PERGUNTAS Que Jovens Fazem sobre o Verdadeiro Terreno de Reunião para os Cristãos - Volume I
Boas Perguntas que Merecem Boas Respostas
Bruce Anstey
PERGUNTAS QUE JOVENS FAZEM SOBRE O VERDADEIRO TERRENO DE REUNIÃO PARA OS CRISTÃOS – VOL I – Boas Perguntas que Merecem Boas Respostas
Bruce Anstey
Originalmente publicado por:
9-B Appledale Road
Hamer Bay (Mactier) ON P0C 1H0
CANADÁ
christiantruthpublishing@gmail.com
Título do original em inglês: QUESTIONS Young People Ask Regarding the Truth Ground of Gathering for Christians - Good Questions That Deserve Good Answers – Volume I
Primeira edição em inglês – novembro 2009
Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:
ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.
atendimento@verdadesvivas.com.br
Primeira edição em português – março 2020
e-Book v.1.0
Abreviaturas utilizadas:
ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969
ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993
TB – Tradução Brasileira – 1917
ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994
AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967
JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby
KJV – Tradução inglesa King James
Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.
PREFÁCIO
Originalmente algumas destas perguntas e respostas foram abordadas em uma pregação durante uma conferência em Denver, Colorado, em setembro de 2009. Em razão do pouco tempo disponível, não foi possível na época analisar todas as perguntas que eu abordo neste livro. Logo, esta publicação me deu a oportunidade de expandir um pouco as observações e tratar os assuntos com maior profundidade.
Meu sincero desejo é que estas respostas às perguntas sobre o assunto de congregar venham a produzir um entendimento mais profundo dessa verdade e uma maior apreciação por ela. Também oro para que venha a produzir uma vontade de se andar nela. O Senhor valoriza todo e qualquer Cristão que pagou um preço por se identificar com o testemunho daqueles que estão reunidos ao nome do Senhor em lugares onde essa verdade tão difamada é defendida e praticada; e num dia vindouro Ele recompensará a cada um na medida correspondente. “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3:11).
É, portanto, com amor e afeição pelos jovens que lançamos a presente publicação.
1 de novembro de 2009
INTRODUÇÃO
Gostaria de abordar algumas das difíceis perguntas enfrentadas por pessoas jovens a respeito de estar reunido ao nome do Senhor com base em Mateus 18:20: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em [são1 colocados juntos para o – JND] Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Meu desejo é tentar resolver alguns desses enigmas para aqueles que estejam verdadeiramente buscando respostas. Só espero que aquilo que eu tenho a dizer possa dar a quem procura a verdade um entendimento mais completo dos princípios envolvidos no divino terreno de reunião dados aos Cristãos.
Para aqueles que cresceram nas assembleias dos assim chamados “santos reunidos”, eu sei que seus pais, na maioria das vezes, são zelosos pela verdade de estar reunido ao nome do Senhor. Eles a colocam bem ao lado de ser salvo. Vocês provavelmente já os ouviram dizer coisas como, “Conheço o Senhor Jesus Cristo como meu Salvador pessoal, e estou reunido ao Seu precioso nome”. Não é preciso dizer que eles creem que a assembleia, como vocês a conhecem, é o verdadeiro e correto modo de os Cristãos congregarem. Eles também entendem que a maneira como nos reunimos é contrária ao curso do Cristianismo corrente, e que esse é um caminho estreito no que se refere à comunhão. Não obstante, eles (assim como eu) estão profundamente convictos de que é a única maneira correta e bíblica de os Cristãos se reunirem para adoração e ministério – e desejamos afetuosamente transmitir isso a vocês. Queremos que vocês “comprem a verdade” acerca da assembleia (Pv 23:23), procurando-a vocês mesmos e verificando que essas coisas são verdadeiramente bíblicas (At 17:11). Nossa oração é que vocês a valorizem e andem nela, assim como procuramos fazer.
Sei que muitos de vocês estão investigando o assunto, e isso é bom, pois todos nós precisamos saber o porquê de estarmos reunidos ao nome do Senhor. Mas ao procurarem, sei que alguns estão ficando confusos e saindo com mais perguntas do que respostas. Talvez vocês tenham olhado para as igrejas na Cristandade evangélica e ficaram sabendo da bênção que acontece por lá, e então olharam para a assembleia em sua singularidade e fraqueza, e como parece não haver muito acontecendo ali, vocês estão com algumas perguntas sinceras. E isso é compreensível.
Gostaria de pensar que as perguntas de vocês sejam boas e sinceras, e acredito que boas perguntas merecem boas respostas. Acho que todos nós concordamos que as únicas respostas boas e corretas se encontram na Palavra de Deus. A última coisa de que vocês precisam é de opiniões e ideias humanas sobre o assunto. Portanto, o que eu quero trazer aqui diante de vocês não são minhas próprias ideias e opiniões, mas princípios da Palavra de Deus que irão guiar os seus pés. Todo este exercício seria um fracasso se vocês saíssem daqui dizendo: “O Bruce pensa isso…”, ou “O Bruce pensa aquilo…”. Não são os meus pensamentos o que vocês querem, mas a verdade da Palavra de Deus.
Além disso, não é meu objetivo atacar os grupos Cristãos que existem hoje. Não estou aqui para denegrir meus companheiros Cristãos em suas denominações na Cristandade evangélica. Se alguém está contente em permanecer em seu grupo eclesiástico, eu não vou discutir com ele. A Bíblia diz: “Subverter ao homem no seu pleito, não o veria o Senhor?” (Lm 3:36). Então, não estou aqui para tentar convencer alguém a abandonar suas convicções em relação às suas associações eclesiásticas. Não tenho a intenção de coagir ninguém, que não tenha fé ou convicção para tal, a tomar o caminho que adotamos como reunidos ao nome do Senhor. Meu objetivo, na verdade, é esclarecer alguns dos pontos confusos que têm incomodado aqueles que estão sinceramente buscando respostas sobre Cristãos estarem reunidos ao nome do Senhor.
Eu só diria desde o início que, em minha observação, a maioria das dúvidas vem de um entendimento equivocado da própria verdade e de usar um critério errado para julgar o que é certo e o que é errado. O resultado disso é que a pessoa realmente fica em um dilema, e bem poderia acabar se perguntando se ela está verdadeiramente no lugar correto afinal. É claro que o único padrão correto de medida é a verdade de Deus na Palavra de Deus.
Agora, apenas mais uma coisa antes de começarmos: tentarei dar o meu melhor ao apresentar, com base na Palavra de Deus, as respostas a essas perguntas, mas quero dizer que de nada adiantará se a sua vontade própria estiver em operação e vocês não desejarem a verdade. Então, espero que todos tenhamos o mesmo espírito de Davi, que disse: “Ensina-me, Senhor, o Teu caminho, e guia-me pela vereda direita” (Sl 27:11). Um espírito ensinável é o que o Senhor está procurando em nós. O que estou dizendo agora é que precisamos ter um correto estado de espírito se vamos tirar proveito deste exercício. Se estivermos sinceramente buscando a verdade, creio que o Senhor irá usar a Sua Palavra para nos guiar. Ele disse: “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, conhecerá a respeito da doutrina” (Jo 7:17 – ARA). A condição colocada nessa promessa de conhecer a verdade é que estaríamos dispostos a “fazer” a vontade d’Ele ao aprendê-la. O Senhor não está interessado em nos ensinar a Sua vontade se não estivermos dispostos a fazê-la. Portanto, precisamos ter bem resolvido em nosso coração que iremos fazer a vontade de Deus, seja ela qual for, mesmo que ela entre em colisão com nossas próprias ideias. Este é um ótimo ponto para se atingir em nossa alma – estar disposto a fazer a vontade d’Ele, ainda que seja doloroso. Essa promessa do Senhor é tão válida hoje como era quando Ele a deu em Sua época – quem estiver disposto a fazer a vontade d’Ele “conhecerá a respeito da doutrina”.
Com essa promessa diante de nós e a Palavra de Deus em nossas mãos, vamos ver agora algumas dessas perguntas e esperar que o Senhor as responda para nós.
CAPÍTULO 1: Por que Há Relativamente Pouca Bênção em Nossos Esforços Evangélicos?
PERGUNTA: João 12:32 diz que, se levantarmos o Senhor em nossas reuniões, todos serão atraídos a Ele. Se verdadeiramente temos o Senhor em nosso meio, por que não estão todos sendo atraídos para as reuniões da assembleia? Por que há relativamente poucos conosco, e tão pouca bênção em nossos esforços evangelísticos?
Vamos para essa passagem em João 12 e ler os versículos 31 e 32: “Agora é o juízo (julgamento) deste mundo: agora será expulso o príncipe deste mundo. E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim.”
Primeiramente, antes de tentar responder a essa pergunta, precisamos entender que a passagem não está falando do testemunho do evangelho no tempo da graça. Também não está falando de coisas que têm a ver com Cristãos congregando para adoração e ministério. O contexto do capítulo é o reino milenar de Cristo. O Senhor tinha vindo a Jerusalém e estava sendo recebido pela multidão, que clamava: “Hosana: Bendito o Rei d’Israel que vem em nome do Senhor” (v. 13). O povo estava esperando que Ele estabelecesse o reino naquele momento e reinasse em poder e glória, com todas as bênçãos prometidas pelos profetas do Velho Testamento. Os gentios também são mencionados vindo à festa para adorar, o que também é importante característica do reino milenar (Zc 2:11; Is 14:1, 56:6; Sl 47:9, 72:10-11). O Senhor viu que, para tudo isso se cumprir, Ele, assim como um “grão de trigo”, tinha que, “caindo na terra”, “morrer” (v. 24). E se Ele morresse, daria “muito fruto”. Na verdade, era precisamente com esse “propósito” (ARA) que Ele tinha vindo àquela “hora” (vs. 27-30). Mas, se Ele fosse “levantado” na cruz em rejeição, Ele prometeu que haveria um dia quando Ele atrairia a Si todas as nações no Milênio. O mundo estava prestes a crucificar o Senhor, mas, ao fazê-lo, estaria se condenando. Por isso o Senhor disse: “Agora é o juízo (julgamento) deste mundo”.
Logo, a passagem não está falando de crentes levantando o Senhor no testemunho do evangelho, mas de incrédulos levantando-O na cruz em rejeição e escárnio. O versículo seguinte (v. 33) confirma isso. Ali diz: “E dizia isto, significando de que morte havia de morrer”. Além disso, o atrair “todos” a Si, de que fala o Senhor aqui, não está se referindo a pessoas sendo salvas pelo evangelho no dia de hoje, mas a todas as nações da Terra se submetendo ao Senhor no Milênio. Muitos deles nem sequer terão fé (Sl 18:44, 66:3, 81:15 – AIBB). Isso não poderia estar falando das campanhas evangelísticas que acontecem hoje na Cristandade evangélica, pois mesmo as maiores e mais bem-sucedidas campanhas não chegam nem perto de atrair “todos” ao Senhor.
Sendo assim, essa é uma boa pergunta, mas você está usando um versículo errado da Escritura em conexão com ela. Sei que não abordei sua pergunta ainda, mas acho importante primeiro entender do que João 12:32-33 está realmente falando. Sua pergunta é: “Se estamos nos reunindo da maneira correta como os Cristãos deveriam, e aqueles que estão nas denominações não, por que eles têm tanta bênção e nós não?!” É uma boa pergunta e merece uma boa resposta.
RESPOSTA: O problema aqui é fazermos do sucesso no testemunho do evangelho o sinal de que um grupo de Cristãos está ou não no terreno eclesiástico correto. Isso é um erro, apesar de ser perfeitamente compreensível como alguém poderia vir com essa ideia. Você poderia pensar que, se Deus aprovasse algo, Ele iria Se identificar com aquilo em poder, e a Sua bênção estaria sobre aquilo para que todos pudessem ver. Porém, as coisas não são necessariamente assim.
Acredito que exista uma boa razão para haver muita bênção na pregação do evangelho nas igrejas evangélicas em nossos dias, e relativamente pouca entre os reunidos ao nome do Senhor.
Bênção por Meio da Palavra de Deus
Em primeiro lugar, Deus abençoa Sua Palavra onde quer que ela seja levada. Paulo disse a Timóteo: “A Palavra de Deus não está presa” (2 Tm 2:9). Nessa época, ele estava numa prisão. Seus trabalhos produziram bênção durante vários anos, porém agora ele havia sido colocado de lado. Todavia, ele estava confiante de que bênçãos continuariam a ser produzidas no evangelho, mesmo que ele estivesse preso. Paulo sabia que Deus poderia, e iria, usar outros na propagação do evangelho. Ele entendia que o Senhor não precisava dele para anunciar a mensagem, embora Ele o tivesse usado no passado nessa obra. Todo aquele que for diligente o suficiente para anunciar Sua Palavra terá resultados no evangelho, mais cedo ou mais tarde. O Senhor disse, “Assim será a Palavra que sair da Minha boca: ela não voltará para Mim vazia, antes fará o que Me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Is 55:11). Aqueles que estão nas denominações evangélicas têm sido diligentes em “pregar a Palavra” (2 Tm 4:2), e Deus está abençoando Sua Palavra. Por isso existe bênção em muitas denominações. Deveríamos ser gratos por todo esforço existente entre os Cristãos para espalhar as boas novas e orar por uma grande colheita de almas. Não devemos pensar que a bênção no evangelho por meio da Palavra se limita a um único grupo de Cristãos; os santos reunidos não têm o monopólio sobre o anúncio da Palavra de Deus.
Como mencionado, é um erro equiparar bênção no evangelho com estar eclesiasticamente correto. Uma pessoa poderia olhar para as várias organizações eclesiásticas e pensar: “Deus deve aprovar as denominações, porque Ele as está usando para salvar pessoas.” Pode parecer que Deus esteja usando as igrejas evangélicas da Cristandade, mas não são essas organizações feitas por homens que Ele está usando – é a Sua Palavra que Ele está usando. Como já disse, Deus pode usar, e de fato usa, a Sua Palavra para bênção onde quer que ela seja ministrada. Se um assim chamado pastor ou ministro prega a Palavra de Deus para sua audiência, o Espírito de Deus irá tomar a Palavra e aplicá-la nas almas, e estas serão salvas. É inegável que as pessoas têm sido abençoadas nesses lugares. Mas não é um sinal de que Deus aprova a ordem denominacional criada por homens. Uma pessoa poderia levar a Palavra de Deus a um lugar ímpio, como um bar, e o Espírito poderia usar a Palavra para a salvação de alguém. Mas certamente não diríamos que Deus está usando os bares! Isso não justifica a existência deles. (Não estou equiparando um bar ímpio com as denominações, mas apenas ilustrando o meu argumento de que Deus pode usar a Sua Palavra em qualquer lugar).
É um fato: Deus abençoa a Sua Palavra onde quer que ela seja anunciada, e por quem quer que a anuncie. Em Filipenses (cap. 1), Paulo fala de alguns que estavam pregando a Palavra com uma motivação errada, e mesmo assim Deus ainda a estava abençoando! Mais uma vez, isso não significa que Deus aprove Seus servos que pregam com segundas intenções; simplesmente demonstra que Sua Palavra será uma bênção onde e como quer que seja anunciada, até mesmo se uma pessoa estiver em um estado de alma errado.
Existe Mais Força de Trabalho nas Denominações
Em segundo lugar, existe mais bênção (observável) no evangelho nas igrejas evangélicas do que entre os santos reunidos ao nome do Senhor, simplesmente porque existe um número maior de indivíduos nessas igrejas engajados nessa obra. O Salmo 68:11 diz: “O Senhor deu a Palavra; grande era o exército dos que anunciavam as boas novas”. Dou ênfase na palavra “grande” no versículo – um número maior de pessoas engajadas em um trabalho geralmente se traduz em maiores resultados. É bem simples: aqueles nas igrejas têm mais força de trabalho, e naturalmente haverá mais resultados. Os que estão nas igrejas evangélicas devem ser elogiados por sua diligência na obra evangelística. Na verdade, eles nos deixam envergonhados.
Os resultados de que ouvimos falar sobre a bênção nas igrejas ao nosso redor podem ser bem intimidadores, mas números podem enganar. Deixe-me dar um exemplo. Um amigo contou que em sua igreja não passa uma semana sem que pelo menos uma pessoa seja salva! Perguntei a ele quantas pessoas estavam em sua igreja, e acredito que ele disse que havia por volta de 3.500. Mas suponha, para facilitar o cálculo e a título de ilustração, que fossem 5.000 pessoas. Significa que haveria aproximadamente2 50 pessoas salvas todo ano. Porém, suponha que removêssemos um zero desse número e houvesse apenas 500 pessoas nessa igreja. Quantos seriam salvos por ano mantendo a mesma taxa3? Seriam 5 (cinco). Se removermos outro zero do número e houvesse apenas 50 pessoas na mesma igreja, que é mais ou menos o tamanho da maioria das assembleias dos santos reunidos, quantas pessoas seriam salvas por ano a essa taxa? Bem, seria 0,5 (meia) pessoa, ou uma pessoa a cada dois anos! Ora, isso não parece tão intimidador. A taxa de sucesso deles em relação ao número de pessoas que eles têm é mais ou menos a mesma dos santos reunidos! Então, da próxima vez que alguém me disser que a cada semana alguém é salvo em sua mega igreja, vou dizer: “Só isso? Com tanta gente que vocês têm ali, era de se esperar que tivessem mais resultados do que esse!” Sendo assim, não vamos nos ocupar com estatísticas; nossa primeira responsabilidade é fazermos a vontade de Deus e deixarmos os resultados com o Senhor. No final das contas, é Deus Quem dá “o crescimento” na colheita das almas no evangelho (1 Co 3:6).
Gostaria apenas de acrescentar algo aqui: se você estiver seriamente preocupado com os tristes resultados da obra evangelística entre nós, talvez devesse pensar em se envolver. Muitas vezes aqueles que criticam essa fraqueza são os mesmos que parecem fazer o mínimo a respeito.
RESUMO: Existe hoje mais bênção na obra evangelística nas igrejas evangélicas do que entre os “santos reunidos”, porque elas têm sido mais diligentes nisso do que nós. Além disso, elas têm um número maior de pessoas engajadas nessa obra e, estatisticamente, é normal que isso produza maiores resultados.
CAPÍTULO 2: Por que Partimos o Pão em Separação de Outros Cristãos?
PERGUNTA: Se professamos congregar no terreno do “um só corpo”, por que assumimos uma posição de separação de todos os outros membros do corpo e não partimos o pão com eles? Isso parece totalmente inconsistente com a verdade do Novo Testamento, que apresenta a comunidade Cristã como sendo uma única família feliz que anda junto em amor. A Bíblia ensina que deveríamos andar juntos em feliz unidade com nossos irmãos, não nos separar deles.
RESPOSTA: O problema aqui é que o autor dessa pergunta não levou em consideração onde estamos na história da Igreja. Sete, dos oitos escritores do Novo Testamento, nos dizem que nos últimos tempos haveria um grande abandono em massa da “fé que uma vez foi dada aos santos” (At 20:19-30; 1 Tm 4:1; 2 Tm 3:1-5, 4:3-4; Jd 3-4). Por isso, é importante ter um entendimento dos tempos e saber o dia em que vivemos. Não estamos nos dias de Pentecostes, e nem mesmo em tempos de grande reavivamento; estamos nos “últimos dias” da história da Igreja na Terra (2 Tm 3:1), e há uma ruína irremediável no testemunho Cristão.
As Segundas Epístolas Insistem na Separação em Um Dia de Ruína
Havendo estabelecido esse fato, eu já logo digo que Deus certamente gostaria que todo o Seu povo andasse junto na prática, como uma única família feliz. Mas Ele também nos disse que, quando o testemunho Cristão se corrompesse e a ruína entrasse, deveríamos aplicar a verdade do Novo Testamento contida nas modificações apresentadas nas segundas epístolas. Essas epístolas lidam com a ruína que entraria na profissão Cristã e instrui o caminho do crente em relação a ela.
Há duas coisas proeminentes em cada uma das segundas epístolas: primeiramente, a evidência de abandono do verdadeiro Cristianismo de alguma forma, seja na doutrina ou na prática. Em segundo lugar, existe a necessidade de o crente se separar da corrupção e do erro que entrou – não só individualmente, mas também coletivamente.
- A segunda epístola aos Coríntios lida com um movimento mundano entre eles que estava corrompendo sua doutrina e prática. A solução é: “Por isso, saí do meio deles e separai-vos, diz o Senhor, e não toqueis coisa imunda” (2 Co 6:17 – TB). - A segunda epístola aos Tessalonicenses lida com um movimento que havia se introduzido e negava a vinda do Senhor e outros eventos escatológicos (proféticos), além de estar causando um sério efeito negativo no andar deles. A solução é “que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu” (2 Ts 3:6). - A segunda epístola a Timóteo lida com ensinos doutrinários errôneos e corrupções profanas que entrariam na casa de Deus. A palavra ali é, “qualquer que profere o nome de Cristo [do Senhor – TB] aparte-se da iniquidade (injustiça). Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas**,** [**se alguém tiver se purificado a si mesmo desses** (vasos)**,** em se separando a si mesmo deles – JND] **será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra”** (2 Tm 2:19-21). - A segunda epístola de Pedro lida com o inevitável abandono da piedade prática no testemunho Cristão e alerta os crentes para não serem **“levados juntamente com o erro dos perversos”** (2 Pe 3:17 – JND), mantendo-se afastado dele. - A segunda epístola de João lida com a seriedade em abandonar a doutrina da Pessoa de Cristo. Ela nos ordena a nos mantermos separados daqueles que ensinam tais coisas, de tal modo que não devemos nem mesmo recebê-los em nossa casa. Na realidade, nos é dito para nem mesmo **“saudar”** essas pessoas (2 Jo 8-11).
