OS IRMÃOS ABERTOS
Os Seus Princípios e Práticas são de Acordo com a Escritura?
Bruce Anstey
OS IRMÃOS ABERTOS – Os Seus Princípios e Práticas são de Acordo com a Escritura?
Bruce Anstey
Originalmente publicado por:
9-B Appledale Road
Hamer Bay (Mactier) ON P0C 1H0
CANADÁ
christiantruthpublishing@gmail.com
Título do original em inglês: THE OPEN BRETHREN – Are Their Principles and Practices in Accord with Scriptures?
Primeira edição em inglês – dezembro 2010
Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:
ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.
atendimento@verdadesvivas.com.br
Primeira edição em português – fevereiro 2020
e-Book v.1.0
Abreviaturas utilizadas:
ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969
ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993
TB – Tradução Brasileira – 1917
ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994
AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967
JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby
KJV – Tradução inglesa King James
Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.
OS IRMÃOS ABERTOS
Os Seus Princípios e Práticas são de Acordo com a Escritura?
Prefácio
Originalmente, o material abordado neste livro foi compilado de uma série de breves pregações em Richmond, BC (julho-agosto de 1999). Naquela época, havia alguns que vieram até nós dos Irmãos Abertos com perguntas sobre os princípios e práticas desse grupo de Cristãos. Uma vez que mais pessoas saíram dos Irmãos Abertos com as mesmas perguntas, senti-me levado pelo Senhor a colocar o material nesta forma escrita para uma distribuição mais abrangente.
Esta publicação me proporcionou a oportunidade de expandir meus comentários que foram apresentados nas pregações e, assim, tratar o assunto mais detalhadamente. Ao fazer isso, peguei emprestado livremente daqueles que já haviam documentado a origem e a história dos Irmãos Abertos, bem como seus princípios e práticas. Estou, portanto, em dívida com a visão deles sobre esse assunto.
Dezembro 2010
Introdução
Este livro é um exame dos princípios e práticas de um grupo evangélico de Cristãos conhecido como “Os Irmãos Abertos”. Os Irmãos Abertos são bastante difundidos, tendo assembleias em quase todos os continentes. Em alguns países, suas reuniões de assembleia estão na casa das centenas. Eles são particularmente conhecidos por seus esforços missionários no evangelho e no trabalho da escola dominical, pelos quais devem ser elogiados. O exame deste livro, no entanto, não se refere ao excelente ministério do evangelho, nem à piedade e devoção pessoal, mas aos princípios e práticas em relação à ordem da assembleia. Nosso questionamento é simples: “A eclesiologia (doutrina e prática da Igreja) dos Irmãos Abertos está de acordo com a Palavra de Deus? Nossa intenção é responder a partir da Escritura.
Queremos deixar claro que, ao apresentar este livro, não temos nenhuma desavença com os Irmãos Abertos. Não queremos “atacar”, não temos nenhum “motivo particular”, nem qualquer problema pessoal com indivíduos desse grupo de Cristãos. Como devemos ter “amor a todos os santos” (Ef 1:15; Cl 1:4; 1 Pe 1:22), nós, genuinamente amamos esses queridos Cristãos. No entanto, é nossa convicção que os princípios nos quais os Irmãos Abertos se reúnem não estão de acordo com a Escritura, e que a posição deles de estarem professamente reunidos ao nome do Senhor é falsa. Visto que o amor deseja o melhor para seus propósitos, sinceramente desejamos o bem e a bênção de nossos irmãos nessa comunhão. É o amor que nos obriga a apontar os erros de sua não bíblica posição da igreja, e confiamos que será uma ajuda para todos os que se exercitarem sobre isso. Portanto, não são as pessoas, mas os princípios sobre os quais os Irmãos Abertos se reúnem para adoração e ministério que discutimos neste livro.
Nossa oração é que esta publicação seja usada pelo Senhor para ensinar a verdade de Deus a respeito da assembleia. Ao fazer isso, não temos a intenção de tentar “roubar ovelhas” dos Irmãos Abertos. Se os que estão nessa posição de igreja são felizes nessa comunhão, os deixamos com o Senhor. A Bíblia diz: “Subverter o homem no seu pleito, não o veria o Senhor?” (Lm 3:36). Portanto, não queremos coagir ninguém contra sua consciência que não tenha fé ou convicção para dar tal passo.
Também não temos nenhuma intenção de comparar os Irmãos Abertos com os chamados Irmãos “Exclusivos” e colocá-los um contra o outro. Nosso objetivo, em vez disso, é examinar os princípios e práticas de sua assembleia à luz da Escritura, e deixar que seja usado pelo Senhor, se Ele quiser, para ajudar qualquer um que esteja honestamente buscando a verdade. Oramos para que seja um farol de luz para todos que desejam a verdade (Sl 112:4).
Duas Ramificações Principais dos Irmãos Abertos
Deve-se notar desde o início que existem duas ramificações principais dos Irmãos Abertos. Elas não devem ser confundidas. Essas duas ramificações se separaram gradualmente uma da outra durante um período de cerca de 20 anos, por volta de 1910-1930. Uma ramificação é marcada por ser mais liberal e, às vezes, é chamada de Irmãos Abertos “liberais”. Essas assembleias têm um princípio de recepção muito aberto. Na América do Norte, essa ramificação geralmente é identificada pelo fato de seus locais de reunião serem chamados de “Capela”, embora nem sempre seja o caso. A outra ramificação, que às vezes é conhecida como Irmãos Abertos “conservadores”, é marcada por ter um princípio de recepção fechada. Na América do Norte, esses locais geralmente são identificados pelo fato de seus locais de reunião serem chamados de “Salão”. (Algumas assembleias de Irmãos Abertos mais liberais ainda levam o nome de “Salão” em seus edifícios, o que é uma continuação dos dias em que as duas ramificações eram uma comunhão prática.) Numericamente, a ramificação “liberal” é de longe a maior das duas.
Ressaltamos essa distinção porque algumas das coisas que abordamos neste livro se aplicam apenas a uma das ramificações, e não a outra. Não seria justo ou preciso acusá-los de algo que pertence apenas a outra ramificação. Como existe uma grande diversidade de assembleias com princípios de prática variados, é um pouco difícil escrever um artigo sobre os Irmãos Abertos sem, às vezes, “pintá-los todos com o mesmo pincel”. Vamos tentar evitar isso o máximo possível mencionando a qual ramificação estamos nos referindo, para não criar ofensa.
Especificamente, queremos examinar à luz da Escritura quatro princípios importantes nos quais as assembleias de Irmãos Abertos estão fundamentadas
Capítulo Um
PRINCÍPIO nº 1
A Associação com um Mau Mestre não Contamina uma Pessoa
O primeiro princípio que desejamos examinar, que os Irmãos Abertos sustentam e praticam, é: a associação com um mau mestre não contamina a pessoa; apenas absorver e defender seus maus ensinamentos torna uma pessoa contaminada por ele. Nossa questão é simples: este princípio está de acordo com a Escritura?
Devemos afirmar desde o início destas considerações que não acreditamos que esse princípio esteja de acordo com a Palavra de Deus. Contudo, para ver o erro desse falso princípio, acreditamos que é necessário entender um pouco da história de como os Irmãos Abertos surgiram em primeiro lugar, pois toda a sua posição eclesiológica se baseia na negação de que a associação com um mau mestre contamina uma pessoa.
Em Plymouth, Inglaterra, na década de 1840, havia um professor influente (B. W. Newton) entre os irmãos que introduziu pontos de vista divergentes na doutrina daquilo que era comumente sustentado e ensinado – alguns dos quais eram de natureza muito séria. Satanás usou a situação para dividir os irmãos por meio do equivocado entendimento dos princípios de como a Igreja deveria lidar com um mestre de más doutrinas e daqueles associados a ele.
O Sr. Newton começou ensinando certas visões divergentes sobre profecia e as esperanças da Igreja. Incluída em sua errônea mistura de doutrinas estava a ideia de que os santos do Velho Testamento faziam parte da Igreja, que é a Teologia Reformada (da Aliança). A iminência da vinda do Senhor para Seus santos (o Arrebatamento), uma das grandes verdades que haviam sido recuperadas para a Igreja naqueles dias – na qual os irmãos viviam desfrutando muito do bem que ela trazia – foi negada e substituída pela expectativa de certos eventos que deveriam ocorrer na Terra antes que o Senhor viesse. É desnecessário dizer que ter isso introduzido no meio dos santos que viviam aguardando o retorno iminente do Senhor era algo mortal. Sua divergência na interpretação de vários tópicos bíblicos era, sob muitos aspectos, o oposto do que os irmãos haviam acabado de recuperar e viviam desfrutando naqueles dias. O Sr. Darby relatou: “O objetivo único e imparcial parecia ser ensinar de maneira diferente do que os irmãos haviam ensinado, não importando o que acontecesse, de modo a deixar de lado seus ensinamentos.” Foi uma tentativa óbvia do inimigo de anular a verdade que tinha sido recentemente recuperada.
Ao mesmo tempo, pouco a pouco, o Sr. Newton introduziu princípios administrativos nas reuniões. Isso foi feito para atender aos seus objetivos pessoais de presidir a assembleia em Plymouth. J. N. Darby relatou que a opressão era tão grande que, ocasionalmente, um irmão simples dava um hino e ninguém começava a cantar. Os mais simples ficaram desanimados e temiam dar um hino depois disso. Em uma ocasião, em uma reunião de oração, o Sr. Newton foi até um jovem irmão que havia dado um hino e tomou o hinário da mão dele! Nas leituras da Bíblia, se alguém lesse apenas alguns versículos relacionados ao assunto em discussão, seria informado que ele poderia ler sua Bíblia em casa e que estava impedindo o ministério. Tornou-se praticamente impossível para os irmãos “não autorizados” ministrarem na assembleia. Outros servos do Senhor foram desencorajados de participar, porque (como o Sr. Newton disse) não era bom para aqueles que estavam sendo ensinados a ouvir a autoridade do mestre sendo questionada se alguém pensasse um pouco diferente; isso poderia colocar em dúvida a credibilidade do mestre. Esse era seu modo de impedir quem desafiasse suas ideias divergentes nas reuniões.
Nos assuntos administrativos da assembleia, ele se tornou um Diótrefes habitual (3 Jo 9-10); ele controlou tudo. Outros de peso e presentes na assembleia saíram e encontraram outros lugares para servir o Senhor. (Naqueles dias havia interesse nas verdades recuperadas em todos os lugares, e as necessidades de ensino excederam em muito o número de obreiros – Mt 9:37; Jo 4:35-38). Isso abriu a porta para o Sr. Newton ganhar a ascensão sobre os irmãos em Plymouth e, portanto, dominar sobre o rebanho (1 Pe 5:3). Ele também tinha um círculo de mulheres que o cercavam, que o elogiavam e se empenhavam em promover seu ministério – enviando cartas e circulando seus folhetos em todo o país. O resultado foi que existia uma condição na qual a assembleia não tinha poder para lidar com sua conduta desordenada, pois ele controlava tudo.
Uma Separação de Irmãos em Plymouth
Depois de esperar no Senhor por cerca de 8 ou 9 meses, e não sem protestos, na esperança de despertar a consciência dos irmãos da Rua Ebrington (onde Newton presidia), cerca de 50 ou 60 pessoas se retiraram da comunhão e começaram a se reunir, primeiro em um quarto alugado e depois no salão da Rua Raleigh. Isso rapidamente cresceu para 100 pessoas. Portanto, uma triste condição de divisão entre irmãos resultou em Plymouth.
Má doutrina Relativa à Pessoa de Cristo
O clericalismo em Plymouth era apenas a crosta na superfície dos maus ensinamentos de B. W. Newton. Pouco depois da cisão, ficou claro que ele estava ensinando sérias doutrinas malignas a respeito da Pessoa de Cristo. Estes foram colocados em folhetos e circulados. Ele ensinou que, porque o Senhor nasceu de uma mulher, ele participou de certas consequências da queda do homem. Uma delas foi a mortalidade! Como todas as outras pessoas na raça caída de Adão, o Senhor Se tornou um herdeiro da morte, nascendo em uma raça que estava sob a morte como penalidade pelo pecado (Gn 2:17). Portanto, quando Ele veio ao mundo, Ele estava em um lugar distante de Deus e teve que encontrar Seu caminho de volta a Deus por meio da obediência à Lei Mosaica. Ao cumprir todos os requisitos da Lei, Deus finalmente o encontrou e deu Sua aprovação pública a Ele no batismo, dizendo: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo.” (Mt 3:16-17). Até aquele momento, diz-se que o Senhor teve as experiências de um homem (um israelita eleito) em Seu estado não convertido, e que Deus teve que repreendê-Lo e castigá-Lo em Sua ira e em Seu desagrado! Mas, ao Se libertar dessa condição por meio da obediência à Lei Mosaica, o Senhor Se qualificou para ser nosso Salvador e ir à cruz para fazer expiação pelo pecado. É desnecessário dizer que essas ideias profanas são blasfemas e tocam a impecabilidade da Pessoa do Senhor.
Um Julgamento Feito em Conexão com a Má Doutrina
Lamentavelmente, várias pessoas em Plymouth aderiram ao Sr. Newton, impressionadas com seu ar de piedade, embora, ao mesmo tempo, apresentassem uma declaração escrita de que não mantinham sua doutrina. A questão então surgiu entre os irmãos em geral: “As assembleias do povo do Senhor em outros lugares poderiam receber uma pessoa vinda daqueles que se reuniram com o Sr. Newton em Plymouth?” Foi realizada uma reunião em Bath (maio de 1848), onde mais de cem irmãos de diferentes partes do país se reuniram para discutir isso. “A Narrativa dos Fatos” (de J. N. Darby) sobre tudo o que aconteceu em Plymouth foi analisada e aceita como real. Homens de julgamento e ensino espirituais concluíram que, à luz de 2 João 7-11, aqueles em associação com o Sr. Newton, embora dissessem ter recusado sua doutrina, tinham, segundo a Escritura, “parte nas suas más obras”. Tais, portanto, não poderiam ser recebidos até que eles tivessem se livrado de suas associações erradas. Assim, como resultado desse julgamento, eles reconheceram a posição daqueles na rua Raleigh e renegaram os da rua Ebrington. Isso foi declarado publicamente e era a opinião comum dos irmãos em geral. (Mencionamos isso para mostrar que não foi “feito às escondidas”, nem foi a opinião de alguns.)
Neutralidade em Betesda
Pouco tempo depois, enquanto irmãos de todas as partes da Inglaterra realizavam reuniões de oração e humilhação por causa do triste trabalho do inimigo em Plymouth, os irmãos de Bristol (Capela de Betesda) receberam na ceia do Senhor vários dos amigos e partidários devotos de Newton! Algumas dessas pessoas eram conhecidas por manter suas más doutrinas, e algumas delas estavam circulando os folhetos do Sr. Newton que continham os falsos ensinamentos! Um deles (o Sr. H. Woodfall) era ancião no salão da rua Ebrington em Plymouth, que também manteve contato com o Sr. Newton por carta depois de se mudar para Bristol. Depois de examinar essas pessoas, os líderes de Betesda declararam que estavam livres de seus falsos ensinamentos e, portanto, os receberam. Esse passo ousado da assembleia em Bristol manifestou um sério equívoco dos princípios da assembleia, e a consequência provou ser desastrosa.
O recebimento dos amigos de Newton foi realizado, mas não sem um protesto piedoso de aproximadamente 50 irmãos em Betesda. Mas quando suas críticas foram ignoradas, eles foram obrigados a se retirar da Capela de Betesda, a fim de evitar a comunhão com o que sabiam estar errado. Um deles (Sr. G. Alexander) imprimiu uma carta para circulação privada explicando suas razões para se separar. Isso provocou uma declaração, assinada pelos dez principais irmãos de Betesda, defendendo e justificando sua conduta em receber os amigos de Newton. Este documento explica detalhadamente o princípio falso em que eles agiram e é uma espécie de declaração pública de seu pecado – embora eles não o vissem como tal. Agora é conhecido como “A Carta dos Dez”.
Por que os líderes de Betesda agiram dessa maneira é difícil afirmar com certeza, pois sabiam do julgamento público dos irmãos que se reuniram em Bath – sendo que ficavam a apenas 16 quilômetros de distância! Alguns pensaram que era porque aqueles que compuseram a assembleia em Betesda (incluindo os líderes) tinham vindo dos Batistas como uma congregação inteira, e não estavam solidamente reunidos no terreno da verdade. (O salão em que eles se reuniam era a Capela Batista independente que eles usavam como Batistas antes de serem recebidos entre os irmãos – o Sr. Muller e o Sr. Craik, os dois irmãos líderes em Betesda, eram os ministros batistas.) Sr. C. H. Mackintosh observou que era sua convicção que era um erro fatal da parte dos irmãos recebê-los como um grupo de pessoas. Ele disse: “O fato é que Betesda nunca deveria ter sido reconhecida como uma assembleia reunida em terreno divino; e isso é comprovado pelo fato de que, quando chamada a agir de acordo com a verdade da unidade do corpo de Cristo, desmoronou completamente. “Sendo recebido em massa, sem o exercício pessoal que deveria acompanhar esse passo, ficou claro que eles não foram fundamentados em princípios de assembleia. Isso os deixou em um certo grau de vulnerabilidade, e o inimigo (Satanás) concentrou seu ataque ali. Talvez possamos dizer que eles saíram dos batistas independentes, mas as ideias batistas independentes não saíram totalmente deles.
Quaisquer que fossem seus motivos, uma coisa é certa – eles não acreditavam que a associação com um mau mestre contaminasse, e isso os levou a um curso falso de independência que teve consequências não intencionais, mas sérias. Suas ações na questão de receber os amigos e partidários de Newton tornaram evidente que eles não eram claros quanto aos princípios bíblicos da comunhão Cristã. Isso é visto na declaração dos líderes em seu documento assinado pelos “dez”, que diz: “Supondo que o autor dos folhetos fosse fundamentalmente herético, isso não nos justificaria rejeitar aqueles que vieram sob seus ensinamentos, até que estavam satisfeitos por entenderem e absorverem visões que eram essencialmente subversivas da verdade fundamental”.
Desnecessário dizer que isso causou um tumulto entre os irmãos em geral. Quando os líderes em Betesda souberam que sua conduta estava sendo questionada por irmãos de outros lugares, uma reunião da assembleia na Capela de Betesda foi convocada com o objetivo de fazer com que a assembleia (1.200 pessoas) endossasse formalmente “A Carta dos Dez”. Mas, quando alguns na assembleia se opuseram à congregação sancionar um documento que não havia sido explicado nem entendido pela maioria deles, o Sr. Muller levantou-se e disse: “A primeira coisa que a igreja tinha que fazer era limpar os signatários do documento; e que, se isso não fosse feito, eles não poderiam continuar a trabalhar entre eles.” Assim, as pessoas foram obrigadas, sob a pena de perder o trabalho de seus pastores, a apoiar o curso de ação que os líderes haviam adotado ao receber os seguidores do Sr. Newton. Sob a pressão desse ultimato, a assembleia na Capela de Betesda concordou e, levantando-se, deram seu voto de aprovação ao documento!
Ao adotar formalmente este documento, a assembleia de Betesda assumiu uma posição neutra entre o autor dos folhetos (e seus adeptos) e os que rejeitaram completamente seus ensinamentos por serem blasfemos. Na verdade, eles declararam: “Não achamos que seria bom nos identificarmos com nenhuma das partes” – referindo-se aos dois grupos de irmãos em Plymouth. A “História dos Irmãos” do Sr. Neatby diz: “Quando o Sr. Darby começou a segunda reunião em Plymouth em 1845, a assembleia (Betesda) em Bristol não tomou partido, mas recebeu a comunhão crentes, livres de erros, de ambas as reuniões.” Independentemente de quantas reclamações tenham chegado a Betesda de irmãos exercitados na área e em outros lugares, eles insistiram em que uma pessoa deve “sustentar, manter e defender” as más doutrinas de um mestre antes de ser contaminado por elas.
A Má Doutrina de Newton Havia Afetado Betesda?
Os líderes em Betesda insistiram que a assembleia não tinha sido contaminada pelas ideias falsas de Newton sobre a humanidade do Senhor, mas temos razões para questionar se isso é verdade. Foi relatado que o Sr. H. Craik (o primeiro signatário da “Carta dos Dez” e um dos dois ministros principais em Betesda) disse que a humanidade do Senhor era de tal natureza que Ele teria morrido na velhice, e que se Ele tivesse bebido um copo de veneno, este O teria matado! O Sr. Wigram escreve: “Ele [Sr. Craik] disse com muita veemência noutro dia, que J.N.D. e seus seguidores fizeram muito da humanidade do Senhor Jesus, e que ele acreditava que, se o Senhor não tivesse sido crucificado, Ele teria vivido para ser um velho enrugado, e morreria de morte natural!” O Sr. Trotter (comentando a observação do Sr. Craik) disse: “O que ele diz da humanidade do Senhor não deixa margem para dúvidas de que ele simpatiza, em grande parte, com os pontos de vista nada saudáveis do Sr. Newton.”
Está claro nas afirmações do Sr. Craik que ele acreditava que a alma e o espírito do Senhor não eram afetados pelo pecado na criação, mas Seu corpo era. No entanto, quando falamos da humanidade sem pecado de Cristo, ela abrange não apenas Sua alma e espírito, mas também Seu corpo, pois a humanidade envolve essas três partes. Lucas 1:35 diz: “pelo que também o Santo**, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.”** Isso mostra que a humanidade do Senhor – que inclui Seu corpo – era **“santa”** e não podia ser afetada pelo pecado. Portanto, em todo o Seu contato com o pecado na criação, Ele permaneceu **“imaculado”** (Hb 7:26).
Além disso, o Sr. Trotter relata que era bem conhecido que outro dos signatários da “Carta dos Dez” (Sr. Aitchison) concordou com o Sr. Newton sobre seus pontos de doutrina errôneos e foi mencionado em um folheto pelo Sr. Groves (cunhado do Sr. Muller e defensor de Betesda) como um dos “amigos” do Sr. Newton!
