Bruce Anstey

PERGUNTAS Que Jovens Fazem sobre o Verdadeiro Terreno de Reunião para os Cristãos - Volume II

PERGUNTAS Que Jovens Fazem sobre o Verdadeiro Terreno de Reunião para os Cristãos - Volume II

Boas Perguntas que Merecem Boas Respostas

Bruce Anstey

PERGUNTAS QUE JOVENS FAZEM SOBRE O VERDADEIRO TERRENO DE REUNIÃO PARA OS CRISTÃOS – VOL IIBoas Perguntas que Merecem Boas Respostas

Bruce Anstey

Originalmente publicado por:

CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING

9-B Appledale Road

Hamer Bay (Mactier) ON P0C 1H0

CANADÁ

christiantruthpublishing@gmail.com

Título do original em inglês: QUESTIONS Young People Ask Regarding the Ground of Gathering for Christians - Good Questions That Deserve Good Answers – Volume II

Segunda edição em inglês – abril 2011 – v.2.1

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.

atendimento@verdadesvivas.com.br

Primeira edição em português – março 2020

e-Book v.1.0

Abreviaturas utilizadas:

ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969

ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993

TB – Tradução Brasileira – 1917

ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994

AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967

JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby

KJV – Tradução inglesa King James

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.

PREFÁCIO

Os comentários/perguntas contidos nesta publicação foram baixados da internet e encaminhados a nós com um pedido para que fossem respondidos com base na Escritura.

Confiando que temos a mente do Senhor ao assumir esta tarefa, notamos imediatamente que eles são de um espírito diferente daqueles contidos no primeiro volume de “Perguntas”. Pouquíssimas das observações que recebemos estão na forma de perguntas; estão mais para afirmações e julgamentos. Isso nos faz pensar se as pessoas que as fizeram estão realmente buscando a verdade. Tendo afirmado no subtítulo do livro que o nosso objetivo é responder “boas” perguntas, esperamos que estas perguntas sejam somente isso. Se elas vêm de “um coração honesto e bom” (Lc 8:15), são boas perguntas. Como o amor “tudo crê” e “tudo espera” (1 Co 13:7), esperamos e oramos para que haja de fato, em cada um que fez as observações, um espírito honesto e suscetível de ensino.

Alguns dos comentários/perguntas foram condensados para o propósito desta publicação, porém procuramos preservar as mesmas palavras o máximo possível, para não deturpar aquilo que as pessoas escreveram (Mt 12:27).

Abril de 2010

INTRODUÇÃO

É algo bom examinar e detalhar as coisas relacionadas com os princípios da ordem e do funcionamento da assembleia, para chegarmos a uma conclusão bíblica a respeito do terreno de reunião. A Bíblia diz que os bereanos eram “nobres” porque “de bom grado [com prontidão de espírito – JND] receberam a Palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:11). O que se mostrou tão louvável neles é que eles “receberam a Palavra” antes de examiná-la nas Escrituras. Isso mostra que sua fé enxergou Paulo e Silas como mensageiros enviados por Deus e, portanto, eles prontamente receberam o que disseram. Quando examinaram aquelas coisas nas Escrituras, eles descobriram que aquilo que sua fé já tinha aceitado daqueles homens era verdade.

É triste dizer, mas hoje não vemos muito o espírito dos bereanos entre os Cristãos. As pessoas geralmente querem contestar e argumentar sobre vários pontos da doutrina antes de recebê-la. E, mesmo assim, tem que ser uma declaração literal da Escritura – um princípio da Palavra de Deus não é o bastante. Não estamos sugerindo que as pessoas devam confiar cegamente em tudo o que lhes é dito, mas a Bíblia diz, “sabendo de quem o tens aprendido” (2 Tm 3:14). Nosso ponto aqui é que Deus levanta homens com dons para nos trazer a verdade (Ef 4:11-14), e precisamos estar em um estado espiritual (como os bereanos estavam) para reconhecer isso e receber o que eles têm para nos dar. Quando conhecemos aqueles que nos têm dado a verdade, devemos ter fé para aceitá-la prima facie1 e, em seguida, diligentemente examinar as Escrituras. Este é um espírito louvável de se ter ao buscar a verdade.

A Escritura diz: “Compra a verdade e não a vendas” (Pv 23:23). Não há melhor momento para fazer isso do que quando somos jovens. A Escritura também indica que devemos “receber com mansidão a Palavra em vós enxertada” (Tg 1:21). Significa que a humildade é muito necessária nesse exercício. Porém, ao olhar os comentários e perguntas que recebemos, nós nos perguntamos se eles são de pessoas que estão realmente procurando “comprar a verdade”, pois o espírito de “mansidão” parece estar faltando. Há mais um espírito de contestação do que espírito de investigação.

Uma rápida olhada no índice permitirá que o leitor perceba que a maioria (se não a totalidade) das queixas que as pessoas têm a respeito da verdade da reunião giram em torno de Mateus 18:20. Parece que a coisa toda é um ataque direto a esse versículo. Talvez o subtítulo deste livro devesse ser “Respostas aos Ataques a Mateus 18:20”. É preocupante saber que alguns dos comentários e perguntas são de mais velhos que foram expostos à verdade de reunião e aparentemente a abraçaram por anos. Era de se esperar que eles tivessem essas coisas bem resolvidas na mente há muito tempo. E o que é ainda mais perturbador é que eles têm agido um tanto como o velho profeta de Betel (1 Rs 13), incentivando os mais jovens em sua oposição à verdade. Pode ser que esses mais velhos já tivessem esses questionamentos há algum tempo e fiquem felizes em ouvi-los externados pela geração mais nova. Mas ao incentivar esse tipo de coisa, eles poderiam muito bem “perverter [derrubar – JND] a fé de alguns” (2 Tm 2:18) em coisas que “certamente são cridas entre nós” (Lc 1:1 – KJV).

O que piorou as coisas é que irmãos bem-intencionados que defendem a verdade tentaram responder a algumas dessas perguntas e queixas, mas sem querer fizeram afirmações insensatas e imprudentes. Isso só agravou o problema e frustrou os irmãos mais jovens que estão procurando respostas. Estamos conscientes de que poderíamos fazer o mesmo. Portanto, nos sentimos muito dependentes do Senhor ao abordar este segundo volume de Perguntas.

Temos consciência de que pode haver alguns, em cujas mãos este livro cairá, que não possuem o desejo de aprender a verdade de reunião e podem aproveitar um erro não intencional (imaginário ou real) e ampliá-lo na tentativa de anular a verdade. Mas, ao fazê-lo, eles apenas manifestam o seu verdadeiro espírito. A velha rima, “Um homem convencido contra sua vontade ainda mantem sua opinião como sendo a verdade”2, é tão verdadeira hoje como era quando foi escrita muito tempo atrás. Portanto, não queremos ser atraídos para discussões carnais com aqueles que estão insatisfeitos e não querem a verdade.

Provérbios 26:4 diz: “Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também te não faças semelhante a ele”. Entendemos que não devemos responder a esse tipo de pessoa no mesmo espírito em que ela faz as suas contestações carnais; fazê-lo seria descer a seu nível. Mas o próximo provérbio diz: “Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus olhos” (Pv 26:5). Isso nos diz que deixar declarações insensatas e ignorantes passarem incontestes sem refutação apenas fortalece o tolo em sua autoconfiança. Essa é uma das razões pela qual este segundo volume está sendo agora publicado. Uma razão maior, é claro, é que gostaríamos de ajudar aqueles que querem a verdade.

Portanto, procuraremos, com o máximo de nossa capacidade, declarar a verdade e deixá-la para aqueles que a desejam. Esperamos que o Senhor faça com que estas coisas sejam boas para a alma de cada um que busca com sinceridade.

CAPÍTULO 1

A Suposta “Distorção” de Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Alguns tentaram distorcer Mateus 18:20 para dar a entender que é o Espírito que reúne, o que causou uma grande confusão. Se você ler o capítulo, você vai descobrir que o Espírito Santo não é mencionado, nem mesmo aludido. Alguns tentaram justificar a ausência de qualquer menção do Espírito Santo, dizendo que é porque Ele é “manso e humilde” (o que é verdade) e traz toda a atenção para Jesus (o que também é verdade). No entanto, isso é uma justificação. Se Jesus pretendia dizer que é o Espírito que reúne um grupo seleto de Seus filhos, então podemos ter inteira confiança de que é isso o que Ele teria dito. A Palavra de Deus nunca nos deixará em dúvida se procurarmos orientação d’Ele para entendê-la. A dúvida só surge quando os homens começam a falar que a Bíblia não quer dizer realmente o que ela diz. Assim que começamos a fazer comentários como esse, lançamos dúvidas sobre a Palavra de Deus. Se não podemos confiar na Palavra de Deus, em que podemos confiar?

RESPOSTA: Em primeiro lugar, o “alguns” a que essa pessoa está se referindo – mas não menciona – são J. N. Darby, W. Kelly, C. H. Mackintosh, F. G. Patterson, J. A. Trench, W. Potter, H. Smith etc. (citações reais deles podem ser dadas para comprovar isso). Esses eram homens de Deus conhecidos por sua piedade e discernimento espiritual; muitos deles eram estudiosos do grego. Eles eram mestres dotados dados à Igreja por Cristo, a Cabeça, para aperfeiçoar o entendimento dos santos sobre a revelação divina. Se dermos a devida atenção ao ministério deles, seremos estabelecidos na verdade, e não seremos levados ao redor por “todo o vento de doutrina” que aparece (Ef 4:11-14).

É geralmente aceito (e não apenas em círculos dos “Irmãos”) que esses homens, e outros, foram especialmente levantados e usados por Deus para recuperar à Igreja a verdade que estivera perdida por mais de 1.500 anos. Se isso é verdade (e cremos que é), é difícil acreditar que pessoas agora estejam dizendo que aquilo que esses homens ensinaram não está correto. Não estamos dizendo que eles sejam infalíveis. Nem se trata de uma situação em que um deles tenha feito uma declaração questionável em algum ponto e os outros não concordam com ele – todos eles, concordes, ensinam a mesma coisa sobre este assunto! Sendo assim, deveríamos confiar no conhecimento e julgamento espiritual de alguns jovens insatisfeitos em vez de confiar no que foi ensinado por esses instruídos e dotados mestres? Acusar o Sr. Darby e os demais de “distorcerem” as Escrituras é uma alegação ousada. E nos colocarmos como sendo suficientes para criticar, e posteriormente condenar, o ministério desses homens é algo presunçoso. Se forem verdadeiras, essas alegações lançam uma séria dúvida se Deus levantou esses homens e se houve sequer uma recuperação da verdade.

Um Cristão amigo nosso, que se inscreveu no Seminário Teológico de Dallas anos atrás, disse que no dia de abertura do ano letivo o diretor se dirigiu a todo o corpo estudantil. Em seus comentários, ele disse que, “além dos apóstolos, na história da Igreja houve dois homens que foram especialmente usados por Deus para ajudar a Igreja, pelos quais devemos ser gratos. Um deles é Martinho Lutero e o outro é John Nelson Darby!” Essa afirmação veio de um homem que não seguia a eclesiologia3 de Darby, mas de fato reconhecia o seu dom e a sua espiritualidade. Ainda assim, entre os congregados ao nome do Senhor, há evidentemente aqueles que não pensariam duas vezes em denegrir o Sr. Darby. Comentários depreciativos já foram feitos com esse fim. É de se perguntar quem pensamos que somos para dispensar os ensinamentos desses homens dotados que Deus usou para trazer tanta verdade preciosa para a Igreja (1 Tm 5:17; Hb 13:7)? Diante desse tipo de oposição, o próprio Sr. Darby disse, “A ignorância é ousada porque é ignorante”, ou seja, podemos fazer declarações ousadas em assuntos “onde os anjos temem pisar” por sermos ingênuos. Nós nos perguntamos se esse é o caso aqui com esta primeira pergunta/comentário. Não seria melhor assumir uma posição de humildade sobre o assunto, e recorrer ao Senhor em busca de esclarecimento e respostas? Abordar o assunto com um espírito de investigação é muito mais louvável, especialmente quando se é jovem.

Cada um de nós precisa se perguntar: “Eu acredito que houve um movimento de Deus para recuperar a verdade para a Igreja nos anos 1800?” Se tivermos assumido nosso lugar em comunhão com aqueles que procuram sustentar o que foi recuperado por esse movimento de Deus, presumimos que a resposta seja “sim”. Nossa pergunta então seria: “Se cremos que Deus levantou homens para recuperar a verdade para a Igreja, então por que não aceitamos o que eles ensinaram?” Assumir um lugar entre aqueles reunidos sob tais princípios, e mesmo assim se opor a essas coisas, parece uma tremenda hipocrisia. Se não cremos nos princípios sob os quais estamos reunidos, por que estamos em tal posição, afinal? O que as pessoas pensariam de alguém declaradamente contrário ao nazismo, mas que fosse membro de carteirinha do Partido Nazista? Ou o que pensariam de alguém categoricamente contrário a armas e que frequentemente protestasse contra elas, mas que pertencesse a um clube de armas? Seríamos obrigados a dizer que se trata de alguém extremamente incoerente com suas crenças, e ninguém o levaria a sério.

É ilógico alguém se virar e atacar os princípios de Mateus 18:20, quando está associado àqueles que se reúnem para adoração e ministério sob tais princípios. Ao fazê-lo, está suprimindo o próprio terreno em que ele se encontra eclesiologicamente! Não temos certeza se uma pessoa racional iria querer fazer isso, contudo esta parece ser a posição do autor da pergunta.

A Palavra Grega para “Reunidos”: “Sunago”

Em segundo lugar, só porque as palavras “o Espírito Santo” não são mencionadas em Mateus 18, não significa que não haja nenhuma referência à obra d’Ele na passagem. Os irmãos já mencionados nos ensinaram que a obra do Espírito Santo é aludida no versículo 20 nas palavras “estiverem reunidos [são colocados juntos – JND]. A palavra “reunidos” no grego é “sunago”, e significa “conduzir juntos” (Concordância de Strong #4863) ou “trazer juntos” (Dicionário Expositivo de Vine, pág. 482; Concordância de Wigram, pág. 712). Essa palavra está na voz passiva e indica que há um poder fora dos congregados que esteve envolvido na reunião deles nesse terreno. Esse poder de reunir só poderia ser o do Espírito de Deus, que é o Reunidor divino.

Se lidássemos com as Escrituras usando a regra (sugerida pelo autor da pergunta) de que as palavras exatas precisam estar no texto antes que uma determinada verdade possa ser vista ali, teríamos que jogar fora algumas verdades fundamentais do Cristianismo. Significaria que não deveríamos crer na Trindade porque essa palavra não se encontra na Escritura. Também teríamos de jogar fora a verdade da filiação eterna de Cristo, uma vez que essa expressão também não se encontra na Escritura etc. Seria o caso de questionar o autor da pergunta onde na Escritura é dito que o Espírito Santo é “manso e humilde”, como ele diz. Não há nenhuma passagem dizendo isso.

Não seria preciso nenhuma espiritualidade de nossa parte, no que se refere ao conhecimento da verdade, se cada princípio específico da verdade fosse escrito com declarações literais na Escritura. A mente carnal deseja um código específico para que não haja necessidade de exercício nem de o estado da alma da pessoa ser abordado. Mas Deus não escreveu Sua Palavra dessa maneira; a verdade é apresentada na Escritura de tal modo que o estado de nossa alma é constantemente testado. Um grande princípio segundo o qual Ele ensina a verdade é que deve haver disposição de nossa parte em querer a verdade (Jo 7:17). Se não estivermos dispostos, vamos deixá-la escapar.

O Senhor fala disso em Mateus 13:10-17. Antes desse capítulo, Ele não usa parábolas em Seu ministério, mas fala a verdade abertamente para o povo. Porém, depois de ser rejeitado pelas pessoas comuns (cap. 11) e pelos líderes da nação (cap. 12), ele usa “parábolas” (caps. 13-25). Elas não eram, como alguns têm pensado, para ajudar as pessoas a entender a verdade, mas para ocultá-la daqueles que a rejeitaram e, ao mesmo tempo, revelar a verdade dos “mistérios do reino dos céus” para aqueles que a queriam.

Isso mostra que o Senhor muitas vezes apresenta a verdade de uma maneira que aqueles que não a querem não a enxergam. Talvez seja este o caso em Mateus 18:20 com relação ao Espírito Santo. Parece óbvio para alguns que o versículo aponta para a obra de um Reunidor divino, mas outros simplesmente não conseguem enxergar isso. Quando não queremos a conclusão a que ele leva (neste caso, de que Deus tem um centro de reunião), então não seremos capazes de enxergá-la. O problema está no coração. O Senhor ensinou que quando o “coração está endurecido [se fez pesado – TB], os “ouvidos” ouvirão “de mau grado” e os “olhos” estarão “fechados” (Mt 13:15).

Paul Wilson disse que, se não entendemos uma determinada parte da Escritura, é porque:

- Não lemos a passagem com cuidado suficiente; - Trouxemos ideias preconcebidas para a Palavra e estamos tentando interpretar a Escritura a partir dessas noções; - Nossa vontade está agindo, e não queremos a verdade.

O Espírito de Deus nos Bastidores

O fato de o Espírito de Deus ocupar um lugar nos bastidores no Cristianismo, a fim de focar toda a atenção em Cristo, tem o apoio da Escritura em geral (Jo 16:13). Em vários lugares o Espírito de Deus é referido na figura de um homem anônimo trabalhando nos bastidores para levar pessoas a Cristo (Gn 24:2; Lc 10:35, 14:17-24, 22:10; Jo 10:3; etc.). Uma vez que devemos interpretar uma passagem bíblica à luz de todas as Escrituras, não é difícil ver o que J. N. Darby (e demais) estão ensinando em Mateus 18:20. Eles não estão “justificando”, como diz o autor da pergunta. Trata-se de uma explicação, lógica e bíblica, chamada “exegese”4, a qual não “lança dúvidas” sobre a Palavra de Deus, como ele diz, mas traz clareza de entendimento para a passagem.

Mateus 18:20 Está Sendo Enfatizado Demais?

As pessoas que se opõem à verdade de reunião dirão muitas vezes que estamos dando importância demais a Mateus 18:20. Elas nos dirão que se trata de um único versículo. No entanto, muitas verdades preciosas são mencionadas apenas uma vez na Escritura – a mesa do Senhor, a Ceia do Senhor, o dia do Senhor, etc. Por falar nisso, quantas vezes registra a Escritura que Cristo derramou Seu precioso sangue? Apenas uma! Do mesmo modo, o Senhor só pediu aos discípulos uma vez para se lembrarem d’Ele em Sua morte. Devemos com isto concluir que essas coisas não são muito importantes porque só são mencionadas uma vez? As Escrituras foram escritas para corações que amam o Senhor e querem responder a Ele em feliz obediência. Quando é este o estado de nossa alma, não há necessidade de repetidos comandos para fazer algo. De qualquer forma, a verdade de reunião de Mateus 18:20 é apoiada pela Escritura como um todo; ela não é encontrada apenas nesse único versículo. Isso será mostrado à medida que avançarmos.

