O Evangelho em 3 Minutos - Lucas (Parte 2)
Eu, eu eu!
Jesus conta uma parábola: “A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele pensou consigo mesmo: ‘O que [eu] vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita’. Então disse: ‘Já sei o que [eu] vou fazer. [Eu] vou derrubar os meus celeiros e [eu vou] construir outros maiores, e ali [eu] guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E [eu] direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’. Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?’ Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus” (Lucas 12:15-21).
O pronome pessoal “eu”, subentendido como sujeito oculto, revela duas coisas: a pretensão daquele que pensa estar no controle de sua vida e a solidão em que vive o avarento, que é egoísta e só pensa em si. A parábola fala ainda da loucura que é achar que bens materiais possam garantir segurança, e acreditar que a vida resume-se ao nosso tempo na terra. O insensato consulta a si mesmo sobre o que fazer com o que acumulou. Ele exclui Deus de seus planos, esquecendo-se de que todo ser humano tem em sua agenda um compromisso pétreo, isto é, que não pode ser adiado: encontrar-se com Deus. Para ninguém se esquecer disso, Deus repete três vezes na Bíblia: “Diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus” (Is 45:23; Rm 14:11; Fp 2:10).
A diferença está em quando você dobra seus joelhos e confessa com sua língua. A Palavra de Deus promete que “se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 10:9), mas isto só vale enquanto você estiver vivo. Caso contrário será obrigado a dobrar seus joelhos e confessar que Deus é justo quando for levado à presença dele para receber a sentença. Ou você atende ao amoroso convite de Deus, que deseja fazer de você um filho, ou será levado à presença dele como réu e condenado à detenção eterna no lago de fogo. A única coisa em comum entre salvos e perdidos é que a condição em que saem desta vida é a mesma em que permanecerão para sempre. “Caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará”, diz Eclesiastes 11:3.
O homem da parábola tem uma agenda igual à da maioria das pessoas. Tudo o que planeja e armazena é para ter descanso, comida, bebida e lazer. Será esta também a sua agenda? Quantos anos você tem? Quantos anos lhe restam? Se você passou dos 35 já entrou no segundo tempo da expectativa de vida, que no Brasil é de setenta e poucos anos. No segundo tempo você joga cansado e atento ao apito do juiz. Mas talvez você seja jovem e nem se preocupe com isso. Mesmo assim, em cem anos você e todas as pessoas que conhece estarão mortas. Já viu no Facebook o perfil de alguém de sua idade que morreu? É uma sensação estranha, não é mesmo? Parece tão vivo, tantas fotos, tantas festas. Mas está morto. Como a árvore que caiu. “No lugar em que a árvore cair, ali ficará”.
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Esperar no Senhor
Na passagem anterior Jesus ensinava à multidão o comportamento adequado ao reino de Deus. Lembre-se de que fazer parte do reino não significa necessariamente estar salvo eternamente, pois o reino inclui joio e trigo. O reino é a esfera dos que reconhecem, ainda que exteriormente, o senhorio de Cristo. Quando alguém na multidão pede a Jesus para julgar uma questão de herança familiar, ele deixa claro que não veio para se intrometer na divisão da riqueza entre os homens. Ele não foi um ativista social e nem veio consertar os sistemas do mundo. Ele veio resgatar e salvar pessoas do mundo.
Depois de contar a parábola do rico insensato, Jesus se dirige aos discípulos, mostrando quais devem ser suas prioridades: “Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. A vida é mais importante do que a comida, e o corpo, mais do que as roupas. Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as aves!” (Lucas 12:22-24).
Repare que ele não diz “não trabalhem para comprar comida e roupas”. Se dissesse, estaria contradizendo sua própria Palavra dita por intermédio de Paulo aos Tessalonicenses: “Vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo, porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem comemos coisa alguma à custa de ninguém. Pelo contrário, trabalhamos arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês… Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se alguém não quiser trabalhar, também não coma. Pois ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia. A tais pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranquilamente e comam o seu próprio pão” (2 Ts 3:7-12).