Também, o Sr. Muller, o principal ministro de Betesda (e outro signatário da “Carta”), disse que não podia chegar ao ponto de dizer que o Sr. Newton era um herege e que não podia se recusar a chamá-lo de irmão! Ele também declarou abertamente que J. L. Harris estava fazendo um trabalho obscuro nos passos que deu para expor os erros de Newton. Enquanto o Sr. Muller assinou o documento que denunciou os ensinamentos de Newton publicamente, ele escreveu em particular: “Considero os escritos do Sr. Newton os mais sólidos e escriturísticos, e minha esposa e eu temos o hábito de lê-los, não apenas com o mais profundo interesse, mas com grande proveito para nossas almas. Seus livros são certamente muito valiosos, pois exaltam a pessoa e a obra de nosso bendito Senhor Jesus Cristo… Considero o Sr. Newton o escritor mais preciso sobre temas religiosos do século XIX.” Perguntamos: “Essas declarações não provam que o Sr. Muller estava cego aos erros desse mau mestre?”
Para dar um exemplo do caráter da reunião em Betesda, o Sr. Darby relatou: “Uma senhora queria apresentar o Sr. Newton para ensinar onde ela reunia perto de Betesda; esta reunião recusou; em consequência disso ela deixou a reunião. Ela foi apresentada [recebida] em Betesda, com o Sr. Muller sabendo que ela estava mantendo e propagando a doutrina; o Sr. Craik, o outro pastor, a interrogou. Ela foi para lá porque era sabido que eles admitiam essas pessoas naquela reunião.”
Um historiador recente dos “Irmãos” (Sr. Jonathan D. Burnham), relata em seu livro (“Uma História de Conflito”) que, finalmente, “os líderes dos Irmãos Abertos o viram [Sr. Newton] sob uma luz mais positiva aceitando sua Cristologia modificada”.
Um Partido de Newton Entre os de Betesda
Não demorou muito para que um partido real se manifestasse entre os de Betesda, e eles provaram ser fortes defensores do Sr. Newton! O Sr. Kelly relatou: “Posteriormente, um partido [em Bristol] foi formado, um prédio público foi usado e o Sr. Newton estava lá, e dois dos ‘Dez’ (Srs. A. e W.) se encontravam no meio deles! O movimento falhou; e esses dois líderes, para não falar de outros (após a estrondosa denúncia de Betesda da blasfêmia newtoniana e após a associação pública desses homens com o Sr. N.) foram autorizados a retornar a Betesda, sem a menor confissão de seu pecado notório e flagrante! Tudo o que eles reconheceram foi o erro de ter deixado Betesda; mas não lhes pediram, nem deram, uma expressão de tristeza pela iniquidade de confraternizar com alguém que ainda mantinha as principais partes de sua heterodoxia1 a respeito de Cristo. E isso depois das sete reuniões!
Fica claro a partir de tudo isso que os líderes da assembleia de Betesda foram definitivamente afetados pelos ensinamentos errôneos do Sr. Newton. Isso nos leva a perguntar: “Se os líderes foram afetados pelas crenças de Newton, quantos outros na Capela de Betesda foram afetados de maneira semelhante?”
Falta de Retidão
Parece que havia uma séria falta de retidão no assunto desde o início. Isso pode ser visto nos signatários da “Carta dos Dez”, afirmando: “Houve tanta variabilidade nos pontos de vista do escritor em questão, que é difícil determinar o que ele agora reconheceria como dele”. Assim, eles se desculparam dizendo que era muito difícil alguém realmente saber o que o Sr. Newton mantinha e, portanto, eles eram incapazes de julgar adequadamente seus escritos. Mas isso apenas condena declarações anteriores deles na mesma carta que indicam que eles sabiam e declaravam negar seus ensinamentos! Eles disseram: “Nós negamos totalmente a afirmação de que o bendito Filho de Deus estava envolvido na culpa do primeiro Adão; ou que Ele nasceu sob a maldição da lei violada… Rejeitamos totalmente o pensamento de que Ele já teve as experiências de uma pessoa não convertida.” Mas como eles poderiam “negar totalmente” os ensinamentos do Sr. Newton se eles não tinham certeza do que eram esses ensinamentos?
Além disso, o Sr. Trotter aponta para a inconsistência dos líderes em Betesda em ter um dos “amigos” de Newton que concordou com suas doutrinas errôneas (Sr. Aitchison) assinando a “Carta” que repudiava as doutrinas de Newton. O Sr. Trotter nos pede que consideremos a situação: “Dez homens assinam um documento no qual negam as opiniões mantidas e conhecidas por pelo menos um dos que a assinaram!”
Quando as coisas esquentaram em Betesda, eles tiveram sete reuniões de assembleia para examinar e julgar formalmente o mal dos ensinamentos de Newton e, assim, colocar distância entre Betesda e o mau mestre. Como eles foram capazes de julgar seus ensinamentos depois de dizer que era difícil alguém saber se o que ele realmente ensinou é desconhecido. Em sua declaração escrita, eles dizem que “todos os amigos de Newton em Betesda” haviam se retirado da comunhão. Eles os listam como: “Capt. Woodfall, Sr. Woodfall, Sr. Aitchison e sua esposa, Sra. Brown, as duas senhoras Farmers e as duas irmãs Percival.” Mas, ao fazer isso, estavam admitindo que o Sr. Aitchison (um dos signatários) era de fato um amigo simpatizante do Sr. Newton! E que os outros eram de fato os apoiadores do Sr. Newton – dos quais eles anteriormente insistiram que não foram contaminados por ele e os receberam! Por que não houve confissão ou expressão de tristeza na declaração por ter recebido erroneamente essas nove pessoas? E mesmo assim, eles não foram excomungados, mas simplesmente “solicitados” a se retirarem da comunhão.
O que, podemos perguntar, aconteceu com os Woodfall e os outros “amigos” e simpatizantes do Sr. Newton depois que eles se retiraram de Betesda? Eles voltaram para o Sr. Newton! Isso confirma sua lealdade a ele, mesmo que os líderes em Betesda tenham declarado que estavam livres dele e de suas más doutrinas.
Essas coisas fazem com que um investigador honesto se pergunte se aqueles em Betesda estavam realmente seguindo “a justiça, a fé, a caridade, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22).
Divisão Entre os Irmãos
O resultado da ação em Betesda foi uma divisão geral. Isso despedaçou os irmãos e causou tristeza indescritível e problemas que tocaram amizades e dividiram famílias. Várias reuniões em todo o país seguiram o exemplo de Betesda, enquanto outras mantiveram firmemente a posição que ocupavam anteriormente.
Aqueles que se defenderam e se alinharam com Betesda ficaram conhecidos como “Irmãos Abertos”. O nome provavelmente veio de seu novo princípio, envolvendo a recepção daqueles em associação com um mau mestre. Aqueles que rejeitaram o falso princípio de associação foram chamados de “Irmãos Exclusivos”. Isso ocorreu porque eles assumiram a posição de que a associação com o mal contamina, e isso era exclusivo demais para alguns.
O que a Escritura Ensina?
A afirmação que Betesda apoiou e defendeu (e os Irmãos Abertos ainda o fazem) é que a associação com um mau mestre não era suficiente para contaminar uma pessoa, e não lhe podia ser recusada a comunhão. Isso, no entanto, está em contradição direta com a Palavra de Deus, que diz: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (2 Jo 10-11). O apóstolo João deixou claro que a senhora eleita seria contaminada por receber o mau mestre – mesmo que ela própria não estivesse apoiando sua doutrina!
A escritura também diz: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). Isto foi dito aos coríntios em relação a eles inadvertidamente adotarem má doutrina a respeito da ressurreição por não terem tomado cuidado com suas associações. Isso mostra que a associação com aqueles que têm má doutrina acabará nos corrompendo.
Uma figura do Velho Testamento ilustra esse ponto. Quando Acã “tomou do anátema” dos escombros de Jericó, o Senhor disse a Josué: “Israel pecou” (Js 7:1, 11). Os filhos de Israel foram acusados do pecado de Acã, apesar de não cometerem o pecado dele! No entanto, Deus os considerou responsáveis por sua identificação com ele.
Vemos o que o Senhor pensa sobre a associação com um mau mestre no relato do “velho profeta” de Betel (1 Rs 13:11). O jovem profeta de Judá que foi a Betel não manteve nem apoiou o sistema de adoração maligno e divergente ali – na verdade, sua missão era clamar contra isso, o que fez. No entanto, por ter comunhão casual com o velho profeta nessa posição falsa, ele desobedeceu à Palavra do Senhor, e o Senhor mostrou seu grande desagrado por encerrar o serviço profético do jovem profeta de uma maneira muito dramática.
Veja também Ageu 2:11-13. “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes, acerca da lei, dizendo: Se alguém leva carne santa na aba do seu vestido, e com a sua aba tocar no pão, ou no guisado, ou no vinho, ou no azeite, ou em qualquer outro mantimento, ficará este santificado? E os sacerdotes, respondendo, diziam: Não. E disse Ageu: Se alguém, que se tinha tornado impuro pelo contato com um corpo morto, tocar nalguma destas cousas, ficará isso imundo? E os sacerdotes, respondendo, diziam: Ficará imunda.” O profeta fez duas perguntas das quais aprendemos uma lição em dois ângulos diferentes. A primeira é: se o que é santo entra em contato com o que é profano, a coisa santa limpará a coisa profana? A resposta é: o que é santo não pode purificar o que é impuro por associação a ele. A segunda pergunta é: se o que é impuro entra em contato com o que é santo, a coisa sagrada ainda será santa? A resposta é: o que é impuro contaminará o que é limpo por associação a ele, tornando-o também impuro. Portanto, a santidade não pode ser transmitida àquilo que é profano pelo contato com eles, e a santidade será comprometida apenas pelo contato com o que é profano.
Quão Sério é Isso?
Um homem mancha a glória de Cristo ensinando coisas que são blasfemas e depreciativas para Sua Pessoa. Não é uma observação inadvertida, mas um sistema de má doutrina que ataca a impecabilidade de Cristo. Para mostrar nossa lealdade a Cristo e devoto zelo por Sua glória, a Escritura nos diz para não termos nada a ver com tal mestre. Mesmo associar-se a ele mostraria uma descuidada desconsideração por Cristo (2 Jo 9-11). Amenizar esse tipo de mal recebendo aqueles que estão em comunhão com um mau mestre é realmente uma indiferença a Cristo. Este erro é a raiz da divisão de Betesda.
Uma Recepção Aberta
Foi dito corretamente que a doutrina errada leva à prática errada (2 Tm 2:16). Esse é certamente o caso dos falsos ensinamentos dos Irmãos Abertos de que a associação com a má doutrina não contamina a pessoa. Isso os levou a praticar a recepção aberta à ceia do Senhor. Se a raiz da divisão de Betesda é a indiferença a Cristo, o fruto é a prática da recepção aberta.
A respeito dos princípios de recepção, o Sr. A. N. Groves (considerado por alguns como um dos que deram origem aos Irmãos Abertos) disse; “Eu INFINITAMENTE OS AGUENTARIA com todo o mal deles, em vez de me SEPARAR do BEM que possuem… de acordo com meus princípios, eu recebo a todos eles.” (As maiúsculas são do Sr. Groves). Esta afirmação resume a posição dos Irmãos Abertos. O Sr. F. F. Bruce (um historiador dos Irmãos Abertos) confirma isso, afirmando: “Suas palavras [do Sr. Groves] expressam a atitude que os Irmãos Abertos reconhecem como seu ideal.”
Como não queremos acusar injustamente os Irmãos Abertos nesse assunto, nos apressamos em dizer que isso se aplica particularmente ao braço “liberal” (as Capelas) hoje. Em certo sentido, eles realmente não têm princípios de recepção ou, se o fazem, é mínimo na maioria das assembleias. Como cada assembleia age de maneira independente, algumas podem ser um pouco mais cuidadosas do que outras, mas geralmente, se uma pessoa diz que é Cristã, é imediatamente permitido a ela partir o pão com eles. Acreditam que a assembleia se limpa afirmando que cada indivíduo é responsável por se examinar nesse assunto e que não é responsabilidade da assembleia examinar as pessoas. Para apoiar isso, eles usam 1 Coríntios 11:28: **“**Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice”.
Embora seja verdade que cada pessoa deve se examinar antes de comer a ceia do Senhor, 1 Coríntios 11:28 não está ensinando que a assembleia deve ter uma recepção aberta à ceia. Seria uma clara contradição das Escrituras que ensinam que a assembleia é responsável por julgar o mal em seu meio (1 Co 5:12). O princípio é simples: se uma assembleia local é responsável por julgar o mal em seu meio, segue-se naturalmente que deve ser cuidadosa com o que ou a quem ela traz em seu meio. Portanto, é necessário cuidado na recepção.
Visto que a pureza deve ser mantida na assembleia (Sl 93:5), quando alguém deseja partir o pão à “mesa do Senhor” (1 Co 10:21), a assembleia deve tomar cuidado para não trazer alguém à comunhão que possa estar envolvido com o mal; seja moral, doutrinal ou eclesiástico. Foi dito com razão que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta, nem uma comunhão fechada, mas sim, ter uma comunhão vigiada. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todo membro do corpo de Cristo, a quem a disciplina bíblica não proíbe. Embora cada Cristão tenha o privilégio de estar à mesa do Senhor, nem todo Cristão tem necessariamente o direito de estar lá, porque esse privilégio pode ser confiscado por seu envolvimento em algum mal.
Visto que a Palavra de Deus não se contradiz, 1 Coríntios 11:28 deve estar se referindo a algo que não seja a recepção à mesa do Senhor. Um exame mais atento do contexto do capítulo nos permite ver que o versículo não se refere àqueles que gostariam de estar em comunhão à mesa do Senhor, mas àqueles que já estão em comunhão ali. É simplesmente dizer que cada um que está em comunhão tem a responsabilidade de se julgar antes de participar da ceia do Senhor. É algo como um comando que os pais dão aos filhos antes de se sentarem para jantar. Eles dizem: “Certifique-se de lavar as mãos antes de se sentar”. Este comando se aplica às crianças que estão nessa família e que comem nessa mesa. Não se refere aos vizinhos na rua. É o mesmo na assembleia; os que estão em comunhão à mesa do Senhor são exortados a se examinar antes de participar da ceia.
Os Irmãos Abertos são rápidos em apontar que a pessoa que não se julga antes de comer da ceia come e bebe “para sua própria condenação (juízo – ARA)” – não para juízo da assembleia (1 Co 11:29). Isso é usado para provar que a assembleia está supostamente livre de responsabilidade neste assunto. É verdade que a pessoa trará juízo sobre si mesma, mas a mesma passagem nos diz que também poderia haver resultados colaterais sentidos por aqueles na assembleia, como uma ação governamental de Deus. A mesma passagem diz: “Por causa disto, há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (v. 30). Não há menção de que essas pessoas foram as próprias transgressoras nas más ações. Faziam parte da assembleia em Corinto e, ao serem identificadas com aqueles que estavam comendo e bebendo indignamente, sentiram a mão de Deus no julgamento governamental. Veja o exemplo no tipo dos 36 homens que morreram ao lutar em Ai (Js 7:5). Esses homens não eram culpados de tomar do anátema, como Acã, mas, sendo identificados externamente com ele, Deus permitiu que caíssem na batalha.
Podemos nos perguntar por que Deus permitiria que Seu julgamento governamental tocasse alguém na assembleia que não fosse diretamente responsável por comer e beber indignamente. Acreditamos que é porque estamos todos no mesmo vínculo da comunhão prática, e o que envolve a pessoa afeta a todos. Isso não deve nos assustar, porque podemos ter certeza de que, seja o que for que o Senhor permita tocar Seu povo, vai acontecer se isso for “necessário” (1 Pe 1:6) para eles e com um propósito de amor de Sua parte (Hb 12: 6). No entanto, deve nos exercitar sobre a manutenção de um bom estado espiritual. E também devemos nos preocupar com o estado de nossos irmãos com quem estamos em comunhão. Somos o “guardador de” nossos irmãos (Gn 4:9) e temos responsabilidade uns pelos outros. Saber que a mão do Senhor estará sobre nós coletivamente, se nós, como companhia, não prosseguirmos bem, deve nos motivar a pastorear aqueles que estão descuidados na vida pessoal.
Quem Decide
Quem Deve Estar em Comunhão?
É importante entender que os irmãos na assembleia não decidem o que é e o que não é adequado para a mesa do Senhor; a Palavra de Deus o faz. Isso ocorre porque não é a mesa dos irmãos: é “a mesa do Senhor”. Preferências pessoais, gostos e aversões daqueles na assembleia não têm nada a ver com recepção; a Palavra de Deus decide tudo. Quando não há razão bíblica para que uma pessoa seja recusada, ela é recebida. Se um crente foi batizado, é fiel na fé e piedoso no caminhar, não há razão para que ele seja recusado. O conhecimento da Escritura não é um critério. Uma pessoa pode ser um crente simples, mas a Escritura diz: “Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões” (Rm 14:1 – ARA).
No entanto, frequentemente não é possível determinar, imediatamente, se alguém é sólido na fé e piedoso no andar. Quanto maior a confusão e o erro no testemunho Cristão ou no mundo dos quais uma pessoa vem, mais difícil de determinar essas coisas. Sendo assim, a sabedoria ditaria que a assembleia pedisse à pessoa que desejasse estar em comunhão que esperasse um pouco. Isso não significa que a assembleia esteja dizendo que a pessoa está conectada com o mal. Ele poderia estar, mas eles simplesmente não sabem, e devem esperar até estarem satisfeitos que ele não está; pois eles são, em última análise, responsáveis perante Deus, por quem trazem à comunhão. As escrituras dizem: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios” (1 Tm 5:22). Embora este versículo se refira principalmente a amizades pessoais, ele nos dá um princípio pelo qual a assembleia pode ser guiada na recepção. Não deve ofender uma pessoa madura e piedosa, pois nenhum Cristão piedoso esperaria que a assembleia viole um princípio da Escritura. De fato, deve dar-lhe confiança de que ele está entrando em uma comunhão onde há uma preocupação pela glória do Senhor e pela pureza da assembleia.
Os Testemunhos Pessoais são Suficientes?
Os Irmãos Abertos essencialmente recebem pessoas para a ceia do Senhor com base no testemunho da própria pessoa. Mas não é isso que a Escritura ensina. Uma assembleia, funcionando conforme a Escritura, não faz nada pela boca de uma testemunha. Tudo deve ser feito de acordo com o princípio: “Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra” (2 Co 13:1). Compare também João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Portanto, a assembleia não deve receber pessoas com base em seu próprio testemunho. E especialmente quando todos os homens tendem a dar um bom relato de si mesmos, como diz a Escritura: “Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos” (Pv 16:2). E novamente: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória” (Jo 7:18). É por isso que uma pessoa que deseja entrar em comunhão pode ser solicitada a esperar quando a assembleia não souber nada sobre ela. Uma vez que a assembleia local tenha conhecido uma pessoa que deseja estar em comunhão, ela poderá recebê-la com base no testemunho de outras pessoas.
Este é um princípio que se estende por toda a Escritura. Até o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, se submeteu a esse princípio quando se apresentou a Israel como seu Messias. Ele disse: “Se eu testifico de Mim mesmo, o Meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31). Ele então deu quatro outras testemunhas que testemunharam a respeito de quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Embora tenha muitas testemunhas de Seu Messiado, o Senhor advertiu os judeus de que chegaria um dia em que eles, como nação, receberiam um falso messias (anticristo) sem testemunho. Ele disse: “se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5:43). Assim, o Senhor condenou a prática de receber alguém em seu próprio testemunho.
Os filhos de Israel falharam nesse mesmo ponto quando receberam os gibeonitas no próprio testemunho deles (Js 9). Isso está registrado na Escritura para nos alertar sobre o perigo de tal prática.
Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a Igreja primitiva teve ao receber alguém em sua comunhão que tinha alguma história de oposição à verdade. Quando Saulo de Tarso foi salvo, ele desejou entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, mas foi recusado. Embora tudo o que ele possa ter dito aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal fosse verdade, ele ainda não foi recebido em seu próprio testemunho. Não foi senão após Barnabé pegar Saul e levá-lo aos irmãos, e testemunhar a fé e o caráter de Saul – para que houvesse o testemunho de dois homens – que eles o receberam. Depois disso, ele “andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo” (At 9:28). Se a Igreja primitiva não recebeu Saulo de Tarso imediatamente, certamente os Cristãos de hoje não podem esperar ser recebidos imediatamente quando desejam estar em comunhão.
Outra figura do Velho Testamento ilustra esse mesmo cuidado em receber. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino na Terra onde o Senhor havia colocado Seu Nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia um grande perigo dos inimigos ao seu redor. Consequentemente, eles não abriam os portões para permitir que as pessoas entrassem na cidade “até que o Sol” aquecesse [literalmente – meio dia] (Ne 7:1-3). Eles se certificavam de que não havia vestígios de escuridão antes de receberem pessoas na cidade. Até aquele momento, eles faziam aqueles que queriam entrar na cidade “aguardar” ou esperar. À medida que a escuridão na Cristandade cresce nestes últimos dias, esse tipo de cuidado deve ser exercido ao se receber alguém. Veja o mesmo princípio em 1 Crônicas 9:17-27 (“porteiros”).
Somos gratos por dizer que os princípios de recepção praticados pelo braço mais conservador dos Irmãos Abertos estão muito mais próximos da Escritura. Definitivamente, eles examinam aqueles que os procuram desejando estar em comunhão e, para todos os efeitos, são cuidadosos em receber. Mas, é triste dizer que eles ainda defenderão o princípio original de Betesda e insistirão em que uma pessoa só está contaminada pelas más doutrinas de um mestre, sustentando-as, mantendo-as e defendendo-as – não por mera associação com o mau mestre. Isso significa que a porta ainda está aberta para o mal entrar indiretamente, como aconteceu com Betesda.
A Questão da Identificação com Betesda
Como era então, agora é com os Irmãos Abertos. O falso princípio ao qual eles devem sua origem foi mantido ao longo de sua história. Vários anos após a divisão, o Sr. Muller disse que se eles estivessem nas mesmas circunstâncias novamente, seguiriam o mesmo caminho!
Cerca de 30 anos após a divisão, outro líder entre os Irmãos Abertos (James Wright) declarou: “Não devemos nos recusar a receber alguém que tínhamos razões para acreditar que era pessoalmente sadio na fé e consistente na vida, apenas porque ele ou ela ter comunhão com um corpo de Cristãos que permitiria ao Sr. Newton ministrar entre eles.”
