito”, “promessa”, “empenho”, etc., são jargões populares no mundo evangélico pentecostal. Pelo que entendi é algo como empenhar-se em fazer algo para Deus, mesmo sem parecer uma barganha para ganhar algo em troca, o que geralmente acaba sendo a mesma coisa no final. No mundo dos pregadores neopentecostais onde esses termos são muito utilizados é tudo na base do toma-lá-dá- cá e Deus não passa de um talismã para dar sorte.

Talvez você alegue que na Bíblia temos exemplos de pessoas fazendo um propósito para com Deus. Sim, você encontra, por exemplo, Davi fazendo um propósito: “E disse Davi a Salomão: Filho meu, quanto a mim, tive em meu coração o propósitode edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus. Porém, veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Tu derramaste sangue em abundância, e fizeste grandes guerras; não edificarás casa ao meu nome; porquanto muito sangue tens derramado na terra, perante mim” (1Cr 22:7-8).

Logo você irá perceber que fazer um propósito não é o mesmo que estar em sintonia com a vontade de Deus, e Davi pelo jeito não estava, pois Deus não tinha o mesmo propósito para com Davi, e sim para com Salomão, seu filho.

Eclesiastes 3 nos fala de “_propósito”_como objetivo, e aí não necessariamente do crente, mas de todas as coisas desta vida. Lembre-se de que o livro de Eclesiastes é uma espécie de “confissão” de Salomão e mais voltado para o homem natural que vive observando as coisas “debaixo do sol”, expressão repetida várias vezes ao longo do livro para mostrar que está falando das coisas da terra e desta vida. Não é um livro que fale das coisas acima do sol, ou seja, celestiais.

Jeremias fala seis vezes de propósito, porém como o desejo de seguir o próprio coração em oposição à vontade de Deus, que era a condição do povo judeu de sua época (e não mudou desde então): “Não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, antes andaram cada um conforme o propósito do seu coração malvado”(Jr 11:8).

Nos evangelhos, em Atos e nas epístolas voltei a encontrar “_propósito”,_mas sempre com o significado de objetivo, tanto de Deus quanto do crente em sua vida prática. Então entendo que propósito, para um crente, é ter uma meta de agradar seu Senhor. Nada a ver com promessa, voto ou barganha que tente colocar a Deus na parede com promessas do tipo: “Se o Senhor fizer isso, eu prometo fazer aquilo”, ou “Vou fazer isso para deixar o Senhor constrangido a atender meus caprichos”, ou, como os pregadores estelionatários prometem, quanto mais dinheiro você der, mais Deus irá abençoar. Como se Deus, que criou o Universo e é dono da prata e do ouro precisasse de nosso dinheiro! “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos”(Ag 2:8).

Talvez você retruque citando diferentes votos ou “propósitos” feitos na Bíblia com um objetivo definido de se receber algo em troca. É preciso entender que o voto ou promessa era uma prática do Antigo Testamento. Em Atos dos Apóstolos Paulo faz votos, inclusive querendo parecer estar no judaísmo, algo que não estava correto para alguém que já conhecia a graça de Deus. Devemos nos lembrar que quando lemos “Atos dos Apóstolos” estamos lendo sobre o que os apóstolos fizeram, seus atos, os quais nem sempre encontravam respaldo na vontade de Deus.

Quanto ao voto de Jacó, se prestar atenção verá que Deus não lhe pediu que fizesse voto algum. Deus queria agir em graça (favor imerecido) e Jacó foi inventar o voto porque ele mesmo só fazia as coisas na forma de barganha. Era um homem cheio de truques e estratagemas. Veja o que Deus prometia de forma incondicional:

Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado” (Gn 28:14-15).

O que Jacó precisava fazer para receber isso? O que Deus disse que queria dele para, em troca, multiplicar sua descendência como o pó da terra, estar sempre com Jacó, guardá-lo por onde quer que fosse, fazê-lo voltar à terra, etc.? Nada. Absolutamente nada! Tudo aquilo Deus daria porque queria dar. No entanto, Jacó responde à graça de Deus incluindo uma condição, um “SE” na história…

E Jacó fez um voto, dizendo: SEDeus for comigo, e [SE]me guardar nesta viagem que faço, e [SE]me der pão para comer, e vestes para vestir; e [SE]eu em paz tornar à casa de meu pai o Senhor me será por Deus. E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente [eu]te darei o dízimo” (Gn 28:20-22).

Portanto, esqueça essa ideia de fazer votos ou propósitos na tentativa de merecer de Deus algo em troca, e confie na graça de Deus. Não há nada que possamos dar a ele que ele já não tenha. Ore, suplique, peça quando precisar de algo, mas não queira fazer barganha. Deus é um Deus de graça, um Deus que ouve orações, que sabe muito bem o que é melhor para nós e saberá fazer as coisas à maneira dele no momento certo.

Se você um dia creu em Jesus como seu Salvador e confessou a ele como seu Senhor, não consigo imaginar um propósito maior que esse. Se quer mesmo um propósito para o resto de sua vida aqui, experimente este:

Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada… Dá-me, filho meu, o teu coração” (Hb 13:15-16; Pv 23:26).

Veja que “fruto” nos fala de consequência, portanto nem pensar em fazer algo para obrigar Deus a agir em seu favor. Orar é correto, barganhar não é. Deixe sua esposa descobrir que aquelas flores que você deu a ela tinham segundas intenções e você irá entender a que estou me referindo.

Talvez você reclame porque não falei nada sobre as conhecidas “campanhas” promovidas pelos estelionatários da fé, mas acho que basta um pouco de inteligência e bom senso para perceber aonde eles querem chegar quando fazem campanha de sabonete, sal grosso, azeite e oliva. Existem na Web até sites que vendem “sabonetes de campanha” por 35 reais a unidade. Considerando que o mesmo sabonete custa no supermercado menos de dois reais já dá para perceber que fazer “campanha” é um excelente negócio e não fica nada a dever ao comércio de itens de superstição de Aparecida do Norte.

Mas veja que o sabonete para campanha é um item dos mais baratos. Existem também a “Lâmpada para Virgem Prudente”, “Perfume de Israel”, “Óleo para Unção do Jejum de Daniel”, “Chave da Casa Própria”, “Panela de Eliseu”, etc. Sério que você obedece ao pregador que induz você a comprar essas bugigangas? Se quer mesmo ajudá-lo é melhor pagar um tratamento contra anemia para alguém assim, pois ele deve estar com problema de saúde. Se não fica vermelho de vergonha quando diz para você fazer essas campanhas deve estar com uma grave deficiência de glóbulos vermelhos.

O Deus que encontro na Bíblia não é o mesmo que esses pregadores de curas e prosperidade adoram. Está mais para Mamon, cujos adoradores já surgiam no início da Igreja e contra os quais Paulo escreveu alertando os cristãos de seu tempo de que esses homens eram “inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas”(Fp 3:18-19).

A descrição mais exata para pessoas que enganam incautos com essas “campanhas” é mostrada na passagem a seguir na epístola de Judas:

Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré. Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações; estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas. E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse. Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito. Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” (Jd 1:11-21).


O que você acha de comediantes nas igrejas?

Acho perfeitamente bíblico, porque a degradação da cristandade é assunto da Bíblia e a Palavra de Deus já previa que ela seguiria esse rumo. Quando eu digo cristianismo, entenda que é a doutrina cristã, mas quando falo em cristandade estou me referindo a tudo e todo que leva o nome de Cristo, seja falso ou verdadeiro, joio ou trigo. Na cristandade hoje não se convida alguém para pregar por ser dedicado ao evangelho, mas para ser animador de plateia. Se acha que tem muito lixo sendo introduzido nas igrejas, você ainda não viu nada. Em Apocalipse a cristandade, oca de Cristo e sem os cristãos que terão sido levados no arrebatamento, é mostrada como “a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra”(Ap 17:5).

A princípio essa Grande Meretriz aparece montada sobre a besta do poder civil, como esteve muitas vezes no passado coroando reis e exercendo seu domínio sobre eles, e como está hoje de uma maneira mais velada, mas com grande influência política, social e comercial. Mas lá em Apocalipse ela finalmente é derrubada de sobre o poder civil e destruída. “Caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável. Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias”(Ap 18:2-3).

Ali diz que “ela se glorificou, e em delícias esteve” e que “os reis da terra, que se prostituíram com ela, e viveram em delícias”, ou “luxúrias” como em outra versão. Depois de sua queda, que causará um impacto profundo na economia mundial, “e sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias”. Segue-se uma lista de mercadorias de todo tipo que termina com “corpos e almas de homens” (Ap 18:7-13).

O objetivo maior da cristandade no mundo não é pregar o evangelho, mas ganhar os corpos e almas de homens para sua causa. E qual é sua causa? Crescer como o pé de mostarda da parábola de Mateus 13que “faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos”, ou como no caso do “fermento — sempre na Bíblia mostrado como pecado ou má doutrina — que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado”(Mt 13:32-33).

Se você souber fazer “dois mais dois” saberá calcular _mulher + prostituta + má doutrina_= crescimento. E as “aves do céu”? “A grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável”(Ap 18:2). A meta da cristandade — a Grande Babilônia, a Grande Meretriz — de crescer no mundo está alinhada com o pensamento comercial e empresarial que adotou.

Para crescer você precisa de membros que precisam de infraestrutura que precisa de mais membros para um crescimento autossustentável.

Então o jeito é diversificar, principalmente quando ninguém está mais interessado na verdade e quando existe tanto entretenimento interessante na mídia. “Se Maomé não vai à montanha, traga a montanha a Maomé”, diz o velho ditado. Numa versão moderna seria “Se o cristão não vai ao circo, traga o circo ao cristão”. Neste caso a ideia tenta passar uma preocupação religiosa ao justificar que traz o entretenimento para dentro da comunidade cristã para seus membros não irem buscá-lo no mundo. O que não percebem é que o perigo não é o cristão estar no mundo, mas o mundo estar no cristão, do mesmo modo como o perigo não é o barco estar no mar, mas o mar estar no barco.

Que a cristandade sempre foi a grande mecenas das artes seculares, isso a história está aí para provar com suas grandes catedrais, imagens e objetos. Não teríamos artistas como Leonardo Da Vinci, Sandro Boticelli, Michelangelo Buonarrotti, Rafael Sanzio, se não fosse pelo incentivo e financiamento dos papas e outros clérigos de sua época. Mas não atire todas as suas pedras nos católicos, reserve algumas para os protestantes poderem construir também suas catedrais onde acontecem os eventos culturais e religiosos de artes cênicas e musicais.

Quando digo isso não pense que me escuso por não ser católico ou protestante. Eu faço parte da mesma massa da cristandade que em seu derradeiro estágio é chamada de Laodiceia em Apocalipse 3, e cuja característica é achar-se rica e abastada, quando tudo o que faz é dar náuseas no Senhor que quer vomitá-la de sua boca. O detalhe é que a cristandade hoje reúne cristãos falsos e verdadeiros lado a lado, e estes existem em todas os ajuntamentos e reuniões cristãs, independentemente de ter ou não denominação, ou da corrente teológica que seguem.

A cristandade futura pós-arrebatamento da Igreja (os genuínos cristãos) é que aparece pintada nos capítulos de Apocalipse que falam de sua derrocada. Mas ali ela já terá conseguido arrebanhar alguns simpatizantes genuínos pós era da Igreja, pois estes são alertados: “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas”(Ap 18:4). Quando a grande Babilônia, que inclui toda a manifestação cristã no mundo, cair, o lamento de sua plateia será: “E em ti não se ouvirá mais a voz de harpistas, e de músicos, e de flautistas, e de trombeteiros, e nenhum artífice de arte alguma se achará mais em ti”(Ap 18:22).

Percebe agora onde entra o comediante stand-up, o músico, o ator em tudo isso? Portanto não é de admirar que as igrejas tenham se transformado já em nossos dias em centros de entretenimento cristão, pois esta deve ser a configuração final da Grande Meretriz de Apocalipse, e nada mais normal do que ela já estar se produzindo neste sentido. Por isso eu disse no início que essas manifestações nas igrejas têm respaldo bíblico, não no sentido de serem autorizadas por Deus, mas como elementos do palco da grande apostasia que é o abandono da verdade. Hoje nas igrejas você encontra de tudo: shows de música e dança, palestras sobre os mais diferentes assuntos, estrado para políticos conquistarem eleitores, ginásios de esportes, clubes de campo, festas juninas, Halloween e palcos de comediantes stand-up.

O argumento é que fazendo assim as igrejas atraem mais gente para o evangelho, mas no fundo o objetivo é faturar mais para manter a infraestrutura e poder atrair mais público pagante para… Lembra a propaganda do biscoito que vende mais porque é mais fresquinho e é mais fresquinho porque vende mais? Assim funciona a cristandade ávida por conquistar público, onde o que importa são os números e a satisfação da plateia. Não precisa ser muito inteligente para perceber que qualquer pessoa estará mais motivada a pagar ingresso para se divertir do que não pagar para ouvir a Palavra de Deus.

Se você tivesse vivido há alguns séculos teria ficado surpreso quando foram introduzidos os primeiros instrumentos musicais no culto cristão (isso mesmo, eles não existiam no princípio). Depois veio teatro, dança, filmes, cantores, bandas, pirotecnia de palco, fã clube de celebridades… Não vai demorar para você ter pole dance e strip-tease, porque já existe sexy-shop evangélica. O argumento será sempre que é melhor você se distrair com essas coisas em um ambiente cristão ou comprar estimulantes sexuais para usar com seu cônjuge do que fazer isso no mundo. Oh, o mundo é tão mundano, não acha?

Talvez você pergunte que mal há em cristãos se divertirem com algum entretenimento limpo e sadio. Nenhum mal, pois somos seres humanos e temos apetites comuns a todos, independentemente de serem cristãos ou não, como por um bom prato, uma boa música, um jogo eletrizante, uma história divertida, etc. Mas estas coisas não são atividades da igreja, e sim da vida particular de cada um. É salutar que irmãos procurem estar juntos para comer, tocar, cantar, praticar esportes e se divertir. Afinal, não fazemos essas atividades com nossos filhos? Se você não faz por achar que cristão deve viver à base de pão e água e nunca rir, é provável que acabará perdendo seus filhos para o mundo.

Mas quando cristãos se reúnem em assembleia ou igreja devem fazê-lo dentro dos parâmetros estabelecidos pela Palavra de Deus, porque aí não estarão reunidos como forma de distração, mas para adorar a Deus, aprender dele e apresentar suas necessidades em oração. Em Atos 2:42 vemos que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. E nas danças? Não tem. Nas bandas, corais, campeonatos de basquete, stand-up? Nada.

Quando o apóstolo Paulo usa como exemplo o que aconteceu com Israel, o povo terreno de Deus, para alertar a Igreja, o povo celestial, ele deixa claro que aquele povo havia perdido o foco e já não vivia em função do Senhor, mas de seus próprios prazeres e diversão. Ele diz que essas coisas aconteceram como figuras para nós, “para aviso nosso”. Será que estamos levando esse aviso a sério?

Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto. E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar [ou divertir-se] … Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”(1Co 10:1-11).


O que acha da Baleia Azul?

Não tenho dúvidas de que por detrás de tudo o que leve ao incentivo de destruição da vida humana esteja Satanás. Judas teve um desafio parecido instigado pelo diabo: trair o Filho de Deus e ficar rico, provavelmente sabendo que Jesus seria poderoso para se livrar de seus captores. No final Judas falhou no desafio e cumpriu o último passo de sua lista de tarefas: suicidou-se.

Aos que participam ou promovem esse tipo de jogo cabe como uma luva a advertência que Jesus fez no seu tempo: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os

desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira(Jo 8:44).

Mas se por um lado existem adolescentes brincando com a morte e irresponsáveis o suficiente para incentivar amigos a fazerem o mesmo, como se a vida fosse um “game”, surpreende descobrir que por outro há cristãos tratando o assunto levianamente, fazendo piada de algo que incentiva o suicídio de adolescentes. Suicídio é coisa séria, não é piada. Se você for um pai ou mãe ainda no início de carreira saiba que você ainda não tem todas as respostas de como educar filhos. Seu tiro pode sair pela culatra quando descobrir que seus métodos não funcionaram.

Depois de velhos percebemos que erramos em muitos aspectos na educação dos filhos. Não se iluda achando que por checar todos os itens de sua lista de princípios bíblicos tudo irá sair direito. Mentimos para nós mesmos na tentativa de nos convencermos de estar no rumo certo, quando cada um de nós também traz muitas arestas a serem aparadas em muitos aspectos da vida. O que dirá das arestas na vida de nossos filhos, que só conseguimos enxergar por fora!

Nunca percebemos o quão falhos somos até na maneira como aplicamos a Palavra de Deus em nós mesmos, quanto mais em nossos filhos. Fingimos que obedecemos, achando que iremos tirar dez na prova de educar os filhos, só para depois descobrir que não foi bem assim. Filhos são entidades autônomas. Você tem controle sobre eles até certo ponto e é por isso que precisamos sempre de dependência de Deus. Mas eu não chamaria de uma atitude de dependência de Deus zombar daqueles que falharam, estão falhando ou podem falhar na educação de seus filhos. E jamais alguém poderia chamar de atitude cristã zombar de uma situação tão trágica quanto essa da “Baleia Azul” que traz em seu bojo a possibilidade de suicídio de uma criança ou adolescente.

Até mesmo irmãos conhecedores da Palavra, que nos serviram de exemplo por seu ministério na família e educação de filhos, descobriram no final que falharam. Isso obviamente não tira deles o mérito daquilo que escreveram ou pregaram no Senhor e segundo a Palavra, pois eles podem também ter sido alvos preferidos do inimigo justamente nos assuntos aos quais mais se dedicavam a ensinar outros. Um irmão que foi muito severo na educação de seus filhos sobre princípios bíblicos me confidenciou pouco antes de partir para o Senhor que tinha falhado. Outro ministrou bastante sobre educação de filhos por meio de textos, e teve resultados inversos com os seus. Outro que escreveu um excelente livro sobre o matrimônio acabou vendo o seu terminado em divórcio.

