Bruce Anstey

O PROPÓSITO DAS PROVAÇÕES

Sete Razões Por Que Deus Permite Provações na Vida de Seu Povo

Bruce Anstey

O PROPÓSITO DAS PROVAÇÕES

Sete Razões Por que Deus Permite Provações na Vida de Seu Povo

Bruce Anstey

Originalmente publicado por:

CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING

12048 – 59th Ave.

Surrey, BC V3X 3L3

CANADÁ

Título do original em inglês: THE PURPOSE OF TRIALSSeven Reasons Why God Allows Trials in The Lives of His People

Primeira edição – setembro 2000

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.

atendimento@verdadesvivas.com.br

Primeira edição em português – Dezembro 2018

E-book v.1.2

Abreviaturas utilizadas:

ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969

ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993

TB – Tradução Brasileira - 1917

ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994

AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira - 1967

JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby

KJV – Tradução inglesa King James

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.

O PROPÓSITO DAS PROVAÇÕES

(Kirkland, WA – 17 de setembro de 2000)

A Escola de Deus

Eu gostaria de falar agora sobre o propósito das provações na vida de um crente. Mas antes de fazê-lo, gostaria de dizer algumas palavras sobre a escola de Deus.

Vamos abrir primeiramente em Jó 36:22, “Deus é exaltado em Seu poder: quem ensina como Ele?” (JND) e também em Isaías 48:17, “Assim diz o Senhor, o Teu Redentor, o Santo de Israel; Eu Sou o Senhor Teu Deus que te ensina o que é útil e te ensina pelo caminho que deves andar”. Também, em Hebreus 12:5-11, “E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por Ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas Este, para nosso proveito, para sermos participantes da Sua santidade. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”.

Esses versículos nos dizem que Deus tem uma escola, e está atualmente treinando Seus filhos nela. Ele é chamado “o Pai dos espíritos” nessa passagem porque, como nosso grande Professor, está treinando nossos espíritos. Todos os que fazem parte de Sua família estão em Sua escola e sob Seu treinamento, porque está escrito: “o Senhor castiga ao que ama, E açoita a todo o filho que recebe” (TB). Que coisa maravilhosa! Tudo que é permitido nos tocar na escola de Deus vem do coração de amor do Instrutor. Ele nos ama e tem muito para nos ensinar.

Observe: é dito também que Ele “açoita a todo o filho que recebe”. Eu menciono isso porque podemos ser inclinados a pensar que as disciplinas que recebemos acontecem somente a nós pessoalmente, e não a outros, mas isso é só aparentemente. O treinamento do Senhor nas várias provações da vida é a porção de TODOS os filhos de Deus.

Tenhamos certeza que o Senhor não Se agrada em ver alguém sofrendo em provação. A Escritura diz: “porque não aflige, nem entristece de bom grado aos filhos dos homens” (Lm 3:33). Mas mesmo que Ele não goste de ver Seu povo sofrer nas provações, sabe que é necessário para sua instrução espiritual e para a Sua glória – assim, Ele as permite. Na verdade, Ele sente tudo que sofremos! É solidário conosco em todas as nossas lutas. “Em toda a angústia deles, foi Ele angustiado, e o Anjo da Sua presença os salvou; pelo Seu amor e pela Sua compaixão, Ele os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Is 63:9). Cada lágrima que vertemos Ele mantém em Seu “odre” e Ele as escreve em Seu “livro” porque Se importa conosco, e tudo isso é precioso para Ele – muito mais do que imaginamos! (Sl 56:8)

O lugar da nossa instrução – nossa sala de aula – está aqui neste mundo. Há coisas que necessitamos aprender sobre nosso grande Deus, e há coisas que necessitamos aprender sobre nós. Muitas dessas coisas não podem ser aprendidas sem que atravessemos tribulações. Há uma dimensão de aprendizagem que não pode ser obtida lendo as Escrituras somente; deve haver a experiência na vida para acompanhá-la. Essas experiências, é claro, somente acontecem enquanto estivermos aqui neste mundo, porque no céu nunca teremos qualquer circunstância difícil. Nossas provações podem vir de qualquer direção. Podem ser doenças, aflições, acidentes, perseguições, problemas financeiros, problemas conjugais, problemas na família, a rejeição de outros, etc.

Podemos perguntar, “Por que o sofrimento é necessário? Não poderia Deus nos ensinar de alguma outra maneira?” Bem, vamos recordar que essas dores, aflições, desastres, etc., não são as coisas que Deus colocou neste mundo quando o criou, mas elas vieram a existir em consequência do pecado do homem (Rm 5:12). Nós, como uma raça, as trouxemos sobre nós! Mas agora que tais coisas estão aqui, Deus as usa para nos ensinar muitas lições necessárias. Dessa maneira, faz “a ira do homem” glorificá-Lo (Sl 76:10 – TB). Tira o bem de entre os problemas que o homem trouxe para si mesmo! Isso é algo que somente Deus pode fazer. Assim sendo, o que quer que seja que o Senhor permita que passemos, em última análise, será usado para nosso bem e para nos abençoar, embora possa não parecer assim no momento. Como Ele é perfeito em sabedoria, podemos estar seguros de que Ele não comete nenhum erro em tudo que passarmos em Sua escola. Romanos 8:28 assegura-nos disso, “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito”.

Eu li um folheto que contava a história de um homem que observava uma borboleta se esforçar para sair de seu casulo. Ele não sabia que aquilo fazia parte do processo natural de transformação da criatura em uma bela máquina de voo. Ao observar seu esforço, pensou que ela iria morrer, e então, para ajudá-la sair, pegou um canivete e fez um pequeno corte no casulo. Para seu horror, a borboleta emergiu com as asas formadas pela metade, e nunca poderia voar! Em seu desejo de ajudar a pequena criatura, tinha interferido no processo da natureza, e a tinha destruído. Que lição! As lutas na vida pelas quais passamos são usadas por Deus em Sua escola para nos ensinar lições valiosas. Se Ele nos livrasse de atravessar tais coisas, perderíamos por toda a eternidade aquilo que Ele está procurando fazer em nós. A Escritura diz: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Co 4:17).

Três Maneiras de Reagir às Provações

Devemos considerar tudo o que vem em nossa vida como uma lição do Senhor. O Sr. Darby costumava buscar o Senhor quando algo tão pequeno quanto um resfriado comum o apanhava. Isso é bom, pois mostra a sensibilidade à voz do Senhor na vida de alguém. A passagem em Hebreus 12 nos adverte de algumas tendências comuns de reagir de uma maneira errada.

Primeiramente, seu escritor diz que não devemos “desprezar” a provação (Hb 12:5). Se não estivermos andando com o Senhor, a tendência será desconsiderar as coisas que Ele permite que nos aconteçam. Uma pessoa pode com arrogância, desprezar tudo, não reconhecendo que é a mão do Senhor em sua vida. Se esse for o caso, certamente perderemos a bênção que Ele tem para nós em tudo isso.

Em segundo lugar, a passagem diz para não “desmaiarmos” sob a prova (Hb 12:5). Isso se refere a ficarmos desanimados. A tendência aqui é o desencorajamento até ao ponto de desistir. Se tomarmos essa atitude em uma provação perderemos também a bênção prática que o Senhor tem para nós nela.

O escritor continua a falar da terceira atitude que podemos ter em uma provação – a única apropriada, eu diria – e essa é ser “exercitado por ela” (Hb 12:11). Quando estamos exercitados sobre as coisas que Deus permite em nossa vida e buscamos Sua face com respeito a elas, isso trará “o fruto pacífico de justiça” em nós.

Cinco Coisas que Devemos Sempre Fazer Quando uma Provação Vier em Nossa Vida

Quando a provação vem no nosso caminho – e certamente virá – há algumas coisas importantes que devemos manter em mente; caso contrário, poderemos reagir mal desprezando-a ou desmaiando sob ela, e assim, não tirando proveito dela.

  1. Lembrem-se que as provas vêm em nossa vida pela vontade divina, e consequentemente devemos aceitá-las de Sua mão no espírito de submissão. Jó entendeu isso e disse, “Pois Ele cumprirá o que está ordenado para mim” (Jó 23:14 – TB). Quando a provação vem, devemos entender que ela vem do Senhor. “…porque isso veio da Minha parte” (1 Rs 12:24 – TB).

Se Deus ordenar alguma dificuldade ou provação em nossa vida, precisamos justificá-Lo por isso, e aceitá-la como sendo justa e correta, porque Ele não comete erros. O Senhor é sempre nosso exemplo. Quando veio para abençoar Seu povo Israel, eles O rejeitaram. E Ele considerou o desapontamento como vindo da mão do Seu Pai, dizendo, “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve” (Mt 11:26). Essa é a atitude apropriada para se ter. Jó fez isso quando a provação veio sobre ele. É dito, “Então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou, e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1:20-22).

  1. Lembrem-se que Deus nos dará graça para lidar com isso, de modo que possamos nos comportar como deve um nascido de Deus. A Escritura diz: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1 Co. 10:13).

Quando Paulo rogou ao Senhor numa provação específica pela qual passou, o Senhor disse a ele, “Minha graça te basta” (2 Co 12:9). Eliú disse a Jó, “Porque Deus não sobrecarrega o homem mais do que é justo” (Jó 34:23). Podemos estar seguros de que Deus dará graça suficiente para que nos comportemos corretamente em nossa provação. Tiago disse, “Ele dá maior graça” (Tg 4:6). Ele dará graça para suportar se olharmos para Ele. Isso é importante, porque nossa tendência é pensar que porque estamos em uma provação particular, estamos autorizados a nos comportar de alguma maneira abaixo do esperado. Eu não sei de onde essa ideia foi tirada, mas realmente é apenas uma desculpa para um comportamento de vontade própria.