A Verdade de Um Centro Divino de Reunião é Uma Doutrina “Nova”?

Alguns imaginam que a verdade sobre existir um único centro de reunião divinamente reconhecido é algo que só apareceu entre os irmãos nos últimos anos, e que se trata de uma ideia nova. Mas nada poderia estar mais longe da verdade.

H. A. Ironside observa em seu livro “A Historical Sketch of the Brethren Movement5 que, antes da divisão de Bethesda (1848), os irmãos “não hesitavam em reivindicar, em alguns casos, a posse exclusiva da mesa do Senhor”. O Sr. Ironside não aceita essa verdade, mas admite que a existência de uma única mesa do Senhor estando em uma única posição eclesiástica na Terra fazia parte do portfólio de doutrina dos santos reunidos desde o fim da década de 1830 e o início da década de 1840, o que basicamente é desde o começo do movimento quando a verdade foi recuperada inicialmente.

Em 1951, J. R. Gill escreveu: “Permita-me mencionar que 60 anos se passaram desde a primeira vez que tive o privilégio de estar à Mesa, para ali O recordar em Sua morte. Também não me esqueci de como um sentimento da preciosidade daquela ocasião invadiu meu coração. Espero que o passar do tempo tenha intensificado aquele sentimento! Naqueles dias, e antes de tudo na Inglaterra [por volta de 1891], comumente se ensinava e se acreditava que havia apenas uma Mesa do Senhor. Eu fui criado nessa atmosfera; nunca ouvi nada em contrário. Meu pai falava disso em casa, e eu ouvia isso frequentemente nas reuniões. Tornou-se um artigo de fé comigo: ‘A Mesa do Senhor’ (1 Co 10:21); não o plural (‘as Mesas do Senhor’), apenas uma”. Isso mostra que essa verdade era comumente sustentada e ensinada entre os irmãos nos anos 1800.

É triste dizer, mas tem havido um constante abandono dessa verdade, e é decorrente de os irmãos não a ensinarem nas reuniões. O Sr. Gill prosseguiu, dizendo: “Parte do declínio entre os irmãos estende-se a este assunto [o centro de reunião]. É com pesar que se sugere isso. Em muitos círculos, não é mais sustentado que existe apenas uma mesa do Senhor, apenas um centro divino na Terra. As solenes consequências que fluem dessa verdade são hoje praticamente ignoradas, e raramente discutidas. Falo dos irmãos de modo geral. Ainda assim, eu noto que mesmo em nossas próprias reuniões pouco se diz sobre esta grande verdade, tão conhecida de nossos pais. Isso pode ser devido à nossa lamentável condição, e nossa consciência dela. Contudo, não renunciamos à doutrina, e iremos afirmá-la se ela for questionada.” Se a verdade do centro de reunião já não era tão ensinada como deveria entre os irmãos em 1951, quanto mais hoje em 2010! Talvez seja por isso que alguns erroneamente têm pensado que se trata de uma nova doutrina.

A Verdade do Único Centro de Reunião Estabiliza os Crentes

Se desistimos da verdade do único centro de reunião, nos colocamos em um terreno escorregadio, e provavelmente seremos atraídos para outras posições eclesiásticas. O Sr. Gill também disse, “Segurar-se à velha doutrina (o único centro de reunião) tendia a nos estabilizar eclesiasticamente. O pensamento de deixar a mesa do Senhor, já que havia somente uma, em um impulso carnal, ou por alguma razão indigna, seria terrível: ‘Impossível! Como a deixarei, se num sentido especial o Senhor estiver ali? Eu estaria virando as costas para Ele e para o centro que Ele proveu.’ Lembro-me de quando considerações desse tipo se prendiam com força ao meu jovem coração. Espero que essa força ainda esteja lá. Por outro lado, se existirem muitas mesas do Senhor (vários centros conflitantes de igual valor), se pouco importa aonde eu vou, mais facilmente irei me desviar. Pequenas ofensas, injúrias, mal-entendidos e coisas do tipo podem ser os fatores determinantes para me desencaminhar, sem uma tal restrição que o velho ensinamento impunha, e obviamente, se eu estiver sem rumo, a nova e liberal teologia poderia me atrair.”

RESUMO: As pessoas que lutam contra a verdade de que existe um centro de reunião nunca estarão felizes em estar em comunhão com aqueles que sustentam essa verdade. Elas estarão contrariadas quase todos os dias e, mais cedo ou mais tarde, uma “raiz de amargura” brotará, e elas acabam deixando a comunhão (Hb 12:15).

É triste, mas todas essas pessoas precisam ajustar sua doutrina para que elas estejam de acordo com a verdade e com aqueles com quem estão em comunhão. É claro que não queremos ver ninguém sair, mas oramos para que, “porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2 Tm 2:25). É nosso desejo que todos possamos continuar juntos tendo um só coração e “uma só mente” (Rm 15:6 – KJV) “até que Ele venha” (1 Co 11:26 – TB). Podemos apenas orar para que aqueles que fizeram esses comentários tenham uma mudança de coração.

CAPÍTULO 2

A Palavra Grega para “Reunidos” em Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Desde que consigo me lembrar, o ministério da “nossa” comunhão sobre Mateus 18:20 tem sido o de que não são as pessoas que se reúnem para se congregarem ao redor do Senhor, mas se trata de uma força externa, assim como uma pessoa recolhe ovos em uma cesta, e os ovos não se reúnem sozinhos. Eu encontro grande ajuda estudando os significados das palavras na Concordância de Strong. Então eu procurei os significados da palavra “reunidos” no Novo Testamento e encontrei vários significados diferentes. Mateus 18:20 usa a palavra grega (#4863). Se você ler o significado dessa palavra, você pode se surpreender! Ela expressa diretamente que essas pessoas se reuniam_! Outras palavras das quais se origina essa palavra grega realmente implicam uma força externa, mas a #4863 é usada em muitas outras passagens, como “grandes multidões se reunindo”, “fariseus reuniram-se”, “toda a coorte se reuniu” e muitas mais! Minha pergunta é: se a mesma palavra é usada para todas essas pessoas ímpias se reunindo, como é que podemos usá-la e podemos dissecar de modo tão preciso o significado para implicar que apenas pouquíssimos em todo o corpo de Cristo seriam os únicos “reunidos por uma força externa” (no caso, o Espírito Santo), e nenhum dos outros no corpo, que não veem certas passagens como “nós” vemos?_

RESPOSTA: Somos gratos por essa pessoa ter ouvido a verdade. É uma indicação de que a verdade ainda está sendo ensinada. Ir até o grego em Mateus 18:20 em uma tentativa de mostrar que a língua original apoia as traduções modernas, tais como a NVI, que diz “se reunirem”, é um argumento antigo. Mas está correto?

“Estiverem Reunidos” ou “Se Reunirem”

Grande parte da confusão que as pessoas têm a este respeito pode vir de ver ou ouvir apenas um lado da verdade. Não é que o Espírito de Deus reúne soberanamente as pessoas ao nome do Senhor e elas não têm nenhum exercício nisso; essa não seria toda a verdade. A Escritura apresenta dois lados de estar reunido onde o Senhor está no meio. Um deles está em Mateus 18:20, onde o Espírito é visto como a força reunidora. Ele traz os Cristãos para “onde” o Senhor está “no meio”. Quando a Escritura fala da verdade de reunião por esse lado, a palavra grega “sunago” é usada, a qual significa “conduzir juntos” ou “trazer juntos”. O outro lado está em 1 Coríntios 11-14. Diversas vezes Paulo fala dos santos se juntando para o partimento do pão ou para o ministério da Palavra (1 Co 11:17, 18, 20, 33, 34; 14:23, 26). Quando a Escritura fala em se reunir por esse lado, a palavra grega “sunerkomai” é usada, que significa “se juntar” ou “acompanhar”. Isso envolve a vontade dos santos em se juntarem. É algo que eles fazem. Parece que o autor da pergunta gostaria que “sunerkomai” fosse a palavra usada em Mateus 18:20, porque se encaixa na sua doutrina. No entanto, a Escritura não usa essa palavra em Mateus 18:20.

O dicionário de Vine aponta Mateus 2:4 como um exemplo do uso de “sunago” tendo uma força externa envolvida na reunião de pessoas ou coisas. O versículo diz: “quando ele (Herodes) tinha reunido todos os principais sacerdotes e os escribas do povo (KJV). A questão é que alguém faz a obra de reunir. Pode ser o Senhor, ou os homens, ou o diabo. No caso citado, foi Herodes.

Ao nos dar o significado de “sunago” na língua original, o autor da pergunta não parece ser totalmente honesto ao enfatizar os raros terceiro e quarto significados alternativos na Concordância de Strong, quando o primeiro e principal significado é “conduzir juntos”. Nas 62 vezes que “sunago” é encontrada na Escritura, ela só é traduzida como “se reuniram” [ou se ajuntaram] seis vezes na KJV. Em cada uma das seis referências não é difícil ver que havia um poder em ação fora daqueles que se reuniram – seja ele o Senhor, ou os homens, ou o diabo (Mt 27:62; Mc 7:1; Lc 22:66; At 13:44, 15:6, 20:7). Parece ser (esperamos que não) uma tentativa deliberada de encontrar outro significado para a palavra a fim de apoiar a ideia de que é a vontade dos homens reunindo-os. E por que não enfatizar o quinto significado alternativo (na Concordância de Strong) , que é “conduzir a [para]”, que também aponta para um poder externo atuando?

As referências apresentadas pelo autor da pergunta onde a palavra “sunago” é usada (“grandes multidões se reuniram”, “os fariseus reuniram-se”, “reuniram toda a coorte”), não excluem a possibilidade de um reunidor trabalhando nos bastidores. À luz do Salmo 18:4, que diz, “torrentes de impiedade [Belial – JND] Me atemorizaram” (2 Co 6:15), e do Salmo 22:21, “Salva-Me da boca do leão” (1 Pe 5:8), é claro que Satanás estava atuando para agitar as multidões e ajuntá-las contra o Senhor. Ele estava por trás da reunião daquelas pessoas ímpias.

Um princípio importante do qual sempre devemos nos lembrar ao lidar com as Escrituras é que nunca devemos trazer nossas ideias preconcebidas para a Escritura, mas, sim, tirar nossos pensamentos das Escrituras. Este era o hábito do apóstolo Paulo. É dito que ele “discutiu [arrazoou – ARA] com eles, tirando argumentos das Escrituras” (At 17:2 – TB). Note que ele não arrazoou inserindo nas Escrituras, mas tirando delas. Receamos ser esse o problema aqui. Quando uma pessoa não quer crer que Deus tem um centro de reunião no Cristianismo, e leva esse pensamento para as Escrituras, ela tentará fazer com que as Escrituras apoiem sua ideia. Ela fará um grande esforço tentando defender seu ponto de vista (até mesmo pegar a terceira ou quarta leitura alternativa em um léxico ou dicionário grego), mas essa é uma obra da carne (Ec 10:10).

RESUMO: não somos estudiosos do grego; logo é um erro imaginar que estamos mais bem-equipados para traduzir Mateus 18:20 do que J. N. Darby e W. Kelly. Precisamos aceitar o entendimento e o estudo deles. Sabemos que a palavra “sunago” significa, antes de tudo, “conduzir juntos” ou “trazer juntos”, o que aponta para um poder atuante fora dos congregados. Isso deve ser o bastante para a mente disposta aceitar.

CAPÍTULO 3

Aplicações Práticas de Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Por que roubaram de Mateus 18:20 a sua abençoada simplicidade? Cristãos em todo o mundo (especialmente aqueles que estão sendo perseguidos) tiram grande paz e conforto desse versículo. Eles o interpretam pelo que está escrito, ou seja, significando exatamente o que ele diz. Eles são livres para desfrutar da “simplicidade que há em Cristo” (2 Co 11:3). A promessa de Jesus de que Ele estará onde quer que dois ou mais Cristãos se reúnam para comunhão tem incentivado muitos grupos de Cristãos perseguidos ao longo dos séculos. Saber que Jesus está ali com eles não pode outra coisa a não ser curar o quebrantado de espírito e trazer bênção àqueles que confiam em Sua Palavra (Sl 119:50). Por que não podemos ter esse mesmo conforto? Será que somos verdadeiramente tão carnais a ponto de roubar da Palavra de Deus o seu poder (Cl 2:8)?

RESPOSTA: O problema aqui é não entender direito a diferença entre a interpretação e a aplicação da Escritura. Se trocarmos uma pela outra, vamos ter problemas.

A Interpretação e Aplicação da Escritura

Ao ensinar a verdade da Escritura, somos responsáveis por dar o significado de um determinado versículo em questão no contexto de toda a passagem. Isso se chama interpretação da passagem. O “obreiro” aprovado por Deus fará isso; ele irá “manejar bem [dividir corretamente – KJV] a Palavra da verdade”, dando o significado da passagem em seu contexto apropriado (2 Tm 2:15). Mas ao fazer isso, de maneira nenhuma ele restringe o uso da passagem em suas várias aplicações. Em se tratando de aplicação, a Palavra de Deus é “amplíssima” (Sl 119:96). Ela possui muitas aplicações para muitas pessoas, em muitas circunstâncias. A demonstração do significado de uma passagem não exclui as muitas aplicações para as quais ela poderia ser utilizada. Isso é algo que o autor da pergunta evidentemente se equivocou.

Mateus 18:18-20 tem a ver com a assembleia local atuando em sua capacidade administrativa de ligar e desligar ações disciplinares. A autoridade para tais ações provém do fato de que a assembleia (que poderia ser tão pequena quanto duas ou três pessoas) foi reunida ao nome do Senhor pelo Espírito de Deus, e o Senhor está no meio sancionando o terreno no qual ela está reunida. O contexto não tem nada a ver com dois Cristãos no campo missionário necessitando de conforto. Mas isso significa que Cristãos no campo missionário não podem usar esse versículo para conforto? É claro que podem. A Bíblia diz: “Toda a [cada – JND] Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3:16 – ARA). Se alguém consegue obter conforto de Gênesis 1:1 em meio à dor em virtude de sua mãe que está morrendo, então que o obtenha. Quem iria querer tirar isso dele? Mas significa que Gênesis 1:1 tem a ver com conforto em circunstâncias de dor? Não, não é o significado do versículo.

Ao ensinar a verdade de uma determinada passagem, não queremos afastar nenhuma aplicação prática que alguém possa ter dela. Porém, como dissemos anteriormente, interpretação e aplicação são duas coisas diferentes. Aqueles que “manejam bem a Palavra da verdade” irão reconhecer isso. Um exemplo disso é encontrado bem nessa passagem (Mateus 18). O versículo 19 tem sido aplicado a uma reunião de oração. Não é o significado do versículo, mas se dele uma pessoa consegue obter ajuda e conforto, não iríamos tirar isso dela. O versículo na verdade está falando da assembleia invocando a Deus para ligar no céu o que ela ligou na Terra.

É um erro pensar que aqueles que ensinam a interpretação apropriada de Mateus 18:20 estejam “roubando” do versículo a sua “bendita simplicidade”. O problema é que, quando vivemos de aplicações da Escritura sem nunca aprender o verdadeiro significado de uma passagem, ao nos depararmos com a interpretação apropriada, soa como doutrina estranha. Por exemplo, Mateus 11:28 diz: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei”. Esse versículo é usado para evangelizar, e todos nós o conhecemos e desfrutamos dele dessa maneira – e não há nada de errado nisso. Por ele entende-se que o Senhor está chamando para Si pecadores carregados de pecado para salvação. Mas essa é uma aplicação evangelística. A correta interpretação e ensinamento da passagem têm a ver com o Senhor chamando, não os pecadores sobrecarregados com o fardo de seus pecados, mas os crentes da economia mosaica que estavam sobrecarregados tentando cumprir a lei. O fardo deles era resultado de tentar fazer coisas certas, não de fazer coisas erradas (pecados). Na verdade, quanto mais meticulosos eles eram, tentando fazer as coisas certas ordenadas a eles na lei, maior tornava-se o fardo, pois não era possível cumpri-las. O Senhor estava chamando um remanescente de crentes para fora da nação para fazer parte de algo novo que Ele estava prestes a começar – a Igreja (Mt 16:18). Vindo a Cristo, Ele os livraria do jugo da lei (At 15:10) e lhes daria um outro “jugo” que era “suave” e “leve” (Mt 11:30). Isso provavelmente soa como doutrina estranha para muitos, nunca tendo ouvido a verdadeira interpretação da passagem.

Encorajamos nossos irmãos mais jovens a “seguir inteiramente” (JND) essas questões e passagens na Palavra de Deus – especialmente as que têm a ver com a verdade de reunião. Então cada um de nós será “um bom ministro de Cristo Jesus” (TB) capaz de apresentar com exatidão a verdade de forma ordenada (1 Tm 4:6).

RESUMO: Aplicações da Escritura a várias situações da vida são ótimas, mas não devemos confundir essas aplicações com a interpretação da passagem.

CAPÍTULO 4

O Reunidor Divino em Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: O inteiro problema com todo o argumento é que ao afirmar que o “Próprio Espírito reúne”, de repente existem dois grupos de Cristãos (o que por si só contradiz a Palavra de Deus – ou estamos EM CRISTO ou não estamos. Faça uma busca pela expressão exata “em Cristo”; você ficará surpreso). Existem os que estão reunidos; então existem os que não estão reunidos. Assim sendo, o que há de tão especial nos que estão reunidos? Os que creem nesse “ensinamento” da Escritura dirão que não há nada de especial; mas só dizem isso porque sabem que é a coisa certa a dizer, mesmo que não acreditem. A atitude elitista que surgiu em muitas congregações comprova isso. Uma atitude elitista não é do Espírito de Cristo e esses ensinamentos levam a um espírito errado. Como alguém pode argumentar que ela é de Deus? Minha mãe sempre dizia (e ainda diz), “Nós não vamos por causa das pessoas (hipócritas); vamos porque o Senhor está lá”. Bem, da última vez que chequei, Deus está sempre comigo: “o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que HABITA EM VÓS…” (1 Co 6:19 – ARF). Assim, se eu me encontrasse com outro crente, e dividíssemos um com outro tudo o que temos desfrutado em nossa relação com Cristo, pode apostar que Jesus vai estar ali com a gente (dois templos d’Ele), sorrindo e desfrutando inteiramente de nossa alegria n’Ele. Além disso, se o Espírito realmente reunisse os crentes, podemos garantir que onde o Espírito verdadeiramente está presente, aqueles que foram “reunidos” vão imitar o Espírito – que é o Espírito de Cristo. A propósito, as igrejas que creem na Bíblia (Batista, Capela do Calvário, etc.) não fazem nenhuma distinção entre os crentes; são apenas os cultos (Mórmons e Testemunhas de Jeová) que fazem.