Quem faz essa pergunta a respeito de separação está lendo sua Bíblia sem consultar as segundas epístolas. Voltamos a dizer que Deus deseja que todos os membros do corpo de Cristo estejam juntos em comunhão prática (Ef 4:1-16). Este é o ideal de Deus. Mas como a ruína está em todo lugar no testemunho Cristão, a Palavra de Deus (nas segundas epístolas) indica que devemos assumir uma posição de separação da desordem. Segunda Timóteo 2:19-21 é particularmente útil em nos guiar nestes dias difíceis com relação a isso. Ela indica que devemos nos desassociar de tudo na casa de Deus (a profissão Cristã) que esteja manchado com o erro, afastando-nos dessas coisas. Isso inclui qualquer tipo de erro, seja doutrinal, moral ou eclesiástico. Logo, praticar a verdade coletivamente, reunindo-se para adoração e ministério, com todos os membros do corpo de Cristo não é possível hoje. Isso porque muitos desconhecem o verdadeiro terreno de reunião, ou conhecem e não estão dispostos a praticá-lo, ou estão envolvidos em alguma forma de má doutrina ou prática com a qual não devemos ter comunhão.
Como mencionado, as segundas epístolas antecipam a ruína do testemunho público da Igreja e dão certas instruções que modificam a aplicação dos princípios apresentados no ensino das outras epístolas. Não é que a Palavra de Deus se contradiga, mas que outro curso de ação deve ser seguido, já que a ruína está sobre nós. Para ilustrar esse ponto, suponha que você trabalhasse em uma grande fábrica ou indústria onde houvesse instruções específicas a serem seguidas em sua função normal de trabalho; mas se surgissem certos problemas, você recebesse um conjunto diferente de instruções a serem seguidas em caso de emergência. Da mesma maneira, é isso que a Escritura ensina nas segundas epístolas com relação ao dia da ruína.
As segundas epístolas não invalidam a verdade contida nas outras epístolas, mas alteram o curso do crente na aplicação dessas verdades. Toda a verdade de Deus ainda pode ser praticada hoje, mas deve ser praticada em separação da confusão. Por exemplo, devemos ver a verdade em Efésios 4 – referente a guardar a “unidade do Espírito” com os membros do “um só corpo” de Cristo – através da “escotilha” de 2 Timóteo, ou seja, da perspectiva da ruína que entrou no testemunho Cristão. Ainda podemos nos reunir no terreno do um só corpo e praticar essa verdade; só não podemos fazer isso hoje com todos os membros do corpo, como Deus originalmente planejou.
A Atitude Correta na Separação: Humilhação
Tendo assumido essa posição de separação na casa de Deus, devemos nos guardar o tempo todo do orgulho que pode surgir em nosso coração. Devemos tomar cuidado para não termos uma atitude de nos considerarmos melhores ou mais fiéis do que aqueles de quem nos separamos. O Senhor não irá Se identificar com uma atitude do tipo “sou mais santo do que tu” (Is 65:5). A atitude correta é de humilhação. J. N. Darby disse que “se alguém fala de separação do mal, sem estar humilhado, é bom ele ter cuidado para sua posição simplesmente não se tornar apenas a mesma que em todas as épocas tem constituído seitas”. O espírito adequado a alguém que se purifica da confusão na casa de Deus envolve julgamento próprio, não justiça própria.
A separação dentro da casa de Deus é algo doloroso, pois implica separar-se de muitos crentes verdadeiros que não se preocupam com suas associações com a corrupção. Algo assim deveria cortar nosso coração, pois amamos todos os nossos irmãos. Todavia, a obediência à Palavra de Deus deve ter prioridade sobre todas as nossas preferências pessoais. Na verdade, obediência desta natureza é de fato uma prova do nosso amor por nossos irmãos. “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos” (1 Jo 5:2). Os que estão reunidos ao nome do Senhor assumem essa posição de separação na Cristandade, porque ela está em conformidade com a Palavra de Deus.
Muitos acham que a solução seja permanecer na confusão e tentar reparar os erros da Cristandade, mas isso está claramente em desacordo com a Palavra de Deus. Quando o “joio” foi introduzido no meio do trigo, criando confusão no campo, o pai de família disse aos seus servos que não tentassem consertar o problema, mas que esperassem “até à ceifa” – que é “a consumação do século” (ARA) – e então o Próprio Senhor resolveria isso (Mt 13:24-30, 13:40). Felizmente, o Senhor não colocou esse “fardo” sobre o Seu povo (Ap 2:24-25). A solução é se manter livre da confusão e do erro, separando-se deles. Segunda Timóteo 2:22 indica que, após nos separarmos da confusão na casa, Deus nos dará alguns com os quais possamos andar nesse caminho de separação. É isso o que os congregados ao nome do Senhor estão fazendo quando se reúnem para adoração e ministério em separação. Eles procuram praticar toda a verdade de Deus; porém, por causa de certos fatores modificadores nas segundas epístolas, eles não podem fazer isso com todos os membros do corpo, como Deus planejou originalmente. Portanto, os santos reunidos adorariam partir o pão com todos os seus irmãos no corpo de Cristo, mas existem certas questões de qualificação que impedem isso. Para ser específico, as pessoas devem ser sãs na doutrina e piedosas na prática antes de poderem partir o pão à mesa do Senhor. Se alguns que professam ser crentes não se separarem do mal (2 Tm 2:19), não poderemos partir o pão com eles.
Conhecemos uma querida irmã no Senhor cuja denominação está passando por uma reviravolta. O ministro lá nega a inspiração da Escritura, o nascimento virginal de Cristo e Sua ressurreição. Ele também ensina que existem muitas maneiras de se salvar e apoia o casamento gay na igreja, além de ter abandonado sua esposa. Dissemos a essa irmã que a Palavra de Deus indica que ela devia se separar de lá, mas ela acha que seria desleal partir, tendo estado com aquela denominação a vida toda. Porém, todo o tempo que ela permanece ali, ela fica cada vez mais contrariada e frustrada. A solução é separar-se; é a vontade expressa de Deus em um dia de ruína. Se ela fizesse isso, talvez pudesse exercitar outros a se separarem também, mas permanecer em comunhão ali anula qualquer poder no testemunho individual que ela pudesse esperar ter. O que ela está fazendo pode ser amoroso e bem-intencionado, mas não é o caminho de Deus para o crente que deseja ser fiel.
RESUMO: Os “santos reunidos” ocupam uma posição de separação da confusão religiosa e do erro na Cristandade, porque a Palavra de Deus (as segundas epístolas) nos ordena a fazer isso. É a única posição bíblica a ser adotada quando a ruína do testemunho Cristão é irremediável.
CAPÍTULO 3: Por que os Reunidos ao Nome do Senhor são um Testemunho Tão Pequeno?
PERGUNTA: Mateus 18:20 e Lucas 22:7-10 indicam que o Espírito de Deus é o divino Reunidor, e que Ele leva os Cristãos ao lugar designado por Deus. Se a posição dos chamados “santos reunidos” é esse terreno, por que existem tão poucos ali? Ou existe um problema com o poder do Espírito em reunir, ou talvez esse não seja o lugar para o qual Ele esteja conduzindo as pessoas.
O problema aqui é que fizemos do tamanho numérico de um grupo de Cristãos o padrão para medir se eles estão corretos eclesiologicamente. Ou seja, se há muita gente em uma determinada comunhão Cristã, então aquele deve ser o lugar para o qual o Espírito de Deus está conduzindo as pessoas. Este, no entanto, é um critério errado para julgar o verdadeiro terreno de reunião. De onde tiramos a ideia de que o que é grande está correto? É um princípio mundano. Vemos isso em todas as esferas da vida no mundo – nos negócios, nos esportes etc. No entanto, isso não deve ter lugar na Igreja de Deus.
Não lemos na Escritura que haverá grandes grupos de crentes fiéis nos últimos dias. A Bíblia indica exatamente o contrário. Nos últimos dias no testemunho Cristão, somos informados de que os homens maus aumentarão em número – não os homens fiéis (2 Tm 3:13). Essa é a principal diferença entre as duas epístolas escritas a Timóteo. Em 1 Timóteo, a massa na profissão Cristã é vista indo bem, mas havia alguns indivíduos que tinham se desviado para o erro. Mas em 2 Timóteo (que descreve os últimos dias), é exatamente o inverso; a massa é vista indo mal, e há relativamente poucos indivíduos seguindo fielmente. Na verdade, na Escritura os únicos grupos descritos como grandes nos últimos dias são movimentos heréticos! Por exemplo, 2 Pedro 2:1-2 diz: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou [comprou – JND], trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.” Não estou dizendo que todos os grandes grupos de Cristãos hoje na Cristandade evangélica são maus e que ensinam doutrinas condenáveis. Estamos simplesmente apontando que, se grandes números são o sinal de estar certo, então a igreja católica seria o lugar correto que Deus aprova – eles têm mais pessoas do que qualquer outra denominação! Certamente, não podemos ser tão ingênuos a ponto de pensar que ter grande números equivale a ter a aprovação de Deus.
Deus não está tão ocupado quanto nós com aumento em números. Você já reparou na Escritura que quando números são mencionados ela sempre diz, **“**quase três mil”, ou **“**quase cinco mil”? (At 2:41, 4:4) Mesmo contando um número pequeno, ela diz: **“**cerca de doze” (At 19:7 – TB). Deus está nos mostrando que não devemos nos ocupar com o número de pessoas envolvidas em Seu testemunho – o qual, a propósito, era o pecado de Davi (2 Sm 24:1).
O comentário que se ouve frequentemente é: “Nossa igreja está crescendo”. A intenção é mostrar que a quantidade de pessoas nesse determinado grupo está ficando maior. Ora, todos nós queremos ver isso, mas na Escritura crescimento é usado para indicar desenvolvimento espiritual na alma, não o tamanho numérico de um grupo de Cristãos. Suponha que eu tenha ido a uma reunião que tinha 50 crentes se reunindo regularmente para adoração e ministério e vi que não havia muito interesse ali. Eles estavam mais interessados em esportes, em suas casas etc. Embora eu fique feliz por eles estarem juntos, eu vou embora dizendo para mim mesmo: “Queria que houvesse um pouco mais de devoção lá”. Então, depois de um ano, volto ao mesmo grupo de 50 crentes e imediatamente vejo uma mudança significativa. Eles estão realmente ansiosos pelas coisas de Deus. Estão cheios de perguntas e ficam depois das reuniões para comunhão. O entendimento e a maturidade deles na verdade definitivamente progrediram. Embora eles não tenham acrescentado uma pessoa sequer ao seu número, eu poderia dizer que eles realmente cresceram! É dessa maneira que o crescimento é mencionado na Escritura.
Quando nos ocupamos com números, sempre existe a tentação de comprometer princípios para atrair pessoas. Por exemplo, poderíamos conseguir mais pessoas em nossas reuniões se anunciássemos que ia ter uma banda de rock aqui. Mas não vamos fazer isso, porque devemos servir segundo os princípios da Palavra de Deus, se quisermos a aprovação do Senhor (2 Tm 2:5).
Sei que não respondi à pergunta, então vamos ver algumas Escrituras que farão isso.
RESPOSTA: Existem milhares de pessoas congregadas ao nome do Senhor hoje, mas em termos relativos são apenas alguns em comparação com a grande massa de crentes em todo o mundo. Não significa, no entanto, que elas não estejam se reunindo sob os princípios corretos. Acredito que existam pelo menos três razões para a pequenez desse testemunho.
Trata-se de Um Testemunho Remanescente
A primeira razão pela qual os “santos reunidos” são relativamente poucos em número é que estamos em um dia de coisas pequenas. Zacarias 4:9-10 diz, “As mãos de Zorobabel têm fundado esta casa, também as suas mãos a acabarão, para que saibais que o Senhor dos Exércitos me enviou a vós. Porque, quem despreza o dia das coisas pequenas**?”**. Os tempos em que Zacarias foi chamado a viver foram dias de testemunho remanescente. Naquele tempo, o Senhor permitiu que Seu povo fosse levado para a Assíria (2 Rs 17:6) e para a Babilônia (2 Rs 24-25), e apenas um remanescente deles tinha retornado ao centro divino em Jerusalém. Um dos traços característicos de um testemunho remanescente é que ele é **“pequeno”** – a maior parte do povo de Deus é vista não estando nele. Vivemos em dias de testemunho remanescente na história da Igreja e não podemos esperar que haja grandes números de pessoas reunidas ao nome do Senhor da forma que Deus originalmente pretendia antes que a ruína entrasse.
Acredito que é de extrema importância compreender o que se entende por “um testemunho remanescente”; então deixe-me explicar mais detalhadamente. Um grande princípio segundo o qual Deus age, quando aquilo que Ele confiou em testemunho nas mãos dos homens falha, é que Ele reduz o seu tamanho, força, glória e números, e daí em diante o conduz em forma de remanescente. Ele não Se identifica com esse testemunho em poder e glória como fazia antes quando foi estabelecido pela primeira vez. Se Ele fizesse isso, iria parecer perante o mundo que Ele estava consentindo no seu estado caído e corrompido. Em vez disso, Ele recorre ao Seu poder e graça soberana para manter o Seu testemunho, porém em forma de remanescente. A palavra “remanescente” quer dizer uma pequena parte do todo. Logo, a própria natureza de tal testemunho é a pequenez em tamanho. Se todo o Seu povo estivesse ali participando dele, não seria um remanescente. Deus agiu segundo esse princípio em Israel no passado; Ele fará isso novamente com o remanescente judeu em um dia vindouro; e Ele está fazendo isso hoje no testemunho Cristão.
Para enxergar com mais clareza esse princípio na Palavra de Deus, vamos passar para Deuteronômio 12:5-7; “Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o Seu nome, buscareis para Sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E ali comereis perante o Senhor vosso Deus.” Isso mostra claramente que o desejo original de Deus para o Seu povo Israel era reuni-lo para a adoração nesse lugar único de Sua escolha, que era Jerusalém.
Agora vamos passar para 1 Reis 11:9-13: “Pelo que o Senhor Se indignou contra Salomão: porquanto desviara o seu coração do Senhor Deus de Israel, O qual duas vezes lhe aparecera. E acerca desta matéria lhe tinha dado ordem que não andasse em seguimento de outros deuses: porém não guardou o que o Senhor lhe ordenara. Pelo que disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não guardaste o Meu concerto e os Meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o farei, por amor de Davi teu pai: da mão de teu filho o rasgarei: Porém todo o reino não rasgarei: uma tribo darei a teu filho, por amor de Meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, que tenho elegido.”
Então, nos versículos 29-36 diz: “Sucedeu, pois, naquele tempo que, saindo Jeroboão de Jerusalém, o encontrou o profeta Aías, o silonita, no caminho, e ele se tinha vestido dum vestido novo, e sós estavam os dois no campo. E Aías pegou no vestido novo que sobre si tinha, e o rasgou em doze pedaços. E disse a Jeroboão: Toma para ti os dez pedaços, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão, e a ti darei as dez tribos. Porém ele terá uma tribo, por amor de Davi, Meu servo, e por amor de Jerusalém, a cidade que elegi de todas as tribos de Israel. Porque me deixaram, e se encurvaram a Astarote, deusa dos sidônios, a Camós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andaram pelos Meus caminhos, para fazerem o que parece reto aos Meus olhos, a saber, os Meus estatutos e os Meus juízos, como Davi, seu pai. Porém não tomarei nada deste reino da sua mão: mas por príncipe o ponho por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, Meu servo, a quem elegi, o qual guardou os Meus mandamentos e os Meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino, e to darei a ti, as dez tribos dele. E a seu filho darei uma tribo; para que Davi, Meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de Mim em Jerusalém, a cidade que elegi para pôr ali o Meu nome.”
Em seguida, no capítulo 12:22-24 diz: “Porém veio a Palavra de Deus a Semaías, homem de Deus, dizendo: Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá, e a Benjamim, e ao resto [remanescente – KJV] do povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Não subireis nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra.”
Vemos com isso que embora o desejo original de Deus fosse que todo o Seu povo se reunisse em Jerusalém para oferecer seus sacrifícios (Dt 12), como o fracasso tinha entrado, Ele não iria continuar o Seu testemunho no Seu centro divino no mesmo poder e glória de antes. Salomão e os filhos de Israel tinham falhado e se desviado do Senhor para a idolatria (1 Rs 11:10-11, 33), o que levou o Senhor a mudar os Seus caminhos em relação a eles. Ele iria reduzir o tamanho, o poder e a glória do Seu testemunho em Israel e iria levá-lo daí em diante em um “remanescente”. Esta é a primeira vez na Escritura que essa palavra é usada em conexão com o testemunho público do povo de Deus. É importante observar a “regra da primeira vez” na interpretação bíblica, isto é, quando algo é usado pela primeira vez na Escritura, ele geralmente dá o sentido de como ele será usado posteriormente em outras passagens. Assim, fazemos bem em prestar atenção ao que é dito aqui. O princípio de um testemunho remanescente é desenvolvido com mais detalhes em Ezra e Neemias, e nos escritos dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias. Entretanto, eu fiz vocês olharem essa passagem em 1 Reis porque ela demonstra o princípio de forma clara e simples.
O que é importante ver aqui é que houve uma mudança marcante nos caminhos de Deus quando o fracasso chegou. Ele removeu dez das tribos do centro divino e manteve apenas “uma tribo” lá – um remanescente. Isso não foi uma contradição dos princípios de Deus, mas uma mudança em Seus caminhos quando o fracasso generalizado tinha chegado.
Agora você poderia dizer: “Consigo ver esse princípio no trato de Deus com Israel no Velho Testamento, mas será que ele pode ser aplicado àqueles que vivem nos tempos do Novo Testamento? Realmente existe essa coisa de testemunho remanescente na Igreja?” A resposta, de forma inequívoca, é sim. Você vê isso na passagem que olhamos em 2 Timóteo 2:19-22. Ali, Deus encoraja os crentes exercitados a se separarem da mistura existente na casa de Deus e a se retirarem para uma posição remanescente “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Mas, para ver isso de forma mais clara, abra agora em Apocalipse, capítulos 2 e 3. Esses capítulos trazem um esboço da história profética da Igreja desde os seus dias iniciais, logo depois dos apóstolos, até os seus últimos dias. Se seguirmos o curso das coisas como retratado nas mensagens às sete igrejas, veremos um curso de declínio no testemunho Cristão, até que finalmente se chega a um ponto em que não há restauração, e a partir daí o Senhor age segundo o princípio de um testemunho remanescente.
Em Éfeso, aprendemos que “o anjo da igreja” (os líderes responsáveis) julgou corretamente tudo o que era incompatível com o Senhor. Ali diz que eles não podiam “suportar os maus” (TB). Infelizmente, porém, seu coração não estava com Ele nisso (Ap 2:2-4). Em Esmirna, qualquer aumento no declínio foi temporariamente suspenso pelas grandes perseguições que vieram sobre a Igreja. A severidade da provação lançou-os de volta ao Senhor. Porém, em Pérgamo, quando os tempos de grande perseguição acabaram, “o anjo da igreja” começou a tolerar alguns que seguiam “a doutrina de Balaão”, que é o mundanismo e a idolatria. O anjo não foi acusado de seguir essas doutrinas, mas o Senhor encontrou culpa nele por ele não denunciar o mal, como fez o anjo em Éfeso.
Em Tiatira, prevalecia uma condição pior: “o anjo da igreja” permitiu que a mesma má doutrina e prática sustentadas por alguns em Pérgamo fossem ensinadas! (Compare Apocalipse 2:14 com 2:20.) O que começou com alguns sustentando má doutrina resultou em muitos ensinando a má doutrina. Isso mostra que se o mal está sendo sustentado e a situação não é julgada, ele acabará sendo proposto. Em Tiatira, o ensino desse mal evoluiu para um sistema de coisas chamado “Jezabel”, que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média, esse sistema perverso exercia, com sua força e organização, um domínio tão tirânico sobre a Igreja como um todo que controlava o anjo! Aqueles que ocupavam o lugar de responsabilidade haviam falhado em lidar com a coisa quando tinham condições, e agora ela tinha se transformado em um monstro que os controlava! (Compare Atos 27:14-15. O “euro-aquilão”, um forte vento mediterrâneo, batia sobre a embarcação, e os marinheiros não podiam fazer nada, senão “deixando ela ir” [JND]). A figura de “Jezabel” é apropriadamente usada aqui, porque essa mulher não só introduziu formalmente a idolatria para Israel, como também controlou e manipulou seu marido, o rei Acabe.
Sendo assim o estado público da Igreja, onde não restou poder algum para lidar com o mal, o Senhor separou um remanescente, dizendo: “Mas Eu digo a vós, os restantes [remanescentes]…” (JND) Ele abandonou a massa (Ap 2:24). Dali em diante, Ele trabalhou com um remanescente que ouviria o que o Espírito estava dizendo às igrejas. Aqui temos a palavra “remanescente” sendo usada em conexão com o testemunho Cristão. É significativo que o Senhor não tenha colocado sobre eles o “fardo” (TB) de consertar a confusão no testemunho Cristão, em um esforço de trazer a Igreja de volta para onde ela uma vez esteve. Em vez disso, Ele redirecionou o foco deles para a Sua vinda, dizendo: “retende-o até que Eu venha” (Ap 2:25).