Pouco mais de 75 anos após a divisão, um livro apresentado pelos Irmãos Abertos intitulado “Os Princípios dos Irmãos Cristãos” declara: “A Igreja Betesda, na qual os Srs. Muller e Craik ministravam, recusou-se a admitir qualquer pessoa condenada por manter má doutrina, mas não excluíram os que vieram da reunião do Sr. Newton.” J. R. Caldwell (editor de “The Witness”), um proeminente líder entre os Irmãos Abertos, endossou o livro como sendo “o mais simples, porém, mais abrangente relato dos chamados ‘Irmãos Abertos’ que temos visto. Ele afirma a história do movimento, as principais doutrinas que foram mantidas e disputadas por mais de oitenta anos.”
Alguns anos atrás, um irmão (um “ancião”, como ele disse) nos Irmãos Abertos – na tentativa de distinguir o braço mais conservador (no qual ele estava em comunhão) do braço mais liberal – disse orgulhosamente: “Nós somos os originais Irmãos abertos.”
Assim, nessas declarações dos líderes dos Irmãos Abertos, temos uma cadeia histórica de evidências que mostra que eles ainda sustentam, defendem e mantêm o princípio do mal introduzido por Betesda. Com isso, eles provam ser os filhos espirituais de Betesda e, portanto, estão em comunhão com seu erro e culpa.
O grande ponto a ser visto aqui é que aqueles que estão em comunhão com os Irmãos Abertos hoje estão em comunhão com o falso princípio de Betesda. A maioria – se eles são fiéis às suas crenças de que a associação com o mal não contamina uma pessoa – rejeitará qualquer noção de sua identificação com a culpa de Betesda. Eles dirão: “O que isso tem a ver conosco hoje?” No entanto, a passagem do tempo não altera os atos morais e suas consequências. Os judeus de hoje (em relação ao pecado nacional) estão basicamente dizendo a mesma coisa. Eles perguntam: “O que o povo judeu hoje tem a ver com o pecado passado da nação em crucificar a Cristo?” A Escritura responde: “Deus pede conta do que passou” (Ec 3:15). (Citamos este versículo para o princípio envolvido, porque o contexto tem a ver com algo completamente diferente.)
Cabe às pessoas retas e exercitadas julgar o falso princípio sobre o qual Betesda agiu e se afastar da posição dos Irmãos Abertos que defendem e praticam esse princípio. Assim, eles se limpariam de sua associação com eles. Por que alguém iria querer se identificar com um grupo de assembleias que tiveram esse tipo de começo e são diretamente responsáveis por uma divisão entre o povo do Senhor?
Capítulo Dois
PRINCÍPIO nº 2
A Independência (Autonomia) das Assembleias
Outro princípio que os Irmãos Abertos se deparam, que passamos a examinar agora, é que cada assembleia local é autônoma (independente). Eles acreditam que a assembleia local deve levantar e agir por si mesma e é diretamente responsável perante o Senhor, não tendo conexão corporativa com nenhuma outra assembleia. Cada assembleia, portanto, não é responsável nem ligada pelas ações administrativas de outras assembleias com as quais possa estar em comunhão. Portanto, os Irmãos Abertos às vezes têm sido chamados de “Irmãos Independentes” – na verdade, eles preferem ser chamados assim. Novamente, nossa pergunta é simples: este princípio está de acordo com a Palavra de Deus?
Um Novo Abandono
A origem do princípio da autonomia remonta a Betesda. Ela claramente desistiu do terreno em que professava ocupar comunhão com irmãos em outros lugares e adotou a independência como o princípio em que se apoiava – e depois assumiu isso abertamente. O princípio da independência das assembleias em que atuaram está claramente indicado na “Carta dos Dez”. Ela diz: “Não sentimos que porque erros podem ser ensinados em Plymouth ou em outro lugar, que somos por isso, como um corpo, obrigados a investigá-los.” Eles também disseram: “O que temos nós em Bristol a ver com os erros ensinados em Plymouth?” O fato de não considerarem o julgamento dos irmãos em Bath em relação à Rua Ebrington (Plymouth) e seguir em frente ao receber partidários de B. W. Newton, mostra que eles não viram nenhuma responsabilidade corporativa de agir em sintonia com seus irmãos e, assim, guardar “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef. 4:3). Não foi até algum tempo depois, que eles realizaram as sete reuniões da igreja para examinar os ensinamentos de Newton, e formalmente declararam a Rua Ebrington como uma assembleia com a qual eles já não estavam mais em comunhão.
Robert Baylis confirma esse novo abandono em seu livro “My People” (uma história dos irmãos do ponto de vista “aberto”). Ele levanta a questão de qual lado manteve os primeiros princípios após a divisão. Ele pergunta: “Qual ramificação realmente seguiu os princípios originais estabelecidos na primeira ou segunda década? Quem os Irmãos Independentes devem considerar hoje o modelo para a liderança dos Irmãos: Sr. Darby, com sua federação mundial de Exclusivos, ou Anthony Groves, cujas ideias foram postas em prática em Betesda em Bristol?” Baylis conclui erroneamente que os irmãos devem seguir as ideias do Sr. Groves e modelar suas assembleias segundo seus princípios. Mas, ao afirmar isso, ele deixa claro que eles não começaram a praticar a independência (o princípio da autonomia) até que o assunto em Betesda surgiu! Ele diz que foi o primeiro a ter “colocado em prática” naquele momento! Aqui temos de sua própria boca que foram os Irmãos Abertos que realmente os responsáveis por um novo abandono na doutrina e na prática da Igreja.
O falso princípio de independência no qual Betesda agiu é vigorosamente confirmado nos escritos dos Irmãos Abertos desde aquele dia até agora, e é praticado regularmente entre eles. Nossa pergunta é: “A Escritura ensina que cada assembleia é independente, e que os julgamentos administrativos de cada uma têm efeito em outras assembleias com as quais estão em comunhão?”
O que as Escrituras Ensinam?
Voltando à Escritura, vemos que ela não se refere aos Cristãos como sendo “membros” de uma assembleia local, embora as pessoas muitas vezes o façam por engano. A única associação de membros que a Escritura reconhece é no corpo de Cristo (Rm 12:5; 1 Co 12:12-27; Ef. 5:30). Este é um vínculo universal que abrange todos os verdadeiros crentes da Terra; todo Cristão na Terra faz parte dessa associação.
Uma Comunhão Universal de Crentes
A escritura também ensina que, como o vínculo entre os membros do corpo de Cristo é universal, a comunhão deles também deve ser universal. Consequentemente, a Escritura diz: “Fiel é Deus, pelo Qual fostes chamados para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1 Co 1:9). Embora Paulo estivesse escrevendo para os santos em Corinto, não há menção de essa comunhão ser algo local em Corinto. De fato, ao abordá-los em questões de ordem de assembleia e comunhão, o apóstolo disse: “… com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:2). Ele cuidadosamente ligou os que estavam em Corinto às outras assembleias na Terra como parte de uma comunhão. O desejo de Deus é que todo Cristão ande nesta comunhão, independentemente de onde ele esteja na Terra.
A Escritura indica que, embora possa haver muitas reuniões de Cristãos em uma cidade, elas são vistas como uma assembleia. Por exemplo, Paulo se dirigiu aos coríntios como “a igreja de Deus que está em Corinto” (1 Co 1:2), embora mais tarde na epístola ele reconheceu que nem todos eles se encontravam “em um só lugar” na cidade (1 Co 14:23). Isso é visto novamente com a assembleia em Jerusalém. Em Atos 2:47, diz: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja [juntos2 – JND] aqueles que se haviam de salvar”. Eles partiam o pão em muitos locais de reunião na cidade, mas faziam isso como estando “juntos” em uma comunhão.
É visto novamente em Atos 9:31: “Assim, pois, tinha paz a Igreja por toda a Judeia, Galileia e Samaria, sendo edificada e caminhando no temor do Senhor, e crescia no conforto do Espírito Santo” (TB). A versão King James e a Almeida Revista e Corrigida erroneamente traduzem como “as igrejas”, mas deveria ser, “a Igreja”. Havia muitos locais de reunião nessas regiões, mas esses locais são referidos simplesmente como “a Igreja”, indicando única comunhão de Cristãos que existia nessas regiões.
E novamente, em 2 Coríntios 3:3, Paulo fala dos muitos crentes em Corinto como “a carta de Cristo”. Nota: a palavra “carta” é singular; não são “cartas”, como a maioria das pessoas equivocadamente mencionam. A intenção é retratar a unicidade deles.
Mateus 18:15-20 é a primeira menção da assembleia local na Escritura, e vemos o Senhor aludindo ao pensamento de unidade prática entre os reunidos ao Seu nome. Mateus 18:20 diz: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em [são3 colocados juntos para o – JND] Meu nome, aí, estou Eu no meio deles”. Ele desejou que todos aqueles a quem o Espírito de Deus reunia para o Seu nome, onde quer que estivesse na Terra, estivessem “juntos”. Ele não poderia ter pensado que todos deveriam estar reunidos em um único local geográfico, como era no judaísmo em Jerusalém. O Senhor estava indicando que eles deveriam agir juntos, com todos os outros naquele terreno em que os reuniu (mesmo que eles estivessem em diferentes localidades), de modo a expressar universalmente que eles eram um. Portanto, desde o início do ensino da assembleia na Escritura, existe o pensamento de haver uma comunhão universal dos santos na Terra.
Agora, alguém pode pensar que estamos lendo mais nesta palavra “juntos” (em Mateus 18:20) do que aquilo que ela quer significar, mas quando nos voltamos para o livro de Atos e as epístolas, como estamos prestes a fazer, e essa Escritura é interpretada à luz de todo o teor da revelação Cristã, podemos ver que o Senhor estava indicando a verdade da unidade da Igreja. Isso é apenas sugerido aqui em Mateus 18, porque os discípulos ainda não tinham o Espírito e não seriam capazes de absorver o sentido (Jo 14:25-26, 16:12). O Senhor fez isso em muitas ocasiões em Seu ministério, dando apenas a semente de uma verdade e deixando que ela se desenvolvesse por meio dos apóstolos quando o Espírito veio.
Em João 10:16, o Senhor indica que Ele iria reunir Seu povo em **“**um rebanho”. Nota: Ele não diz que queria que eles fossem encontrados em vários rebanhos independentes, mas que todos seriam “um”, independentemente de onde possam ser encontrados na Terra. Haveria muitas reuniões, mas apenas um rebanho – apenas uma comunhão universal de santos.
Em João 11:51-52, Deus levou Caifás a profetizar de Sua intenção de “colocar juntos em um os filhos de Deus, que andavam dispersos” (JND) depois que o Senhor realizou a redenção. Além disso, o Senhor orou para esse fim, dizendo: “Pai santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um**, assim como Nós..”** E, novamente, **“para que todos sejam** um**, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam** um **em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste”** (Jo 17:11, 21). Esses versículos no evangelho de João falam da unidade na família de Deus. Eles mostram que o desejo de Deus pelo Seu povo é que eles sejam encontrados juntos em uma unidade visível na Terra, independentemente de onde estejam geograficamente.
Os membros do corpo de Cristo devem expressar visivelmente a verdade de que eles são “um só corpo”
Além disso, a Escritura indica que o “um só corpo” de Cristo (Ef. 4:4) é o terreno sobre a qual a Igreja deve se reunir localmente para adoração, ministério, comunhão e ações administrativas de disciplina. Portanto, uma assembleia reunida biblicamente expressará essa verdade com outras assembleias que são reunidas de maneira semelhante nesse terreno e, assim, manifestam a unidade no corpo de Cristo de uma maneira prática.
As epístolas aos efésios e colossenses revelam a verdade do “grande Mistério” de Cristo e a Igreja, que é o Seu corpo. E, a primeira exortação prática da epístola aos efésios é “andar digno da vocação” com que fomos chamados (Ef 4:1). Podemos perguntar: “Como os membros do corpo devem andar dignos?” Alguns podem nos dizer que devemos fazê-lo vivendo de maneira correta e sendo bons cidadãos na comunidade, mas esse não é o assunto da passagem. Os Cristãos, é claro, devem se preocupar em andar de maneira correta, mas o contexto de Efésios 4 indica que a exortação a “andar digno” tem em vista o ser chamado ao corpo de Cristo. Isso é visto nos versículos seguintes, que dizem: “com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4:2-3 – AIBB). É claro, portanto, que a Igreja deve andar digna de seu chamado, mantendo a unidade do Espírito, porque é “um só corpo”.
Não somos chamados a manter a unidade do corpo, mas “a unidade do Espírito”. Isso ocorre porque a unidade do corpo é uma coisa vital que o Espírito de Deus formou no Pentecostes ao unir os membros do corpo juntos à Cabeça no céu, do qual agora fazemos parte por meio do selo do Espírito (Ef 1:13). Nenhum poder do mal ou do inimigo pode quebrar a unidade do corpo, pois o próprio Deus a mantém. A unidade do Espírito, por outro lado, é uma unidade prática entre os crentes que somos responsáveis por manter, e é nosso privilégio fazê-lo. F. G. Patterson disse: “Manter a unidade do Espírito é se diligenciar em manter em prática o que existe de fato”. E o que existe de fato? A passagem continua dizendo: “há um só corpo” (v. 4). Outro disse que a unidade do Espírito é “aquilo que o Espírito está formando para dar verdadeira expressão à verdade do um só corpo”. Concluímos, portanto, que os Cristãos devem andar dignos de seu chamado, colocando em prática a verdade de que são “um só corpo”. É da vontade de Deus que essa unidade seja expressa universalmente, onde quer que o corpo esteja na Terra. Essa é a primeira grande responsabilidade coletiva da Igreja, o corpo de Cristo. Esta unidade não se refere apenas a um grupo local de crentes; o sujeito é o “um só corpo” e o “um só corpo” não está em nenhuma localidade. É uma unidade universal entre os crentes na Terra.
Para ajudar os membros do corpo de Cristo a caminharem juntos em unidade prática, Efésios 4 continua nos dizendo que Cristo, a Cabeça do corpo elevada ao céu, fez provisão completa para os membros para esse fim (Ef 4:7-16). Ele deu “dons” à Igreja com o propósito de ajudar os santos a entenderem seus privilégios e responsabilidades no corpo, para que eles andassem dignos de seu chamado.
Os Irmãos Abertos reconhecerão a verdade de que “há um só corpo”, mas eles o veem meramente como um conceito doutrinário que não tem ramificações práticas na eclesiologia Cristã (prática da Igreja). Mas eles estão enganados; a Escritura mostra que a Igreja primitiva praticava o princípio do “um só corpo”, e a Igreja hoje deveria praticá-lo também. Essa verdade é encontrada em muitos lugares no Novo Testamento. Vamos nos concentrar em duas coisas: recepção e disciplina.
RECEPÇÃO À COMUNHÃO – Na Escritura, a recepção à comunhão não é vista como algo meramente local, embora seja efetuada localmente. Quando uma pessoa é recebida em comunhão na “mesa do Senhor” (1 Co 10:21) em um local, ela é recebida em comunhão com os santos como um todo – em todas as assembleias que estão no verdadeiro terreno da Igreja de Deus, como reunidas para o nome do Senhor.
Se alguém visitar outra assembleia em outro lugar, ele não é reexaminado pelos irmãos naquela localidade para a qual foi, mas é recebido porque já está em comunhão – mesmo que nunca tenha estado naquela assembleia antes. Se ele não é conhecido nessa localidade, ele deve levar uma “carta de recomendação”, afirmando que ele está em comunhão (At 18:24-28; Rm 16:1; 2 Co 3:1). Tais cartas são escritas de uma assembleia para outra, recomendando uma pessoa à comunhão prática da assembleia para a qual está indo. Esta carta não diz aos irmãos da localidade para a qual a pessoa está viajando para examiná-la e, em seguida, se tudo estiver bem, para recebê-la em comunhão. A carta anuncia que a pessoa já está em comunhão e que a assembleia deve recebê-la como tal.
Como todos os assuntos relacionados à assembleia devem ser feitos “por boca de duas ou três testemunhas” (2 Co 13:1), dois ou três irmãos da assembleia local da pessoa devem assinar a carta. Com isso, expressamos a verdade de que somos um corpo nessas questões de comunhão entre assembleias.
Quando pessoas foram salvas nos “lugares que estão além” (2 Co 10:16) e novas assembleias foram formadas, isso foi realizado em comunhão com os que estavam no terreno do “um só corpo”. Não era do pensamento de Deus que essas novas reuniões existissem como assembleias independentes, mas que elas fossem parte da única comunhão de crentes à qual todos os Cristãos são chamados. Portanto, o Espírito de Deus teve o cuidado de vinculá-las àqueles já reunidos no terreno do “um só corpo”, para que “a unidade do Espírito” fosse mantida. Diz dos crentes de Tessalônica: “Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo” (1 Ts 2:14). Assim, eles estavam ligados em comunhão prática ao que o Espírito de Deus já havia começado.
Isso é confirmado no livro de Atos. Vemos as várias assembleias se movendo juntas praticamente e expressando a verdade de que eles eram um corpo – e isso foi antes mesmo que eles entendessem a verdade do um só corpo! Isso é visto em Atos 8:4-24. Muitos em Samaria haviam chegado a crer no Senhor Jesus por meio da pregação de Filipe, todavia, o Espírito de Deus não os reconhecia como estando no terreno da assembleia até que tivessem recebido o Espírito e tivessem comunhão prática com aqueles a quem Ele já havia reunido para o nome do Senhor Jesus em Jerusalém. Isso foi feito para impedir que os crentes samaritanos estabelecessem uma assembleia independente que fosse separada da assembleia em Jerusalém. Ao procurar manter “a unidade do Espírito”, dois representantes desceram de Jerusalém e impuseram as mãos sobre aqueles em Samaria (uma expressão de comunhão prática – Gl 2:9), pela qual o Espírito de Deus Se identificou com eles. Isso mostra que não é da mente de Deus ter assembleias independentes. O Sr. C. H. Brown disse: “Deus não permitiu que os samaritanos obtivessem reconhecimento oficial como pertencendo à igreja [assembleia] até que eles o recebessem desses emissários que desciam de Jerusalém.” Grande cuidado foi tomado pelo Espírito de Deus para vincular esses crentes “juntos” com os de Jerusalém, para que houvesse uma expressão prática do “um só corpo” na Terra, mesmo que essa verdade ainda não tivesse sido revelada como uma questão de doutrina.
Quando o apóstolo Paulo encontrou um grupo de crentes em Éfeso (At 19:1-6) que desconheciam os outros com quem Deus havia trabalhado, ele descobriu que o Espírito de Deus não os reconhecia como estando no terreno divino da assembleia. Eles não foram reconhecidos como estando no terreno do “um só corpo” até que tivessem o Espírito e tivessem comunhão prática (demonstrada pela imposição de mãos) com aqueles a quem o Espírito já havia reunido. Em referência a esse grupo de crentes, C. H. Brown também disse: “Eles precisavam de algo. Eles tinham que ser trazidos para a mesma unidade que já existia. Eles não podiam ser reconhecidos como ocupando um terreno diferente do resto deles. Paulo não podia dizer: ‘Vocês não estão no mesmo terreno que Antioquia ou Jerusalém, mas vocês têm muita verdade, e eu seguirei com vocês’. Ah não. Ele vai se empenhar em trazê-los para o mesmo terreno que o resto. Eles foram trazidos para a mesma coisa que havia sido formada antes mesmo de ouvirem falar disso.” Aqui, novamente, vemos o cuidado e a sabedoria que Deus tinha em manter “a unidade do Espírito” para que houvesse uma expressão prática da verdade do “um só corpo”.
DISCIPLINA DE UMA ASSEMBLEIA – A escritura indica claramente que a verdade do “um só corpo” também deve ser expressa em questões relacionadas à disciplina e excomunhão. Embora possa haver muitas milhas de distância entre as assembleias, elas são vistas como estando todas em um só terreno e em uma comunhão; quando uma assembleia age com capacidade administrativa, as outras assembleias reconhecem esse ato de ligar ou desligar (Mt 18:18-20), porque esses atos feitos em uma assembleia são feitos em nome do corpo como um todo.
Em 1 Coríntios 12:27, Paulo indica que a assembleia em Corinto era a representante local do corpo como um todo. Isso seria verdade para todas as assembleias, fosse Corinto, Éfeso, Filipos, etc. Infelizmente, este versículo na versão King James (e na ARC) diz: “Agora sois o corpo de Cristo.” Isso é enganoso e pode levar alguém a pensar que o corpo de Cristo estava apenas em Corinto – como se eles fossem os únicos no corpo, ou que cada assembleia local fosse o corpo de Cristo. Isso não está correto porque o corpo de Cristo abrange todos os Cristãos na face da Terra. O versículo deve ler: “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo” (ARA). Isso transmite com mais precisão o pensamento. Nota: Paulo não diz “nós”, mas “vós”. Ele estava falando da assembleia em Corinto. Eles certamente não eram o corpo inteiro, mas eram do corpo de Cristo – isto é, parte do todo.
Hamilton Smith ilustra esse ponto pedindo que imaginemos um general, dirigindo-se a uma companhia local de soldados, dizer: “Lembrem-se homens, vocês são guardas da rainha”. Ele não disse: “vocês são os guardas da rainha”, porque eles não formam todo o regimento. A ausência do artigo “o” na tradução correta transmite o pensamento correto de que a assembleia de Corinto era a expressão local do corpo de Cristo como um todo. Sendo o representante local de todo o corpo, a assembleia deve atuar em nome do corpo como um todo nos assuntos administrativos da comunhão. Portanto, atuando na recepção, na disciplina ou em algum outro assunto, o fazem em vista do corpo como um todo – isto é, o que é praticado em uma localidade se estende ao todo. A competência de cada assembleia para agir em nome do corpo como um todo advém do fato de o Senhor sancionar o meio em que se encontra e suas ações administrativas (Mt 18:20).
Se uma assembleia tomar uma decisão de ligar afastando alguém da comunhão, o corpo como um todo atua em comunhão com essa assembleia e reconhece a ação de modo que a pessoa “repudiada” seja considerada “fora” em todas as outras reuniões também – não apenas na localidade onde ele reside. Vemos isso em 1 Coríntios 5:13, onde a assembleia em Corinto deveria afastar aquela pessoa iníqua do meio deles. Então 2 Coríntios 2:6 nos diz que a “repreensão” ou “censura” (JND) feita pela assembleia de Corinto foi “feita por muitos”. Os “muitos” se referem ao corpo como um todo – a massa dos santos universalmente (conforme a nota de rodapé da tradução de J. N. Darby,). Portanto, o ofensor é obrigado a sentir a repreensão por mais do que apenas sua assembleia local. (Não dizemos que o homem em questão realmente foi a outras localidades e recebeu a repreensão delas, mas que a ação foi realizada pelo corpo como um todo.) O ponto aqui é que, se uma pessoa tiver de ser afastada da comunhão em uma localidade específica, ela é considerada fora da comunhão em qualquer lugar da Terra, porque o que é feito em nome do Senhor em uma assembleia afeta o todo na prática.