RESPOSTA: o raciocínio aqui é que se o Espírito de Deus levou alguns Cristãos a congregarem em nome do Senhor separados de todos os outros grupos organizados de Cristãos, então o Espírito dividiu o rebanho de Deus. Como é algo que Ele nunca faria, isso prova que não existe isso de o Espírito reunindo os crentes ao nome do Senhor, como os irmãos ensinaram.

Separação Dentro da Casa de Deus

O autor do comentário/pergunta faz objeção à verdade da separação dentro da casa de Deus (a profissão Cristã). Ele evidentemente acredita que tal coisa não existe na Escritura, porém esqueceu de olhar algumas passagens importantes da Palavra de Deus.

A maioria dos Cristãos não tem dificuldade de ver separação quando se trata do que está fora da casa de Deus, isto é, em relação a pessoas não salvas. Mas se a separação é mencionada em relação aos que estão dentro da casa de Deus, eles se opõem veementemente. A razão para insistirem nisso é que o Novo Testamento apresenta a comunidade Cristã como uma única família feliz que anda junto em unidade. Na mente deles, não devemos andar em separação de nenhum crente verdadeiro, pois, ao fazê-lo, estamos dividindo o rebanho de Deus e promovendo o triste estado do testemunho da Igreja.

O problema nisso é não levar em conta onde estamos na história da Igreja. Não estamos nos tempos do Pentecostes, nem mesmo em tempos de grande avivamento; estamos nos “últimos dias” da história da Igreja na Terra (2 Tm 3:1). O apóstolo Paulo disse: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Tm 4:1). Ele também disse: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 3:1, 4:3-4). Já que tal condição de irremediável ruína caiu sobre o testemunho Cristão, separação na casa de Deus se faz necessária. Paulo também disse: “Qualquer que profere o nome de Cristo [do Senhor – JND] aparte-se da iniquidade (injustiça). Ora numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, [se alguém tiver se purificado a si mesmo desses (vasos), em se separando a si mesmo deles – JND] será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Tm 2:19-21).

Deus certamente gostaria que todo o Seu povo andasse junto na prática como uma única família feliz. Mas Ele também nos disse que, quando o testemunho Cristão se corrompesse e a ruína entrasse, deveríamos aplicar a verdade do Novo Testamento contida nas modificações que nos foram dadas no que podemos chamar “as epístolas de ajuda”, isto é, as “segundas” epístolas em nossas Bíblias. Essas epístolas ordenam o caminho do Cristão em tempos de tal abandono. Há duas coisas que são proeminentes em cada uma delas:

- A evidência do abandono do verdadeiro Cristianismo na doutrina ou na prática. Vários aspectos de colapso na responsabilidade Cristã são considerados em cada epístola. - A importância de o crente se separar da corrupção e do erro – não apenas em sua vida pessoal, mas também em questões de comunhão coletiva.

O autor do comentário/pergunta evidentemente está lendo sua Bíblia sem consultar as “segundas” epístolas. Assim, embora seja verdade que Deus deseja que todos os membros do corpo de Cristo estejam juntos em comunhão prática (Ef 4:1-16), e como uma irreparável ruína está em todo o testemunho Cristão, as epístolas de “ajuda” indicam que devemos assumir uma posição de separação do erro e da confusão (2 Co 6:14-17; 2 Ts 3:6-15; 2 Tm 2:19-21; 2 Pe 3:17; 2 Jo 8-11). Se não tivéssemos as “segundas” epístolas em nossas Bíblias, não teríamos nenhuma autoridade para nos separar; seríamos forçados a continuar com a massa da profissão Cristã em sua confusão.

Felizmente, toda a verdade de Deus, como encontrada nas epístolas principais, ainda pode ser praticada hoje, mas apenas em um testemunho remanescente que esteja separado da confusão e do erro (isso foi tratado em detalhe no nosso primeiro volume de “Perguntas”). Apartar-se da “injustiça” (TB) e recorrer a uma posição remanescente onde “seguimos… com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” é uma separação eclesiástica na casa de Deus (2 Tm 2:19, 22). É um aspecto de separação que desagrada imensamente, porém é algo necessário por causa da ruína. Não é uma “atitude elitista”, mas simples obediência à Palavra de Deus. Poderia muito bem haver uma “atitude elitista” entre os santos reunidos (abordaremos isso mais adiante), mas agir de acordo com a verdade bíblica de 2 Timóteo 2:19-22 não pode estar errado.

Separação de Cristãos Verdadeiros

Simplesmente não é verdade que o Espírito de Deus não levaria um Cristão a separar-se de outro Cristão. Se um crente não se preocupa com os princípios e práticas de pecado em sua vida, a Escritura indica claramente que devemos nos separar dessa pessoa – independentemente de seu problema ser moral, doutrinário ou eclesiástico (1 Co 5:11; 2 Ts 3:14-15; 2 Tm 2:19-21; 2 Jo 10-11, etc.). Uma vez que o Espírito de Deus guia segundo os princípios da Palavra de Deus, um Cristão guiado pelo Espírito será levado a separar-se daqueles que estão conectados ao mal, porque a Palavra de Deus claramente indica isso.

Talvez se reconheça que a separação deve ser praticada em relação a indivíduos que não estejam seguindo em santidade ou que não sejam sãos na doutrina. Porém, os irmãos reunidos ao nome do Senhor têm sido acusados de se separarem de Cristãos verdadeiros, moralmente retos e sãos na doutrina. Para aqueles que fazem essa acusação, é uma prova de que nós, que estamos assim reunidos, não amamos outros Cristãos, e que a nossa posição de separação eclesiástica é anticristã.

Acreditamos que pode haver um equívoco aqui. Em primeiro lugar, que fique muitíssimo claro: ninguém entre os santos reunidos deseja se separar de crentes verdadeiros, porém a obediência ao Senhor e à Sua Palavra deve ter prioridade sobre a comunhão com outros crentes em suas igrejas sem base bíblica. O princípio é simples: somos chamados a nos separar da desordem na casa. Se crentes verdadeiros estão satisfeitos em continuar em comunhão com o erro e a confusão lá, não temos escolha a não ser nos separar deles também. Isso é algo doloroso de se fazer porque amamos todos os nossos irmãos, mas é um verdadeiro teste de nossa disposição de agir de acordo com os princípios da Escritura. Realmente damos prova do nosso amor pelos nossos irmãos espalhados nas várias denominações por meio da nossa obediência a Deus. 1 João 5:2 diz, “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos”. O melhor que podemos fazer por nossos irmãos em Cristo é continuar em obediência a Deus. Juntar-se a eles no que claramente não tem base bíblica não irá ajudá-los. Assim, obedecer à Escritura e apartar-se do erro eclesiástico e da confusão na casa de Deus não é uma prova da falta de amor pelo povo de Deus, mas uma prova de nosso amor genuíno por ele.

Em segundo lugar, os santos reunidos ao nome do Senhor se reúnem em separação do erro na casa, mas se Cristãos piedosos quiserem se juntar a nós, nós os receberemos com prazer. Não nos separamos de tais pessoas. O problema é que muitos desses Cristãos não estão interessados em se juntar a nós em comunhão à mesa do Senhor. Eles estão bem felizes em permanecer em suas denominações sem base bíblica. Isso significa que devemos abandonar a posição de reunidos ao nome do Senhor para estar com eles em suas igrejas sem base bíblica? Parece ser isso o que o autor do comentário/pergunta gostaria que fizéssemos.

Além disso, não nos separamos de Cristãos piedosos numa base individual. Tem sido dito que nós, estando reunidos ao nome do Senhor, queremos tocar o maior número possível de Cristãos na comunidade – sem comprometer princípios, é claro. Depois, se o Senhor despertar em alguns um exercício quanto à verdade de reunião, como eles sabem quem somos e o que defendemos, eles buscarão nosso conselho e ajuda na verdade.

A Diferença Entre Posição e Prática

Não obstante, o autor da pergunta acusa aqueles que defendem e praticam a verdade de reunir de fazer “distinção entre os crentes” – embora tudo o que estão tentando fazer é obedecer à Escritura e se reunir em um terreno limpo na casa de Deus! A primeira prova que é apresentada para negar a separação eclesiástica é que todos os Cristãos estão “em Cristo” sem distinção e, portanto, todos os Cristãos devem andar juntos na Terra, sem distinção.

Em um mundo perfeito isso seria verdade, mas insistir nisso hoje é desconsiderar o fato de que há uma ruína irremediável no testemunho Cristão. Esse raciocínio errôneo decorre de misturar posição com prática. Quando o assunto é posição, todos os Cristãos estão “em Cristo”. O autor está totalmente certo em afirmar isso. “Em Cristo” é um termo usado nas epístolas de Paulo para mostrar a aceitação individual do crente diante de Deus, no próprio lugar de Cristo. O termo indica que estamos no lugar de Cristo diante de Deus. Essa é a nossa posição diante de Deus no céu; não se refere à nossa responsabilidade entre os homens na Terra. Não entender isso bem é confundir posição e prática.

Um exemplo dessa má aplicação de posição e prática é: já que todos estamos “em Cristo”, onde “não há macho nem fêmea” (Gl 3:28), não precisamos observar essas distinções na Igreja. Logo, as mulheres podem ser pregadoras, etc. No entanto, como mencionado, “em Cristo” é a nossa posição diante de Deus no céu, ao passo que “as mulheres estejam caladas nas igrejas [assembleias – JND]” (1 Co 14:34) é entre os crentes na Terra. São duas coisas diferentes.

O Estado Moral dos Santos Reunidos ao Nome do Senhor

Como uma segunda prova de que não existe separação eclesiástica na casa de Deus, o autor da pergunta afirma que, se fosse realmente verdadeira a doutrina de ser reunido pelo Espírito ao nome do Senhor, então aqueles que estão assim reunidos iriam “imitar” os traços morais de Cristo. O raciocínio apresentado é que o Espírito de Deus é “o Espírito de Cristo” (Rm 8:9), e se Ele estiver trabalhando com os crentes, Ele certamente deixará neles a marca de Cristo moralmente. Como aqueles que creem em estar reunido ao nome do Senhor não exibem essas graças morais de Cristo (para a aprovação deles), mas, antes, manifestam uma “atitude elitista”, está provado que não existe algo como estar reunido ao nome do Senhor, como os irmãos ensinam.

O erro aqui está em fazer do estado moral dos reunidos ao nome do Senhor o critério para julgar se o terreno em que eles estão eclesiasticamente é certo ou errado. É possível estar em uma posição correta eclesiasticamente, porém em uma condição errada espiritualmente. Não pretendemos justificar o fraco estado entre os santos reunidos, mas ele não prova que o terreno em que foram reunidos está errado.

Desde 1910, as pessoas têm tido essa ideia errônea. Um caso que ilustra isso aconteceu quando os irmãos da Europa continental enviaram cinco homens para se informar em Tunbridge Wells sobre a triste divisão que tinha ocorrido lá em 1909. Eles cuidadosamente entrevistaram ambos os lados e chegaram à conclusão de que os do partido de Lowe, por terem falado com eles mais graciosamente, deviam ser os certos. Ao retornar para o continente, eles incentivaram os irmãos da França, Alemanha, Suíça, Holanda, etc., a ficarem do lado da turma de Lowe. A motivação e a intenção deles estavam corretas, mas o princípio usado para julgar a situação estava errado, e consequentemente eles se enganaram.

Pode muito bem haver, entre os santos reunidos, aqueles que têm uma atitude orgulhosa, do tipo “mais santa do que tu” (Is 65:5), “elitista”. Talvez alguns se gloriem de estar em um lugar favorecido eclesiasticamente e olhem de modo depreciativo para aqueles que não estão reunidos da mesma forma. Isso é triste, mas não muda a verdade de que Deus tem um centro de reunião. Significa simplesmente que alguns que estão associados a esse testemunho estão em um pobre estado. Podemos ter certeza de que o Senhor agirá para tirar o orgulho daqueles que se gloriam dessa maneira, pois isso não está em harmonia com um testemunho remanescente (Sf 3:11-12). Se os santos reunidos são um testemunho, eles são testemunho do fato de que a Igreja falhou em sua responsabilidade. Aqueles que estão ligados a um tal testemunho remanescente hoje devem ser marcados pela humildade. Pode ser uma das razões pelas quais há divisões e separações entre os reunidos ao nome do Senhor. Mas não nega o fato de que Deus tem um centro de reunião na Terra.

Os santos reunidos têm sido extremamente pacientes com aqueles que têm atacado o terreno de reunião. Não é esta “a paciência de Cristo”? (2 Ts 3:5; Ap 1:9) Eles também têm manifestado “a mansidão e benignidade de Cristo” (2 Co 10:1) para com os que têm essas ideias errôneas, na tentativa de corrigi-los. O autor da pergunta acusa os santos reunidos de não ter o espírito de Cristo, mas será que seus comentários foram feitos nesse espírito? Eles parecem acusações que beiram a maledicência, que é uma completa desordem moral (1 Co 5:11). A última observação que essa pessoa faz é um exemplo. Ele (ou ela) insinua que os santos reunidos estão no nível dos cultos!

As Igrejas Denominacionais Não são o Modelo

Como uma terceira prova de que não existe algo como estar reunido ao nome do Senhor em separação da confusão na casa de Deus, o autor da pergunta nos apresenta o modelo das igrejas denominacionais, tais como Batista, Capela do Calvário, etc. Por ele (ou ela), parece que teríamos que copiar as práticas sem base bíblica desses grupos denominacionais e receber tudo e todos, sem questionar. Recusar alguém ao partimento do pão porque existe algum impedimento bíblico não parece entrar nas considerações dessa pessoa. Para ele (ou ela), isso é dividir o rebanho de Deus.

É bem verdade que esses grupos não praticam separação em suas igrejas. Eles não têm princípios de recepção, como têm os irmãos. Tais grupos geralmente são abertos a tudo e a todos sem fazer qualquer pergunta se a vida de uma pessoa é reta ou se sua doutrina é sã. Mas será que é este o modelo para seguirmos? O resultado de tais práticas é que qualquer coisa impura na casa de Deus poderia entrar e contaminar uma assembleia. Apontar esses sistemas denominacionais criados pelo homem como um modelo para uma assembleia Cristã mostra que essa pessoa tem pouco entendimento a respeito do que constitui uma assembleia bíblica.

RESUMO: Existe, sim, separação eclesiástica na Palavra de Deus (2 Tm 2:19-22), mesmo que o autor da pergunta se oponha a ela. No pensamento dele, por obedecer à Escritura e praticar separação na casa de Deus, os santos reunidos alinharam-se às práticas dos cultos!

Precisamos entender que sempre haverá reprovação conectada a esse tipo de separação. Hebreus 13:13 diz, “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério [reprovação – JND]. Isaías falou da mesma coisa. Ao recontar os pecados da nação de Israel, uma das coisas em que ele se concentra é que o homem piedoso era agredido por separar-se do mal: “Quem se desvia do mal é tratado como presa” (Is 59:15 – ARA). Não podemos esperar que as coisas serão melhores em nossos dias. Portanto, devemos estar preparados para suportar a reprovação por praticar a verdade da reunião.

CAPÍTULO 5

O Contexto e a Interpretação de Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Mateus 18:20, conforme eu leio no próprio contexto, por exemplo do versículo 15 ao 22, se não me engano, está abordando uma situação em que duas pessoas no corpo de Cristo estão tendo uma desavença sobre um assunto, ou um ofendeu outro; trata-se da instrução do Senhor, tanto individual como coletivamente, quanto ao que fazer sobre isso! E continua até o versículo 22! A mim me parece, e estou aberto para ser corrigido, que nós pegamos o versículo 20 bem ali do meio, e fazemos uso dele (ou talvez infelizmente MAU USO) para de repente se aplicar ao partimento do pão ou à mesa do Senhor, e construímos uma doutrina inteira em torno dele! Sinceramente, não entendo o porquê. Eu realmente gostaria de ter uma resposta clara unicamente da Palavra de Deus sobre isso!

Sempre que estou discutindo essas coisas com diversas pessoas, e elas tiram um versículo do contexto para dar suporte às suas alegações, eu aponto isso. Elas tendem a dar de ombros e dizer: “Sim, mas o princípio ainda se aplica, não é?” Assim, alguns anos atrás, quando eu estava pensando nisso, eu percebi que era um meio de justificar o ato de tirar a passagem do contexto em que ela nos é apresentada, e “manusear” a Palavra de Deus para significar algo totalmente diferente.

RESPOSTA: Achamos esse comentário/pergunta um pouco curioso, pois o que essa pessoa critica é justamente o que os nossos questionadores têm feito – isto é, tirar o versículo de seu contexto.

Contexto, Contexto, Contexto

Alguém disse que na compra de imóveis existem três regras importantes que você deve seguir para garantir o melhor investimento do seu dinheiro. A primeira regra é localização, a segunda é localização e a terceira é localização. Do mesmo modo, na correta interpretação da Bíblia, os três princípios mais importantes são: 1) contexto, 2) contexto e 3) contexto. O que estamos dizendo aqui é que o contexto é vital para o entendimento da Escritura.

Dizer que Mateus 18:20 se refere a Cristãos no campo missionário, ou a um encontro em uma lanchonete, etc., é tirar o versículo do contexto. É o que nossos questionadores têm feito. Como mencionado anteriormente, Mateus 18:18-20 tem a ver com a assembleia local atuando em sua capacidade administrativa de ligar e desligar ações disciplinares. O Senhor está ali no meio, sancionando o terreno em que a assembleia está reunida, e autorizando suas ações administrativas.

Quando uma pessoa faz uma aplicação de um determinado versículo da Bíblia, ela o tira de seu contexto e cenário, e aplica o princípio dele (livremente ou de outra maneira) a uma situação completamente diferente. Isso é aceitável, contanto que lembremos que se trata de uma aplicação e não da interpretação da passagem. Como já afirmamos, vamos ter problemas se tudo o que ouvirmos for aplicações dos versículos; poderíamos começar a pensar que elas são as interpretações. Se tivermos uma alimentação constante disso – que infelizmente é o que a nossa geração tem tido –, poderíamos perder completamente o sentido e o significado da passagem e começar a construir, a partir dela, doutrinas sem nenhuma relação com o contexto. Um dos problemas que vemos hoje é que há pouquíssimas pessoas que têm dedicado tempo para aprender a verdade bíblica em seu contexto.

Se alguém ensinou que o contexto e a interpretação de Mateus 18:20 é o partimento do pão, está errado! Nunca ouvimos ninguém ensinar que esse versículo está se referindo ao partimento do pão, como diz o autor da pergunta, embora muitas vezes ele tenha sido lido no partimento do pão como uma aplicação. Talvez, por ouvi-lo tantas vezes nessa reunião, ele (ou ela) tenha pensado que esse seja o significado da passagem – mas isso é o autor da pergunta quem está presumindo.