Daquele ponto em diante é vista uma mudança marcante nos caminhos do Senhor com a Igreja. Até ali, a voz do Espírito era para toda a Igreja. “O que o Espírito diz às igrejas” vinha antes da promessa oferecida ao vencedor nas três primeiras igrejas. Isso indica que a recompensa para o vencedor foi colocada diante de toda a Igreja, pois o Senhor ainda estava lidando com ela de um modo geral. Mas agora, nesse ponto, a ordem é invertida. O chamado “ouça o que o Espírito diz às igrejas” vem depois da promessa para o vencedor. É esta a ordem nas últimas quatro igrejas. O que o Espírito tem a dizer a respeito da ordem da Igreja não é mais direcionado à massa, mas apenas ao vencedor. Isso porque se supõe que somente o vencedor irá ouvir o que o Espírito está dizendo; não se espera que a massa irá ouvir e se arrepender. A previsão de Paulo para Timóteo de que as massas “desviarão os ouvidos da verdade” aconteceu (2 Tm 4:2-4) e, portanto, o Espírito não está mais falando com o corpo como um todo.
Ao comentar essa mudança, J. N. Darby disse que o corpo como um todo é “deixado de lado” desse ponto em diante, porque a massa pública na profissão Cristã é tratada como sendo incapaz de ouvir e arrepender-se. W. Kelly disse, “o Senhor a partir de então coloca primeiro a promessa [ao vencedor], e a razão para isso é que é em vão esperar que a Igreja como um todo a receba… apenas um remanescente vence, e a promessa é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado”. Como resultado, o Senhor já não esperava que a massa da profissão Cristã fosse ouvir e retornar ao ponto de onde se tinha desviado. Qualquer ideia de recuperar a Igreja como um todo é abandonada porque ela atingiu um ponto sem chance de recuperação. É por isso que eu não creio que o Espírito esteja necessariamente falando a cada pessoa na Cristandade hoje a respeito da verdade de reunião. Com a maioria, Ele está deixando que elas sigam o seu próprio caminho em relação às suas afiliações eclesiásticas.
Trabalhando com um testemunho remanescente desde essa época, aprouve ao Senhor recuperar a verdade que foi perdida pelo descaso na Igreja nos séculos anteriores. No entanto, Ele não achou apropriado recuperar toda a verdade de uma só vez. O remanescente mencionado em Apocalipse 2:24-29 são os Valdenses, os Albigenses, e outros como eles que se separaram do mal de “Jezabel” nos tempos medievais. Foi dito a eles, “retende” a pouca verdade que possuíam. Algum tempo depois, chegando até a Reforma, o Senhor permitiu que um pouco mais de verdade fosse recuperado, como por exemplo a supremacia da Bíblia e a fé unicamente em Cristo para a salvação. Mas esse movimento do Espírito foi barrado pelos reformadores, que recorreram a certos governos nacionais em busca de ajuda contra as perseguições da igreja de Roma. Isso foi o mesmo que recorrer à carne em busca de ajuda, em vez de depender do Senhor (Jr 17:5; Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação das grandes igrejas nacionais na Cristandade, e teve início a condição de morto do protestantismo, como retratado na igreja em Sardes (Ap 3:1-6).
Não foi senão até o início de 1800 que o Senhor trouxe uma recuperação completa da “fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3), que aconteceu quando homens saíram de toda organização formal, feita pelo homem, na Igreja. Isso é retratado na mensagem do Senhor à igreja em Filadélfia (Ap 3:7-13). Nesse momento, Deus estabeleceu um testemunho corporativo para a verdade do um só corpo. Antes disso, o remanescente consistia em indivíduos que procuravam seguir fielmente em separação da corrupção da igreja romana. Estamos agora em dias em que cada um está fazendo o que é reto aos seus próprios olhos (Jz 21:25), e a maioria está satisfeita no seu triste estado. Isso é retratado na igreja em Laodiceia (Ap 3:14-22).
A questão aqui é que o testemunho Cristão atingiu um ponto de irremediável ruína, o que exigiu uma mudança no modo de o Senhor tratá-lo. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar o estado público da Igreja e agora está trabalhando em um testemunho remanescente.
Assim como foi com Israel, para manter hoje um testemunho remanescente da verdade do um só corpo, o Senhor não precisa ter todos os Cristãos no mundo congregados ao Seu nome, embora seja este o Seu desejo para com eles. Como mencionado, o próprio significado da palavra remanescente implica que nem todos estão ali. Em divina prerrogativa e graça, Deus está tomando um aqui e outro ali, e está reunindo-os ao nome do Senhor para que esse testemunho remanescente possa ser levado adiante. A manutenção do testemunho é uma obra soberana. Isso é visto na observação que o Senhor faz à Filadélfia: “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Nenhum homem ou demônio pode impedir a continuação desse testemunho, ainda que ele possa parecer seguir em muita fraqueza. Por mais humilde que seja, o Senhor não precisa de nenhum daqueles que Ele reuniu, independentemente de quão talentosos ou espirituais eles possam ser. Se não quisermos estar ali e formos embora, o Senhor irá reunir outra pessoa para que esse testemunho remanescente seja levado adiante até Sua vinda. Só o fato de existir alguém reunido já é inteiramente uma obra de Deus; a graça que salva uma alma é a mesma graça que reúne ao nome do Senhor. Se algum de nós ouviu “o que o Espírito diz às igrejas” e enxerga a verdade de reunião, é só porque Ele abriu os nossos ouvidos (Pv 20:12).
Os “Irmãos” Não São o Remanescente de Deus no Cristianismo
Agora, pode parecer que eu estou dizendo que os irmãos reunidos ao nome do Senhor são o remanescente de Deus hoje – os poucos fiéis – e que todos os outros Cristãos são apenas a massa falida. Mas isso é um equívoco.
Eu me recordo do irmão C. E. Lunden dizendo que, falando apropriadamente, o remanescente de Deus no Cristianismo são todos os verdadeiros crentes entre a massa de meros professos na Cristandade. Ele também disse que, eclesiasticamente, os santos reunidos ocupam simplesmente uma posição remanescente no testemunho e estão onde todo o remanescente (todo verdadeiro crente) deveria estar, como reunido ao nome do Senhor. Os santos reunidos são, portanto, na melhor das hipóteses, apenas parte do remanescente de Deus; eles não fazem nenhuma reivindicação de ser o remanescente. É provável que eles sejam acusados de acreditar que eles são os poucos escolhidos de Deus, mas essas acusações são falsas.
Pode ser que as pessoas pensem que os irmãos estão dizendo que existe ruína lá fora, nas denominações da igreja, mas não entre eles, já que eles estão fazendo da maneira correta. Isso também é um equívoco. Os irmãos não se veem à parte da ruína; eles reconhecem plenamente a sua parte nela. Eles costumam se referir à oração de Daniel como exemplo, na qual ele reconhece a sua parte no fracasso de Israel (Dn 9). O fato de termos pessoas entre nós que não creem nos próprios princípios da nossa existência eclesiasticamente deve ser prova suficiente de que os irmãos estão em um estado enfraquecido. Existe algo que é estar em uma posição correta eclesiasticamente, mas estar em uma condição errada espiritualmente. Geralmente é este o caso entre os irmãos.
Os santos reunidos foram colocados em uma posição muito privilegiada no testemunho Cristão, mas é triste dizer que, como um todo, eles não têm sido fiéis – e irão abertamente reconhecer isso. Então, essa ideia de os irmãos pensarem que são os únicos fiéis de Deus é pura ficção. Eles se veem como bastante infiéis, apesar de extremamente privilegiados.
A Prática de Certos Aspectos da Verdade é Impopular
Uma segunda razão pela qual os “santos reunidos” são relativamente poucos é que eles procuram praticar toda a verdade de Deus, e algumas dessas coisas não são populares. Coisas como adorar em espírito e em verdade sem instrumentos musicais (Jo 4:23-24; At 17:24-25), o lugar das irmãs na Igreja (1 Co 11:2-16, 14:34-40; 1 Tm 2:9-15), o julgamento corporativo – excomunhão – (1 Co 5:1-13) e outras verdades não são populares. A maioria dos Cristãos hoje não quer estar ligada a algo que restrinja seu estilo de vida.
A Mão de Deus em Tratamento Governamental Tem Pesado Sobre Nós
A terceira razão para a pequenez em número entre aqueles que estão reunidos ao nome do Senhor é que falhamos em nossa responsabilidade como reunidos ao nome do Senhor, e a mão de Deus tem pesado sobre nós de modo governamental. Consequentemente, ele nos reduziu numericamente a fim de nos humilhar. Isso, mais uma vez, é para nossa própria vergonha. Percebendo isso, uma pessoa não sentirá orgulho.
Temos sido orgulhosos de sermos aqueles que o Senhor reuniu ao Seu nome, quando na verdade foi a obra da soberana graça que nos trouxe até ali. É claro que não é este o espírito de se ter quando o testemunho Cristão está em ruínas. Se é assim que fomos reunidos, então não temos nada do que nos gloriar, pois foi somente Sua graça que concedeu tal privilégio. Se aqueles que Ele reuniu ao Seu nome são um testemunho, eles são um testemunho do fato de que há uma ruína no testemunho Cristão; certamente não é algo para se orgulhar. Como resultado do nosso pobre estado, o Senhor tem colocado Sua mão sobre nós e tem reduzido os números entre os santos reunidos em relação ao que já foi um dia. “Ouvi a vara, e Quem a ordenou” (Mq 6:9).
Sofonias 3:11-12 nos dá o princípio da ação governamental do Senhor. Ali diz: “Naquele dia não te envergonharás de nenhuma das tuas obras, com que te rebelaste contra Mim; porque então tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no Meu monte santo. Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor.”
RESUMO: A resposta simples quanto à razão por que os números são relativamente pequenos entre os “santos reunidos” é:
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Por se tratar de um testemunho remanescente, é de se esperar que ele seja pequeno – é a “natureza da coisa”. O Espírito de Deus não está necessariamente reunindo cada Cristão na Terra ao nome do Senhor para manter esse testemunho. Por meio de soberana graça, Ele está mantendo na Terra uma “luz” (1 Rs 11:36) quanto à verdade do um só corpo na prática até que o Senhor venha.
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Os congregados ao nome do Senhor procuram praticar toda a verdade de Deus relacionada com reunir-se para adoração e ministério, e algumas coisas, como observamos, não são populares. Por isso, a maioria dos Cristãos não está interessada em identificar-se com esse movimento.
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Os congregados ao nome do Senhor falharam, e a mão de Deus tem estado sobre eles de modo governamental. Ele tem reduzido o tamanho numérico desse testemunho remanescente para humilhar aqueles que estão ligados a ele.
CAPÍTULO 4: O que Há de Errado em Ir a Uma Igreja Denominacional?
PERGUNTA: O que há de errado em alguns dos “santos reunidos” irem com outros Cristãos à igreja deles? Afinal, eles também amam o Senhor!
Quem faz essa pergunta não entende a posição que assumimos em separação da confusão eclesiástica existente na Cristandade. Isso nos faz imaginar o porquê de eles estarem entre os “santos reunidos” afinal. Não me interprete mal. Ficamos felizes e gratos por todos os que tomaram seu lugar à mesa do Senhor, mas precisamos entender o porquê de estarmos ali, e fica claro por essa pergunta que alguns não entendem.
RESPOSTA: Existem várias razões pelas quais é incoerente aqueles que estão reunidos ao nome do Senhor frequentarem cultos em uma igreja denominacional.
- É Hipocrisia Apoiar Uma Coisa Contra a Qual Protestamos
Primeiramente, precisamos entender a posição que assumimos de reunidos ao nome do Senhor “fora do arraial” (Hb 13:13). “Trata-se de um protesto prático, porém bíblico, contra a falta de base bíblica da ordem denominacional existente na Cristandade.” (Esta é uma citação de H. E. Hayhoe, mas ele estava citando W. Potter.) Se uma pessoa se une àqueles que assumiram essa posição, pressupõe-se que ela concorda com esse posicionamento. Só podemos concluir que se alguém que assumiu essa posição ao se apartar da ordem sem base bíblica das denominações, volta atrás e tem comunhão com aquilo, tal pessoa seria um hipócrita.
Paulo fala desse princípio em Gálatas 2:18, quando diz, “se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor”. Como judeu convertido, ele havia assumido a posição Cristã fora do judaísmo. Ele estava empenhado ativamente em encorajar outros que haviam assumido o mesmo posicionamento a reterem “firmes a profissão da nossa fé sem vacilar” (Hb 10:23 – KJV). O retorno dele àquilo que sua consciência o levara a abandonar, e o que ele pregava, faria dele um “transgressor”. Enquanto Gálatas 2:18 se refere ao judaísmo, o princípio é o mesmo em relação à ordem denominacional na Cristandade. Frequentar uma assim chamada igreja, depois de ter assumido uma posição de protesto contra ela, é hipocrisia. O Sr. W. Kelly disse algo no sentido de que seria pecado ele retornar àquilo que sua consciência o tivesse levado a abandonar, e qualquer pessoa que o instigasse a ir contra a sua consciência estaria na verdade encorajando-o a pecar contra Deus.
- É Colocar Nossa Sanção na Ordem Não Bíblica das Igrejas
Em segundo lugar, ao irmos a uma (assim chamada) igreja, estamos, com esse ato, tendo comunhão com ela e, dessa maneira, estamos sancionando e aprovando a ordem daquele lugar, que está claramente em desacordo com a Palavra de Deus. Certamente, não podemos esperar que o Senhor fique feliz conosco fazendo isso.
Existe uma figura no Velho Testamento que ilustra bem esse ponto. Vamos ler essa passagem em 1 Reis 13, pois acredito que há algo que podemos aprender com ela.
“E eis que um homem de Deus veio de Judá com a Palavra do Senhor a Betel: e Jeroboão estava junto ao altar, para queimar incenso. E clamou contra o altar com a Palavra do Senhor, e disse: Altar, altar! assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que queimam sobre ti incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti. E deu naquele mesmo dia um sinal, dizendo: Este é o sinal de que o Senhor falou: Eis que o altar se fenderá, e a cinza, que nele está, se derramará.
Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei a palavra do homem de Deus, que clamara contra o altar de Betel, Jeroboão estendeu a sua mão de sobre o altar, dizendo: Pegai dele. Mas a sua mão, que estendera contra ele, se secou, e não a podia tornar a trazer a si. E o altar se fendeu, e a cinza se derramou do altar; segundo o sinal que o homem de Deus apontara pela Palavra do Senhor.
Então respondeu o rei, e disse ao homem de Deus: Ora à face do Senhor teu Deus, e roga por mim, que a minha mão se me restitua. Então o homem de Deus orou à face do Senhor, e a mão do rei se restituiu e ficou como dantes. E o rei disse ao homem de Deus: Vem comigo a casa, e conforta-te; e dar-te-ei um presente. Porém o homem de Deus disse ao rei: Ainda que me desses metade da tua casa, não iria contigo, nem comeria pão nem beberia água neste lugar. Porque assim me ordenou o Senhor pela Sua Palavra, dizendo: Não comerás pão nem beberás água; e não voltarás pelo caminho por onde foste. E foi-se por outro caminho; e não voltou pelo caminho, por onde viera a Betel.
E morava em Betel um profeta velho: e veio seu filho, e contou-lhe tudo o que o homem de Deus fizera aquele dia em Betel, e as palavras que dissera ao rei; e as contaram a seu pai. E disse-lhes seu pai: Por que caminho se foi? E viram seus filhos o caminho por onde fora o homem de Deus que viera de Judá. Então disse a seus filhos: Albardai-me um jumento. E albardaram-lhe o jumento, e montou nele. E foi-se após o homem de Deus e o achou assentado debaixo dum carvalho: e disse-lhe: És tu o homem de Deus que vieste de Judá? E ele disse: Eu sou. Então lhe disse: Vem comigo a casa e come pão. Porém ele disse: Não posso voltar contigo, nem entrarei contigo; nem tão pouco comerei pão, nem beberei contigo água neste lugar. Porque me foi mandado pela Palavra do Senhor: Ali nem comerás pão, nem beberás água; nem tornarás a ir pelo caminho por que foste. E ele lhe disse: Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou pela Palavra do Senhor, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa, para que coma pão e beba água. (Porém mentiu-lhe.) E tornou ele e comeu pão em sua casa e bebeu água. E sucedeu que, estando eles à mesa, a Palavra do Senhor veio ao profeta que o tinha feito voltar. E clamou ao homem de Deus, que viera de Judá, dizendo: Assim diz o Senhor: Porquanto foste rebelde à boca do Senhor, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te mandara; Antes voltaste, e comeste pão e bebeste água no lugar de que te dissera: Não comerás pão nem beberás água; o teu cadáver não entrará no sepulcro de teus pais.” Bem, o resto da história nós conhecemos: um “leão” o encontrou no caminho e o matou. Que triste final para a sua vida!
Há algumas lições valiosas que podemos aprender com isso. No capítulo 12, Jeroboão havia estabelecido dois altares rivais ao altar do Senhor em Jerusalém, que:
- Negavam a unidade de Deus, na medida em que havia dois bezerros para representar o único Deus de Israel. “O Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6:4). - Negavam a verdade do único centro de reunião para ofertas e sacrifícios por fazerem de Betel e Dã lugares alternativos de adoração. “Haverá um lugar que o Senhor vosso Deus escolherá” (Dt 12:11 – AIBB). - Dividiam o povo de Deus, o qual Ele desejava que estivesse unido como um só povo. “E se tornem um só” era Seu desejo original para eles (Ez 37:15-19).
Como resposta, Deus levantou um testemunho contra aqueles falsos centros de adoração e sacrifício. “Um homem de Deus” foi enviado de Judá (onde estava o centro de Deus) para protestar contra a falsa posição estabelecida por Jeroboão em Betel. Ele veio “por ordem do Senhor” (ARF), o que demonstra que era de Deus a ordem para que houvesse um testemunho contra a falta de fundamento bíblico daqueles falsos altares. Do mesmo modo, a posição que os santos reunidos assumem na Cristandade, em separação de toda a ordem sem base bíblica das igrejas, é um protesto fundamentado na Escritura que é de Deus.
É significativo que o homem de Deus “clamou” contra o altar, mas “rogou” pelo rei e pelo povo que oferecia seus sacrifícios ali (vs. 2, 6). Do mesmo modo, o protesto bíblico dos santos reunidos não é contra os queridos crentes que adoram em suas igrejas denominacionais, mas contra a falta de base bíblica do sistema em que estão envolvidos. Não condenamos nossos companheiros crentes das igrejas denominacionais; nós os amamos e oramos pelo seu bem e para que sejam abençoados. O rei estender a mão para prender o profeta aponta para o fato de que há reprovação e perseguição conectadas à posição de separação que assumimos, e precisamos estar preparados para isso. “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:13).
Depois que a mão do rei foi restaurada, aqueles que estavam em Betel fizeram uma dupla tentativa de enredar o homem de Deus em uma falsa associação com eles naquele lugar. O rei ofereceu um “presente [recompensa – TB]” de alguma vantagem mundana, se tão somente o homem de Deus fosse para casa com ele e se confortasse lá. Era uma clara tentativa de induzir o servo do Senhor a sair do caminho de obediência à Palavra de Deus. Essa artimanha foi frustrada pela obediência do homem de Deus àquilo que lhe havia sido dado “pela palavra do Senhor” (KJV) (vs. 7-10). Isso nos ensina que, quando somos provados, devemos permanecer nos princípios que aprendemos na Palavra de Deus e deixá-los nos guiar.
Tendo falhado nessa primeira tentativa, o inimigo veio ao homem de Deus em uma linha muito mais sutil. O “velho profeta em Betel” (KJV) alcançou o homem de Deus e contou-lhe uma mentira escancarada para tentar fazê-lo voltar e ter comunhão com ele naquela posição falsa. Para convencer o profeta mais novo, o velho profeta usou (o que ele alegou ser) “a Palavra do Senhor”. Infelizmente, funcionou. O homem de Deus foi enganado e retornou a Betel para comer pão com o velho profeta (vs. 11-32). Isso nos ensina que devemos estar vigilantes contra outros servos que fazem mau uso da Palavra de Deus para nos persuadir em um caminho errado. Muitos Cristãos sinceros foram persuadidos por outros crentes a agirem segundo algum falso princípio sobre comunhão, e assim foram levados a deixarem a mesa do Senhor para alguma falsa posição. Que isso, então, nos sirva de alerta.
Você irá notar que o velho profeta de Betel gastou uma energia considerável para conseguir que o homem de Deus cedesse e tivesse comunhão com ele em sua falsa posição. Ele queria desesperadamente que ele comesse e bebesse (uma expressão de comunhão) naquele lugar. O velho profeta, obviamente, tinha consciência de estar naquela posição sem fundamento bíblico e queria que outros estivessem ali com ele para aliviar o fardo de sua consciência.
O homem de Deus falhou, na medida em que ele não saiu do “lugar” contra o qual ele foi enviado para testificar (vs. 16). Ele percorreu uma pequena distância e então sentou-se debaixo de uma árvore, mas ainda estava em Betel. Se ele tivesse continuado, talvez o velho profeta não o tivesse alcançado. Sua demora em partir tornou-se a causa de sua queda. Com isso fica muito claro o que Deus pensa daqueles em Seu centro divino tendo comunhão com os que estão em uma falsa posição eclesiástica. Acho que isso responde à pergunta sobre se os “santos reunidos” deveriam ir a uma igreja.