Mateus 18:18 confirma isso. O Senhor disse: “Tudo o que ligardes na Terra…” Isso mostra que uma decisão tomada por uma assembleia é tomada para a Terra toda. O Senhor não disse que era algo para uma localidade específica. Não há nada na Escritura sobre tomar uma decisão de ligar que se aplique apenas a uma determinada localidade. Neste versículo, o Senhor está simplesmente dizendo que, se a assembleia tomar uma decisão em Seu nome, Ele a reconhecerá. Se o céu a reconhece, então todos na Terra também a reconhecerão.
Da mesma forma, quando se trata de desligar uma ação que foi ligada, a assembleia onde a ação foi realizada retira a censura e (administrativamente) perdoa a pessoa arrependida que ela excomungou, então o corpo como um todo segue, expressando também perdão, em receber a pessoa se ela vier a essas assembleias. Portanto, quando é “desligado no céu”, é desligado em todas as outras assembleias também. Um exemplo de desligar é visto nos comentários de Paulo em 2 Coríntios 2:7-11. Embora Paulo tivesse autoridade para, se necessário, agir apostolicamente nesta matéria, ele optou por esperar até que a assembleia de Corinto agisse, de modo a manter “a unidade do Espírito”. Ele disse: “A quem (vós) perdoardes alguma coisa, também eu.” Ao fazer isso, a Igreja expressa a verdade de que é “um só corpo”.
Paulo passou a dizer, **“para que (**nós) não sejamos vencidos por Satanás” (2 Co 2, 11). Nota: ele não disse: “vós sejais vencidos_”_ – referindo-se aos coríntios; ele disse: “(nós)”. Isso indica os santos como um todo no **“um só corpo”**. Paulo sabia que Satanás estava procurando dividir as assembleias em seu testemunho universal de um só corpo, e essa delicada questão entre assembleias era onde ele iria trabalhar. Portanto, Paulo, como representante dos demais santos, indica como devemos agir nessas questões de desligar um julgamento da assembleia. Embora ele (e talvez outros) soubesse que o homem estava arrependido e deveria ser restaurado à comunhão, ele não foi à frente da assembleia em Corinto e agiu independentemente no assunto, embora, sendo apóstolo, tivesse autoridade para agir assim. Em vez disso, ele esperou que os coríntios agissem primeiro no assunto; então ele e o resto dos santos em outros lugares da Terra aceitariam o julgamento deles e o seguiriam. Somos ensinados por isso que não devemos agir de forma independente, mas em conjunto com a assembleia que faz a ação e, assim, expressar que somos um corpo.
Vemos outro exemplo da verdade do “um só corpo” praticada em Atos 15, quando surgiram problemas entre os santos de Antioquia, devido a mestres judaizantes de Jerusalém que perturbavam os santos com sua doutrina de misturar lei e graça. Novamente, aprendemos algumas lições valiosas sobre como Deus gostaria que lidássemos com problemas entre assembleias. A primeira coisa que descobrimos é que eles decidiram enfrentar o problema com aqueles de Jerusalém. Poderíamos pensar que a razão pela qual eles levaram o assunto foi porque era o centro de Deus para lidar com problemas de assembleia, como se fosse o único local central na Terra (uma sede) para a qual as assembleias deveriam levar seus problemas. Mas a assembleia em Antioquia não foi a Jerusalém porque não era qualificada para lidar com o problema – o Senhor estava no meio da assembleia de Antioquia, assim como em Jerusalém. E, se fosse simplesmente um caso em que eles desejassem um julgamento apostólico no assunto, eles poderiam ter apelado aos apóstolos Paulo e Barnabé, que estavam lá em Antioquia. Quem, exceto o apóstolo Paulo, era mais qualificado para lidar com questões que tocam a lei e a graça? Embora seja verdade que eles valorizavam o discernimento dos apóstolos e líderes em Jerusalém no assunto, a razão mais profunda para subir a Jerusalém era “guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. O fato era que os mestres judaizantes que incomodavam os santos de Antioquia tinham vindo de Jerusalém (v. 24). Para não romper a unidade prática entre as duas assembleias, os irmãos de Antioquia não lidaram com o problema de forma independente, mas o levaram para onde se originou e deixaram Jerusalém lidar com o problema.
Isso nos ensina que, se alguém de uma determinada assembleia visita outra assembleia e faz algo errado ali, de modo que exija correção ou ação disciplinar, essa assembleia não deve agir de forma independente, mas levá-la à assembleia local de onde o causador de problemas veio; e eles podem lidar com isso. Assim, “a unidade do Espírito” é mantida no vínculo unificador da paz. Isso, novamente, mostra que a Escritura não apoia a ideia de assembleias agindo autonomamente.
É digno de nota que quando eles subiram a Jerusalém com esse assunto e pararam em várias assembleias ao longo do caminho, eles não perturbaram essas reuniões, espalhando o problema entre elas. Eles apenas falaram de coisas que causariam “grande alegria” entre os santos, embora sem dúvida estivessem profundamente sobrecarregados com o assunto que atingiu o ponto principal da posição do Cristão em graça. Isso nos ensina a importância de não espalhar os problemas da assembleia local desnecessariamente. Nosso adversário, o diabo, poderia alcançá-lo e usá-lo para causar problemas entre os santos.
Portanto, uma assembleia reunida biblicamente não é autônoma, mas funciona em comunhão com todas as outras assembleias no verdadeiro terreno da Igreja, porque se reúne no terreno do “um só corpo”. O princípio do “um só corpo” deve também entrar em ação quando uma assembleia inteira erra. Se essa assembleia se recusar a lidar com seus erros depois de lhes ter sido conclusivamente mostrado na Palavra de Deus, será renegada pela ação vinculativa de outra assembleia agindo em nome do corpo como um todo. Depois de examinar cuidadosamente o assunto, eles simplesmente declarariam formalmente que a assembleia errada não está mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja de Deus. Seguindo o princípio do tipo em Deuteronômio 21:1-9, a ação deve ser tomada por uma assembleia que seja a mais próxima do problema e conheça a situação intimamente. (A proximidade aqui não é necessariamente uma proximidade geográfica, mas uma proximidade moral. Isso é visto em Atos 15. A assembleia em Antioquia era moralmente mais próxima do problema, depois de os professores judaizantes ensinarem sua má doutrina naquela assembleia. Eles levaram o caso à assembleia em Jerusalém, de onde vieram os judaizantes, embora houvesse outras assembleias geograficamente mais próximas de Jerusalém.)
Essa responsabilidade coletiva é ilustrada em outra figura em Deuteronômio 13. Se o mal fosse encontrado em uma pessoa em uma cidade na nação, à essa cidade em que ele vivia era ordenado: “o apedrejarás” até a morte (vs. 6-11). O apedrejamento fala da consciência de todos em uma assembleia local que está engajada no julgamento de uma pessoa má em seu meio. Mas, se uma cidade fosse encontrada tendo o mal não julgado, as outras cidades da nação deveriam agir para a glória do Senhor e julgar essa cidade. Deveria ser destruída e feita um monte para sempre (vs. 12-18). Isso mostra que havia uma responsabilidade coletiva por parte de todas as cidades em Israel de afastar o mal na nação. Veja também Jz 19-20. Tipicamente, fala de uma assembleia que provou ser injusta, sendo rejeitada pelas outras assembleias em comunhão com ela, e a partir de então é vista como não mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja.
Em vista desses princípios bíblicos, podemos afirmar que a Escritura não reconhece nada de comunhão independente (autônoma). As assembleias locais não são vistas na Escritura como “ilhas” de comunhão separadas, todas por si mesmas no oceano da profissão Cristã; a Escritura vê apenas uma comunhão universal à qual todos os Cristãos são chamados (1 Co 1:9). Os Irmãos Abertos chamam isso de “interconectividade de assembleias” (em oposição à sua “autonomia das assembleias”), mas a Escritura chama isso de manter “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um corpo” (Ef. 4:3-4).
O Princípio de uma Confederação Uma Imitação da Unidade Prática do “Um Só Corpo”
Muitas vezes, quando aqueles com os Irmãos Abertos ouvem esses princípios de comunhão entre assembleias, eles dizem: “Nós fazemos isso; recebemos pessoas de outras assembleias que têm uma carta de recomendação e reconhecemos os atos administrativos de disciplina feitos em outras assembleias. Quando alguém é excomungado de outra assembleia por algum pecado, não recebemos essa pessoa.”
É verdade que as assembleias entre os Irmãos Abertos geralmente reconhecem os atos uns dos outros, mas não o fazem porque veem que essas decisões são “ligadas no céu” e, portanto, ligando cada assembleia. Eles declararão abertamente que não acreditam que cada assembleia seja ligada pelos atos de outra assembleia. Eles acreditam que cada assembleia deve defender sua causa e chegar à sua própria conclusão perante o Senhor. Se eles chegam à mesma conclusão que as outras assembleias chegaram sobre o assunto (o que geralmente fazem), eles consentem mutuamente e agem de acordo com isso. Mas, sendo assembleias independentes, elas se reservam o direito de aceitar ou rejeitar uma decisão tomada por outra assembleia. Portanto, externamente, pode parecer que eles estão agindo de acordo com o princípio do “um só corpo” – mas apenas parece assim; é realmente uma imitação dessa verdade.
Os Irmãos Abertos são um sistema de assembleias independentes reunidas no princípio de uma confederação. É um princípio não bíblico de unidade e uma perversão da verdade do “um só corpo”. A comunhão entre assembleias baseia-se no reconhecimento mútuo de cada assembleia como independente, e que cada assembleia é livre para tomar suas próprias determinações nos assuntos. Quando uma ação é executada em uma assembleia, eles não pretendem fazê-la em nome de outras assembleias, porque acreditam que todas as ações administrativas da assembleia são puramente locais. Portanto, um assunto tratado em uma assembleia está aberto à reconsideração e revisão em outra assembleia. Esse princípio não bíblico de independência pressupõe que tudo fica restrito à assembleia local e não se estende a outras assembleias. Se acontece das assembleias agirem juntas em um assunto, é puramente pelo princípio do consentimento mútuo.
Uma ilustração dada por W. J. Brockmeier nos ajuda a ver o princípio fundamental de uma confederação. Ele nos pede que consideremos a posição dos dois lados dos Estados Unidos na Guerra Civil (1861-1865). A União (o Norte) via a nação como um todo indissolúvel; a posição da Confederação (o Sul) era de que cada Estado mantinha o direito de fazer parte – ou não fazer parte – da nação, se as coisas fossem tais, onde diferissem em opinião. O Norte via a secessão (quebra de uma união) como ilegal, enquanto o Sul sustentava que cada Estado tinha o direito de se separar. Assim, temos o princípio básico de uma confederação; é exatamente isso que os Irmãos Abertos operam em assuntos entre assembleias.
Portanto, quando uma pessoa visita de uma localidade para outra e apresenta uma “carta de recomendação” a uma assembleia de Irmãos Abertos é mais, na realidade, uma carta de indicação, porque cada assembleia tem o direito de aceitar ou rejeitar a pessoa. (Isso seria no braço “conservador” dos Irmãos Abertos, porque o braço “liberal” praticamente já dispensou qualquer tipo de cuidado na recepção). Eles não veem a pessoa como já em comunhão; portanto, é necessário um reexame na localidade para a qual ele viaja. A visão deles de uma carta de recomendação (que o visitante traz) é que ela apenas auxilia a assembleia no exame da pessoa e atua como um auxílio para que eles cheguem a uma decisão sobre se receberão ou não essa pessoa. Na “História dos Irmãos”, de N. Noel, ele nos diz que essas cartas costumam ser “cartas de elogio pessoal, individual e privado!”. Em outras palavras, são opiniões pessoais de pessoas sinceras a respeito da pessoa que é portadora da carta. Ele também relata que a maioria das assembleias de Irmãos Abertos desaprova o uso de cartas de uma assembleia para outra. De fato, de acordo com o Sr. Noel, eles declararão que uma carta de apresentação não é um “bilhete de comunhão”, mas evidências de que, no julgamento de homens piedosos, o portador dela pertence a Cristo. A partir disso, fica claro que as “cartas de recomendação” entre os Irmãos Abertos realmente perderam seu significado bíblico.
À medida que prosseguimos, ficará claro que o falso princípio da independência, introduzido pela primeira vez em Betesda, é de fato uma imitação da verdade. Lembremos que fomos avisados pelo apóstolo Paulo de que haverá na profissão Cristã aqueles que imitarão as coisas de Deus. Ele fala de “Jannes e Jambres” como um exemplo (2 Tm 3:8). O que aqueles dois homens fizeram parecia a coisa real, mas não era.
PROBLEMAS PRÁTICOS RESULTANTES DO FALSO PRINCÍPIO DE AUTONOMIA DAS ASSEMBLEIAS
Empregar princípios humanos nas coisas de Deus sempre será problemático. A ideia de cada assembleia ser autônoma não é exceção; há consequências não intencionais resultantes disso. Os problemas surgem quando se trata de colocar esse princípio não bíblico em prática. Vamos agora olhar para alguns desses problemas.
A Falta de Uniformidade nas Assembleias
Em primeiro lugar, como cada assembleia de Irmãos Abertos é inerentemente independente, sendo deixada a si mesma em todos os assuntos, princípios e práticas variam de uma assembleia para outra. Assim, cada assembleia tende a ter um caráter e uma ordem diferentes. Em alguns casos, é sutil, mas em outros é bastante significativo. A diversidade varia desde o tipo de reuniões realizadas até o padrão de santidade usado na recepção. Lenta, mas seguramente, as assembleias de Irmãos Abertos se desviaram em pontos de vista polêmicos sobre recepção, uso de instrumentos musicais nas reuniões, uso ou não de coberturas de cabeça etc. O resultado é que as reuniões de Irmãos Abertos geralmente não têm uniformidade de localidade para localidade, e de um país para outro. Hoje, as diferenças entre o braço “conservador” (os Salões) e o braço “liberal” (as Capelas) são mundos separados.
Reunir sob princípios da Escritura, confere um certo grau de imunidade contra esse desvio. Quando o Espírito de Deus reúne crentes para o nome do Senhor Jesus Cristo, Ele os coloca “reunidos” juntos (Mt 18:20). Se o Espírito de Deus receber o Seu devido lugar como Presidente nas assembleias, Ele produzirá unidade de doutrina e prática. As assembleias terão uma uniformidade singular, sendo universalmente “unânimes e a uma boca” (Rm 15:6 – AIBB).
De acordo com isso, Paulo ensinou e incentivou a uniformidade em todas as assembleias (1 Co 1:2). Na Igreja primitiva, havia um padrão comum de doutrina e prática para todas as assembleias. Ele poderia dizer: “… como por toda a parte ensino em cada igreja” (1 Co 4:17). Havia também um padrão comum de conduta, independentemente da cultura. Ele disse: “É o que ordeno em todas as igrejas” (1 Co 7:17). Havia também uma maneira comum de as irmãs reconhecerem a liderança na nova criação, em oração e profecia, expressa no uso de coberturas de cabeça. A esse respeito, Paulo disse: “nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus” (1 Co 11:16). Havia uma ordem para o ministério público da Palavra nas assembleias. Como o Espírito de Deus estava lá no meio, usando os dons presentes, havia uma uniformidade de ordem divina nessas reuniões. Ele disse: “como em todas as igrejas dos santos” (1 Co 14:33). Finalmente, havia um uso comum para os fundos acumulados em suas coletas. Paulo disse novamente: “… o mesmo que ordenei às igrejas” (1 Co 16:1-3; Rm 15:25-26). Sua grande responsabilidade era que as várias assembleias locais, onde quer que estivessem na Terra, praticassem as mesmas coisas quando se reunissem – quer fosse para adoração ou para ministério.
Andar juntos em uma comunhão universal tende a incentivar a uniformidade de uma reunião para outra. Na Escritura, descobrimos que, quando novas reuniões foram estabelecidas no verdadeiro terreno da Igreja, elas não se reuniam da maneira que desejavam, mas seguiam a ordem nas assembleias que já existiam. Diz dos crentes de Tessalônica: “Pois vós, irmãos, vos haveis feito imitadores das igrejas de Deus em Cristo Jesus que estão na Judeia” (1 Ts 2:14 – AIBB). Isso mostra que havia consistência e uniformidade de uma assembleia para outra naqueles dias – e deveria haver hoje.
A Dificuldade de Julgar com Precisão
Outra coisa problemática com o falso princípio da independência é que, quando cada assembleia é deixada para julgar por si mesma entre as assembleias como um todo, é extremamente difícil julgar com precisão. Quanto mais distante uma assembleia estiver do problema, maior se torna essa realidade. Como eles saberiam os detalhes do caso, ou o espírito de uma coisa (que geralmente é a chave), para poder julgar o assunto com precisão?
Foi exatamente isso que Betesda reclamou. Eles não sentiram que eram capazes de julgar a questão do mau mestre e de seus seguidores em Plymouth, sem conhecer os detalhes do caso. Isso pode ter sido verdade, mas eles não conseguiram ver que não foram solicitados, nem foram responsáveis por examinar os detalhes do pecado em Plymouth e fazer um julgamento – era algo que já havia sido feito; um julgamento piedoso foi alcançado a respeito do mal. Tudo o que era exigido dos irmãos era aceitar o julgamento feito e recusar os da Rua Ebrington, Plymouth. Assim, “a unidade do Espírito” teria sido mantida no “vínculo da paz”.
O caminho de Deus é simples, mas o caminho do homem complica as coisas. O caminho de Deus é que o assunto seja examinado e julgado no local em que ocorre. Se se trata de um indivíduo, ou de uma assembleia inteira que errou, aqueles que estão intimamente familiarizados com o problema e são moralmente mais próximos a ele devem fazer o julgamento (Dt 17:7). Se for uma assembleia inteira, essa assembleia é renegada e isso é feito em nome de todas as assembleias em geral. As outras assembleias não precisam analisar o caso e julgar o assunto por si mesmas – de qualquer forma, elas não seriam capazes de fazê-lo com precisão, porque não são daquela localidade. A simplicidade da ordem de Deus é que as outras assembleias não precisam tomar a decisão; a decisão é tomada por eles. Tudo o que as assembleias de outras localidades devem fazer é se curvar à ação, porque “há um só corpo” (Ef. 4:3-4) e, ao fazê-lo, é mantida a “unidade do Espírito”. Como poderíamos pensar que uma assembleia a centenas – talvez milhares de quilômetros de distância de um problema pudesse julgar adequadamente um assunto com precisão? Deus não coloca uma tarefa tão impossível para a Igreja. Sua maneira é fazer com que os que estão no epicentro do problema lidem com ele, por, e em nome de todas as outras assembleias.
Tudo o que Betesda precisava fazer era aceitar a decisão dos irmãos que conheciam todo o caso em Plymouth e manter os apoiadores de Newton fora da comunhão em Bristol. Mas, entendendo mal esse princípio, eles pensaram que lhes cabia lidar com ele e o trataram de maneira independente. Ao tomar o assunto em suas próprias mãos, eles estavam essencialmente reconsiderando o caso e o julgamento em Bath. Quando esse erro foi trazido à atenção dos líderes de Betesda, eles defenderam sua ação independente, em vez de reconhecerem o erro que cometeram, e isso só piorou as coisas. Isso ocasionou a divisão dos irmãos em geral.
A Probabilidade Inevitável de as Assembleias Chegarem a Decisões Opostas e, Assim, Quebrar a Unidade
Outra complicação que surge do falso princípio da independência é que ela abre a porta para a possibilidade de as assembleias chegarem a decisões opostas em certos assuntos e, assim, deixarem de caminhar entre si, no que diz respeito à comunhão entre assembleias. Isto não é hipotético; por causa disso, nem todas as assembleias de Irmãos Abertos estão em comunhão umas com as outras.
Por exemplo, as assembleias A, B e C reconhecem e aceitam uma decisão (julgamento) tomada pela assembleia X, mas as assembleias D, E e F não reconhecem essa decisão. As assembleias D, E e F, consequentemente, saem da comunhão prática com X, mas permanecem em comunhão com A, B e C, que estão em comunhão com X! Isso é total confusão, mas é uma realidade presente entre o braço “conservador” dos Irmãos Abertos. Não é a unidade de assembleias da qual a Escritura fala.
O resultado desse princípio de independência é que todo o sistema no qual as assembleias se apoiam se rompe quando se trata da prática disso. O Sr. Darby ilustra isso dizendo: “Supondo que fossemos um corpo de maçons, e uma pessoa tivesse sido excluída de uma loja pelas regras da ordem, e, outra loja supondo que fosse um ato injusto, em vez de aguardar que essa loja revisasse o caso, e decidisse receber ou não a pessoa sob sua própria autoridade independente, ficaria claro que a unidade dos sistemas maçons estaria rompida. Cada loja é um corpo independente atuando por si próprio. É inútil alegar um erro cometido, e a loja não sendo infalível, a autoridade competente das lojas e a unidade do todo termina e o sistema é dissolvido.”
O Mal Não Pode Ser Tratado Adequadamente na Comunhão das Assembleias Como um Todo
Uma consequência ainda mais séria do sistema de reuniões independentes é a perda da verdadeira disciplina bíblica. O princípio da independência impede que o mal seja tratado adequadamente. Como cada assembleia é autônoma e julga por si mesma, se um ofensor for justamente disciplinado por sua assembleia local, ele poderá ir para outra assembleia e ser recebido. A decisão da segunda reunião é da própria responsabilidade dela e não envolve a primeira. O ofensor poderia então viajar para as várias reuniões com uma carta de apresentação da segunda reunião e sem ser afetado pela disciplina promulgada pela primeira reunião. A primeira reunião não consideraria uma questão preocupante, a menos que o ofensor que disciplinaram voltasse para eles, o que ele provavelmente não faria. Portanto, toda disciplina efetiva é negada por esse princípio não bíblico.