Mas e se alguém recebeu um chamado do Senhor para evangelizar, pastorear ou ensinar? Então o Senhor irá sustentá-lo, sem que precise pedir nada a ninguém. Se o sustento não vier é porque o Senhor quer que trabalhe, em regime integral ou parcial, como fazia Paulo, que fabricava tendas. As duas formas são corretas. Porém existe uma terceira classe, a dos que não esperam no Senhor, mas pedem dinheiro aos homens com a desculpa de que é para a obra de Deus. Que diferença da vida de Paulo, que dizia: “Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’” (At 20:33-35).
Nos próximos 3 minutos, descubra a cura para a ansiedade.
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A cura para a ansiedade
Jesus continua ensinando seus discípulos a dependerem de Deus em tudo. Ele diz: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Visto que vocês não podem sequer fazer uma coisa tão pequena, por que se preocupar com o restante?” (Lucas 12:25-26). Então devo deixar que as coisas caiam do céu? Não devo mover uma palha para elas acontecerem? Existem muitas “palhas” que podemos mover, mas nenhum movimento adiantará se não for feito sob a direção de Deus. Por quê? Ora, se eu e você não somos capazes de acrescentar uma hora à nossa vida, por que achar que estamos no controle dela?
Alguma vez você perdeu um dia de escola ou de trabalho por doença, acidente ou morte na família. Você estava no controle dessas coisas? Absolutamente não! Você não foi capaz de fazer coisa alguma para impedir ou alterar essa situação. Você nem mesmo escolheu nascer neste país, ou ter o corpo que tem. Você não escolheu quem seriam seus pais, ou se nasceria saudável. Se você não tem controle sobre estas coisas, por que pensaria estar no controle das outras?
“Observem como crescem os lírios”, diz Jesus. “Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais vestirá vocês, homens de pequena fé!” (Lucas 12:27-28). Este é o segredo: fé! E na Bíblia há muitos exemplos de homens e mulheres de fé, como Noé e sua esposa, figuras do crente vivendo em um mundo destinado a juízo.
Com quê Noé estava ocupado? Certamente não com a melhoria do mundo para sua família, mas com a salvação de si mesmo, de sua família e de qualquer um que acreditasse na mensagem que pregava. Noé era um pregador da justiça divina, avisando a todos do dilúvio que viria e mostrando na prática que cria no que Deus disse. A enorme arca construída em terra seca antes de cair a primeira chuva era visível a todos. Naquele tempo os seres humanos viviam mais e Noé devia ter uns 480 anos quando foi avisado por Deus do juízo que viria e recebeu instruções de como se salvar por meio da Arca, que é uma figura de Cristo.
Lendo a história toda, do capítulo 5 ao 9 de Gênesis, e fazendo algumas contas com as idades, você irá descobrir que Noé não tinha filhos quando foi avisado da destruição do mundo. Você já escutou algum casal dizer que não quer filhos porque o mundo está ruim? Pois é, Noé não vivia em um mundo ruim — Noé vivia em um mundo com data de vencimento! E mesmo assim decidiu ter filhos, pois era um homem de fé. É disto que estou falando, da fé que confia e espera em Deus e não se aflige com as circunstâncias.
Nos próximos 3 minutos conheça a diferença entre o crente e o incrédulo.
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O tempo que resta
Jesus continua mostrando aos discípulos que existe uma grande diferença nas prioridades do crente e do incrédulo. Ele diz: “Não busquem ansiosamente o que hão de comer ou beber; não se preocupem com isso. Pois o mundo pagão é que corre atrás dessas coisas; mas o Pai sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas” (Lucas 12:29-31). Você vive como um pagão ou como um cristão?