  1. Lembrem-se de que estamos na escola de Deus, e Ele está tentando nos ensinar algo nela. Devemos entender de nossa parte, que há uma “necessidade” para a provação e um propósito de amor de Sua parte (1 Pe 1:6). Como Ele não comete nenhum erro no que permite que nos aconteça, temos que olhar para Ele e procurar aprender o que nos está ensinando na provação. Cada filho de Deus com um coração reto deve querer se beneficiar com ela.

Como já dissemos, Ele é “o Pai dos espíritos” e está nos treinando fielmente. O Senhor não nos dá provações ao acaso ou indiscriminadamente, mas pesa cada provação na sua menor medida – em gramas, se posso falar assim – antes que a aplique em um dos Seus. Ele não tem prazer em causar dor na vida de ninguém, mas sabe que é necessário para sua instrução espiritual. Uma coisa certa é que Ele permitirá somente coisas em sua vida para seu bem final.

  1. Lembrem-se de que no tempo certo, o Senhor nos tirará da provação. O Senhor disse à igreja em Esmirna que teriam tribulação por “dez dias” (Ap 2:10). Ele mediu o quanto duraria a provação que iriam passar antes mesmo que tivesse acontecido! Ele sabia exatamente quanto tempo seria. Quando a provação tiver alcançado seu divino objetivo, em misericórdia, Deus a retirará – de um jeito ou outro, seja nos tirando dela ou afastando-a de nós. “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” (1 Pe 5:10).

Pode ser que Ele nos tire da provação nos chamando para casa, no céu. Independentemente de como o faz, nunca comete erros, e sempre nos livra no final. Um idoso irmão das Índias Ocidentais costumava dizer que seu versículo favorito era: “isso veio para passar!”1 quando perguntado por que, ele respondia, “porque quando uma provação vem em meu caminho eu sei que isso passará – no tempo do Senhor”. Necessitamos ter esse tipo de confiança!

  1. Leve a provação a Ele em oração. Filipenses 4:6-7 diz: “Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus”. Na provação que enfrentamos, Deus quer que peçamos a Ele o que precisamos a respeito dela. Há incontestável conforto em saber que você foi a Ele em oração. Ele quer que aliviemos nosso coração e extravasemos tudo diante d’Ele. O Salmo 62:8 diz: “… derramai perante Ele o vosso coração”. O Senhor quer que entreguemos a Ele nosso problema, porque nos é demasiado duro carregar tudo sozinhos. O Salmo 55:22 diz: “Lança o teu fardo [a porção designada] sobre o Senhor, e Ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado” (AIBB).

A passagem em Filipenses 4 não diz que Ele concederá nossos pedidos automaticamente, mas promete que, se Lhe entregarmos nosso problema, Ele nos dará “a paz de Deus” na provação. Deus sabe que a tendência de nosso coração é tomar as coisas de volta, e ficar sobrecarregados com elas, assim, Ele continua e diz: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (v. 8 – ARA). Isso mostra que após entregar ao Senhor nossa provação em oração é importante manter nossa mente em coisas positivas.

Talvez você diga, “mas cada vez que eu tento pensar sobre outras coisas minha mente continua voltando para minha provação”. O apóstolo antecipou isso, e no versículo seguinte (v. 9) diz: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será”. Em outras palavras, necessitamos estar ocupados fazendo as coisas. Pessoas ocupadas não têm tempo para pensar sobre si mesmas e seus problemas. Não devemos estar ocupados fazendo qualquer coisa, mas estar ocupados fazendo as coisas que o próprio apóstolo falou – a saber, a obra do Senhor.

A libertação da ansiedade na provação, portanto, é uma coisa tripla. Primeiramente, entregamos nosso fardo ao Senhor em oração; em segundo lugar, devemos conduzir nossa mente para longe da provação pensando em coisas positivas. Em terceiro lugar, nos mantermos ocupados no serviço do Senhor. O ponto aqui é que devemos não somente estar pensando em outras coisas, mas precisamos ser encontrados fazendo essas coisas. Se tentarmos meramente pensar em outras coisas, nossa provação voltará à nossa mente. Assim, é necessário estar ocupados fazendo coisas no serviço para o Senhor. Isso nos ajudará a encontrar o alívio para a ansiedade.

Hebreus 4:16 também diz para levarmos nossas dificuldades e provações ao Senhor em oração. Diz: “Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno”. O resultado é que o Senhor concederá, de acordo com Sua perfeita sabedoria, “misericórdia” e “graça” na provação. Essas duas coisas indicam as duas maneiras com que o Senhor responde a nossos pedidos de oração. Misericórdia nos livra da provação, e graça nos sustenta nela. A misericórdia é um alívio dado ao nos tirar da provação, ao passo que a graça é o apoio dado a nós em uma provação que Ele não acha conveniente remover. Em um e outro caso, o Senhor dá o que é o melhor para nós.

Por Que Deus Permite Provações nas Vidas de Seu Povo

Meu desejo agora é olhar em algumas razões por que Deus permite o sofrimento e as provações nas vidas de Seu povo. Eu confio que isso ampliará nosso entendimento dos caminhos morais de Deus, com a finalidade de nos tornar mais dispostos a permitir que o Senhor tenha Sua forma de agir em nossa vida, sabendo que é somente para Sua glória e nosso bem final.

Há diversas coisas que as provações produzem nas vidas do povo do Senhor, e todas elas são boas! J. N. Darby disse que a provação não pode conferir graça, por si mesma, mas sob a mão de Deus ela pode quebrar a vontade e detectar males escondidos e desconhecidos, de modo que se forem julgados, a vida nova será desenvolvida mais inteiramente e Deus terá um lugar maior no coração. Por ela a humilde dependência é ensinada, haverá mais desconfiança de si mesmo e da carne, e uma percepção de que o mundo não é nada. Além disso, o que é eternamente verdadeiro e divino terá um lugar maior na alma.

Como eu disse, todas essas coisas são boas. Sabendo isso, devemos ser gratos pela fidelidade de nosso Deus em nos dar as provações que nos ajudam, enfim, a amadurecer espiritualmente.

1) Nossas Provações Glorificam a Deus Quando Recebidas Corretamente

Vamos ler João 11:1-4; “Estava então enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos; cujo irmão Lázaro estava enfermo. Mandaram-Lhe pois suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que Tu amas. E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Vemos aqui que o grande propósito implícito em todas as provações que o povo do Senhor passa, é a glória que é dada a Deus. O fim de todos os procedimentos de Deus com Seu povo é que Ele e Seu Filho sejam glorificados! No final, tudo o que acontece em nossa vida é útil a esse grande objetivo.

Que coisa triste e penosa deve ter sido isto para Lázaro. Deus tinha dado a ele uma provação em sua saúde. Foi colocado doente em seu leito, e estava morrendo! E mais, os efeitos disso tocaram em outras vidas. Suas irmãs, Maria e Marta, estavam em profunda tristeza. Parece que sempre que alguém do povo do Senhor passa por qualquer tipo de provação, raramente afeta apenas essa pessoa. De qualquer maneira, aprendemos a partir dessas coisas, que Deus é glorificado com as provações de Seu povo.

Então você pode perguntar, “Como poderia algo mau como o que aconteceu a Lázaro ser para a glória de Deus?” Bem, é muito simples. A provação se transforma em oportunidade para que o Senhor mostre Seu poder e graça para sustentar Seu povo em tal hora, e para manifestar assim Sua glória. Deus permite que Seu povo caia em provações, e então, concede graça que o sustenta nelas, por meio das quais um testemunho é dado à Sua grandeza. Aqueles que observam o povo do Senhor que está sendo sustentado nas provações aprendem que Ele é um Deus que ajuda a Seu povo em situações reais da vida. Isso rende um testemunho poderoso, não somente da existência de Deus, mas de Seu amor e graça de forma prática. Por meio de tais coisas muita glória foi trazida ao Senhor. Pessoas se voltaram para Ele e foram salvas por meio do testemunho de alguns do povo do Senhor que passavam por severas provações serenamente. Colocando isso da forma mais simples possível, a provação dá ao Senhor uma oportunidade de trabalhar de maneira incontestável que testemunhe Sua glória e graça. Ele frequentemente permite que as circunstâncias se desenvolvam de tal maneira que quando Ele entra para ajudar, toda a glória vai para Ele. “Assim, torna Ele inativa as mãos de todos os homens, para que reconheçam as obras d’Ele” (Jó 37:7 – ARA).

No caso de Lázaro e de suas irmãs, o Senhor concedeu misericórdia, e respondeu miraculosamente suas orações, mas não da maneira que queriam, pois queriam que Ele impedisse Lázaro de morrer, mas o Senhor queria ressuscitá-lo dos mortos! O caminho do Senhor manifestou a glória de Deus de uma forma muito mais excelente. Isso somente nos mostra que a maneira do Senhor é sempre a melhor (Is 55:8-9; Sl 18:30).

Mostra-nos também que Ele não responde sempre nossas orações trazendo a libertação daquilo pelo qual estamos passando. Ele pode, ao invés disso, nos dar graça para passar pela prova. Mas de qualquer maneira, a glória é dada ao Senhor. Se Ele responder nossas orações e nos tirar da provação, Ele toma a glória para Si, mas se não for a vontade de Deus que sejamos tirados da provação, outra vez digo, o Senhor toma para Si a glória pela maneira como nos sustenta na provação.