Ao falar de interpretações e aplicações da Escritura, alguém disse corretamente: “A fruta nunca cai longe do pé”. Do mesmo modo, uma aplicação não deve “cair” muito longe da interpretação da passagem, ou perderá o seu poder. Mateus 18:20 sendo lido no partimento do pão seria um exemplo da fruta caindo debaixo do pé. O princípio do versículo está relacionado com o Senhor estando no meio da assembleia para sancionar o terreno em que os santos estão reunidos. Uma vez que isso é verdade para todas as reuniões de assembleia, seja uma reunião para ações administrativas, partimento do pão, reunião de oração, etc., o versículo poderia ser usado para enfatizar o fato de que o Senhor está no meio nessas ocasiões. Por outro lado, fazer uma aplicação de Mateus 18:20 para conforto e encorajamento de Cristãos que se encontram por acaso na rua ou no campo missionário é um pouco como a fruta caindo bem longe do pé. De certa forma, é esticar a aplicação, pois essas situações não têm nada a ver com nenhum tipo de reunião de assembleia. Mas, como dissemos anteriormente, se alguém conseguir conforto por meio do versículo, não iríamos querer tirar isso da pessoa.

Assim, para que fique perfeitamente claro, os irmãos que leem Mateus 18:20 no partimento do pão não estão usando o versículo em sua interpretação estrita. E é totalmente aceitável fazer isso, desde que tenhamos o entendimento de que se trata de uma aplicação que está sendo feita para a ocasião. O problema é que o autor da pergunta evidentemente não entendeu isso. Essa pessoa presumiu que os irmãos estão ensinando que o versículo tem a ver com o partimento do pão. E ao conferi-lo com o contexto, ele (ou ela) pensou que tivesse sido interpretado incorretamente – mas tudo o que quem leu esse versículo na reunião de partimento do pão estava fazendo era se referir ao princípio envolvido. Ele estava fazendo uma aplicação. Assim, não se trata de um “mau uso” da passagem, mas de um equívoco do autor da pergunta. Não deveria ser algo difícil para os nossos questionadores aceitarem, já que eles não têm problema nenhum em fazer aplicações do versículo para todo tipo de situações incomuns.

Comendo a Oferta pelo Pecado

Mas por que será que essas pessoas não entenderam isso bem? Será que podemos colocar toda a culpa nelas? É bem possível que exista um impedimento moral da parte delas, resultante de não quererem a verdade. Mas acreditamos que os irmãos precisam assumir uma parte da culpa também. Precisamos “comer a oferta pelo pecado” em relação a isso (Lv 6:26). O israelita que de alguma forma falhava devia trazer a Jeová uma oferta pelo pecado para ser perdoado e restaurado. Quando trouxesse, o sacerdote que a oferecia devia comer a oferta pelo pecado no lugar santo. Apesar de não ser o sacerdote quem pecou, ele ainda devia comê-la, significando assim o reconhecimento de sua parte nela. A razão é que os sacerdotes em Israel eram responsáveis por ensinar ao povo o que era necessário para seguir com o Senhor (Dt 17:8-13, 31:11-12; Ml 2:7). Se alguém falhava nisso, o sacerdote era responsável em parte e, portanto, devia comer a oferta pelo pecado.

Do mesmo modo, em uma congregação Cristã, os mais velhos são responsáveis por garantir que a geração mais nova receba a verdade. Se os irmãos mais jovens não quiserem, isso é outra coisa. Mas, é triste dizer, muitos dos comentários que estão sendo feitos em nossas reuniões de leitura da Bíblia nos últimos anos são meramente aplicações e clichês relacionados com a passagem em questão, em vez do real ensinamento (interpretação) da passagem. Isso ocorre, em parte, porque aqueles que participam dessas reuniões podem não estar sendo diligentes em aprender o verdadeiro significado da passagem; então eles recorrem por padrão a algum “belo pensamento” de que tenham gostado. O resultado é que temos uma geração inteira (ou talvez duas) que cresceu ao nosso redor sem qualquer instrução quanto à verdadeira interpretação de muitas passagens da Escritura. Talvez os mais velhos entre nós precisem assumir uma parte da culpa por isso.

RESUMO: Dizer que Mateus 18:20 não tem nada a ver com o terreno no qual a assembleia está reunida é completamente errado; é a estrita interpretação e ensino da passagem. Mateus 18:18-20 é a primeira menção da assembleia local na Bíblia; ela é vista atuando em sua capacidade administrativa de ligar e desligar.

CAPÍTULO 6

A Presença do Senhor “Coletivamente” em Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Nos últimos versículos de Mateus, lemos Jesus ordenando: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS ATÉ À CONSUMAÇÃO DO SÉCULO” (Mt 28:19-20 – ARA). Anteriormente nesta discussão, eu mencionei como eu descobri, ao estudar o significado grego da palavra “reunidos” (ver a #4863 de Strong), que ele não é compatível com o que muitas vezes se pensa (além do fato de que, pelo contexto, o texto fala sobre o que fazer quando há uma desavença entre pessoas, e NÃO sobre a mesa do Senhor!) Quando perguntados sobre isso, costumam dizer, “Há uma diferença entre o Senhor estar ‘no meio’ coletivamente, e Ele estar ali individualmente.” Eu gostaria de saber DA ESCRITURA de onde isso vem!

RESPOSTA: Às vezes certas expressões são usadas com tanta frequência em nossas reuniões de leitura da Bíblia que nos acostumamos a ouvi-las, e nunca paramos para considerar o que elas significam. Muitas dessas expressões não estão escritas na Bíblia, mas são bíblicas. O “terreno de reunião” seria um exemplo. A Escritura não usa exatamente essa expressão, mas não significa que ela não seja bíblica. “Terreno”, usado neste sentido, significa simplesmente o princípio ou princípios de fundamentação de algo. Se alguém dissesse, “o fundamento6 do casamento”, provavelmente não teríamos dificuldade em entender o significado. A pessoa está obviamente se referindo ao(s) princípio(s) de fundamentação em que se baseia o casamento. É exatamente o mesmo quando se trata da verdade da assembleia. Quando falamos do “terreno de reunião”, estamos nos referindo àquilo que constitui os princípios de fundamentação de Cristãos estarem reunidos em assembleia para adoração, ministério e ações administrativas.

Duas Maneiras de o Senhor Estar Com Seu Povo: “Individualmente” e “Coletivamente”

Quanto à pergunta sobre a presença do Senhor com Seu povo, a Escritura fala dela de duas maneiras diferentes. Os irmãos têm usado dois termos – que não são encontrados na Escritura, mas que são bíblicos – para distinguir essas duas maneiras. Existe a presença do Senhor “individualmente” e a presença do Senhor “coletivamente”.

Em primeiro lugar, a presença do Senhor está com cada um de Seus redimidos, como indivíduos. Talvez pudéssemos chamar isso de “pessoalmente”. Ele está com os crentes, nesse sentido, para ajudá-los, protegê-los e confortá-los, e para comunhão com eles. O Senhor disse: “E eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28:20). Ele também disse: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Mesmo não sentindo, ainda assim Ele está ali conosco. Por exemplo, Lucas disse: “o mesmo Jesus Se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que O não conhecessem” (Lc 24:15-16). Simplesmente não se pode negar que onde quer que o povo do Senhor vá, Ele está lá com eles. “Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da Tua face? Se subir ao céu, Tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que Tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar. Até ali a Tua mão me guiará e a Tua destra me susterá.” (Sl 139:7-10)

Como o Senhor está com cada um de nós onde quer que vamos como crentes, se um grupo de crentes se reunisse em algum lugar para algum propósito (religioso ou secular), o Senhor estaria lá também. Embora possa haver um grupo de Cristãos reunidos em tal situação, não é isso o que se quer dizer quando os irmãos falam da presença do Senhor com Seu povo “coletivamente”, como em Mateus 18:20 e 1 Coríntios 5:4.

A segunda maneira como a Escritura fala da presença do Senhor com Seu povo é no sentido de o sancionar, autorizar ou aprovar de alguma forma. Este é o sentido em que se fala da Sua presença em Mateus 18:20 e 1 Coríntios 5:4. Ele está ali no meio para sancionar o terreno no qual Ele reuniu os Cristãos, e assim autorizar suas ações administrativas de ligar e desligar.

A presença do Senhor “no meio”, como em Mateus 18:20, simplesmente não pode ser dita de todos os grupos Cristãos. Ele não sanciona, com a Sua presença, o terreno em que cada grupo Cristão se reúne para adoração e ministério. Se fizesse isso, Ele estaria sancionando o estado dividido do testemunho Cristão, pois esses grupos se reúnem separadamente uns dos outros. O Senhor seria, então, responsável pelas tristes divisões no testemunho público da Igreja! Isso, é claro, é algo que Ele não faria, pois negaria o fato de que há um centro de reunião. Seria uma negação prática daquilo pelo que o Próprio Senhor orou em relação aos crentes na Terra – que todos fôssemos “um” no pensamento, objetivo e propósito (Jo 17:11), e no testemunho (Jo 17:20-21). O Novo Testamento está repleto de textos que nos dizem que Deus deseja que os Cristãos andem juntos sem divisões.

Além do mais, se o Senhor estiver “no meio” das denominações da Cristandade nesse sentido, então Ele está consentindo e autorizando a ordem sem base bíblica em que elas funcionam. Estamos nos referindo à ordem clerical que pode ser encontrada em quase todo lugar onde os Cristãos se reúnem – a nomeação de um clérigo (assim chamado pastor ou ministro) para liderar as reuniões em adoração e ministério. J. N. Darby disse que isso é “dispensacionalmente um pecado contra o Espírito Santo”, porque na prática nega a autoridade de Cristo e a direção do Espírito Santo. Também interfere no verdadeiro sacerdócio dos crentes e no livre exercício de dons no ministério durante as reuniões (1 Co 12-14). Além disso, esses lugares possuem orquestras, corais, etc., que foram emprestados do arraial do judaísmo, do qual nos é dito para sair (Hb 13:13). Há também muitas outras coisas sem base bíblica conectadas à ordem eclesiológica nesses lugares.

Sendo esse o caso, como seria possível o Senhor sancionar uma ordem de coisas que é claramente contrária à Sua Palavra? O Sr. Potter disse, “Suponha que o Senhor agora tenha concedido a Sua presença às diferentes denominações, o que Ele estaria fazendo? Ele estaria sancionando o que é contrário a Ele. Ele não pode fazer isso.” O Sr. Potter também disse, “Você não está querendo insinuar que o Senhor não está no meio de quaisquer outros no mesmo sentido? Sem dúvida alguma, Ele não está.” O Sr. Darby disse que se o Senhor estivesse no meio das várias comunidades Cristãs segundo Mateus 18:20, então “seria pecado eu não ir lá”.

Além disso, como poderia o Senhor estar no meio dos irmãos reunidos ao Seu nome no terreno bíblico sancionando essa posição e, ao mesmo tempo, estar no meio das denominações sancionando aquelas posições? O terreno que os irmãos reunidos ao nome do Senhor assumem em separação das igrejas é o de um “protesto prático” (W. Potter) contra a falta de base bíblica da ordem denominacional. Se o Senhor estivesse no meio de ambas, sancionando ambas, então Ele estaria assumindo uma posição contrária a Si mesmo! Isso mostra como que não entender bem Mateus 18:20 pode levar à confusão.

Mateus 18:20 tem a ver com a assembleia atuando em sua capacidade administrativa de ligar e desligar ações disciplinares. A autoridade da assembleia para tais ações vem do próprio Senhor, que está ali no meio sancionando o próprio terreno em que a assembleia está eclesiologicamente (não significa que a presença do Senhor no meio sanciona o estado deles – que pode ser extremamente fraco – mas o terreno em que eles se reúnem). Talvez uma palavra melhor para indicar esse aspecto coletivo da presença do Senhor seja “corporativo”. Ele está ali “no meio” corporativamente. “Corporativo” vem do latim “corporatum”, e refere-se a pessoas se constituindo em um corpo legislativo para algum propósito específico. No caso, é para adoração, ministério e a autorização de decisões administrativas.

Duas Maneiras de o Senhor Estar “no Meio”

Sendo assim, a presença do Senhor no meio de Seu povo é vista na Escritura de duas diferentes maneiras. Em primeiro lugar, Ele anda entre “os sete castiçais de ouro” e, portanto, está “no meio” da profissão Cristã como um todo (Ap 1:12-13, 2:1). Neste sentido, Ele está com todos os grupos Cristãos. Ele está no meio deles avaliando o estado das coisas como um Juiz.

Logo, se alguém nos perguntasse se acreditamos que o Senhor está no meio dos vários grupos Cristãos da Cristandade, ou que Ele está apenas no meio de um, teríamos de dizer que depende de qual aspecto se trata. Se for no aspecto apresentado em Apocalipse 2-3, diríamos que Ele está no meio de todos esses grupos Cristãos, porque todos eles fazem parte da profissão pública do Cristianismo. Porém, se for no sentido de Mateus 18:20, diríamos que Ele não está.

Para resumir nossas observações a respeito dos dois aspectos da presença do Senhor, poderíamos dizer que, uma vez que o Senhor está com os Cristãos individual ou pessoalmente, se um grupo de Cristãos se juntasse em um salão, então Ele estaria ali com eles também. Mas Ele não estaria no meio deles no sentido de Mateus 18:20. Alguns, no entanto, têm dificuldade com isso. Eles dizem: “como pode Ele estar ali no meio, e ainda assim não estar ali no meio?” Eles concluem que isso é pura falta de bom senso. Porém, a resposta simples é que a Escritura fala da presença do Senhor de duas maneiras diferentes. E, como Cristãos que discernem, devemos “aprovar as coisas que são excelentes [que diferem – KJV margem] (Fp 1:10).

Paulo fala desse outro sentido no qual o Senhor está “com” o Seu povo perto do fim de sua epístola aos Tessalonicenses. Ele lhes disse, “O Senhor seja com todos vós” (2 Ts 3:16). Por que ele diria isso quando sabia que o Senhor estava sempre com Seu povo? Obviamente, ele estava falando em um sentido diferente. Ele estava se referindo ao Senhor dando o Seu apoio e aprovação ao testemunho e serviço deles naquela região. De modo semelhante, podemos orar para que o Senhor seja com um irmão em sua pregação. A intenção é que o Senhor Se identifique com o irmão na pregação dele, e assim a abençoe. Compare com 1 Crônicas 15:2.

O Senhor Não Era Com as Dez Tribos do Norte

Há um tipo no Velho Testamento que, acreditamos nós, ajuda a entender esses dois aspectos. Quando Jeroboão separou as dez tribos do centro de Deus em Jerusalém em uma triste divisão, ele estabeleceu dois centros alternativos para que neles as tribos que se apartaram adorassem – um em Betel e outro em Dã (1 Rs 11-12). Ele ergueu dois novos altares nesses lugares em separação do “único altar” em Jerusalém (Dt 12:27; 2 Cr 32:12). No entanto, é significativo que a nuvem de glória Shekinah, que é o símbolo visível da presença do Senhor (Êx 13:21-22, 16:10, 40:34-38; Lv 16:2; Nm 11:25, 14:10), não foi repousar nos novos lugares, mas permaneceu em Jerusalém no templo (2 Cr 5:13-14). Ela ficou lá até que o povo fosse levado ao cativeiro muitos anos depois (Ez 8:3-4; 9:3; 10:4, 18; 11:23; 3:23). Isso indica claramente que o Senhor não reconhecia (sancionava), com a Sua presença, esses lugares divergentes.

Alguns anos mais tarde, como o estado dividido em Israel continuou, Amazias, o rei de Judá, contratou o exército de Israel (as dez tribos) para ir com eles à guerra. Mas um profeta veio até ele e disse, “Ó rei, não deixes ir contigo o exército de Israel; porque o Senhor não é com Israel” (2 Cr 25:7). O Senhor “não” era “com” Israel no sentido de sancionar a sua posição dividida, e assim aquilo não seria para bênção. Isso mostra que o passar do tempo não mudou o fato de que as dez tribos do norte estavam em um terreno errado, por terem se separado do centro divino em Jerusalém.

Apesar de ser esse o caso, está claro que o Senhor amava as dez tribos que se apartaram e as ajudava – ajudou até mesmo o iníquo rei Acabe (1 Rs 20). Ele também enviou profetas para ministrar a eles – isto é, Elias e Eliseu. Isso mostra que, em um outro sentido, o Senhor não tinha desistido deles. Assim, em um sentido, o Senhor não estava com Israel, mas em outro, Ele estava. Não é uma contradição; são apenas duas coisas diferentes.

Existem, então, duas diferentes maneiras de olhar a presença do Senhor no Cristianismo. Em primeiro lugar, Ele está “no meio” de todos os grupos Cristãos, como indicado em Apocalipse 2-3, avaliando o estado das coisas como um Juiz. Ele está lá porque Ele está com todos os Cristãos onde quer que estejam (Mt 28:20; Hb 13:5). Em segundo lugar, o Senhor também está “no meio” daqueles a quem o Espírito de Deus reuniu em torno d’Ele conforme Mateus 18:20. Ele está aí nesse sentido para sancionar o terreno sobre o qual foram reunidos e para autorizar suas ações administrativas. Isso não é difícil de entender se queremos conhecer a verdade.

A Presença do Espírito Santo de Duas Maneiras: “Em” e “Com” Cristãos

A presença do Senhor com o Seu povo não deve ser confundida com a presença do Espírito Santo. Há também duas maneiras de o Espírito de Deus estar presente conosco: Ele habita em todo Cristão, e habita na professa casa de Deus com os Cristãos. O Senhor indicou isso pela primeira vez em João 14:17. Ele disse, [O Espírito Santo] habita convosco, e estará em vós.” Quando o Espírito de Deus veio e formou a Igreja no dia de Pentecostes, foi exatamente isso o que aconteceu – Ele “encheu toda a casa onde estavam assentados”, e “pousou uma sobre cada um deles e todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2:2-4 – ARA). Ver também 1 Coríntios 3:16 e 1 Coríntios 6:19. Este segundo aspecto explica como um incrédulo poderia entrar no meio dos Cristãos e participar das bênçãos e privilégios exteriores que o Espírito Santo nos trouxe, sem nunca ser salvo e habitado por Ele (Hb 6:4).

O comentário a seguir é da revista “Help and Food7. “Esta presença [do Senhor no meio] deve ser distinguida da presença do Espírito Santo nos santos ou na assembleia como a casa de Deus de modo geral. O Espírito Santo está sempre nos santos e na assembleia de Deus como um todo incondicionalmente, qualquer que seja o princípio de reunião; e Sua presença, portanto, não sanciona a reunião em si. Isso deve ser tão claro quanto importante, pois mostra como Deus pode operar em Sua graça em meio a toda a confusão da Cristandade, sem de modo algum sancionar os princípios discordantes e sectários que predominam. A presença de Cristo no meio, por outro lado, é sanção (não, é claro, do estado da assembleia).”