Em resumo, havia três coisas que resultaram do homem de Deus voltando para comer e beber com o velho profeta de Betel. Ao fazê-lo:
- Ele colocou sua sanção naquele lugar de sacrifício que não tinha a sanção do Senhor. - Ele colocou sua sanção sobre a infidelidade do velho profeta que estava naquela falsa posição. - Ele anulou seu próprio testemunho contra a falta de fundamento bíblico do falso centro e, assim, ele acabou com a sua história de testemunho do lugar designado por Deus.
- Perderemos Nosso Poder de Testemunho da Verdade da Assembleia
Uma terceira razão pela qual precisamos andar em separação das igrejas denominacionais é que, ao se juntar a eles, perderemos nosso poder de testemunho da verdade da assembleia. No caso do profeta que o Senhor mandou que não comesse pão com o velho profeta em Betel, por sua desobediência à Palavra do Senhor, um leão o matou, e isso encerrou sua história de testemunho para o Senhor.
O Senhor disse a Jeremias: “Se apartares o precioso do vil, serás como a Minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles” (Jr 15:19). O ponto a ser observado aqui é que, se Jeremias permanecesse separado da corrupção de Judá, ele continuaria a ser usado como “boca” do Senhor. Se ele voltasse e se juntasse em comunhão com o povo que estava indo na direção errada, ele perderia seu poder de testemunho. Do mesmo modo, se permanecermos na posição eclesiástica para a qual nos separamos como reunidos ao nome do Senhor, podemos (e iremos) ser usados para dar testemunho da verdade em meio à confusão na Cristandade e, em um certo sentido, ser como “boca” do Senhor. Seremos “vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Tm 2:21). Os que permanecem na confusão dos sistemas eclesiásticos podem ser usados pelo Senhor para algumas obras, mas não para **“**toda a boa obra”, como diz o versículo. Por exemplo, eles poderiam certamente ser usados pelo Senhor para pregar o evangelho, mas não poderiam ser usados para ensinar às pessoas a verdade da assembleia e a ordem adequada a ela (pelo menos não com algum tipo de poder), pois se a soubessem e a ensinassem, isso condenaria a falsa posição em que estão. Portanto, se retornarmos àquilo de que nos separamos, também perderemos nosso poder de testemunho.
- Estamos Associando a Mesa do Senhor à Ordem sem Base Bíblica das Igrejas
Uma quarta razão pela qual os congregados ao nome do Senhor devem ter cuidado quanto a ter comunhão com as igrejas do Cristianismo denominacional é que, ao frequentarmos seus cultos, iremos associar a mesa do Senhor àquela ordem sem base bíblica. O apóstolo Paulo fala desse princípio em 1 Coríntios 10:14-22. Ele mostra que, seja no Cristianismo, no judaísmo ou no paganismo, existe um princípio de identificação. Em cada caso, participar de uma determinada ordem religiosa de coisas é a expressão da comunhão de alguém com tudo o que existe ali.
Em relação ao Cristianismo, Paulo disse, “O cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Co 10:16) Nosso ato de partir o pão (participando da ceia do Senhor) é a expressão de nossa comunhão com aqueles com quem partimos o pão. Em relação a Israel, o mesmo princípio existia. Ele disse: “Vede a Israel segundo a carne: os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar?” (1 Co 10:18) A pessoa que participava dos sacrifícios no altar judeu estava identificada com tudo o que aquele altar representava. Ele também mostrou que o mesmo princípio é válido para a idolatria no paganismo. Ele disse: “As coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios” (1 Co 10:20). Nesse caso, aqueles que participavam do “cálice dos demônios” estavam em comunhão com os demônios por detrás dos ídolos.
O ponto de Paulo aqui é claro: nosso ato de participar de uma determinada comunhão religiosa – judaica, pagã ou Cristã – nos identifica com tudo o que acontece lá. Esse princípio aplica-se às mesas dos homens existentes na ordem de igreja denominacional. Se participamos com eles, e eles ensinam má doutrina, então estamos em comunhão com ela. Se eles estão engajados em uma prática de adoração sem fundamento na Escritura, e participamos com eles, também estamos em comunhão com essa prática. Sei que isso é extremamente impopular, mas permanece o fato de que quando nos associamos a qualquer ordem sem base bíblica do Cristianismo denominacional, quer concordemos com suas práticas ou não, ainda assim estamos identificados com ela. E o mais importante, se estamos partindo o pão à mesa do Senhor, por nosso ato de comunhão com a ordem sem fundamento bíblico na Cristandade, estamos associando essa ordem à mesa do Senhor. Isso certamente não tem como ser do agrado do Senhor.
- Existe o Perigo de Ser Atraído para Dentro das Igrejas Denominacionais
Uma quinta razão pela qual precisamos ter cuidado com as nossas associações com igrejas denominacionais é que existe o perigo de sermos atraídos para dentro delas. Existe uma possibilidade real de adquirir má doutrina, especialmente quanto a visões eclesiásticas. O princípio que eu daria para isso é que “Nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si” (Rm 14:7). Isso mostra que somos afetados pelo que está ao nosso redor. As ideias errôneas daqueles a quem nos associamos nesses grupos eclesiásticos vão acabar passando para nós. Pode demorar algum tempo, mas é um fato. “As más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). (Veja também Ageu 2:10-14.) Agora você poderia se opor a isso, dizendo: “Esses Cristãos não são maus!” No que diz respeito a vida pessoal deles, isso pode ser verdade, mas eu estou falando do princípio envolvido em 1 Coríntios 15:33 apenas. A Escritura está repleta de exemplos que nos mostram que precisamos ser cuidadosos com as nossas associações e que, se estivermos em contato com falsos princípios, seremos afetados por eles.
Grupos de Estudo Bíblico de Mulheres
Talvez alguns de vocês estejam perguntando, “Há algo de errado em irmãs reunidas ao nome do Senhor irem a estudos bíblicos de mulheres promovidos por organizações eclesiásticas?” Eu entendo o ponto aqui; essas reuniões muitas vezes não são realizadas em um prédio de igreja, então, tecnicamente, não se poderia dizer que você estaria indo a uma igreja se frequentasse uma dessas reuniões.
Certamente não há nada de errado com irmãs se reunindo para ler a Palavra de Deus e orar; que isso seja encorajado. Mas eu acredito que estudos bíblicos organizados de mulheres Cristãs, criados com fins de ensino, não têm fundamento nas Escrituras. 1 Coríntios 14:35 diz, “Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido” (ARA). Não encontramos na Escritura uma organização para-eclesiástica criada para ensinar mulheres. Isso pode ser difícil para você entender, já que elas estão fazendo algo bom e certo – afinal, estudar a Escritura não tem como ser algo errado! Mas existe uma coisa que é fazer algo certo da maneira errada, e esse é o meu ponto aqui. O versículo que apresentei está na Escritura. Eu sei que isso pode não ser popular, mas é a Palavra de Deus.
A réplica habitual para isso é, “E se uma irmã não tem marido?” Contudo, a palavra traduzida como “marido” aqui é realmente mais ampla do que “homem casado”; refere-se a homens em geral. A mesma palavra é traduzida simplesmente como “homens” [ou “varões”] em muitos lugares no Novo Testamento (At 1:16, 2:29, 37, 3:2, 7:2, 9:2, 13:15, 15:7, etc.). Acredito que ela poderia ser traduzida assim nesse versículo. O ponto que Paulo está explicando aqui é que as irmãs podem perguntar aos homens (os irmãos) “em casa” num ambiente doméstico, se elas quiserem esclarecimento sobre algum ponto que tenha sido abordado nas reuniões de assembleia. Novamente, eu entendo que isso provavelmente esteja jogando um balde de água fria naquilo que alguns de vocês queriam ouvir, mas é o que a Escritura diz, e nós não somos mais sábios do que a Palavra de Deus.
O ponto em que estamos focando, de que somos afetados por nossas associações, é um perigo real. Como mencionado, existe a possibilidade de ser atraído para dentro das igrejas denominacionais por meio da comunhão com Cristãos ligados a esses sistemas, especialmente ao frequentar reuniões organizadas para o estudo das Escrituras. Alguém me contou que em uma assembleia reunida ao nome do Senhor, havia sete irmãs que foram a um estudo bíblico organizado de mulheres promovido por pessoas de igrejas; e agora, alguns anos depois, apenas duas delas ainda estão reunidas. Então, não dá para dizer que comunhão com esse tipo de coisa não tem um efeito sobre uma pessoa. Alimentar-se de ministério cujas raízes estão no arraial tem o efeito de atrair uma pessoa para dentro do arraial. E não existe nenhum ministério no arraial que levará uma pessoa para “fora do arraial”, o lugar apropriado do Cristão (Hb 13:13). Eu simplesmente odiaria ver um monte de jovens serem levados por algo assim. Mas não seria a primeira vez que aconteceria.
Anos atrás, quando eu era jovem e estava faminto para aprender a verdade (espero poder dizer que eu ainda esteja faminto pela verdade), tivemos uma situação ideal em nossa assembleia local. Havia ali muitos mestres bem instruídos – o Sr. Clark, o Sr. Coleman, o irmão Graham; e depois, num papel secundário, havia o meu pai, o tio Stan e o meu tio Jim, e o irmão Keating. Todos esses homens tinham boas bibliotecas de bom ministério, e eles nos ensinavam muita verdade nas reuniões semanais, pelas quais sou muito grato. Quando íamos a uma reunião de leitura, simplesmente sentávamos ali fazendo anotações, absorvendo tudo. Muito do que eu sei hoje veio desses homens.
Enfim, em meio a tudo isso, havia uma irmã na assembleia que ia regularmente a um estudo bíblico organizado de mulheres promovido por uma denominação da cidade. Quando perguntaram a ela por que ela ia àquele estudo, sua resposta foi que ela não estava recebendo alimento nas reuniões! “Quê?! Como assim?”, eu pensei. Aqui estávamos nós fervorosamente fazendo anotações da maravilhosa verdade que estava saindo daqueles homens, e ela não estava recebendo alimento! Não é preciso dizer que essa irmã não está mais reunida ao nome do Senhor; ela está hoje em uma denominação.
Que estado lamentável deve ser este em que estamos! Era comum os que estavam nas denominações (150 anos atrás) virem até nós para aprender a verdade; agora temos que ir até eles para nos alimentar! Isso me faz lembrar dos filhos de Israel tendo que ir até os filisteus para amolar seus instrumentos agrícolas (1 Sm 13:19-22). Não estou insinuando que nossos irmãos que estão nas denominações sejam filisteus ímpios; apenas me entristece que os santos reunidos pensem que precisam buscar a verdade indo até aqueles que deveriam estar vindo até nós em busca dela.
Talvez o problema seja duplo. Poderia ser simplesmente o sintoma de um espírito insatisfeito e inquieto querendo algo diferente. Mas, por outro lado, precisamos nos perguntar por que alguém em nossa assembleia local iria querer ir a um estudo bíblico em uma igreja. Por que uma irmã sente que não está sendo alimentada nas reuniões da assembleia? Poderia ser devido ao estado da irmã, mas também poderia ser porque não estamos dando muito alimento aos santos. Precisamos refletir sobre isso. Creio que parte da culpa é daqueles que têm a responsabilidade de ensinar na assembleia. Estamos dando alimento a eles? Estamos ensinando a verdade aos santos? Quando vamos às reuniões, ficamos simplesmente caçando algo para dizer apenas para preencher o tempo, ou estamos realmente dando algo a eles? Eu não estou tentando apontar falhas naqueles que ensinam; eu mesmo quero me exercitar sobre isso. Mas se não tivermos gastado tempo aprendendo a verdade nós mesmos, ela não irá simplesmente, de forma mágica, aparecer no ar quando chegarmos à reunião de leitura; precisamos ser diligentes durante a semana em nossos estudos pessoais para termos certeza de que estamos trazendo algo para as reuniões na forma de alimento. Então, talvez as pessoas fiquem contentes em estar nas reuniões da assembleia e não vão olhar em outro lugar.
RESUMO: Alguém na posição de reunido ao nome do Senhor, em separação da ordem sem base bíblica das igrejas denominacionais, que vai a um culto de igreja é incoerente com o posicionamento que assumiu, porque:
-
é hipocrisia apoiar uma coisa contra a qual protestamos;
-
é sancionar algo que está claramente em desacordo com a Palavra de Deus;
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perderá o poder de testemunho da verdade da assembleia;
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é ligar a mesa do Senhor à ordem sem base bíblica das denominações;
-
coloca a pessoa numa posição onde ela poderia adquirir má doutrina e acabar sendo levada a deixar a mesa do Senhor.
CAPÍTULO 5: Só os Cristãos Devidamente Reunidos em Terreno Divino Têm o Senhor em Seu Meio?
PERGUNTA: Como podemos dizer que só existe um grupo de Cristãos devidamente reunidos em terreno divino e que só eles têm o Senhor em seu meio, quando existem muitos grupos de Cristãos devotos e piedosos que se reúnem com motivos sinceros? Isso soa extremo fanatismo e sectarismo.
RESPOSTA: Ensinar que o Espírito de Deus tem um centro de reunião na Terra hoje no Cristianismo – um lugar onde o Senhor colocou o Seu nome, e onde Espírito de Deus está reunindo pessoas – é provavelmente o ponto mais odiado em todas as perguntas que as pessoas levantam. Pode soar como fanatismo e sectarismo, mas quando você pesa o que a Escritura ensina a respeito da verdade de reunião, a única conclusão honesta a que se chega é que só poderia existir um único centro de reunião divinamente reconhecido na Terra.
Para responder corretamente a esta pergunta, realmente precisamos voltar e olhar alguns dos princípios básicos envolvidos na ordem de Deus para Cristãos se reunirem para adoração e ministério.
Deus Deseja que Seu Povo Seja Um em Testemunho
Em primeiro lugar, a Palavra de Deus nos diz que é PLANO de Deus no Cristianismo “reunir em um os filhos de Deus, que estavam dispersos” (Jo 11:51-52 – JND) e que houvesse “um rebanho” (Jo 10:16). Antes de ir para a cruz, o Senhor orou com esse objetivo, dizendo: “Pai Santo, guarda em Teu Nome aqueles que Me deste, para que sejam um, assim como Nós”. E novamente, “… para que todos sejam um**, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam** um **em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste”** (Jo 17:11, 21). Embora esses versículos no evangelho de João não falem diretamente da verdade da unidade do corpo de Cristo, mas sim da unidade da família de Deus, eles mostram claramente que o desejo de Deus para o Seu povo é que ele esteja junto em uma unidade visível na Terra.
A primeira vez que o Senhor revelou Seus pensamentos sobre uma unidade prática manifesta entre o Seu povo na Igreja foi em Mateus 18:20. Ali diz, “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em [são colocados juntos para o – JND] Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Ele não queria que estivessem somente “reunidos” onde Ele estava no meio, mas que fossem “colocados juntos”. Assim, o Senhor estava indicando que todos os que o Espírito de Deus reunisse ao Seu nome, onde quer que estivessem na Terra, estariam “juntos” em uma unidade visível. Ele não quis dizer que eles deveriam estar reunidos juntos em um único lugar geograficamente (como era no judaísmo, em Jerusalém), mas que eles iriam atuar juntos nas várias localidades onde o Espírito os tivesse reunido, a fim de dar uma expressão universal do fato de que eles são um.
Agora, você pode pensar que eu estou enxergando na palavra “juntos” mais do que aquilo que o Espírito de Deus pretendia, e é verdade que se tivéssemos apenas esse versículo (Mateus 18:20) sobre o assunto de reunir, poderíamos não ter base para dizer isso. Mas quando vamos para o livro de Atos e para as epístolas e interpretamos essa passagem da Escritura à luz de todo o teor da revelação Cristã, podemos ver que o Senhor estava indicando a verdade da unidade da Igreja em testemunho. Essa verdade é apenas aludida em Mateus 18, pois os discípulos não tinham o Espírito ainda, e eles não seriam capazes de entender a verdade contida nele (Jo 14:25-26, 16:12). O Senhor fez isso em muitas ocasiões durante o Seu ministério, dando só a semente de uma certa verdade e, em seguida, deixando-a para que fosse desenvolvida por meio dos apóstolos, quando o Espírito viesse.
À medida que o evangelho alcançava muitas terras e muitos se convertiam, naturalmente haveria muitas assembleias espalhadas pela Terra, mas o Senhor pretendia que, ainda assim, elas fossem uma só em comunhão e testemunho. Isso é visto na observação feita pelo apóstolo Paulo aos Tessalonicenses: “Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo [Cristo Jesus – ARA]” (1 Ts 2:14). O Senhor não pretendia que Seu povo estivesse em grupos independentes, mas que houvesse um só rebanho – uma comunhão universal de santos na Terra. Esta é a comunhão a que todos os Cristãos são chamados (1 Co 1:9).
Deus Tem Um Terreno no Qual Ele Reúne os Cristãos
Em segundo lugar, as Escrituras nos dizem que Deus tem um LUGAR – um terreno eclesiástico – na Terra “onde” Ele gostaria de ter os Cristãos reunidos para expressar a verdade de que há um só corpo. Este centro de reunião é o próprio Cristo. O mesmo versículo que citei (Mateus 18:20) diz, “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em [para o] Meu nome, aí, estou Eu no meio deles”. Como mencionado, este lugar de reunião no Cristianismo não é um centro geográfico literal, mas um terreno espiritual envolvendo princípios bíblicos relacionados com a forma como os Cristãos devem reunir-se para adoração e ministério. Aqueles que estão nesse terreno não estão reunidos em torno de princípios, mas de uma Pessoa – o Senhor Jesus Cristo.
Este centro de reunião é um lugar de escolha do Senhor, onde Ele colocou o Seu nome e onde Ele reúne os crentes. Observe que o versículo diz “onde”, e não “onde quer que”, como alguns Cristãos gostariam de interpretar. Muitos pensam que o versículo está simplesmente dizendo que sempre e onde quer que um grupo de Cristãos se reúna (seja para uma xícara de café em uma cafeteria local, ou para algum propósito recreativo, etc.), eles têm a presença coletiva do Senhor com eles. Agora, é verdade que, quando os Cristãos se reúnem para qualquer propósito que tenham em mente, a presença do Senhor está com eles individualmente, pois Ele disse, “E eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28:20). E, “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Mas não é disso que o versículo em Mateus 18:20 está falando. Existe uma diferença na Escritura entre a presença do Senhor com Seu povo individualmente e a presença do Senhor com um grupo de crentes coletivamente como uma assembleia reunida para adoração, ministério e para ações administrativas de ligar e desligar. É a este último aspecto coletivo que Mateus 18 está se referindo.
Contexto é tudo na interpretação Bíblica. Se olharmos o capítulo (Mateus 18), veremos que, nos versículos que antecedem o versículo 20, o Senhor estava falando da assembleia em sua capacidade administrativa para ações de ligar e desligar. O capítulo tem a ver com a autoridade que a assembleia local tem para tais ações, já que o Próprio Senhor está no meio. O Senhor está ali no meio, sancionando a própria existência daqueles reunidos pelo Espírito para o Seu nome, como também suas ações administrativas. Dito isto, apresso-me a dizer que a presença do Senhor no meio daqueles que Ele reuniu não sanciona o estado deles (pois ele pode ser extremamente baixo), mas sim o terreno em que se reúnem. O “onde quer que” constitui um lugar de nossa escolha; “onde”, que é o que a Escritura diz, constitui um lugar de Sua escolha. É por isso que costuma ser chamado de “o lugar de Sua designação”.
Lucas 22:7-10 estabelece o mesmo ponto: existe um lugar na Terra (um terreno espiritual) “onde” Deus gostaria que os crentes congregassem. O Senhor Jesus estava prestes a instituir a ceia do Senhor – o partimento do pão (Lc 22:19-20; 1 Co 10:16-17, 11:23-26) – e desejava que Seus discípulos fizessem isso no lugar escolhido por Ele. As coisas em Israel naquela época estavam em desordem e havia muita corrupção, que ia desde os principais sacerdotes e anciãos até o cidadão comum. Como consequência, o Senhor não foi reconhecido como seu Messias. Na verdade, eles estavam se preparando para matá-Lo! (Lucas 22:2) O povo continuou com a celebração da Páscoa, mas estava rejeitando aqu’Ele que era o cumprimento da Páscoa. Logo, havia muitas casas em Jerusalém naquela noite em que a festa era celebrada, porém havia apenas um aposento onde o Senhor estava presente – o lugar que Ele tinha designado para Seus discípulos. Do mesmo modo, a Cristandade está em desordem e, como consequência, existem muitos lugares onde os Cristãos se reúnem hoje, mas o Senhor não está lá num sentido coletivo para sancionar aquele terreno no qual eles congregam.
Hebreus 13:13 nos diz que esse lugar designado pelo Senhor – onde Ele está no meio – é “fora do arraial”. O “arraial” é uma palavra que o Espírito de Deus usa para indicar o judaísmo e todos os princípios e práticas judaicas. Os Cristãos em geral não entenderam esse ponto e levaram ao seu lugar de adoração muitas coisas relacionadas com a adoração judaica. Eles ignoraram o claro ensino da Escritura que diz que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário ao qual agora temos acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). Em vez disso, eles usaram-no como um padrão para as suas organizações eclesiásticas. Eles ergueram grandes templos e catedrais “feitos por mãos de homens” (At 17:24-25), adotando muitas coisas do Velho Testamento em sentido literal como um padrão para a sua adoração. Em grande medida, eles não entenderam o fato de que o verdadeiro terreno Cristão de reunião e de adoração é um caminho inteiramente novo de se aproximar de Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4:23-24; Hb 10:19-20). Tal terreno está totalmente fora dos princípios e práticas judaicas. Quem procura esse lugar designado pelo Senhor teria que olhar fora de todos esses lugares na Cristandade (seja a Basílica de São Pedro em Roma, ou a menor capela evangélica), pois todos esses lugares têm, em graus variados, os aparatos do judaísmo entrelaçadas na estrutura de seus cultos de adoração.