Lembro-me da nossa irmã Joyce Lunden como um exemplo de como a glória é trazida ao Senhor com uma provação. Ela tinha testemunhado à sua vizinha sobre o Senhor, sem nenhum efeito aparente. Mas, como a maioria sabe, o Senhor permitiu que Joyce tivesse um tumor no cérebro. Era câncer. Joyce tomou tudo como vindo do Senhor, por graça. Ao mesmo tempo prosseguiu seu diálogo com sua vizinha. Enquanto Joyce atravessou essa provação, a mulher percebeu sua tranquilidade e resignação à mão do Senhor naquilo que estava passando em sua vida. Isso provocou uma marca indelével na alma dessa mulher. Enquanto Joyce passou por tratamentos cirúrgicos e de quimioterapia, a mulher prestou atenção com grande interesse, e o Espírito de Deus começou a trabalhar com ela. Quando Joyce e seu marido foram de Tri-cites para Seattle para tratamento, a vizinha deles foi até o hospital para dizer-lhes que se o Senhor pôde sustentar Joyce da maneira como fez em tal provação, então ela queria que Ele fosse seu Senhor e Salvador também! Como isso é bonito!

Eu creio que se entendêssemos o que Deus está fazendo nas provações que Ele nos dá para suportar – que temos uma oportunidade de glorificá-Lo nela – perceberíamos que isso não é um castigo, mas uma honra ao suportar uma provação por Ele! Quando o apóstolo Paulo viu sua provação por esse lado das coisas, ele disse, “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2 Co 12:9 – ARA). Saber isso deve nos dar uma atitude melhor nas provações. Queixar-se, como frequentemente fazemos, estraga tudo.

Agora vamos abrir em Jó 1:6-12 onde veremos isso mais detalhadamente. “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então, perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a Terra e passear por ela. Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste o Meu servo Jó? Porque ninguém há na Terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Então, respondeu Satanás ao Senhor: Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na Terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra Ti na Tua face. Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da presença do Senhor” (ARA)

Aqui encontramos removido o véu que cobre o mundo dos espíritos de modo que possamos entender o que acontece nos bastidores. Vemos Satanás, “o acusador dos nossos irmãos” (Ap 12:10), diante do trono de Deus acusando-O a respeito de Seus caminhos com Seu povo. Diz que Jó servia a Ele somente por causa das vantagens que poderia ter nisso – a prosperidade material e os bons tempos. Sugeriu que por trás da honestidade de Jó não havia um coração sincero para com o Senhor, e insinuou que se o Senhor removesse aquelas bênçãos temporais da vida dele, ele desistiria de Deus completamente.

Essa acusação era um franco ataque ao próprio Deus. A controvérsia aqui não está tanto entre Satanás e Jó, mas entre Satanás e o Senhor. Atrás da observação traiçoeira de Satanás está a insinuação de que o Senhor não poderia manter Seus santos leais quando as grandes aflições e provações se levantassem e passassem sobre eles. Ele insinua que o Senhor não tem poder para sustentar Seu povo em tais circunstâncias, e por isso, o relacionamento com Seu povo é somente superficial. Essas acusações mostram que Satanás tem um bom conhecimento da natureza humana. Ele sabe que a maioria dos homens que não conhece o Senhor pessoalmente levantará seus punhos irados contra Deus quando algum problema acontecer em suas vidas. Satanás supõe equivocadamente que esse também seria o caso com o povo do Senhor.

Para provar que este não era o caso, o Senhor, então, permitiu a Satanás afligir Jó com uma provação que veio sobre ele a partir de sete diferentes direções.

  1. Seus negócios foram devastados pelos bandidos (“os sabeus”) que roubaram e mataram seus empregados (Jó 1:14-15).

  2. Suas possessões materiais foram atingidas por relâmpago (“o fogo de Deus”) e destruídas (Jó 1:16).

  3. Seus meios de transporte (“os camelos”) foram levados (Jó 1:17).

  4. Sua família foi morta por um furacão (“um vento grande”) (Jó 1:18-19).

  5. Sua saúde foi levada (“tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça”) (Jó 2:7-8 – ARA).

  6. Sua esposa transformou-se em cúmplice dos projetos de Satanás e incentivou Jó a “amaldiçoar a Deus” assim, Deus o mataria para que ele pudesse escapar de sua provação (Jó 2:9-10).

  7. Seus “três amigos” que foram confortar Jó e se voltaram contra ele (Jó 2:11-13).

Uma coisa que aprendemos aqui é que Satanás não pode agir sem que Deus permita. Entender isso é um conforto tremendo quando Deus permite a provação. Esteja certo disto: Ele sempre coloca um limite para prova (Jó 1:12, 2:6). Satanás pode somente ir até o fim de sua corrente, por assim dizer, e não mais! A provação se tornou uma oportunidade para que o Senhor manifestasse Seu poder e graça em manter fiel a Si mesmo um dos Seus, mesmo quando tudo o que ele tinha aparentemente lhe tivesse sido tirado. O Senhor incumbiu essa provação a Jó de modo que no final Ele pudesse ser glorificado.

Tiago fala da “paciência de Jó” (Tg 5:11). Olhando o livro de Jó podemos perguntar, “onde está a paciência dele? Tudo que eu vejo é um homem que se queixa e que justifica a si mesmo”! Bem, você o encontra assim nos primeiros dois capítulos. Ter todas aquelas coisas vindas sobre ele, e em meio a tudo isso, não pecar ou acusar a Deus tolamente é um testemunho da paciência de Jó (Jó 1:22). No segundo capítulo, vemos sua paciência vir abaixo após a quinta e sexta coisas abatê-lo. Diz: “Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10). Não menciona se ele pecou em seu coração. Nem lemos que ele bendisse a Deus, como fez depois que as primeiras quatro coisas passaram sobre ele (Jó 1:21). Essas coisas sugerem que ele pode ter se enfraquecido, mas foi a partir do terceiro capítulo que Jó perdeu sua paciência e pecou com seus lábios, mas isso se deu depois que Satanás tinha saído de cena, tendo fracassado na tentativa de fazer Jó se afastar de Deus (Tg 4:7). Satanás foi derrotado e não foi encontrado outra vez no restante do livro!

Embora Jó tenha perdido sua paciência nos capítulos 3 a 31, nunca foi para longe do Senhor! Era um testemunho da realidade da graça de Deus que permite a Seu povo permanecer leal na provação mais severa. Nisso, Deus foi glorificado. O restante do livro mostra que Deus teve algo mais para trabalhar com Jó, sobre o que trataremos logo mais.

Deixe-me dizê-lo outra vez: as provações que Deus permite que passemos são uma honra a suportar por Ele, e uma grande oportunidade de render um testemunho d’Ele a outros.

2) As Provações Nos Ajudam a Conhecer Melhor o Senhor

Vamos abrir em Jeremias 9:23-24, “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas, Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me entender e Me conhecer” (ARF). Esses versículos mostram que é desejo de Deus que Seu povo O entenda e O conheça. Ele não quer ter um relacionamento superficial conosco, mas quer que conheçamos profunda e intimamente Seu coração. E um meio de atingir isso é permitir provações em nossas vidas. Elas têm uma maneira de nos trazer mais perto do Senhor e aprofundar nosso relacionamento com Ele – como disse o Sr. Darby: “Deus tem um lugar maior em nossos corações”.

Há certas dimensões de nosso grande Deus que só podem ser aprendidas com as experiências pelas quais passamos. Tais coisas não podem ser ensinadas sem passarmos por uma provação com Ele. E isso, como dissemos, só pode acontecer enquanto estamos aqui na Terra, pois no céu nunca seremos confrontados com circunstâncias difíceis. Em cada circunstância adversa, Deus deseja nos ensinar algo sobre Si mesmo que não poderíamos aprender de outra maneira.

Paulo quis conhecer mais intimamente o Senhor, e nós também devemos querer. Ele disse,“… para O conhecer” (Fp 3:10). Naquele ponto da vida de Paulo, ele já conhecia o Senhor por 25 ou 30 anos, contudo desejou conhecê-Lo melhor! Esse deve ser o desejo normal de cada Cristão. Muito do que temos que aprender sobre o Senhor em um sentido prático vem ao atravessarmos determinadas experiências com Ele. Isso é chamado às vezes de conhecimento experimental. Podemos aprender de Deus nas Escrituras, mas há outro lado do conhecimento d’Ele que requer a experiência de passar pelas circunstâncias com Ele. Um é conhecimento objetivo e o outro é conhecimento subjetivo. Eu gostaria de indicar alguns atributos de nosso Deus, que entenderemos mais profundamente com as provações e as tribulações.

O Deus de Amor

Primeiramente, vamos abrir em Romanos 5:3-5, “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência [perseverança – ARA], e a paciência [perseverança – ARA] a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Esses versículos mostram que Deus usa “tribulações” (provações) para nos ensinar Seu amor. Ao passar por tais experiências o amor de Deus é “derramado em nossos corações” pelo Espírito Santo, por meio do Qual aprendemos Seu amor mais profundamente. Você começa no caminho Cristão conhecendo que o Senhor o ama, mas à medida que você prossegue e anda com Ele por meio dos cuidados e das provações desta vida, entende que Ele o ama muito mais do que imaginava. Uma irmã mais velha apropriadamente disse, “eu sabia que Ele me amava quando me salvou, mas eu não sabia que Ele me amava tanto”!