Procuro trazer Tiago 3:1-2 na lembrança para me humilhar quando sou tentado a posar de mestre de ignorantes: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas”. E Paulo dá um puxão de orelha nos judeus porque nesse orgulho eles acabaram caindo: “Tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?” (Rm 2:17-21).

Portanto não ria da horta do vizinho antes de saber se vai colher morangos ou pepinos na sua. “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vó.” (Mt 7:1-2).

Hoje muitos pais cristãos vivem a angústia da incerteza de estarem fazendo o que é certo, de estarem conectados o suficiente aos filhos, de estarem amando e dando a atenção que deveriam. O mundo oferece a crianças e jovens conexões sombrias que eles acham mais legais que aquela que têm com os pais, e com as novas tecnologias de comunicação você nunca sabe exatamente onde seus filhos circulam no ciberespaço, longe de sua vigilância e com amigos que você talvez jamais receberia em sua sala de estar.

Olhe agora para seus filhos pequenos e pense com temor no risco que eles correm vivendo neste mundo. Conheço pais cristãos que criaram o filho no temor do Senhor, só para um dia chegarem em casa e o encontrarem na ponta de uma corda. Conheci o filho também, e até o vi na escola dominical falando versículos e cantando hinos com outras crianças e adolescentes. Para qualquer um ali — pais e irmãos na fé — tudo parecia normal, até que não. “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor”(1Co 4:5).

Por isso pense bem antes de fazer piada com “Baleia Azul”, um nome que mostra sua verdadeira cara quando você o define como “Suicídio de Adolescentes”. Nem pense em rir, principalmente se você for um pai ou mãe e tiver filhos pequenos. Melhor do que rir de pais que passaram ou estão passando pela perspectiva de um trauma de suicídio infantil é chorar com eles e orar por eles. Porque nenhum pai ou mãe pode dizer com certeza que não passará pela mesma angústia.

Quem me conhece sabe que gosto de humor e até uso de muito humor em minhas palestras e textos. Mas tudo tem um limite e existe uma tentação à qual devo resistir que é a de fazer da desgraça alheia minha comédia. É preciso discernir o tempo e o motivo para riso, tanto quanto o tempo e o motivo para o pranto. E mais que ninguém, o cristão deveria ser alguém capaz de discernir isso.

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz” (Ec 3:1-8).

Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram” (Rm 12:15).

A frase que minha mãe costumava repetir ecoa até hoje em meu pensamento: “Meu filho, não fale mal dos filhos dos outros porque você não sabe como serão os seus” - Ruth Persona.


Devo preparar minha família para a perseguição?

Você viu um vídeo com a pregação de um pastor dizendo que os cristãos devem preparar a família para a perseguição que virá e para a grande tribulação. Mas será que o que ele diz é verdade ou só quer causar espécie? O cristão que está esperando pelo anticristo e pela grande tribulação não está esperando pelo Senhor. Perseguição sempre existiu desde os tempos de Paulo e ele era um perseguidor que passou a perseguido. Quando o Senhor lhe apareceu, disse: “Saulo, Saulo, por queme persegues?”(At 9:4). Paulo perseguia a Igreja, mas era o mesmo que perseguir o próprio Senhor. Então pode ficar sossegado que o Senhor sabe exatamente o que é ser perseguido e nunca perde de vista sua Igreja.

Quanto a treinar os filhos para serem perseguidos, o que exatamente você vai fazer? Colocá-los em aulas de artes marciais? Comprar uma arma para cada um? Mandá-los para a escola com colete à prova de balas? Construir um abrigo nuclear no quintal? Armazenar combustível e comida? Sério?! Isso não é preparar os filhos para a perseguição, isso é transformá-los numa milícia “cristã” (isso mesmo, entre aspas), como as que matavam e morriam na Irlanda, no Líbano e agora na Síria.

Não encontrei algum versículo do tipo “Preparai vossos filhos para serem perseguidos”, mas encontrei “Criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4) e “Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5:39). Um filho criado na admoestação do Senhor e conforme a Palavra de Deus saberá perguntar: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro…” (Rm 8:35-36).

O Senhor Jesus deixou uma exortação que devemos sempre ter em mente: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”(Jo 16:33). Ele não disse que devíamos nos espantar com as aflições, mas estarmos de bom ânimo desfrutando da paz que existe nele.

Não tenho nada contra um bom pregador que infunde terror nos incrédulos ao pregar o evangelho, pois é terrível mesmo alguém viver com a perspectiva da condenação eterna e não ligar para isso. “Assim que, sabendo o temor [terror] que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé”(2Co 5:11). A palavra “_temor”_aí não é no sentido de respeito, mas de terror mesmo (“phobos”), um pavor daquele que dá um nó no estômago, faz suar frio e molhar as calças, como quem está prestes a passar por uma sessão de tortura. E para o incrédulo será mesmo uma tortura eterna se não se converter a Cristo.

Mas quando um pregador usa de terrorismo psicológico para apavorar salvos por Cristo, a coisa muda de figura. Paulo admoestou os Gálatas contra “alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo”(Gl 1:7) por estarem dando ouvidos a um evangelho de regras e legalismo (e esse pastor que você citou me parece bem legalista, talvez até adepto da doutrina da salvação pelo senhorio). Os Tessalonicenses pareciam estar sendo inquietados por pregadores assim, que queriam fazê-los acreditar que passariam pela grande tribulação que virá sobre o mundo quando o anticristo já tiver sido manifestado. Ele lhes escreveu:

Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto” (2 Ts 2:1-2).

A parte que fala da “_vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e pela nossa reunião com ele”_é o arrebatamento descrito em 1 Tessalonicenses 4:13-18. A parte que fala “_como se o dia de Cristo estivesse já perto”_se refere a Cristo voltando à terra com sua Igreja (arrebatada sete anos antes) para julgar as nações, como ensina Mateus 25:31-46.

Ali não é o juízo final de pessoas, mas o juízo das nações quando Jesus voltará para seus “pequeninos irmãos”, os judeus que irão se converter após o arrebatamento e serão perseguidos, e ao mesmo tempo julgará com a morte os “bodes” que perseguiram esses seus irmãozinhos, e recompensará as “ovelhas” — os gentios que trataram bem os judeus — dando a elas a oportunidade de entrarem no reino de mil anos na terra juntamente com o Israel reunido, as doze tribos outra vez juntas.

A passagem de 2 Tessalonicenses 2, na qual Paulo alerta os irmãos contra pregadores que queriam tirar deles a tranquilidade, continua insinuando que homens assim são enganadores: “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?” (2 Ts 2:3-5).

A palavra “apostasia” significa o abandono da verdade, e é este o rumo que o testemunho cristão na terra tomou há algum tempo e que irá ter o seu ápice quando se manifestar como a “Grande Meretriz”,“Babilônia, a grande”, na revelação do Apocalipse. Se tem algo com que você deve se preocupar não é tanto o anticristo — que eu e você nem iremos conhecer aqui na terra — e sim a falsa igreja, que devia ser noiva e se tornou prostituta por seus conluios com o mundo, sua política, seu poder e seu comércio. Isso já é manifestado nos dias em que vivemos por meio do espírito do anticristo que já atua.

Quando Paulo fala do que detém a manifestação da pessoa do anticristo ele não está falando diretamente da Igreja, que não tem em si poder algum para fazer frente ao mal, mas sim do Espírito Santo que hoje habita na Igreja e no crente individualmente. Enquanto continuam aqui, os cristãos certamente exercem uma influência moral, não por meio de ativismo político ou por armas, mas por cheiro. Isso mesmo,“somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida”(2Co 2:16).

De igual modo os cristãos servem para preservar o comportamento do mundo, como o sal preserva a carne (“Vós sois o sal da terra”- Mt 5:13) e para que vejam seus pecados sob o holofote (“Vós sois a luz do mundo”- Mt 5:14). Mas entenda que _aroma, sal e luz_são coisas que não causam impacto por confronto direto, mas por influência nos sentidos. Porém são influências que exercemos por refletirem aquilo que é de Cristo, pois nenhum cristão tem em si mesmo poder algum que não venha do Espírito Santo atuando na nova vida. “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”(2Co 4:7).

Então quando Paulo fala do que detém a manifestação do anticristo, está certamente falando do Espírito Santo que habita no crente e na Igreja. Como essa simbiose Espírito- Igreja nunca mais deixará de existir, assim que o Espírito Santo for tirado da terra a Igreja também será, e vice-versa, deixando o caminho livre para o anticristo se manifestar. Só isso já deveria tranquilizar os cristãos e animá-los a olhar para o alto, e não para a terra com todo o terror que está reservado para os que ficarem aqui. Para os que ficarem, não para os que subirem.

Observe como o apóstolo Paulo dirige os olhares, mentes e corações para os céus em contraste com esses terroristas psicológicos que transforam o futuro do cristão em um verdadeiro “trem fantasma” de sustos e sobressaltos. Será que essa técnica tem a mesma intenção dos assaltantes, quando aterrorizam para suas vítimas assustadas estarem mais dispostas em entregar suas carteiras?

Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4:6-8).

Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl 3:1-4).

A continuação da passagem de 2 Tessalonicenses fala do que virá para a terra DEPOIS do arrebatamento da Igreja; depois que o Espírito Santo que hoje resiste ao anticristo for tirado daqui.

… e então será revelado o iníquo [anticristo], a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira [como os dos pregadores da TV], e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro [ou poder sedutor ou operação de engano], para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2Ts 1:8-12).

Quando a Palavra diz que Deus enviará essa operação do erro para que creiam na mentira os que não deram ouvidos à verdade, está falando dos que se recusaram a crer em Cristo e no evangelho que escutaram no atual tempo da graça. Grande parte do mundo islâmico, budista, hinduísta, etc., não terão tido essa chance de ouvir, portanto para esses haverá ainda a possibilidade de se converterem ao evangelho do Reino que será anunciado pelos “pequeninos irmãos” do Senhor, o pequeno remanescente de judeus convertidos. Mas a mesma sorte estará vedada aos cristãos nominais que só diziam crer da boca para fora. Estes irão obrigatoriamente crer na mentira porque Deus fará que creiam assim.

Agora veja como o apóstolo Paulo conclui seu pensamento e tente achar alguma gota de terrorismo psicológico nestas palavras e não conseguirá:

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra”(2Ts 2:13-17).

Portanto, a ordem dos eventos é: Cristo vem buscar sua Igreja no arrebatamento, que nada tem a ver com o “_dia de Cristo”_quando ele virá para julgar as nações. Com a saída da Igreja e do Espírito Santo da terra, o mal fica livre para agir e o anticristo é manifestado, vindo depois a grande tribulação, da qual os verdadeiros salvos não sentirão sequer o cheiro. O Senhor mesmo prometeu: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”(Ap 3:10).

Quer mesmo treinar seus filhos do modo como a Bíblia ensina? Então dirija seus olhares para Cristo e eles saberão como se comportar quando passarem por qualquer dificuldade e provas aqui. A impressão que dá nessas pregações aterradoras é que o pregador está querendo ensinar o cristão a salvar a própria vida e de sua família. Mas será isso que devemos temer? “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma”(Mt 10:28), disse Jesus.

Atos 11 nos fala da perseguição que se abateu sobre os primeiros cristãos e eles efetivamente fugiram dos perseguidores, mas em sua fuga eles levaram o evangelho por onde quer que passaram. “A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”(At 11:21). Barnabé corre lá para ajudar tanto os novos convertidos como os que lhes pregaram o evangelho, e o que lhes diz em face da perseguição que crescia? Aprendam artes marciais, comprem armas, estoquem alimentos?

Não, “tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor”(At 11:23). A segurança do crente não está em técnicas de preparo ou enfrentamento da perseguição; sua segurança está em permanecer firme no Senhor. Em 2 Crônicas 12:14 a crítica feita a Roboão não foi apenas por ele fazer “o que era mau”, pois isto era consequência de outra coisa: “Não preparou o seu coração para buscar ao Senhor”. Quanto àqueles que pregavam o evangelho em meio à perseguição, viram seu fruto porque estavam mais preocupados com a glória do Senhor e seu testemunho, do que em salvarem a própria pele: “E muita gente se uniu ao Senhor”(At 11:24).

Podemos nos preparar e à nossa família para muitas coisas, mas de nada valerá se não estivermos preparados para buscar o Senhor em qualquer situação. E as perseguições?

Bem, elas estavam previstas, não estavam? O Senhor não disse que seríamos odiados como ele foi e perseguidos como ele foi? “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo”(Lc 14:26-27). Levar a cruz não tem nada a ver com peregrinação com uma cruz nas costas, mas tomar sobre si o sinal de morte.

Fique agora com as palavras de Pedro que demonstram que não há nenhuma novidade nisso, e sim motivo de alegria. Pedro faz também distinção entre o sofrimento que passamos segundo a vontade de Deus e aquele que vem por desobediência. Prepare seus filhos para viverem segundo a vontade de Deus e acatarem qualquer prova que vier de Deus e eles serão cristãos tranquilos vivendo neste mundo sem sobressaltos, não esperando pela vinda do anticristo, mas pelo encontro com Cristo nos ares.

Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte. Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador? Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem.” (1Pe 4:12-19).


É pecado pedir prosperidade a Deus?

Não existe nada na Bíblia que indique que um cristão deva pedir prosperidade a Deus. A maioria das pessoas não entende isso por falharem em seguir o conselho de Paulo a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”(2Tm 2:15). No original a expressão traduzida como “_maneja bem”_é “orthotomeo”, palavra grega que significa cortar com precisão, como quando alguém disseca um cadáver e separa cada órgão segundo a função.

As promessas de prosperidade no Antigo Testamento foram feitas a Israel, um povo terreno de Deus ao qual nunca foi prometido o céu. Para o cristão, todas as promessas são celestiais, assim como sua cidadania que é celestial. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”(Fp 3:20 ARA). Pedir prosperidade a Deus quando você tem o necessário para viver é mostrar um coração ingrato pelo que já recebeu de Deus.

Não é errado um cristão ser próspero, pois Deus pode lhe dar mais do que necessita para poder repartir com os menos favorecidos e ajudar na obra do evangelho. Mas é Deus quem decide isso, pois sabe quais são os que irão agir de maneira liberal, e os que querem ficar ricos pelo simples amor ao dinheiro e propriedades.

As passagens a seguir nunca são pregadas nas igrejas da teologia da prosperidade pois condenam pregadores de prosperidade e seus seguidores, que estão ali só para buscar bens materiais. A oração ensinada pelo Senhor em Lucas 11:3 — “Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano” — é pelo pão de cada dia, não por uma padaria ou um caminhão de pães. Tiago 4:3 mostra que o desapontamento por orações não respondidas pode ser da falta de comunhão e consonância com a vontade de Deus: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites”.

A teologia da prosperidade, e os estelionatários que a pregam para obter fortunas, pode muito bem ser definida pelas palavras do apóstolo Paulo em 1 Timóteo 6:3-11: Trata-se de uma “_outra doutrina”_que não se conforma com “a doutrina que é segundo a piedade”. Quem a prega (e quem dá ouvidos) “_é soberbo… cuidando que a piedade seja causa de ganho (ou lucro)”_e a admoestação é para que se fique longe desses que agem assim.

A passagem continua falando daquilo que é lucro aos olhos de Deus: “Piedade com contentamento”, pois se tivermos “sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isto contentes”, vindo em seguida um alerta para os que querem ficar ricos: irão cair “em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”. Você deseja todas essas maldições para você? Certamente que não. Então fique longe da teologia da prosperidade e seus pregadores mercenários.

Porque muitos há” — escreve o apóstolo Paulo aos Filipenses — “dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18-19).

A Palavra de Deus não diz que o dinheiro seja a raiz de todos os males, mas que “_o amor ao dinheiro”_é. O desejo de enriquecer fez com que “nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. Como eu disse, Deus pode fazer um cristão próspero para honrar a Deus com seus bens, e não para si mesmo. Mas quando alguém tem por meta ficar rico certamente isso não terá nada a ver com honrar a Deus, mas a Mamom. Jesus ensinou: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”(Mt 6:24).

Vou ler a passagem toda de Filipenses, da qual citei apenas alguns trechos:

Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão” (1Tm 6:3-11).


As reuniões devem ser públicas ou reservadas?

Você perguntou se quando os irmãos estão reunidos em assembleia ou igreja (que é sinônimo), essas reuniões podem ser em salões abertos para a rua ou devem ser reservadas. Encontramos alguns princípios na Bíblia que podem nos dar uma direção, começando com os evangelhos, que são anteriores a formação da Igreja na terra.

O Senhor Jesus, quando ainda estava aqui, pediu aos seus discípulos que preparassem a Páscoa, que era uma festa do judaísmo que comemorava a libertação dos israelitas da escravidão do Egito. Mas a intenção do Senhor não estava em apenas celebrar a Páscoa, mas também instituir a ceia que seria depois revelada ao apóstolo Paulo como o ponto alto da celebração cristã. Em 1 Coríntios 11 o apóstolo conta como havia recebido do próprio Senhor, e não de algum outro apóstolo, essa instituição.

Mas voltando aos evangelhos, quando o Senhor pediu aos discípulos para prepararem a Páscoa, eles fizeram a pergunta que todo cristão deveria fazer quando pensa em congregar, e vale a pena transcrever a passagem toda aqui:

E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar. E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos. E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos” (Lc 22:8-14).

O Senhor deu instruções para que eles preparassem tudo em um cenáculo, que era o andar superior de uma casa. Não era para fazer aquilo ao nível da rua, mas em um lugar mais reservado porque não seria um evento aberto a todos, mas apenas a alguns poucos convidados. Vemos a mesma coisa acontecer em Atos 1:13, quando os discípulos se reuniram, não ainda como igreja, mas como discípulos judeus do Messias:

E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1:13-14). Na versão Almeida Revista e Atualizada está assim: “Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, etc.”.