Ele não está dizendo que não devemos nos ocupar com o que comer e beber, mas que não devemos nos preocupar com isso. O crente em Cristo tem um Pai que conhece suas necessidades. Ele deve trabalhar para se manter, mas também deve separar um tempo para as coisas de Deus. Adoração, leitura da Palavra, oração, comunhão com os irmãos, testemunho do evangelho, visita aos enfermos, auxílio aos necessitados — estas são algumas das ocupações daquele que foi salvo por Cristo. Que tal você avaliar quanto tempo separa para as coisas de Deus?
No fim de sua jornada aqui talvez você descubra que muitas das coisas com as quais se preocupou já estavam na agenda de Deus antes de você ter pensado nelas. Quanta energia, tempo e preocupação você teria economizado se soubesse que Deus teria suprido suas necessidades de qualquer maneira! Bastaria você ter orado e esperado com paciência. O Salmo 127 que diz: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono” (Sl 127:1-2).
Mas isto é privilégio dos salvos, dos filhos de Deus pela fé em Jesus. Se você ainda não é filho, a história é outra. Você ainda não tem o perdão dos pecados e um lugar garantido na eternidade graças ao sacrifício de Cristo. Sua vida é voltada para o aqui e agora. Para você, o além é um enorme ponto de interrogação. Então você faz das tripas coração para enriquecer e se divertir enquanto pode, pois esta vida é tudo o que possui. É nela que você aposta todas as suas fichas; neste breve período de tempo está toda a sua esperança.
Sabe por que você tem tanto medo da morte? Porque não consegue ver um palmo além do nariz; você vive como quem caminha à noite sem lanterna. À sua frente só há trevas. Em sua carta aos Coríntios, Paulo mostra o raciocínio de quem não tem a certeza da ressurreição: “Se os mortos não ressuscitam, ‘comamos e bebamos, porque amanhã morreremos’” (1 Co 15:32). Mas sua existência não termina no fim da vida. O tempo que você tem aqui é sua única oportunidade de garantir a vida eterna. Se você usa o seu tempo só para ganhar dinheiro, saiba que nem todo o dinheiro do mundo pode lhe comprar tempo. “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação… Creia no Senhor Jesus” (2 Co 6:2; At 16:31).
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Bem-nascido
No versículo 31 deste capítulo 12 de Lucas, Jesus diz aos discípulos: “Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas”, mas no versículo 32 ele diz: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12:31-32). Seria uma contradição? O versículo 31 nos diz para buscarmos o Reino, enquanto o 32 nos diz para não nos preocuparmos, pois o Pai quer nos dar o Reino. Devo buscar ou esperar receber? As duas coisas.
Veja que neste capítulo o Senhor já vinha preparando os discípulos para viverem simultaneamente duas realidades: a presente e a futura, ainda a ser manifestada. O versículo 32 estabelece o fato de que o crente já é “rico para com Deus” (Lucas 12:21), pois seu Pai quer lhe dar o Reino. Ele não precisa invejar o que os outros têm ou cobiçar o que nunca teve, pois sabe que vive duas realidades: uma que é presente e passageira, e outra que é futura e permanente.
Imagine que você seja um garotinho bem-nascido, filho de um rico industrial. Você sabe que irá herdar a indústria de seu pai e toda a sua fortuna quando chegar a hora. Mas enquanto é pequeno, você ainda não está na direção da empresa, não tem um carro de luxo ou avião particular, e nem é dono daquele time de futebol que seu pai comprou. Você se contenta em brincar com um carrinho e um aviãozinho de brinquedo, e a jogar bola com seus amiguinhos.
Como você deveria agir se fosse esse garotinho? Será que invejaria o carrinho ou o aviãozinho do amigo? Não, pois quando chegasse a hora você estaria dirigindo uma Ferrari e viajando de jato executivo. Acaso você brigaria com seus colegas por causa de um bate-bola depois da aula? Não, pois saberia que um dia seria dono de um time campeão. Você não iria se preocupar com um joguinho qualquer. O que você faria se encontrasse um garotinho pobre e sem brinquedos? Você abriria mão dos seus por saber que seu pai lhe daria outros quando pedisse. Não ficaria apegado aos brinquedos de hoje, mas teria um comportamento compatível com a posição que iria ocupar amanhã.