Como o Espírito Santo está em Cristãos e entre os Cristãos, se eles se reunissem em um salão, o Espírito estaria ali com eles. Embora esteja presente, Ele será entristecido por causa dos princípios clericais em prática ali, que substituem a Sua direção em liderar e orientar os procedimentos. Embora possa ser bloqueado e impedido até certo ponto, Ele irá operar onde e quando puder. Assim, almas são salvas e instruídas nas Escrituras nesses lugares. Mas o fato de o Espírito de Deus estar presente nas várias organizações de igreja não tem nada a ver com o Senhor estar no meio para sancionar o terreno em que estão essas seitas criadas pelo homem.

RESUMO: Embora as palavras “individualmente” e “coletivamente”, em conexão com a presença do Senhor, não sejam encontradas na Escritura, a verdade que elas se propõem a transmitir é. Infelizmente, alguns têm tropeçado no significado do que os irmãos têm chamado de a presença do Senhor “coletivamente”. Portanto, sugerimos a palavra “corporativamente”, para significar Sua presença no meio daqueles que Ele congregou, a fim de sancionar o terreno no qual eles estão. É completamente diferente de o Senhor estar com cada um dos crentes individualmente.

CAPÍTULO 7

O Princípio do Velho Testamento do Único Centro de Reunião em Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Para aqueles que erroneamente aplicam o princípio do Velho Testamento do “único lugar” (em completa e intencional ignorância daquilo que nos é exposto em João 4:21-24), peço que olhem Jeremias 7:1-15. Eu vou arriscar um palpite de que SE (hipoteticamente, é claro) a “assembleia” foi em algum momento O “lugar”, então ela não é mais.

RESPOSTA: O autor da pergunta faz objeção ao pensamento de que o Senhor tem um centro de reunião na Terra no Cristianismo. Ele aceita que havia um nos tempos do Velho Testamento, mas acredita que João 4:21-24 prova que não há nenhum centro de reunião hoje no Cristianismo. Ele diz que qualquer um que não vê isso está em “completa e intencional ignorância”!

Mas será que João 4:21-24 diz isso? Nesse capítulo, o Senhor declara que haveria a cessação de um centro geográfico terreno para adoração. Centros terrenos tais como “neste monte” (Gerizim) e “Jerusalém” não seriam mais reconhecidos por Deus (Gerizim nunca foi), porque uma nova ordem de coisas estava chegando. Mas o Senhor não disse que não haveria um centro de reunião no Cristianismo. Se essa passagem diz que não existe um centro de reunião no Cristianismo, então que o autor da pergunta nos forneça as palavras da Escritura que afirmam isso. Como essas palavras não podem ser encontradas, fica claro que é uma suposição ou fabricação da parte dele. É um grave erro exegético colocar deduções na Escritura.

O Senhor mencionou três coisas significativas que marcariam a mudança da velha ordem de adoração no judaísmo para a nova ordem no Cristianismo. Ele disse: “Mulher, crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade.”

- Primeiro, cessaria a existência de um centro geográfico terreno para adoração – seja em Gerizim (“neste monte”), ou em “Jerusalém”. Hebreus 8:2, 9:11, 9:23-24, 10:19-22 indicam que os Cristãos adoram em espírito no santuário celestial na presença imediata de Deus, mas isso não é mencionado aqui.

- Segundo, houve uma nova revelação da Pessoa adorada. No judaísmo, Deus era adorado como Jeová, mas agora no Cristianismo Ele deve ser adorado como “o Pai” do Senhor Jesus Cristo.

- Terceiro, haveria um novo caráter de adoração. A adoração no judaísmo era terrena e tangível, realizada por um sistema de rituais e cerimônias, mas a nova ordem de se aproximar de Deus no Cristianismo seria algo puramente espiritual. Os crentes agora adoram o Pai em “espírito” e de acordo com uma nova revelação da “verdade”.

Mas observe: em tudo o que o Senhor ensina aqui, Ele não faz nenhuma declaração de que não existiria um centro de reunião no Cristianismo. Ele estava simplesmente mostrando que a nova maneira Cristã de adoração não seria como a velha maneira judaica, que tinha o auxílio de meios mecânicos (música, incenso, comer sacrifícios, rituais, cerimônias, etc.). Em contraste com essas coisas exteriores, o apóstolo Pedro afirma que a nossa adoração Cristã seria caracterizada por “sacrifícios espirituais” com auxílio da presença interior do Espírito Santo (1 Pe 2:5; Fp 3:3).

Como mencionado, o novo local de adoração no Cristianismo é na presença imediata de Deus no santuário celestial (Hb 8:2, 9:23, 10:19). Os judeus adoravam em Jerusalém no santuário terreno, que era apenas uma figura daquele nos céus (Hb 9:23). Os Cristãos têm o privilégio de adorar nesse santuário celestial. Como os Cristãos adoram “em espírito e em verdade”, eles não precisam de meios mecânicos exteriores para auxiliar a sua adoração. Eles podem sentar-se calmamente em uma cadeira e o Espírito Santo poderia produzir na alma deles verdadeiro louvor e adoração ao Pai e ao Filho. Isso é verdadeira adoração celestial. Todos os Cristãos – tanto os espalhados nas denominações como os reunidos ao nome do Senhor – adoram “em espírito” no santuário celestial! Infelizmente, porém, nem todos os Cristãos se reúnem no verdadeiro terreno da Igreja. Isso ocorre porque tem havido uma grande ruína na profissão Cristã e muita ignorância sobre a verdade de reunião. Também há entre muitos Cristãos uma relutância em receber a verdade. O resultado é que existem centenas de divisões (comunidades Cristãs) no testemunho exterior da Igreja que não deveriam existir.

O Único Lugar de Reunião no Cristianismo

O autor da pergunta nos diz que sustentar a existência de “um único lugar” de reunião para os Cristãos é estar em “completa e intencional ignorância”. Contudo, o Sr. Darby e outros falam disso em seus escritos. Ele disse: “Ele [Cristo] é o único centro de reunião. Os homens podem criar confederações entre si, tendo como objetivo ou alvo muitas coisas, mas a comunhão dos santos não pode ser conhecida a menos que cada linha convirja para o Centro vivo. O Espírito Santo não reúne os santos em torno de meras visões, por mais verdadeiras que sejam, sobre o que a Igreja é, foi ou pode ser na Terra, mas Ele sempre reúne em torno dessa bendita Pessoa, que é a mesma ontem, hoje e para sempre. ‘Onde estiverem dois ou três reunidos em [ao] Meu nome, aí estou Eu no meio deles.’” Ele também disse: “A maior parte do conflito coletivo está com a incompreensão intencional da verdade de Cristo como o único centro de reunião…” É difícil acreditar que alguém iria chamar esse homem dotado e espiritual, levantado por Deus para ajudar a Igreja, de “intencionalmente ignorante”.

O assunto sobre o centro de reunião no Cristianismo foi tratado no nosso primeiro volume de “Perguntas”. Talvez possamos fazer mais algumas observações sobre o assunto para aqueles que estão honestamente buscando ajuda.

Mateus 18:20 – “Onde”

A palavra “onde” em Mateus 18:20 indica que existe um lugar que o Senhor escolheu para estar, no sentido corporativo de que já falamos. O versículo indica que é um lugar de escolha d’Ele, onde Ele colocou o Seu nome e onde Ele reúne Cristãos. Como mencionado, esse lugar de reunião no Cristianismo não é um centro geográfico literal, mas um terreno espiritual envolvendo princípios bíblicos relacionados com como os Cristãos devem se reunir para adoração e ministério. Os que estão nesse terreno não estão reunidos para princípios, mas para uma Pessoa no meio deles – o Senhor Jesus Cristo.

Note: o versículo não diz “onde quer que”, como a tradução moderna inglesa de Phillips incorretamente traduz. Muitos pensam que esse versículo esteja dizendo simplesmente que sempre e onde quer que um grupo de Cristãos se reúne – seja em uma lanchonete local, ou para algum propósito recreativo, etc. – o Senhor está no meio deles. Deixe-nos ser claros sobre isso; tal grupo teria a presença do Senhor com eles (demonstramos isso no capítulo 6), mas não é sobre isso que Mateus 18:20 está falando. Eles estão aplicando o versículo incorretamente no que diz respeito à interpretação; outros versículos serviriam melhor para dar suporte ao seu argumento. “Onde quer que” o torna um lugar de nossa escolha; “onde”, que é o que Mateus 18:20 diz, o torna um lugar de Sua escolha. É por isso que costuma ser chamado de “o lugar de Sua designação”.

O Único Lugar Onde Foi Instituído o Partimento do Pão

Lucas 22:7-11 indica que havia um lugar na Terra “onde” o Senhor mandou Seus discípulos se encontrarem com Ele para comer a Última Ceia, e foi lá que Ele instituiu a ceia do Senhor, que conhecemos no Cristianismo. O ponto aqui é que Ele escolheu o lugar onde eles se encontrariam para a ceia. Isso sugere fortemente que, quando o Cristianismo fosse estabelecido, o Senhor teria um lugar de Sua escolha – um centro de reunião – onde os crentes se reuniriam para lembrá-Lo. Em Mateus 18, a ênfase é no poder do Senhor em reunir os Seus ao lugar, mas em Lucas 22 a responsabilidade é dos crentes em buscar e achar o lugar de Sua escolha.

É significativo que, embora houvesse muitas casas em Jerusalém naquela noite em que a festa da Páscoa foi celebrada e a Ceia do Senhor instituída, havia apenas um aposento – um lugar – que tinha a presença do Senhor.

Filadélfia: A Única Posição de Assembleia que Recebeu a Aprovação do Senhor

As mensagens do Senhor às sete igrejas na Ásia (Ap 2-3) indicam que há um único terreno eclesiástico (testemunho corporativo) na Terra que Ele reconhece. Este teria que ser o lugar onde o Espírito de Deus levaria os crentes exercitados.

Essas mensagens apresentam uma história profética da Igreja. Cada assembleia, tomada consecutivamente, representa um estágio pelo qual a Igreja passaria na História. É significativo que a vinda do Senhor seja mencionada em cada uma das quatro últimas igrejas, mas não é encontrada nas três primeiras. Isso indica que aquilo que existiu historicamente nos três primeiros períodos já saiu de cena, mas o que é apresentado nas últimas quatro igrejas continua até que o Senhor venha. As últimas quatro igrejas (Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia) mostram quatro condições existentes na Igreja hoje.

A assembleia em “Tiatira” representa um poderoso sistema que surgiu na Igreja por volta do ano 580 d.C., conhecido como catolicismo (Ap 2:18-29). Retrata o período em que esse sistema eclesiástico governou a Igreja e o mundo (na Europa). A palavra “Tiatira” significa “sacrifício contínuo” e refere-se à missa católica. “Jezabel” representa o ensinamento perverso do catolicismo. Ela se autoproclamou “profetisa” e assumiu um papel na Igreja que Deus nunca lhe havia dado. Ela começou a “ensinar e enganar [extraviar – JND] seus súditos com suas doutrinas e práticas malignas. O sistema católico legislou seus dogmas e os forçou sobre a profissão Cristã e o mundo.

Como a vinda do Senhor é mencionada em Suas observações a Tiatira (Ap 2:25), devemos entender que o que essa igreja representa continuará até que Ele venha – o Arrebatamento. Na verdade, continuará após o Arrebatamento até a metade do período de sete anos de tribulação, sob a figura do Mistério Babilônia (Ap 17). Esse grande sistema eclesiástico é facilmente identificado hoje no mundo.

A assembleia em “Sardes” representa o protestantismo, que começou em 1529 d.C. (Ap 3:1-6). A palavra “Sardes” quer dizer “aqueles que escapam” e significa o que aconteceu nessa época. Assim como o Jeú do passado foi usado para quebrar o domínio que Jezabel tinha sobre o reino em Israel (2 Rs 9-10), Deus levantou os reformadores e usou-os para quebrar o poder do romanismo, permitindo que muitos dos santos escapassem de suas garras. Os dois pontos principais em que os reformadores insistiram foram a supremacia da Bíblia sobre a Igreja, e que a salvação era somente pela fé.

É significativo o que o Senhor disse a essa assembleia, “não tenho achado as tuas obras completas” (TB). O que começou no poder do Espírito caiu na ortodoxia8 fria, formal e morta. Os reformadores recorreram ao Estado para se proteger da perseguição da igreja de Roma e estabeleceram as grandes igrejas nacionais do protestantismo, que existem até hoje. A assembleia em Sardes representa o estado de coisas na Cristandade depois que o impulso da Reforma havia passado. É uma descrição daquilo em que os reformadores caíram: protestantismo. Os reformadores saíram do romanismo, mas infelizmente o romanismo não saiu completamente deles. Por isso as igrejas protestantes têm muitos princípios e práticas romanistas.

Novamente a vinda do Senhor é mencionada em Sardes. Na verdade, trata-se de Sua Aparição, que ocorre após a grande tribulação (Ap 3:3). Isso significa que muitos professos sem vida que estiveram conectados ao protestantismo continuarão durante o período da Tribulação e serão julgados na Aparição de Cristo. Assim como Tiatira, o que Sardes representa no mundo Cristão também é facilmente identificável hoje nas grandes igrejas protestantes nacionais e talvez nas organizações dissidentes que saíram delas.

A assembleia em “Filadélfia” representa um movimento na Igreja que começou em 1827 d.C. (Ap 3:7-13). “Filadélfia” quer dizer “amor fraternal” e significa o feliz estado de um testemunho remanescente de crentes que foram exercitados para retornar aos primeiros princípios relacionados com a ordem e prática da assembleia.

Em cada uma das igrejas anteriores, o Senhor descreveu a Si mesmo de acordo com uma das características que João tinha visto no capítulo 1. Porém, ao falar a essa igreja, Ele Se apresenta de uma maneira totalmente nova, o que significa um novo começo. Até então, havia um remanescente de crentes fiéis que caminhavam sozinhos como indivíduos (Ap 2:24-25, 3:4), mas nesse momento o Senhor trouxe à existência um testemunho remanescente no sentido corporativo.

O Senhor Se apresenta a essa igreja de três maneiras. Ao apreendê-Lo nessas características, três grandes coisas resultaram nessa época. Primeiramente, o Senhor disse: “O que é santo, O que é verdadeiro” (Ap 3:7). Os Cristãos exercitados viram o Senhor em Seu verdadeiro caráter e entenderam que para ter comunhão com Ele, santidade e verdade eram exigidas deles. Isso os levou a vários exercícios em relação à separação do mal, o que fez com que eles quebrassem todos os jugos desiguais – seculares e eclesiásticos (2 Tm 2:19-22).

Em segundo lugar, o Senhor Se apresenta como tendo “a chave de Davi”. Essa é uma referência às profecias do Velho Testamento sobre o Messias e o futuro de Israel (Is 22:22). Nessa época, o Senhor abriu aos santos o entendimento dos assuntos proféticos, resultando em um despertar e interesse geral pela profecia na profissão Cristã. Ao aprender assuntos proféticos, eles descobriram que a Igreja não tinha parte nas futuras bênçãos terrenas de Israel, mas tinha suas próprias bênçãos distintas e celestiais. Foi-lhes dado ver a verdadeira natureza e chamado da Igreja, bem como seus arranjos práticos para adoração e ministério enquanto na Terra. A revelação completa da verdade Cristã que uma vez foi entregue aos santos (Jd 3) foi recuperada nesse momento, incluindo a verdade sobre a vinda do Senhor (o Arrebatamento).

Em terceiro lugar, o Senhor Se apresenta a essa igreja como “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Isso aponta para o fato de que o que aconteceu nessa época foi um movimento soberano de Deus que nenhum homem ou diabo poderia parar. Apreender isso deu aos que estavam ligados a esse testemunho a coragem para se reunirem para adoração e ministério de acordo com a simplicidade das Escrituras, e não havia homem que o pudesse impedir (compare Atos 28:31).

É significativo que essa igreja seja marcada por “pouca força [poder – JND] Eles tinham o mesmo poder espiritual que a Igreja primitiva (At 4:33), porém “pouco”. Daí esse reavivamento não ter sido um movimento em grande escala no mundo. Ele não teve um grande status mundial, como a Igreja Católica e as igrejas protestantes. Guardar a Sua “Palavra” também marcava essa igreja. Historicamente, aqueles ligados a esse movimento eram conhecidos por serem estudiosos das Escrituras (At 17:11). Essa igreja também é marcada por não negar o Seu “nome”. Eles abandonaram todos os nomes e títulos denominacionais e estavam felizes em se reunir simplesmente em Seu nome apenas (Mt 18:20).

A sétima e última assembleia, em “Laodiceia”, representa uma condição na Igreja que surgiu a partir do que aconteceu em Filadélfia (Ap 3:14-22). O que é descrito em Laodiceia corresponde ao testemunho da Igreja em seus dias finais. “Laodiceia” quer dizer “os direitos do povo”, e representa as ideias democráticas modernas que influenciaram a Igreja nestes últimos dias. As igrejas escolhendo seus anciãos e nomeando seus pastores é o que caracteriza as chamadas igrejas “evangélicas” na Cristandade hoje.

Laodiceia descreve um setor no testemunho Cristão caracterizado pela grandeza autossuficiente que se imagina ser dotado de riquezas e poderes espirituais, mas que na verdade é “desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. Em vez de o Senhor avaliar o estado da assembleia em Laodiceia, como Ele faz com as igrejas anteriores, os Laodicenses colocam-No para fora de sua porta e assumem o lugar d’Ele, e avaliam a sua própria condição como sendo certa e boa! Isso é realmente espantoso. Essa igreja é marcada por uma flagrante indiferença às reivindicações de Cristo e está satisfeita em prosseguir sem Ele. É difícil de acreditar que eles tiveram a audácia de excomungar a Cabeça da Igreja! Essa é a lamentável condição que marca a Cristandade moderna nestes últimos dias. O estado daqueles em Laodiceia era “morno” e tão detestável ao Senhor que Ele anunciou que estava “a ponto de vomitar” eles de Sua boca (rejeitá-los). Isso irá ocorrer em Sua vinda – o Arrebatamento.

As duas últimas igrejas descrevem duas posições eclesiásticas na Cristandade, mas também descrevem dois estados espirituais entre os Cristãos. Isso significa que é possível estar conectado à posição eclesiástica de Filadélfia, mas estar em um estado de Laodiceia. O laodiceanismo está carregando a verdade recuperada nos tempos de Filadelfia (ou parte dela) nominalmente ou intelectualmente, sem que ela tenha um peso moral na vida da pessoa. Os verdadeiros Filadelfienses não estão ocupados consigo mesmos e seu testemunho; eles estão ocupados com o Senhor.

É significativo que Filadélfia seja a única igreja das últimas quatro em que não havia nada para julgar. Ao contrário das outras igrejas, não houve uma palavra sequer de condenação dada a ela. Eles não são chamados a “arrepender-se”, como no caso das outras igrejas, porque já estavam em um estado de arrependimento. Sentiram o estado quebrado e arruinado da Igreja e confessaram sua participação no fracasso público dela (compare Daniel 9).