Todos estavam reunidos nesse mesmo cenáculo quando foi formada a Igreja com a descida do Espírito Santo que passaria a habitar em cada crente: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados” (At 2:1-2).

Algum tempo depois já como igreja, nós os vemos também congregados no primeiro dia da semana, o domingo, para celebrar a ceia do Senhor em um cenáculo, ou seja, num andar superior de uma casa. “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite. E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos” (At 20:7-8).

Não existe nenhuma ordenança no sentido de termos de congregar em um andar superior, mas estes exemplos bastam para a mente espiritual perceber que Deus pede algum grau de separação com o rés do chão. As reuniões da igreja são para a igreja, não para estranhos, portanto não devemos escolher um local que possa parecer uma vitrine para o mundo. Evidentemente incrédulos podem ter acesso ao local de reuniões dos irmãos, mas não um acesso escancarado de forma convidativa para todos participarem.

As reuniões da igreja são para os salvos, não para os perdidos, mesmo porque as atividades principais dessas reuniões são o ministério da Palavra para crentes, a ceia do Senhor e as orações. Ao menos era assim que os primeiros cristãos se reuniam. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”(At 2:42). Nem preciso dizer que não se trata de uma reunião evangelística destinada a convidar pecadores para crerem em Cristo, embora algum incrédulo que entre ali poderá eventualmente ouvir o evangelho em meio ao ministério da Palavra para crentes.

Volto a insistir que, como irmãos salvos por Cristo, não estamos reunidos para o mundo, mas para o nome de Jesus. Não há nada de errado se os irmãos se reunirem a portas fechadas em locais onde exista o risco de entrar estranhos que causem distúrbios ou tirem a atenção daqueles que estão ali para o Senhor, não para o mundo e nem para os incrédulos.

Hoje existe tecnologia que permite manter portas fechadas e ter câmeras que permitam abri-las apenas a conhecidos, e quem congrega em locais com risco de assaltos ou em zonas de guerra sabe como algo assim pode ser útil. Os irmãos que congregam em casas no Egito costumam combinar a chegada separados e um de cada vez para não levantar suspeitas de radicais islâmicos. Lá até os templos de denominações cristãs (apenas as antigas, porque as novas são proibidas de se estabelecer) costumam ter guardas armados na porta.

Nada disso que estou dizendo aqui tem a ver com evangelismo, pois suponho que você saiba a diferença entre congregar e pregar o evangelho. A pregação do evangelho é uma atividade de responsabilidade de quem evangeliza, não da igreja. A pregação do evangelho deve ser pública, mas as atividades da igreja são destinadas a crentes somente. Onde congrego usamos um salão e visitantes podem entrar e assistir as reuniões. Mas depois da ceia do Senhor, quando temos assuntos sensíveis a tratar, como algum caso de disciplina ou excomunhão, pedimos que os visitantes saiam e fiquem somente os irmãos em comunhão.


Não posso me agarrar à promessa deste versículo?

Você me ouviu dizer que o versículo de Isaías 54:17 — “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará” — teria sido dito a Israel e não aos cristãos, e ficou surpreso com isso. Sua ideia era que poderia se agarrar a isso como uma promessa vinda diretamente de Deus para sua vida aqui, e perguntou se apenas as promessas do Novo Testamento seriam válidas para nós cristãos.

Bem, a Bíblia toda é sempre válida para nós, porém precisamos saber separar as coisas e entender quando algo é dito, para quem, com que finalidade, etc. Vou dar um exemplo. Digamos que eu não goste de meu vizinho e decida aplicar nele uma passagem da Palavra de Deus que encontro em Êxodo 32:27. Ali diz assim: “E disse-lhes: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho”.

Obviamente não posso usar esta passagem e nem conseguirei explicar para a polícia que estava agindo estritamente dentro do que a Bíblia ordena. O contexto em que tal ordem foi dada é outro. Então é sempre bom ler o contexto para saber qual a aplicação direta de uma passagem. Podemos orar a Deus para que “toda ferramenta preparada” contra nós não surta efeito, mas se acharmos que Deus sempre vai agir assim conosco acabaremos nos decepcionando na primeira vez em que não funcionar.

Veja o caso de Paulo, por exemplo, que orou por algo e Deus não lhe atendeu. O apóstolo não teve alternativa a não ser se resignar sabendo que a vontade de Deus para si era a melhor: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12:7-9).

Em outra ocasião ele pretendia pregar o evangelho em uma determinada região e o Espírito Santo não permitiu. Veja a passagem:

E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu. E, tendo passado por Mísia, desceram a Trôade. E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At 16:6-10).

Se Paulo estivesse agindo de forma carnal e seguindo a lógica dos pensamentos, iria indagar: “Mas como pode ser do Espírito não querer que eu anuncie a Palavra na Ásia e na Bitínia?!” Portanto entenda que temos a Palavra de Deus e devemos sempre estar sujeitos a ela, porém permitindo que ela seja aplicada pelo Espírito e segundo o discernimento que ele dá. Só existe uma interpretação para a Bíblia, embora existam muitas aplicações. Um coração sujeito a Deus conhecerá quando obedecê-la em sua expressão exata, e quando buscar em ensinos feitos em outras circunstâncias os princípios que possam eventualmente ser aplicados em sua situação.

Paulo não teria conhecido a obra que Deus estava preparando para ele se não estivesse em sintonia com o pensamento do Espírito Santo de Deus. Em Filipos, Lídia seria salva, e provavelmente outros membros de sua família e servos, uma jovem possessa seria liberta de um demônio e da exploração de seus senhores, e um carcereiro e sua família creriam e seriam batizados. Atente também para o fato de que isso tudo aconteceu em Filipos, e você ficará grato por Paulo ter seguido a direção do Espírito. Graças a isso hoje podemos desfrutar da carta à igreja dos Filipenses, a primeira assembleia em terras europeias.


Qual versão da Bíblia você usa em suas mensagens?

Nas respostas para dúvidas sobre a Bíblia, que dou no “O que respondi”, uso a Versão Almeida Corrigida Fiel (ACF), que é muito parecida com a Almeida Revista e Corrigida (ARC), e eventualmente uso a Almeida Revista e Atualizada (ARA). Mas no “Evangelho em 3 Minutos” utilizo principalmente a Nova Versão Internacional (NVI), mas às vezes preciso criar uma versão híbrida com a Almeida Revista e Corrigida (ARC) e a Almeida Atualizada (ARA).

Faço isso porque “O que respondi” é mais voltado para quem já conhece a Bíblia e a fé em Jesus, enquanto “O Evangelho em 3 Minutos” é mais evangelístico, narrado para pessoas que ainda não têm familiaridade com o texto bíblico. A linguagem mais rebuscada e os pronomes e conjugações menos usuais — como “vós sois” — das versões ACF, ARC e ARA podem dificultar o entendimento de um neófito. Mas sempre comparo a passagem da NVI com a ACF, ARC ou ARA e altero se precisar, porque a NVI não é confiável em alguns aspectos.

Por exemplo, há passagens em que os tradutores não se contentaram em traduzir e decidiram “explicar” o texto. Considerando que na equipe de tradução nem sempre todos são verdadeiramente convertidos a Cristo, é grande o risco de se cometer erros graves. Digo que nem sempre são convertidos porque trabalham nelas tradutores contratados. Ao contrário do que acontecia no passado, quando ser um cristão fiel a Deus fazia parte do critério na escolha de tradutores (procure saber a história da Bíblia King James), hoje o enfoque de algumas sociedades bíblicas está mais na capacidade técnica do profissional.

Isso só tende a piorar, porque com a onda do politicamente correto algum ateu que fosse exímio conhecedor de línguas antigas poderia se achar discriminado caso a sociedade bíblica rejeitasse seus serviços por critério de confissão religiosa.

No site de uma organização mundial que traduz a Bíblia para diversos idiomas você encontra oportunidades para tradutores, porém a única qualificação exigida é que sejam formados e de preferência com alguma experiência em diferentes culturas. Nada é dito sobre ser um crente em Jesus para evitar protestos de discriminação. Afinal, segundo o ponto de vista humano, por que um bom tradutor ateu, budista ou muçulmano não poderia traduzir a Bíblia? Quem trabalha com tradução de textos cristãos saberá responder.

Apenas para você ter uma ideia da falta de critérios à qual estou me referindo, veja duas afirmações feitas por membros da equipe de tradutores da Nova Versão Internacional inglesa, a NIV: “Não existe nada no Antigo Testamento que corresponda ao homossexualismo como nós hoje o entendemos” - Dr. Marten Woudstra, Chairman do Comitê de Antigo Testamento da NIV. “Minha homossexualidade sempre fez parte integrante de mim” - Dr. Virginia Mollenkott, Crítica Literária da equipe de tradutores da NIV.

Veja um exemplo de distorção de um texto (existem muitos outros) na tradução comparando o que diz a ACF com a NVI. A versão Almeida Corrigida Fiel (ACF) diz:

Ora, o homem naturalnão compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritualdiscerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo. E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como acarnais, como a meninos em Cristo” (1 Co 2:14-16; 3:1).

O texto fala claramente de três classes de pessoas: o homem natural, chamado às vezes de “carne”, “velha natureza” ou “velho homem”, descendente de Adão, o homem espiritual, que nasceu de novo, creu em Jesus e foi selado com o Espírito Santo, e o homem carnal, que é o salvo que age na energia do velho homem ou carne.

Muitos tradutores e até mesmo teólogos católicos e protestantes não entendem isso porque não entendem as duas naturezas existentes no crente em Cristo. Para eles, após a conversão precisamos melhorar aquilo que sempre fomos, ou seja, o homem descendente de Adão. Isso seria maquiar um morto, porque Efésios 2 ensina claramente que essa era a condição do crente quando ainda era incrédulo. E as cartas aos Romanos e Gálatas explicam como nosso velho homem foi morto na cruz em Cristo, colocando Deus ali um fim à raça adâmica.

Na versão NVI a passagem de 1 Coríntios 2:14-16 e 3:1 é praticamente a mesma, exceto por uma importante corrupção do versículo 14, que aparece assim: “ Quem não tem o Espírito_não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente”._O tradutor substituiu “_homem natural”_por “quem não tem o Espírito”, provavelmente por não entender que o homem natural já é, por natureza, desprovido do Espírito de Deus, enquanto o salvo por Cristo tem o Espírito da promessa com o qual foi selado quando creu.

Dizer que “_quem não tem o Espírito de Deus não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus”_acaba implicando que os CARNAIS de 1Co 3:1 não teriam o Espírito Santo, o que não é correto. Uma pessoa salva por Cristo, que possui o Espírito de Deus, ainda assim pode não aceitar “_as coisas que vêm do Espírito de Deus”_e achar que são loucura. Sempre que você encontrar um irmão em Cristo e mostrar a ele uma passagem clara da doutrina dos apóstolos e ele argumentar contra, provavelmente é alguém que tem o Espírito Santo, porém está se valendo de um entendimento carnal fundamentado em religião, filosofia, arqueologia, sociologia, costumes, etc., coisas estas criadas pelo homem natural e para o homem natural.

Portanto, uso no “Evangelho em 3 Minutos” a NVI apenas por sua linguagem ser mais moderna e casual, porém sempre altero o texto quando percebo que foge ao padrão de versões tradicionais e mais confiáveis como a Almeida, King James, Darby, etc.


Não devo pregar mudança de vida ao incrédulo?

O evangelho é muito simples e não se trata de mensagem de mudança de vida. Paulo deixa muito claro o que é o evangelho nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15:1-4: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.

Talvez sua preocupação esteja no fato de não estar descansando no poder de Deus, que é o que irá fazer a pessoa realmente se converter. Você não tem poder para fazer com que ela mude de vida, e esqueça achar que porque uma pessoa parou de fumar, beber, dançar, tomar drogas e outras coisas ela é convertida. Me vem à mente uma frase de um comediante: “Não tente ensinar um porco a cantar. Você vai perder seu tempo e aborrecer o porco”. Portanto não queira fazer um incrédulo viver como crente.

A mudança de vida será consequência de uma conversão real, mas ela deve ir a Cristo do jeito que está, e não caiada com a maquiagem da religião farisaica. O Espírito Santo é que a convencerá de pecado, ainda em sua condição natural, incutirá nela vida para sentir esse fardo (é quando acontece o novo nascimento), e a levará a crer em Jesus para ser então selada com o Espírito Santo.

Pense na pregação do evangelho como um trabalho feito a dois, você e o Espírito Santo. Primeiro você vai até o pecador e lhe apresenta a Cristo, dizendo que ele morreu para pagar os pecados de seu ouvinte e ressuscitou para sua justificação. Pronto! Você já fez um ótimo trabalho que Deus não deu a anjos executar, mas a seres humanos. Aí é hora de você sair da frente e deixar o Espírito Santo fazer a obra. A pessoa que prega o evangelho é como o mestre de cerimônia de um evento. Não é ele a atração principal, ele apenas apresenta aquele que é a estrela do evento.

Sua missão não é pregar abstinência de pecado, como na indagação de Romanos 6:1-2: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”. Repare que Paulo estava escrevendo a crentes, não a incrédulos. A carta aos Romanos é o evangelho explicado, não é o evangelho pregado. Depois de salvos recorremos a essa carta para entender o que aconteceu conosco. É como se tivéssemos dado uma pirueta em nossa conversão e, depois de termos caído em pé, olhamos em redor para tentar entender o que aconteceu. Para isso serve a carta aos Romanos.


O evangelho pode ser pregado de qualquer maneira?

Sua dúvida é, se Paulo se regozijava de ver o evangelho ser pregado de qualquer maneira, por que nos preocuparmos com os pregadores da prosperidade da TV e seu evangelho distorcido? O assunto que Paulo estava tratando não era pregar o evangelho de qualquer jeito, no sentido de que podiam pregar mentiras como sendo o evangelho, mas de alguns que pregavam por motivos ruins, como inveja e porfia, e fazia isso para trazer problemas para Paulo. Vamos à passagem:

De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda” (Fp 1:13-18).

O que ele diz é que não se importava, desde que o evangelho fosse pregado. O evangelho deles estava certo, pois pregavam “a Cristo”, seus motivos porém é que estavam errados. Mas quando um falso evangelho era pregado, Paulo pegava pesado, como no caso dos Gálatas que estavam sendo influenciados por pregadores judaizantes, que seriam o equivalente aos legalistas de hoje, como sabatistas e outros. Aliás a carta aos Gálatas serve como uma luva para aqueles cristãos que pregam a Lei ao invés da Graça e obrigam as pessoas a andarem segundo uma lista de regras. Se este fosse o caso em Filipo, Paulo não se regozijaria, mas amaldiçoaria. Veja a diferença da linguagem em Gálatas:

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:6-12).

Na carta aos Gálatas Paulo chama os que obrigavam os cristãos a viverem na Lei mosaica de “…falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós… Oh insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 2:4-5; 3:1-3).

A Timóteo, Paulo aconselhou repreender aqueles que estavam pregando fábulas: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4:2-4).

Resumindo, a passagem de sua dúvida mostra que se Paulo se regozijava com os que pregavam a Cristo por inveja, é porque sabia que eles não pregavam algo diferente do evangelho da graça de Deus. Mas tanto os que inquietavam os Gálatas, quanto os que são citados em Filipenses, podem ser enquadrados na categoria de hipócritas: os legalistas por pregarem uma Lei que nem eles são capazes de cumprir, e os outros por pregarem a Cristo não sinceramente, mas por inveja e porfia.


Se Satanás sabia quem era Jesus para que tentá-lo no deserto?

Nos capítulos 1 e 2 do livro de Jó vemos Satanás comparecendo no céu na presença de Deus. Com tal acesso ele certamente sabia quem era o Filho de Deus, e daí surge sua dúvida: por que razão o diabo iria querer tentar Jesus no deserto, se não apenas ele, mas até os demônios sabiam quem ele era?

Que Satanás sabia, não há dúvida, e que os demônios também sabiam nós podemos ver de passagens como esta: “E os espíritos imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus”(Mc 3:11). É importante sempre lembrar que não foi o diabo quem conduziu Jesus ao deserto para ser tentado. A iniciativa partiu do Espírito Santo, como vemos aqui: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”(Mt 4:1). O diabo ali foi apenas um instrumento que ajudou a comprovar a impecabilidade do Filho de Deus.

Aquela não foi uma tentação no sentido que conhecemos, pois em nós existe a resposta à tentação externa. Tiago explica bem esse processo que ocorre em nós como resposta a uma tentação externa ou tendo sua origem totalmente dentro de nós mesmos: “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1:13- 15).

A tentação à qual Jesus foi submetido foi mais um teste ou prova, como fazemos quando colocamos o ouro ou a prata no fogo ou sob a ação de um ácido para comprovar sua pureza. Apesar de isso dar uma ideia do que ocorreu no deserto, sabemos que todo exemplo falha, pois ao contrário do ouro e da prata nos quais o teste pode revelar alguma mistura ou sujidade, Jesus entrou e saiu da tentação do mesmo jeito, sem nenhum subproduto de pecado em si.

O diabo obviamente sabia quem ele era, mas, como se diz, não custava tentar. Afinal, ele tinha diante de si, não o Filho de Deus tal como o conhecia nas regiões celestiais, mas Jesus na forma humana e de servo, com todas as fragilidades que seu corpo humano lhe dava. De qualquer modo, a prova que o Espírito Santo queria mostrar ao levá-lo ao deserto para ser tentado não era só para o diabo, mas principalmente para os milhões de seres humanos que desde então podem ter a certeza da natureza santa e impecável de Jesus.

Quando um novo embaixador é designado para um país ele precisa apresentar suas credenciais para comprovar que ele é quem diz ser. Portanto pode ter plena certeza de que Jesus, o Filho de Deus, é Deus e Homem; um que não tem pecado, nunca pecou e é incapaz de pecar.