1 Coríntios 10:21 nos diz que existe algo que é a “mesa do Senhor”. Não é uma mesa literal que os irmãos têm nos locais de reunião sobre a qual eles colocam os emblemas para a ceia do Senhor. Ao contrário, trata-se de um termo simbólico que indica esse terreno no qual o Espírito de Deus reúne os crentes ao nome do Senhor Jesus. É onde a unidade do corpo é exibida, e onde Cristo está no meio. Uma “mesa” na Escritura simboliza comunhão. No caso da mesa do Senhor, simboliza o verdadeiro terreno de comunhão que Deus tem para todos os Cristãos, onde a autoridade do Senhor é reconhecida e onde existe submissão a ela. É por isso que se chama mesa “do Senhor”.
Existe uma figura dessa verdade do centro divino de reunião em Deuteronômio 12, à qual eu fiz alusão anteriormente. O Senhor tinha um lugar no qual Ele reuniu Seu povo, Israel. “Haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o Seu nome” (v. 11). Os filhos de Israel deviam “trazer” seus holocaustos e sacrifícios àquele lugar (Dt 12:5-6), celebrar suas festas anuais lá (Dt 16:2, 6, 11, 15-16) e ter seus problemas resolvidos pelos sacerdotes, levitas e juízes que estavam lá (Dt 17:8). É significativo, no entanto, que em todas as muitas referências de Deuteronômio ao lugar de escolha do Senhor, não nos é dito onde fica esse lugar. À medida que a história de Israel se desenrola nas páginas da Palavra de Deus, aprendemos que era o lugar Jerusalém (Sl 78:68; 1 Rs 11:13, 32, 36, 12:20, 14:21, 15:4, etc.). Ele não é mencionado em Deuteronômio porque o Senhor queria que Seu povo fosse exercitado em procurá-lo quando eles entrassem na terra. Do mesmo modo, no Cristianismo, nenhuma das passagens que vimos no Novo Testamento nos diz onde é esse lugar – este é um exercício para cada Cristão. Isso é ilustrado em Pedro e João perguntando ao Senhor, “Onde queres que a preparemos?” (Lc 22:9).
Existe Um Divino Reunidor que Leva Crentes ao Lugar Designado por Deus
Tendo estabelecido a partir da Escritura que o PLANO de Deus é reunir o povo de Deus em um único terreno, e que Ele tem um LUGAR onde Ele gostaria que estivessem juntos, Mateus 18:20 indica que Ele tem o PODER para fazê-lo. Existe um Reunidor divino que leva os crentes exercitados a esse lugar designado por Ele: o Espírito Santo.
A quem mais poderia o Senhor confiar a tarefa de reunir o Seu povo ao Seu nome, senão ao Espírito de Deus? Embora o Espírito não seja mencionado diretamente na passagem, é claro que é Ele o Reunidor divino. Isso é visto nas palavras “estiverem reunidos”. O Senhor não disse: “Onde dois ou três se reunirem”, como algumas versões modernas o traduzem. “Estiverem reunidos” é voz passiva, e isso aponta para o fato de que houve um poder reunidor fora das próprias pessoas que esteve envolvido na reunião delas nesse terreno. Isso mostra que o terreno divino de reunião não é uma associação voluntária de crentes. É verdade que deve haver um exercício e energia pessoal por parte daqueles que são reunidos pelo Espírito para que sejam encontrados ali no lugar onde Cristo está no meio, mas, no fim das contas, é Ele Quem reúne.
A verdade da obra do Espírito em Mateus 18:20, retratada nas palavras “estiverem reunidos”, tem sido veementemente contestada. Alguns bastante ignorantes tentaram nos dizer que são apenas os irmãos mais recentes que ensinam que essas palavras se referem à obra do Espírito Santo, dando a entender que se trata de uma ideia nova. Isso simplesmente não é verdade. Escritos de homens do século 19 – tais como C. H. Mackintosh, F. G. Patterson, J. A. Trench, etc. – ensinam que as palavras “estiverem reunidos” de fato se referem à obra do Espírito Santo. Muitos outros do século 20 ensinaram o mesmo. Por exemplo, Hamilton Smith disse, “Para usar uma simples ilustração, eu vejo uma cesta de frutas sobre a mesa. Como elas chegaram ali? Foram reunidas juntas; elas não chegaram ali por seus próprios esforços. A palavra para ‘reunidos [juntos]’ no grego é ‘sunago’, que literalmente significa “conduzir juntos”, e poderia ser traduzido como “são guiados juntos”; tudo isso sugere um Reunidor.”
Alguns tentaram ir até o texto grego para provar que “estiverem reunidos” não é uma referência à obra do Espírito. No entanto, como H. Smith demonstrou, o grego não dá suporte a isso. A Concordância de Strong afirma que a palavra “sunago” (#4863) significa “conduzir juntos” ou “coletar”. O Dicionário Expositivo de Vine afirma que “sunago” significa “reunir” ou “juntar” (pág. 482).
J. N. Darby disse: “Ele [Cristo] é o único centro de reunião. Os homens podem criar confederações entre si, tendo como objetivo ou alvo muitas coisas, mas a comunhão dos santos não pode ser conhecida a menos que cada linha convirja para o Centro vivo. O Espírito Santo não reúne os santos em torno de meras visões, por mais verdadeiras que sejam, sobre o que a Igreja é, foi ou pode ser na Terra, mas Ele sempre reúne em torno dessa bendita Pessoa, que é a mesma ontem, hoje e para sempre. ‘Onde estiverem dois ou três reunidos em [ao] Meu nome, aí estou Eu no meio deles.’”
Lucas 22:7-10 dá suporte ao fato de que existe um Reunidor divino. Ali diz: “Quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar”. O Espírito de Deus é visto aqui na figura de “um homem” carregando um cântaro de água. Muitas vezes na Escritura o Espírito de Deus é visto como um homem anônimo trabalhando nos bastidores. Isso porque o Espírito de Deus não tem o objetivo de atrair a atenção para Si mesmo (Jo 16:13-14), e esta é a razão pela qual Ele não é mencionado diretamente em Mateus 18:20. Ele não assume um lugar de proeminência no Cristianismo, mas trabalha nos bastidores guiando almas exercitadas ao terreno fundamentado na Escritura onde Cristo está no meio daqueles assim reunidos. No caso em questão, Ele levou os discípulos ao lugar designado pelo Senhor, onde eles poderiam estar com Ele para a ceia. A “água” na Escritura muitas vezes significa a Palavra de Deus (Ef 5:26). Assim, aprendemos que o Espírito de Deus usa os princípios da Palavra de Deus para guiar os crentes ao lugar designado pelo Senhor.
Os mais bem-intencionados homens procuraram reunir o povo do Senhor e fizeram uma completa confusão. Desconhecendo a verdade de reunião contida nas Escrituras, eles desviaram os crentes para seitas e grupos denominacionais criados pelo homem e os encorajaram a ir para “a igreja de sua escolha”. O resultado é que os Cristãos foram espalhados em mil direções. Isso certamente não é obra do Espírito Santo.
A Conclusão Lógica Segundo as Escrituras
Agora vamos juntar as coisas e deixar que as Escrituras nos deem a resposta.
- Primeiro, Deus deseja que todos os Cristãos estejam juntos em um único testemunho prático, mesmo que eles estejam em muitos locais diferentes na Terra. - Segundo, Deus tem um lugar e uma maneira – uma posição ou terreno eclesiástico – onde Ele queria que os Cristãos expressassem a unidade ao se reunirem para adoração e ministério, e para ações administrativas. - Terceiro, existe um Reunidor divino (o Espírito de Deus) que exercita os crentes acerca desses princípios bíblicos de reunião e os conduz a esse lugar designado pelo Senhor.
A única conclusão lógica que podemos tirar desses princípios é que a presença do Senhor (no sentido coletivo de Mateus 18:20 de que estamos falando) só poderia estar em um único lugar. Se isso é verdade, então Ele não poderia estar em todos os lugares onde os Cristãos se reúnem, mesmo que eles estejam bem-intencionados. É bem simples: se o Senhor concedesse Sua presença aos muitos lugares onde os Cristãos se reúnem, da maneira como estamos falando, Ele estaria consentindo essas falsas posições. O Sr. W. Potter, respeitado por seu ensino da Bíblia, disse: “Suponha que o Senhor agora tenha concedido Sua presença às diferentes denominações, o que Ele estaria fazendo? Ele estaria sancionando o que é contrário a Ele. Ele não pode fazer isso.” O Sr. Potter também disse: “Você não está querendo insinuar que o Senhor não está no meio de quaisquer outros no mesmo sentido? Sem dúvida alguma, Ele não está.”
Agora, isso pode parecer extremamente limitado e exclusivista, mas se você está honestamente buscando a verdade, você não vai querer discutir com a Palavra de Deus. Lembre-se, estas não são ideias minhas; é a única conclusão sóbria a que a Escritura nos leva. Se você acha que a verdade de reunião é exclusivista demais, deixe-me perguntar-lhe isto: “Quantas maneiras existem para ser salvo?” Uma. Será que você diria “Ah, isso é tão exclusivista; é tão limitado; não posso aceitar isso.”? Não, não diria, porque você sabe que é a verdade. A própria natureza do Cristianismo é exclusivista: há somente uma maneira de nascer de novo, somente uma maneira de ser justificado, somente uma maneira de ser reconciliado, etc. Tudo o que eu posso dizer é que é melhor se acostumar com o exclusivismo do Cristianismo, porque faz parte, por assim dizer, da sua natureza. A revelação Cristã toda da verdade é exclusivista, e nós não lamentamos pela verdade – ela é o que é.
Agora, se achamos que os Cristãos que se reúnem para adoração e ministério em suas várias divisões na Cristandade foram guiados pelo Espírito a fazê-lo (como é dito em Mateus 18:20), então estamos realmente dizendo que o Espírito de Deus é o Autor dessas divisões. Se isso é verdade, então Ele é o culpado pelo estado dividido no testemunho Cristão! Certamente nenhum Cristão sóbrio acusaria o Espírito de Deus de criar o triste e dividido estado do testemunho público da Igreja. Hamilton Smith disse: “Está o Espírito Santo reunindo todas as várias comunidades divididas e independentes que procuram se apropriar dessa promessa [em Mateus 18:20]? Tal suposição necessariamente envolve colocar sobre o Espírito Santo a culpa pelas deploráveis divisões e independência existentes que desonram a Cristo. Será que essa multiplicidade de centros vistos na igreja professa se deve à obra do ‘Espírito da verdade’ que veio glorificar a Cristo? Longe esteja esse pensamento!”
Alguém poderia dizer: “Mas você está ensinando que existe apenas um grupo de Cristãos que está certo, e todos os outros estão errados. Fica parecendo que você acha que vocês são os únicos certos!” Mas espere um minuto; eu não disse isso. Estou dizendo que a Escritura ensina que existe um terreno divino de reunião – somente uma posição eclesiástica na Terra que o Senhor sanciona com Sua presença. Eu não DISSE que aqueles com quem estou em comunhão estão nesse terreno, embora eu CREIA que o Espírito de Deus nos tenha levado a esse lugar. A verdade de reunião não é a respeito das pessoas; ela é sobre o Senhor ter um centro de reunião. Sempre existe o perigo de mudar o foco, do Senhor no meio para as pessoas que o Espírito de Deus reuniu ali, e dizer que eles têm a mesa do Senhor. Isso é um erro; nosso foco deveria estar em Cristo no meio. Lembrem-se, nossa reunião é “a Ele” (Hb 13:13).
A maneira de Deus de produzir unidade entre Seu povo sempre foi estabelecer um lugar (centro) de reunião ao qual Seu povo se dirigiria.
- Nos tempos do Velho Testamento, o Senhor tinha um lugar onde estaria Sua presença, ao qual Seu povo deveria vir (Dt 12:5-7); - Nos tempos (Cristãos) do Novo Testamento, Ele estabeleceu um lugar onde Ele está no meio (Mt 18:20; 1 Co 5:4), onde o Espírito de Deus reúne crentes; - Nos tempos do Milênio, Ele também terá um lugar ao qual Ele reunirá Seus santos do Milênio (Sl 50:5; Ez 48:35).
Em cada dispensação o centro é sempre o Próprio Senhor. A título de ilustração, suponha que houvesse uma gigantesca roda com raios onde o Senhor estivesse no cubo (centro) da roda e cada crente estivesse sentado em um raio perto do aro. Nessa posição, cada crente estaria a uma certa distância um do outro e do Senhor. Mas se cada uma das pessoas deslizasse no raio em que estivesse sentada em direção ao cubo, quanto mais próximas do cubo elas chegassem mais próximas umas das outras elas estariam. Assim é nos caminhos de Deus; Ele produz a unidade entre Seu povo estabelecendo um ponto de reunião ao qual Ele reúne Seu povo.
É triste dizer, mas pode haver alguns entre os santos reunidos que tenham manifestado um espírito um tanto arrogante e tenham dado a impressão de que somos “os únicos certos”. Isso só prova que é possível estar em uma posição correta (eclesiasticamente), mas em uma condição errada (espiritualmente). Como mencionado anteriormente, o orgulho da posição é uma das razões pelas quais o Senhor reduziu numericamente o Seu povo no centro divino (Sf 3:10-11). Mas isso não muda o fato de que Deus tem um centro de reunião. Significa apenas que alguns dos que estão no centro podem estar em um estado errado, e poderiam ser peneirados.
Deus nos quer agindo segundo as nossas convicções conforme guiados pelo Senhor. “Esteja cada um plenamente convencido em sua mente” (Rm 14:5 – TB). Para mim, creio que o Senhor está no meio aqui, mas não me gloriarei em estar reunido no centro de Deus, pois isso estaria totalmente fora de sintonia com o espírito do Cristianismo. Graça e humildade verdadeiras não colocam as pessoas em evidência como se elas fossem alguma coisa; aqueles que o Senhor reuniu não são nada em si mesmos. Não é presunção ou orgulho crer na verdade e agir de acordo com ela; é fé.
Divisões Entre Aqueles que Professam a Verdade de Como os Cristãos Deveriam se Reunir
Poderíamos perguntar: “E quanto àqueles que estiveram no centro divino de reunião, mas se dividiram formando outra comunhão de reuniões? Eles ainda se reúnem como nós, no que se refere ao funcionamento. Então eles estão reunidos ao nome do Senhor e têm a presença d’Ele em seu meio no sentido coletivo de que temos falado?”
A resposta curta é não. Aqueles que saem do centro de reunião em uma divisão não poderiam mais estar reunidos ao nome do Senhor. Mesmo que exteriormente eles pareçam iguais àqueles que estão no centro (na maneira como se reúnem), isso em si não é suficiente para ter a sanção do Senhor. É possível reunir-se de acordo com o padrão bíblico para os Cristãos, mas fazê-lo por vontade própria. Tal divisão entre o povo de Deus não tem a aprovação do Senhor da mesma forma que uma igreja denominacional não tem. Na realidade, os que saem do centro divino de reunião e organizam uma divisão são mais responsáveis por suas ações do que aqueles que estão nas denominações, pois tiveram consideravelmente mais luz. Os homens podem criar mais de uma expressão da verdade do um só corpo, estabelecendo uma mesa cismática, mas o Espírito de Deus não os levaria a fazer isso. Cristo não possui um só corpo de fato, e muitos corpos em testemunho. O apóstolo Paulo perguntou, “Está o Cristo dividido?” (1 Co 1:13 – JND) “O Cristo” é um termo usado nas epístolas de Paulo que indica a união mística de Cristo e os membros de Seu corpo. Paulo estava indicando aos coríntios que essa união não pode ser dividida na realidade e não deveria ser em testemunho, que é o que estava acontecendo em Corinto.
Portanto, à luz do que a Escritura ensina, não cremos que o Espírito de Deus iria congregar os Cristãos em várias federações de reuniões sem que esses grupos estivessem em comunhão prática uns com os outros, ainda que exteriormente eles parecessem iguais. Se Ele fizesse isso, seria uma contradição da própria verdade na qual Ele está buscando levar os Cristãos a andarem. W. Potter disse, “O Espírito de Deus não reúne em grupos independentes; se Ele reúne você e a mim, então estamos em comunhão um com o outro.”
Nas Reuniões Gerais de Ottawa (em Abril de 1987), foi dada a seguinte ilustração. “Se voltássemos ao início – ao dia de Pentecostes – quando o Espírito de Deus desceu e uniu as 120 pessoas em um só corpo, e todas elas estavam reunidas ao nome do Senhor Jesus Cristo; suponha que Pedro tivesse tido um desentendimento com João, e decidissem estabelecer comunhões separadas. Então haveria uma companhia que seguiria Pedro e uma companhia que seguiria João. Será que poderíamos dizer que o Espírito iria conduzir alguns a irem para uma delas, e alguns a irem para a outra? Ou que o Senhor estaria igualmente aprovando a ambas? Não cremos que o Senhor iria sancionar ambas as comunhões com Sua presença no meio delas, pois ao fazê-lo, Ele estaria consentindo na divisão prática da Igreja. Se Ele sancionasse, Ele seria o Autor da confusão.” J. N. Darby disse que “se existir uma tal [assembleia local], e outra for estabelecida pela vontade do homem de forma independente, somente a primeira é moralmente, aos olhos de Deus, a assembleia de Deus, e a outra absolutamente não é, porque ela está estabelecida em independência da unidade do corpo.”
Muitos grupos Cristãos professarão estar reunidos ao nome do Senhor. Alguns até mesmo colocarão um sinal na frente de seu local de reunião proclamando que eles são os santos que o Senhor reuniu. Mas isso significa que eles são? O Sr. Potter disse: “As pessoas dizem, ‘Estamos reunidos ao nome do Senhor.’ Vamos ver se vocês estão. Como vocês se tornaram reunidos ao nome do Senhor?” Se você colocar à prova os grupos cismáticos entre os chamados “irmãos”, você vai descobrir que existe uma razão pela qual eles estão onde estão. O Sr. Potter disse, “se houver dezenas de reuniões em uma cidade, devemos voltar à origem da reunião.” Ele disse, “Qual é a origem de tal e tal reunião? Por que estão se reunindo separadas das outras? Sua posição tem fundamento na Escritura?”
Notamos que cada grupo divergente que abandona os santos reunidos em uma divisão descarta a verdade de que existe um centro divino de reunião; são obrigados a fazer isso para poderem justificar sua posição divergente. Como exemplo, quando perguntaram a Samuel Ridout (que saiu em uma divisão) por que os irmãos com quem ele estava apoiaram Grant nessa divisão, ele disse, “Em 1884 muitos de nós, antes da divisão, tinham o pensamento comum de que NÓS tínhamos a mesa exclusivamente e não devíamos permitir que ela passasse em branco nem um dia sequer. Achamos que isso tinha algo a ver com a pressa de partir o pão, sem interrupção, em Craig Street, Montreal. Alguns meses depois, ele escreveu outra carta sobre o que ele acreditava constituir e caracterizar a mesa do Senhor, dizendo que “nenhuma companhia pode reivindicar a posse exclusiva dela”. Aqui, o Sr. Ridout admite que eles costumavam professar a verdade de uma única mesa do Senhor, mas depois a abandonaram. Observe também que o Sr. Ridout disse “o pensamento comum…”. Ele admite abertamente que a verdade de um único centro de reunião era comumente professada entre os irmãos. Ele erroneamente pensa que os irmãos em geral (inclusive ele mesmo) estavam errados na sua crença em uma única mesa do Senhor e somente após ele e seu partido saírem em divisão é que aprenderam a verdade!
E, novamente, uma citação de uma publicação de Grant (“The Gleaner”) em 1914 diz, “Mas talvez o maior item na coluna de crédito de nossa contabilidade – se é que alguém está autorizado a comparar, quando tudo é tão precioso e vital – seja a verdade de que nenhuma companhia de Cristãos, nem mesmo nós, pode reivindicar o monopólio da mesa do Senhor, ou de se reunir no nome do Senhor. Se essa verdade tivesse sido conhecida trinta anos atrás, talvez a divisão pudesse ter sido evitada.” Aqui, novamente, temos o reconhecimento de que indivíduos antes professavam a verdade do único centro de reunião, mas a abandonaram. Depois de a abandonarem, eles passam a chamar de “grande” verdade o erro que adotaram.
Napoleon Noel (depois de sair em divisão) afirma em seu livro (“A História dos Irmãos”, vol. 2, pág. 658) que “nenhuma companhia de Cristãos pode ter a posse exclusiva da mesa do Senhor, da mesma forma que não pode reivindicar a posse exclusiva do Próprio Senhor. Tal alegação seria puro fanatismo.” Muitas citações como essa poderiam ser acrescentadas aqui, mas seria redundante.
Para citar um caso, deixe-nos perguntar, “Você consegue encontrar alguém entre aqueles que saíram na divisão de Perth (1992) que professe que existe um único centro divino de reunião na Terra e que a mesa do Senhor só poderia estar nesse único lugar?” Com exceção da comunhão de Raven, que possui doutrinas blasfemas, eu não acho que haja uma divisão entre os irmãos que sustente que existe um centro divino de reunião. Tudo se resume a este simples fato: não pode haver duas (ou mais) mesas do Senhor. Não pode haver duas (ou mais) comunhões de Cristãos na Terra com as quais o Senhor Se identifique como estando no divino terreno de reunião, mesmo que exteriormente elas se reúnam de maneira similar. Caso Ele Se identificasse, Ele estaria consentindo na divisão do testemunho público da Igreja.