Como o que Filadélfia representa continua até ao Arrebatamento, podemos nos regozijar por existir uma posição ou entidade eclesiástica na Cristandade hoje que tem a aprovação do Senhor. Mas note: não há duas ou três dessas posições de igreja que o Senhor aprova – há apenas uma. Se Ele escolheu colocar o Seu nome em algum lugar na Terra e está reunindo Cristãos ali, como afirmado em Mateus 18:20, teria que ser Filadélfia. Não podemos pensar que o Espírito de Deus levaria as pessoas a algum lugar que não seja aquele que tem a aprovação do Senhor. Isso não quer dizer que os santos reunidos não tenham falhas; não é o estado, mas o terreno em que estão reunidos, o que Ele aprova. Não devemos confundir essas duas coisas. Nem queremos transmitir que NÓS somos Filadélfia. Tem sido dito frequentemente que, no momento em que dizemos que somos Filadélfia, acabamos de anunciar que somos Laodiceia. Nosso ponto aqui é que existe algo que corresponde a Filadélfia hoje no testemunho Cristão. Fica para o exercício de cada Cristão estar identificado com esse algo.

Jerusalém: Uma Figura do Único Centro de Reunião no Cristianismo

O Senhor disse aos filhos de Israel que Ele havia escolhido um lugar na terra de Canaã, onde Ele queria que eles trouxessem suas ofertas e adoração (Dt 12). Ele marcou o lugar para o rei Davi fazendo descer fogo do céu no local (1 Cr 21:22-22:1). O lugar era Jerusalém (2 Cr 3:1, 6:6).

Não podemos pensar que o centro divino de reunião no Velho Testamento não tenha um correspondente no Novo Testamento; é um tipo do centro espiritual de reunião no Cristianismo. As Escrituras que já olhamos no Novo Testamento confirmam a veracidade dessa figura digna de nota. É significativo que as características que marcaram o lugar designado por Deus no Velho Testamento sejam as mesmas, em princípio, do lugar designado pelo Senhor no Cristianismo. Algumas dessas características correspondentes são:

- Jerusalém era o lugar que o Senhor tinha “escolhido” para Israel se reunir – não foi o povo que o escolheu (Dt 12:5, 2 Cr 6:6). Do mesmo modo, o terreno que o Senhor escolheu no Cristianismo, para os Cristãos se reunirem, não é onde quer que eles escolham se reunir, mas “onde” Ele escolheu reuni-los (Mt 18:20, Lc 22:7-10).

- Jerusalém era o lugar onde o Senhor colocou o Seu “nome” (Dt 12:5, 11). Do mesmo modo, o Senhor estabeleceu o Seu nome como o centro de reunião hoje – “onde estiverem dois ou três reunidos em [são colocados juntos ao – JND] Meu nome” (Mt 18:20).

- Jerusalém era o lugar onde a presença do Senhor seria conhecida – “Sua habitação” (Dt 12:5). Do mesmo modo, o Senhor está “no meio” dos Cristãos que Ele reuniu pelo Espírito (Mt 18:20).

- Jerusalém era o lugar onde os israelitas deviam oferecer seus sacrifícios a Deus e em nenhum outro lugar (Dt 12:6, 11-14; Lv 17:1-9). Do mesmo modo, os Cristãos devem reunir-se para adorar no lugar de escolha do Senhor (Mt 28:16-17). - Jerusalém era o lugar onde os israelitas deviam ter feliz comunhão com seus irmãos (Dt 12:7, 12, 18, 14:26). Do mesmo modo, o centro de reunião hoje é um lugar para “comunhão” (1 Co 10:16-17; At 2:42).

- Jerusalém era o lugar onde Israel realizava suas festas anuais (Dt 16:2, 6, 11, 15-16). Do mesmo modo, todas as reuniões de assembleia devem ser realizadas no mesmo terreno de reunião (1 Co 5:4).

- Jerusalém era o lugar onde as decisões administrativas de ligar eram tomadas (Dt 17:8-13). Do mesmo modo, aqueles no centro de reunião no Cristianismo têm autoridade para agir em nome do Senhor ao tomarem decisões de ligar (Mt 18:18-20; 1 Co 5:4).

- Jerusalém era o lugar onde os israelitas traziam seus dízimos. Estes eram presentes materiais para o Senhor (Dt 26). Do mesmo modo, as “coletas” dos santos devem ser feitas no primeiro dia da semana e incluídas na adoração oferecida ao Senhor (1 Co 16:1-2; Hb 13:15-16). - Jerusalém era o lugar onde Israel devia se reunir para ouvir e aprender a verdade da Palavra de Deus (Dt 31:11-13). Do mesmo modo, o Senhor queria que os crentes estivessem juntos para aprender “a doutrina dos apóstolos” no lugar de Sua designação (At 2:42; 1 Tm 4:13).

- Jerusalém era o lugar onde oração era feita (1 Rs 8:28-29). Do mesmo modo, no Cristianismo devemos ter reuniões de oração no lugar de Sua designação (At 2:42, 4:23-31).

Essa clara correlação com o lugar do Velho Testamento é evidente demais para negar.

O Fato de Existir Um Reunidor Divino Significa que Existe um Centro de Reunião

Em João 16:13, o Senhor disse: “Quando vier aqu’Ele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade”. “Toda a Verdade” incluiria a verdade da assembleia. Logo, todo Cristão exercitado que deseja ser instruído na verdade da assembleia e em como Deus deseja que nos reunamos para adoração e ministério, pode contar com o Espírito de Deus para ensiná-lo. Como mencionado anteriormente, Mateus 18:20 indica que o Espírito Santo é o reunidor divino. Como isso é verdade, será que Ele levaria os Cristãos a diferentes centros que estão em divisão uns com os outros? Se Ele realmente faz isso, então o Espírito de Deus é culpado pelas divisões desonrosas a Cristo no testemunho da Igreja! Ele seria o Autor do estado dividido na Cristandade! Certamente nenhum Cristão sóbrio acusaria o Espírito de tal coisa.

Hamilton Smith disse: “O Espírito Santo está reunindo todas as várias comunidades divididas e independentes que procuram se apropriar dessa promessa [em Mt 18:20]? Tal suposição necessariamente envolve colocar sobre o Espírito Santo a culpa pelas existentes deploráveis divisões e independência desonrosas a Cristo. Será que essa multiplicidade de centros vistos na Igreja professa se deve à obra do ‘Espírito da verdade’ que veio glorificar a Cristo? Longe esteja esse pensamento!”

Agora, se Deus tem um Reunidor divino, então Ele tem um centro de reunião para o qual o Reunidor está conduzindo Cristãos. Entendendo isso, podemos ver por que aqueles que se opõem à verdade de um centro de reunião no Cristianismo querem se livrar de qualquer pensamento de que exista um Reunidor divino. Parece que eles trabalham noite e dia procurando maneiras de provar que Mateus 18:20 não se refere à obra do Espírito de reunir. Mas “a Escritura não pode ser anulada” (Jo 10:35).

Uma Ilustração Hipotética

Nas Reuniões Gerais de Ottawa (1987), foi dada a seguinte ilustração. “Acho que precisamos voltar ao início das coisas – até o dia de Pentecostes. Naquele dia, o Espírito de Deus desceu, e Ele uniu cerca de cento e vinte pessoas por um só Espírito em um só corpo. Estavam todas elas reunidas ali, reunidas ao nome do Senhor Jesus Cristo. Mas suponha agora que Pedro tenha uma discórdia com João, e eles decidam que vão estabelecer comunhões separadas. Então haveria uma companhia reunida com os que seguiram em comunhão com João, e haveria os que seguiram Pedro. Será que poderíamos dizer que o Espírito de Deus iria igualmente conduzir a um lugar ou ao outro, e que não faria diferença? Não seria isso uma negação do que estamos lendo nesta Escritura [Ef 4], que ‘há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação’?” “Será que o Espírito de Deus está reunindo em divisão? Será que Ele está dizendo: ‘este grupo de Cristãos deve reunir-se nesta companhia, e esse grupo de Cristãos deve reunir-se em outra companhia?’ Isso seria negar o fato daquilo que o Espírito de Deus está realmente fazendo aqui, ao reunir uma noiva para Cristo, ao levantar um testemunho para a verdade do um só corpo, e exortando-nos a guardar ‘a unidade do Espírito’.” “Devemos sempre reconhecer que o Espírito de Deus não está reunindo para dois centros. Eu acredito, assim como no Velho Testamento, que o Senhor escolheu um lugar onde Ele colocou o Seu nome, e ali estava a Sua presença, ali estava a Sua autoridade. Assim é também verdade hoje; não se trata de um local específico na Terra como era Jerusalém, mas de uma Pessoa, e de estar reunido no terreno do um só corpo. Sua presença é Sua aprovação quanto à maneira como nos reunimos…. Não neguemos o fato de que o Espírito está reunindo para Cristo, e de que Cristo é o Centro. Sua presença é o que constitui o Lugar e dá autoridade para a ação nesse Lugar.”

J. N. Darby disse, “se existir uma tal [assembleia local], e outra for estabelecida pela vontade do homem de forma independente, somente a primeira é moralmente, aos olhos de Deus, a assembleia de Deus, e a outra absolutamente não é, porque ela está estabelecida em independência da unidade do corpo.” Se os Cristãos escolherem se reunir segundo outros princípios que são divergentes daqueles do um só corpo de Cristo, será que o Espírito de Deus reconheceria tais comunhões?

Onde Está o Centro de Reunião de Deus na Terra Hoje?

Sendo assim, então existe um centro divino de reunião para os Cristãos na Terra? Sim, a Escritura ensina que existe. Onde ele está então? Ora, isso cabe a cada Cristão exercitado investigar. Deus quer que sejamos exercitados a respeito disso e que busquemos a mente do Senhor para orientação, assim como Pedro e João perguntaram ao Senhor “onde” era esse lugar na época deles (Lc 22:9). “A glória de Deus é encobrir o negócio; mas a glória dos reis é tudo investigar.” (Pv 25:2)

RESUMO: Não há nada de errado em aplicar no Cristianismo a figura do Velho Testamento do único centro de reunião (Jerusalém), porque o Novo Testamento apoia o fato de que há um único terreno de comunhão no qual o Senhor reúne Cristãos. É claro que hoje o centro não é um centro geográfico, mas um terreno espiritual de princípios sobre o qual o Espírito reúne Cristãos. Se Deus possui um centro de reunião na Terra, então ele só poderia estar em uma única posição eclesiástica. Se o Senhor estivesse no meio de todos os grupos Cristãos, sancionando a posição deles em um sentido coletivo ou corporativo (Mt 18:20), então Ele estaria autorizando ou sancionando as muitas divisões no testemunho público da Igreja. Isso é algo que Ele não faria, pois seria uma negação da verdade de que há um único centro divino de reunião – que é o Próprio Cristo.

CAPÍTULO 8

As Falhas de Pessoas Zelosas ao Extremo Não Invalidam a Verdade de Reunião em Mateus 18:20

AFIRMAÇÃO/PERGUNTA: Recentemente, um irmão declarou publicamente que achava que, quando um indivíduo desejasse participar da comunhão aqui em uma localidade, que deveria ser obrigatório que ele primeiro afirmasse que “o Senhor SÓ está no meio conosco_” (que sentimos que seguimos as Escrituras com mais obediência, etc., ou quaisquer que sejam as outras razões) e não em nenhuma outra comunhão! Há um grande número de nós que simplesmente não consegue fazer isso! Isso é ELE quem decide, NÃO eu!_

RESPOSTA: as deficiências e falhas dos irmãos não são desculpa para colocar a verdade de lado. Se alguém zeloso ao extremo disse alguma coisa que “passou dos limites”, ela não pode ser considerada como uma afirmação doutrinal que os irmãos sustentam e reconhecem. Quem fez a declaração acima claramente foi longe demais. Este seria um exemplo do que mencionamos na introdução de irmãos bem-intencionados fazendo declarações desequilibradas e imprudentes em seu desejo de defender a verdade. Eles podem frustrar os jovens, mas isso de maneira nenhuma anula a verdade de que Deus tem um centro de reunião ao qual o Espírito de Deus está reunindo Cristãos.

A pessoa que fez essa imprudente afirmação não tem o suporte da geração anterior de irmãos mais velhos. Mr. W. Potter disse, “Eu não fico feliz em ter que pensar que às vezes a mesa do Senhor se torna, por assim dizer, uma conveniência. Por exemplo, aqueles conosco estão com a visita de parentes que são membros de alguma denominação, mas que vêm junto para a reunião, e desejam participar conosco da ceia ‘simplesmente como Cristãos’. A mim, me parece que uma consciência correta e integridade os levariam à igreja deles. Eles simplesmente vêm para a ocasião porque não se importam de romper temporariamente com os amigos. Nesse ponto eu não estou feliz.”

“Parece-me que, em tais casos, a nossa responsabilidade não é a de recusá-los, mas a de colocar diante deles a razão pela qual estamos reunidos desta forma, que a nossa posição é um protesto prático contra a falta de base bíblica das denominações, e que eles, ao participarem conosco no ato da ceia naquele momento, identificam-se conosco nessa posição, que é um protesto contra aquilo a que eles estão ligados e defendem confessadamente. Será que eles estão dispostos, mesmo que temporariamente, a se identificarem conosco? Onde as almas estão exercitadas é outra questão, e parece-me que alguém se sentiria bem à vontade em sentar-se à mesa com eles.”

“Não é o exercício da alma o que importa? Portanto, nenhuma regra pode ser estabelecida. Certamente não viria do Senhor a exigência de que uma alma piedosa e exercitada, ligada a qualquer uma das, assim chamadas, denominações ortodoxas, cortasse seus laços com a sua igreja, antes de permitirmos que participasse conosco à mesa. Parece-me que fazer isso é praticamente negar o terreno sobre o qual estamos reunidos.”

“Quanto àquelas congregações que professam estar reunidas ao nome do Senhor, creio que se trata totalmente de outra questão. Eles professam estar reunidos ao Seu nome e devem saber o porquê de estarem separados de nós e nós deles. Se qualquer um deles desejar participar da mesa conosco, as suas razões para isso devem ser investigadas e medidas tomadas de acordo com o que for encontrado. Há sempre mais conhecimento com eles, quanto à verdade divina, do que com os santos nas denominações, e eu acredito que, em geral, eles não são tão desconhecedores das causas das divisões entre nós quanto alguns deles às vezes querem nos fazer pensar.”

Essa citação mostra que o Sr. Potter não acreditava que deveríamos exigir declarações e promessas daqueles que querem estar em comunhão. Não fazemos as pessoas prestarem juramento a um credo ou pedimos para fazerem uma declaração de fé, ou qualquer coisa do tipo. Recebemos almas simples em fé, confiando que elas crescerão em sua apreensão da verdade.

Esse princípio é visto em 2 Crônicas 30-31, quando Ezequias chamou o povo de Judá e o povo das dez tribos dispersas para virem ao centro divino em Jerusalém e celebrarem a Páscoa. Ele não exigiu que eles destruíssem seus ídolos antes de vir. Depois que eles vieram e desfrutaram da Páscoa no centro divino, eles foram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelo homem na Cristandade se assemelham à idolatria. Estamos falando do princípio de uma pessoa se desligar de um erro religioso anterior.) O interessante a se notar aqui é que Ezequias não tinha dito para eles fazerem aquilo! Foi uma resposta do coração deles que veio puramente por terem estado na presença do Senhor em Jerusalém.

Existe uma diferença entre alguém associado ao erro clerical nas denominações por ignorância e alguém que ativamente defende e promove o erro. Um crente, que pode desconhecer a ordem bíblica de Deus para a adoração e ministério Cristãos, pode vir de uma denominação criada por homens e que pratica uma ordem clerical querendo partir o pão à mesa do Senhor. Mesmo estando associado a esse erro eclesiástico, se ele for uma alma simples, não é provável que ele seja, nesse ponto, culpado de mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por ser piedosa no andar e sã na doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tenha cortado formalmente sua ligação com essa denominação. Isso não significa que os irmãos acreditem em uma recepção aberta à mesa do Senhor. A mesa do Senhor não é uma mesa fechada, nem uma mesa aberta, mas uma mesa vigiada. Alguns que defendem uma política de recepção aberta tentaram pegar coisas escritas pelos primeiros irmãos para provar que eles ensinavam que a mesa deveria ser aberta. Mas eles, de forma intencional ou por ignorância, enfatizaram apenas certas partes desses escritos que se adequam ao seus interesses. Muitas vezes nos mesmos escritos haverá declarações que qualificam essas observações, insistindo no cuidado que se deve tomar na recepção.

A pergunta é: “Quando uma inconsciente associação eclesiástica se torna um mal eclesiástico?” Cremos que a resposta simples é: “Quando a vontade da pessoa está envolvida.” Averiguar isso exigirá discernimento sacerdotal por parte da assembleia. Em casos assim, a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer a mente d’Ele sobre o assunto. Em condições normais, os irmãos deveriam permitir que essa pessoa parta o pão, esperando e confiando que Deus está trabalhando em seu coração e que ela, após participar da ceia do Senhor, irá deixar o terreno em que anteriormente esteve e continuar com aqueles reunidos ao nome do Senhor.

Portanto, não saímos por aí acusando Cristãos em suas várias denominações de carregarem mal eclesiástico. Tais pessoas podem estar identificadas com o falso sistema clerical predominante na Cristandade, mas caso sejam eles ignorantes, dificilmente podemos considerá-los culpados. Judas, depois de falar da falsa ordem clerical em sua epístola, fala da necessidade de usar “de discernimento” (ARF) em relação a “alguns” na confusão na Cristandade (Jd 11-13, 22-23). Isso mostra que devemos distinguir entre os líderes e os liderados em se tratando de males eclesiásticos.

Se uma pessoa quer continuar indo a ambos os lugares regularmente, provavelmente é um sinal de que sua vontade está agindo, e isso não deve ser permitido. J. N. Darby observou, “Diferença de visões eclesiásticas não é razão suficiente para barrar uma alma. Mas se alguém quisesse estar um dia entre os irmãos, e no dia seguinte entre as seitas, eu não deveria permitir isso, e não receberia tal pessoa; pois, em vez de usar a liberdade que lhe pertence para desfrutar da comunhão espiritual dos filhos de Deus, ela avança na pretensão de mudar a ordem da casa de Deus e de perpetuar a separação dos Cristãos.”

É verdade que, em matéria de recepção à mesa do Senhor, seria mais simples ter um protocolo (um procedimento formal para seguirmos). Poderíamos então exigir que alguém esteja de acordo com certas regras e regulamentos antes de ser recebido. Mas isso tende a substituir a simples comunhão com o Senhor e a nossa necessidade de discernimento sacerdotal nessas questões por um sistema. Devido ao nosso estado, às vezes recorremos por padrão a esse tipo de coisa ao receber, em vez de testar o nosso estado. Por vezes os irmãos acabaram caindo no protocolo, em vez de cair no seio do Senhor para aprender d’Ele qual é a Sua mente quando alguém chega buscando estar em comunhão. Mas somos gratos por ainda haver, de modo geral entre os irmãos, o exercício de cuidado na recepção, embora possamos errar às vezes pelo lado da cautela.