Um grande resultado das experiências que passamos é que o Senhor Jesus Se torna mais precioso para nós. Isso foi a que Pedro se referiu quando disse: “agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”. Então, ele adicionou, “Ao Qual, não O havendo visto, amais” (1 Pe 1:6-8). Conhecer o amor de Deus enquanto passamos por provações amplia as afeições do nosso coração por Ele, e o Senhor Jesus torna-Se mais precioso para nós.

O Deus de Toda a Graça

Agora vamos ler em 1 Pedro 5:10; “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá”. Aqui vemos que com o sofrimento das provações somos trazidos ao conhecimento de Deus como “o Deus de toda a graça”. Graça, como você sabe, é favor imerecido para nós. Isso é do que Ele nos supre enquanto andamos no caminho da fé (Tg 4:6). Ele nos dá um suprimento especial de graça a cada um dos Seus para as circunstâncias específicas pelas quais estão passando, de modo que nelas possam glorificar a Ele. “E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda graça” (2 Co 9:8).

Em seu folheto, “Os Desapontamentos da Vida”, Laura Snow fala desse suprimento especial de graça como “um vaso do óleo santo” que o Senhor dá a cada filho de Deus para que possa utilizar nas circunstâncias difíceis da vida. Ela disse que a dor aguda passará na medida em que virmos o Senhor em todas as coisas.

Que Deus gracioso temos! Ele dá “graça que nos ajuda em tempo de necessidade” que nos permite passar pelas coisas difíceis da vida. Sua sabedoria ordena circunstâncias em nossa vida de modo que venhamos a conhecê-Lo como “o Deus de toda graça”. Isso é algo que não poderemos aprender no céu, porque nunca nos encontraremos em circunstâncias difíceis lá. É aqui neste mundo que aprendemos sobre a grandeza de nosso Deus nesse aspecto.

O Deus de Toda a Consolação

Vamos abrir em outra passagem, 2 Coríntios 1:3-4: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias [compaixões – JND] e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação”. Aqui temos outro atributo de nosso Deus que conheceremos por meio das provações. Ele é “o Deus de toda a consolação”. Ele permite que passemos por determinadas dificuldades em nossa vida de modo que possa nos confortar. E que grande Consolador Ele é! Outra vez, isso é algo que não poderemos aprender no céu, porque nunca estaremos em aflição lá.

O consolo que Ele concede é um sentido profundo de Sua presença conosco em tempos de intensas provações. “Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Is 43:2). Outra vez, outro versículo diz: “O Deus eterno te seja por habitação [refúgio – JND], e por baixo de ti estejam os braços eternos” (Dt 33:27). Tal conforto que vem de Sua proximidade; não pode ser ensinado intelectualmente, mas deve-se aprender pela experiência. Alguém disse que vale a pena ter uma ferida ou uma aflição para provar o quão ternamente Ele conforta e cura!

O Deus de Misericórdia

Vamos olhar para outro atributo de nosso Deus no Salmo 59:17; “A Ti, ó fortaleza minha, cantarei louvores; porque Deus é a minha defesa, é o Deus da minha misericórdia”. Aqui temos o Senhor apresentado como o Deus de misericórdia. Como sabemos, misericórdia significa não receber o que merecemos. Outra vez eu digo, não aprenderemos esse caráter d’Ele no céu, porque nunca faremos qualquer coisa lá que requeira Sua misericórdia. Mas aqui neste mundo é outra questão! É triste dizer, mas frequentemente falhamos e fazemos coisas que ofendem a Ele. Tais coisas requerem Sua misericórdia. Felizmente, Ele é um Deus que é “riquíssimo em misericórdia” (Ef 2:4). Essa grande característica de Deus tem particularmente me impressionado em minha caminhada com o Senhor. Quão misericordioso Ele tem sido apesar de todos os meus defeitos e falhas!

O Deus de Paz

Em Filipenses 4:9 diz: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”. Aqui, Deus é chamado “o Deus de paz”. O contexto aqui fala sobre as circunstâncias “ansiosas” da vida, isto é, as provações (Fp 4:6). Como já foi dito, essa passagem se refere ao crente que encontra alívio em situações de ansiedade ao levar sua provação ao Senhor em oração. Se fizermos isso em nossos momentos de provação e de ansiedade, teremos a doce garantia de que a “paz” na qual Deus habita estará conosco (v. 7), e mais do que isso, teremos um sentimento profundo do “Deus de paz” estar conosco também!

À medida que andamos com Ele, que é o Deus de paz, aprendemos de uma maneira prática o que é viver na mesma paz em que Ele habita. Isso é tão necessário em tempos de provação! Mas outra vez, isso é algo que não pode ser aprendido à parte de atravessar uma provação com o Senhor.

O Deus de Esperança

Vamos olhar mais um versículo em Romanos 15:13: “Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo”. Ele é chamado aqui “o Deus da esperança”. A esperança, nas Escrituras, não é usada da mesma maneira que fazemos hoje nos idiomas modernos. Podemos dizer que esperamos que algo aconteça, mas não temos nenhuma certeza de que acontecerá. É uma vontade ou um desejo. Na Escritura a esperança é uma certeza adiada. Tudo o que se encontra diante de nós, das coisas que a Palavra de Deus promete a respeito do nosso estado glorificado, é uma certeza. Deus quer que essa esperança abunde em nós, e as provações têm uma maneira de produzi-la; têm uma maneira de dirigir nosso coração para o céu. Nossa esperança de estar com e ser como o Senhor Jesus torna-se mais brilhante e mais real em nossas almas. Ele Se transforma “no Deus da esperança” para nós de maneira prática. Porque esperamos a vinda do Senhor, e andamos em comunhão com Deus, O conhecemos nessa dimensão.

Há um bálsamo para toda dor,

Um remédio para toda tristeza

O olho mirando atrás para a cruz

E para a frente na certeza.

3) Provações Nos Fazem Mais Como Cristo

Agora vamos abrir em Romanos 8:28-29 para uma terceira razão porque Deus permite as provações: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto [chamados com propósito – JND]; Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho”. O assunto que conduz a esses dois versículos é que toda a criação “geme e está juntamente com dores de parto” sob “a escravidão da corrupção”, que veio sobre nós por meio do pecado (vs. 21-22). Essa provação toca a todos nós de uma forma ou outra. O apóstolo explica que, embora Deus não tenha trazido aqui a “escravidão da corrupção”, mesmo assim Ele usa isso em Sua escola para nos ensinar determinadas lições. Nesse caso, Ele a usa para nos moldar “à imagem de Seu Filho”. Essa é outra razão porque Deus permite as provações em nossa vida.

Cristo já não está aqui neste mundo, mas Deus queria que Ele fosse visto em Seu povo e por meio do Seu povo. Ele está atualmente trabalhando para formar nosso espírito e para moldar nosso caráter à imagem de Seu Filho, e usa as provações e tribulações para alcançar isso. Note, não diz aqui que tudo o que nos acontece é bom – porque algumas coisas são inegavelmente ruins – mas que essas coisas “contribuem juntamente para o bem”. Isso significa que Deus permitirá uma provação em nossa vida porque é para nosso bem derradeiro. A fé pode dizer, “algo de bom vai resultar disso!”

Frequentemente se diz que Deus tem mais para fazer em nós do que por meio de nós. Queremos fazer coisas no serviço para o Senhor, mas Ele está mais interessado em nos fazer mais como Seu Filho. Eu não estou dizendo que Ele não quer nos usar no serviço, mas um objetivo mais elevado para Deus é a conformidade moral de Seu povo a Seu Filho. Deus, na verdade, vai encher o céu com um povo redimido, que é tal como Seu Filho!

Poderíamos perguntar: como isso acontece exatamente? Bem, Romanos 12:2 diz que essa transformação à conformidade do Filho de Deus é um processo que ocorre de dentro para fora. Começa em nossa mente e produz resultados em nossa vida. Diz: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento [da vossa mente – ARA]. O que isso significa é que, pensar correto conduz às ações corretas, dando assim forma a nosso caráter.

Paulo mostra que uma coisa que definitivamente impede o processo da transformação é o “mundo”, e insiste, portanto, na necessidade da separação deste. Pensar de maneira mundana é colocar o “eu” em primeiro lugar, mas pensar segundo Deus é colocar Cristo em primeiro lugar. Quanto mais saturarmos nossa mente com a Palavra de Deus, mais pensaremos como Deus pensa. Veremos coisas como Ele as vê. Amaremos o que Ele ama e odiaremos o que Ele odeia, etc. Isso se manifestará em nossa vida. Haverá uma mudança moral em nossas palavras e ações. Mais e mais começaremos a nos assemelhar a Cristo em nossas maneiras. “Renovar” nossa mente refere-se à necessidade de reajustar nossos pensamentos. C. H. Brown dizia que poderíamos ter que fazer isso 50 vezes em um dia! Nossas mentes mantêm-se indo após coisas mundanas e carnais, e necessitam ser reajustadas repetidas vezes. H. E. Hayhoe costumava dizer, “preste atenção ao que você pensa, e deixe que isso seja Cristo”.