Para aqueles que foram reunidos ao Seu nome, existe sempre o perigo de serem desviados desse terreno pelo inimigo; e quando isso acontece, os que saem são geralmente os mais ferozes adversários da verdade do único lugar de reunião. Antes de sua morte, J. N. Darby detectou uma degradação geral na manutenção da verdade do único centro de reunião entre os irmãos e disse: “A maior parte do conflito coletivo está na deliberada incompreensão da verdade de Cristo como o único centro de reunião. Não existe adversário mais feroz dessa verdade do que aquele que a conhece, mas não anda nela.”
A Verdade do Único Lugar Não é Uma Doutrina Nova
Essas coisas relacionadas com o único centro de reunião não são ideias novas que surgiram recentemente (como alguns gostariam de dizer). Eu citei, propositadamente, irmãos de outras gerações para mostrar que essas coisas não são novas. O irmão Potter viveu no século passado e no século anterior! Hamilton Smith também. J. N. Darby viveu antes deles. São essas coisas o que os irmãos reunidos ao nome do Senhor têm sustentado e praticado por mais de 150 anos.
H. A. Ironside observa em seu livro “A Historical Sketch of the Brethren Movement” que, antes da divisão de Betesda (no fim da década de 1830 e início da década de 1840), os irmãos “não hesitavam em reivindicar, em alguns casos, a posse exclusiva da mesa do Senhor”. Assim como S. Ridout, o Sr. Ironside repudia isso, mas, no entanto, isso mostra que os irmãos sustentavam essa verdade praticamente desde o início – desde os primeiros dias quando a verdade foi recuperada. Simplesmente não há verdade nenhuma na ideia de que é algo inventado recentemente.
Caso não estejamos confortáveis com esses princípios sob os quais os “santos reunidos” congregam, precisamos nos perguntar a razão de estarmos com eles. Por favor, não me entenda mal, não estamos tentando mandar ninguém embora. Estamos apenas expressando o fato de que alguns são extremamente incoerentes em ter assumido uma posição junto com os santos reunidos e, no entanto, não crer na verdade da obra do Espírito de reunir para o único Centro – o Próprio Cristo.
O Centro de Reunião de Deus Hoje na Terra
Sendo assim, então existe um centro divino de reunião para os Cristãos na Terra? Sim, a Escritura ensina que existe. Onde ele está então? Agora cabe a você procurar. A resposta sobre quem tem a mesa do Senhor é: o Senhor! A mesa é d’Ele, e é Ele que está levando crentes exercitados a ela. Deus quer que sejamos exercitados a respeito disso e que busquemos a mente do Senhor para orientação, assim como Pedro e João perguntaram ao Senhor “onde” era esse lugar na época deles (Lc 22:9). “A glória de Deus é encobrir o negócio; mas a glória dos reis é tudo investigar” (Pv 25:2).
RESUMO: Se Deus possui um centro de reunião na Terra, então ele só poderia estar um único lugar – em uma única posição eclesiástica. Se o Senhor estivesse no meio de todos os grupos Cristãos, sancionando a posição deles em um sentido coletivo (Mt 18:20), então Ele seria o Autor das muitas tristes divisões no testemunho público da Igreja. Isso é algo que Ele não faria, pois seria uma negação da verdade de que existe um único centro divino de reunião, que é o Próprio Cristo.
CAPÍTULO 6: Como o Senhor Pode Estar no Meio Quando Há Tantas Coisas Erradas?
PERGUNTA: Como pode ser este o lugar certo quando existe todo tipo de coisas erradas acontecendo? Existem brigas, divisões, mundanismo, etc. Se o Senhor estivesse verdadeiramente no meio, Ele não permitiria que essas coisas acontecessem.
RESPOSTA: O problema aqui é fazer da tolerância do mal em uma assembleia o critério para julgar se ela está, ou não, reunida no terreno certo. Mais uma vez, conseguimos entender como uma pessoa pode chegar a essa conclusão: você naturalmente pensaria que se o Senhor estivesse verdadeiramente no meio de um determinado grupo de Cristãos, não existiriam problemas. Ele não permitiria que a situação continuasse, porque se permitisse, então Ele estaria consentindo com ela, o que é algo que Ele não faria.
Bem, não somos os primeiros a levantar esta questão. Há muito tempo, Gideão perguntou, “Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco por que tudo isto nos sobreveio?” (Jz 6:13) Esse dilema é resultado de uma falsa premissa. A verdade é que o Senhor está no meio dos “santos reunidos” para sancionar esse terreno eclesiástico, mas isso não equivale a Ele consentir no estado deles. A Escritura faz distinção entre essas duas coisas, e precisamos fazer também. Se as enxergarmos como uma coisa só, vamos acabar tirando conclusões equivocadas. Isso vale para a vida pessoal como também para a vida de assembleia. Por exemplo, como crentes, o Senhor está conosco o tempo todo em um sentido individual (Mt 28:20; Hb 13:5), mas não podemos com isso concluir que Ele concorda com tudo o que fazemos. E, é claro, o mesmo ocorre com a assembleia.
Isso é ilustrado em Malaquias. Como você deve saber, Malaquias teve o solene dever de entregar a última mensagem de Deus ao Seu povo terreno – os judeus – antes que o Senhor viesse. O povo, no tempo de Malaquias, estava em uma posição correta, porém em uma condição errada. Tendo retornado da Babilônia para o centro divino daquela época (Jerusalém), eles estavam no lugar correto. Sendo assim, eles tinham a presença do Senhor “com” eles (Ag 2:4-5). Mas eles estavam em um estado errado, e por isso Malaquias foi enviado para fazer o povo se exercitar a esse respeito. Poderíamos nos perguntar como o Senhor poderia habitar entre eles quando havia todo tipo de coisas erradas acontecendo, mas é porque a presença do Senhor com Seu povo (coletivamente) não equivale a Ele aprovar o estado em que estão.
No Novo Testamento, vemos a mesma coisa. O estado da assembleia em Corinto era deplorável. Havia todo tipo de coisas iníquas acontecendo: divisão, fornicação, má doutrina e outras coisas que atingiam os fundamentos da fé. Ainda assim, quando o apóstolo Paulo lhes escreveu, ele se dirigiu a eles como “a assembleia de Deus”. Eles ainda eram reconhecidos como uma assembleia que era, no que diz respeito ao terreno divino, “de Deus”. Ele a reconhecia como tal. No capítulo 5, ele afirma que, quando eles estavam “reunidos” (ARA), era **“**com o poder de nosso Senhor Jesus Cristo” (KJV). De acordo com Mateus 18:18-20, esse poder ou autoridade só se verifica se o Senhor estiver no meio. Logo, não só essa assembleia ainda era reconhecida por Deus, como também o Senhor estava lá no meio deles. Repare que o versículo não diz “Onde estiverem dois ou três, indo bem em um bom estado, reunidos… aí estou Eu no meio”. Tal condição não é colocada nele.
Novamente, podemos nos perguntar como era possível o Senhor ainda Se identificar com uma assembleia que tinha errado daquela forma. Não é que o Senhor concordava com o mal existente em Corinto; Ele não iria suportá-lo indefinidamente, pois isso passaria uma mensagem errada ao mundo. Mas naquele momento em que Paulo escreveu a epístola, o Senhor estava dando oportunidade para arrependimento. Cedo ou tarde, o apóstolo teria que vir em nome do Senhor e tratar em julgamento com essa assembleia se eles não consertassem as coisas (1 Co 4:21; 2 Co 1:23). Como vocês sabem, o aviso dado na primeira epístola foi recebido, e os santos de Corinto se arrependeram e corrigiram as coisas que estavam deficientes (2 Co 7:6-16). Isso mostra que o Senhor não remove o castiçal em um lugar rapidamente, mas dá oportunidade para arrependimento quando as coisas estão erradas (Ap 2:21). É interessante notar que, em Apocalipse 2:5, a palavra “brevemente” (como encontramos na KJV e em muitas versões em português) não está no texto original grego. Ali deveria estar simplesmente, “a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres”.
A partir da falsa premissa de que o Senhor não poderia estar no meio de uma assembleia que tem coisas nela que estão erradas, surge a ideia de que deveríamos deixá-la por ela estar em tal estado. O raciocínio é que, se o Senhor não está ali, então nós também não deveríamos estar, pois você não iria querer estar em um lugar onde o Senhor não está no meio. Alguns que queriam deixar a assembleia de qualquer jeito usaram essa falsa premissa como uma desculpa conveniente para uma saída rápida. O velho clamor é: “Existe mal ali, e o Senhor certamente não iria querer que eu estivesse em comunhão com o mal!”
O erro aqui é imaginarmos que existe um determinado grau de problemas e de mal que pode ser tolerado em uma assembleia; e se esse limite é ultrapassado, de algum modo essa assembleia misticamente perde o status de estar em terreno divino. Como todo mundo tem uma ideia diferente sobre qual é esse grau, fica a critério de cada um decidir quando ele acha que uma assembleia não está mais verdadeiramente reunida ao nome do Senhor. Isso nos faz lembrar dos dias em que os juízes governavam. No final do livro diz que “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Infelizmente, esse tipo de coisa leva à confusão.
Tem-se perguntado com frequência: “Quando uma pessoa deve deixar uma assembleia?” É simplesmente isto: você sai quando o Senhor sai. Mas quando isso acontece? Nos dias dos apóstolos, seria quando a assembleia deliberadamente se recusasse a corrigir os assuntos dentro dela, e um apóstolo tratasse com ela em julgamento apostólico agindo pelo Senhor (1 Co 4:21; 2 Co 1:23). Hoje, seria quando outra assembleia reunida ao nome do Senhor, depois de muito protesto e longanimidade deixasse oficialmente de reconhecê-la como uma assembleia reunida sobre o terreno divino. Esta seria uma decisão de ligar tomada no nome do Senhor (Mt 18:18-20).
Se achamos que devemos deixar uma assembleia por causa de certas coisas acontecendo ali, sem ela ter sido formalmente repudiada por outra assembleia reunida ao nome do Senhor, estamos passando na frente do Senhor. Na verdade, estamos praticamente dizendo que somos mais santos do que o Próprio Senhor. Se Ele ainda pode estar no meio de uma assembleia em erro (embora entristecido por causa de seu estado), ainda podemos estar ali também.
O que podemos fazer até o problema ser corrigido, ou a assembleia desfeita, é “prantear” (TB) por causa do triste estado da assembleia. Pode ser que o Senhor venha, em uma ação governamental, e lide com o problema ou com as pessoas culpadas (1 Co 5:1-2). Mas a Escritura não indica que devemos deixar uma assembleia por causa de seu estado ruim. W. Potter disse, “Suponha que esta assembleia tenha chegado a um péssimo estado. O que devemos fazer é humilhar-nos diante do Senhor, e não sair dela.” Ele também disse que “se o Espírito de Deus nos reuniu ao nome do Senhor, não ousamos abandonar essa posição até termos a Palavra de Deus para isso.”
A terceira epístola de João nos dá luz nesse sentido. As condições na assembleia local onde Gaio vivia eram péssimas, para dizer o mínimo. Um ancião na assembleia (Diótrefes) tinha deixado seu papel de guiar, cuidar e pastorear o rebanho, e tinha tomado o controle da assembleia, e a governava de maneira carnal. Ele era um ancião louco por poder que acabou errando. O resultado foi muitas pessoas sendo afligidas por seu modo de agir bruto e focado somente em si (compare Jeremias 10:21). Os seis males de Diótrefes foram:
- Ele amava a primazia, tendo assumido sozinho o controle da assembleia. - Ele suprimiu uma carta do apóstolo João endereçada à assembleia. - Ele acusou os apóstolos injustamente com palavras maliciosas. - Ele se recusava a receber aqueles que saíam para trabalhar na Palavra e na doutrina. - Ele impedia aqueles que recebiam os obreiros. - Ele excomungava as pessoas injustamente.
Podemos perguntar, “Em tais condições, o que os justos podem fazer?” (Sl 11:3) Você vai notar que existem duas coisas que chamam a atenção por não estarem presentes na epístola. Primeiro, o apóstolo João não diz para Gaio sair da assembleia por conta das coisas terríveis que estavam acontecendo ali. João não disse a ele: “Gaio, você não precisa aturar isso; simplesmente faça as malas e saia. Não, essa não era uma opção. Segundo, João não mandou Gaio pegar Demétrio e alguns dos outros irmãos ali e colocar aquele homem fora de comunhão (excomunhão). Não que isso não devesse ser feito – seria a coisa certa a fazer. Mas essa epístola vê as coisas em uma assembleia quando as condições ficaram tão ruins que já não há nenhum poder para lidar com o mal. (Por ser uma “terceira” epístola, ela apresenta as condições que surgiram a partir do que encontramos nas “segundas” epístolas.) Não adiantaria nada tentar lutar contra Diótrefes, porque os que tentaram acabaram eles próprios fora de comunhão! Ele tinha o domínio na assembleia e iria expulsar qualquer um que oferecesse resistência. Então, tentar excomungá-lo realmente não era algo que a assembleia tinha o poder de fazer.
Quando as coisas tiverem chegado a esse ponto em uma assembleia, essa epístola nos mostra que ainda existe um recurso: o Próprio Senhor. Como Cabeça da Igreja, naquela época Ele poderia enviar um apóstolo para lidar com o problema. Isso é visto nas palavras de João, “Se eu for, trarei à memória as obras que ele faz” (vs. 10, 14). João planejava ir àquela assembleia e tratar com Diótrefes em juízo apostólico. Seria uma intervenção divina, porque suas ações como apóstolo eram na verdade uma extensão da autoridade do Senhor. Hoje, não existem apóstolos na Terra para intervir em nome do Senhor dessa maneira, mas o Senhor ainda pode intervir governamentalmente – de modo providencial – em situações difíceis na assembleia. A ida de João talvez represente essa realidade em nossos dias. Assim como Gaio, e quaisquer outros santos exercitados naquela assembleia, devemos esperar o Senhor agir no tempo d’Ele.
Enquanto isso, João disse a Gaio “imites… o que é bom” (ARA) e para não cair no mal de Diótrefes. Parece que João se antecipou a Gaio, perguntando como isso poderia ser feito em uma situação tão difícil como a que existia naquela assembleia, então João apontou para Demétrio, como se ele dissesse, “Ele é o seu exemplo”. Ele disse, “Todos dão testemunho de Demétrio, até a mesma verdade”. Isso é bastante surpreendente. “Todos” incluiria Diótrefes! Significa que Demétrio vivia de um modo que ele tinha um bom testemunho de Diótrefes. Mesmo assim, João acrescenta, “e até da mesma [própria – ARA] verdade”. Isso indica que Demétrio não tinha comprometido a verdade. Quer dizer que ele tinha encontrado uma maneira de continuar na presença de Diótrefes e ainda viver de uma maneira que iria agradar ao Senhor. Isso nos mostra que existe um jeito de prosseguir, mesmo nas circunstâncias mais difíceis em uma assembleia. A solução é não sair.
RESUMO: A existência de problemas ou do mal em uma assembleia não significa que essa assembleia não esteja em terreno divino, mas, antes, que está em um fraco estado. Se uma assembleia continuar em um curso impróprio, ela acabará por ser formalmente repudiada e não mais estará reunida ao nome do Senhor. Enquanto não chega esse momento, o Senhor ainda está no meio dela, ainda que certamente entristecido por seu pobre estado. Nosso papel é permanecer ali até que o Senhor intervenha para colocá-la em ordem, ou até que a assembleia seja formalmente excluída.
CAPÍTULO 7: A Assembleia Não é Uma Democracia.
PERGUNTA: Como algo pode ser considerado uma “decisão de assembleia” quando muitos na assembleia não concordam com ela?
RESPOSTA: Talvez eu deva fazer alguns comentários sobre como uma “decisão de assembleia” é formulada, antes de responder a essa pergunta.
Quando surgem problemas e é preciso um julgamento ou ação administrativa em um caso que chega diante da assembleia, os irmãos responsáveis se reúnem separadamente da assembleia para ter um entendimento dos fatos e examinar as Escrituras para determinar o que a assembleia deve fazer. Esse princípio é visto em Atos 15. Embora o que aconteceu em Atos 15 não fosse exatamente uma reunião local de “cuidados” da forma como a conhecemos, já que era uma reunião de irmãos de várias localidades diferentes, a passagem estabelece o princípio de que os assuntos podem ser examinados pelos irmãos responsáveis separadamente da assembleia como um todo. Ali diz, “Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto” (At 15:6). Note que não é mencionada a presença das irmãs, irmãos jovens e novos convertidos. As coisas não devem ser discutidas em detalhes diante de toda a assembleia, porque pode haver algum debate (At 15:7) que não seria de boa ordem para uma reunião pública. Além disso, algumas coisas que podem contaminar poderiam ser abordadas e não seriam apropriadas em tal ambiente (1 Co 14:40).
O modo normal do Senhor guiar a assembleia local em um caminho bíblico e em suas responsabilidades administrativas é por meio daqueles que “tomam a liderança” (1 Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17 – JND). Tomar a liderança, nessa função, não se refere a liderar no ensino ou na pregação públicos, mas aos assuntos administrativos da assembleia. Confundir as duas coisas é não entender direito a diferença entre dom e ofício. Alguns dos que “tomam a liderança” podem nem sequer ensinar publicamente, mas é muito bom e de ajuda quando podem (1 Tm 5:17). Esses homens devem conhecer os princípios da Palavra de Deus e ser capazes de expô-los para que a assembleia possa entender o curso de ação que Deus gostaria que ela tomasse em um determinado assunto (Tt 1:9). Esses homens não nomeiam a si mesmos para esse papel, mas são levantados pelo Espírito Santo para esse trabalho (At 20:28). Eles serão reconhecidos pela assembleia como pessoas que se entregaram ao cuidado dos santos, por seu conhecimento de princípios e por demonstrarem possuir experiência e julgamento sadios.
Existem três palavras usadas nas epístolas para descrever esses líderes responsáveis na assembleia local:
- Primeiramente, “anciãos” (presbuteroi) refere-se àqueles avançados em idade, o que implica maturidade e experiência. No entanto, nem todos os homens mais velhos na assembleia atuam necessariamente no papel dos líderes (1 Tm 5:1; Tt 2:1-2). - Em segundo lugar, “bispos” ou supervisores (episkopoi) refere-se ao trabalho que eles fazem, que é pastorear o rebanho (At 20:28; 1 Pe 5:2), velando pelas almas (Hb 13:17) e fazendo admoestações (1 Ts 5:12). - Em terceiro lugar, eles são chamados de “guias” (ARA) ou líderes (hegoumenos); isso se refere à sua capacidade espiritual de liderar os santos.
No livro de Apocalipse, os que estão nesse papel são chamados de “estrelas” e de “o anjo da igreja [local]” (Ap 1-3). Como “estrelas”, eles devem dar testemunho da verdade de Deus (os princípios de Sua Palavra) como portadores de luz na assembleia local, fornecendo luz sobre diversos assuntos com os quais ela possa ser confrontada. Isso é ilustrado em Atos 15. Embora não esteja relacionado exatamente com “ligar” e “desligar”, aprendemos princípios valiosos da função administrativa na Igreja. Depois de ouvir o problema que estava afligindo a assembleia, Pedro e Tiago lançaram luz espiritual sobre a questão. Tiago aplicou um princípio da Palavra de Deus e emitiu seu julgamento sobre o que ele acreditava que o Senhor gostaria que eles fizessem (At 15:15-21). Como “o anjo da igreja”, os que estão nesse papel devem atuar como mensageiros para prover a mente de Deus na assembleia ao executar a coisa. Isso também é ilustrado em Atos 15:23-29.
Quando esses irmãos sentirem que discerniram a mente do Senhor, a partir das Escrituras, quanto ao que a assembleia deve fazer em um determinado caso que está diante deles, então eles trazem os fatos (não necessariamente os detalhes, pois estes poderiam contaminar) e as conclusões bíblicas diante da assembleia para que a consciência de todos possa estar engajada na questão (At 15:22). Então torna-se uma decisão ratificada, ligada (Mt 18:18-20). Ela é chamada de “decisão de assembleia” porque é feita em assembleia – isto é, quando a assembleia está reunida como tal, com o Senhor no meio (1 Co 5:4) –, e não porque todos na assembleia concordam.
Tem sido perguntado: “Quem decide o que deve ser feito em um determinado caso que chega diante da assembleia?” Nossa resposta é: o Senhor. Ele é a Cabeça da Igreja, e a assembleia deve tomar sua direção d’Ele (Cl 2:18). Os irmãos responsáveis podem ter que examinar uma questão para obter os fatos, mas, depois de serem apurados, a Palavra de Deus decide o que deve ser feito.
Alguns têm o pensamento de que os irmãos devem simplesmente formular uma proposta para a assembleia e, quando a trouxerem para a assembleia, a assembleia como um todo então decide. Isso é democracia, e as ações da assembleia não são executadas por meio de princípios democráticos. Os irmãos que “tomam a liderança” são responsáveis por garantir que a assembleia seja guiada em um curso de ação fundamentado na Escritura, independentemente de todos na assembleia concordarem ou não. Se não fosse assim, então os irmãos responsáveis mais velhos (que entendem os princípios e sabem o que deve ser feito) poderiam ter seu julgamento piedoso e fundamentado na Escritura impedido pelas irmãs e pelos neófitos, ou por partidários do transgressor que está sendo julgado. Isso significa que um julgamento fundamentado na Escritura ficaria sujeito àqueles que têm pouca experiência, ou conhecimento, ou talvez influência em questões de assembleia. Certamente algo assim não estaria correto. Alguns parecem achar que os irmãos não podem agir até receberem o “OK” dessas pessoas, mas isso equivale ao povo controlando seus líderes e é o princípio em que a democracia está enraizada. Muitos tropeçaram exatamente nisso quando os anciãos procuraram realizar um julgamento bíblico, e alguns discordaram da ação.