Aquele garotinho ainda não é o rico industrial que será, mas se for inteligente aproveitará sua infância para brincar de “dono de indústria”, se inteirando dos negócios de seu pai e se comportando de modo compatível com sua herança. Assim deve ser o cristão, diferente do incrédulo que só pode contar com os brinquedos que tem aqui. O cristão vive segundo a moral do Reino, e não do mundo. Seu caráter aqui deve ser compatível com sua herança futura. Seus investimentos devem ter por objetivo um “tesouro no céu” (Mt 19:21). Vivendo nessa expectativa ele é capaz de abrir mão dos brinquedos de hoje porque sabe que seu Pai poderá prover estes e muito mais amanhã. E é de investimentos futuros que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Onde está o seu tesouro?
Você recebe uma grande soma em dinheiro e sua preocupação é correr e depositá-lo no banco sem ser assaltado no caminho. Então você reparte as notas em maços e os distribui pelos bolsos, por dentro da roupa e até nas meias. Mesmo assim você fica preocupado. E se algum assaltante perceber seu olhar inquieto? E se você desmaiar no caminho ou sofrer um acidente? Ser levado a um pronto-socorro inconsciente e de bolsos cheios não é exatamente o que você gostaria que acontecesse. Quem irá garantir que seu dinheiro não desaparecerá?
Se você pudesse despachar tudo para o banco, sem precisar andar por aí recheado de notas, certamente faria isso. Assim teria a garantia de poder usar seu tesouro quando precisasse, sem correr o risco de perdê-lo. Jesus diz: “Vendam o que têm e deem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói. Pois onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lucas 12:33-34). O cristão é o único que pode realmente agir assim, pois quando compartilha do que tem não está gastando, mas guardando.
Mas qual é verdadeiramente o tesouro do crente? Serão seus bens, sua carreira ou posição na sociedade? O apóstolo Paulo pertencia à nata da sociedade de sua época, mas depois de convertido a Cristo passou a enxergar tudo o que era e possuía com outros olhos. Veja o que ele diz: “O que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo” (Fp 3:7-8).
Jesus tranquiliza os discípulos, dizendo: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12:32). Ser pequeno — em força, tamanho ou capacidade — não é uma vantagem neste mundo selvagem onde impera a lei do mais forte, mas é isto o que diferencia o cristão do incrédulo. Quando lemos a história de Sansão aprendemos que ninguém sabia de onde vinha sua força, pois ele devia ser um homem comum, e não um gigante musculoso. Os que seguem a Cristo encontram sua força somente naquele que revelou a Paulo que o seu “poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ao que o apóstolo concluiu: “Quando sou fraco é que sou forte” (2 Co 12:9-10).
Neste momento de nosso capítulo 12 de Lucas o reino ainda não tinha sido manifestado. O reino estava entre os discípulos, pois o Rei estava ali, mas ele ainda seria rejeitado e voltaria ao céu, o lugar de origem do reino. Um dia Jesus viria para estabelecer seu reino de forma visível e seus discípulos reinariam com ele. É desta expectativa, e de como os discípulos deveriam viver neste mundo, que Jesus fala nos próximos 3 minutos.
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O que você espera?
“Estejam cingidos os lombos de vocês, e acesas as suas candeias”, diz o Senhor no versículo 35 do capítulo 12 de Lucas. Deus disse o mesmo aos israelitas, prestes a saírem do Egito. Eles também deviam ter os “lombos cingidos”, uma corda amarrada à cintura para não tropeçarem nas bordas das longas vestes ao caminharem rápido. Ter uma candeia acesa significa estar preparado, pois só quem tem azeite não é pego de surpresa. É na expectativa de sua vinda iminente para nos tirar daqui que o Senhor quer que vivamos. Mas infelizmente não é a volta do Senhor a qualquer momento que alguns cristãos esperam.