Deus trabalha não somente pelo Espírito internamente, mas também usa provações vindas de fora. Isaías fala do remanescente de Israel estando “aflito, arrojado com a tormenta e desconsolado” (ARA), mas assegurou-lhes também que por meio disso o Senhor estava formando Sua beleza neles. “Eis que eu porei as tuas pedras com todo o ornamento e te fundarei sobre safiras. E as tuas janelas [parapeitos] farei cristalinas e as tuas portas de rubis, e todos os teus termos, de pedras aprazíveis [preciosas]” (Is 54:11-12). Quando a nação de Israel for restaurada ao Senhor, será um produto maravilhoso da habilidade divina. Naquele dia, a oração de Moisés será respondida: “seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus” (Sl 90:17 – ARF). A glória do Senhor irradiará sobre eles (Is 60:1). Mas o caminho desse divino final será por meio do sofrimento, que no caso deles será a provação da Grande Tribulação. À medida que lemos as epístolas vemos o caráter de Cristo emanando dos santos. E isso é bonito. Deus, pelo Espírito, escreve Cristo nas tábuas de carne de nosso coração, e isso floresce em nossa vida, em nosso andar e em nossas maneiras (2 Co 3:3). Foi o que o apóstolo expôs quando disse: “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:27). Muito da beleza moral nos santos é resultado das provações pelas quais passaram. Lembrem-se, é a flor esmagada que emite a fragrância!

As seguintes coisas são algumas dessas características morais de Cristo que Deus está atualmente produzindo em Seu povo por meio da provação.

As Entranhas [Compaixões] de Cristo

O apóstolo Paulo disse aos santos de Filipos que tinha saudades de todos eles em “entranhável afeição [compaixão] de Jesus Cristo” (Fp 1:8). Aqui vemos a compaixão de Cristo ser exposta em Paulo. Que característica bonita é! Notem, é “a compaixão de Jesus Cristo”. É o mesmo caráter da compaixão que o Senhor Jesus teve em Sua vida e ministério (Mc 6:34), reproduzido em um dos Seus.

Os filipenses expressaram compaixão e misericórdia a favor de Paulo enviando uma comunhão (oferta) pela mão de Epafrodito (Fp 2:1, 4:18). Por estar preso e não poder vê-los, escreveu uma carta de reconhecimento da comunhão enviada. Essa característica maravilhosa era o resultado do sofrimento de Paulo na provação. O tempo aqui não permite lermos as passagens que mostram algo do que ele passou na senda da fé e testemunho. Por meio daquelas coisas Deus produziu algo bom em Paulo – as compaixões de Cristo. Antes de sua conversão, ele não era reconhecido como tendo compaixão. Impiedosamente levou os Cristãos para ser espancados e entregues à prisão (At 8:1, 9:1, 22:4-5). Na escola de Deus transformou-se em um vaso apto para o uso do Mestre, cheio com as compaixões de Cristo.

Deus está procurando produzir as compaixões de Cristo em nós também. Podemos naturalmente ser caracterizados pela dureza e pela indiferença aos problemas dos outros, mas depois que Deus trabalha em nós, seremos marcados pelas compaixões de Cristo. Recentemente eu ouvi alguém dizer a uma criança que foi ferida, “aguente firme aí porque de mim, você não terá nenhuma compaixão”! Quando eu ouvi isso, disse para mim mesmo, “Depois que você passar pela escola de Deus, você terá”! Ele pode nos colocar em uma circunstância onde necessitemos da demonstração de compaixão, e não teremos nenhuma. Talvez, então, vamos ser exercitados a respeito de demonstrar compaixão aos outros. Como já falamos, as provações têm um jeito de nos abrandar (“Mas Deus fez meu coração brando” Jó 23:16 – JND). Deus nos fará como Cristo que Se compadece dos Seus enquanto passam por problemas (Hb 4:15).

A Mansidão e a Benignidade de Cristo

Intimamente conectadas com as compaixões de Cristo estão “a mansidão e a benignidade de Cristo” (2 Co 10:1). Nos capítulos 10 a 13 da segunda epístola de Paulo aos coríntios, ele defende seu apostolado. Esse era um assunto delicado, e poderia facilmente parecer vanglória e promoção de si mesmo. O problema era que havia determinados adversários que tinham afetado o pensamento de alguns dos coríntios, tentando afastá-los do apóstolo. Paulo sabia que se não tratasse esse assunto corretamente poderia perdê-los completamente a partir do momento em que deixariam de ouvir o apóstolo. Sabiamente ele deixou para tratar disso por último, por causa de sua natureza delicada, e o abordou com “a mansidão e benignidade de Cristo”. Em outras palavras, procurou tratar do assunto como o próprio Senhor Jesus faria.

Haverá ocasiões quando você terá que falar com alguém sobre algum assunto que, se não for tratado corretamente, poderá dar lugar a alguma ofensa pessoal – a pessoa poderá facilmente ficar ofendida, e talvez, deixar de se reunir. Será nessa situação que precisaremos especialmente da “mansidão e benignidade de Cristo”. Temos que falar a verdade, mas devemos fazê-lo em amor.

Talvez sejamos um pouco insensíveis aos sentimentos dos outros, e nos falte tato e graça. Alguns de nós pode ser um pouco como “um touro numa loja de porcelana”, mas Deus tem Suas maneiras de formar em nós as características de Cristo. Ele pode permitir que sintamos o que é alguém vir até nós de maneira arrogante que seja ofensiva, para nos exercitar sobre como tratamos os outros. Precisar interagir diariamente com alguém assim pode ser uma verdadeira provação, mas Deus pode ter colocado tal pessoa em nossa vida para nos exercitar. Apesar de tudo, “Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem, ao homem” (Pv 27:19). Aprendemos o que está em nossos corações vendo isso em alguma outra pessoa é uma experiência humilhante.

A Obediência de Cristo

Mais adiante, no mesmo capítulo 10 de 2 Coríntios, Paulo fala às almas para ajudá-las a se libertar das ideias e das doutrinas errôneas que foram rigidamente instaladas em suas mentes. Chama essas ideias errôneas que se instalam na mente de “fortalezas”. Seu alvo era destruir aquelas “fortalezas” e trazer o pensamento dos irmãos sob a autoridade da verdade de Deus no espírito da própria submissão de Cristo a Deus. Ele disse: “levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10:5). Observe outra vez, essa é “a obediência de Cristo”, não a obediência a Cristo – que é um pensamento completamente diferente. É o próprio caráter da obediência que Cristo mostrou em Sua vida. Sua obediência não era uma coisa legalista, pois obedeceu porque amou Seu Pai e quis agradá-Lo (Jo 8:29, 14:31). Pedro também fala desse mesmo caráter de obediência (1 Pe 1:2).

O ponto aqui é que Deus quer que obedeçamos do mesmo modo como Cristo obedeceu. Não quer que obedeçamos porque somos obrigados, mas porque queremos. As provações têm uma maneira de criar esse desejo em nós.

A Fé de Cristo

Em Gálatas 2:20 diz: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim”. Paulo procurou viver “pela fé do Filho de Deus” – isto é, pelo mesmo tipo de certeza e confiança com que o Senhor Jesus vivia em Sua vida dependente. O ponto aqui não é tanto que devemos viver para Cristo, mas que devemos viver Cristo. O Senhor foi caracterizado por uma confiança simples em Deus. Esse mesmo caráter de Cristo deve estar em nós.

Para purificar e fortalecer nossa fé, Deus ordena provações para tocar nossa vida, por meio das quais aprendemos a confiar n’Ele. Em 2 Tessalonicenses 1:3-4, Paulo fala da fé que tinham e do crescimento dela “sobremaneira” e então acrescenta: “… nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as vossas perseguições e nas tribulações que suportais”. A fé deles cresceu ao serem provados pelas “perseguições e tribulações”. As provações nos ensinam a desconfiar de nós mesmos e a confiar n’Ele (Sl 16:1).

A Paciência de Cristo

Em 2 Tessalonicenses 3:5 o apóstolo diz: “Ora, o Senhor encaminhe o vosso coração na caridade de Deus e na paciência de Cristo”. Aqui temos outra característica de Cristo reproduzida nos santos – “a paciência de Cristo”. Paulo desejou que a espera dos santos pela vinda do Senhor fosse paciente. O Senhor quer que O esperemos como Ele mesmo espera no alto. Em glória Ele espera Seu Pai dizer-Lhe que é hora de vir para levar Sua noiva. Então descerá com um brado e com voz de Arcanjo e nos convocará. A mesma paciência que Ele tem no alto em glória deve ser vista em nós enquanto O esperamos aqui.

Há um grande perigo de abandonarmos a esperança da vinda do Senhor, o que será evidente naqueles que o fizerem. Dirão, essencialmente: “Meu Senhor tarda em vir” (Mt 24:48-49 – IBB). Note que essa não é a negação da Sua vinda, mas a queixa de Seu atraso. Se a iminência disso perder seu fulgor em nossos corações, nossa vida o mostrará. Em segundo lugar, “começarão a espancar” seus “conservos”, isto é, nos tornaremos ásperos e críticos com aqueles que estão fazendo o trabalho do Senhor. Terceiro, eles “comerão e beberão com os bêbados”, isso significa que haverá uma ruptura dos princípios da separação do mundo.

As experiências difíceis pelas quais passamos neste mundo podem não ser a razão mais elevada porque queremos que o Senhor venha, mas Deus as usa para direcionar nosso coração para o céu. Por meio dessas experiências aprendemos a esperar por Ele. Tiago diz: “Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor” (Tg 5:7). Tiago também diz que Deus usa provações e tribulações para nos ensinar essa paciência: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações Sabendo que a prova da vossa fé obra a paciência [perseverança – JND]. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma” (Tg 1:2-4).