Isso não quer dizer que os anciãos tomam as decisões administrativas na assembleia e o resto dos santos não tem nenhuma participação. É possível irmãos mais jovens terem a mente do Senhor em uma questão em que os irmãos mais velhos talvez a tenham deixado passar (Jó 32-33). Em tal caso, os irmãos mais velhos devem ficar felizes em aceitar luz sobre uma questão que eles podem não ter visto. Mas na vida normal de assembleia, os irmãos mais velhos e experientes que entendem os princípios envolvidos são aqueles que têm o peso moral nessas questões de assembleia.
Nada pode ser oficialmente decidido sem que a assembleia tenha a oportunidade de ter a sua consciência exercitada no assunto, e é por isso que os anciãos devem procurar atingir a consciência de todos na assembleia, trazendo-o diante deles (At 15:22). Os irmãos responsáveis devem ser sensíveis a qualquer objeção legítima que alguém da assembleia possa ter. Mas, no final, será deles a responsabilidade, como “o anjo” da igreja, de agirem para a glória de Deus (Ap 2-3). Mas não é uma decisão da assembleia até que seja feita na assembleia, no que às vezes é chamado de reunião para disciplina (Mt 18:19-20; 1 Co 5:4).
Ao formularem as decisões de assembleia, os líderes responsáveis devem procurar alcançar a consciência de todos na assembleia local para que todos possam ser exercitados no assunto; no entanto, a assembleia pode não seguir a consciência de alguns. Como mencionado, isso porque eles podem ser jovens na fé cuja consciência pode não estar suficientemente instruída em princípios bíblicos para ser capaz de formar um julgamento correto. Eles poderiam ser mundanos e não ter o discernimento espiritual, ou eles poderiam ser tendenciosos no assunto. Em qualquer caso, o julgamento deles deve ser desconsiderado. A Escritura não exige que haja um “De acordo.” de todos na assembleia antes que possa ser uma decisão legítima.
Nestes últimos dias, quando a vontade do homem está cada vez mais evidente em se impor na igreja, não podemos esperar conseguir unanimidade em julgamentos de assembleia. Foi assim no julgamento em Corinto. 2 Coríntios 2:5 diz, “Se alguém tem causado tristeza, tem causado tristeza não a mim, porém em parte… a todos vós” (TB). Aparentemente, nem todos na assembleia de Corinto ficaram tristes com o pecado em seu meio. Mesmo assim, a assembleia ainda executou a ação para a glória de Deus.
Ao lidar com uma situação de heresia, você raramente – talvez nunca – irá conseguir a aprovação da pessoa que está sendo julgada pela assembleia. Além disso, membros da família e simpatizantes podem se opor, então geralmente não haverá unanimidade. J. N. Darby disse, “A unanimidade é absurda, uma negação do poder e da operação do Espírito, e completamente contrária à Palavra de Deus. Primeiro, ela é absurda, pois até que o caso seja decidido, a pessoa que está sendo acusada faz parte da assembleia, e você não vai conseguir fazê-la concordar, como se conduzida pelo Espírito, em julgar seu próprio caso.”
Ocasionalmente decisões foram tomadas pela assembleia quando alguns irmãos não estavam na reunião local de cuidados, ou na reunião de assembleia onde a decisão foi tomada. Isso levou alguns a pensarem que essa não poderia ser uma genuína decisão de assembleia ratificada no céu. Eles bradam, “Mas nem todos os irmãos estavam lá para decidir!” Mais uma vez, essa é uma ideia democrática. A assembleia agindo em sua capacidade administrativa sem a presença de todos não é algo incomum na Escritura. Vemos este princípio em 1 Coríntios 15:5, em relação ao ofício do apostolado. Ali diz, “E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze”. Quando comparamos com Lucas 24:34-48 e João 20:19-24, descobrimos que havia apenas dez apóstolos presentes quando o Senhor apareceu a eles; ainda assim, eles são chamados de “os doze”! Judas tinha se enforcado e Tomé não estava ali. De acordo com Atos 1, Matias ainda não era parte dos “doze”. A eleição dele não ocorreu senão depois de o Senhor ter completado todas as Suas aparições como ressuscitado (durante 40 dias) e subido ao céu. Mesmo assim, aqueles reunidos são chamados de “os doze”. Vemos com isso que “os doze” é um termo usado para designar o ofício administrativo que eles cumpriam e a autoridade que tinham para agir assim. Nas epístolas aos Coríntios, onde são descritas a função e a ordem na assembleia, é coerente que esse princípio seja ensinado ali. Algo digno de nota é que as aparições do Senhor às mulheres não são citadas em 1 Coríntios 15, pois a administração da assembleia é confiada aos irmãos responsáveis. Isso mostra que a assembleia, atuando em sua capacidade administrativa, não precisa da presença de todos antes que suas ações sejam ligadas.
A assembleia não é uma instituição democrática que toma suas decisões pelo voto majoritário, com todos tendo direitos iguais de opinar sobre o assunto. Uma vez ouvimos um irmão mais jovem dizer, “Eu tenho tanto direito de opinar aqui quanto ele”, referindo-se a um irmão mais velho sério e piedoso que tinha se dedicado ao cuidado da assembleia por 50 anos. Tivemos que dizer a ele que aquilo simplesmente não era verdade. Existe algo chamado peso moral, e isso é obtido com anos de fiel andar com o Senhor e cuidado com os santos. Aqueles que ocupam uma posição de liderar e guiar a assembleia carregam a maior parte do peso da assembleia em seus assuntos administrativos. Por exemplo, pode haver um caso em que seis ou sete irmãos mais jovens queiram fazer uma determinada coisa, mas três ou quatro irmãos mais velhos sérios sintam de outra forma. Como o julgamento dos irmãos mais velhos deve ser respeitado, por carregarem o peso moral na assembleia, o Senhor espera que os irmãos mais jovens se sujeitem ao julgamento dos mais velhos sobre a questão, se ele for diferente. Eles deveriam ficar felizes em seguir a direção espiritual apontada por seus irmãos mais velhos.
RESUMO: A resposta rápida quanto a nem todos concordarem em uma ação da assembleia é que a assembleia não é uma democracia, e não é preciso unanimidade para que uma decisão de assembleia seja ligada. Aqueles que tomam a liderança carregam a maior parte do peso nas ações administrativas da assembleia. Eles são responsáveis por garantir que a assembleia caminhe de forma bíblica, quer todos concordem ou não com uma determinada decisão.
CAPÍTULO 8: Decisões Injustas e Erradas de Uma Assembleia.
PERGUNTA: O que devo fazer se uma assembleia tomar uma decisão injusta e errada?
Antes de tentar responder a essa pergunta, devemos ter muito cuidado ao chamar determinadas decisões de assembleia que foram tomadas, de erradas ou más. Pode ser que os irmãos tenham agido em alguma questão com base em princípios bíblicos que desconhecemos. Imaginamos que eles estão errados, mas talvez sejamos nós os que estão errados.
Por outro lado, é possível que as coisas tenham sido tratadas incorretamente e uma decisão errônea possa ter sido tomada em uma assembleia. Supondo ser esta a premissa da questão, vamos tentar respondê-la adequadamente.
RESPOSTA: Se algo assim ocorrer, isto é, uma assembleia tomar uma decisão injusta, existe recurso.
Primeiramente, podemos levar o assunto em oração diretamente ao Senhor; Ele é a Cabeça da Igreja. Ele pode exercitar a consciência daqueles que estão nessa localidade a fim de que eles corrijam a decisão.
Em segundo lugar, o Senhor pode levantar profetas na assembleia localmente ou enviar alguns de outras assembleias para despertar a consciência dessa assembleia de modo que a decisão errônea possa ser corrigida (2 Co 2:4; Ap 2:13; 2 Cr 24:19-22; Jz 9:5-21).
Em terceiro lugar, se essa assembleia local se recusar a lidar com os seus erros após isso ter sido demonstrado a ela de forma conclusiva com base na Palavra de Deus, ela pode ser repudiada por uma ação de ligar tomada por outra assembleia agindo em nome do corpo como um todo. A outra assembleia simplesmente faria uma declaração formal de que a assembleia que está no erro não está mais no verdadeiro terreno da Igreja de Deus. Essa responsabilidade é aludida nas mensagens do Senhor às sete igrejas da Ásia (Ap 2-3). Ele responsabilizou “o anjo” (os líderes responsáveis) de cada assembleia por todos os erros permitidos nessa assembleia local. Mas cada mensagem termina com as palavras “o que o Espírito diz às igrejas**”** (plural). Isso mostra que, embora cada assembleia seja responsável por lidar com o mal em seu meio, existe uma responsabilidade corporativa das outras assembleias na questão, se a assembleia local não lidar com esse mal. O Senhor não fala nessa passagem como isso deve ser realizado, mas simplesmente que existe uma responsabilidade corporativa por parte das outras assembleias.
Esse princípio é ampliado em figura em Deuteronômio 13. Se fosse encontrado mal em uma pessoa numa cidade na terra, a cidade onde ela morava devia “apedrejá-la” até à morte (vs. 6-11). O apedrejamento fala da consciência de todos em uma assembleia local estar envolvida no julgamento de uma pessoa iníqua em seu meio. E, se fosse descoberto que uma cidade tinha nela mal não julgado, então as outras cidades na terra deviam agir para a glória de Deus e julgar aquela cidade. Ela devia ser destruída e transformada em montão perpétuo (vs. 12-18). Isso mostra que havia uma responsabilidade coletiva por parte de todas as cidades em Israel de eliminar o mal na terra. Em figura, isso fala de uma assembleia comprovadamente injusta sendo repudiada pelas outras assembleias que estão em comunhão com ela, sendo considerada como não estando mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja.
Como mencionado anteriormente, a remoção de um castiçal em uma localidade é algo que o Senhor não faz imediatamente. É só depois de muita admoestação e oportunidade para arrependimento que o Senhor levantará outra assembleia para repudiar a assembleia que está no erro. Então, é claro, a decisão errônea que a assembleia repudiada ligou não seria mais válida. Enquanto isso, até uma assembleia chegar ao ponto de agir para a glória de Deus no assunto (ao repudiar a assembleia injusta em questão), devemos nos sujeitar à decisão e esperar em Deus. Mencionamos isso para demonstrar que existe recurso contra o abuso de autoridade em assuntos administrativos.
Observemos que a Escritura nunca nos instrui a tomar o assunto em nossas próprias mãos e agir de forma independente no que parece ser uma ação errada da assembleia; algo assim é não procurar “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). A ação independente de indivíduos nesses assuntos coletivos é sempre condenada nas Escrituras (Dt 17:12; Nm 15:30-31). Isso só abre a porta para o inimigo dividir e espalhar o rebanho. Existe uma maneira divinamente indicada para lidar com esses problemas; devemos segui-la se quisermos manter a ordem.
Infelizmente, é aí que muitos Cristãos acabam errando, por pensarem que não podem se submeter a algo que acreditam ser injusto e não estar de acordo com a Escritura. Eles pensam que estarão comprometendo uma boa consciência. Alguns dirão: “Eu devo obedecer primeiro ao Senhor, não aos irmãos!” Mas isso é só fachada, pois se o Senhor pode manter a decisão até que ela seja retificada, por que nós não podemos? Uma assembleia que comete um erro em suas responsabilidades administrativas ainda tem o Senhor em seu meio até ela ser formalmente repudiada. J. N. Darby disse, “Por que falar em obedecer primeiro ao Senhor, e depois a igreja? Mas supondo que o Senhor esteja na igreja? Isso é meramente estabelecer um julgamento pessoal contra aquele da assembleia reunida em nome de Cristo com a Sua promessa (se não são uma assembleia assim reunida, eu não tenho nada a dizer); é estar simplesmente afirmando: ‘Eu me considero mais sábio do que os que são’. Eu rejeito inteiramente, como não tendo fundamento bíblico, o dito, ‘Primeiro Cristo, depois a igreja’”. Sobre esse mesmo assunto, ele também disse, “A questão, portanto, é um mero e pobre argumento enganoso que revela o desejo de dar livre expressão à vontade própria e uma confiança de que o julgamento da pessoa é superior a tudo o que já tenha sido julgado”.
É importante entender que a assembleia foi investida com a autoridade do Senhor para agir em Seu nome durante o tempo de Sua ausência, e devemos nos submeter aos atos dela como a autoridade final. Em Mateus 18:18-20, ao tratar de uma certa questão, o Senhor disse, “Dizei-o à igreja”. Em seguida, Ele passou a falar da autoridade dela para agir em Seu nome, dizendo: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no céu”. Um exemplo da assembleia “ligando” é encontrado em 1 Coríntios 5:11-13; um exemplo da assembleia “desligando” é encontrado em 2 Coríntios 2:6-11.
No entanto, o fato de a assembleia ter recebido autoridade para agir para a glória de Deus não significa que seus atos sejam infalíveis. J. N. Darby escreveu um artigo útil sobre esse assunto intitulado “Confundindo Autoridade com Infalibilidade”4. Ele mostra que é possível uma assembleia ligar algo que esteja errado, e isso ser ligado no céu – pelo menos até que a ação possa ser corrigida. Muitas pessoas ficaram confusas nesse ponto. Elas não conseguem entender como uma ação que está errada poderia ser “ligada no céu”. No entanto, “ligado no céu” não significa necessariamente ser aprovado pelo céu. Significa simplesmente que o céu reconhece aquilo. O céu pode não estar feliz com uma decisão que a assembleia toma, mesmo assim ele a endossa. A assembleia foi investida com a autoridade do Senhor para agir por Ele representativamente em Sua ausência; ela é uma extensão de Sua autoridade na Terra. E é possível a assembleia usar a autoridade d’Ele erroneamente; no entanto, a autoridade ainda é d’Ele.
Podemos entender bem esse princípio dentro de uma família. No artigo do Sr. Darby sobre confundir autoridade com infalibilidade, ele faz menção do fato de os pais terem, na família, uma autoridade dada por Deus, mas não são infalíveis. Submissão é dever de todos na família. Um pai pode disciplinar uma criança por engano, mas essa disciplina continua válida, e o dever de todos na família é se submeter. É assim que se mantém a ordem na casa. Quando vem à tona que o pai cometeu um erro, em condições normais ele corrigirá seu erro com humildes desculpas e fará as reparações necessárias. Além disso, no caso de um juiz criminal, ele tem autoridade para prender alguém, mas como ele não é infalível, é possível que ele venha a cometer erros. Porém, sua ação ainda prevalece, e o indivíduo não tem escolha a não ser aceitá-la até que se demonstre que ela está errada. Se as autoridades civis não fossem regidas dessa forma, não haveria ordem nenhuma no governo. O Sr. Darby também disse, “Em uma centena de situações, é possível a obediência ser obrigatória sem que exista infalibilidade. Não fosse assim, como você facilmente pode ver, não poderia haver qualquer ordem no mundo. Se não houver obediência onde não existe infalibilidade, se não houver sujeição no que foi decidido, não há limites para a vontade própria e nem a existência da ordem comum.” Do mesmo modo, em decisões de assembleia, o céu pode não estar satisfeito com algo que a assembleia liga errado, mas o céu endossa a decisão naquele momento. Dessa forma, a ordem é mantida na casa de Deus.
Deveria ser algo muito solene pensarmos que poderíamos usar a autoridade do Senhor e equivocadamente identificar o céu com algo que não está correto; e, assim, incorrer no julgamento governamental do Senhor. É esta a razão pela qual o Senhor Se desassociou exteriormente da massa da profissão Cristã e adotou um testemunho remanescente. E se aqueles que estão identificados com esse testemunho remanescente continuarem em um estado pobre e falharem em sua responsabilidade, Ele vai pesar a Sua mão sobre eles em julgamento governamental e reduzir o seu número, peneirando e espalhando alguns, para que eles se humilhem. É triste dizer, mas isso aconteceu.
O Sr. W. Potter escreveu um pequeno artigo sobre as ações de assembleia de ligar e desligar, no qual ele diz que o “qualquer coisa” em Mateus 18:19 é incondicional. A assembleia pode aprovar uma decisão de ligar favorável (ou contrária) ao que quer que ela ache necessário para a glória do Senhor. Alguns imaginam que isso é semelhante ao papado e está dando à assembleia uma autoridade inquestionável. O argumento deles é que se “qualquer coisa” é incondicional, então a assembleia poderia ligar tudo que quisesse, e estaria automaticamente ligado no céu. Na mente deles, isso seria deixar o céu sujeito às ações da Igreja na Terra; e se a assembleia cometesse um erro, então o céu estaria em comunhão com o mal. Essa suposição, no entanto, não é verdadeira; já mostramos que o Senhor ainda está no meio de uma assembleia que está em erro e com mal nela, até ela se corrigir ou ser formalmente repudiada.
Muitos foram infelizmente enganados pela ideia equivocada de que, a não ser que uma ação de assembleia tenha a marca registrada da Palavra de Deus, ela não é ratificada no céu e não obriga ninguém na Terra. Em outras palavras, a decisão só é uma ação de ligar quando é uma decisão correta. O que eles estão realmente dizendo, embora possam não perceber, é que todas as verdadeiras decisões de assembleia são infalíveis. Quando a assembleia atua administrativamente tomando uma decisão de ligar, ela nunca erra! Os mesmos que acusam os irmãos de praticarem o papado são na verdade aqueles que se apoiam no princípio da infalibilidade! O artigo do Sr. Darby mostra que essa ideia equivocada confunde autoridade com infalibilidade.
Olhando superficialmente esse argumento, parece lógico não se submeter a uma decisão injusta, mas por trás dessa ideia está a tentativa do inimigo de trazer confusão para a assembleia e de minar a autoridade e as ações dela. Tudo o que qualquer pessoa precisa fazer é declarar que uma ação da assembleia é uma ação injusta e concluir que o céu, portanto, não a ligou. E se o céu não a aceitou, então a pessoa deve rejeitá-la também. É uma maneira conveniente de anular as ações de assembleia que não nos agradam. Se os atos administrativos da assembleia só exigissem submissão sob a condição de serem atos justos, então toda a ordem logo seria perdida. Essa ideia errônea faz com que os julgamentos de assembleia fiquem sujeitos ao nosso julgamento pessoal. A assembleia, então, já não seria a mais alta corte de autoridade nesses assuntos, e sim o nosso julgamento pessoal! O resultado é que todos ficariam livres para fazer o que parecesse “reto aos seus olhos” (Jz 21:25). No entanto, o Sr. Darby disse, “Um julgamento de uma assembleia, mesmo que eu o considere um equívoco, eu devo primeiramente aceitar e agir de acordo com ele.”
Em um esforço para negar a força do “tudo o que” em Mateus 18:18, alguns erroneamente pensaram que o versículo 19 seria uma reunião de oração. Dessa forma, eles argumentam que se as orações da assembleia se sujeitam à qualificação do céu (pois Deus só responde às nossas orações quando elas estão de acordo com a Sua vontade), então o “tudo o que” que a assembleia liga também deve se sujeitar à qualificação do céu. É um argumento inteligente, mas que tira o versículo 19 de seu contexto. O versículo não está se referindo a uma reunião de oração, mas aos congregados ao nome do Senhor, reunidos como tais para atuarem em sua responsabilidade administrativa ao aprovarem uma decisão de ligar. Trata-se de uma reunião para a disciplina. Paulo fala desse mesmo tipo de reunião em 1 Coríntios 5:4-5. Se o Senhor estava Se referindo à reunião de oração em Mateus 18:19, então Ele mudou o Seu assunto bem no meio de Sua dissertação sobre as ações administrativas da assembleia. E depois Ele voltou ao assunto que tem a ver com o Senhor estar no meio e os santos terem um espírito de perdão em relação a um irmão arrependido que pecou (vs. 20-35). Isso não faz o menor sentido. O ponto dos versículos 19-20 é que a assembleia se reúne com o Senhor no meio para invocar a Deus para ratificar sua decisão de ligar. A promessa é clara: “Isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus”. (O versículo 20 pode ser lido no partimento do pão, mas é apenas para estabelecer o fato de que o Senhor está no meio de Seus santos quando eles estão reunidos em assembleia).
Para aqueles que questionam se “tudo o que” é qualquer coisa que a assembleia possa vir a julgar, indicaríamos a eles 2 Coríntios 2:10. Ali descobrimos que quando se trata de desligar uma ação de ligar, Paulo diz “A quem perdoardes qualquer coisa…” (KJV). Se eles são vistos perdoando “qualquer coisa”, necessariamente eles devem ter ligado “qualquer coisa”. Isso não deve ser difícil de entender se alguém tem uma mente disposta, mas essa é a grande questão. Será que realmente queremos a mente do Senhor? As pessoas às vezes fazem tanto alarde por causa de uma possível decisão errada da assembleia, que você acaba se perguntando aonde eles querem chegar. Mas, de verdade, quantas vezes isso aconteceu? Raramente. O Sr. Potter disse que nos 50 anos em que ele esteve entre os irmãos, ele não soube de nenhuma decisão tomada à qual alguém não pudesse se submeter.