Sectarismo

Uma reclamação frequentemente ouvida entre aqueles que querem um caminho mais espaçoso é, “Os irmãos são muito sectários!” Algumas dessas queixas são o resultado de declarações de pessoas zelosas ao extremo como essa que o autor da pergunta menciona, para as quais temos que humildemente “comer a oferta do pecado”. É possível ter “zelo de Deus, porém não segundo o conhecimento” (TB), o que poderia ser prejudicial ao testemunho e até mesmo fazer tropeçarem alguns (Rm 10:2; Gl 4:17-18).

No entanto, é evidente que alguns que reclamam de “sectarismo” nunca pesaram realmente o que estão dizendo. Sectarismo é zelo por uma seita, e um apego a ela. Indica uma mente limitada excessivamente zelosa que rapidamente julga e condena todos os que não são da seita. Ora, será que os irmãos realmente fazem isso? Talvez os nossos leitores tenham ouvido alguém soltar algo que tenha passado um pouco dos limites, mas que não é a declaração coletiva geral dos irmãos reunidos ao nome do Senhor. Pode parecer sectarismo para aqueles que são defensivos em relação à posição de igreja denominacional. Tal sensibilidade pode vir da interação ou da participação deles em alguma comunhão denominacional. E, como resultado, quando alguém chega perto de defender a verdade de reunião, eles veem como sectarismo. Os irmãos devem insistir zelosamente em princípios da Palavra de Deus; não é errado fazer isso. Paulo e Barnabé permaneceram firmes quando a verdade estava sendo questionada e minada. Gálatas 2:5 diz, “Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição”.

Se parássemos para contar os zelosos fervorosos que possuem essas, por assim dizer, “visões sectárias”, provavelmente não seria mais do que um punhado de pessoas espalhadas pelo país! O mundo é cheio de personalidades estranhas e esquisitas. Quem somos nós para dizer ao Senhor que Ele não pode salvar e reunir algumas delas! Considerar os comportamentos e declarações extravagantes de algumas dessas pessoas como sendo “o credo dos irmãos” é um argumento muito fraco de se apresentar para condenar a verdade de ser reunido ao nome do Senhor.

Temos notado, ao longo dos anos, que muitos dos mesmos que reclamam do “sectarismo” entre os irmãos e sentem que têm que deixar esse terreno “por causa da consciência”, descobrimos mais tarde que eles se juntaram a uma denominação de igreja! Essas igrejas não são nada além de seitas no sentido mais amplo da palavra. Se essas pessoas estavam tão preocupadas com sectarismo, por que é que eles iriam para lá? Era de se esperar que fosse o último lugar para onde iriam. Não faz sentido, e isso mostra que eles não tiveram qualquer exercício real sobre sectarismo. Parece apenas uma desculpa para deixar a assembleia.

RESUMO: As deficiências e falhas dos irmãos não são desculpa para anular a verdade. Se alguém zeloso ao extremo falou “imprudentemente com seus lábios” (Sl 106:33), isso não é razão para jogar fora a verdade de que Deus tem um centro de reunião.

CAPÍTULO 9

As Tristes Divisões Entre os Irmãos Não Invalidam a Verdade de Reunião em Mateus 18:20

DECLARAÇÃO/PERGUNTA: Existem tantas divisões entre os Irmãos e tantas pessoas saindo; como podemos achar que eles têm a aprovação do Senhor? Será que essas coisas não provam que os Irmãos estão sobre um fundamento completamente errado?

RESPOSTA: É verdade. É triste dizer que, em média, tem ocorrido uma divisão entre os congregados ao nome do Senhor a cada 20-25 anos. Um historiador da Igreja relatou: “Os Irmãos são conhecidos por dividirem corretamente a Palavra e erroneamente dividirem a si mesmos.” Infelizmente isso é verdade. Poderíamos nos perguntar por que é assim. Uma resposta seria a obra da vontade da carne. Se andássemos em julgamento próprio, não aconteceriam divisões. Mas quando nos recusamos a julgar a nós mesmos, Deus usa outros meios para nos humilhar e permite que uma divisão ocorra.

O Senhor quer verdade naqueles que estão ligados ao testemunho de estarem reunidos ao Seu nome. Uma vez que Ele deseja “a verdade no íntimo” (Sl 51:6), Ele quer que os nossos princípios sejam coerentes com o nosso posicionamento de estar reunidos ao Seu nome. Quando isso não acontece, o Senhor peneira o Seu povo, permitindo que divisões e dispersões ocorram até que ali permaneçam aqueles que genuinamente guardam os princípios de reunião sob os quais nos congregamos. O Senhor usa essas “chacoalhadas” para purificar o Seu testemunho.

Sofonias 3:11-13 fala da obra do Senhor de peneirar o Seu povo. O contexto da passagem tem a ver com o remanescente de Israel, mas o princípio mostrado nela se aplica às maneiras de o Senhor tratar com Seu povo em qualquer dispensação. “Tirarei do meio de ti [Jerusalém] os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no Meu monte santo. Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor. O remanescente de Israel não cometerá iniquidade, nem proferirá mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa; porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante.”

Sempre haverá alguns nascidos e criados entre os congregados ao nome do Senhor que nunca realmente se apropriaram das coisas às quais estiveram conectados. Alguns podem ter tomado o seu lugar à mesa do Senhor por conveniência e podem até mesmo nem acreditar nos princípios sob os quais estão reunidos. Outros podem ter uma vez abraçado a verdade de estar reunido ao nome do Senhor, mas se tornaram deficientes em relação a ela. Assim como aqueles no navio que viajava para a Itália, eles simplesmente ficaram “saciados” com o trigo – que poderiam chamar de “doutrina dos Irmãos” – e jogaram-no ao mar (At 27:38 – TB). Mas, por mais estranho que seja, eles permanecem entre os santos reunidos.

Quando existem irmãos reunidos ao nome do Senhor que possuem princípios divergentes com relação a congregar – talvez princípios de Amalgamação, ou princípios de Irmãos Abertos, ou ainda mais longe, princípios denominacionais – e eles falam abertamente sobre seus pontos de vista (e pressionam para que sejam aceitos), a nossa voz coletiva na comunidade enfraquece. O resultado é que os irmãos não mais glorificam a Deus “com uma só mente e uma só boca” (Rm 15:6 – KJV). Nós nos perguntamos por que é que essas pessoas iriam querer estar entre os santos reunidos se elas não creem nos princípios que são parte integrante dessa posição. Não desejamos ver ninguém sair da assembleia, mas parece muita hipocrisia alguém estar ligado a essa posição remanescente e, ainda assim, não crer nos próprios princípios de sua existência.

De qualquer forma, quando existe tal condição entre o povo do Senhor, Ele opera para purificar o testemunho. Ele irá permitir uma tempestade sobre uma assembleia na forma de algum problema para testar aqueles que estão ali e, assim, manifestar o verdadeiro estado das coisas. 1 Coríntios 11:19 fala disso, dizendo: “E até importa que haja entre vós heresias [seitas – JND], para que os que são sinceros [para que o aprovado – JND] se manifestem entre vós” (TB). Do mesmo modo, o capitão de um barco a vela não sabe quão competentes são seus marinheiros até que eles sejam testados em uma tempestade; então, torna-se manifesto quem é e quem não é. Amós 3:6 diz, “Sucederá qualquer mal à cidade, e o Senhor não o terá feito?” Isso mostra que o Senhor permite (até mesmo envia) os testes. Se estamos entre os irmãos apenas por causa de ligações familiares, ou por alguma outra razão, o Senhor irá testar e “manifestar” isso. O fato de ter havido uma divisão ou dispersão em média a cada 20-25 anos nos diz que cada geração deve ser testada a respeito das verdades de reunião.

É importante entender que o Senhor é o Reunidor divino, mas Ele também é o Espalhador divino. Em ambos os casos, Ele tem um agente. Ao reunir, Ele usa o Espírito de Deus, mas ao espalhar Ele usa o diabo. Pode haver momentos em que o Senhor, em Sua maneira governamental de tratar com Seu povo, permite que Satanás entre no meio deles e espalhe alguns (Nm 21:6; Lc 22:31; Jo 10:12). Isso porque espalhar é uma obra de Deus tanto quanto reunir (Gn 3:23-24, 11:8-9; Dt 4:27, 28:64; 1 Rs 12:24, 17:20-23; 2 Rs 24:1-4; Jr 15:1, 4, 31:10; Ez 20:37-38, 36:19; Am 9:9-10; Sf 3:11-12; 1 Co 10:5). Quando o Senhor permitiu a grande cisão entre as tribos de Israel, Roboão tentou recuperar as dez tribos que seguiram Jeroboão na divisão, porém o Senhor enviou um profeta a Roboão, que mandou ele parar e desistir, dizendo: “Volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra.” (1 Rs 12:24).

Não precisamos temer essas ações do Senhor entre o Seu povo, porém elas devem nos humilhar. “Ouvi a vara, e Quem a ordenou” (Mq 6:9). J. N. Darby disse que nunca viu o peneirar resultar em algo que não fosse bom; o castiçal brilha mais intensamente depois. Assim, quando uma tempestade chega a uma assembleia reunida ao nome do Senhor, não significa que essa assembleia esteja no terreno errado, mas que o Senhor está testando Seu povo. Aqueles que estão ligados ao testemunho e que não sustentam os princípios sob os quais professam estar reunidos podem ser peneirados nesse momento, e outros serão reunidos para continuar o testemunho até que o Senhor venha. Acho que poderíamos dizer que se trata do programa de manutenção de Deus, que é parte integrante de estar reunido ao nome do Senhor. Logo, as divisões continuarão a acontecer até que o Senhor venha.

Essa pode não ser a única razão pela qual Deus permite que divisões aconteçam, mas é certamente uma das principais. Se os princípios de reunião são de fato a verdade de Deus, podemos ter certeza de que Satanás irá atacá-los. A Escritura nos diz que nos últimos tempos “espíritos enganadores” (de demônios) tomarão conta da mente de alguns, que “apostatarão da fé” (1 Tm 4:1). Certos princípios e práticas serão abandonados, e muitas vezes os mesmos que os abandonam são os mais veementes contra a verdade. Satanás usará essas pessoas para fazer sua obra de dividir os santos, e Deus permitirá que ele peneire o Seu povo.

RESUMO: divisões e dispersões, entre o povo do Senhor congregado ao Seu nome, não são um sinal de que eles estão reunidos sob princípios sem fundamento bíblico, mas de que o Senhor está testando e peneirando aqueles que estão ligados a esse testemunho. Se a ausência de divisão constitui quem está no terreno certo, então os católicos estariam certos – eles de fato tiveram apenas uma grande divisão em 1.400 anos!

CAPÍTULO 10

O Exercício dos Dons em Relação ao Centro Divino em Mateus 18:20

COMENTÁRIO/PERGUNTA: Se os dons são dados para o benefício de toda a Igreja, e a maioria deles está hoje nas denominações, como nos beneficiaremos desses dons quando a nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor, é dito para não irmos às igrejas onde eles estão?

RESPOSTA: O assunto sobre ter comunhão com a ordem denominacional foi abordado no primeiro volume de “Perguntas”. Lá foi apontado que os santos reunidos ao nome do Senhor frequentando cultos nas denominações seria:

- Hipocrisia, porque estaríamos nos identificando com uma posição de igreja sem base bíblica contra a qual protestamos. - Colocar nossa sanção na ordem denominacional, que não tem base bíblica. - Perder nosso poder como testemunhas da verdade da ordem bíblica de assembleia. - Associar a mesa do Senhor à ordem sem base bíblica das igrejas. - Correr perigo de sermos atraídos para dentro das denominações.

Naquele momento, não tocamos na questão de ser ensinado pelos homens com dons nas denominações, e ela merece atenção aqui.

Devemos Desobedecer à Verdade para Obter a Verdade?

Deus deu “dons” à Igreja para o aperfeiçoamento dos santos com o propósito de eles defenderem a verdade andando nela e ajudando outros a entendê-la (Ef 4:11-14). Não há dúvida de que hoje a maioria desses dons no corpo de Cristo estão nas diversas comunidades denominacionais da Cristandade. A questão é, será que aqueles, nas igrejas, que têm dom para ensinar e pregar podem nos fornecer alimento espiritual, e será que devemos ir lá para sermos alimentados por eles?

Em primeiro lugar, se o Senhor nos levou a separar-nos da confusão e do erro eclesiástico na “grande casa” (2 Tm 2:19-21), certamente Ele não iria virar e mandar que voltássemos para ela em busca de comunhão e alimento espiritual. É evidente, portanto, que aqueles que saíram para uma posição remanescente na casa de Deus, sendo reunidos ao nome do Senhor (2 Tm 2:22), devem permanecer no lugar para o qual Ele os chamou. Se o Senhor nos chamou para essa posição de separação, Ele irá nos sustentar ali. O conselho que Boaz deu a Rute foi: “Não ouves, filha minha? Não vás colher a outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui te ajuntarás com as minhas moças” (Rt 2:8). Esse é um bom conselho para nós. Simplesmente o Senhor não nos mandaria entrar na mesma coisa da qual Ele nos chamou para sair. Certamente não achamos que devemos renunciar a um princípio da verdade para obter verdade. Paulo disse que se ele retornasse para aquilo de que Deus o tinha chamado para sair, isso o tornaria um “transgressor” (Gl 2:18).

O inimigo de nossa alma quer nos comprometer de alguma forma, assim como Sambalate e Gesém tentaram fazer com Neemias, mandando dizer-lhe: “Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono” (Ne 6:2). Neemias respondeu, “Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer” (Ne 6:3). Precisamos perceber que defender a verdade de reunião, andando nela e a ensinando, é uma “grande obra” que podemos fazer para o Senhor. Assim como Neemias e aqueles que estavam com ele construíram o muro do centro divino nos tempos do Velho Testamento (Jerusalém), podemos estar empenhados em defender a verdade do centro de reunião de Deus no Cristianismo. Se alguém tentar nos afastar dele, precisamos responder da mesma maneira que Neemias. Pode não parecer bem uma obra para Deus, mas é verdadeiramente algo que Ele valoriza. O Senhor elogiou Filadélfia por seu esforço para manter o testemunho que Ele tinha “aberto” para eles. Que estejamos animados a continuar nesta obra.

O inimigo não desistirá em sua tentativa de nos fazer comprometer nossa posição – assim como Sambalate e Gesém, que enviaram a Neemias “o mesmo pedido quatro vezes” (TB) e depois uma “quinta vez” (Ne 6:4-5). É triste que alguns de nossos irmãos mais novos não vejam valor na verdade de reunião, nem parece que eles estejam estabelecidos nos princípios da Escritura para serem capazes de resistir às investidas do inimigo. E assim eles acabam sendo atraídos para as igrejas denominacionais.

Não estamos dizendo que os mestres e pregadores com dons nas igrejas não poderiam dar alimento espiritual a uma pessoa, mas tão somente que não iríamos querer violar nossa consciência e sair da posição à qual o Senhor nos conduziu. Uma outra ilustração do Velho Testamento enfatiza esse ponto. No deserto, Moisés separou a tenda, levando-a para um lugar “fora do arraial” por causa da corrupção no arraial (Êx 33:7). Então, algum tempo depois, ele “ajuntou setenta homens dos anciãos do povo e os pôs ao redor da tenda” (ARF). Mas Josué notou que dois dos homens não saíram do acampamento – Eldade e Medade. Eles continuavam a profetizar lá, e as pessoas no arraial ouviam (Nm 11:24-26). Era o lugar certo para aqueles dois homens estarem, uma vez que eles haviam sido chamados para fora do arraial? Significava que Josué e os outros deveriam voltar para dentro do arraial porque aqueles dois estavam lá? Talvez, se Josué e os outros entrassem no arraial e ouvissem Eldade e Medade, o ministério destes pudesse ser de algum auxílio. Porém, um chamado maior tinha prioridade sobre eles.

Josué queria que Moisés proibisse os homens de profetizar no arraial, mas Moisés disse: “Tens tu ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do SENHOR fosse profeta, e que o SENHOR pusesse o Seu Espírito sobre ele!” (Nm 11:27-29 – ARF) Do mesmo modo, deixamos que cada um dos homens que têm dom nas denominações ministre onde eles acham que devem. A Escritura diz: “subverter um homem em sua causa, isso o Senhor não aprova” (Lm 3:36 – KJV). Mas não significa que devemos nos juntar a eles já que fomos chamados a separar-nos para um lugar onde somos reunidos ao nome do Senhor.

Será que Eles Têm a Verdade para Dar?

Outro ponto que precisa ser considerado aqui é que dom e conhecimento são duas coisas distintas. Será que esses homens com dons nas denominações entendem a revelação Cristã da verdade para poderem nos dar dela? (Sabemos que o que temos a dizer em seguida poderia aparentar arrogância e fanatismo. Não queremos de forma alguma transmitir uma impressão errada – como se os santos reunidos fossem os únicos que tivessem a verdade –, mas a pergunta precisa ser feita.) Certamente eles têm alguma verdade, mas será que é a verdade em sua ordem correta? Se eles não sabem a verdade, eles não serão capazes de nos fornecê-la. Eles podem muito bem ter um diploma de algum seminário teológico bem conhecido, mas isso não significa necessariamente que eles conheçam a verdade. Não questionamos se esses homens têm um dom espiritual, como também não questionamos sua sinceridade e piedade pessoal.

Não temos nenhuma intenção de ofender; mas, para deixar mais claro o nosso ponto, vamos olhar, por um instante, alguns dos principais temas da Bíblia com isso em mente:

Eclesiologia (doutrina e prática da Igreja): será que poderíamos ir a uma igreja Cristã denominacional para aprender a verdade da assembleia? Será que ali conseguiriam nos ensinar como a Igreja deve se reunir para adoração e ministério, de acordo com as Escrituras? É altamente improvável. Mesmo que aqueles que pregam e ensinam nesses lugares soubessem da ordem bíblica para uma assembleia local, certamente não a ensinariam, pois condenaria a própria posição em que eles estão. Concluímos, portanto, que não obteríamos ajuda sobre a verdade da assembleia nas denominações.