O resultado das condutas de Deus conosco é que seremos transformados lenta, mas seguramente “conformes à imagem de Seu Filho”. No final, Sua “beleza” será sobre nós! (Sl 90:17 – JND)

4) As Provações São Para Nossa Correção

Vamos abrir no Salmo 119:67-68 para ver outra razão para as provações em nossa vida. “Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a Tua palavra. Tu és bom e abençoador: ensina-me os Teus estatutos”. Deus usará uma provação para nossa correção se houver necessidade. Pode ser que estejamos andando em um caminho de vontade própria e necessitamos ser restaurados. Não há nada como uma séria provação para nos fazer sentar direito e ouvir Sua voz. O Senhor pode usar a provação como uma disciplina punitiva e nos corrigir. No livro de Jonas, os navegadores enfrentaram uma provação terrível. O “navio estava a ponto de se despedaçar” na tempestade (Jn 1:4 – ARA). Deus mandou essa provação para a correção de Jonas – que o fez voltar e obedecer ao Senhor.

Caro amigo Cristão, caso esteja em uma grande provação em sua vida, andando em um caminho de desobediência, pode ser muito bem que essa provação tenha sido enviada pelo Senhor para restaurá-lo para Ele. Lembre-se apenas, que a mão que segura a vara da correção tem a marca de um cravo nela! O Senhor o ama, e pagou um grande preço por você. Ele não deixará você continuar em seu caminho egoísta para sempre. Ele intervirá e tratará seu caminho de vontade própria porque Ele quer abençoar sua vida de forma prática e isso é algo que Ele não pode fazer quando você está andando em um caminho de desobediência. Se Ele derramasse uma bênção prática na sua vida enquanto você estiver andando na sua própria vontade, estaria somente incentivando você a ir mais longe em seu caminho. Assim, na realidade, você está impedindo sua própria bênção! O Senhor disse: “Porque Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais” (Jr 29:11). Se ouvir Sua voz e corrigir seus caminhos pecaminosos, Ele promete derramar uma bênção em você. Que Deus Fiel temos!

Mesmo se nossa vida não estiver caracterizada por um andar consciente num caminho de vontade própria, mas se de algum modo estamos permitindo que o Senhor e Suas coisas estejam “em banho-maria”, o Senhor usará provações para nos ajudar a colocar prioridades a nossa vida. Embora não seja provável haver entre nós aqui alguém que esteja andando num caminho de declarada desobediência, mas mesmo assim creio que há muitos de nós aqui que precise de um ajuste sobre o que falarei a seguir.

Vamos abrir em Ageu 1:3-11 para ver como Deus usa provações na vida de Seus filhos neste caso. “Veio, pois, a palavra do Senhor, pelo ministério do profeta Ageu, dizendo: É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta? Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Aplicai o vosso coração aos vossos caminhos. Semeais muito e recolheis pouco; comeis, mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário recebe salário num saquitel furado. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Aplicai o vosso coração aos vossos caminhos. Subi o monte, e trazei madeira, e edificai a casa; e dela Me agradarei e Eu serei glorificado, diz o Senhor. Olhastes para muito, mas eis que alcançastes pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, Eu lhe assoprei. Por quê? – disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da Minha casa, que está deserta, e cada um de vós corre à sua própria casa. Por isso, retêm os céus o seu orvalho, e a terra retém os seus frutos. E fiz vir a seca sobre a terra, e sobre os montes, e sobre o trigo, e sobre o mosto, e sobre o azeite, e sobre o que a terra produz, como também sobre os homens, e sobre os animais, e sobre todo o trabalho das mãos”.

Os judeus que tinham retornado da Babilônia estavam ocupados estabelecendo-se na terra, edificando suas casas e suas vidas. Mas, agindo assim, tinham se tornado extremamente ocupados fazendo coisas confortáveis para eles próprios, e tinham se esquecido do Senhor e o que era devido a Ele! Para colocar isso o mais simples possível: estipularam suas prioridades de maneira errada. Não tinham dado ao Senhor Seu lugar apropriado em suas vidas.

Essa é uma armadilha na qual podemos facilmente cair. De fato, temos a responsabilidade de fornecer sustento para nossas famílias – a Escritura censura uma pessoa que não faz isso (1 Tm 5:8). É normal querer ser estabelecido na vida em relação às coisas naturais. É também possível ser absorvido nisso a ponto de deixarmos o Senhor de fora. Nesse assunto, o Senhor Jesus colocou um princípio muito básico para Seus discípulos, que certamente se aplica a nós também. Disse-lhes para colocar a Deus e Seus interesses em primeiro lugar em suas vidas, e Ele cuidaria de todas as coisas restantes. Disse: “Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos [em ansiedade – JND]. Porque as gentes do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que haveis mister [necessidade] delas. Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Lc 12:29-31). Isso significa que Cristo deve ter o primeiro lugar em tudo. Esse princípio básico precisa ser implementado em nossa vida se queremos ter sucesso espiritual.

Entretanto, isso faltava no remanescente judeu que tinha retornado da Babilônia. Não tinham colocado o Senhor e Seus interesses em primeiro lugar em suas vidas. Sabemos que nosso Deus é um Deus que tem ciúmes; Ele tem ciúmes de nossas afeições. Ele diz: “Dá-Me, filho Meu, o teu coração” (Pv 23:26). Mas, se deixarmos nosso coração ir após outras coisas – ainda que sejam coisas naturais não necessariamente pecaminosas – Ele sentirá isso, e trabalhará para nos afastar do que quer que seja que O substituiu em nossas afeições. Podemos não estar conscientemente fazendo algo errado, mas ainda assim, se o Senhor for deixado fora, Ele trabalhará para ajustar nossas prioridades.

Irmãos, o Senhor quer nossa atenção. Se nos distrairmos com outras coisas Ele trabalhará para consegui-la – e algumas das maneiras que Ele usa podem ser dolorosas! No caso dos judeus, o Senhor, em Sua fidelidade e sabedoria perfeitas, ordenou uma provação que tocasse em suas vidas de modo que considerassem seus caminhos e ajustassem suas prioridades. Vemos, então, ainda outra razão por que o Senhor permite provações na nossa vida – para nos ajudar a ajustar nossas prioridades! Quando o Senhor aumenta o fogo, por meio de uma provação, faz com que examinemos nosso coração, trazendo-O para nossa vida de uma maneira prática.

A provação para aqueles judeus tinha uma natureza financeira. Tinham “semeado muito”, mas colhido “pouco”, ou seja, trabalharam duramente, mas não conseguiram seu sustento. O Senhor também enviou um profeta (Ageu) para tratar isso com o povo, assim saberiam com certeza porque eles tinham problemas. Disse-lhes claramente que estavam colocando sua energia em construir suas próprias casas ao invés da casa do Senhor!

Irmãos, o Senhor fará o mesmo conosco. Ele nos ama muito para nos deixar ir após coisas que O substituam. Se estivermos colocando demasiada ênfase em outras coisas, Ele pode ordenar uma provação para nos trazer mais perto d’Ele. Pode não ser uma provação em nossas finanças, mas Ele pode escolher alguma outra área de nossa vida. Por que Ele faria isso? Porque nos ama e quer nossa comunhão! Morreu para ganhar nosso coração, mas se O deixarmos fora de nossa vida, Ele trabalhará para nos trazer mais perto d’Ele – mesmo que custe a aflição de uma provação para fazer isso. Ele pode aumentar nossos fardos e provações até que não possamos fazer nada mais sem Ele. Se nos voltarmos para Ele com sinceridade e O buscarmos, Ele é Fiel e Gracioso para entrar e carregar a ambos, nós e nosso fardo.

Irmãos, vamos acertar nossas prioridades, pois o Senhor deve ter a primazia. Ele disse: “porque honrarei aos que Me honram, e os que Me desprezam serão tidos em pouca conta [serão desprezados – ARF]” (1 Sm 2:30 – TB). Separamos um tempo para estar sozinhos com o Senhor diariamente, lendo as Escrituras e orando? Vamos às reuniões bíblicas regularmente? Ou colocamos outras coisas antes d’Ele, e se não tivermos nada para fazer aquela noite, então vamos às reuniões? Se essa for a maneira que você leva sua vida, parece que o Senhor não tem muito lugar nela. Você sabe que muitas das provações e problemas que temos podem ser consequências desses pontos básicos de prioridades. O Senhor quer estar em nossa vida praticamente. Quer nos ajudar e nos guiar nas matérias diárias da vida. Sem Ele certamente vamos cometer erros.

Agora, podemos pensar que não estamos deixando o Senhor de fora, porque podemos apontar algumas coisas que fazemos que envolvam o Senhor. É natural atribuirmos a nós mesmos uma ficha limpa. “Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos” (Pv 16:2). Entretanto, necessitamos entrar na presença do Senhor e pesar seriamente essas coisas. Necessitamos perguntar a Ele se a provação que estamos tendo está conectada a não Lhe dar Seu legítimo lugar.

A palavra do profeta ao povo foi: “Subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa” de Deus (Ag 1:8). Eles não tinham trabalhado na casa de Deus por 14 ou 15 anos! (Ed 4:24). Isso nos mostra apenas como o Senhor é paciente conosco. Mas amigos, não se aventurem por causa de Sua longanimidade. Ageu e Zacarias os incentivaram a começar a construção da casa do Senhor antes de construir suas próprias casas, dando, assim, ao Senhor o que Lhe era devido (Ed 5:2). Ageu procurou abordar o estado deles (isto é, suas prioridades), enquanto que Zacarias colocou o foco deles para o futuro – para a glória vindoura da casa do Senhor quando o Messias reinasse. Vemos então, que no fim do capítulo o povo “obedeceu à voz do SENHOR seu Deus” (Ag 1:12 – ARF) e fizeram conforme o profeta lhes dissera. E o Senhor teve prazer nisso. Sabemos como é louvável quando o povo do Senhor ouve e obedece a Sua voz na provação, e ajusta suas prioridades para dar a Ele o Seu legítimo lugar.