Esse falso sistema de independência possibilita que uma pessoa faça parte de uma decisão que excomunga corretamente uma pessoa iníqua, contudo, enfrenta a possibilidade de partir o pão com ela em outra assembleia! O Sr. Darby disse que o sistema independente de assembleias “acarreta a consequência de que eu possa participar da exclusão de uma pessoa má em uma reunião e tomar a ceia do Senhor com ele em outra!” Isso é confusão. Novamente, esses cenários não são meramente hipotéticos, mas acontecem de vez em quando entre os Irmãos Abertos. W. Hoste (um defensor declarado dos Irmãos Abertos) admitiu que tinha conhecimento de casos assim.
Não Há Recurso para Corrigir um Julgamento Injusto de Assembleia
Pode acontecer que um irmão seja expulso de uma reunião injustamente. Ele poderia encontrar algum conforto em ser recebido em outra assembleia, mas a decisão injusta da reunião não poderia ser contestada. Portanto, não há possibilidade de que o assunto seja resolvido. A assembleia em questão pode continuar sob a bandeira de Irmãos Abertos e nada pode ser feito a respeito.
Ou, um mestre ensinando erros graves pode surgir em uma assembleia, e essa assembleia pode estar em tal estado que não vê os erros e, consequentemente, não lida com ele. Outras reuniões podem recusar, com razão, o mau mestre, se ele for para lá, mas o estado da reunião local dele não poderá ser tratado pelas outras assembleias. Como as assembleias de Irmãos Abertos permitem que os que estão associados à doutrina do mau mestre sejam recebidos nas outras assembleias (desde que não tenham sido condenados por manter e promover essas doutrinas), não há como impedir que a contaminação colateral daquele mau mestre se espalhe pelas outras assembleias.
Em resumo: o princípio falso que consideramos no capítulo 1 deixa o mal entrar na comunhão em geral, e o princípio falso que agora consideramos no capítulo 2 torna impossível extirpá-lo! Esse é sempre o resultado quando as opiniões, princípios e métodos humanos são introduzidos nas coisas de Deus. Existem consequências não desejadas.
QUATRO OBJEÇÕES AO “UM SÓ CORPO” ESTANDO NO TERRENO EM QUE A IGREJA DEVERIA SE REUNIR
Os Irmãos Abertos argumentarão arduamente por sua independência dizendo que não é possível praticar a verdade do “um só corpo”. A seguir, quatro objeções principais:
OBJEÇÃO Nº 1: “Se você praticar a verdade de um corpo, precisará necessariamente partir o pão com todos os membros do corpo de Cristo. Isso significa que você estaria partindo o pão em comunhão com católicos, episcopais, congregacionalistas, carismáticos – enfim, com todo tipo de doutrina e prática do mal na Cristandade. Isso é algo que Deus não pediria ao Seu povo que fizesse. De qualquer forma, como você faria com que todos os Cristãos no corpo de Cristo consentissem com esses princípios, uma vez que eles não os aceitam?”
O Princípio de um Testemunho Remanescente
É claro que aqueles que dizem isso não entendem o conceito na Escritura de um “testemunho remanescente”. É extremamente importante manter essa verdade, pois ela tem uma grande medida de aplicação em nossos dias.
Um grande princípio no qual Deus age quando o que entregou nas mãos dos homens em testemunho falha é que Ele reduz seu tamanho, força, glória e número e segue adiante em uma forma remanescente. Ele não Se identifica mais com o testemunho como um todo, no mesmo poder e glória que outrora fez quando este foi inicialmente estabelecido. Se Ele fizesse isso, poderia parecer que Ele tolerava as condições existentes em seu estado decaído. Em vez disso, Ele recorre ao Seu poder e graça soberanos para manter Seu testemunho – mas de uma forma remanescente. Deus agiu de acordo com esse princípio em Israel no passado, e Ele fará novamente com o remanescente judeu nos dias vindouros, e ele está fazendo isso hoje no testemunho Cristão.
Para ver esse princípio na Palavra de Deus com mais clareza, veja Deuteronômio 12:5-7: “Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o Seu nome, buscareis para sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E ali comereis perante o Senhor vosso Deus”. Isso mostra que, originalmente, era desejo de Deus que todo o Seu povo se reunisse para adoração neste único “lugar” de Sua escolha, que era Jerusalém.
Agora, abra em 1 Reis 11:9-13: “Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão: porquanto desviara o seu coração do Senhor Deus de Israel, O qual duas vezes lhe aparecera. E acerca desta matéria lhe tinha dado ordem que não andasse em seguimento de outros deuses: porém não guardou o que o Senhor lhe ordenara. Pelo que disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não guardaste o Meu concerto e os Meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o farei, por amor de Davi teu pai: da mão de teu filho o rasgarei: Porém todo o reino não rasgarei: uma tribo darei a teu filho, por amor de Meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, que tenho elegido.”
Então, nos versículos 29-36, diz: “Sucedeu, pois, naquele tempo que, saindo Jeroboão de Jerusalém, o encontrou o profeta Aías, o silonita, no caminho, e ele se tinha vestido dum vestido novo, e sós estavam os dois no campo. E Aías pegou no vestido novo que sobre si tinha**, e o rasgou em doze pedaços. E disse a Jeroboão: Toma para ti os dez pedaços, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão, e a ti darei as dez tribos** **Porém ele terá uma tribo, por amor de Davi, Meu servo, e por amor de Jerusalém, a cidade que elegi de todas as tribos de Israel. Porque Me deixaram, e se encurvaram a Astarote, deusa dos sidônios, a Camós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andaram pelos Meus caminhos, para fazerem o** que parece **reto aos Meus olhos,** a saber**, os Meus estatutos e os Meus juízos, como Davi, seu pai. Porém não tomarei nada deste reino da sua mão: mas por príncipe o ponho por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, Meu servo, a quem elegi, o qual guardou os Meus mandamentos e os Meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino, e to darei a ti, as dez tribos** dele. **E a seu filho darei uma tribo; para que Davi, Meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de Mim em Jerusalém, a cidade que elegi para pôr ali o Meu nome.”**
Então, no capítulo 12:22-24, diz: “Porém veio a palavra de Deus a Semaías, homem de Deus, dizendo: Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá, e a Benjamim, e ao resto do povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Não subireis nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra”.
Vemos a partir disso, que embora fosse o desejo de Deus que todo o Seu povo se reunisse em Jerusalém para oferecer seus sacrifícios (Dt 12), uma vez que o fracasso havia ocorrido, Ele não continuaria Seu testemunho em Seu centro divino no poder e glória que já teve. Salomão e os filhos de Israel fracassaram e se converteram do Senhor à idolatria (1 Rs 11:10-11, 33), e isso levou o Senhor a mudar Seus caminhos com eles. Ele reduziria o tamanho, o poder e a glória de Seu testemunho em Israel e o continuaria em um “remanescente”. Ele continuaria depois com apenas uma das doze tribos.
Esta é a primeira vez nas Escrituras que a palavra “remanescente” é usada em conexão com o testemunho público do povo de Deus. É importante observar a “regra da primeira vez” na interpretação da Bíblia, porque quando algo é usado pela primeira vez na Escritura, geralmente dá o senso de como será usado posteriormente em outras passagens. Por isso, é bom prestar atenção ao que é dito aqui. O importante é ver que houve uma mudança acentuada nos caminhos de Deus quando o fracasso chegou. Ele removeu dez das tribos do centro divino e manteve apenas “uma tribo” lá – um remanescente. O Senhor disse: “Eu é que fiz esta obra”. Era Seu dever remover a maioria de Seu povo do centro divino de reunião. Não é uma contradição dos princípios de Deus, conforme indicado em Deuteronômio 12, mas uma mudança nos Seus caminhos quando um fracasso total havia chegado.
O Senhor agirá com o mesmo princípio com os judeus na grande tribulação vindoura. Quando a nação se entregar à idolatria que o anticristo trará, o Senhor separará um remanescente entre eles e trará muitos deles durante esse tempo de angústia para o Seu reino milenar (Is 8:12-18, 17:6-7, 66:2). Naqueles dias, “o testemunho” não estará na massa da nação, mas “entre os Meus discípulos” (Is 8:16).
Alguns podem perguntar: “Posso ver esse princípio no trato de Deus com Israel, mas pode ser aplicado ao testemunho da Igreja?” A resposta, inequivocamente, é sim. Vemos o princípio disso na passagem que examinamos em 2 Timóteo 2:19-22. Lá, Deus encoraja os crentes exercitados a se separarem da mistura na casa de Deus e a se retirarem para uma posição remanescente “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
É visto mais especificamente em Apocalipse 2-3. Esses capítulos descrevem a história profética da Igreja desde seus primeiros dias, logo após os apóstolos, até os últimos dias. Se seguirmos o curso das coisas descritas nesses discursos às sete igrejas, veremos um curso descendente no testemunho Cristão, até finalmente, atingir um ponto em que não há recuperação e, daí em diante o Senhor age segundo o princípio de um testemunho remanescente.
Em Éfeso, aprendemos que o “anjo da igreja” (os líderes responsáveis) julgou corretamente tudo o que era inconsistente com o Senhor. Diz que eles não podiam “sofrer os maus”. Mas, infelizmente, o coração deles não estava com Ele nisso (Ap 2:2-4). Em Esmirna, qualquer outro declínio foi temporariamente interrompido pelas grandes perseguições que caíram sobre a Igreja. A severidade da provação os lançou de volta ao Senhor. Mas em Pérgamo, quando terminaram os tempos de grande perseguição, o “anjo da igreja” começou a tolerar alguns que defendiam “a doutrina de Balaão”, que é mundanismo e idolatria. O anjo não foi acusado de manter essas doutrinas, mas o Senhor encontrou culpa neles, porque eles não denunciaram o mal, assim como o anjo em Éfeso.
Em Tiatira, uma condição pior prevaleceu; o “anjo da igreja” permitiu que a mesma doutrina e prática maligna que alguns de Pérgamo mantinham fosse ensinada! (Compare Apocalipse 2:14 com 2:20) O que começou como alguns mantendo má doutrina terminou em muitos ensinando má doutrina. Isso mostra que, se sustentar o mal não for julgado, levará à sua propagação_._ Em Tiatira, o ensino desse mal havia se transformado em um sistema de coisas chamado **“Jezabel”,** que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média, esse sistema perverso tinha um domínio tão tirânico da igreja em geral, com sua força e organização, que controlava o anjo! Aqueles que estavam no lugar de responsabilidade não conseguiram lidar com isso quando podiam, e agora ele se tornara um monstro que os controlava! (Compare Atos 27:14-15. O **“Euroaquilão”** – um grande vento do Mediterrâneo – arrebatou o navio [a nau] e os marinheiros não puderam fazer nada, senão **“deixar** ela **ir”** (JND). A figura de **“Jezabel”** é bem usada aqui porque aquela mulher não apenas trouxe formalmente a idolatria a Israel, mas também controlou e manipulou seu marido, o rei Acabe.
Sendo esse o estado público da Igreja, onde ainda não havia poder para lidar com o mal, o Senhor separou um remanescente, dizendo: “Mas Eu vos digo a vós, e aos restantes [remanescente]…” Ele deixou a massa ir (Ap 2:24). Depois disso, Ele trabalhou com um remanescente que ouviria o que o Espírito estava dizendo às igrejas. Aqui, temos a palavra “restante [remanescente]” usada em conexão com o testemunho Cristão. É significativo que o Senhor não tenha exercido sobre eles a “carga” de corrigir a confusão no testemunho Cristão, em um esforço para trazer a Igreja de volta para onde estava antes. Em vez disso, Ele voltou o foco deles para a Sua vinda, dizendo: “retende-o até que Eu venha” (Ap 2:25).
Desse ponto em diante, uma mudança acentuada é vista nos caminhos do Senhor com a Igreja. Até aqui, a voz do Espírito era para toda a Igreja. “Ouça o que o Espírito diz às igrejas” precedeu a promessa ao vencedor nas três primeiras igrejas. Isso indica que a recompensa ao vencedor foi colocada diante de toda a Igreja, porque o Senhor ainda estava lidando com ela como um todo. Mas agora, nesse ponto, a ordem é invertida. O chamado para ouvir “o que o Espírito diz às igrejas” segue a promessa ao vencedor. Esta é a ordem nas últimas quatro igrejas. O que o Espírito tem a dizer em relação à ordem da Igreja não é mais dado às massas – apenas ao vencedor. Isso ocorre porque se supõe que somente o vencedor ouvirá o que o Espírito está dizendo – no contexto da ordem da Igreja, não se espera que as massas ouçam e se arrependam. A previsão de Paulo a Timóteo de que as massas iriam desviar “os ouvidos da verdade” aconteceu (2 Tm 4:2-3) e, portanto, o Espírito não está mais falando com o corpo como um todo.
Comentando sobre essa mudança, J. N. Darby disse que o corpo como um todo é “deixado de lado” a partir deste ponto, porque a massa pública na profissão Cristã é tratada como incapaz de ouvir e se arrepender. O Sr. W. Kelly disse: “Desde então, o Senhor coloca a promessa [ao vencedor] em primeiro lugar, e isso é porque é inútil esperar que a Igreja como um todo a receba… apenas um remanescente vence e a promessa é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado.” Como resultado, o Senhor não esperava mais que a massa da profissão Cristã ouvisse e retornasse ao ponto de onde haviam desviado. Todo o pensamento de recuperar a Igreja como um todo é abandonado porque atingiu um ponto de não recuperação. É por isso que não acreditamos que o Espírito esteja necessariamente falando com todas as pessoas na Cristandade hoje em relação à verdade de estar reunido ao Seu Nome. Com a maioria, Ele está deixando que sigam seu próprio caminho em relação às afiliações eclesiásticas deles.
Trabalhando com um testemunho remanescente desde então, agradou ao Senhor recuperar a verdade que foi perdida pelo descuido da Igreja nos séculos anteriores. No entanto, Ele não achou oportuno recuperar toda a verdade de uma só vez. O remanescente mencionado em Apocalipse 2:24-29 são os valdenses, os albigenses e outros como esses que se separaram do mal de “Jezabel” nos tempos medievais. Eles foram instruídos a reter a pouca verdade que tinham. Algum tempo depois, nos tempos da Reforma, o Senhor permitiu que um pouco mais da verdade fosse recuperada – como a supremacia da Bíblia e a fé somente em Cristo para a salvação. Mas esse movimento do Espírito foi impedido pelos reformadores que procuraram vários governos nacionais na Europa para ajudar contra as perseguições da Igreja de Roma. Isso equivalia a pedir ajuda à carne, em vez de confiar no Senhor (Jr 17:5; Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação das grandes igrejas nacionais na Cristandade e a morte do protestantismo começou, como está representado na igreja de Sardes (Ap 3:1-6).
Não foi até o início de 1800 que o Senhor restaurou completamente “a fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Isso aconteceu quando os homens se afastaram de tudo que era organização formal de origem humana na Cristandade. Isso é descrito no discurso do Senhor à igreja na Filadélfia (Ap 3:7-13). Nessa época, Deus estabeleceu um testemunho corporativo da verdade de o um só corpo. Antes dessa época, o remanescente era visto em indivíduos que procuravam continuar fielmente em separação da corrupção da igreja de Roma. Agora estamos nos dias em que todo homem está fazendo o que é certo aos seus próprios olhos (Jz 21:25), e a maioria está satisfeita com seu fraco estado. Isso é descrito na igreja de Laodiceia (Ap 3:14-22).
O que podemos ver aqui é que o testemunho Cristão alcançou um ponto de ruína irremediável, e isso exigiu uma mudança nos caminhos do Senhor. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar, ao que era antes, o estado público da Igreja como um todo e agora está trabalhando para manter um testemunho da verdade de reunir-se de forma remanescente.
Uma Provisão Divina para o Dia de Ruína
Nosso objetivo ao mencionar um testemunho remanescente é mostrar que Deus fez uma provisão graciosa para nós neste dia de ruína. Ao recorrer a essa posição na Cristandade, ainda podemos praticar toda a verdade de Deus – incluindo a verdade do “um só corpo”. E, ao fazer isso, não precisamos comprometer nenhum princípio e partir o pão com os Cristãos que são contaminados por suas más doutrinas e más práticas. Os irmãos reunidos para o nome do Senhor desde o início de 1800 ensinaram isso; não é uma ideia nova, embora evidentemente incompreendida pelos Irmãos Abertos.
Embora não possamos praticar a verdade do “um só corpo” com todos os membros do corpo de Cristo hoje, ainda podemos nos reunir no princípio do “um só corpo”. Para praticar essa verdade, o Senhor não precisa ter todos os Cristãos do mundo se reunindo para fazer isso – embora seja Seu desejo; isso pode ser feito em um testemunho remanescente. O próprio significado da palavra “remanescente” implica que nem todos estão lá. Na prerrogativa e graça divinas, Deus está tomando alguns aqui e alguns ali, e os reunindo para nome do Senhor, para que esse testemunho remanescente continue até que Ele venha.
A manutenção desse testemunho hoje é uma obra soberana de Deus. Isto é visto na observação do Senhor à igreja de Filadélfia: “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Nenhum homem ou demônio pode impedir sua continuidade, embora possa parecer que atua com muita debilidade. Por mais humilhante que seja, Ele não precisa de ninguém daqueles que reuniu, independentemente de quão talentosos possam ser. Se não queremos estar lá e deixamos de nos reunir, o Senhor reunirá outras pessoas para que esse testemunho remanescente continue até a Sua vinda.
Vamos dizer de novo; Deus deseja que todos os membros do corpo de Cristo estejam juntos em comunhão prática – sejam católicos ou carismáticos, etc. (Ef 4:1-16). Esse é o Seu ideal. Mas como a ruína está em toda parte no testemunho Cristão, e há muita confusão e corrupção, a Palavra de Deus indica que devemos tomar uma posição de separação da desordem e praticar a verdade em um testemunho remanescente.
Os livros de Esdras e Neemias tipicamente ilustram os princípios de testemunhos remanescentes, pois aqueles naquele tempo eram remanescentes do povo de Deus em Israel. Em Esdras 6:16-22, vemos que quando eles retornaram ao local designado pelo Senhor (Jerusalém), eles ofereceram uma oferta pelo pecado “por todo o Israel” (v. 17), mesmo que todas as tribos não estivessem lá. Isso mostra que eles sentiam o fracasso geral do povo de Deus e assumiam sua parte nele. É significativo que a oferta tivesse “doze bodes, de acordo com o número das tribos de Israel”. Isso mostra que, mesmo após 500 anos da triste divisão das tribos sob Jeroboão, o remanescente que havia retornado ainda tinha a nação inteira em seu coração. Eles ainda mantinham o pensamento e o propósito de Deus para as doze tribos de Israel, para que se reunissem como um no centro divino – Jerusalém.
O ponto a ser observado aqui é que, embora nem todas as tribos estivessem lá, isso não impediu aqueles que estavam de estabelecer “os sacerdotes nas suas turmas e os levitas nas suas divisões, para o ministério de Deus, que está em Jerusalém; conforme ao escrito do livro de Moisés.” (v. 18). Eles ainda foram capazes de praticar a verdade como está escrita na Palavra de Deus. Eles “celebraram a Páscoa” e “a festa dos pães asmos” da maneira prescrita (vs. 19-22). Eles até praticaram a separação bíblica daqueles que – embora fossem israelitas – foram contaminados na terra.
Os “Irmãos” Não São o Remanescente de Deus no Cristianismo
Alguns provavelmente verão orgulho e fanatismo na ideia de um testemunho remanescente. Eles podem dizer: “Como os Irmãos podem pensar que são o remanescente de Deus hoje? Parece que eles acreditam que são Seus poucos fiéis escolhidos!”
Este é realmente um “argumento do homem de palha”. Essa expressão significa estabelecer um argumento fictício e frágil que alguém supostamente usa para defender sua posição em alguma crença, mas, como um homem de palha, ele dificilmente pode se manter em pé por sua própria vontade. Então, chegamos e derrubamos facilmente o homem de palha e parecemos um campeão. É isso que temos aqui. É fácil abrir buracos na ideia de que os irmãos pensam que são o remanescente de Deus hoje e apontar o fanatismo disso, e assim por diante. Mas o problema é que a afirmação é falsa. Para começar, os irmãos reunidos para o nome do Senhor não acreditam que sejam o remanescente de Deus.
Os irmãos sempre sustentaram e ensinaram que todos os verdadeiros crentes entre a massa de meros professos na Cristandade são o remanescente no Cristianismo. Eclesiasticamente, os santos reunidos para o nome do Senhor simplesmente ocupam uma posição remanescente em testemunho e estão onde devem estar o remanescente (todos os verdadeiros crentes), na qualidade de reunidos ao Seu nome. Os santos reunidos, portanto, na melhor das hipóteses, são apenas parte do remanescente de Deus; eles não reivindicam ser o remanescente. Eles podem ser acusados de acreditar que são poucos escolhidos por Deus, mas essas acusações são falsas.
Pode ser que as pessoas pensem que os irmãos estão dizendo que há ruína nas denominações da igreja, mas não entre eles, porque estão fazendo as coisas certas e as igrejas não. Este também é um terrível mal-entendido. Os irmãos não se veem separados da ruína; eles assumem totalmente sua parte nela. Eles costumam se referir à oração de Daniel como um exemplo (Dn 9). Os santos reunidos foram colocados em uma posição muito privilegiada na Cristandade, mas é triste dizer que, como um todo, eles não foram fiéis – e livremente confessarão isso. A ideia dos irmãos pensando que eles são os únicos fiéis de Deus é pura ficção. Eles se consideram bastante infiéis, embora extremamente privilegiados. O mal-entendido aqui é que as pessoas estão confundindo os grandes privilégios dados aos santos reunidos com sua fidelidade pessoal e coletiva.
Lembremos que não haveria necessidade de um testemunho remanescente se o testemunho Cristão como um todo não estivesse em ruínas. O fato de existir um testemunho remanescente é prova de que a profissão Cristã como um todo fracassou e não é mais o que deveria ser. Se os santos reunidos são algum tipo de testemunho, eles são um testemunho do fato de que há uma triste ruína na profissão Cristã.
OBJEÇÃO Nº 2: “Ensinar que todas as ações administrativas de uma assembleia local são vinculativas para todas as outras assembleias está dizendo que a assembleia é infalível, o que não é. A ideia toda é semelhante ao mal do papismo, que reivindica infalibilidade, e, portanto, não poderia ser a verdade.”