Quando o assunto é profecia, existem basicamente duas correntes de interpretação das Escrituras: Dispensacionalismo e Teologia do Pacto. A primeira crê numa interpretação literal das profecias, portanto onde você lê “Israel” é Israel mesmo, o povo terreno de Deus e descendente de Jacó. Esta corrente de interpretação crê que todas as promessas de Deus feitas a Israel no Antigo Testamento ainda se cumprirão para Israel no futuro, apesar de terem sido suspensas por um intervalo que já passa de dois mil anos.
O dispensacionalismo acredita ainda que a Igreja é um povo distinto de Israel e só veio a existir a partir do capítulo 2 do livro de Atos. Ao contrário de Israel, Deus não deu à Igreja qualquer promessa ou esperança aqui no mundo, mas só nos céus. Os cristãos, que formam a igreja, o corpo de Cristo, deveriam viver na expectativa da volta do Senhor a qualquer momento para arrebatá-los daqui. Seu destino não é viver na terra, mas nos céus.
A maioria das religiões cristãs fundamentalistas católicas e protestantes não veem assim, pois seguem a Teologia do Pacto. Seus seguidores não esperam pela volta do Senhor a qualquer momento para serem arrebatados ao céu e se encontrarem com ele nos ares. Ao contrário, esperam por sua vinda para reinar na terra e estão ocupados com os acontecimentos deste mundo, já que muitas profecias ainda precisam se cumprir antes de Cristo vir reinar. Além disso, para a Teologia do Pacto o reino de mil anos que é citado várias vezes no capítulo 20 de Apocalipse seria apenas simbólico, e não um período definido de tempo.
A mesma Teologia do Pacto ensina que os cristãos devem evangelizar todos os habitantes do planeta antes que o Senhor possa voltar, condicionando a volta de Cristo ao trabalho dos cristãos. Uma das vertentes da Teologia do Pacto é a Teologia do Domínio, a mesma adotada pelo catolicismo romano nas Cruzadas e por países protestantes expansionistas, como Inglaterra e Estados Unidos. A ideia que estes têm de cristianizar o mundo é melhorá-lo e prepará-lo para Cristo vir reinar. Alguns cristãos fazem isto através do evangelismo, outros pela política, e outros, como os da Teologia do Domínio, pela força das armas.
Se você crê na Teologia do Pacto, nos próximos três minutos irá querer se apossar de tudo o que Deus prometeu, não para a Igreja, mas para Israel.
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Imediatamente
Nem todo cristão percebe as consequências das distorções causadas pela Teologia do Pacto. Durante séculos a Igreja, que deveria viver como estrangeira neste mundo e em constante expectativa pela vinda do Noivo, achou-se no direito de reivindicar para si as promessas feitas por Deus a Israel no Antigo Testamento. Assim os judeus foram perseguidos de forma implacável por aqueles que estavam de olho em seu espólio ou eram simplesmente levados pelas ideias vigentes na época. Se você estudou história aprendeu que não foram apenas os Papas, mas também reformadores como Lutero e Calvino que perseguiram judeus.
Mais recentemente pregadores inescrupulosos passaram a oferecer à Igreja as bênçãos terrenas prometidas originalmente a Israel. A Teologia da Prosperidade é um dos subprodutos da Teologia do Pacto. Portanto, se você acreditava que não importa muito adotar uma ou outra visão — Dispensacionalismo ou Teologia do Pacto — é melhor reconsiderar. Sua escolha determinará se no topo da lista das coisas que você espera para qualquer momento está encontrar-se com o Senhor nos ares ou os eventos que virão após o arrebatamento da igreja.
Dentro da visão dispensacionalista, que é a que eu acredito ser a correta, o Senhor pode voltar neste exato momento para ressuscitar a todos os que morreram em Cristo e arrebatar sua Igreja para o céu. Paulo explica isto em 1 Tessalonicenses 4, incluindo-se entre os que em seu tempo já aguardavam pelo Senhor: “Pois… o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, [nós] os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim [nós] estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts 4:16-17).