Caro amigo, o Senhor quer derramar uma bênção prática em sua vida, mas primeiramente você tem que dar a Ele o que Lhe é devido.

O Senhor disse em Malaquias: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o SENHOR dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança [até que não haja mais lugar para a recolherdes – TB]” (Ml 3:10). Note que o povo tinha que, primeiramente, trazer o que era devido ao Senhor para Sua casa do tesouro e então “as janelas do céu” seriam abertas para derramar uma bênção sobre eles! Essa é a ordem moral de Deus.

Mesmo quando não estivermos andando em um caminho de vontade própria, e procurarmos dar o legítimo lugar ao Senhor em nossa vida, ainda assim, cada um de nós precisa da correção do Senhor – mas em uma linha diferente. Todos temos falhas de caráter que impedem a expressão de Cristo em nossas vidas. Essas falhas necessitam ser removidas de modo que as características de Cristo possam ser vistas em nós mais claramente. Isso é correção, mas de uma ordem diferente.

Como mencionado anteriormente, Deus, pelo Espírito, está moldando Cristo em nós. Ele escreveu Cristo nas tábuas de carne de nosso coração (2 Co 3:3). Quando Cristo está em nossas afeições, Seu caráter será mostrado em nossas ações. Mas frequentemente há coisas em nossos caminhos que atrapalham essa expressão. Essas falhas de caráter estragam nosso testemunho pessoal. Eu estou falando agora de coisas das quais geralmente não temos consciência. Mesmo que não possamos vê-las, Deus as vê (e frequentemente nossos irmãos também), e Ele trabalhará para remover tais falhas por Sua disciplina purificativa, na forma de provações. Essas disciplinas não moldam Cristo em nós, mas são enviadas para nos exercitar e remover os traços de caráter do velho homem.

Vemos isso em Jó. Ele era “homem sincero [perfeito – JND], reto e temente a Deus, e desviava-se do mal” (Jó 1:1). Certamente ele não estava andando em um caminho de vontade própria e de pecado. Não havia realmente qualquer coisa errada em suas ações, mas foi sua atitude que necessitou o ajuste. Teve uma atitude de presunção que o Senhor quis remover. O Senhor usou as provações que o afligiram como uma disciplina purificativa. No fim, Jó se arrependeu e julgou a si mesmo, e foi uma pessoa melhor por isso. Então, podemos pensar que as atitudes não são importantes, mas a Escritura mostra que Deus vê as coisas de outra maneira. Ele percorrerá grandes distâncias para corrigir uma atitude errada em um de Seus filhos. Portanto, que “a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito” (Fm 25; Gl 6:18; Fp 4:23; 2 Tm 4:22).

Eu me lembro de ouvir uma história da escultura de um leão que foi colocada em exposição. No dia da sua inauguração, uma multidão se reuniu para vê-lo. Quando o escultor foi entrevistado, foi-lhe perguntado como pôde fazer uma peça de arte com tanta similaridade. Ele disse, “eu somente talhei tudo aquilo que não se parecia com um leão”! Sabemos que é exatamente isso que Deus está fazendo com cada um de nós. Há coisas em nós que não se parecem com Cristo, e necessitam ser podadas. Com a provação e o exercício, de uma maneira ou outra, Deus remove aquelas coisas em nossa vida que não são como Seu Filho.

A Escritura fala desse trabalho purificativo feito em diversas maneiras, usando várias figuras diferentes.

Um Lavrador

Em João 15:1-2 diz: “Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o Lavrador. Toda a vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto”. Aqui temos a figura de um lavrador para ilustrar os meios purificativos de Deus. O Pai está procurando frutos em nós. A produção de frutos é a reprodução da vida de Cristo nos santos. Um produtor de vinhos poda suas videiras de modo que produzam mais frutos. Se ele não fizer isso, a videira usará sua energia para produzir mais galhos, e em consequência, haverá menos produção do fruto. Da mesma maneira que um vinicultor corta as videiras em seu vinhedo, o Pai trabalha de maneira similar conosco. Em cada um de nós há coisas em nossas vidas que impedem a produção do fruto, e necessitam ser podadas. O processo de corte, com certeza, é doloroso, mas Deus permite isso para remover as coisas más de nós. O resultado é que Cristo será visto em nós mais claramente.

Um Fazendeiro

Em Salmo 139:2-3 diz: “Tu conheces o meu assentar e o meu levantar: de longe entendes o meu pensamento. Cercas [Peneiras – KJV margem] o meu andar”. Peneirar era um processo usado pelos antigos fazendeiros para separar o trigo da palha no tempo da colheita. Era feito agitando o trigo com uma peneira e lançando-o para o ar. Isso fazia com que o vento separasse a palha, o que geralmente era feito em um monte ou em uma ligeira elevação do terreno onde houvesse rajadas de vento. Similarmente, o Senhor está procurando peneirar a indesejada palha em nossa vida com as várias turbulências e provações. Ele conhece nosso “deitar” e nosso “levantar” e ordena exatamente o que necessitamos. O resultado será que somente ficará em nós aquilo que for de Cristo – do qual o trigo é uma figura.

Um Ourives

Em Provérbios 25:4 diz: “Tira da prata a escória, e sairá vaso para o ourives” (ARA). Aqui a figura é tirada da metalurgia. O ourives aquece o metal ao ponto de fusão e as impurezas (escórias) são queimadas. Ele agita o metal delicadamente até que possa ver seu próprio reflexo na prata derretida. Então sabe que todas as impurezas foram queimadas e ela está pronta para ser colocada no molde de sua escolha. Similarmente, o Senhor usa provações dolorosas e árduas para alcançar Seus objetivos removendo a escória de nossa vida. Ele também está buscando Seu reflexo em nós. O Senhor “assentar-Se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao Senhor trarão oferta em justiça” (Ml 3:3).

Um Vinicultor

Em Jeremias 48:11 diz: “Despreocupado esteve Moabe desde a sua mocidade e tem repousado nas fezes [borras] do seu vinho; não foi mudado de vasilha para vasilha, nem foi para o cativeiro; por isso, conservou o seu sabor, e o seu aroma não se alterou” (ARA). Aqui o profeta fala da falta de disciplina de Moabe e consequentemente, o fato dele não ter nenhum discernimento ou maturidade nas coisas divinas. O processo de ser mudado “de vasilha em vasilha” (TB) é usado por um fabricante de vinho. Ele enche completamente uma vasilha de vinho e a deixa descansando até que todo o sedimento se acumule no fundo, e então derrama com cuidado o vinho em outra vasilha, repetindo o processo diversas vezes, até que não haja nenhum sedimento no vinho. Ser derramado de vasilha em vasilha fala dos meios do Senhor em nos passar por várias provações para nos livrar das impurezas (o sedimento) em nosso caráter. Outra vez, o resultado que Ele está procurando é que Cristo possa ser visto mais claramente em nós.

Um Pai

Em Hebreus 12:9-10 diz: “tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos: não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas Este, para nosso proveito, para sermos participantes da Sua santidade”. Aqui a correlação de um pai terreno que corrige seus filhos é usada para ilustrar Deus nosso Pai que treina nossos espíritos. Se uma criança tiver um espírito ou uma atitude má, o pai dela, se for fiel, aplicará alguma forma de disciplina à criança para corrigi-la. Similarmente, nosso pai ordenará alguma forma de disciplina corretiva para nos exercitar sobre um espírito errado ou uma atitude errada que possamos ter. Isso virá em forma de provação.

Um Oleiro

Em Jeremias 18:3-6 diz: “E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas. Como o vaso que ele fazia de barro se quebrou na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos seus olhos fazer. Então, veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Não poderei Eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? - diz o Senhor; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na Minha mão, ó casa de Israel”. Aqui o trabalho de um oleiro é usado para ilustrar o tratamento do Senhor com Seu povo. O Senhor é nosso Oleiro e nós somos Seu barro (Rm 9:20-21). Ele nos está formando conforme a Sua própria imagem. Como sabemos, para conseguir o barro flexível, um oleiro mistura água nele. O processo de misturar é como a pressão das provações. Quando a pressão é aplicada em nossa vida nos tornamos moldáveis nas mãos do Mestre. Muitas vezes um oleiro terá que quebrar um vaso parcialmente formado porque vê uma falha nele que estragaria o resultado final. Similarmente, o Senhor usa os problemas desta vida para nos quebrar e remover determinadas características morais não desejadas em nós, e assim, nos fazer um vaso “útil ao Mestre” (2 Tm 2:21 – JND).

Por meio de todas nossas provações e tribulações o Senhor tem o objetivo de levar cada um de nós à perfeição moral (1 Pe 5:10 – “aperfeiçoado”.

5) As Provações Aproximam Mais Uns dos Outros

Vemos outra razão para as provações – trazer os irmãos mais perto uns dos outros. Irmãos em uma assembleia local podem estar ocupados em seus próprios caminhos e buscando suas próprias coisas. O resultado frequentemente é a separação em um sentido prático, mesmo que possam ainda ir às reuniões juntos. Em tal caso, o Senhor pode ordenar uma séria provação na vida de alguém em seu meio que faça os irmãos deixar suas preocupações e os faça estar juntos com a finalidade comum de ajudar a pessoa afligida. Tais coisas têm uma maneira de falar a todos, mesmo que somente um seja afligido. A Escritura diz: “para a hora da angústia [adversidade – JND] nasce o irmão” (Pv 17:17 – ARF). Nossa parte é dar suporte a um de nossos irmãos que esteja passando pelo problema. Jó disse, “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-poderoso” (Jó 6:14).