Você é de direita?

Você perguntou se sou de “direita”, pois apesar de eu insistir que sou apolítico, você achou que minhas opiniões mostram que eu seria de direita. Também tentou me definir como “neoliberal” e vou dizer a verdade: nunca nem procurei saber o que é um neoliberal ou o que pensa. Alguns já disseram que sou parecido com o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas acaso não era ele um simpatizante do socialismo que se refugiou na França durante a ditadura militar no Brasil?

Só porque alguns se intitulam de direita, outros de esquerda, outros neoliberais e outros ‘corinthianos’, por que eu precisaria ter algum crachá no peito? Não tenho. Sou cristão, esta é a única etiqueta que aceito para me definir. Obviamente você perguntou isso por ser simpatizante do comunismo, e uma das táticas das ideologias de esquerda, também largamente usada por outros regimes ditatoriais, é tachar de inimigo quem não for amigo. Então se alguém não concorda com uma doutrina marxista-leninista-trotskista-gramscista-maoista ele só pode ser um fascista capitalista imperialista — se não apoia a esquerda só pode apoiar a direita.

É simples entender esse raciocínio porque nenhum regime ou sistema ditatorial opressor poderia respeitar ou levar em consideração quem se opõe a ele. Uma característica de uma ideologia opressora é não deixar espaço para o livre pensar, porque não admite a liberdade de expressão, a livre iniciativa, a livre propriedade e a liberdade de ir e vir. Basta ver que as manifestações no Brasil, quando patrocinadas por sindicatos e partidos de esquerda, bloqueiam a liberdade constitucional de ir e vir. O pensamento comunista é o de que você só pode viajar se for autorizado pelo partido, e nem pense em pensar fora da caixa porque isso irá fazer de você inimigo do partido.

Se quiser saber o que é viver em um país comunista, pergunte a quem viveu em um e não fazia parte da elite do estado, e na Europa é possível encontrar muita gente como aquele cidadão que, com a queda do muro de Berlim, foi levado a passear na Berlim ocidental por um jornalista. Ao final do passeio o jornalista perguntou: “Então, que diferença viu entre as duas Berlins nestes quase quarenta anos de regime comunista?” A resposta do outro foi: “Quarenta anos”.

Para um cristão é simplesmente absurda a ideia de apoiar o comunismo, pois o ateísmo é parte integrante de seu alicerce, ainda que possa estar camuflado nas adaptações terceiro-mundistas da doutrina. Você se surpreende quando conhece alguém que, quando criança, foi doutrinado nas escolas dos países da Cortina de Ferro. A pessoa não tem qualquer noção de Deus e nem quer ter. Sua mente foi cauterizada por anos de doutrinação ateísta.

Evidentemente, a doutrinação materialista, muito mais sutil, também deixa marcas. Cristianismo na Europa é hoje artigo raro, geralmente consumido por velhas e imigrantes de países do terceiro mundo. Ali você encontra até mesmo capelas medievais, cuja manutenção custava caro para suas denominações, transformadas em casas de shows por quem as comprou ou arrendou. As denominações cristãs europeias foram esvaziadas pelo ceticismo e incredulidade reinante na sociedade mais “evoluída” do planeta. Em uma entrevista na TV sueca um bispo da igreja oficial daquele pais se declarou ateu.

Na Europa sobraram também pouquíssimos irmãos congregados somente ao nome do Senhor. Numa conferência que participei promovida pelos irmãos europeus na Bélgica, com menos de uma centena de pessoas presentes, eu conversava com um irmão da Romênia. Ciente das notícias do Brasil que chegavam na Romênia e do debate sobre o impeachment da presidente Dilma Roussef na época, esse irmão disse uma frase que nunca esqueci: “Os brasileiros não sabem o que é viver em um regime socialista”. Ele sabia o que era ser cristão vivendo num regime fundamentado no ateísmo. No Brasil, essa ideologia chegou maquiada e tropicalizada, mas qualquer pessoa inteligente sabe que ela está lá, na base dos partidos que a propõem.

Alguém poderá argumentar que os sistemas de direita também oprimem os pobres e coisa e tal, mas enquanto países democráticos podem ser historicamente acusados e culpados de espoliar e massacrar povos estrangeiros com seu colonialismo perverso, os países comunistas fizeram isso com seus próprios cidadãos. Espoliaram, massacraram e criaram campos de prisioneiros, como os da Sibéria, para onde eram enviados “criminosos” considerados como tais apenas por discordarem do regime.

Será que você nunca ouviu falar das pessoas que na antiga União Soviética copiavam a Bíblia à mão por não terem acesso a uma impressa? Assim como era feito na China até recentemente (hoje o país que mais imprime Bíblias em todo o mundo, porque dá dinheiro), Bíblias eram proibidas ou apenas uma parcela era distribuída em igrejas de fachada para constarem das estatísticas oficiais. Certamente você nunca teve acesso a informações do que acontecia em Cuba com cristãos por causa de sua fé.

Não se trata de uma questão de ser de direita ou de esquerda, mas de bom senso. O que o partido de esquerda fez no Brasil em um passado recente foi espoliar estatais e o país com a desculpa de distribuir riqueza. O que não contaram foi que a riqueza seria distribuída principalmente entre os membros do partido e com os que os apoiassem, que hoje são milionários e presidiários.

Um socialista mais exaltado dirá: “Ahá! Eu não disse que ele é de direita?!”. É claro que irá dizer, pois foi treinado a pensar em preto e branco e não saberá considerar todo o espectro do pensamento humano. Não se preocupe, não sou de direita nem de esquerda, mas conheço um pouquinho da natureza humana para saber que somos extremamente egoístas por natureza e que nenhuma ideologia de distribuição compulsória de riquezas ou de propriedade comum acaba sendo contaminada pela mesquinhez humana. O comunismo seria o melhor regime… se o homem não fosse pecador.

É uma ilusão achar que algum sistema de governo irá resolver o problema da pobreza, porque não vai. O próprio Senhor Jesus disse aos seus discípulos “os pobres sempre os tendes convosco”(Jo 12:8), não porque isso é bom, mas porque é assim que funciona o mundo que foi entregue pelos homens de mão beijada para seu príncipe usurpador, Satanás.

Sempre que existir alguma iniciativa de distribuição compulsória de riquezas, alguém terá de trabalhar para sustentar os que não trabalham. Mas não pense que eu não acredite que isso vá acabar acontecendo. Acredito que é a tendência, porque muitos governos, independente de ideologia, estudam formas de solucionar os problemas da pobreza distribuindo riqueza. O nome disso em inglês é “Basic Income” ou“Renda Mínima” (pesquise para saber mais), algo como um salário mínimo, mas que nada tem a ver com doutrina comunista.

O raciocínio é este: o crescimento da substituição do trabalho humano por tecnologia atingirá um momento em que o mundo não poderá mais oferecer emprego para todos, e os que têm alguma coisa não querem que tudo acabe em anarquia destrutiva (leia-se recalcados sociais que quebram aquilo que não conseguiram ter, mas gostariam de possuir). Com a população aumentando e a tecnologia de informática e robótica se alastrando pelos meios produtivos, hoje já não funcionaria ter um carro de som no portão da fábrica e um sindicalista gritando para fazer os operários pararem de trabalhar. Seria preciso _hackear_o sistema para interferir na programação dos robôs que substituíram em grande parte os operários nas linhas de produção. Olhe por cima dos ombros do presente e você verá tudo automatizado num futuro próximo.

A previsão é que muito em breve a maior parcela da população mundial não terá o que fazer, e para que os cidadãos não façam bobagem a solução seria pagar para ficarem em casa vendo HDTV. O Brasil tem algo parecido com o nome de bolsa isso e bolsa aquilo, mas a ideia do “Basic Income” não é essa. Seria, se no Brasil todos tivessem direito a uma bolsa, não apenas os desempregados ou menos favorecidos. Porém, volto a repetir que o cristão que conhece o egoísmo humano sabe que o pecado fez do homem um eterno insatisfeito. Ele sempre irá querer mais.

Quando alguém tenta embasar na Bíblia ideologias socialistas, demonstra não conhecer o que ela ensina. Os cristãos realmente são exortados, mas não obrigados, a dividir o que têm com quem não tem. Mas isso é feito espontaneamente, não por decreto, coerção ou de qualquer outra forma compulsória. Na Bíblia a propriedade privada é reconhecida e honrada, ninguém é obrigado a dar nada a ninguém.

Quando Ananias e Safira quiseram se passar por caridosos por terem vendido uma propriedade e dado parte do dinheiro para ser distribuído entre os irmãos, mentiram ao Espírito Santo ao dizerem que tinham dado tudo. Pedro deixou bem claro que eles não tinham obrigação de entregar o que quer que fosse, e se estavam sendo castigados não era por não terem dado tudo, mas por terem mentido ao Espírito.“Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus”(At 5:4).

Aquele início do cristianismo teve um poder tal que estimulava nos corações dos cristãos o desapego, mas mesmo ali o egoísmo veio à tona. Mais tarde ficou muito evidente que mesmo os cristãos não poderiam viver tendo tudo em comum, como tentaram no começo. No capítulo 6 de Atos você já encontra queixas de desigualdade, pois alguns estavam sendo privilegiados na distribuição de alimentos em detrimento de outros. Logo terminaria aquela breve sociedade comunal, que não tinha sido ordenada por Deus, mas surgiu naturalmente como consequência da alegria do primeiro amor.

Mais tarde, ao escrever aos coríntios, o apóstolo Paulo mostraria que a caridade era uma virtude cristã, mas devia resultar de uma decisão própria e sem constrangimento: “Cada um contribuasegundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”(2Co 9:7). Não era para ser por coerção ou compulsoriamente determinada por lei ou governo, mas como fruto de um amor espontâneo brotado no coração daqueles que entendiam o quanto haviam recebido de Deus. Mesmo porque, nas coisas de Deus o que é feito sem amor não tem qualquer validade. “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”(1Co 13:3).

Mas não se engane pensando que o que eu disse aqui seja uma ode à democracia ou ideologias de direita. E se eu lhe disser que não acredito na democracia? Democracia é o regime em que o povo governa por representantes, e você não vê isso na Bíblia. Deus nunca teve a intenção que o povo governasse. Israel era no princípio uma teocracia, em que as determinações de Deus eram comunicadas por seus profetas. Isso foi até decidirem que queriam ser como as outras nações que tinham um rei. Deus lhes deu um rei, Saul, que era segundo o coração do povo, mas não sem antes avisar o que aconteceria com eles:

Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações… E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1 Sm 8:4-7). Continue lendo o capítulo 8 de 1 Samuel para ver as consequências daquela decisão do povo.

Depois de serem decepcionados pelo rei que lhes foi dado segundo o coração e vista dos homens — um Saul alto e forte — Deus lhes deu outro rei, menos agradável à vista, mas que seria figura do Rei que irá reinar sobre Israel no final. Disso podemos deduzir que a monarquia seria o único regime que teria o aval de Deus, não só para Israel, mas para as nações gentias. Deus demonstrou isso ao eleger Nabucodonosor “rei de reis”(Dn 2:37), uma figura do que Cristo será no Milênio. Se quiser saber mais sobre como Deus enxerga a democracia, repare nos pés da estátua de Daniel 7, onde o ferro do poder se mistura ao barro da humanidade e não dá liga. Esta seria a última forma de governo popularizada no mundo antes de Cristo vir reinar.

Quanto ao cristão envolver-se em política, seja de direita, de centro ou de esquerda, gosto de recordar o convite feito por Sambalate e Gesem a Neemias. À primeira vista eles queriam que Neemias se encontrasse com eles no lugar e nos termos de Sambalate e Gesem, como se isso fosse servir de ajuda à obra de Deus. Mas o que queriam mesmo era atrapalhar aquela obra que incluía a reconstrução dos muros e do Templo de Jerusalém.

Sambalate e Gesem mandaram dizer-me: Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono. Porém intentavam fazer-me mal. E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?” (Ne 6:2).

Quando o cristão desce de seu lugar elevado para associar-se aos incrédulos “no vale de Ono”, que significa “forte”, para se juntar e fazer alianças com os deste mundo, ele corre o risco de ser engodado e destruído. Por quatro vezes Neemias recebe o convite, e recusa. Ele fazia “uma grande obra” e não podia descer.

Será que, como cristão, você está consciente da “grande obra” que tem para fazer, ou será que está dando suporte aos inimigos de Deus, encontrando-se com eles no nível mais baixo deste mundo (o “vale de Ono”) por parecer que unido ali em algum partido de homens será mais forte? As intenções podem até parecer boas, mas se isso é para acontecer “no vale de Ono” e você está no monte de Jerusalém, faça como Neemias: não vá. Se for você logo estará comprometido em sua fé e andar, porque qualquer jugo desigual com incrédulos — e afiliação partidária é jugo desigual — faz de você responsável solidário por tudo o que o partido pensa e faz.

Para terminar, fique com esta anedota que meu pai costumava contar e que ilustra bem a razão de o comunismo não funcionar. Dois caipiras conversavam:

Zé, vamu ali ver aquele cumício cumunista.

Quequié isso, Benedito?!

Cumunismo é assim: Se ocê tivesse duas casa, mas só precisasse de uma pra morar, ocê daria a outra prum camarada, não daria?

É craro, Benedito, daria sim. Quem qui tem precisão de duas casa? Só priciso duma uai!

Tamém se ocê tivesse dois tomóvi, só ia conseguir guiar um, então daria o outro prum camarada, num daria?

Daria sim, tarveis até os dois porque nem sei guiar! Aquele negocio de câmbio e disimbréia é cumplicado, sô!

Pois é, se você tivesse duas bicicreta…

Epa, péraí Benedito, essa não! Essa eu tenho!


Existe um arrebatamento parcial?

Você perguntou se até um cristão em pecado seria arrebatado, e disse isso considerando sua inclinação pelas doutrinas de Watchman Nee e Winess Lee de um arrebatamento reservado apenas a vencedores. Você acabou de identificar onde está o grande furo dessa doutrina: o de achar que exista algum cristão que não peque. Essa ideia cria fariseus de um lado — os que acham que estão andando 100% de acordo com a vontade de Deus — e depressivos de outro, os que são sinceros o suficiente para reconhecerem que são falhos. Qualquer doutrina que dê ao homem alguma parcela de mérito não vem de Deus.

No arrebatamento Cristo virá buscar sua igreja para encontrar-se com ela nos ares, e a Igreja é aquela formada por todos os que creem em Jesus. Esses têm o Espírito Santo e nessa ocasião o Espírito será tirado da terra tanto quanto os que o possuem. Quem ficar na terra não terá o Espírito, será como aqueles que viviam no Antigo Testamento. Vamos reformular sua pergunta assim: “Então até um cristão que nos últimos dois mil anos morreu em pecado seria ressuscitado?”.

Percebe como de repente sua pergunta deixa de fazer sentido? Qualquer pessoa que tenha morrido na fé em Cristo nos últimos dois mil anos certamente tinha alguma aresta no seu andar, mesmo assim, o sacrifício de Cristo foi suficiente para garantir sua salvação. No arrebatamento ele será ressuscitado e subirá junto com os que forem transformados para estar com Jesus. Qualquer ideia de um arrebatamento seletivo implicaria também numa ressurreição seletiva de crentes “vencedores”, o que é um engano diabólico que só lança dúvidas no coração dos crentes em Jesus. Tente encontrar alguma passagem que fale de um arrebatamento ou ressurreição condicional e não achará.

Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1:8-10).

Quando Paulo descreveu o que irá acontecer num momento, ele não dividiu os crentes em vencedores e perdedores. Ele incluiu TODOS.

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados. (Quando? Um grupo antes e um grupo depois?) Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e NÓS seremos transformados” (1Co 15:51- 52).

Mas você alega que alguns dos irmãos que congregavam somente ao nome do Senhor no século 19 também tinham essa doutrina. Realmente, mas isso não a torna correta e nem eles continuaram em comunhão com os irmãos. J. Sladen, R. Govett, G. H. Pember pensavam assim, e por isso você talvez não encontre seus nomes na literatura normalmente aceita entre irmãos congregados ao nome do Senhor. Você pode até encontrar alguma coisa de um desses autores, mas de antes da época em que começou a introduzir ideias estranhas à doutrina dos apóstolos e ser colocado fora de comunhão por isso.

Watchman Nee e Witness Lee emprestaram deles essas ideias e as transformaram em um sistema de doutrinas que deu origem a uma “denominação sem nome” que possui todas as características de um sistema. Possui um líder mundial (que não se diz líder mundial), uma sede mundial (que não chamam de sede mundial), um clero em pirâmide e uma imprensa e literatura oficial. Nada disso tem a ver com aquilo que costumo escrever e dizer sobre estar congregado somente ao nome do Senhor e sem essas características de um sistema religioso como outro qualquer.

Se consultar o que pensavam os irmãos congregados ao nome do Senhor no século 19 verá algo como este texto de William Kelly falando do Salmo 143:2:

“‘E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente’ (Sl 143:2). Se Deus fosse entrar em juízo com algum servo seu, não poderia haver justificação para ele, pois o juízo deve tratar de forma inflexível com pecados. E qual é o servo de Deus que nunca pecou desde o dia em que confessou o Salvador? Salvação é por graça, por meio da fé, mas isso é impossível de ocorrer no terreno do julgamento por obras, algo que está reservado para aqueles que recusaram o Senhor e rejeitaram sua “tão grande salvação”. É somente dos ímpios que Apocalipse 20:11-15 está falando. “E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”. O livro da vida concorda com a condenação de cada um deles, pois nele está o registro dos beneficiados com a graça salvadora. “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”. Em Apocalipse 20:11-15 não há qualquer menção daquele que teve seu nome escrito no livro da vida. Os livros os condenaram, pois o livro da vida não trazia seus nomes escritos visando a graça” - W. Kelly.