Depois do arrebatamento virão três anos e meio chamados de “início das dores” seguido pela manifestação do anticristo e pela “grande tribulação” (Mt 24:8, 21). Só depois é que Cristo se manifestará ao mundo, vindo do céu com todos os que foram levados para lá sete anos antes. Nessa ocasião ele virá para julgar as nações e estabelecer o seu Reino de mil anos literais na terra. Nela habitarão israelitas e gentios convertidos após o arrebatamento da Igreja. Enquanto isso, a Igreja, a noiva do Cordeiro, estará com Cristo no céu reinando sobre a terra.
Portanto, se você espera pelo estabelecimento do Reino no mundo, não está esperando pela volta iminente do Senhor, já que há muitos eventos que precisam ocorrer antes de Cristo vir reinar. Todavia, o Senhor deseja que sejamos “como aqueles que esperam seu senhor voltar de um banquete de casamento; para que, quando ele chegar e bater, possam abrir-lhe a porta imediatamente” (Lucas 12:36). “Imediatamente”, é o que ele diz. Quer um conselho? Não deixe para esperar para amanhã o que pode esperar para hoje.
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Servo ou juiz?
Se você já foi salvo por Cristo deve viver agora como um servo que aguarda ansioso pela volta de seu Senhor. Para os seus ele voltará para servi-los. Ele diz: “Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los” (Lucas 12:37). “Ele se vestirá para servir” indica uma roupagem que nada tem a ver com a roupa de um juiz, que é como ele virá vestido para o mundo em geral.
Em Apocalipse 1:13-17, João descreve as vestes de Jesus em seu caráter de um juiz severo, e elas nada tem a ver com este manso Senhor que volta como se fosse um garçom para acomodar os seus confortavelmente reclinados à mesa e servi-los. O caráter do Senhor como o Juiz que virá para julgar o mundo pode ser visto no capítulo 1 de Apocalipse quando o Senhor apareceu ao apóstolo João numa roupagem de meter medo.
Ele trazia “uma veste que chegava aos seus pés”, semelhante à toga que vemos os juízes usarem nos tribunais. Também “um cinturão de ouro ao redor do peito” simbolizando a justiça e fidelidade com que ele julga, como em Isaías 11:5, que diz: “A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão”. “Sua cabeça e seus cabelos… brancos como a lã” representam sua eternidade, além da experiência e sabedoria de um ancião, como ele é visto também em Daniel 7:9.
“Seus olhos… como chama de fogo” nos falam de um conhecimento perfeito, de um discernimento infalível e de um escrutínio profundo. Você ficaria à vontade diante de alguém com olhos de fogo? “Seus pés… como o bronze numa fornalha ardente” mostram sua função judicial, pois o fogo prova todas as coisas. Sua voz é como “o som de muitas águas”. Será que alguém conseguiria se fazer ouvir diante do bramido das poderosas ondas do mar?
Em Gênesis vemos que os astros e estrelas foram criados para governar, e é o que representam as “sete estrelas” que Jesus tem na mão direita. Todo o governo está em suas mãos, a quem pertence todo poder, controle e honra. A “espada afiada de dois gumes”, que João vê sair de sua boca, é a Palavra de Deus, pela qual todos serão julgados. Finalmente, sua face “como o sol quando brilha em todo o seu fulgor” revela a glória da sua divindade (Ap 1:13-17).
Felizmente não será esta a visão que os salvos terão de seu Senhor. Para estes, como diz nosso capítulo em Lucas, ele virá vestido para servir e dar descanso. Obviamente o apóstolo João estava salvo quando Jesus lhe apareceu numa visão apenas para mostrar como virá para o mundo. Mesmo assim, para tranquilizar João, ele colocou sua mão direita sobre o apóstolo e disse: “Não tenha medo”.