Em 1 Crônicas 7:20-22 temos um exemplo. Diz: “E os filhos de Efraim: Sutela, e seu filho Berede, e seu filho Taate, e seu filho Elada e seu filho Taate, E seu filho Zabade, e seu filho Sutela, e Ezer, e Elade: e os homens de Gate, naturais da terra, os mataram, porque desceram para tomar os seus gados. Pelo que Efraim, seu pai, por muitos dias os chorou; e vieram seus irmãos para o consolar”. Uma grande “calamidade” (v. 23 – JND) aconteceu na casa de Efraim – seus filhos foram mortos tentando roubar o gado! Quando seus irmãos souberam de sua aflição o rodearam para confortá-lo. No propósito de levar-lhe conforto, eles foram unidos.

Talvez uma família na assembleia tenha perdido seu filho ou sua filha para o mundo, e acabaram se afastando. Esse não seria um momento de fazer qualquer julgamento – embora possa haver muitas coisas que necessitem ser tratadas a respeito do motivo pelo qual isso aconteceu – mas seria hora de confortá-los por sua perda. Essas aflições devem nos fazer estar juntos.

Uma provação pode ser enviada aos santos que seja de uma natureza completamente diferente. Pode ser que os irmãos estejam divididos em uma opinião, e isso tem feito que estejam andando em caminhos separados. O Senhor pode permitir uma erupção de pecado na assembleia que nos faça examinar nosso coração. O resultado é que seremos forçados a estar juntos para tratar o mal.

Em Juízes 20:1 diz: “todos os filhos de Israel saíram, e a congregação se ajuntou, como se fora um só homem, desde Dã até Berseba, como também a terra de Gileade, ao Senhor em Mizpá”. Isso foi resultado de um exemplo flagrante de mal moral no meio dos filhos de Israel. Tiveram que se levantar “como se fora um só homem” e afastar o mal. Mas fazendo assim, o Senhor teve determinadas lições para ensinar a eles porque o estado deles era coletivamente baixo. Não há nada como provações para nos fazer resolver nossas pequenas diferenças e nos unir. Eu me apressaria em dizer que uma condição muito triste deve estar prevalecendo em uma assembleia se o Senhor tiver que falar dessa maneira.

6) Provações Nos Capacitam Para Nosso Tema de Louvor em Glória

Há outras razões para as provações, e essas têm a ver com o futuro. Irmãos, Deus tem o futuro em vista em tudo que Ele permite que Seu povo atravesse! Em cada experiência que passamos aqui, Ele está procurando nos preparar para o tema que se encontrará diante de nós em um dia vindouro.

Como sabemos, há duas orações de Paulo na epístola aos Efésios. No primeiro capítulo, ele ora para que os santos soubessem quão ricamente eram abençoados (Ef 1:16-23). No terceiro capítulo, ora para o aumento da capacidade dos santos nas coisas divinas para que pudessem apreender o vasto sistema de glória que cerca Cristo e nosso lugar com Ele em tudo isso. E então, acima de tudo, orou para que conhecessem o amor que providenciou tudo (Ef 3:14-21). A primeira oração é objetiva e a segunda é subjetiva. O terceiro capítulo se encerra com uma pequena doxologia2 de louvor. “a Ele seja a glória, na Assembleia em Cristo Jesus, por todas as gerações do século dos séculos, Amém!” (v. 21 – JND). O Espírito de Deus junta à oração do apóstolo um transbordamento de louvor para mostrar que quando o coração de alguém é aumentado nas coisas divinas, ele produz louvor.

Mesmo que o apóstolo não mencione sofrimentos e provação em suas orações em Efésios (porque o deserto não é o assunto da epístola), o aumento de nossa capacidade está intimamente conectado com as provações que passamos. O salmista disse: “na angústia me deste largueza [na opressão me tens aumentado – JND]” (Sl 4:1). E esse aumento carregaremos para a eternidade. Enquanto os galardões que receberemos no Tribunal de Cristo serão somente para o período do reino (o Milênio), nossa capacidade que está sendo formada agora será para a eternidade. Paulo disse também: “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Co 4:16-17). Observe, ele não diz: “… produz para nós um peso milenar de glória”, mas um “peso eterno de glória”. Frequentemente diz-se que naquele dia, todos teremos nossas taças cheias de gozo, mas alguns podem ter taças mais profundas, porque a capacidade dos santos varia. Nossa capacidade está sendo formada agora à medida que nos beneficiamos com a verdade que aprendemos e com as provações pelas quais passamos. As experiências estabelecerão a base para nosso eterno tema de louvor.

Com misericórdia e com julgamento minha teia do tempo Ele teceu,

E o orvalho da tristeza foi lustrado com Seu amor.

Eu bendirei a mão que guiou; Eu bendirei o coração que planejou,

Quando entronizado onde a glória habita, na terra de Emanuel.

7) Nossas Provações Trarão Glória a Cristo no Dia de Sua Manifestação

Há mais uma razão para as provações sobre a qual eu gostaria de falar a respeito, antes de terminar, e isto é, que elas ao terminarem trarão glória a Cristo no dia de Sua manifestação diante do mundo. Isso, na verdade, nos leva de volta à primeira razão para as provações. Vamos abrir em 2 Tessalonicenses 1:10; “quando vier para ser glorificado nos Seus santos e para Se fazer admirável, naquele dia, em todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)”. Quando o Senhor vier em Sua Aparição com Seus santos, o mundo olhará para nós em nosso estado glorificado e glorificará a Ele! Não nos admirarão pessoalmente, mas aquilo que a graça de Deus produziu. Naquele dia se dirá: “Que coisas Deus tem feito”! (Nm 23:23)

Deus irá propagar a glória de Cristo por todo o universo por meio da Igreja – não somente como um corpo coletivo, mas também por meio de cada um de nós individualmente. À medida que nos beneficiamos com as várias provações que experimentamos, iremos refletir Sua glória. Cada um de nós será diferente em glória naquele dia de manifestação e isso contará a história da incomparável graça de Deus (Rm 8:19). Se, entretanto, não tivermos proveito com as coisas que Ele está procurando produzir em nós por meio das provas que experimentamos, não refletiremos Sua glória com o brilho que outros poderão refletir.

Em 1 Pedro 1:6-7 diz: “em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”. Essa passagem mostra que as coisas que passamos agora estão caminhando para ter um final glorioso. Note que diz: “… se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”. Quando o mundo vir o que Deus formou em nós, haverá louvor a Deus e glória para Cristo. Não é que nós seremos louvados pelo mundo naquele dia, mas Ele é Quem terá o louvor (Ef 1:12). Receberemos louvor de Deus no Tribunal de Cristo antes desse dia de manifestação (1 Co 4:5; Mt 25:21, 23), mas esse não é o ponto nesta passagem. O “louvor e honra e glória” serão para o Senhor Jesus Cristo.

Irmãos, o que eu estou dizendo é que, se aceitarmos nossas provações como vindas da mão de Deus, e O deixarmos trabalhar em nós o que está procurando realizar, haverá mais glória a Cristo naquele dia vindouro! Se isso for verdadeiro, então vale a pena passar por provações!

Um Resumo das Razões Por Que Deus Permite Provações

  1. São para a glória de Deus.

  2. Por meio delas somos levados a conhecer melhor o Senhor.

  3. Fazem-nos mais como Cristo.

  4. São para nossa correção.

  5. Levam-nos mais perto uns dos outros.

  6. Capacitam-nos para nosso tema de louvor em glória.

  7. Trarão glória a Cristo no dia de Sua manifestação.

Nunca permitamos que as adversidades nos façam dobrar – a menos que seja com nossos joelhos! Em todas as circunstâncias confusas e difíceis da vida, temos somente que recorrer ao fato de que “O caminho de Deus é perfeito” (Sl 18:30). Será preciso fé para crer nisso, mas isso é verdade. Eu me lembro de uma história sobre uma alma perturbada que olhou o lado de baixo de um trabalho de tapeçaria. Era um emaranhado de linhas que não fazia nenhum sentido, mas quando olhou do outro lado, viu um trabalho bonito em andamento. Nossa situação na vida pode ser exatamente assim. Estamos do lado de baixo agora, olhando para cima, e estamos tendo problemas tentando entender o sentido do que o Senhor está permitindo em nossa vida. Lembre-se, agora vemos o lado de baixo do tapete, por assim dizer. Espere até o dia vindouro quando estivermos do outro lado, e o Senhor nos mostrará o que trabalhava em nós para Sua glória. Você ficará satisfeito por Ele ter agido. E verá que valeu a pena!

Notas

[←1]

N. do T.: Devido às dificuldades da língua, esse irmão ao se referir à expressão inglesa “It came to pass”, (frequentemente encontrada nos evangelhos, cuja tradução correta é “e aconteceu que”), levou-a ao pé da letra entendendo-a como “isso veio para passar”.

[←2]

Provém do latim doxologia, que por sua vez vem do termo grego doxa, que significa “opinião” ou “glória”, com o sufixo -logia, que se refere à expressão oral ou escrita. Portanto, “doxologia” é uma expressão oral ou escrita de louvor e glorificação.

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