A ideia de um arrebatamento parcial é também de certa maneira o que creem alguns populares defensores do arrebatamento, como o autor dos livros e filmes da série “Deixados para trás”. Neles pessoas que antes ouviam o evangelho, mas não se converteram, são mostradas como tendo uma segunda chance de crer durante os tempos de tribulação. Mas isso é também outro engano diabólico, pois o texto bíblico aponta claramente que Deus mesmo fará com que creiam na mentira. Para uma pessoa que hoje escuta o evangelho e deixa para decidir depois, não haverá possibilidade de decisão, pois seu destino terá sido selado no arrebatamento. Ela irá crer na mentira porque Deus fará com que creia assim. Ela será como uma pessoa que ouviu, morreu e não creu. Perdeu sua chance.

A passagem que fala da ressurreição dos que dormiram em Cristo e do arrebatamento de todos os salvos é principalmente esta:

Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4:13-18).

A passagem que mostra o que acontecerá com os que ficarem na terra depois de terem tido a chance de ouvir e crer está na segunda epístola. Após o arrebatamento da Igreja os únicos que terão chance de se converter ao evangelho do Reino (distinto do evangelho da graça) serão os que não tiverem sido alcançados na atual época da Igreja:

Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele [que é o arrebatamento da Igreja], que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo [que é sua vinda para julgar as nações sete anos após o arrebatamento] estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém [ou seja, o Espírito Santo], para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro [ou poder irresistível], para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2Ts 2:1-12).


Você faz aconselhamento matrimonial?

Você escreveu perguntando se faço aconselhamento matrimonial. Não, primeiro porque eu não seria a pessoa mais indicada para isso, visto que sou divorciado. Meu matrimônio fracassou, portanto não me sinto à vontade para aconselhar outros numa área em que falhei. Antes que pergunte, não houve adultério envolvido em minha separação, portanto considero que o vínculo matrimonial não foi rompido.

A outra razão de não fazer aconselhamento matrimonial ou de relacionamentos afetivos é que as coisas que envolvem um casal são multifacetadas. Alguém de fora dificilmente perceberia todas as facetas que levam ao conflito entre um casal e acabaria tomando as dores do que busca conselhos. Sempre que alguém busca por aconselhamento traz sua própria versão dos fatos e seria temeroso basear-me apenas nisso para aconselhar. Dou alguns exemplos de como as coisas parecem ser o que não são quando vistas por alguém de fora:

Um rapaz foi preso acusado de homicídio por dirigir alcoolizado quando seu carro capotou e sua irmã morreu. As pessoas que o tiraram do carro acidentado foram arroladas como testemunhas no processo. Um advogado decidiu reabrir o caso e descobriu que tudo se baseou na afirmação das testemunhas que socorreram o rapaz de que o rapaz tinha sido tirado do lado do motorista, portanto devia ser ele o condutor. O rapaz realmente estava alcoolizado, mas não estava dirigindo. Os que o socorreram, na pressa e calor do momento, tiraram o rapaz do que pensaram ser o lado do motorista, o lado esquerdo do carro. Mas como o carro estava de rodas para cima, aquele era na verdade, o banco do passageiro. Era a irmã do rapaz quem dirigia o carro, provavelmente por ele estar muito bêbado na volta da festa. Só então o rapaz foi solto.

Outro exemplo: Um policial foi chamado para atender um caso de tentativa de homicídio. Ao chegar lá viu um homem agarrando uma mulher e com uma faca em seu pescoço prestes a cortá-lo. Quando viu o policial, o agressor partiu para cima dele com a faca, e o policial, em legítima defesa, atirou. O homem rodopiou e caiu. Felizmente o policial descobriu que tinha errado o tiro e o homem caiu desmaiado de susto. Levados para a delegacia, a mulher não quis prestar queixa pois amava de montão aquele homem. Se o policial tivesse acertado o tiro teria a vítima contra si. Nunca se esqueça daquele ditado “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”.

Estes exemplos mostram o quanto podemos nos enganar e tirar conclusões equivocadas se não conhecermos todos os detalhes de uma situação, como é a dificuldade de relacionamento entre marido e mulher.

Outra dificuldade de quem faz aconselhamento matrimonial é o perigo de se envolver emocionalmente com a pessoa que está sendo aconselhada. Uma porcentagem alta de adultério entre pastores protestantes vem das sessões de aconselhamento, quando lidam com mulheres fragilizadas em busca de um ombro amigo para chorar. Em seu livro “A ordem de Deus”, Bruce Anstey escreve:

As Escrituras que citamos costumam ser distorcidas ou consideradas antiquadas e discriminatórias. Com muita frequência vemos uma inversão na ordem do ministério de irmãos e irmãs. Por exemplo, ouvimos falar de irmãos (no papel do “Pastor”) que têm encontros em particular com mulheres - geralmente mulheres jovens - com o objetivo de aconselhá-las em sua vida pessoal. É frequente pessoas assim acabarem caindo em algum tipo de imoralidade, para desonra do Senhor. Temos um artigo que mostra que mais de 80% dos homens no “ministério” que caíram em imoralidade chegaram a tal ponto como resultado de sessões de aconselhamento! Muito disso teria sido evitado se esse ministério na igreja fosse desempenhado por mulheres”.

Por isso o aconselhamento deve ser preferencialmente feito por um casal, e no meu caso isso não é possível. Na epístola a Tito o apóstolo Paulo dá instruções de como Tito deveria proceder ao aconselhar homens idosos, mulheres idosas, mulheres jovens e homens jovens. Se reparar bem, verá que não era para Tito aconselhar diretamente as mulheres jovens. Ele deveria aconselhar as idosas para que estas aconselhassem as jovens. Assim funciona a sabedoria de Deus e evitaríamos muitos riscos se a seguíssemos à risca.

Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência. As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem, para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados” (Tt 2:1-6).


Por que estas Bíblias não concordam entre si?

Você leu numa versão católica da Bíblia Isaías 42:1, que diz: “Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião”. Ao compará-la com a versão de João Ferreira de Almeida surpreendeu-se com a diferença. Ali está: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios”. Qual seria a correta?

Tudo indica que a mais precisa será a versão Almeida, mesmo porque se você comparar com outras versões católicas irá encontrar, como nesta da CNBB, “Eis o meu servo, dou- lhe o meu apoio. É o meu escolhido, alegria do meu coração. Pus nele o meu espírito, ele vai levar o direito às nações”.

Talvez o tradutor da versão católica que você utilizou quisesse “puxar a sardinha” para o seu lado ao dizer que o Servo do Senhor levaria “às nações a verdadeira religião”. Considerando que muitos católicos acham que a salvação se obtém estando naquela que consideram a verdadeira religião ou verdadeira igreja, talvez o tradutor estivesse entusiasmado demais com o papismo ao escrever.

Provavelmente a Bíblia de edição católica que você utilizou foi a “Ave Maria”, traduzida do grego, aramaico e hebraico, por monges beneditinos de Maredsous (Bélgica). Ela foi depois traduzida do francês para o português o que faz dela uma tradução de tradução, afastando seu texto consideravelmente dos originais.

Mesmo assim, quando surgiu nos anos 50, ela foi um marco por colocar uma Bíblia acessível nas mãos dos católicos brasileiros, os quais até então só tinham oportunidade de ouvir a Palavra de Deus da boca dos padres na hora da missa ou recorrer a edições importadas, mais caras. Foi nessa época que o Vaticano começou a dar abertura para a Bíblia ser lida por leigos, algo até então desestimulado pelo clero.

Mas quando vi sua mensagem da primeira vez achei que você estivesse se referindo às diferenças de subtítulo no início de cada capítulo quando compara diferentes versões e edições. Nem toda Bíblia os tem, pois é algo acrescentado pela editora da Bíblia, seja ela católica ou protestante. Algumas edições protestantes também têm erros graves nesses subtítulos, mas em nenhum caso trata-se de texto bíblico, mas de acréscimo a critério da editora.

Quer um exemplo? Tenho uma Bíblia Almeida Revista e Corrigida que traz no capítulo 54 de Isaías o subtítulo: “O progresso e a glória da Igreja”. Isso é um equívoco, pois a Igreja era um mistério oculto em Deus que só seria fundada e revelada ao apóstolo Paulo mais de setecentos anos mais tarde. Algumas versões já corrigiram o subtítulo colocando “A glória de Sião” ou algo assim, pois tudo aí tem a ver com Israel, não com a Igreja.

Quando ler alguma edição impressa, não dê atenção a esses subtítulos (geralmente em negrito no início de cada capítulo) porque mais atrapalham do que ajudam. Entenda também que no original não existiam capítulos e nem versículos, coisas bastante recentes. A divisão do texto em capítulos surgiu no século 13 e em versículos na metade do século 16.

Alguns assuntos seriam melhor entendidos se lêssemos o texto corrido sem parar no fim do capítulo, como é o caso desta passagem cuja continuação e sentido estão no capítulo seguinte. Quando Jesus disse que alguns discípulos não passariam pela morte sem que vissem o Filho do Homem no seu reino, estava se referindo à transfiguração, que é uma visão de como o Senhor estará no reino futuro, uma espécie de fresta no tempo:

Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino. Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte, e transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias. E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo. E, erguendo eles os olhos, ninguém viram senão unicamente a Jesus” (Mt 16:28-17 :1-8).


Mateus 12:40

Você perguntou se Mateus 12:40 estaria afirmando que Jesus foi ao inferno depois de morrer. Não, ele não foi ao inferno depois de morrer, mas entre sua morte e ressurreição esteve na condição de hades ou sheol — o estado de alguém desencarnado —, embora não tenha permanecido assim como permanecem todos os que morreram até hoje.

O Salmo 16:10, “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.”, citado em Atos 2:27 referindo-se ao Senhor, mostra que Jesus não permaneceria nessa condição de morte e mostra também que há uma diferença nos termos utilizados e traduzidos indistintamente como “inferno” em algumas traduções.

Onde você lê “inferno” em algumas versões da Bíblia no Salmo original está “sheol” e em Atos “hades”. Em nenhum dos casos tem a conotação do destino final dos perdidos, que é o “lago de fogo e enxofre”.

De qualquer modo, Jesus não desceu ao lago de fogo, que é o lugar dos perdidos que ainda está desabitado. Infelizmente os tradutores das Bíblias que usamos fizeram confusão de termos quando traduziram_hades, sheol_ e _lago de fogo_ pelo genérico _inferno_, um termo que não existe nos originais.

Sempre que a Bíblia falar de alguém que morreu, pergunte assim: “Está falando do corpo ou do espírito/alma?”. Assim você já evitará uma porção de interpretações falsas que circulam pela cristandade. Por exemplo, existe uma religião que afirma que o morto está inconsciente com base em Eclesiastes 9:5Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento”. Mas um leitor atento saberá identificar que aí está falando do corpo dos que morrem, pois o livro de Eclesiastes fala das coisas que acontecem “debaixo do sol”, isto é, na terra.

Basta ler o diálogo entre o rico e Abraão na história de Lucas 16:19-31 para perceber que o rico que estava no _hades_não estava nem um pouco inconsciente. Lembre-se de que o Senhor Jesus não disse que aquilo era uma parábola como costumava dizer ao contar outras histórias, portanto o rico realmente existiu e o mendigo Lázaro também.

Ali diz “que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”, o que era a forma de entender adequada a um judeu, como os que ouviram a história de primeira mão dos lábios do Senhor.“E morreu também o rico, e foi sepultado”, o que está falando obviamente de seu corpo, porque ninguém sepulta um espírito. Aí começa o problema de tradução: “E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio”. A palavra no original não é inferno, mas hades como aparece corretamente na versão NVI.

Portanto entenda que hades é um estado intermediário de separação entre o corpo, de um lado, e espírito-alma de outro. Um dia eles voltarão a se unir na ressurreição e os santos viverão eternamente com espírito, alma e corpo. Depois os perdidos também terão seus corpos de volta para serem lançados espírito, alma e corpo no lago de fogo, que é o destino final criado por Deus para o diabo e seus anjos, porém que receberá também os incrédulos.

A passagem de sua dúvida em Mateus 12:40 diz assim: “_Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra”._Seio da terra está falando da sepultura e do corpo de Jesus. Mas alguém poderia alegar que Jesus estava falando de si mesmo, e não de seu corpo, mas basta ler uma passagem de Atos 8:2 para ver que os irmãos ali sepultaram Estêvão como a pessoa inteira, porque é assim que Deus também identifica alguém. Ali diz que “_uns homens piedosos foram enterrar Estêvão, e fizeram sobre ele grande pranto”._O corpo traz igualmente a identidade da pessoa, mesmo que seu espírito e alma não estejam mais nele. Nem em cemitérios fazem distinção dizendo nas lápides “Aqui jaz o corpo de Fulano”, mas simplesmente “Aqui jaz Fulano”.

No caso de Jesus, “seio da terra” significa isso mesmo, a sepultura que normalmente fica abaixo do chão. Mas seu espírito não estava mais no corpo, estava no Paraíso enquanto aguardava a ressurreição, conforme prometeu ao ladrão na cruz que iria se encontrar com ele naquele mesmo dia no Paraíso (e certamente esse encontro não se daria no lago de fogo e nem debaixo da terra).


Como um crente no Antigo Testamento podia viver sem o Espírito Santo?

Você pergunta como um crente no Antigo Testamento podia viver sem o Espírito Santo, e a mesma dúvida vale para os que serão salvos após o arrebatamento da Igreja, quando o Espírito Santo também será tirado da terra. Recebi outra dúvida que não se refere ao estado do crente, mas como o incrédulo poderia se converter, tanto no período anterior quanto posterior ao atual tempo da graça de Deus.

Começando por esta última dúvida, o Espírito Santo sempre agiu convencendo o pecador de seu pecado, mas não habitando nele porque o Espírito não iria habitar num incrédulo, seja no Antigo, seja no Novo Testamento. Habitação do Espírito não precede a conversão, mas é o selo final do processo neste atual tempo da graça. Digo “processo” porque existem algumas etapas que acontecem.

Primeiro a pessoa colocada em contato com a “_água”_da Palavra de Deus (Efésios 5:26) é tocada pelo Espírito Santo e recebe vida para o que está espiritualmente morto poder sentir o peso de seus pecados e crer. Este é o “_nascer de novo”_que Jesus explicou a Nicodemos em João 3. Em Romanos 3:10-11 diz que “Não há um justo, nem um sequer. não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus”, porém em Atos 10:1-2 encontramos um homem que parece contradizer essa afirmação: “Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus”.

Cornélio era um nascido de novo que ainda precisava escutar o evangelho da graça de Deus (At 10:34-43), crer e ser selado com o Espírito Santo (At 10:44). Agora ele era um homem salvo. Considere Efésios 1:13-14 como a versão condensada dessas etapas: “Cristo em quem também vós estais, depois que ouvistesa palavra da verdade, o evangelhoda vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostesseladoscom o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.

Voltando à sua dúvida, que é de como um crente no Antigo Testamento podia viver sem o Espírito Santo, a resposta é que o Espírito agia e eventualmente habitava nele, mas não de modo definitivo como o temos agora graças à promessa de Jesus de que ele ficaria conosco “para sempre”(Jo 14:16). Repare em como isso é diferente do que Davi experimentava em seus dias: “Não me lances fora da tua presença, enão retiresde mim o teu Espírito Santo”(Sl 51:11).

Depois do arrebatamento tudo vai voltar a funcionar como no Antigo Testamento, e os convertidos não terão o Espírito habitando permanentemente em si, mas eventualmente no caso de Davi. Hoje a pessoa recebe vida para poder sentir o peso de seus pecados (novo nascimento), crer em Jesus (conversão) e receber o selo do Espírito Santo (habitação do Espírito). Mas e no Antigo Testamento? Ficavam eles sem qualquer assistência, influência ou poder para viver uma vida nova, já que o Espírito só viria habitar na terra em Atos 2 no dia de Pentecostes, quando foi formada a Igreja?

Pelas palavras de Jesus aos discípulos no Evangelho, antes o Espírito estava com elese depois passou a habitar neles. Nossa posição é de um privilégio mais elevado, mas não quer dizer que antes os convertidos ficavam desassistidos. “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14:17).

Se você prestou atenção na expressão “para sempre” percebeu como é perversa a doutrina pentecostal de que um crente possa ser crente sem ter sido selado pelo Espírito, ou que possa perdê-lo depois por algum motivo. Perversa é também a doutrina que diz que apenas crentes “vencedores” subiriam no arrebatamento, enquanto o restante (os crentes carnais) permaneceriam na terra para sofrer na Grande Tribulação. O inimigo sempre irá incutir na mente das pessoas, inclusive de crentes em Jesus, ideias que possam anular em alguma medida a obra completa e perfeita operada por Cristo na cruz do calvário.

Talvez aqui surja em sua mente a dúvida: “Mas o que aconteceria se alguém nascesse de novo e morresse antes de ouvir o evangelho claro, como Cornélio ouviu de Pedro, e crer e ser selado com o Espírito Santo?”. Bem, se você conhece realmente o caráter do Deus que lhe dá a salvação não teria dúvidas a respeito do destino dessa pessoa, mas teria, como diz no versículo de Filipenses 1:6, “por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. Quando Deus começa uma obra, ele termina com certeza.


Que vantagem existe em congregar ao nome do Senhor?

Você diz que independentemente de onde congrega, a pessoa é salva pela fé em Jesus. Então pergunta qual seria a vantagem de estar congregado somente ao nome de Jesus fora das denominações. E acrescenta: “Que bênçãos e vantagens você e os irmãos que congregam assim têm que não têm os que congregam em outros apriscos?”