Escatologia (verdade profética): será que poderíamos ir a uma igreja denominacional para aprender a verdade da profecia? Talvez haveria coisas básicas que os pregadores e os mestres com dons poderiam dar a uma pessoa. Porém, com toda a honestidade, não sabemos de um só pastor ou ministro que possua a ordem dos acontecimentos proféticos próxima à ordem bíblica. Erros – que vão desde a Rússia atacando Israel no início (ou perto do meio) da tribulação de sete anos, até quem o anticristo é, como também sobre a ordem dos juízos que cairão no final da grande tribulação, etc. – estão geralmente cobertos por uma névoa no que se refere a esses grandes fundamentos da profecia. Será que eles sabem o que é a Indignação? Ou o que é a Consumação? Ou quais são os dois ataques dos Assírios? Mesmo coisas simples, como a vinda do Senhor, muitos não têm certeza se a Igreja passará pela tribulação de sete anos, ou se será levada antes – alguns pensam que ela será arrebatada no meio! Se uma pessoa não tem clareza dessas coisas, haverá outros tópicos relacionados na profecia que também não serão entendidos. É um pouco como a montagem de um quebra-cabeça; se colocarmos uma peça fora do lugar, haverá outra que também não vai encaixar. Portanto, temos certeza de que, em termos da verdade profética, não receberíamos um ensino exato dos pastores e ministros do Cristianismo tradicional.

Soteriologia (verdade da salvação e as bênçãos associadas a ela): será que os pastores e ministros das igrejas denominacionais podem nos ensinar sobre a salvação e as bênçãos associadas a ela? Podemos dizer felizmente que eles pregam o evangelho nas igrejas evangélicas da Cristandade. Mas examinando mais atentamente as verdades específicas do Novo Testamento, conhecidas como doutrina de Paulo (2 Tm 1:13, 3:10), teríamos que dizer que há muitos pontos que não estão claros para esses pregadores e mestres. Além de não terem clareza quanto à verdadeira natureza, chamado e prática da Igreja, e quanto à verdade profética, a maioria dos pregadores denominacionais não entendem: novo nascimento, livre arbítrio, a vivificação e selo do Espírito, vida eterna, filiação, o velho homem e o novo homem, o batismo do Espírito, a diferença entre pecado e pecados, a diferença entre compra e redenção, os vários aspectos da santificação, a diferença entre perdão eterno e perdão governamental, muitas das figuras encontradas na Escritura, etc. Reconhecemos que é difícil fazer uma lista exata aqui, porque nem todos os pastores e ministros estão no mesmo nível de entendimento, e não queremos criar padrões preconcebidos.

Que fique aqui perfeitamente claro: esses homens com dons certamente podem dar ao crente respostas úteis quanto à salvação e a seguir o Senhor; porém, quando se trata dos típicos princípios da doutrina de Paulo, provavelmente não receberemos um ensino correto sobre essas coisas em uma denominação. Quanto mais entendermos os pontos e nuances distintos da doutrina de Paulo, mais claro isso ficará.

Verdade Dispensacional (verdade sobre as várias administrações do homem como mordomo (despenseiro) de Deus, particularmente a de Israel e a da Igreja): será que os pregadores e mestres das igrejas denominacionais nos ensinarão a verdade dispensacional? A maioria das igrejas hoje na Cristandade seguem uma visão pactual de interpretar as Escrituras (a visão dos reformadores do século 15, chamada de Teologia do Pacto), em vez de uma interpretação dispensacional. Uma vez que a maioria das igrejas não segue a verdade dispensacional, é evidente que elas não iriam ensiná-la em suas congregações.

Teologia (verdade sobre as três Pessoas da Divindade): Felizmente, podemos dizer que a teologia da maioria dos ministros Cristãos está correta – com a exceção, talvez, da humanidade sem pecado de Cristo. Mas devemos perguntar, “Realmente precisamos ir até eles para aprender sobre as Pessoas da Divindade?”

Vida Prática Cristã: somos gratos por a maioria dos pregadores e mestres evangélicos geralmente serem de ajuda para dar conselhos sobre uma série de assuntos práticos relacionados com a vida Cristã. O ministério deles com relação a cultivar as graças pessoais Cristãs, questões financeiras, problemas matrimoniais e familiares, etc., certamente não deve ser subestimado. Mas mesmo nisso, será que eles nos ensinarão a andar em separação do mundo em questões práticas? O que eles ensinariam a respeito de participar da política do mundo, entretenimentos, eventos esportivos, artes, música e teatro, etc.? Será que eles nos dariam conselhos sábios e piedosos sobre essas coisas?

Deixe-nos dizer, novamente, que não estamos tentando ser ofensivos ou críticos nestas observações; é fato que muito do ensino nas igrejas denominacionais não é exato, e alguns deles são claramente contrários à verdade da Escritura. Quanto mais aprendermos a verdade, mais claro isso ficará para nós. O problema é que a maioria dos que discordam de nós não parece ter um entendimento sólido da verdade. Quando ouvem os pastores e os mestres das igrejas, eles não detectam o erro e pensam que é tudo muito bom.

Sabemos que haverá pessoas sensíveis e defensivas em relação às denominações, que dirão que estamos julgando. Como mencionado, certamente não é a nossa intenção, mas para esclarecer o nosso ponto, tivemos que fornecer aos nossos leitores algumas especificidades, e assim nos expor à possibilidade de nos acusarem de sermos críticos. Nosso ponto em tudo isso é simplesmente mostrar que não é necessário ir a uma denominação para obter a verdade.

O Depósito da Verdade Dado aos Santos Reunidos

O problema com muitos de nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor, é que não percebemos o quão ricamente fomos abençoados na posição em que estamos eclesiasticamente. Deus Se identificou historicamente com essa posição e usou aqueles ligados a ela para recuperar para Igreja muito da verdade que estava perdida por mais de 1.500 anos. Era comum os que estavam nas denominações (150 anos atrás) virem até nós para aprender a verdade; agora sentimos que precisamos ir até eles para nos alimentar! Não é um pouco embaraçoso? Isso nos faz lembrar dos filhos de Israel tendo que descer aos filisteus para amolar seus instrumentos agrícolas (1 Sm 13:19-22). Não estamos insinuando que nossos irmãos nas denominações sejam filisteus ímpios; apenas nos entristece que os santos reunidos pensem que precisam buscar a verdade indo até aqueles que deveriam estar vindo até nós em busca dela. Se é verdade que recebemos tanto, por que achamos que precisamos ir às denominações para obter a verdade?

O moço que era servo de Eliseu não sabia o que tinha do seu lado. Quando viu o exército sírio se reunindo ao redor deles, ele pensou que eles estavam certamente em menor número e não eram páreos para as forças sírias. Então Eliseu orou, “Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos, para que veja” (2 Rs 6:17). O Senhor atendeu à oração de Eliseu e “abriu os olhos do moço, e viu” que os recursos com eles eram superiores aos dos sírios. Pensamos nisso em relação a alguns de nossos irmãos mais novos. Eles precisam que seus olhos sejam abertos para ver o que possuem por estarem associados aos santos reunidos. Não estamos insinuando que nossos companheiros irmãos nas denominações sejam semelhantes aos inimigos sírios de Israel, mas nos referimos a esse incidente em relação à necessidade de nossos olhos serem abertos.

Falando sem qualquer orgulho, perguntamos: “Onde mais poderíamos ir para obter toda a verdade de Deus que foi recuperada para a Igreja nos anos 1800 – eclesiástica, escatológica, dispensacional, etc.?” Mesmo os grupos que saíram em divisão dos santos reunidos – que geralmente têm mais luz do que as igrejas denominacionais – perderam certas partes da verdade. Novamente, não estamos tentando ser críticos; estamos tentando abrir os olhos de nossos leitores. É verdade que cada assembleia local entre os congregados ao nome do Senhor pode não ter mestres que consigam delinear essas coisas, mas, na comunhão dos irmãos como um todo, há um depósito de verdade que é incomparável. Nossa oração é que o Senhor abra os nossos olhos para ver isso. Não é algo para sentir orgulho; é algo para agradecer.

As pessoas muitas vezes respondem a isso, dizendo: “Mas ninguém sabe toda a verdade!” Sim, isso pode ser verdade quando se trata de apreensão pessoal, mas não é disso que estamos falando. Nosso ponto é que existe um depósito da verdade que foi confiado àqueles que estão reunidos ao nome do Senhor (verdades recuperadas da doutrina de Paulo, verdade profética, etc.), e esse depósito ainda está entre os santos reunidos. Se todos os que estão ligados a essa posição sabem dessas coisas já é outro assunto.

Mas isso faz surgir uma pergunta. Se as pessoas das denominações viessem a nós buscando ensino nesses vários grandes temas da Bíblia, será que conseguiríamos ensiná-las? Temos sido diligentes em aprender a verdade que é (ou era) comum entre nós? É aqui que mora o problema. Parece que muitos de nós não conseguiriam apresentar a verdade a eles, mesmo tendo sido abençoados com muito dela!

O Perigo de Acabar Absorvendo o Erro

Outra coisa a considerar é que ao ir às denominações para se alimentar, há o risco de ficar confuso e até mesmo acabar absorvendo o erro. Se não estivermos bem instruídos na verdade (o que é compreensível quando somos jovens), nós podemos, e muito provavelmente iremos, assimilar inadvertidamente algo errôneo. A Escritura diz, “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). Isso foi dito aos Coríntios, no contexto em que eles tinham absorvido uma doutrina muito errada quanto à ressurreição. Não devemos ser ingênuos a ponto de pensar que isso não pode acontecer conosco. Precisamos beber do poço “sabendo de quem o tens aprendido” (2 Tm 3:14).

Alguém poderia perguntar: “E quanto a ler e escutar o ministério de homens dotados sem ir às denominações? Será que não podemos aproveitar algo do ministério oral ou escrito deles?” Acreditamos que não é nosso papel legislar sobre o que os congregados ao nome do Senhor fazem a esse respeito. Há coisas que podem ser de ajuda em livros de ministério escritos por aqueles que não estão reunidos ao nome do Senhor, mas precisamos ter cuidado com o que lemos.

Um princípio que pode nos guiar a esse respeito encontra-se em Números 31:21-24. “E disse Eleazar, o sacerdote, aos homens de guerra, que partiram à peleja: Este é o estatuto da lei que o Senhor ordenou a Moisés. Contudo o ouro e a prata, o cobre, o ferro, o estanho, e o chumbo; toda a coisa que pode suportar o fogo fareis passar pelo fogo, para que fique limpa: todavia se expiará [purificará – ARA] com a água da separação: mas tudo que não pode suportar o fogo, o fareis passar pela água. Também lavareis os vossos vestidos ao sétimo dia, para que fiqueis limpos: e depois entrareis no arraial”.

Havia coisas valiosas entre aqueles que não estavam com os filhos de Israel. Os israelitas foram autorizados a levá-las para o arraial, mas eles tinham que passá-las pelo “fogo”, ou o que não poderia passar pelo fogo, [deveria passar] pela “água”. Como fogo fala de juízo e água de purificação, devemos aprender com isso que se lermos coisas escritas por aqueles entre os grupos divididos dos irmãos, ou daqueles em uma posição denominacional, devemos julgar a conexão a partir da qual eles vieram e, assim, desassociá-la de sua fonte. O que estamos dizendo é que precisamos ter o cuidado de desconectar as verdades espirituais que obtivemos da posição eclesiástica errônea na qual elas estão sendo ensinadas. Se isso não for feito, esse ministério poderá ter o efeito de nos atrair para o lugar de onde veio. Aqueles que consomem o ministério de pastores e ministros de igreja, e depois acabam em uma dessas denominações, mostram que eles possivelmente estavam lendo esse ministério sem desconectá-lo de sua fonte. Usando as próprias palavras da figura mencionada, eles não o passaram pelo “fogo” e pela “água”. Lembremos que não existe ministério no “arraial” (Hb 13:13) que levará uma pessoa a sair do arraial; a tendência é o inverso. É por isso que dizemos que uma pessoa precisa ter cuidado a esse respeito.

Juntando-se, em Serviço, Àqueles que Estão nas Denominações

Pode-se perguntar, “Há algo de errado em irmãos reunidos ao nome do Senhor se juntarem aos que estão nas denominações na obra evangelística?” Este é outro ponto em que não desejamos legislar. Deve-se deixar a consciência de cada um agir diante de Deus (Rm 14:5). No entanto, vamos passar um princípio que pode dar alguma luz orientadora sobre o assunto.

O apóstolo Paulo disse, “agora foi revelado aos Seus santos apóstolos e profetas, no [poder do – JND] Espírito, a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3:5-6 – ARA). O fato de ele acrescentar “por meio do evangelho” mostra que as verdades do evangelho e da assembleia estão ligadas. No evangelho, apresentamos Cristo, o Salvador; ao ensinar a verdade da Igreja, apresentamos Cristo, o Centro. Ambas estão intimamente ligadas. Portanto, toda a obra evangelística deve ser conduzida tendo em vista a assembleia. Deus quer que, depois de uma pessoa ser salva, ela esteja funcionando na assembleia como um membro do corpo de Cristo.

Um tipo do Velho Testamento ilustra isso. As grandes pedras trazidas com o propósito de construir o templo (1 Rs 5) não eram apenas extraídas do lugar onde eram encontradas, mas também eram trazidas para o local do templo e encaixadas na casa (1 Rs 6). Tirar as pedras da mina fala da obra do evangelho, ou seja, não tinha um fim em si mesmo. Do mesmo modo, o propósito do evangelho é trazer o material que vai compor a Igreja. As pedras vivas que hoje compõem a casa de Deus foram salvas com o propósito de funcionarem em Sua casa para Sua glória. Posteriormente na Epístola aos Efésios, Paulo fala novamente dessa conexão (cap. 4:11-16). Os “evangelistas” deviam trabalhar com os “pastores e mestres” (TB) tendo “em vista a edificação do corpo de Cristo” (JND). Isso mostra que querer que as almas sejam salvas sem vê-las funcionando em seu lugar no corpo em uma assembleia local é ficar aquém do propósito de Deus para elas.

Um Cristão inteligente, guiado pelo Espírito, vai querer trabalhar em conjunto com Deus, não apenas propagando o evangelho, mas também direcionando todos os convertidos para Cristo no meio de uma assembleia reunida ao Seu nome. O problema aqui é que se alguém das denominações estiver envolvido nessa obra, ele vai logicamente direcionar os novos convertidos para o seu grupo de igreja, ou para a igreja de escolha do convertido. Logo, se os dois servos forem fiéis às suas convicções eclesiológicas, eles puxarão em duas direções diferentes.

A Escritura indaga, “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Am 3:3). A única maneira desse esforço funcionar é alguém abrir concessões. Como a maioria desses esforços são empregados por aqueles que pertencem a grupos de igreja, alguém reunido ao nome do Senhor que deseja se juntar a eles terá que ser aquele que vai abrir concessões. E isso é compreensível; afinal, é ele (ou ela) quem está se juntando a essa obra. Não se pode esperar que os organizadores mudem seus princípios só porque alguém se juntou a eles.

Como uma questão de convicção para o nosso próprio andar nesse exercício, pela razão acima mencionada, acreditamos que devemos conduzir nossos próprios esforços evangelísticos sem ligações com pessoas das denominações. Não é porque não as amamos, ou qualquer coisa assim; é para evitar o duplo padrão que inevitavelmente resultará da nossa diferença de eclesiologia. Oramos por todos os esforços daqueles que estão nas denominações em propagar o evangelho, mas acreditamos que devemos deixá-los conduzirem seu próprio trabalho.

Conclusões

Ao finalizarmos este pequeno volume, acreditamos ter respondido aos comentários e perguntas com base nas Escrituras. Esperamos que nossos leitores tenham visto que tentamos fornecer as respostas no espírito de Cristo.

Sabemos que sempre haverá oposição à verdade. Diante de tal oposição, J. N. Darby disse que preferia ser o objeto dos ataques ao invés de ser o autor deles. Nós ecoamos o mesmo. E por quê? Não se trata meramente de preferirmos a “visão dos Irmãos” a outras visões, mas de temermos a Deus. Existe algo chamado tratamento governamental de Deus com Seu povo (1 Pe 1:16-17). Ele terá algo a dizer àqueles que atacam a verdade – especialmente aos que são mais velhos e têm agido como velhos profetas de Betel (1 Rs 13).

Em tempos de abandono entre o povo do Senhor, Paulo disse, “que isto lhes não seja imputado” (2 Tm 4:16). Do mesmo modo, não queremos ver a mão do Senhor em juízo governamental sobre ninguém. Antes, oramos “a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo” (2 Tm 2:25-26). Que Deus nos conceda a graça de andar na verdade.

CONTRACAPA

É bom examinarmos e e revermos aquilo que diz respeito ao terreno onde os Cristão devem estar reunidos para adoração e ministério para que possamos chegar a uma conclusão baseada na Escritura na qual podemos assentar nossa crença.

A Bíblia fala que os bereanos eram “nobres” poreque “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:11). O que era tão louvável neles é que receberam o que Paulo e Silas ensinaram antes de examinar as Escrituras. Isso mostra que eles tinham fé para crer que aqueles homens eram mensageiros enviados por Deus. Quando eles examinaram aquelas coisas nas Escrituras, descobriram que era verdade aquilo que a sua fé já havia aceitado era verdade.

A Escritura diz: “compra a verdade e não a vendas” (Pv 23:23). Não há melhor momento para fazer isso do que quando somos jovem. Portanto, encorajamos nossos irmãos mais novos a “estarem plenamente familiarizados” (JND) com esses assuntos relacionados à verdade de reunião na Palavra de Deus. Então, cada um de nós será “um bom ministro de Cristo Jesus”, capaz de expor com precisão a verdade de maneira ordenada (1 Tm 4:6 – tradução de J. N. Darby).

Notas

[←1]

N. do T.: Expressão do latim que significa “à primeira vista”.

[←2]

N. do T.: Do ditado popular em inglês A man convinced against his will is of the same opinion still, que em tradução livre seria “Um homem convencido contra sua vontade permanece com a mesma opinião”.

[←3]

N. do T.: A eclesiologia é o estudo da doutrina Cristã. A palavra é formada a partir de dois termos gregos ekklesia, que significa “assembleia” e “logos”, que significa “palavra” ou “estudo”.

[←4]

N. do T.: Trata-se de um termo que se originou a partir do grego “exégésis”, que significa “interpretação”, “tradução” ou “levar para fora (expor) os fatos” com o objetivo esclarecer ou interpretar minuciosamente um texto ou uma palavra.

[←5]

N. do T.: em tradução livre, “Um Esboço Histórico do Movimento dos Irmãos”.

[←6]

N. do T.: Em inglês, o termo utilizado aqui (assim como em todas as ocorrências da expressão “terreno de reunião”) é “ground”, comumente traduzido como “chão”, “terra”, “terreno” ou “solo”, mas que também tem o sentido de “fundamento”, “base”. Esta é a única vez em que ground não é traduzido como “terreno”.

[←7]

N. do T.: Help and Food for the Household of Faith (em tradução livre, Ajuda e Alimento para os da Família da Fé) era uma revista semanal editada por F.W. Grant, P.J. Loizeaux, C. Crain e Samuel Ridout, em Nova York, de 1883 a 1929 em seu formato original.

[←8]

N. do T.: Ortodoxo provém da palavra grega “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. É o que está em conformidade com a doutrina tida como verdadeira.

^
Topo