Para alguns, a solução é ter outra etapa de assembleia e revisar a decisão original da assembleia. O Sr. C. D. Maynard disse, “Uma assembleia, quando reunida ao nome de Cristo, tem a Ele em seu meio e tem a autoridade d’Ele para agir em ligar ou desligar os pecados de um irmão transgressor (Mt 18:18-20). Tal ato é ratificado no céu. Não existe como apelar dessa decisão, a não ser a Cristo em glória; assim como Jesus ‘entregava (Sua causa) àqu’Ele que julga justamente’ (1 Pe 2:23) … Pode ocorrer a alguns que, se uma assembleia local tiver julgado, segundo eles pensam, de forma errada, pode-se fazer uma apelo a outra assembleia local. Por exemplo, para restaurar uma pessoa erroneamente colocada fora. Isso tem tanto fundamento bíblico quanto a corrupção do romanismo. De cara, nega a unidade prática das duas assembleias. Cogitar a questão é negar que exista um só corpo e um só Espírito. Se a mesa do Senhor for uma só, ambas as assembleias estão unidas quando uma delas age, então esse apelo é impossível. Se elas podem revisar os julgamentos uma da outra, a unidade do Espírito não existe ali, são apenas reuniões independentes.” O entendimento errado desse importante princípio em assuntos de assembleia está por trás de muitas das tristes divisões que ocorreram entre os congregados ao nome do Senhor ao longo dos anos. Fazemos bem, portanto, em ponderar essas coisas com cuidado.
Outra ideia errônea que alguns têm é que se a assembleia tomar uma decisão errada, então ela perde o terreno em que está como reunida ao nome do Senhor e não está mais em terreno divino. Isso também não está certo. Novamente, tal ideia revela a ignorância de se confundir autoridade com infalibilidade. O fato de uma assembleia ter autoridade, mas não ser infalível, é para reconhecer que existe a possibilidade de ela cometer erros. Ao cometer um erro, a assembleia não perde sua condição de assembleia biblicamente reunida, do mesmo modo que os pais em uma casa não deixam de ser pais por terem cometido um erro ao disciplinarem um filho.
Um exemplo desse equívoco foi o que aconteceu em Tunbridge Wells em 1908-1909. Muitos acharam que as ações da assembleia, primeiro de silenciar (1903) e depois de colocar fora de comunhão o Sr. C. Strange (1908), foram injustas. Acreditando que o tratamento de Tunbridge Wells foi injusto e sem base bíblica, eles pensaram que a assembleia tinha, assim, perdido seu status de assembleia verdadeiramente reunida ao nome do Senhor. Consequentemente, muitos não quiseram se sujeitar às suas decisões de assembleia. O Sr. W. R. Dronsfield propõe essa ideia errônea em seu livro, “The Brethren Since 1870”, pág. 33, dizendo: “Se dois ou três estão verdadeiramente reunidos ao nome do Senhor, qualquer decisão a que eles cheguem deve estar correta para o céu reconhecê-la como tal. O inverso disso, no entanto, também é verdadeiro, ou seja, se os reunidos chegarem a uma decisão injusta e incorreta, eles não podem estar reunidos ao nome do Senhor.” Essa ideia equivocada levou a uma divisão muito triste entre irmãos.
RESUMO: Se achamos que a assembleia tenha cometido um erro numa decisão de ligar:
- Primeiro, precisamos ter certeza de que entendemos os princípios envolvidos. Pode ser que estejamos desinformados e desconheçamos certos princípios bíblicos. Se de fato é uma decisão errada, devemos trazê-la ao Senhor, a Cabeça da Igreja, em oração. - Em seguida, devemos expressar nossas convicções – baseadas na Escritura – aos irmãos e esperar que eles sejam exercitados a respeito. - Então, devemos esperar no Senhor para que Ele intervenha e conserte as coisas. Que tenhamos a certeza de que Ele irá chegar, em Seu próprio tempo e à Sua própria maneira; a fé esperará n’Ele. Se for um erro grave, pode ser que o Senhor conduza outra assembleia a deixar de reconhecer formalmente essa assembleia como estando em terreno divino.
Enquanto isso, não devemos tomar o assunto em nossas próprias mãos e começar a fazer campanha entre os irmãos para reverter a decisão. É possível defender algo correto da maneira errada, o que só traz confusão. Muitas vezes, aqueles que agem na carne em assuntos de assembleia são massacrados, mesmo que estejam lutando pelo que é certo! Esse foi o perigo em que Pedro se colocou ao puxar sua espada. O Senhor disse a ele: “Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt 26:52).
CAPÍTULO 9: Devemos Receber ao Partimento do Pão Todo o que Se Diz Cristão?
PERGUNTA: Por que os irmãos em 1800 recebiam todos os Cristãos para o partimento do pão, mas os irmãos de hoje não? Parece que eles se desviaram da verdade e se tornaram sectários.
RESPOSTA: Eu acho importante entender um pouco da história dos “Irmãos”. A recuperação da verdade nos anos 1800 não aconteceu em questão de dias ou meses; levou um período de vários anos. Os primeiros irmãos que se reuniam simplesmente para partir o pão não tinham considerado a necessidade de recepção e, por isso, não possuíam princípios reais de recepção. Foi só depois do problema de Betesda (a divisão dos Irmãos Abertos em 1845-48) que se descobriu que era necessário cuidado no que diz respeito a receber pessoas à comunhão, especialmente as que vinham desse grupo divergente. Portanto, indicar a prática dos irmãos daqueles primeiros dias como sendo um modelo para a função de assembleia hoje é enganoso.
Para alguns, congregar no terreno do “um só corpo” (Ef 4:3), como professamos fazer, significa que recebemos à comunhão todos os membros do corpo de Cristo. Para eles, recusar comunhão com qualquer crente verdadeiro é negar o terreno que assumimos. Em um mundo perfeito, poderíamos receber todos os verdadeiros crentes, mas, como mencionado anteriormente, estamos nos dias finais do testemunho da Igreja na Terra, e é grande a ruína. Muitos crentes estão andando em erro doutrinário e/ou em mal moral, e a Escritura nos diz que essas pessoas não devem ser recebidas. Obedecer à Escritura, não recebendo tais pessoas, não é uma negação da verdade do um só corpo.
O pensamento preeminente no “um só corpo” é a unidade. Efésios 4:3-4 diz: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo”. Guardar a unidade do corpo é obra e responsabilidade de Deus, mas guardar a unidade do Espírito é nossa responsabilidade. O Senhor gostaria que expressássemos a unidade que existe no corpo na maneira como nos reunimos para adoração e ministério com outros Cristãos. Fazemos isso no partimento do pão (participando do único pão) e em questões de comunhão e disciplina entre assembleias. Resumindo, onde quer que as pessoas estejam na Terra congregadas nesse terreno, elas atuam juntas administrativamente e em assuntos relacionados com todos os aspectos da comunhão. Portanto, quando dizemos que nos reunimos “no terreno” do um só corpo, queremos dizer que procuramos expressar na prática essa unidade que existe. Isso não significa que recebemos automaticamente todos os crentes, independentemente de como eles estejam andando. Reunir-se no terreno do um só corpo não é igual a se reunir com todos os membros do um só corpo. Talvez fique mais claro dizer que nos reunimos sob o princípio da unidade do corpo.
Deve Haver Cuidado na Recepção
Importar-se com a glória do Senhor, com relação ao que trazemos à comunhão, é algo quase inexistente na Cristandade hoje. No entanto, a Bíblia ensina que a assembleia deve ter cuidado para não trazer à comunhão alguém que pode estar envolvido com o mal, seja esse mal moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local é responsável por julgar o mal em seu meio, tirando de comunhão malfeitores (1 Co 5:12), então naturalmente ela deve ter cuidado com o que ou quem ela introduz em seu meio.
Foi dito corretamente que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta e nem deve ter uma comunhão fechada, mas sim uma comunhão vigiada. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todos os membros do corpo de Cristo a quem a disciplina bíblica não impeça. Se, por um lado, todo Cristão possui o direito de estar à mesa do Senhor, por outro nem todo Cristão possui necessariamente o privilégio de estar nela, pois esse privilégio pode ser perdido por seu envolvimento com alguma forma de mal.
Quem Decide Quem Deveria Estar em Comunhão?
É importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. A Palavra de Deus decide. Isso porque a mesa não é dos irmãos; ela é “a mesa do Senhor” (1 Co 10:21). As preferências pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com a recepção. A Palavra de Deus decide tudo. Se não existe um motivo bíblico para se recusar uma pessoa, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já tiver sido batizado, for são na fé e piedoso no andar, não existe motivo para ser recusado. O conhecimento da Escritura não é um critério. A pessoa pode ser um crente simples, mas a Escritura diz: “Mas acolhei o que é fraco na sua fé, não para discutir as suas dúvidas” (Rm 14:1 – TB).
Todavia, muitas vezes não é possível determinar de imediato se alguém é são na fé e piedoso em seu andar. Quanto maior a confusão de onde a pessoa vem, seja do meio Cristão ou do mundo, maior pode ser a dificuldade de determinar essas coisas. Se for esse o caso, então sabedoria irá recomendar que a assembleia deve pedir à pessoa que tem o desejo de estar em comunhão que aguarde. Isso não significa que a assembleia esteja afirmando que a pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia até ser o caso, porém os irmãos simplesmente não sabem, e devem esperar até estarem convencidos de que não é o caso, pois eles são, em última análise, responsáveis diante de Deus por quem eles recebem em comunhão. A Escritura ensina: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios” (1 Tm 5:22). Esse versículo fala da comunhão pessoal com alguém numa base individual, mas o princípio é amplo o suficiente para guiar os santos na comunhão coletiva da assembleia à mesa do Senhor. Um crente maduro e piedoso que deseja entrar em comunhão não se sentiria ofendido com isso, pois certamente nenhum Cristão piedoso iria esperar que a assembleia violasse um princípio da Escritura. Na verdade, isso deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma companhia de Cristãos onde existe preocupação com a glória do Senhor e com a pureza da assembleia.
Testemunhos Pessoais São Suficientes?
Outro princípio que precisa ser entendido relativamente a esse assunto é que a assembleia, funcionando de maneira bíblica, não faz nada pela boca de somente uma testemunha. Tudo o que se refere à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio: “Por boca de duas ou três testemunhas, toda questão será decidida” (2 Co 13:1 – ARA). Compare também com João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base no próprio testemunho delas. Naturalmente, as pessoas costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como a própria Escritura afirma: “Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos” (Pv 16:2). E novamente: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória” (Jo 7:18). É por isso que podemos pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão para esperar. Assim que os irmãos da assembleia tiverem conhecido a pessoa que deseja entrar em comunhão, a assembleia pode recebê-la com base no testemunho de outros.
Este é um princípio que encontramos por toda a Escritura. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a esse princípio quando Se apresentou aos judeus como seu Messias. Ele disse; “Se Eu testifico de Mim mesmo, o Meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31). Ele então prosseguiu, apresentando quatro outros testemunhos que testificavam a respeito de Quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar de ter vários testemunhos para autenticar que Ele era o Messias, o Senhor advertiu aos judeus que chegaria um dia quando a nação receberia um falso messias (o anticristo) sem testemunhos. Ele disse: “Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5:43). Sendo assim, o Senhor condenou a prática de se receber alguém com base no testemunho pessoal.
Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a Igreja primitiva tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo, ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, mas foi rejeitado. Apesar de ser verdade tudo o que ele porventura tinha dito aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal, mesmo assim ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, e testificou da fé e caráter de Saulo, de modo que houvesse o testemunho de dois homens, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo “andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo” (At 9:28).
O Teste da Profissão da Pessoa
Outro princípio ao receber alguém é que existe algo que é colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém se diz Cristão, é preciso que prove isso apartando-se de todo pecado conhecido. 2 Timóteo 2:19 diz que “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1). Se a pessoa não se aparta da iniquidade, ela não é fiel à sua confissão. Isto é importante especialmente em uma época de ruína e colapso no testemunho Cristão, quando abundam doutrinas e práticas perniciosas de todo tipo. Um exemplo disso é visto em figura em 1 Crônicas 12:16-18. Naquele tempo, Davi era o rei rejeitado de Israel, e quando pessoas de várias tribos de Israel perceberam o seu mal em rejeitá-lo, eles vieram e o reconheceram como rei legítimo de Israel. Quando os da tribo de Benjamin (tribo do rei Saul) vieram até ele, Davi colocou a profissão deles à prova. Quando a confissão deles foi considerada genuína e eles mostraram que estavam verdadeiramente do lado de Davi, a passagem diz que então “Davi os recebeu”.
Se uma pessoa professa má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois ficará em comunhão com o mau ensino (compare 2 João 9-11). Não falamos aqui de diferenças que as pessoas possam ter em assuntos como o batismo, mas de coisas que atinjam os fundamentos da fé Cristã. A Escritura diz: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15:5-7). Se alguém que professasse má doutrina fosse recebido, como é que a assembleia poderia concorde e “a uma boca” glorificar a Deus? Os irmãos na assembleia estariam dizendo uma coisa e essa pessoa dizendo outra. O resultado seria confusão. O apóstolo Paulo disse aos Coríntios: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Co 1:10).
É preciso paciência e discernimento para detectar o mal eclesiástico em alguém. Existe diferença entre alguém associado ao erro clerical nas denominações por ignorância e alguém que ativamente defende e promove tal erro. Um crente que desconhece a ordem bíblica de Deus para a adoração e o ministério Cristãos pode chegar à assembleia e querer partir o pão à mesa do Senhor, vindo de uma denominação criada por homens e que pratica uma ordem clerical. Ainda que esteja associado ao erro eclesiástico, ele não é, até aquele momento, culpado de mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por ser piedosa no andar e sã na doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tenha rompido formalmente sua associação com essa denominação.
A grande questão é: “Quando uma associação inconsciente com o erro eclesiástico se torna um mal eclesiástico?” Cremos que a resposta é quando a vontade da pessoa está envolvida. Averiguar isso exige discernimento sacerdotal por parte da assembleia. Em casos assim, a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer a mente d’Ele sobre o assunto. Em condições normais, os irmãos deveriam permitir que essa pessoa partisse o pão, confiando que Deus está trabalhando em seu coração e que ela, após participar da ceia do Senhor, irá deixar o terreno em que tinha estado antes e continuar com aqueles reunidos ao nome do Senhor.
Isso é ilustrado, em figura, em 2 Crônicas 30 e 31. Ezequias encorajou o povo de Judá e o povo das dez tribos dispersas a participarem da Páscoa e a adorarem o Senhor no centro divino em Jerusalém. Depois de fazerem isso, eles foram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelos homens na Cristandade sejam semelhantes à idolatria. Estamos falando do princípio apenas). O que é interessante notar aqui é que Ezequias não tinha dito para eles agirem assim! Aquilo foi uma resposta do coração deles que veio puramente por terem estado na presença do Senhor em Jerusalém. Todavia, se alguém deseja continuar indo a ambos os lugares regularmente, isto não deveria ser permitido. J. N. Darby observou que tal pessoa não está sendo honesta com nenhuma das posições. Ele também disse que com o aumento da degradação e da corrupção no testemunho Cristão, ficará cada vez mais difícil praticar esse princípio. Mais discernimento será necessário à medida que os dias se tornarem mais sombrios. Em nossos dias, esse princípio tem sido seguido muito raramente.
Outra figura no Velho Testamento ilustra esse cuidado na recepção. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino na Terra onde o Senhor colocou Seu nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia ao redor grande perigo por conta dos inimigos. Consequentemente, eles não abriam as portas, para permitir que as pessoas adentrassem à cidade, até que “o Sol aquecesse” [literalmente “meio-dia”] (Ne 7:1-3.). Eles se certificavam de que não havia nenhum vestígio de “escuridão” ao redor antes de receberem as pessoas na cidade. Até aquele momento, eles faziam os que queriam entrar esperarem (Veja o mesmo princípio em 1 Crônicas 9:17-27 a respeito dos “porteiros”). Como a escuridão na Cristandade é crescente nestes últimos dias, esse tipo de cuidado deve ser exercido na recepção.
Ao contrário do que alguns podem dizer, a igreja primitiva era cuidadosa ao receber pessoas em comunhão. Isso é visto no modo como eles lidaram com Saulo de Tarso (At 9:26-28). Apolo precisou de uma carta de recomendação ao viajar para a Acaia (At 18:27-28). Isso mostra que, sem ela, ele não teria sido recebido. Febe também precisou de uma carta similar ao viajar para Roma (Rm 16:1-2). Veja 1 Timóteo 5:22: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos”. Além disso, Paulo disse para Timóteo andar com aqueles que, “com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22). Como alguém poderia discernir isso em uma pessoa sem ter tempo de conhecê-la? Se a assembleia é responsável em tirar o mal de seu meio (1 Co 5), então obviamente ela deve ter cuidado com o que ou quem ela traz para o seu meio. Logo, existe necessidade de cuidado ao receber pessoas à comunhão.
RESUMO: A verdade estava em processo de recuperação nos primeiros dias da história dos “Irmãos”. No início, J. N. Darby e os que estavam com ele tinham, por assim dizer, “somente um olho aberto” para a verdade. Houve um desenvolvimento no entendimento que pode ser percebido em seus escritos. Mais tarde, ele escreveu ao Sr. Kelly, que estava compilando seus textos, lembrando-lhe de que era necessário tomar cuidado por causa disso. Ele disse: “Acho que algumas notas exigem revisão, mas não tenho objeção quanto a elas serem publicadas como Notas, se forem úteis. Até mesmo os sermões contêm coisas que eu não devo aceitar. Algumas das publicações mais antigas precisariam de uma nota, ou duas, onde se passou a ter mais luz sobre o assunto, mas é melhor não serem alteradas”.
Um dos assuntos sobre os quais eles receberam “mais luz” foi o da recepção. O problema relacionado com Betesda deu ocasião a isso. A partir de então, eles foram mais cuidadosos ao receber pessoas à comunhão. Portanto, não é válido apontar para a prática adotada pelos irmãos em seus primeiros dias como um modelo para a assembleia hoje.
CAPÍTULO 10: Qual a Razão para Ser Reunido ao Nome do Senhor?
PERGUNTA: Qual é a razão para ser reunido ao nome do Senhor?
RESPOSTA: Às vezes, podemos ficar perdidos, no labirinto da busca pela verdade a respeito do assunto de congregar, e acabar nos perguntando se realmente vale a pena. Podemos ficar tentados a jogar tudo para o alto em frustração e dizer: “Qual é o sentido de tudo isso afinal?!” Sabemos que pode ser frustrante, mas existe uma boa resposta para isso também.
Devo ao irmão David Graham esta resposta. Ele disse que, na verdade, ela é tripla:
- Primeiro, Deus deseja que exista um testemunho do nome de Cristo neste mundo. É Sua vontade que os Cristãos se reúnam para adoração e ministério em torno da Pessoa de Seu Filho. - Segundo, o Senhor Jesus Se deleita em ter os Seus reunidos ao Seu redor para desfrutar da companhia deles. O Salmo 50:5 indica isso na forma de princípio, embora esteja se referindo aos crentes judeus num dia vindouro, dizendo: “Ajuntai-Me os Meus santos” (ARF). - Terceiro, o Senhor quer que Seu povo tenha a alegria especial de estar onde Ele está no meio; é um privilégio estar ali. Ao experimentarmos isso, nós, assim como Pedro, diremos: “Senhor, bom é estarmos aqui” (Mt 17:4).
Essas coisas devem ser suficientes para querermos procurar o lugar designado por Ele e ser encontrados ali em Sua presença. Esta é a vontade de Deus.
CONTRACAPA
Jovens associados aos “santos reunidos” de acordo com Mateus 18:20 estão sendo bombardeados com muitas perguntas difíceis a respeito da posição eclesiástica que assumimos em separação da ordem denominacional da Cristandade. Muitos deles estão pesquisando esse assunto e têm algumas boas e sinceras perguntas, as quais merecem boas respostas. O propósito deste livro é responder algumas dessas perguntas intrigantes para aqueles que estão buscando a verdade, a fim de que eles tenham um melhor entendimento dos princípios bíblicos de reunião.
O autor não tem nenhum desejo de denegrir os vários grupos na Cristandade, mas sim o desejo de apresentar respostas bíblicas para essas perguntas. Entretanto, as respostas neste livro não servirão de nada a uma pessoa se a vontade dela estiver agindo e ela não deseja a verdade, pois a verdade só é aprendida por aqueles que têm um espírito suscetível ao ensino. Precisamos do espírito de Davi, que disse, “Ensina-me, Senhor, o Teu caminho, e guia-me pela vereda direita” (Sl 27:11). Se estivermos buscando a verdade com sinceridade, o Senhor usará Sua Palavra para nos guiar e ensinar. Ele disse que “se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, conhecerá a respeito da doutrina” (Jo 7:17 – ARA). Essa promessa é tão válida hoje como era quando o Senhor a deu quase 2.000 anos atrás.
Notas
[←1]
N. do T.: Foi usado o verbo “ser” (“são colocados”) e não o “estar” (como na maioria das traduções bíblicas em português de Mateus 18:20) pois “ser” indica uma propriedade ou característica permanente do sujeito ao passo que “estar” indica um estado transitório.
[←2]
N. do T.: considerando um ano com 52 semanas.
[←3]
N. do T.: ou seja, removendo também um zero do número de pessoas salvas, de 50 para 5.
[←4]
N. do T.: “Confounding Authority with Infallibility”, em “Collected Writings”, vol. 14, págs. 304-307.