Depois de ter sido salva por Cristo por graça e pela fé, será que você só faz as coisas se tiver alguma “vantagem”, ou faz por ser esta a vontade do Senhor expressada em sua Palavra? Um dia você foi como o cego que se aproximou de Jesus e ouviu de seus lábios: “Que queres que eu faça?”, e você respondeu, “Senhor, que eu veja!”(Lc 18:40- 41). Então você passou a enxergar, e o que um coração grato faria em troca? A mesma pergunta que o Senhor fez, você faria a ele: “Senhor, que queres que eu faça?”. Ou, como perguntou Pedro, quando o Senhor disse para ele e os outros irem preparar a Páscoa: “Senhor, onde queres que a preparemos?”(Lc 22:9).

O verdadeiro crente em Jesus, que conhece o valor do que recebeu ao ter sido perdoado de todos os seus pecados, terá um coração tão cheio de gratidão que irá perguntar ao Senhor qual deve ser o seu próximo passo, e não decidir por sua própria vontade. E a resposta encontrará na Palavra.

A segunda frase sua também responde por si só. Não se trata de escolher este ou aquele aprisco, mas de não estar em aprisco nenhum. Não se trata de congregar dentro das paredes de um dogma denominacional, mas em redor da Pessoa que nos tirou, não só do pecado e da morte, mas da maldição da Lei que cercava o aprisco judeu.

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10:1-4).

Quando o Senhor falou de aprisco no evangelho de João ele estava se referindo a Israel, que era um sistema cercado pelo muro da lei como é um aprisco. Até ali, aquela cerca tinha servido de proteção ou“aio” para eles não descambarem na idolatria das outras nações. A passagem que explica é esta:

A Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3:22-26).

Mas o Pastor tinha vindo para tirá-los do aprisco, não para construir outro aprisco. Os libertos por ele não seriam mais reunidos por limites como as cercas do aprisco, mas se reuniriam em torno do Pastor como a limalha de ferro se reúne em torno do ímã. Então é isso que acontece quando Cristo é o centro para o cristão. Ele irá querer estar congregado a ele, ao seu Nome e a nenhum outro nome. Isso não é de hoje, mas até para Israel, Deus havia ensinado que não deviam adorar em qualquer lugar que escolhessem, mas ao Nome.

Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali por o seu nome, buscareis, para sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas… Não fareis conforme a tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos… Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome…” (Dt 12:5-11).

Porque, onde estiverem dois ou três reunidos ao meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20).


Por que meu filho adolescente virou ateu?

Você escreveu dizendo que seu filho fez quinze anos e assim do nada decidiu que não quer saber de Deus e nem sequer acredita nele. Como isso pode acontecer? A salvação é pessoal e uma responsabilidade de cada um diante de Deus. O que aconteceu foi que seu filho passou a pensar com a própria cabeça, e agora é também responsável por suas próprias escolhas, ao invés de simplesmente repetir o que você dizia. Você o criou como cristão, mas ele nunca foi por escolha própria.

Filhos não nascem convertidos a Cristo. Mesmo que seus pais sejam filhos de Deus, os filhos não vêm ao mundo como “netos de Deus”. Enquanto são crianças, caso eles venham a morrer, certamente serão recebidos nos braços de Cristo, os mesmos braços que tomaram para si aquele menino que os discípulos queriam impedir de ir a Jesus. “Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus”(Mt 19:14), afirmou Jesus.

Os exemplos que temos na Palavra de pais que têm seus filhos batizados como consequência de sua conversão demonstra que Deus tem uma atenção especial para os que nascem em famílias onde existe ao menos um pai ou mãe que seja filho de Deus. Até mesmo maridos incrédulos são vistos por Deus como santificados por estarem debaixo da mesma esfera da esposa. Não que estejam automaticamente salvos, mas estão a salvo de problemas. De qualquer modo, tanto o cônjuge incrédulo, como os filhos, precisarão um dia crer em Cristo de si mesmos para serem salvos.

E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos” (1Co 7:13-14). A palavra “santo” significa “separado” e nem sempre é sinônimo de salvo.

Quando se converteu Lídia, a vendedora de púrpura, se converteu “foi batizada, ela e a sua casa”(At 16:15), embora nada seja dito da conversão de seus familiares e servos, já que “casa” na linguagem neotestamentária incluía os servos. Do mesmo modo, o carcereiro da mesma cidade creu no evangelho e “logo foi batizado, ele e todos os seus”, depois que Paulo e Silas “lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa”(At 16:31-33). Ele não queria deixar de fora da esfera cristã aqueles que lhe eram queridos, e o batismo é o que introduz a pessoa na casa de Deus, mesmo que ainda não tenha se convertido realmente. Foi neste sentido que o apóstolo Paulo batizou também “a família de Estéfanas”(1Co 1;16).

Mas que não se engane alguém em pensar que, por ter sido batizado, esteja com a salvação garantida. O mago Simão pareceu ter se convertido e até mesmo foi batizado, mas não demorou para se revelar um mercenário que estava interessado em obter o poder de Deus como forma de lucro. Atos 8:9-24 conta a história: “Como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito… E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro”.

Seu filho pode ter sido batizado, frequentado alguma igreja cristã, e até feito algum tipo de profissão de fé ali diante de testemunhas, mas nada disso é garantia de salvação se ele não tiver nascido de novo pelo poder do Espírito aplicando a Palavra em seu coração para lhe dar vida, e depois crido no Senhor e sido selado com o Espírito Santo que é a garantia de nossa herança. Algumas vezes um filho leva a vida toda para assumir sua incredulidade antes de realmente se converter, mesmo tendo pais cristãos e sido criado em um ambiente cristão.

Acredito que a maioria dos pais não verá em vida a resposta às suas orações pela conversão dos filhos, pois muitos deles acabam se convertendo depois que seus pais já partiram. Enquanto isso, tudo o que você pode fazer é orar para que o Espírito Santo o converta, mas não queira transformar seu filho incrédulo em cristão. É um erro pensar que fantasiando um perdido de salvo ele vá apreciar mais o evangelho. Geralmente o efeito é inverso, principalmente no adolescente que é avesso por natureza a imposições. Entregue nas mãos do Senhor porque ele é até mais interessado que você em que seu filho se converta.“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”(1Tm 2:3-4).

Fale do Senhor, fale do Evangelho, pregue a graça de Deus a ele, mas não espere que orando ou agindo ou falando como cristão ele será salvo. Deus não salva papagaios. Eu só me converti aos 23 anos de idade e se você viesse me falar da Bíblia antes eu teria rido ou no máximo respeitado. Eu era metido em religiões orientais e achava que o Bhagavad Gita e outros livros orientais eram muito mais elevados que a Bíblia. Apesar de pais católicos, quem insistiu para eu comprar um Novo Testamento foi um colega espírita da república onde eu morava quando fazia cursinho em São Paulo.

Agarre-se à promessa de Atos 16 de que um dia Deus ainda irá tocar o coração de seu filho. “E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa” (At 16:30-32). Lembre-se também de viver na alegria da fé em Cristo, porque um adolescente não irá querer viver uma vida que seja menos interessante que aquela que vive com seus amigos. “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos” (Fp 4:4).


Por que irmãos mais velhos desprezam minha juventude?

Você escreveu dizendo que se sente como Eliú, em Jó 32, pois às vezes é repreendido pelos irmãos mais velhos que acham que alguém na sua idade não pode ter conhecimento das Escrituras. Não se preocupe, nem sempre o problema está em você, mas nos outros. A Bíblia ensina duas coisas: Que Deus dá valor aos cabelos brancos e à experiência dos mais velhos, que devem ser sempre respeitados pelos mais novos. Mas também mostra que Deus usa quem ele quer, inclusive jovens e independente do gênero.

Foi uma jovem serva que Deus usou para levar um dos grandes generais de sua época — Naamã — ao conhecimento da Verdade. Enquanto o velho Eli vivia acomodado sentado numa cadeira no templo, Deus quis usar o jovem Samuel. O Senhor usou os pães e peixes de um jovem para alimentar uma multidão, e ele mesmo veio ao mundo por intermédio de uma jovem Maria, que devia ser ainda adolescente quando foi coberta pelo Espírito Santo.

O Senhor também usou os apóstolos, a maioria na faixa de vinte a trinta anos quando foram chamados. Os irmãos que no princípio do século 19 apartaram-se de suas denominações para congregar somente ao nome do Senhor estavam na faixa dos vinte anos, e mesmo assim o Senhor lhes deu um entendimento das Escrituras que faltava a muitos clérigos anciãos contaminados com séculos de má doutrina.

Lembro-me quando, aos vinte e quatro anos e com pouco tempo de convertido, descobri o valor de estar congregado somente ao nome do Senhor fora dos sistemas denominacionais. Ao apresentar o que entendia das Escrituras a um obreiro da Igreja Batista que frequentava, fui repreendido com estas palavras: “Você não tem nem dois anos de convertido e quer ensinar a mim, que tenho mais de vinte?”.

Na Bíblia vemos como Deus usou um jovem, Timóteo, ao ponto de Paulo lhe dedicar duas epístolas extremamente instrutivas. Isso demonstra que Deus não despreza um jovem, mas também demonstra que o jovem, como era o caso de Timóteo, necessita de instrução na Palavra. Mas o apóstolo encorajou seu pupilo com estas palavras: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza”(1Tm 4:12).

O perigo é quando o jovem é soberbo, não sabe se comportar e despreza a experiência dos mais velhos. Um dos grandes erros cometidos pelo rei Roboão foi ter desprezado os anciãos e buscado conselho entre os jovens de sua idade. “Porém ele deixou o conselho que os anciãos lhe tinham dado, e teve conselho com os jovens que haviam crescido com ele, que estavam diante dele” (1 Rs 12:8).

Ainda que um jovem possa ter conhecimento e razão em determinadas situações, ele deve respeitar os mais velhos porque esta é a maneira que Deus ordena. “Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2:6-8). “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais” (1Tm 5:1).

Quando Paulo disse a Timóteo “ninguém despreza a tua mocidade”(1Tm 4:12) isso não queria dizer que Timóteo ficaria imune às críticas, mas que deveria viver de modo a não as gerar. A crítica geralmente é uma resposta ou reação a um determinado comportamento, daí a necessidade de Paulo admoestar Timóteo a servir de exemplo para os irmãos. Cada um de nós deve sempre perguntar: “Estou servindo de exemplo também nestes aspectos de minha vida?”.

Na admoestação de Paulo em 1 Timóteo 4:12 há seis pontos que precisavam ser observados: a Palavra, o Trato, o Amor, o Espírito, a Fé e a Pureza. Todavia, os melhores manuscritos trazem apenas cinco pontos, omitindo o “espírito”, e creio ser mesmo o mais correto, pois o número cinco na Bíblia sempre aparece relacionado à responsabilidade do homem.

NA PALAVRA - Nossa conversa deve sempre caracterizar que somos filhos de Deus. Não devemos apenas evitar aquilo que é impróprio, mas falar sempre no sentido de edificar nossos ouvintes. Em tempos de redes sociais aqui vai uma dica: sabe aquilo que você quer jogar na cara do outro? Escreva com todas as letras e no final, ao invés de clicar em “Enviar” clique em “Deletar”. Pronto, você descarregou suas emoções e não machucou ninguém. Além disso, nunca se esqueça de que tudo o que publicar na Internet nunca mais poderá ser apagado. Continuará viajando pelos compartilhamentos como as plumas de um travesseiro que você rasgou ao vento, impossíveis de serem recolhidas quando se arrepender do que disse.

NO TRATO - Isto fala de nossa conduta e comportamento. Nada em nosso modo de ser deve ser motivo de reprovação ou comprometimento para o testemunho do Senhor. Era este o cerne da orientação dada a Timóteo. Não gostamos de ser repreendidos, mas também nem sempre cuidamos de não agir de modo a produzir essas repreensões vindas de outros. Para um cristão a frase “a vida é minha e eu vivo do jeito que quiser” deveria ter morrido na cruz com Cristo.

NO AMOR - Este deve ser sempre o combustível de nossa conduta e do espírito com o qual nos comportamos em relação aos outros. Quando tudo deixar de existir permanecerá o amor, porque Deus é amor e este existia desde a eternidade. Que valor tem uma moeda que nunca desvaloriza? Assim é o amor.

NO ESPÍRITO - Este item falta nos melhores manuscritos, mas não custa falar de sua importância. Não se trata do Espírito Santo e nem do espírito do homem, mas de espírito no sentido de disposição ou humor. O entusiasmo com que vivemos e contagiamos os outros irá revelar o quanto estamos satisfeitos com Cristo. Muitos cristãos demonstram entusiasmo com futebol, música e relacionamentos, enquanto são apáticos para com as coisas de Deus. Você iria querer torcer para o time de seu colega se ele não estivesse nem aí com o resultado do jogo? Certamente não. Então como espera que seu colega irá se interessar pelo Evangelho quando nem você demonstra estar interessado?

NA FÉ - Fé e fidelidade andam juntas, pois nos falam de dependência e perseverança no Senhor. Fé também nos fala de sabermos esperar, uma qualidade que costuma não ser muito encontrada nos jovens, que são mais prontos a agir na energia da carne do que com base na paciência adquirida com a idade e a experiência.

NA PUREZA - A palavra aparece como “castidade” em algumas versões, e este é um ponto a ser observado por todo jovem cristão. Mas não são apenas nossas atitudes e modo de vida que devem ser puros, e sim os motivos que nos levam a agir da maneira como agimos. Esses motivos devem ser apenas um: a glória de Deus.

E para encerrar, não há nada como a Palavra de Deus para nos motivar a vivermos de modo a agradar a Deus:

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar” (1Co 10:31-33).

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3:12-17).

E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas” (Cl 3:24-26).


O que fazer quando descubro que agi errado?

Volte ao ponto em que se desviou e procure se humilhar reconhecendo seu engano. Muitas vezes na vida somos obrigados a fazer isso se quisermos recuperar nossa comunhão com Deus e voltar a dar um testemunho coerente com a fé que professamos. Às vezes teremos de engolir ofensas, baixar a cabeça e deixar o Senhor nos restaurar do jeito dele, e eventualmente tratar com aqueles que podem ter até contribuído para nossa queda.

Esta passagem de 2 Reis sempre me foi de ajuda em momentos assim: “E disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face, nos é estreito. Vamos, pois, até ao Jordão e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar para habitar. E disse ele: Ide. E disse um: Serve-te de ires com os teus servos. E disse: Eu irei. E foi com eles; e, chegando eles ao Jordão, cortaram madeira. E sucedeu que, derrubando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou, e disse: Ai, meu senhor! ele era emprestado. E disse o homem de Deus: Onde caiu?E mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez flutuar o ferro. E disse: Levanta-o. Então ele estendeu a sua mão e o tomou” (2 Reis 6:1-7).

Os “filhos dos profetas” aparentemente não estavam satisfeitos com o que tinham recebido de Deus. Esses deviam ser discípulos que seguiam e auxiliavam um profeta em suas necessidades, aprendendo a extrair do profeta o máximo de ensino que pudessem, como era o caso aqui com Eliseu. Mas havia nestes um sentimento de insatisfação que os levou a desejar um lugar mais amplo.

Podemos às vezes ficar insatisfeitos com as limitações que o Senhor permitiu e querer buscar mais espaço, maior liberdade do que aquela que o Senhor nos concedeu. Você nunca desejou se livrar de pessoas e problemas que o cercam onde você está, seja em casa, no trabalho, na escola ou entre os irmãos? Eu também. É o desejo de um espaço mais amplo, como o de querer esticar os braços para os lados viajando horas em um carro pequeno.

Mas o que os “filhos dos profetas” não sabiam era que seriam incapazes de conseguir tal façanha, pois de si mesmos nada possuíam. Se tinham alguma coisa ou reputação era graças ao profeta que eles acompanhavam. Eliseu deixa que eles façam sua própria vontade e até vai junto com eles, como um pai que deseja ver até onde seu filho consegue chegar em sua busca por independência.

Você já deve ter feito isso quando seu filho pequeno teimou que iria conseguir pedalar sem as rodinhas de apoio. Você correu ao lado pronto para ampará-lo em seu tombo. E o tombo dos filhos dos profetas foi quando eles deixaram cair o machado emprestado num rio e ficaram desesperados. Correram pedir a ajuda do profeta.

O profeta pergunta: “Onde foi que caiu?”. Eles são obrigados a admitir que o que tinham nem deles era, mas emprestado, e precisam voltar até onde perderam o ferro do machado, do mesmo modo como José e Maria foram obrigados um dia a voltarem até o lugar onde tinham perdido o menino Jesus. Levaram um dia para perder e três dias para reencontrar.

E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa. E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe. Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos; e, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os” (Lc 2:42-46).

Um dia para perder e três para reencontrar. O reencontro é sempre mais demorado e custoso que a perda. Os filhos dos profetas levam Eliseu até o lugar onde tinham perdido o ferro do machado, ou seja, voltam ao ponto onde havia ocorrido o problema. Ali o profeta joga um pedaço de pau — um madeiro — na água, e o ferro do machado flutua. Aquilo era uma figura de Cristo, da aplicação da cruz de Cristo a uma situação de erro para sermos restaurados.

Devemos voltar ao problema, ao ponto onde nos desviamos por nos sentirmos confiantes de carregar nas mãos uma verdade que nem era nossa, mas emprestada. E depois de voltar a esse ponto em que perdemos a verdade emprestada, a solução é aplicar o madeiro, a cruz de Cristo, à situação. A cruz nos fala de humilhação e morte, e só conseguimos enxergar uma situação quando deixamos morrer nosso ego. Só então estamos prontos a ser restaurados.


O “homem” com o qual Jacó lutou era Deus ou um anjo?

A passagem de sua dúvida está em Gênesis 32 e nela há indícios claros de que Jacó tenha lutado com o próprio Senhor Jeová (que é como Jesus se apresentava no Antigo Testamento).

Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá- me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:24-30).

Obviamente ninguém jamais viu a Deus e jamais verá, pois ele “habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver”(1 Tm 6:16). Podemos vê-lo na face de Cristo, o qual é “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa. Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”(Hb 1:3; Cl 2:9). Portanto Jacó lutou com Deus, isto é, lutou com o Senhor Jesus na forma humana, que é o que significa “_homem”_na passagem.