E você, como espera por Jesus? Ansioso que ele volte para você ser servido por ele, ou aterrorizado pela expectativa de ele voltar para você ser julgado?
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O dia e a hora
Ao contrário do que muitos falsos profetas têm feito, não encontramos na Bíblia qualquer autorização para determinar o momento exato da vinda de Jesus. Em Marcos 13:32 o Senhor diz: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai”. Por causa desta passagem alguns colocam em dúvida a divindade de Jesus. Se ele era Deus, como poderia desconhecer o dia e a hora de sua própria vinda?
Mas um versículo em João 15:15 indica que “o servo não sabe o que o seu senhor faz”, e era neste caráter que Jesus estava no mundo. Filipenses 2:6-7 diz que “Cristo Jesus… embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”. Como Deus ele sabia, mas como servo não lhe era dado saber, principalmente se a finalidade fosse revelar isso a outros.
Atos 1:6-7, embora se referindo aos discípulos, ajuda a entender a competência que cada um tem conforme sua posição e autoridade. Ali diz: “Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: ‘Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?’ Ele lhes respondeu: ‘Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade’”.
Com base nisto podemos dizer que a Jesus, o Filho, em seu caráter de Servo, não competia saber a data de sua vinda, pois tal conhecimento era da competência exclusiva do Pai. Se Jesus usasse de sua prerrogativa de ser Deus para revelar a data de sua vinda, estaria passando por cima da autoridade do Pai. Vemos que isto jamais aconteceria, pois ele próprio disse: “Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 6:38).
Sua submissão ao Pai era tamanha que até aquilo que ele tinha poder para fazer preferiu deixar que o Pai fizesse. Em João 10:18, ao falar de sua morte e ressurreição, Jesus revela ter autoridade ou poder para entregar sua vida e voltar a tomá-la, isto é, ressuscitar. Ele diz: “Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la. Esta ordem [ou mandato] recebi de meu Pai”. Todavia ele não fez uso desse poder, como Paulo revela: “Deus Pai… o ressuscitou dos mortos” (Gl 1:1).
Portanto qualquer especulação em torno de datas é querer passar por cima da autoridade do Pai. Mesmo assim, temos indícios de que estamos nos últimos dias pois vemos o testemunho de Deus no mundo se deteriorando, e esta sempre foi uma característica de mudança de era ou dispensação. Sempre que Deus confia ao homem alguma responsabilidade as coisas começam bem e terminam mal.
Nos próximos 3 minutos saiba como foi restaurada a expectativa da volta de Jesus e quais foram suas consequências.
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Meia-noite
O capítulo 12 de Lucas nos exorta a vivermos na expectativa da vinda iminente de Jesus, justamente por não sabermos quando será. Ele diz: “Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes… Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar” (Lucas 12:37-38). Em Marcos 13:35 ele fala das quatro vigílias usadas na época: “…à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer”. Porém aqui apenas duas são mencionadas, a da “meia-noite” e a do “cantar do galo”, pois o assunto é sua vinda para os seus, e não para o mundo.
A vigília da “meia-noite” é mencionada na parábola das dez virgens, que nos fala da responsabilidade dos que levam o testemunho de Deus na terra, sejam genuínos ou falsos; com ou sem o azeite do Espírito. Mateus 25:6 diz que “À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo se aproxima!’”. Este aviso a todas as virgens foi dado há cerca de duzentos anos, quando muitos cristãos voltaram a pregar que Jesus voltaria a qualquer momento para arrebatar sua Igreja.
A Teologia do Pacto, adotada até então por católicos e protestantes, não tinha qualquer preocupação com a vinda iminente de Jesus. Por considerar a Igreja como a legítima sucessora de Israel, portanto beneficiária das bênçãos terrenas prometidas àquele povo, durante séculos o foco da cristandade esteve em conquistar o mundo para a Igreja e não as pessoas para Cristo. O objetivo era preparar o mundo para Jesus poder vir reinar. Nessa visão não havia lugar para a ideia de Jesus vir buscar sua Igreja a fim de levá-la para o céu.