A Assembleia é Revestida de Autoridade, mas Não de Infalibilidade
O mal-entendido aqui está em concluir falsamente que, porque a assembleia tem autoridade, ela também tem infalibilidade. Não há verdade nisso. Uma assembleia reunida em terreno divino é revestida de autoridade, mas não de infalibilidade.
Em Mateus 18:15-20, o Senhor anunciou que iria conferir Sua autoridade à “assembleia” para agir por Si mesma durante Sua ausência. Este foi um novo desvio nos caminhos de Deus. Israel seria deixado de lado por causa de seu fracasso, e Cristo “edificaria” Sua assembleia (Mt 16:18). A assembleia seria o novo centro administrativo divino na Terra que Deus estabeleceria e reconheceria. Se surgissem dificuldades entre os santos, eles não deveriam mais levá-los aos juízes em Jerusalém, como quando Ele deu Sua autoridade a Israel para agir por Si mesmo no judaísmo (Dt 17:8-13); eles agora deviam trazê-lo à assembleia. Ele disse: “dize-o à igreja”.
O Senhor continuou dizendo que a assembleia teria autoridade para agir em Seu nome administrativamente, se necessário, ao dizer: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no céu.” Como já mencionado, um exemplo da assembleia ligar algo pode ser encontrado em 1 Coríntios 5:11-13 e um exemplo de desligar, por parte da assembleia, está em 2 Coríntios 2:6-11. Assim, a assembleia recebeu a autoridade do Senhor para agir em Seu nome no tempo de Sua ausência, e seus atos devem ser aceitos como autoridade final. Essa autoridade não foi dada aos apóstolos, mas à assembleia (apesar de os apóstolos terem recebido uma autoridade especial).
No entanto, porque foi dada autoridade à assembleia, isso não significa que seja infalível em seus atos. J. N. Darby escreveu um artigo útil sobre esse assunto, intitulado “Confundindo Autoridade com Infalibilidade”. Ele mostra que é possível que as coisas que a assembleia venha a ligar na Terra possam ser ligadas erradamente, isso não muda o fato de que a assembleia está investida da autoridade do Senhor. Muitas pessoas têm ficado confusas neste ponto. Eles não conseguem entender como um ato que está errado pode ser “ligado”. Eles concluem que, se estiver errado, não poderá estar ligado no céu. No entanto, é um erro pensar que “ligado no céu” significa que é necessariamente aprovado pelo céu. Significa simplesmente que o céu o reconhece. O céu pode não estar satisfeito com a decisão que a assembleia toma; contudo a mantém. A coisa ainda é ligada porque a assembleia foi investida da autoridade do Senhor para agir representativamente por Ele. É uma extensão de Sua autoridade, e é possível que essa autoridade possa ser mal utilizada.
As ilustrações a esse respeito são abundantes e mostram que entendemos esse princípio em outras áreas da vida. Um policial tem autoridade, mas não infalibilidade. Ele poderia prender alguém por engano, e este teria que se submeter a isso até que tudo fosse retificado. Um pai, tendo autoridade em sua casa, também pode disciplinar indevidamente um dos filhos de sua família; novamente, a criança teria que se submeter à disciplina até que ela fosse corrigida. O presidente dos Estados Unidos poderia aprovar uma lei com o apoio do Congresso que fosse terrivelmente errada, tanto moral quanto eticamente, mas como ele tem autoridade, seria uma lei que está vinculada ao país até que seja oficialmente anulada. Se as autoridades civis não fossem assim, não haveria ordem no governo; estaríamos vivendo em um estado de anarquia. Em cada caso, a posição para aqueles que estão sob tal autoridade é concordar e se submeter à decisão até que Deus a corrija. É assim que a ordem é mantida na casa de Deus.
Quão solene é para nós pensarmos que poderíamos usar a autoridade do Senhor por engano e identificar o céu com algo que não está correto; e, assim, incorrer em Seu julgamento governamental. Se algo assim acontecer, de uma assembleia tomar uma decisão injusta, haverá recurso. Primeiramente, podemos levar o assunto em oração diretamente ao Senhor, a Cabeça da Igreja. Ele pode exercitar a consciência daqueles na localidade com o propósito de que eles corrijam a ação. Em segundo lugar, o Senhor levantará profetas entre eles localmente ou enviará alguns de outras assembleias para despertar a consciência daquela assembleia, para que assim ela possa ser retificada (2 Co 2:4; Ap 2:13; 2 Cr 24:19-22; Jz 9:5-21). Em terceiro lugar, se essa assembleia se recusa a lidar com seus erros depois que esses erros tenham sido mostrados conclusivamente a partir da Escritura, essa assembleia seria renegada por uma ação de ligar de outra assembleia que atuaria em nome do corpo como um todo. Eles simplesmente declarariam o fato de que a assembleia errada não está mais no verdadeiro terreno da Igreja de Deus. Toda a assembleia (local) em questão é tratada porque defendeu o mal em seu meio e se tornou participante dele. Se as coisas chegarem a esse ponto, não será mais uma questão de certos indivíduos em seu meio estarem envolvidos no mal, mas toda a assembleia (local) que se recusou a julgá-lo. Esta é a maneira triste, mas ordenada e bíblica, de lidar, com uma ação incorreta ou omissão de uma assembleia – caso eles deixem de agir para afastar o mal (Dt. 13; Jz 21; 2 Sm 20:14-22). Mencionamos isso para mostrar que existe recurso contra o abuso da autoridade dada pelo Senhor em assuntos administrativos.
Observemos que a Escritura nunca nos instrui a tomar o assunto em nossas próprias mãos como indivíduos e agir de forma independente no que parece ser uma ação errada da assembleia. Ações independentes de indivíduos em tais assuntos coletivos são sempre condenadas na Escritura (Dt 17:12; Nm 15:30-31). Isso só abre a porta para o inimigo. Deus tem o Seu caminho no qual tais problemas devem ser tratados e devemos seguir Suas instruções para que a ordem seja mantida. Infelizmente, é aqui que muitos Cristãos cometem erros. Eles acham que não podem se submeter a algo que acreditam ser injusto e não de acordo com a Escritura. Eles acham que estarão comprometendo uma boa consciência. Alguns dirão: “Preciso obedecer ao Senhor primeiro, não aos irmãos.” Mas, percebendo ou não, estão realmente dizendo que são mais santos do que o próprio Senhor. Se o Senhor pode manter a decisão até que ela seja reparada, por que não podemos? Uma assembleia que comete um erro em suas responsabilidades administrativas ainda tem o Senhor em seu meio, até que seja renegada por não estar mais no verdadeiro terreno da Igreja de Deus. J. N. Darby disse: “Por que falar primeiro em obedecer ao Senhor, depois à igreja? Mas supondo que o Senhor esteja na igreja? É apenas estabelecer um julgamento privado contra o julgamento da assembleia reunida ao nome de Cristo com Sua promessa (se não estão, não tenho nada a dizer); isto é simplesmente dizer: ‘Eu me considero mais sábio do que aqueles que são’. Rejeito inteiramente como não bíblico o ditado: ‘Primeiro Cristo, depois a Igreja’”. Ele também disse: “Portanto, a questão é um mero e pobre sofisma que trai o desejo de ter livre arbítrio e a confiança de que o julgamento da pessoa é superior a tudo o que já foi julgado.”
W. Potter tem um pequeno artigo sobre ações de assembleia, onde ele diz que o “tudo o que” em Mateus 18:19 é tudo “incondicional”. Uma assembleia pode ligar algo de maneira errada, e nosso lugar é submeter-se até que seja reparado de maneira ordenada. Independentemente do que Potter disse, ver “tudo o que” como incondicional, para alguns, é semelhante ao papismo. Eles acreditam que isso tornaria a assembleia infalível em suas ações administrativas, o que não é verdade. Essas pessoas argumentam que, se “tudo o que” é incondicional, a assembleia poderá ligar tudo o que quiser, e será automaticamente ligada no céu. Na mente deles, seria tornar o céu sujeito às ações da Igreja na Terra; e se a assembleia cometer um erro, o céu estaria se colocando em comunhão com o mal, algo que Deus nunca faria. Aparentemente, esse argumento parece bastante lógico, mas por trás dele está a tentativa do inimigo de trazer confusão à assembleia e uma anulação de suas ações. Tudo o que alguém precisa fazer é declarar que uma ação da assembleia foi uma ação injusta e concluir que o céu não a ligou. E se o céu não a aceitou, eles também devem rejeitá-la. Portanto, eles não precisam se curvar à decisão. É uma maneira conveniente de deixar de lado as ações de assembleia que não gostamos. Se os atos administrativos da assembleia fossem aceitos apenas sob a condição de que fossem atos justos, toda a ordem logo seria perdida.
O grande problema com essa ideia errônea é que os julgamentos da assembleia se tornam sujeitos ao nosso julgamento privado. A assembleia deixa de ser o mais alto tribunal de autoridade nessas questões; nosso julgamento pessoal passa a ser. Nisso, toda a ordem se foi. Todo mundo é deixado para fazer o que parece “reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Muitos foram tristemente enganados com a ideia de que, a menos que uma ação da assembleia tenha a marca da Palavra de Deus, ela não liga ninguém na Terra e não é ratificada no céu. Em outras palavras, a decisão é apenas uma ação vinculativa genuína da assembleia quando é uma decisão correta. Agora, se nos curvássemos a uma decisão da assembleia somente quando pensássemos que estava certa, o triste resultado, cada vez que a assembleia agisse, seria que alguns acabariam se submetendo à decisão e outros não, simplesmente porque seus julgamentos particulares eram diferentes. Nestes dias em que o estado da Igreja é no geral fraco, somos obrigados a ter alguns que pensam que são mais sábios que seus irmãos e cujo julgamento particular é diferente da assembleia. O inimigo logo usaria isso para dividir os santos e, assim, perturbaria a unidade. Certamente não é o modo de Deus manter a ordem em Sua casa. Não, nós somos obrigados a nos submeter, mesmo que pensemos que a ação está errada, e esperar que o Senhor a corrija. Assim, a ordem é mantida. J. N. Darby disse: “Um julgamento de uma assembleia, mesmo que eu considerasse um erro, em primeiro lugar, deveria aceitar e agir de acordo”.
Em um esforço para negar a força do “tudo o que” em Mateus 18:18, e provar que não poderia ser incondicional, alguns assumiram erroneamente que o versículo 19 é uma reunião de oração e, portanto, raciocina que, se “qualquer coisa” nas orações da assembleia está sujeita à qualificação do céu (pois Deus só responde às nossas orações quando estão de acordo com a Sua vontade), então o “tudo o que” deles em decisões vinculativas também deve estar sujeito à qualificação do céu. Mas eles estão enganados ao pensar que os versículos 19-20 estão falando de uma reunião de oração. O contexto indica que é uma reunião para disciplina de assembleia, embora o princípio estabelecido nesses versículos seja amplo o suficiente para incluir todas as reuniões de assembleia em uma aplicação secundária. (É por isso que Mateus 18:20 às vezes é lido no partir do pão.) Paulo fala dessa mesma reunião para disciplina em 1 Coríntios 5:4-5.
Se Mateus 18:19 está falando da reunião de oração, o Senhor mudou de assunto logo no meio de Sua dissertação sobre as ações administrativas da assembleia; e então Ele voltou a ele no versículo 20 e nos versículos seguintes, tendo a ver com um espírito de perdão para com um irmão arrependido que pecou (vs. 21-35). Seria fora de ordem. O ponto do versículo 19 é que a assembleia se reúne com o Senhor no meio (v. 20) para invocar a Deus que ratifique sua decisão de ligar. A promessa é certa: “lhes será feito por Meu Pai, que está nos céus.” Essa é uma promessa que o Senhor nunca faz em relação a uma reunião de oração da assembleia. Ele Se reserva o direito de conceder ou não os pedidos de oração da assembleia. Mas esse não é o caso aqui com ações administrativas – Ele simplesmente diz: “será feito”. É mantido como ligado no céu.
Para aqueles que questionam se “tudo o que” é qualquer coisa que a assembleia possa julgar, apontamos 2 Coríntios 2:10. Encontramos aí que, quando se trata de desligar uma ação vinculativa, Paulo diz: “A quem perdoais qualquer coisa…” (JND). Se são vistos perdoando “qualquer coisa”, devem necessariamente ter ligado qualquer coisa.
C. D. Maynard disse: “Uma assembleia, quando reunida para o nome de Cristo, O tem no meio deles e tem Sua autoridade para agir em ligar ou desligar os pecados de um irmão ofensor. (Mt 18:18-20) Tal ato é ratificado no céu. Desta decisão não há apelo, senão a Cristo em glória; como Jesus ‘entregou [Sua causa] àqu’Ele que julga com retidão’. (1 Pe 2:23)… Pode ocorrer para alguns que, se uma assembleia local julgar erradamente, como eles pensavam, um apelo possa ser feito a outra assembleia local. Por exemplo, para restaurar uma pessoa erroneamente colocada fora. Isso não tem mais suporte da Escritura do que qualquer corrupção católico romana possa ter. Em face disso, nega a unidade prática das duas reuniões. Cogitar a pergunta é recusar que exista um corpo e um Espírito. Se a mesa do Senhor for uma, ambas as reuniões são ligadas quando uma delas liga, de modo que o apelo é impossível. Se eles podem revisar os julgamentos uns dos outros, a unidade do Espírito não existe lá; são apenas reuniões independentes.” O mal-entendido desse importante princípio em assuntos de assembleia está por trás de todas as tristes divisões que ocorreram entre aqueles reunidos ao nome do Senhor ao longo dos anos. Fazemos bem, portanto, ponderar essas coisas cuidadosamente.
Outra ideia errônea é que, se uma assembleia toma uma decisão errada (e pode ser apenas aos olhos de alguém), então não pode mais ser considerada uma assembleia reconhecida por Deus; e, portanto, eles deveriam deixá-la. Isso pode ser uma desculpa para uma pessoa agir por vontade própria e talvez deixar a assembleia. No entanto, é um erro pensar que uma assembleia perde sua posição como reunida biblicamente ao nome do Senhor, porque fez uma ação de ligar equivocada. Novamente, isso confunde autoridade com infalibilidade. O fato de uma assembleia ter autoridade, mas não infalibilidade, é assumir a possibilidade de ela cometer um erro.
OBJEÇÃO nº 3: “Nos discursos do Senhor às sete igrejas em Apocalipse 2-3, Ele considerou cada assembleia responsável pelo que acontecia nela. Ele nunca disse para eles interferirem nos assuntos de outra assembleia, mesmo que houvesse alguns males sérios lá. Isso mostra que cada assembleia Cristã é autônoma e não tem responsabilidade em relação ao que acontece em outras assembleias locais.”
Ordem e Operação da Assembleia Não é o Assunto das “Sete Igrejas”
O livro do Apocalipse não trata da ordem e operação da Igreja como uma questão de doutrina. É um equívoco pensar que sim. Se fôssemos adotar nossa doutrina da Igreja desse livro, encontraríamos alguns erros sérios.
É verdade que o Senhor não disse a nenhuma das outras assembleias para lidar com os flagrantes males que aconteciam em Pérgamo e Tiatira, onde havia idólatras e blasfemos no meio deles. Mas Ele também não disse aos responsáveis em Pérgamo e Tiatira para excomungar aquelas pessoas iníquas em suas assembleias! Se tentarmos ensinar a partir desses capítulos que as assembleias não têm responsabilidade corporativa em relação umas às outras porque não há menção disso aqui, então também teríamos que adotar a partir desses capítulos que as assembleias não deveriam excomungar pessoas más em seu meio, porque também não há menção aqui! Os Irmãos Abertos certamente não acreditam nisso. Isso mostra que não podemos adotar nossa doutrina da Igreja desses capítulos.
É um equívoco pensar que, como não há menção a respeito da verdade do “um só corpo” nesses capítulos, as assembleias não devem praticar a verdade da unidade do corpo. O “um só corpo” é a linha da verdade de Paulo; João (o escritor de Apocalipse) não se ocupa com esse lado das coisas – não lhe foi dado apresentar isso. Se Apocalipse 2-3 estiver nos ensinando que as assembleias locais são autônomas, a Escritura se contradiz. É porque, como já vimos no livro de Atos e nas epístolas, a Escritura indica que deve haver uma coesão corporativa entre as assembleias como um todo. Apocalipse 2-3 não é o lugar para procurar princípios de ordem e função da assembleia. Se quisermos tal coisa, devemos recorrer às epístolas aos coríntios. Importar essa linha de coisas para esses capítulos é “forçar um pino redondo em um buraco quadrado”. Pode ser conveniente para apoiar os Irmãos Abertos, mas é uma exegese4 bíblica deficiente. A boa interpretação da Bíblia é interpretar a Escritura à luz de todas as outras Escrituras, e outras Escrituras mostram claramente que as assembleias Cristãs devem praticar a verdade do um só corpo em suas relações entre assembleias.
O livro de Apocalipse deve ser entendido por sua interpretação simbólica (Ap 1:1 – “Deus… as enviou e as notificou [significou – TB]”); não devemos interpretá-lo literalmente. É verdade que as sete igrejas eram assembleias literais naquele dia, mas o Senhor as estava usando para simbolizar certas condições que se desenvolveriam na história do testemunho Cristão. Essa é a interpretação primária desses capítulos.
OBJEÇÃO nº 4: “Fazer as assembleias se unirem como uma unidade inteira não pode ser feito sem algum tipo de federação ou organização humana para supervisioná-la. Isto é o que as igrejas denominacionais fazem, mas como a criação de algo assim não é encontrada na Escritura, não é de Deus.”
Retendo a Cabeça
A resposta simples aqui é que, se os santos estivessem “retendo a Cabeça” (ARA), como a Escritura nos ordena a fazer (Cl 2:19), essa unidade seria concretizada entre as assembleias como um todo, e não haveria necessidade de uma organização humana. A prova de que isso realmente funciona é vista nos primeiros capítulos de Atos. Eles não tinham sede ou organização governante sobre eles, mas as assembleias andavam em comunhão com o Senhor e mantinham “a unidade do Espírito no vínculo da paz”. Se os santos estão verdadeiramente reunidos ao nome do Senhor, eles têm o Senhor no meio deles, e Ele faz isso funcionar. Não há necessidade de organização humana.
No entanto, se uma assembleia não estiver no verdadeiro terreno da Igreja, ela não terá o Senhor no meio deles, no sentido de Mateus 18:20. (Percebemos que o Senhor está com todos os Cristãos em outro sentido [Mt 28:20; Hb 13:5], e se eles estivessem juntos para qualquer fim, Ele estaria lá com eles, mas Mateus 18:20 está falando de um sentido completamente diferente: refere-se a Ele como estando no meio daqueles a quem Ele reuniu em Seu nome, para sancionar o terreno sobre o qual estão reunidos e para autorizar seus atos administrativos.) Se os Cristãos estão apenas professamente reunidos em Seu nome, e o Senhor não está no meio deles nesse sentido, será praticamente impossível para eles praticarem uma unidade corporativa sem ajuda humana. Mas simplesmente não é verdade que é necessário que exista organização humana para que as assembleias se movam juntas em conjunto entre si em uma comunhão universal e mundial. Cristo, é a Cabeça da Igreja, e Ele a manterá unida, se olharmos para Ele e retivermos a Cabeça.
Em resumo: olhando para a origem do princípio de independência entre os Irmãos, é claro que os líderes em Betesda não entenderam a verdade do “um só corpo” desde o princípio. Quando chamados a agir de acordo com o princípio da unidade do corpo, eles “deixaram a bola cair”. O Sr. R. Evans, em resposta ao Sr. W. Hoste (um Irmão Aberto e defensor da posição assumida por Betesda), resumiu todo o problema de forma sucinta. Ele disse: “O fato é que Betesda agiu mais como se fosse uma preocupação particular própria, do que parte da única Igreja de Deus na Terra. Ou, em todos os eventos, como se fossem uma congregação independente, sem responsabilidades além de seus próprios membros… Nem Muller, nem Craik, nem os que se encontravam na Capela Betesda jamais entenderam a posição que haviam assumido. Muller nunca foi nada além de um pastor batista. Foi o que me disse um Irmão Aberto em Bristol.
Esta ainda é em muito a posição dos Irmãos Abertos hoje. Aqueles que tomam esse terreno não bíblico de assembleias independentes têm muito pouco diante deles além da comunhão local. Como aqueles nas igrejas denominacionais, eles se veem como “membros” de uma assembleia local. O braço “liberal” está rapidamente se tornando como as (livres) igrejas evangélicas independentes da Cristandade, com todas os aparatos do “arraial” (Hb 13:13). O braço “conservador” está mais próximo da verdade, mas nenhum dos grupos pratica a verdade da Escritura em relação ao verdadeiro local da reunião, embora professem estar reunidos ao nome do Senhor, como em Mateus 18:20.
Capítulo Três
PRINCÍPIO nº 3
O Sistema Fechado de Supervisão
O terceiro princípio que queremos abordar é o sistema de “supervisão fechada” que os Irmãos Abertos usam para gerenciar os assuntos administrativos em suas assembleias. Como cada assembleia é independente, há algumas variações nos princípios e práticas entre elas, de uma assembleia para outra. Mas, geralmente, as reuniões administrativas para o cuidado do rebanho são para certos “anciãos designados” e são fechadas para o irmão comum. Esses “anciãos” são geralmente um grupo de quatro homens; se alguém do grupo morre, se afasta ou com a idade avançada se torna incapaz de continuar no trabalho de supervisão, um novo homem que foi preparado para o cargo é “convidado” pelos anciãos restantes a preencher esse lugar. Consequentemente, ele é nomeado para esse cargo pelos outros anciãos e o restante da assembleia não tem voz nesta nomeação.
Nossa pergunta é: “Esta é uma prática bíblica?” Não perguntamos se os irmãos mais velhos devem assumir a responsabilidade de “supervisionar” a assembleia, porque a Escritura diz que devem fazê-lo (1 Pe 5:2), mas se isso deve ser feito em um círculo “fechado”. Isso pode ser útil para impedir que pessoas indesejadas que têm pouco entendimento dos princípios da Escritura ou das questões em questão se intrometam, mas acreditamos que a Palavra de Deus não apoia essa prática, e existem algumas boas razões para isso, que agora passo a apontar.