O Senhor Jesus apareceu muitas vezes nas Escrituras, ora identificado como “homem”, ora como “o anjo”. Anjo significa mensageiro, e pode tanto se referir ao Senhor Jesus como a um anjo mesmo. Quando você encontrar “O anjo do Senhor” é o próprio Senhor em caráter de mensageiro aos homens. Quando encontrar “um anjo do Senhor”, aí é uma de suas criaturas angelicais. Veja algumas passagens em que o próprio Senhor apareceu como anjo:

…na sua força lutou com Deus. Lutou com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou; em Betel o achou, e ali falou conosco, sim, o Senhor, o Deus dos exércitos; o Senhor é o seu memorial” (Os 12:3-5).

E o anjo do Senhora achou [Agar] junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur” (Gn 16:7).

Depois apareceu-lhe o Senhornos carvalhais de Manre, estando ele assentado à porta da tenda, no calor do dia” (Gn 18:1).

Mas o anjo do Senhorlhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui” (Gn 22:11).

E disse-me o anjo de Deusem sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui” (Gn 31:11).

[Disse Jacó] O anjoque me livrou de todo o mal, abençoe estes rapazes, e seja chamado neles o meu nome, e o nome de meus pais Abraão e Isaque, e multipliquem-se como peixes, em multidão, no meio da terra” (Gn 48:16).

E apareceu-lhe o anjo do Senhorem uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia… Disse mais: eu sou o Deusde teu pai” (Ex 3:2-6).

E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhorpôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele” (Nm 22:22).

Repare que você encontra ocasiões quando o Senhor envia um anjo para libertar seus discípulos, como nesta passagem em que é anjo mesmo, e não o Senhor em Pessoa:

Mas de noite um anjo do Senhorabriu as portas da prisão e, tirando-os para fora, disse: Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5:19-20).

Em outras ocasiões é o próprio Jesus apresentado como o anjo:

Eo anjo do Senhorfalou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta”(At 8:26). Considerando que esta passagem não traz o artigo “o” no original poderia ser interpretada de uma ou outra maneira, mas eu particularmente creio que tenha sido o Senhor quem enviou Filipe.

Já em Atos 12:7 a versão Almeida Corrigida traz “_o anjo do Senhor”_e a Almeida Atualizada “um anjo do Senhor”, o que parece ser o mais correto. Mas o importante é entender que o Senhor Jesus aparecia aos seus desde o Antigo Testamento assumindo a forma humana, mas não vindo em carne como ele veio somente nos evangelhos.

Desde então, ele não apenas está em “carne e ossos” — “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho”(Lc 24:39) — ressuscitado e glorificado nos céus intercedendo pelos que são seus, mas também voltará em sua forma humana, como Homem de carne e ossos, condição essa que ele nunca mais deixará. E será como “Filho do Homem”, isto é, na forma humana, que irá julgar os perdidos que não poderão argumentar estar sendo julgados por algum ser espiritual etéreo que não saiba o que é ser homem. Ele sabe.

Antes que você me escreva perguntando como Jesus pode ser um Homem de “_carne e ossos”_hoje nos céus, já que o apóstolo Paulo disse que “_carne e sangue”_não entrariam nos céus, lembre-se de que Jesus não disse a Tomé que ressuscitou em “carne e sangue”, mas em “carne e ossos”. Paulo disse que “_carne e sangue”_não herdariam o reino, o que é completamente diferente. O sangue humano é o que garante sua vida aqui na terra, mas a vida que o salvo tem não é aquela que herdou de Adão. “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”(Jo 1:13). Por “_carne e ossos”_Jesus estava falando de seu corpo tangível e ressurreto em incorrupção. Por “_carne e sangue”_Paulo estava falando do corpo corruptível do ser humano descendente de Adão e caído no pecado, e explicava que este precisaria ser transformado em um corpo incorruptível à semelhança daquele que Jesus tem agora nos céus.

O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial. E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados… Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1Co 15:47-51).

Hoje já somos parte do Corpo de Cristo que é a Igreja, e ele nos enxerga como “membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos” (Ef 5:30). Por isso ele disse a Saulo “Por que ME persegues?”, pois ao perseguir os cristãos Saulo perseguia o próprio Cristo. “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3:2). Por isso “esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3:20-21).


Um esquizofrênico está possesso por demônios?

Um dos grandes males que o pentecostalismo ressuscitou das práticas de exorcismo da Idade Média é considerar qualquer comportamento fora do usual como possessão demoníaca. Inclua-se aí doenças e distúrbios mentais, que em algumas igrejas pentecostais são tratados como se fossem problemas espirituais. Não raro a pessoa que sofre de um distúrbio é submetida a vexames, espancamentos e, como aconteceu numa igreja pentecostal na Nicarágua, queimada na fogueira.

Esquizofrenia, assim como outras doenças mentais, não tem nada a ver com possessão demoníaca. Evidentemente demônios podem se apoderar de alguém nessa condição como pode fazê-lo com qualquer pessoa, exceto um verdadeiro salvo por Cristo. Este é habitação do Espírito Santo, que não permitirá que outro “inquilino” invada aquele corpo que passou a ser “templo do Espírito” quando foi selado pelo Espírito Santo da promessa.

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co 6:19-20). “Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?” (Tg 4:5).

Mas um esquizofrênico pode ser salvo? Sim, se ele tem entendimento suficiente para crer no Salvador, ainda que continue a apresentar sintomas da doença. É como qualquer outra pessoa, pois todos somos doentes em algum sentido neste nosso corpo combalido pelos efeitos do pecado. Por isso não desista de falar do Senhor e do evangelho da graça de Deus mesmo a alguém que aparente ter algum bloqueio para a realidade. Fale e deixe que o Espírito Santo faça o resto com a mensagem que entrar pelos ouvidos do outro.

Uma vez alguém me escreveu dizendo que o salvo não fica doente e eu perguntei a ele se tinha cáries, se usava óculos, se tinha alguma pinta na pele, se sofria de caspa, mau hálito, dores, queda de cabelos, problemas de audição… Tudo isso são doenças em diferentes formas, mesmo que algumas não nos matem ou façam sofrer. Em nossa boca há milhões de gérmens patogênicos que podem entrar em nossa corrente sanguínea e nos matar.

Pregar que o crente não fica mais doente é o mesmo que dizer que a ressurreição já aconteceu, um erro grave igual à gangrena que era pregado por Himeneu e Fileto. “E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns”(2Tm 2:17-18). Portanto é um erro pensar que a saúde do corpo tenha algo a ver com salvação ou que uma doença ou distúrbio mental tenha algo a ver com possessão demoníaca.

Se você lê inglês poderá conhecer algo sobre doenças mentais sob uma perspectiva bíblica neste livro de um irmão do Canadá que é médico e hoje atua na obra do Senhor: “Mental Illness: A Scriptural Perspective of Mental Illness and Behavioral Disorders”, por William J. Prost. O livro é vendido em formato impresso na bibletruthpublishers.com e pode ser encontrado em português em formato e-book com o título “Doenças Mentais” no site acervodigitalcristao.com.br.


Paulo excluía mulheres das reuniões?

Seria absurdo pensar que o apóstolo Paulo excluísse a presença feminina das reuniões ao dizer que “as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (1Co 14:34-35).

Juntar a isso a ordem dada em 1 Timóteo 2:12 — “não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” — para afirmar que as irmãs não precisam estar nas reuniões é perverter o texto bíblico e ir além do que está escrito. A passagem de 1 Coríntios é para as reuniões da igreja ou assembleia, e a de 1 Timóteo é para todas as circunstâncias. Mas nenhuma delas está afirmando que mulheres não precisam participar das reuniões. Afinal, se Paulo escreveu que as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas, como isso poderia acontecer se elas não estivessem nas igrejas?

Paulo não está desencorajando as irmãs de participarem das reuniões. A ordem é simplesmente que elas permaneçam caladas nas reuniões da assembleia, que não participem de forma audível com seu falar. Antes que me pergunte, falar é falar, cantar é cantar, e a ordem foi dada a respeito do falar, não do cantar. Portanto as irmãs cantam sim com toda a congregação, mas não ministram porque isso implicaria falar e eventualmente ensinar doutrina. A ordem é para que permaneçam caladas, mas não mortas e nem ausentes.

Uma irmã calada pode ser mais útil do que uma falando fora da ordem divina para a reunião dos santos. Ou até mais útil que um varão que tome a palavra movido pela carne ou para se promover. A mulher pode adorar em espírito mesmo calada, pode orar calada e, ao fazer isso, interceder pelos irmãos que ministram e interferir no rumo e resultados do ministério dos varões. Ela é como um soldado da retaguarda operando o carro de telecomunicações e garantindo que o batalhão da linha de frente permaneça conectado ao quartel general. Ela também pode fazer o papel do operador de radar.

Uma mulher sábia, ainda que calada na reunião, pode ser útil para perceber o clima da reunião e até detectar comportamentos reprováveis de varões. Mulheres têm um sentido apurado para perceber nuances de comportamento. Um irmão que viajava pelo mundo visitando assembleias, há alguns anos foi colocado fora de comunhão por introduzir, de forma sutil, doutrinas místicas e estranhas em seu ministério. Recentemente, quando eu relembrava o caso em conversa com uma irmã anciã, ela me disse: “A irmã Fulana foi a primeira pessoa que me alertou sobre o que ele estava fazendo, antes mesmo que os irmãos da assembleia detectassem o mal”.

Ainda que uma irmã não possa intervir diretamente e de forma audível nas reuniões da assembleia, ela pode levar suas impressões ao marido ou a um irmão responsável, caso seja solteira. Uma mulher calada nas reuniões, porém com um bom conhecimento das Escrituras, pode detectar erros no que está sendo ministrado. Priscila devia conhecer as Escrituras melhor que Áquila, seu marido, e talvez seja esta a razão de seu nome vir antes no auxílio dado a Apolo em Atos 18:25.

A passagem dá a entender que o discernimento de que Apolo não estava correto em seu ensino veio de Priscila e Áquila conjuntamente. Ali nós a vemos em seu lugar de submissão ao marido, não só detectando o equívoco do recém convertido Apolo, mas em sujeição a seu marido, auxiliando na exposição das Escrituras. “Ele [Apolo], começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, [Priscila e Áquila] lhe expuseram o caminho de Deus”.

É um erro terrível desestimular e desencorajar as irmãs só porque a ordem das reuniões da assembleia exige que guardem silêncio naquele momento em particular. Qualquer um sabe o quanto mulheres têm uma percepção aguçada das coisas e o tanto que muitas delas se empenham em oração, principalmente por serem mais sensíveis às necessidades e dificuldades da família e dos irmãos. Reparou que quem supria com seus bens as necessidades do Senhor eram mulheres? “Maria, chamada Madalena, … e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens”(Lc 8:2-3).

Pouco antes da formação da igreja encontramos os apóstolos e discípulos do Senhor reunidos e o Espírito fez questão de frisar a presença das mulheres. “ E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam, Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelador, e Judas, de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1:13-14).

Em Atos 2, quando o Espírito Santo desceu, estavam TODOS reunidos e certamente as irmãs estavam ali também. Uma assembleia tem muito a perder quando perde de vista a importância das irmãs na manutenção do equilíbrio. Talvez devêssemos nos lembrar com maior frequência deste conselho de Deus a Abraão, que mostrava que naquele momento e circunstância Sara estava em melhor sintonia com os planos de Deus:

Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua semente” (Gn 21:12).

Sempre que encontramos na Palavra de Deus uma ordem simples como a de 1 Coríntios 14 para que as irmãs permaneçam em silêncio durante as reuniões da igreja, surgem duas vertentes extremas: a dos que acham que aquilo era machismo e a dos que extrapolam o ensino e desprezam as mulheres proibindo que façam até aquilo que a Bíblia ensina claramente fazer parte do ministério delas. Além do episódio de Naamã, quando uma jovem serva é quem encaminha o grande general gentio a um profeta de Israel para ser curado, existe outro muito encorajador, e neste até o nome da menina é mencionado:

Então, Pedro [que tinha acabado de ser milagrosamente liberto da prisão], caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico. Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam. Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era; reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão. Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era. Então, disseram: É o seu anjo. Entretanto, Pedro continuava batendo; então, eles abriram, viram-no e ficaram atônitos” (At 12:11-16).

Faz lembrar a história da população de uma pequena aldeia de agricultores que enfrentava uma terrível seca. Num certo dia todos foram convocados a ir ao campo para orar a Deus por chuva. Entre eles foi uma garotinha levando sua sombrinha e suportando a zombaria dos outros. Será que ela não viu que não tinha uma nuvem no céu? Foi a única que voltou para casa com a roupa seca.


Meu filho que tem paralisia cerebral pode ser batizado?

Não vejo nenhuma restrição na Bíblia a você batizar seu filho, mesmo que ele não entenda por ter sofrido paralisia cerebral durante o parto. Eu batizei meu filho que tem paralisia cerebral, quando nós o adotamos aos quatro anos de idade. O batismo não salva, mas coloca a criança a salvo, no sentido de introduzi-la na esfera cristã. Quem não é batizado é pagão. O importante não é quem batiza ou onde a pessoa é batizada, mas a quem ela é batizada, isto é, a Cristo.

Leia Efésios 4:4-6 de trás para frente e, para entender, imagine que o texto esteja falando de três círculos da humanidade, A-B-C, um dentro do outro, como você se estivesse estudando a teoria dos conjuntos que aprendeu no ginásio:

A)Um só Deus e Pai [no sentido de Criador] de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.”(Ef 4:6) — Este é o círculo ou conjunto maior da Criação que inclui pagãos, cristãos professos e cristãos salvos.

B)Um só Senhor, uma só fé, um só batismo”(Ef 4:5) — Este círculo médio, dentro do maior, inclui todos os cristãos nominais e os salvos, mas não os pagãos. Pessoas que reconhecem que Cristo é Senhor, professam uma mesma fé cristã e foram batizados no batismo cristão.

C)Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação”(Ef 4:4) — Este círculo menor, dentro dos outros dois, inclui apenas os salvos por Cristo, pois são membros de seu Corpo e habitados pelo Espírito Santo.

O batismo tira a pessoa do círculo A da Criação e a coloca no B dos que levam sobre si o nome de Jesus, o que se recebe pelo batismo. Mas isto apenas não salva, a menos que a pessoa creia em Jesus como Salvador, o que a leva para o círculo C onde estão apenas os membros do corpo de Cristo, do qual ele é a Cabeça. O convertido passa a fazer parte do círculo C quando é salvo por Jesus.

Eu não quis deixar meus filhos entre os pagãos do círculo A e tratei logo de introduzi-los na esfera cristã, pois este é um princípio que encontro em figura ao longo das Escrituras e associado ao batismo. Será que Noé teria deixado para trás algum neto por ser criança ou sofrer de paralisia cerebral? No entanto aquela água toda que inundou o mundo era uma figura do batismo : “…quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; que também,como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo,não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:20).

Quando Moisés atravessou o mar será que deixou para trás crianças e deficientes? E a travessia do mar é figura do batismo. “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar.E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (1Co 10:1-2).

Antes que você retruque, NÃO, a Bíblia não ensina batismo de crianças, mas SIM, a Bíblia fala de batismo de famílias inteiras, e isso incluía até os servos ou escravos. “E, depois que [Lídia] foi batizada, ela e a sua casa … e logo [o carcereiro] foi batizado, ele e todos os seus… E batizei também a família de Estéfanas”(At 16:15,33; 1Co 1:16).


Os judeus hoje adoram em verdade?

Não. Os judeus adoravam em verdade no passado, mas hoje não pois rejeitaram a Cristo. Quando a mulher samaritana disse a Jesus “vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar”, ele respondeu: “Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós [samaritanos] adorais o que não sabeis; nós [judeus] adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4:20-23).

Os judeus adoravam em verdade, mas não em espírito. Se Jesus não reconhecesse como verdade o sistema de adoração do judaísmo até aquele ponto ele nunca teria dito aos leprosos curados: “Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes”(Lc 17:14). Nem teria ele incentivado o dízimo (Lc 11:42), que fazia parte das ordenanças da Lei. Também não teria expulsado os vendedores do Templo, que ele reconhecia como a casa de Deus. Tampouco teria dito a eles: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem”(Mt 23:2-3). Jesus não incentivaria seus discípulos a coadunarem com uma mentira. Ele teria descartado totalmente aquele sistema de adoração, como acabou fazendo mais tarde culminando com a destruição do Templo.

Mas ali tudo estava para mudar, portanto é um erro sim dizer que hoje os judeus adoram em verdade, por mais que sigam as ordenanças da Lei (o que nem sequer conseguem fazer corretamente, pois já não têm um Templo e nem sacerdotes e nem sacrifícios). Hoje para adorar “em espírito e em verdade” é preciso, primeiro, ser um “verdadeiro adorador”, como Jesus chamou. E como alguém se torna um verdadeiro adorador?

W. T. P. Wolston define assim:

Não existe uma adoração verdadeira a menos que conheçamos a Deus Pai como Ele foi revelado no Filho; somos dependentes exclusivamente do Filho, o Senhor Jesus, para o conhecimento do Pai. “A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai.” Mas quem são os verdadeiros adoradores?’ — você pergunta. Ninguém é um verdadeiro adorador a menos que seja capaz de assumir o seu lugar de forma consciente em um relacionamento com o Pai, conforme revelado no Filho, pelo Espírito do Filho habitando nele.

Essa é uma afirmação mais abrangente’ — você dirá. Não nego isso. Você negaria? Apenas lhe pergunto: Você sabe o que é adoração? Talvez você responda, ‘Pensei que fosse uma ação de graças.’ De modo nenhum. A ação de graças é algo correto e muito abençoado de se fazer. É ótimo dar graças, mas graças são dadas por benefícios recebidos. Será isso adoração?