Assembleias (ou Anciãos em Assembleias Locais) Não Nomeiam Seus Anciãos
Primeiro de tudo, na Escritura não há assembleia que tenha escolhido seus anciãos. As assembleias nunca foram encarregadas de uma tarefa tão difícil, independentemente da piedade e inteligência daqueles que nelas estavam presentes. Em todos os casos, a Palavra de Deus diz que os anciãos foram escolhidos para as assembleias pelos apóstolos. Diz: “Quando eles [Barnabé e Paulo] escolheram para eles [os discípulos], anciãos em cada assembleia e oraram com jejum, eles os encomendaram ao Senhor em Quem haviam crido” (At 14:23 – Tradução de W. Kelly). Em certas ocasiões, delegados dos apóstolos foram comissionados para escolher anciãos para uma assembleia. Tito é um exemplo (Tt 1:5). Mas não há registro na Escritura de uma assembleia escolhendo seus anciãos. Também não há nenhum exemplo na Escritura em que os anciãos de uma assembleia designaram outros para esse cargo. É claro, portanto, que para ter presbíteros nomeados, precisaríamos de um apóstolo ou delegado de um apóstolo para fazer a nomeação. Como não há apóstolos na Terra hoje, não pode haver nomeação de presbíteros hoje.
A sabedoria de Deus pode ser vista em ter anciãos escolhidos especificamente para uma assembleia, e não por uma assembleia, nem por anciãos em uma assembleia. Se as assembleias escolhessem seus anciãos, poderiam ser tendenciosos e escolher aqueles que favorecessem suas inclinações e conciliassem seus interesses, mas, sendo uma função apostólica, seriam libertados desse perigo. Outro perigo é que, se os “anciãos” na assembleia escolhem novos anciãos, isso poderá levar à nomeação de um bom “partidário” sem perceber, enquanto um homem que realmente tem os interesses de Cristo e o bem-estar dos santos em seu coração seria negligenciado. Um irmão pode ter as qualificações e exercícios necessários, mas como não foi “convidado” a entrar nesse círculo interno, ele é deixado de fora. A assembleia acaba perdendo o benefício que ele poderia trazer por causa desse falso sistema de nomeação.
Os Irmãos Abertos reconhecerão que não há apóstolos para ordenar homens hoje e insistirão que o procedimento de nomeação deles é puramente não oficial. Pode ser verdade que eles não imponham as mãos na cabeça da pessoa de alguma maneira oficial, como muitas igrejas denominacionais, mas ainda é uma nomeação. Os homens fazem a escolha para o círculo interno, e isso naturalmente leva a que alguns sejam excluídos.
O que as Escrituras Ensinam?
Está claro na Escritura que Deus não pretendia que a nomeação de presbíteros continuasse. Se o fizesse, teria continuado a dar apóstolos para que tais pudessem ser ordenados. Foi uma coisa temporária para a Igreja primitiva, até que se estabelecesse na verdade do “Mistério” e a Palavra de Deus fosse concluída (Cl 1:25-27). A Igreja estava em sua infância naqueles primeiros dias e precisava de presbíteros em um sentido oficial. À medida que a Igreja amadurecia e os apóstolos eram retirados de cena, esperava-se que a Igreja não precisasse dessa nomeação apostólica, mas teria a espiritualidade de “reconhecer” e “estimar” aqueles que fizessem esse trabalho (1 Ts 5:12-13).
Deus antecipou plenamente um tempo em que os apóstolos não estariam mais na Terra para nomear anciãos, e Ele garantiu que as assembleias não ficassem sem os que “assumiriam a liderança” (1 Ts 5:11-12 – JND; 1 Tm 5:17; Hb 13:17). O Espírito de Deus levantaria homens para continuar esta obra. A Escritura diz: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a Igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue” (At 20:28). Quando os apóstolos estavam na Terra, eles designaram tais para o ofício de ancião porque reconheciam essa obra do Espírito nesses homens. Mas, como os apóstolos se foram, não devemos pensar que o trabalho de supervisão não possa continuar. Não há menção de que o Espírito de Deus pararia de levantar homens para fazer esse trabalho.
O Sr. Kelly disse: “O que então? Não existe alguém adequado para ser ancião ou bispo, se não houver apóstolos para escolhê-los? Graças a Deus, não há poucos! Você dificilmente pode olhar para uma assembleia de Seus filhos sem ouvir falar de homens idosos sérios que vão atrás dos desencorajados, que advertem os indisciplinados, que confortam os que estão afastados, que aconselham, advertem e guiam almas. Não são esses os homens que poderiam ser anciãos, se houvesse um poder para designá-los? E qual é o dever de um homem Cristão sendo que as coisas agora são a prática do que resta? Eu digo para não os chamar de ‘anciãos’, mas certamente para considerá-los em grande estima por causa de seu trabalho, e amá-los e reconhecê-los como aqueles que estão sobre o restante de seus irmãos no Senhor.”
Portanto, em uma reunião de Cristãos reunidos de acordo com a Escritura, haverá homens que continuarão com essa obra. Eles serão conhecidos pelo trabalho que realizam e devem ser reconhecidos como tais, mesmo que não tenham sido designados para esse cargo. A Palavra de Deus diz que devemos:
- “Reconhecê-los” (1 Ts 5:12; 1 Co 16:15) - Tê-los “em grande estima” (1 Ts 5:13) - “Honrar” os que governam bem (1 Tm 5:17) - “Lembrar” deles (Hb 13:7) - “Imitar” a fé deles (Hb 13:7) - “Obedecê-los” (Hb 13:17) - “Submeter-se” a eles (Hb. 13:17) - “Saudá-los” (Hb 13:24)
Portanto, não cabe a nós “preparar” e “escolher” homens para o trabalho de supervisão; é a obra do Espírito. Se Ele tiver liberdade, Ele levantará aqueles que farão esse trabalho. Mas é triste dizer que, entre os Irmãos Abertos, isso é dificultado pelo sistema criado pelo homem que eles adotam para escolher anciãos. Eles vão negar isso e nos dizer que estão apenas designando aqueles a quem o Espírito de Deus levantou no meio deles. Mas isso é presunçoso; essa é uma obra apostólica! É um afastamento da ordem da Escritura e uma imitação do modo de Deus de verdadeira supervisão em uma assembleia.
Mesmo quando os anciãos foram oficialmente nomeados para o cargo de supervisão pelos apóstolos, não há registro na Escritura que eles excluíssem outros irmãos das reuniões administrativas da assembleia. Isso pode ser visto na reunião realizada em Atos 15:6-22. Ele diz: “Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.” Embora não haja menção de outras pessoas presentes à reunião no livro de Atos, Gálatas 2:1-10, que relata a mesma reunião, indica que outros irmãos estavam lá. Paulo observa que essa liberdade foi abusada e certos “falsos irmãos” (que não eram apóstolos nem anciãos) entraram na reunião e tentaram impedir os procedimentos com os interesses deles.
Isso mostra que, quando essas reuniões não são fechadas para alguns, existe o risco de ter algumas pessoas que continuarão com pouco entendimento dos princípios da Escritura. Nesse caso, os irmãos líderes devem intervir e inibir a pessoa (ou pessoas). Foi o que aconteceu naquela reunião em Atos 15 e Gálatas 2. Quando alguns se levantaram e tentaram convencer os irmãos de sua opinião sobre o assunto em questão, Paulo e alguns outros intervieram e interromperam isso. Ele diz: “Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição”.
O fato de esta reunião ter sido realizada “particularmente (separadamente dos outros) mostra que as reuniões de assuntos administrativos (às vezes chamadas de “reunião de cuidados”) devem ser realizadas separadamente da assembleia local como um todo. Há momentos em que é necessário que os irmãos responsáveis em uma assembleia se reúnam para discutir certas questões que a assembleia enfrenta sem a presença daqueles que são instáveis ou são governados pela emoção. Está claro em Atos 15:6 que as mulheres e jovens crentes não foram incluídas nesta reunião. A única outra pessoa na assembleia que seria excluída é um irmão que teve alguma restrição disciplinar sobre ele a esse respeito. Além dessas exceções, a reunião deve ser aberta a irmãos exercitados que cuidam do rebanho. Todos os irmãos não precisam estar lá se não forem exercitados sobre esse trabalho, mas os que vão precisam reconhecer aqueles a quem Deus levantou para “assumir a liderança” (Hb 13:17 – JND) e dar lugar a eles. A Escritura assume espiritualidade e comunhão por parte de todos em uma reunião de cuidados para discernir isso.
Ter irmãos em reuniões administrativas que não consideram a si próprios como líderes, lhes oferece a oportunidade de crescer em seu entendimento dos princípios da Escritura em assuntos referentes aos assuntos da assembleia. Se eles forem privados de comparecer a esse tipo de reunião, como é o caso dos Irmãos Abertos, eles perderão uma educação valiosa em questões administrativas. Além disso, a presença de outros irmãos nessas reuniões tende a manter um equilíbrio nas questões que surgem, e há maior imunidade ao desenvolvimento do espírito de partidarismo.
Na reunião descrita em Atos 15 e Gálatas 2, homens de duas assembleias diferentes (Antioquia e Jerusalém) compareceram porque o assunto em questão envolveu as duas localidades. Certos mestres da assembleia em Jerusalém haviam chegado a Antioquia e ensinado coisas erradas ali (At 15:24), e assim o assunto foi abordado entre as duas assembleias. Mas normalmente, em uma reunião de cuidados, deve haver apenas aqueles que pertencem a essa assembleia local.
Nos assuntos administrativos de uma assembleia, Deus quer que olhemos para Cristo, a Cabeça da Igreja, quando surgirem problemas (At 4:23-31) – e não inventar um sistema de administração em que quatro homens tratem deles. Pode ser uma maneira conveniente de evitar certas dificuldades que possam surgir, mas não é a ordem de Deus. Quando a ordem feita pelo homem entra na assembleia, embora possa ser com boas intenções, há consequências indesejadas que resultarão. Por exemplo, esse sistema poderia promover o elitismo. Os que estão no círculo interno podem começar a pensar (sem saber) que estão acima de seus irmãos, e isso será sentido na assembleia. Os homens que estão nesse círculo interno podem estar inclinados a não ouvir preocupações e sugestões legítimas das pessoas da assembleia porque pensam que sabem melhor e porque foram designadas para esse cargo. Outros irmãos na assembleia podem ter a sensação de que suas contribuições não são importantes e, portanto, podem não se preocupar em se interessar quanto aos cuidados da assembleia.
A Consciência da Assembleia Não é Alcançada nem Purificada nas Suas Decisões
Os assuntos da assembleia poderiam muito bem ser resolvidos com mais tranquilidade, tendo quatro homens para lidar com as coisas, mas a consciência da assembleia não está devidamente comprometida quando as coisas são tratadas dessa maneira.
A escritura indica que, se for uma questão de pecado na assembleia, a acusação feita à assembleia é que isso está “entre vós**.”** Isso é, a assembleia como um todo (1 Co 5:1; Js 7:11.). A assembleia deve senti-lo como seu próprio pecado, e deve lidar com ele como uma assembleia. Portanto, a palavra para a assembleia é: **“Tirai, pois,** dentre vós **a esse iníquo”** (1 Co 5:13). E tendo feito isso, a assembleia é purificada, **“em tudo** (vós) **mostrastes estar puros neste negócio”** (2 Co 7:11). Essas são ações da assembleia, não as ações de alguns homens agindo pela assembleia.
Visto que a assembleia é acusada do pecado, ela precisa estar envolvida na limpeza de sua consciência. Mas quando alguns homens agem para a assembleia, a consciência da assembleia não é adequadamente alcançada ou purificada no assunto. O Senhor disse: “dize-o à igreja” (Mt 18:17). Isso mostra que é necessário um exercício coletivo da assembleia. Atos 15, novamente, indica isso. Diz: “Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a igreja [assembleia]…” (v. 22). Embora nem “toda a assembleia” estivesse na reunião administrativa, eles foram informados do assunto em questão e sua consciência estava suficientemente engajada na decisão. Quando a ação de assembleia é feita, ela deve ser feita com todos que estão presentes na assembleia. Isso incluiria irmãs e irmãos mais novos. Todas as ações de ligar e desligar da assembleia devem ser realizadas “em assembleia” (1 Co 5:4, 11:18) – ou seja, quando a assembleia está reunida em uma reunião para esse fim (Mt 18:18-20; 1 Co 5:4). Os detalhes do caso não precisam ser aprofundados em um fórum público, porque podem ser de natureza contaminante, mas o pecado envolvido deve ser nomeado, e Escrituras lidas devem ter relação com a responsabilidade da assembleia com o caso. Dessa maneira, a consciência de cada pessoa na assembleia pode se engajar nas ações tomadas e serem purificadas no assunto.
Este exercício é impedido quando as questões são tratadas por quatro homens que atuam na assembleia. Sentindo nossa fraqueza nas responsabilidades da assembleia, é compreensível o motivo de querermos designar certas pessoas para fazer esse trabalho em nosso lugar, mas, ao fazê-lo, a assembleia não está adequadamente envolvida no assunto. J. N. Darby disse: “A reunião de alguns que servem e cuidam dos santos é muito desejável, mas eles não podem atuar como assembleia, embora possam servi-la de todas as maneiras.” Ele também disse: “Uma reunião de irmãos que trabalham não é a assembleia, e a diferença prática é esta: que a consciência da assembleia não é purificada.” Portanto, o falso sistema de supervisão que os Irmãos Abertos usam essencialmente transformam em decisões de assembleias somente as decisões dos homens no círculo interno. Embora esses homens possam ser piedosos, profundamente exercitados e sinceros, podendo até chegar à conclusão e julgamento corretos nessas questões, ainda assim anulam a consciência da assembleia quando essas questões são tratadas dessa maneira. Ter esse sistema interfere na dependência e comunhão com Deus nesses assuntos de assembleia. A maneira de Deus administrar a assembleia é fazer com que ela dependa do Senhor em busca de ajuda, mas a maneira do homem é estabelecer um sistema pelo qual os anciãos da assembleia decidam pelos outros.
O sistema de supervisão “fechado” pode ser conveniente, mas é uma imitação da verdade da supervisão administrativa da Escritura. Superficialmente, parece ser o modo de Deus fazer a administração de uma assembleia funcionar, mas um exame mais detalhado indicará que não é a ordem de Deus.
Capítulo Quatro
PRINCÍPIO nº 4
Negação Parcial da Direção do Espírito Santo nas Reuniões de Ministério
O quarto princípio falso que queremos abordar é a negação parcial da direção do Espírito Santo nas reuniões dos Irmãos Abertos. Dizemos “parcial” porque os Irmãos Abertos permitem que o Espírito lidere em suas reuniões de ministério em certa medida. Estamos nos referindo a reuniões onde o dom é exercido, não a reuniões de oração e adoração onde o sacerdócio dos crentes está em exercício.
No capítulo anterior, observamos que os Irmãos Abertos têm um sistema em vigor na esfera do governo da igreja local para impedir que a carne entre e atrapalhe a liderança da assembleia. Eles fazem uma coisa semelhante na esfera do ministério – e pelo mesmo motivo – para impedir a carne de agir nas reuniões. Sabemos que, quando a liberdade é dada ao Espírito Santo para liderar no ministério, existe o risco de a carne de alguém entrar e estragar a reunião com palavras inúteis. E impedir a carne é certamente uma coisa boa, mas isso não significa que devemos empregar um esquema feito pelo homem para fazê-lo. No entanto, é isso que os Irmãos Abertos fizeram. Eles introduziram certas práticas nas reuniões do ministério para controlar as coisas, mas elas não são a ordem de Deus.
Pelo que já cobrimos, e novamente aqui com esse ponto, é evidente que o princípio por trás da grande parte da ordem nas reuniões dos Irmãos Abertos é que eles estão tentando controlar as coisas para a glória de Deus usando métodos humanos. É um desejo atraente, mas não é sábio ou bíblico. A introdução de princípios e ordem humanos para prevenir a carne na assembleia resulta em impedir o Espírito de Deus de liderar como faria no ministério (1 Co 12:11). Isso nos lembra a tentativa bem-intencionada de Uzá. Ele tentou proteger a arca, colocando a mão nela, mas isso desagradou ao Senhor porque ele interferiu no que foi “ordenado” por Deus (1 Cr 13:9-10; 15:13). As intenções de Uzá eram bem-intencionadas, mas não eram de Deus.
O que a Escritura Ensina?
Examinando o Novo Testamento, descobrimos que há uma variedade de reuniões que a Igreja deve realizar para o ministério da Palavra. Entre os Irmãos Abertos, essas reuniões não existem ou foram alteradas para se ajustarem a uma ordem de sua própria criação. Essas reuniões para o ministério são:
UMA REUNIÃO ABERTA – É uma reunião em que o púlpito é deixado aberto para o Espírito de Deus dirigir dois ou três irmãos a ministrar a Palavra (1 Co 14:26-33). Como o Senhor está no meio desta reunião e o Espírito de Deus está no controle, esses irmãos serão levados a ministrar algo da Escritura que será para a edificação da assembleia. Diz: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. Aqueles que agem como profetas nesta reunião devem falar para “edificação, exortação e consolação” dos outros reunidos naquela ocasião em particular (1 Co 14:3).
Visto que esta reunião está aberta para o Espírito usar quem quer que “Ele queira” (1 Co 12:11), pode haver alguém que pense que ele tem algo proveitoso e que ele está sendo guiado pelo Espírito, quando ele não está. Invariavelmente, esses ocupam o tempo de maneira não proveitosa. Este foi o problema em Corinto. Eles abusaram dessa reunião e a transformaram em algo livre para todos. Todos eles tinham algo que queriam “mostrar e contar”, edificando a assembleia ou não (1 Co 14:26). Eles estavam tão ansiosos para falar que estavam tropeçando uns nos outros, e as reuniões para o ministério eram conduzidas desordenadamente. O apóstolo Paulo mostra que a resposta não é excluir essa reunião do horário das reuniões, mas recorrer à maneira dada por Deus de regular a reunião, para que todas as coisas sejam feitas “decentemente e com ordem” (v. 40).
O apóstolo declara três coisas que devem regular o ministério nas reuniões abertas:
- Devemos dar lugar à liderança do Espírito, que está implícita nas oito conjugações dos verbos “faça-se” (vs. 26, 27) “haja” (v. 27) “esteja” (v. 28) “fale” (v. 28) “falem” (v. 29) “julguem” (v. 29) “cale-se” (v. 30) - Os profetas devem usar o controle próprio em relação ao seu próprio “espírito” e não devem interromper um ao outro, mas espere até que o primeiro orador termine antes que o próximo fale (v. 32). Paulo disse: “Mas se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa**, cale-se o primeiro”** (v. 30). - Se uma pessoa persistir em falar com pouco ou nenhum proveito, a assembleia tem o recurso de poder “julgar” o ministério dessa pessoa e silenciá-la (v. 29).
É triste dizer que esta reunião foi removida das reuniões regulares entre os Irmãos Abertos. Pode haver algumas exceções, mas geralmente a resposta para os problemas que podem surgir em reuniões abertas é simplesmente não tê-las. Isso evita o constrangimento de se ter uma reunião sem proveito, mas não é a maneira de Deus lidar com o problema.
UMA REUNIÃO DE LEITURA – Os princípios essenciais de uma reunião de leitura da Bíblia são apresentados em 1 Timóteo 4:13. Diz: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” A “leitura” de que Paulo fala aqui não é a leitura pessoal ou privada da Escritura, ou a leitura do ministério escrito, mas o de leituras públicas das Escrituras quando os santos estão reunidos (conforme nota de rodapé da tradução de J. N. Darby). Era costume da Igreja primitiva se reunir para ouvir as Escrituras serem lidas (Cl 4:16; 1 Ts 5:27). O fato de Paulo incluir “exortação” e “ensino” indica que, depois que as Escrituras eram lidas em voz alta, havia uma oportunidade para o Espírito de Deus usar qualquer um que tivesse um dom para exortar ou expor a verdade, para fazer comentários para a ajuda espiritual e entendimento dos santos. Isto é o que é uma reunião de leitura da Bíblia.
Essas reuniões foram valiosas na Igreja primitiva, porque a maioria naquela época não possuía uma cópia das Escrituras. Era o único caminho para os santos ouvirem a Palavra de Deus e obterem algum ministério útil. Essas ocasiões também promoveram comunhão. A escritura diz: “E perseveravam na doutrina e na comunhão dos apóstolos” (At 2:42 – JND). A reunião de leitura da Bíblia ainda é um meio maravilhoso de aprender a verdade.
Paulo encorajou Timóteo a usar essas oportunidades para exercitar seu dom em exortação e ensino. Ele lembrou-lhe de que ele definitivamente possuía um dom para isso, e que não deveria negligenciar o uso dele. Ele também lembrou-lhe de que tinha o apoio de seus irmãos mais velhos (“presbíteros”) que reconheceram seu dom e lhe estenderam a destra da comunhão no uso dele (1 Tm 4:14). Não devemos encorajar alguém dessa maneira, se ele não tiver um dom para ministrar a Palavra. A pessoa poderia se envergonhar, e haveria pouco proveito espiritual para os santos. Embora a reunião deva ser usada para quem pode ensinar, se não houver alguém presente que tenha um dom reconhecido para o ensino, os santos ainda poderão ser alimentados. Se vários irmãos em uma reunião expressarem o que entendem em conexão com a passagem, na dependência do Senhor, poderão contar com o Espírito de Deus para dar algo aos santos, porque Deus sempre abençoa a leitura de Sua Palavra (Ap 1:3).
Obviamente, essa reunião também pode ser prejudicada por comentários desordenados e debates de pessoas carnais. No entanto, os princípios que Paulo dá em 1 Coríntios 14, embora sejam primariamente para governar a reunião aberta, podem ser aplicados a qualquer reunião para o ministério. Se alguém fala de maneira não produtiva e persiste em fazê-lo, a assembleia tem o recurso de “julgar” e silenciar essa pessoa. Novamente, esta é a maneira de Deus de regular o ministério.
É triste dizer que os Irmãos Abertos lidaram com isso de maneira diferente. O braço “liberal” praticamente eliminou esta reunião de sua programação regular de reuniões e, assim, livrou-se de qualquer problema potencial de intromissão da carne. O braço “conservador” ainda tem reuniões de leitura, mas eles lidam com a dificuldade de outra maneira. Eles têm um mestre designado para “liderar” as reuniões; ele é chamado de “mestre ancião” (1 Tm 5:17). Esse homem conduzirá a reunião e explicará as Escrituras aos santos em forma semelhante a um discurso com todos sentados. Ele pode ter outro homem “designado” para ajudá-lo no ensino. Os outros na assembleia não devem falar enquanto a passagem estiver sendo exposta por ele ou seu ajudante. Mais tarde, na reunião, ele abrirá para perguntas por alguns minutos. Essas perguntas, é claro, são direcionadas aos mestres que explicaram a passagem aos santos. Devido à diversidade entre as reuniões dos Irmãos Abertos, esse pode não ser sempre o caso em todas as assembleias, mas geralmente o braço “conservador” tem esse formato. W. R. Dronsfield, “The Brethren Since 1870”, relata: “As leituras foram abandonadas em muitos lugares. Mesmo onde as leituras da Bíblia são realizadas, elas geralmente são controladas por um presidente designado que apresenta o assunto ou o capítulo por meio de uma palestra de duração variável e, em seguida, deixa a reunião aberta para discussão ou perguntas. O ministério pré-organizado é o costume em alguns lugares.”
Desnecessário dizer que esse arranjo humano nas leituras bíblicas da assembleia dificulta a liderança do Espírito de Deus. Um irmão pode ter algo a contribuir que ajudaria no entendimento da passagem que eles estão considerando, e o Espírito pode querer levá-lo a compartilhá-la, mas ele não deve interromper o ensino. Esse sistema pode ser uma maneira conveniente de impedir que as leituras da Bíblia se tornem desordenadas, mas não é a ordem de Deus. É realmente fazer “da carne o seu braço” (Jr 17:5). Não dizemos que um mestre talentoso não deve liderar o ensino em uma leitura da Bíblia, mas que deve ser guiado pelo Espírito ao fazê-lo, e que haja liberdade para que outros presentes contribuam conforme guiados pelo Espírito. A Escritura não reconhece nada sobre ter um homem designado para liderar no ensino; essa estrutura interfere na direção do Espírito.
Se realmente acreditamos que o Senhor está no meio, não teríamos a ideia de ter outra pessoa além d’Ele presidindo as reuniões do ministério. C. H. Mackintosh disse: “Como uma assembleia poderia continuar sem alguma direção humana? Isso não levaria a todo tipo de confusão humana? Não abriria a porta para que todos se intrometessem na assembleia, independentemente de dom ou qualificação? Nossa resposta é muito simples. Jesus é todo suficiente. Podemos confiar n’Ele para manter a ordem em Sua casa. Sentimo-nos muito mais seguros em Suas mãos graciosas e poderosas do que nas mãos do mais atraente dirigente humano”. A Escritura afirma isso; diz: “É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem” (Sl 118:8).
Externamente, as leituras da Bíblia entre os Irmãos Abertos “conservadores” podem parecer conforme a Escritura, mas, na realidade, uma ordem humana foi substituída pela ordem de Deus.
UMA PREGAÇÃO – Um exemplo desta reunião é encontrado em Atos 20:7. Diz: “Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com [pregava para – KJV] eles; e alargou a prática [discurso – JND] até à meia noite.” Quando surge a ocasião, e há um irmão presente que seja talentoso em ministrar a Palavra de Deus, a assembleia poderá aproveitar a oportunidade e pedir-lhe que faça uma pregação. A reunião pode ser usada para ensinar a verdade da revelação Cristã aos santos, ou pode assumir o caráter de exortação e encorajamento práticos.
Felizmente, podemos relatar que os Irmãos Abertos usam esta reunião livremente, e Deus a usou para trazer bênção entre eles.
Em resumo: vemos que a direção do Espírito é um pouco negada nas reuniões de ministério entre os Irmãos Abertos. Das três reuniões para o ministério que as assembleias deveriam ter, duas delas foram excluídas ou modificadas até o ponto em que o Espírito de Deus é impedido, pelo menos parcialmente. Esta não é a ordem de Deus para o ministério na assembleia. Ele gostaria que agíssemos de acordo com os princípios bíblicos e com confiança no Senhor. Se surgirem problemas nessas reuniões, devemos procurar aqu’Ele que é a Cabeça da Igreja – não inventar uma ordem humana para prevenir ou resolver o problema.
## A Infraestrutura Informal de Convidar Servidores
Devido à natureza de independência das assembleias dos Irmãos Abertos, aqueles que ministram entre eles não podem visitar uma assembleia e ministrar lá segundo a liderança do Senhor; eles precisam ser “convidados” a fazê-lo. As pessoas podem ir a diferentes assembleias e participar do partir do pão e das reuniões de oração, mas, a menos que sejam “convidadas”, são realmente proibidas de participar das reuniões de ministério. Isso, novamente, é impedir o Espírito de Deus. Ele pode exercitar um irmão e desejar enviá-lo para ajudar os santos em uma localidade específica, mas a infraestrutura informal de “convidar” servos impede isso. Essa ordem mantém as pessoas indesejáveis afastadas, mas, novamente, não é a ordem de Deus.
Os servos que não se interessam ou não concordam com certas tendências em determinadas assembleias não serão “convidados” por elas. Se vierem por conta própria, espera-se que eles tragam uma carta de apresentação de sua assembleia local e, mesmo assim, a assembleia para a qual forem ainda se reserva ao direito de recusá-los a ministrar em seu meio. Portanto, os trabalhadores em tempo integral entre os Irmãos Abertos devem esperar para serem convidados pelas assembleias para participar das reuniões. Isso significa que eles não organizam exatamente seus próprios itinerários, conforme o Senhor os guiar; em vez disso, seus horários são amplamente controlados por essa infraestrutura informal.
Como resultado de não ter a liberdade de ministrar a Palavra no ensino e na exortação, a ênfase entre os servos dos Irmãos Abertos tende a ser mais voltada para o evangelho do que para o ministério de ensino. Com o tempo, a maioria das assembleias se tornou pouco mais do que evangelismo. Hamilton Smith disse: “Não é apenas claro que, como resultado da adoção desses princípios falsos, a verdade da Igreja foi amplamente obscurecida entre os Irmãos Abertos e cada vez mais eles tendem a se tornar simplesmente uma missão de evangelismo.”
Além disso, o inconveniente de ter que ser reexaminado toda vez que uma pessoa vai para outra assembleia (a menos que seja conhecida lá) e a proibição de ministrar a menos que seja “convidado”, tende a impedir a comunhão entre assembleias. É comumente relatado que aqueles que estão entre eles não viajam muito de localidade para localidade em comunhão entre assembleias. Ser “limitado à localidade” apenas ajuda essas assembleias independentes a se afastarem em diversidade.
# Capítulo Cinco
CONCLUSÕES
Como mencionado na introdução, sinceramente amamos aqueles conectados com os Irmãos Abertos (como fazemos com todos os nossos irmãos Cristãos nas várias denominações da igreja), mas acreditamos firmemente que os princípios nos quais os Irmãos Abertos se encontram são errôneos, e procuramos apontá-los. Acreditamos que fizemos isso de forma clara e simples, e esperamos com amor, para que ninguém que queira a verdade possa entender mal o que foi apresentado.
## Os Irmãos Abertos São Realmente Reunidos para o Nome do Senhor?
Resta um ponto que precisa ser abordado: “Os Irmãos Abertos são realmente reunidos ao nome do Senhor de acordo com Mateus 18:20?” Eles professam estar reunidos, e isso é evidente no fato de que eles (o braço “conservador”) colocam uma placa em seus edifícios afirmando que eles estão – muitas vezes citando esse mesmo versículo para apoiar sua reivindicação. Mas essa afirmação é verdadeira? Acreditamos que não é. Ao examinar os princípios nos quais eles se encontram, fica claro que eles não estão de acordo com o verdadeiro fundamento da Igreja e, portanto, não poderiam ser reunidos ao nome do Senhor, conforme a Escritura fala.
Mateus 18:20 tem sido frequentemente chamado de a “Carta Magna” da Igreja porque o versículo tem os elementos e princípios básicos que constituem uma assembleia Cristã. É a primeira vez que a assembleia local é mencionada na Bíblia e, portanto, faríamos bem em prestar atenção especial a ela. O Senhor não desenvolveu e expandiu a verdade da assembleia naquele tempo, porque os discípulos ainda não tinham o Espírito, e não teriam sido capazes de absorvê-la (Jo 14:25-26, 16:12), mas Ele deu os princípios essenciais disso. Ele fez isso em muitas ocasiões em Seu ministério, dando apenas a semente de uma certa verdade e deixando que ela fosse desenvolvida por meio dos apóstolos quando o Espírito veio.
## A Obra do Espírito em Reunir
Há duas coisas que mostram que os Irmãos Abertos não poderiam estar reunidos ao nome do Senhor de acordo com Mateus 18:20, mesmo que eles professem estar. Em primeiro lugar, reunir Cristãos para o nome do Senhor é visto no evangelho de Mateus como uma obra soberana de Deus pelo Espírito Santo. Embora o Espírito não seja mencionado diretamente na passagem, é claro que Ele é o Agregador divino. As palavras **“são colocados juntos”** (JND) indicam isso. O Senhor não disse: “onde dois ou três estiverem reunidos” ou “estão juntos...”, conforme traduzido por algumas versões modernas. **“são colocados juntos”** é uma voz passiva, e isso aponta para o fato de que houve um poder de reunião, fora das próprias pessoas, que esteve envolvido em reuni-los juntos nesse terreno.
Hamilton Smith disse: “Para usar uma ilustração simples, vejo uma cesta de frutas sobre a mesa. Como chegaram lá? Foram reunidas; não chegaram lá por seus próprios esforços. A palavra para ‘reunidos’ no grego é _‘sunago’,_ que literalmente significa _‘levados juntos’,_ e pode ser traduzida, “são guiados juntos” – o que sugere um Agregador.” Isso mostra que o terreno divino de reunião para a Igreja não é uma associação voluntária de crentes. É verdade que deve haver exercício pessoal e energia por parte daqueles que são reunidos pelo Espírito para serem encontrados ali no lugar em que Cristo está no meio, mas esse não é o lado das coisas que são apresentadas em Mateus 18:20.
Em Quem mais o Senhor poderia confiar para reunir Seu povo em Seu nome, senão no Espírito de Deus? Os homens mais bem-intencionados procuraram reunir o povo do Senhor e fizeram uma completa confusão. Ignorando a verdade de se reunir nas Escrituras, eles colocaram os crentes em seitas e grupos denominacionais e os encorajaram a ir à “igreja de sua escolha”. O resultado é que os Cristãos foram espalhados em milhares de direções. Isso certamente não é obra do Espírito Santo.
Mateus 18:20 indica que quando o Espírito de Deus reúne crentes ao nome do Senhor, Ele não os reúne em assembleias independentes, mas **“junto”** com outros no mesmo terreno, independentemente de onde eles estejam na Terra, porque **“há um só corpo”** (Ef. 4:4). Alguns podem pensar que estamos vendo mais nas palavras **“reunidos”** do que Deus pretendia, mas como devemos interpretar a Escritura à luz de todas as outras Escrituras, quando nos voltamos para Atos e as epístolas, vemos que o Senhor estava indicando a verdade da unidade da Igreja em testemunho. (Como mencionado anteriormente, essas verdades são mencionadas aqui apenas no embrião e são deixadas para o Espírito de Deus desenvolvê-las mais tarde pelos apóstolos.) Mas não há menção no Novo Testamento de assembleias Cristãs serem independentes umas das outras. A união que os Irmãos Abertos veem em Mateus 18:20 nada mais é do que a união em uma reunião local, mas isso é perder o objetivo.
Nosso propósito em mencionar isso é para mostrar que_, se_ o Espírito de Deus fosse o Engenheiro da posição dos Irmãos Abertos, Ele os teria **“reunido”** para estarem **“juntos”** com outros que são igualmente reunidos para expressar a verdade do um só corpo. Mas, como vimos, os Irmãos Abertos nem mesmo professam estar reunidos no terreno de um só corpo; eles acreditam em independência. Visto que o Espírito de Deus não levaria os Cristãos a um local de reunião que é contrário à Palavra de Deus, concluímos que os Irmãos Abertos não poderiam estar reunidos no verdadeiro terreno da Igreja de Deus, como professam estar.
## Dois Aspectos da Obra do Espírito em Reunir
Algumas das confusões que as pessoas têm em relação a serem reunidas ao nome do Senhor vêm de enxergar apenas um lado da verdade. Não é que o Espírito de Deus reúna soberanamente as pessoas ao nome do Senhor e elas não se exercitem quanto a isso; o que não seria toda a verdade. A escritura apresenta dois lados de ser reunido juntos onde o Senhor está no meio. Como mencionado, Mateus 18:20 enfatiza a obra soberana de Deus em reunir, mas Lucas 22:8-12 concentra-se mais no que nos é requerido para sermos guiados pelo Espírito ao local de Sua designação. Lucas retoma a verdade de reunir vista pelo lado da responsabilidade do homem. Diz: **“quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro d'água; segui-o até à casa em que ele entrar.”** O Espírito de Deus é visto aqui na figura de **“um homem”** tendo um cântaro de água. (Muitas vezes na Escritura, o Espírito de Deus é visto como um homem sem nome, trabalhando nos bastidores. Isso ocorre porque não é o objetivo do Espírito chamar atenção para Si. Ele não ocupa um lugar de destaque no Cristianismo, mas trabalha nos bastidores, guiando as almas exercitadas para o terreno bíblico onde o Senhor está no meio daqueles que estão assim reunidos.) Nesse caso, Ele levou os discípulos ao local onde poderiam estar com o Senhor para a ceia. **“Água”** na Escritura geralmente significa a Palavra de Deus (Ef 5:26; Jo 15:3). Assim, aprendemos que o Espírito de Deus usa os princípios da Palavra de Deus para guiar os crentes ao lugar da designação do Senhor. Alguns dos exercícios que precisamos ter para ser guiados para esse local são:
- _Desejo sincero_ de saber onde é o local de Sua designação. Isso é ilustrado em Pedro e João, indagando ao Senhor: **“Onde queres que** a **preparemos?”**
- _A energia da fé_ para ir para a cidade e ter o exercício de ser guiado para o local. Isso é ilustrado nas palavras: **“E, indo eles**...**”** (v. 13).
- _O exercício de subir as escadas de separação_ para o **“cenáculo** [**quarto superior** – JND]**”** (v. 12). Isso implicaria deixar para trás todas as conexões com o mundo – tanto seculares quanto religiosas.
- Por fim, tendo sido direcionado para o local de Sua nomeação, há _o exercício de_ **“fazer os preparativos”** (v. 12). Isso se refere à necessidade de estar em um estado espiritual de alma adequado à Sua presença. Isso é feito exercitando o julgamento próprio (1 Co 11:28).
A Escritura nos ensina que o Senhor tem um lugar para o qual Ele reúne Cristãos segundo os princípios bíblicos. Mateus 18:20 diz: **“**onde **estiverem dois ou três reunidos**…**”** e Lucas 22:9 diz: **“**onde **queres que a preparemos?”** Novamente, 18:20 diz: **“**aí **estou Eu no meio”** e Lucas 22:12 diz: **“**aí **fazei preparativos.”** Ambas as passagens falam deste lugar. J. N. Darby disse: “Ele [Cristo] é o único centro de reunião. Os homens podem fazer confederações entre si, tendo muitas coisas para seu objetivo ou alvo, mas a comunhão dos santos não pode ser conhecida a menos que cada linha convirja para o Centro vivo. O Espírito Santo não reúne santos em torno de meras visões, por mais verdadeiras que sejam, daquilo que a Igreja é, daquilo que tem sido ou do que pode ser na Terra, mas Ele sempre os reúne em torno dessa Pessoa bendita, que é a mesma ontem, hoje e eternamente.”
## A Presença do Senhor “no Meio”
A segunda razão pela qual não acreditamos que os Irmãos Abertos estejam realmente reunidos ao nome do Senhor é que o contexto da passagem em Mateus 18 indica que o Senhor está **“no meio”** daqueles a quem o Espírito de Deus reuniu, para sancionar o terreno sobre o qual estão reunidos e autorizar as ações administrativas de ligar e desligar que são feitas ali. Mas, como mostramos, muitos dos princípios nos quais os Irmãos Abertos se reúnem não são bíblicos e, portanto, o Senhor não sancionaria com Sua presença um terreno que não está de acordo com Sua Palavra.
Além disso, se o Senhor concedesse Sua presença aos Irmãos Abertos, no sentido em que é mencionado em Mateus 18:20, estaria tolerando uma divisão óbvia no testemunho público da Igreja. E, consequentemente, Ele seria o Autor de uma divisão!
## Dois Aspectos da Presença do Senhor com Seu Povo
Muitos de nossos amigos dentre os Irmãos Abertos podem sentir que desfrutaram da presença do Senhor no meio de uma maneira muito marcante em suas reuniões. E eles podem se perguntar como se poderia dizer que o Senhor não está no meio das reuniões dos Irmãos Abertos. Mas isso ocorre porque eles estão confundindo dois aspectos diferentes da presença do Senhor com Seu povo.
Como mencionado, Mateus 18:20 refere-se à presença do Senhor sancionando o terreno sobre o qual o Espírito de Deus reuniu Seu povo. Está falando sobre o terreno apropriado da Igreja. Mas a presença do Senhor é mencionada em outro sentido na Escritura. Ele disse: **“Não te deixarei, nem te desampararei”** (Hb 13:5; Mt 28:20). Nesse sentido, o Senhor está com todos os Cristãos como indivíduos. Se os Cristãos, como indivíduos, se reúnem por qualquer motivo, secular ou religioso, Ele estaria com eles lá nesse sentido. Infelizmente, alguns têm dificuldade em entender isso e perguntam: “Como o Senhor pode estar no meio de Seu povo, e ainda assim não estar com eles?” Eles concluem que é pura falta de sentido. Mas a resposta simples é que a Escritura fala da presença do Senhor de duas maneiras diferentes. Como Cristãos que discernem, devemos aprovar **“as coisas que são excelentes** [**diferem** – KJV]**”** (Fp 1:10).
Nem devemos pensar que o Senhor está **“no meio”** sancionando o estado daqueles a quem Ele reuniu; Mateus 18:20 não está falando do _estado_ de Seus santos reunidos (pois pode ser terrivelmente baixo), mas do _terreno_ em que estão reunidos.
## Uma Imitação da Verdade de Ser Reunido
Por isso, uma coisa é _dizer_ que estamos reunidos ao nome do Senhor, e outra completamente diferente de realmente _ser_ reunidos em Seu nome. Embora muitas coisas externamente pareçam bíblicas entre os Irmãos Abertos, não acreditamos que eles estejam reunidos no verdadeiro terreno da Igreja. Como mostramos, os princípios e a ordem humanos foram adotados para manter essas assembleias funcionando – não na mesma extensão das igrejas denominacionais – mas, eles estão lá. Cremos que isso foi feito porque o Senhor não está no meio deles, de acordo com Mateus 18:20. É triste dizer que eles substituíram a ordem divina pela ordem humana e isso está apoiado no **“braço”** da carne (Jr 17:5). Percebemos que essa conclusão pode ser ofensiva para aqueles que estão na posição de assembleia dos Irmãos Abertos, mas sentimos que é necessário falar a Palavra fielmente (Jr 23:28).
Como mencionado anteriormente, os Irmãos Abertos professam estar reunidos ao nome do Senhor, e até colocam um sinal em seu prédio afirmando que estão, mas isso por si só não significa que é assim. Hayhoe costumava dizer que é algo como uma pessoa procurando um médico. Ele pode descer a rua e encontrar uma placa em um prédio de escritórios informando que lá é o consultório do médico fulano de tal. Entrando e notando que não há diplomas ou certificados publicados para provar a autenticidade do médico, ele pergunta à enfermeira da recepção e ela responde: “Ah, ele não tem um certificado de uma escola de medicina, mas é um bom médico e você vai gostar dele.” Da mesma forma, os Irmãos Abertos podem declarar que estão reunidos ao nome do Senhor – e podem ter boas intenções ao fazê-lo – mas eles realmente não têm autoridade da Escritura para ocupar esse terreno porque não se reúnem de acordo com toda a verdade da Escritura. O Sr. Vern Clark resumiu apropriadamente dizendo: “A coisa toda é apenas uma imitação do verdadeiro terreno de reunião”. Nossos queridos irmãos nesta posição falsa podem não perceber isso, por essa razão os encorajamos a procurar essas coisas e, na presença de Deus, com uma Bíblia aberta e um coração aberto, ver se é assim (At 17:11).
Ao encerrar este estudo dos princípios e práticas dos Irmãos Abertos, confiamos que não estamos sendo severos ou julgadores em nossas conclusões. Às vezes, provavelmente soou assim para aqueles afetuosamente ligados àquela posição da igreja, no entanto, procuramos declarar a verdade e não podemos nos desculpar por isso. Confiamos que isso foi feito com fidelidade e amor. Agora deixamos ao Senhor o exercitar as almas.
Acreditamos que aqueles que são verdadeiramente exercitados considerarão essas coisas em seu coração e agirão de acordo com elas, conforme o Senhor os guie. Agora, recomendamos nossos leitores a **“Deus e à Palavra de Sua graça”** (At 20:32).
# Notas
[[←1](#calibre_link-9 "1")]
N. do T.: Heterodoxo provém da palavra grega “hetero” que significa “diferente” e “doxa” que significa “fé”. É o que se opõe aos padrões, normas, regras ou à uma doutrina pré-estabelecida. É o que está em desconformidade com a doutrina tida como verdadeira.
[[←2](#calibre_link-5 "2")]
N. do T.: A nota de rodapé de J. N. Darby diz: “Alguns omitem ‘à assembleia’, cap. 2:47 e vincule ‘juntos’ ao final do cap. 2. Provavelmente deveríamos ler ‘o Senhor acrescentava juntos diariamente aqueles que deveriam ser salvos. E Pedro (ou ‘Ora Pedro’) e João subiram ao templo’.
[[←3](#calibre_link-12 "3")]
N. do T.: Foi usado o verbo “ser” (**“são colocados”**) e não o “estar” (como na maioria das traduções bíblicas em português de Mateus 18:20) pois “ser” indica uma propriedade ou característica _permanente_ do sujeito ao passo que “estar” indica um _estado transitório_.
[[←4](#calibre_link-2 "4")]
N. do T.: Trata-se de um termo se originou a partir do grego _“exégésis”_, que significa “interpretação”, “tradução” ou “levar para fora (expor) os fatos”.