Quando você chega em casa após uma ausência de alguns dias, e ao entrar em sua casa o seu cão vem saltando ao seu encontro, correndo em volta de você, e mostrando a sua profunda alegria por seu retorno, seria isso ação de graças? Não. Você não deu nada a ele, para que em troca lhe dê graças. Então o que é? É o deleite daquela criatura em você. Isto é adoração. A adoração é o transbordar do coração para com aquele que o encanta e o preenche. Se assim posso colocá-lo, é o transbordamento do copo cheio. O coração, quando preenchido pelo sentimento do que Deus é, revelado pela mais pura graça como o Pai na Pessoa do seu Filho, transborda em adoração.

Portanto, para ser um verdadeiro adorador você não só deve ser nascido do Espírito de Deus, e assim ter uma natureza que se deleita em Deus, mas precisa possuir também o Espírito Santo habitando em você no poder de relacionamento e alegria, por meio do que esta adoração flui para Deus, o Pai.

Observe com atenção que o Senhor fala aqui de “verdadeiros adoradores”. Isto não é uma questão de forma. Você pode ter tudo o que a mente mais estética poderia desejar: um edifício adequado, parafernália sacerdotal pomposa, atmosfera permeada de incenso, vitrais coloridos criando uma atmosfera religiosa, música em perfeição e todo um ritual, e ainda assim — ah! que pensamento solene este para milhões de professos da cristandade! — ser totalmente desprovido de tudo o que é necessário você ser para que o Senhor o chame de ‘verdadeiro adorador’. Que ninguém se engane. A menos que você seja nascido de Deus, e tenha a consciência desse relacionamento pela habitação do Espírito de Deus, você não possui a capacidade para a verdadeira adoração. — “Verdadeiros Adoradores” - W. T. P. Wolston.


Quem foi Diótrefes?

Não temos muita informação sobre Diótrefes, citado por João em sua terceira e breve epístola. O que temos são estas palavras: “Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida. Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja” (3Jo 1:9-10).

O nome “Diótrefes” significa “alimentado por Júpiter”, o que não deixa de ser interessante, considerando que Júpiter é o maior planeta do sistema solar e na mitologia era considerado o deus dos céus e dos trovões, além de rei dos deuses. Do pouco que João fala dele é possível perceber que era alguém que queria para si o pedestal, um homem ambicioso, orgulhoso, rebelde, nada hospitaleiro e que não respeitava a autoridade apostólica, o que equivalia a não aceitar a autoridade do Senhor na assembleia.

Os apóstolos (que já não existem) eram delegados diretos do Senhor. Diótrefes não apenas deixava de acolher os irmãos — ou acolhia só quem se submetesse a ele —, mas expulsava os que demonstrassem hospitalidade. Tudo isso pode ser resumido em poucas palavras: Diótrefes era um clérigo ditador.

Nas epístolas dos apóstolos encontramos diferentes situações que naquele momento eram apenas embriões de problemas maiores que acabariam por fincar o pé na cristandade ao longo dos séculos. Paulo repreendeu os irmãos de Corinto por estarem nutrindo preferências por irmãos, como se desejassem criar partidos seguindo a diferentes líderes. O nome que o apóstolo deu a isso foi “carnalidade”. Portanto, alguns “Diótrefes” da cristandade surgiram porque os próprios cristãos queriam ter uma canga sobre o pescoço e alguém que lhes ordenasse o que fazer, ao invés de se deixarem guiar pelo Espírito. A situação é parecida com a de Israel quando pediu um rei, desprezando a direção de Deus por meio dos profetas. Aos Coríntios Paulo escreveu:

Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?… Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?” (1 Co 1:10-13; 3:3-5).

Em outra epístola o apóstolo alerta os Gálatas contra alguns judaizantes que pregavam um evangelho de boas obras para colocá-los debaixo do jugo da lei. Os coríntios queriam andar “segundo os homens”, os gálatas “segundo a Lei”. Paulo chamou a isso de “outro evangelho” e o chamou de “anátema” ou “maldito”. Sempre que tiramos o Senhor como o centro de nossas atenções e o Espírito Santo como nosso dirigente precisamos colocar algo no lugar, ou homens ou regras.

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema… E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós” (Gl 1:6-8; 2:4-5).

Antes de sua partida, Paulo alertou os anciãos de Éfeso a respeito dos lobos que tentariam entrar no rebanho para destruí-lo, uma ameaça externa como sempre houve no cristianismo. Mas alertou também de homens dentre eles próprios que iriam querer atrair discípulos torcendo o significado das Escrituras: “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”(At 20:29-30).

Partidarismo, legalismo e clericalismo seriam alguns dos perigos que viriam sobre o testemunho de Deus na terra, e em nossos dias basta olhar em redor para ver que tudo isso permeia a cristandade.“Diótrefes, que procura ter entre eles o primado” é a personificação de tudo isso. Ele arrebanha os que concordam com ele e exclui os que discordam; acrescenta uma certa dose de legalismo julgando as coisas segundo um padrão que é seu, pois rejeita aqueles que os irmãos consideravam aptos à comunhão, “não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja”. Diótrefes ali representava o embrião do clericalismo que tomou conta da cristandade e a tornou mais parecida com o judaísmo, guardado pelos muros da Lei como em um redil, do que com o cristianismo, onde Cristo no centro de todos é o que distingue sua unidade.

Para Diótrefes poder agir livremente ele precisa suprimir a autoridade do Senhor dada à Igreja. Ele precisa também desprezar a autoridade apostólica, naquele tempo em pessoa, em nossos tempos legada pela sã doutrina nas epístolas. Fazendo assim ele assume um lugar de preeminência sobre a assembleia, extinguindo a ação do Espírito que deseja usar, não apenas um homem, mas quem o Espírito Santo quiser. Sim, Diótrefes é aquele que impede a liberdade do ministério cristão, um bombeiro pronto a “extinguir o Espírito”(1Ts 5:19). Tudo precisa estar centrado nele e ser feito conforme a sua vontade e determinação. O clericalismo de Diótrefes resiste à ação do Espírito e coloca completamente de lado a ordem estabelecida por Deus para o funcionamento da assembleia local.

O apóstolo João critica duramente Diótrefes e seu comportamento com estas palavras: “Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja”(3 Jo 1:10). João diz isso particularmente a Gaio porque aparentemente já tinha enviado uma carta à assembleia, mas ela teria sido interceptada por Diótrefes. “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe”(3Jo 1:9). Não há como se comunicar com uma assembleia onde há um Diótrefes, por isso a ação do apóstolo terá de ser em pessoa, algo temeroso se nos lembrarmos do poder dos apóstolos em julgar casos como o de Ananias e Safira.

Eu não diria que todo clérigo ou ministro ordenado na cristandade institucional tenha esse espírito de Diótrefes. Existem muitos que estão sinceramente interessados na glória do Senhor e empenhados em apascentar as ovelhas de Cristo. Por desconhecerem algumas verdades vivem dentro de seus sistemas religiosos, sujeitando- se às normas e dogmas ditados por um governo central, e sem desfrutarem plenamente da liberdade do Espírito em suas reuniões ou permitir que outros desfrutem. Também perdem de vista a importância que Deus dá ao Nome de Cristo como único centro de reunião, e ao Espírito como único Dirigente do ministério múltiplo praticado entre os santos.

O que aprendemos da menção feita a Diótrefes na carta de João é que todo aquele que ocupa esta posição ministerial de preeminência está em direta oposição ao propósito da Palavra de Deus. Diótrefes não pode manter tal posição e ao mesmo tempo ser receptivo para com os irmãos. Tampouco pode um clérigo ou ministro manter sua posição e ao mesmo tempo receber os irmãos como dons de Cristo para serem usados pelo Espírito Santo na igreja com a liberdade que este quer. “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados”(1Co 14:31).

Um Diótrefes eventualmente irá aprovar e autorizar algo ou o ministério de algum irmão, mas fará isso no mesmo espírito do Vaticano com seu “Imprimatur” ou autorização de impressão. Quem estudou a história do Brasil a fundo descobriu que até uma certa época os livros só podiam ser publicados se autorizados pelo Vaticano. Desde a Inquisição os países católicos eram submetidos ao “Índex”, uma lista de livros proibidos de circular. Isso foi extinto só em 1966. Antes do “Imprimatur”, que era dado por um bispo, o livro passava por diferentes censores que davam o “Nihil obstat” (‘nada contra’), o “Imprimi potest” (‘pode ser impresso’) e, finalmente, o “Imprimatur”. Isso nada mais era que a famosa “carteirada” que alguns clérigos até hoje usam para impor sua autoridade ou candidamente manterem seus seguidores sob controle “aprovando” o que estão lendo.

Uma visão ampla desta terceira epístola de João nos mostra mais do que os poucos versículos que falam diretamente de Diótrefes. Ao falar de Gaio, e de como ele andava na verdade, e do testemunho que os irmãos davam acerca dele, e também de Demétrio, de quem todos davam testemunho, “até a mesma Verdade” (3 Jo 1:12), o apóstolo lança a luz de um potente farol sobre a assembleia que, por contraste, acaba revelando ainda mais a região de trevas que cercava Diótrefes e eventualmente seus simpatizantes.

De Gaio o apóstolo diz: “Procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram do teu amor”(3Jo 1:15). Isto demonstra não apenas os atos de amor de Gaio para com os irmãos e os visitantes ou novatos — chamados aqui de “estranhos” — mas apresenta um contraste com o modo de proceder de Diótrefes e sua falta de hospitalidade, não só para com os irmãos, mas para com os que se aproximam da assembleia interessados na verdade. Diótrefes não gosta de concorrência.

Outra característica da impiedade de Diótrefes você encontra embutida no que João fala no versículo 10: “Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas”. A expressão “palavras maliciosas” é o que hoje costumamos chamar de “fofoca”, qualquer tipo de comentário depreciativo para rebaixar ou denegrir um irmão. Quem não consegue ser alguém, precisa desqualificar quem é. Um Diótrefes que não quer competição nem sequer dos apóstolos do Senhor precisa inventar ou distorcer fatos para permanecer na preeminência de seu pedestal. Diótrefes se agarra ao cajado e sente ciúme daquilo que considera seu; não deixa ninguém se aproximar. Se você conhece o meio religioso hoje, sabe o quanto um clérigo se comporta assim quando se sente ameaçado.

Paulo descreve bem o tipo em sua Segunda Epístola a Timóteo, e é bom lembrar que o capítulo 3 da segunda carta continua o assunto do capítulo 2, que fala da “grande casa” da cristandade professa. O apóstolo descreve assim os homens que tomariam de assalto a cristandade e fincariam bandeira de líderes para dominar sobre os demais irmãos, aos quais chamariam de “leigos”:

Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Tm 2:2- 5).

Quão contrária é a atitude de Diótrefes quando comparada ao ensino do Senhor aos seus discípulos! “Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; e qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10:42-45).

Se pudesse resumir o assunto das duas últimas epístolas de João, eu diria que em ambas o assunto é a verdade. Em 2 João ele fala do cuidado de não receber aqueles que não trazem a verdade, que negam as doutrinas cardeais acerca da Pessoa de Cristo e sua divindade. Em 3 João ele fala de receber os que trazem a verdade. Comparando com o último discurso de Paulo aos anciãos de Éfeso em Atos 20:29-30, poderíamos pensar na segunda epístola como um alerta contra os lobos que querem destruir o rebanho, e a terceira contra os que buscam exercer a primazia e roubar para si o rebanho.

Em ambas João se apresenta como “presbítero”(2Jo 1:1; 3Jo 1:1), palavra que significa “_supervisor”_ou “zelador”, provavelmente por estar escrevendo no caráter de alguém que zela pelo rebanho. Afinal, lembre-se de que sua tentativa de escrever à assembleia na qualidade de apóstolo foi frustrada pelo próprio Diótrefes. Mas sabemos que os bispos ou presbíteros não eram ofícios universais, como são os dons, mas apenas locais. Por isso, quando ele diz que iria tratar pessoalmente com Diótrefes, isso certamente não seria no caráter de presbítero, mas de apóstolo, um dom universal e reservado àqueles que haviam andado com o Senhor antes e depois da ressurreição.

Um apóstolo tinha uma autoridade e poder que nenhum cristão hoje tem. Ele podia entregar a Satanás, para a destruição da carne, o irmão que estivesse em pecado grave. Pedro fez isso com Ananias e Safira; Paulo indicou essa solução para o homem de 1 Coríntios 5:5. Também entregou a Satanás para que fossem mortos Himeneu e Alexandre (1Tm 1:20), provavelmente em razão da má doutrina que estavam disseminando, talvez esta também com Fileto: “os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns”(2Tm 2:18). E isto nos leva à seguinte questão: o que fazer com um Diótrefes quando se levanta numa assembleia de irmãos em uma época quando não existe um apóstolo para cuidar do caso?

Uma das coisas importantes que aprendemos quando passamos a congregar ao nome do Senhor é que uma assembleia não interfere nas questões de outra, pois a presença do Senhor no meio e do Espírito dirigindo são suficientes. Eventualmente irmãos podem ser individualmente convidados a ajudar quando solicitados. Temos convicção de que o Senhor é capaz de resolver as questões que surgem numa assembleia porque ele é Cabeça da assembleia e está acima de tudo, até dos que insistem em tomar a liderança, como Diótrefes. Quando isso acontece, a assembleia deve apelar diretamente ao Senhor. Se nos tempos apostólicos existia esse dom universal de apóstolo, que não estava limitado a agir dentro da esfera de apenas uma assembleia, hoje não existe uma instância superior à qual apelar, além do Senhor.

Quando você lê a terceira epístola percebe que João não manda os irmãos tomarem alguma iniciativa. Ali ele exorta os irmãos a aguardarem até que ele fosse lá ver o que devia fazer. Não temos um apóstolo hoje, mas temos o mesmo Senhor que usava os apóstolos e ele certamente está ciente de tudo o que acontece numa assembleia onde um Diótrefes intercepta a Palavra inspirada através dos apóstolos e finca seu estandarte de posse.

A assembleia não deve agir fora do que está nas Escrituras. Sabemos como a assembleia deve agir no caso de um pecado moral, como o de 1 Coríntios 5 para o qual devia agir colocando fora de comunhão o culpado. O mesmo capítulo nos dá pistas de outros pecados que podem estar sujeitos a uma ação disciplinar da assembleia, apesar de não ser uma lista conclusiva: “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais”(1Co 5:11). Destes pecados talvez o único que poderia caber em Diótrefes seria o de “maldizente”.

Mas aí vem um problema: como agir de forma disciplinar contra uma pessoa que sequestrou para si a assembleia? Diótrefes devia ter simpatizantes e qualquer tipo de enfrentamento acabaria por causar uma divisão na assembleia. Quando temos uma situação bem detalhada, como esta de Diótrefes, mas nenhuma solução apresentada pela Palavra, o melhor é fazer como Gaio e Demétrios estavam fazendo: simplesmente andando na verdade e aguardando uma intervenção apostólica. A Verdade, na qual eles andavam prevaleceria. O antídoto era agir exatamente de maneira oposta a Diótrefes, e nisso Gaio é parabenizado:

Porque muito me alegrei quando os irmãos vieram, e testificaram da tua verdade, como tu andas na verdade. Não tenho maior gozo do que este, o de ouvir que os meus filhos andam na verdade. Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram do teu amor; aos quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem farás; porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios. Portanto, aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade” (3Jo 1:3-8).

Como hoje não temos apóstolos para uma intervenção direta, devemos aguardar uma intervenção direta do Senhor. Se alguém tenta tomar as rédeas da situação sempre corre o risco de atropelar as coisas e atrapalhar a ação do Espírito Santo de Deus, principalmente por não poder fundamentar sua ação em uma, digamos assim, “jurisprudência bíblica”. Tudo o que se pode fazer é orar e sentir pena daquele que assumiu o controle dos irmãos, pois lá na frente terá de tratar com o Senhor da assembleia.

Quando oramos entregamos nas mãos do Senhor e descansamos nele. Se de um lado existe alguém agarrando a assembleia como se fosse sua, de outro não pode haver quem se sinta pessoalmente ofendido com isso, ou também estará tentando lidar com o assunto como se fosse dono da assembleia. Agir como mera reação ao mal pode nos colocar fazendo a mesma força do oponente, só que em sentido contrário.“Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus”(3Jo 1:11).

Judas, em sua epístola, nos fala da “_contradição”_ou “revolta de Coré”(Jd 1:11). Ao ler o capítulo 16 de Números você encontra Coré, com Datã e Abirão, questionando a liderança de Moisés e o sacerdócio de Aarão. Ele queria usurpar o lugar de autoridade e intercessão sacerdotal instituídos por Deus, representado ali por Aarão e Moisés, tornando-se um intermediário não autorizado entre Deus e os homens. Em certo sentido é o que Diótrefes tenta fazer ao desafiar a autoridade apostólica.

Hoje não temos Moisés, Aarão ou um dos apóstolos para lidar com quem sequestra a autoridade do Senhor na assembleia, mas temos a Cristo. Qualquer homem que se coloque como intermediário entre Deus e os homens está agindo como Coré e seus seguidores, que tiveram um fim terrível.

A terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação. E todo o Israel, que estava ao redor deles, fugiu ao clamor deles; porque diziam: Para que não nos trague a terra também a nós” (Nm 16:31-34).

Hoje estamos no dia da graça e não devemos esperar uma solução tão dramática como aquela, com a terra literalmente se abrindo sob os pés de um Diótrefes que queira usurpar o domínio. Mesmo naquele tempo em que Deus agia com notório rigor ele também agia em graça, pois mais tarde encontramos os descendentes de Coré entre os salmistas que Deus levantou para o louvor no culto a Deus. Mas certamente Deus fará aquele que se coloca como um Diótrefes “perder o chão”, como costumamos dizer, recebendo diretamente de Deus a disciplina por sua pretensão. Enquanto isso Gaio e Demétrios apenas aguardam em temor e oração pelo tempo de Deus.


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