No século 19 foram restauradas algumas verdades das Escrituras que estavam perdidas sob o entulho de dogmas católicos e protestantes. Uma delas foi a posição singular da Igreja como algo totalmente novo, e não como sucessora de Israel. Ao contrário do Israel terreno, a Igreja teve sua origem no céu com a vinda do Espírito Santo do céu, e estava destinada a ser levada de volta para o céu com a retirada do Espírito deste mundo. Isto foi chamado de arrebatamento da Igreja, ou a vinda de Jesus para encontrar o seu povo nos ares, não no chão.
Portanto a partir do século 19 os cristãos voltaram a esperar por Jesus para tirá-los do mundo, não pela morte, mas no arrebatamento. A redescoberta desta verdade teve efeitos colaterais tanto na evangelização quanto na política mundial. Se Jesus podia voltar a qualquer momento, era importante levar o evangelho o mais rápido possível a mais pessoas, e este sentimento impulsionou a evangelização dos povos pagãos. Além disso, o conhecimento de que a Igreja não era sucessora de Israel, e que a antiga nação ainda teria suas promessas realizadas, gerou um movimento em prol da volta dos judeus à sua terra.
Obviamente os que se consideravam “donos da casa” da cristandade não viam com bons olhos estas ideias, e é disto que falaremos nos próximos 3 minutos.
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O dono da casa e o ladrão
Nos versículos 37 e 38 deste capítulo 12 de Lucas Jesus chama de “servos” aqueles que esperam por sua vinda iminente, mas a linguagem muda no versículo 39. Agora ele apresenta outro tipo, que chama de “dono da casa”, antes de exortar os discípulos a estarem preparados para sua vinda. Ele diz: “Entendam, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não permitiria que a sua casa fosse arrombada. Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam” (Lucas 12:39-40).
Em 1 Timóteo 3:15 Paulo chama o testemunho cristão de “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade”. Porém em 2 Timóteo 2:20 aquela casa é vista em um estado de degradação como uma “grande casa” na qual “há vasos não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para fins honrosos, outros para fins desonrosos”. O mesmo que os líderes do judaísmo fizeram com a casa de Deus de então, os cristãos fizeram com a casa de Deus na atual dispensação. Em Lucas 19, enquanto expulsava os vendedores do Templo, Jesus dizia: “Está escrito: ‘A minha casa será casa de oração’; mas vocês fizeram dela um covil de ladrões” (Lucas 19:46).
Por causa da volúpia por riquezas e poder, a imagem que o mundo tem hoje do cristianismo é muito diferente daquela encontrada nos primeiros cristãos. Neste capítulo Jesus diz que “onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lucas 12:34), isto é, o tesouro é o imã que atrai o coração. Ao adotar para si as bênçãos terrenas que eram prometidas a Israel, a Igreja colocou o seu foco no acúmulo de tesouros terrenos. Não foram os pregadores do evangelho da prosperidade que inventaram isso, mas foi o comportamento adotado desde o terceiro século, quando os cristãos deixaram de ser perseguidos para se transformarem em perseguidores.
O patrimônio da cristandade é imenso, se somarmos as riquezas de suas organizações. Não é de admirar que, no último estágio do testemunho cristão no mundo, representado por “Laodicéia” em Apocalipse 3, ela se considera rica e bem suprida. Mas a opinião do Senhor é outra: “[Você] é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar” (Ap 3:17-18).
O caráter de “dono da casa”, usado pelo Senhor em sua parábola, cai muito bem para aqueles que apenas professam ser cristãos e também para a cristandade institucional. Para estes a vinda de Cristo será como a chegada inesperada de um ladrão e irá pegá-los de surpresa, causando a perda de tudo o que juntaram aqui.
Nos próximos 3 minutos conheça o vigilante que nunca fica ocioso.
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Vigilantes e ocupados
A lição deste capítulo 12 de Lucas continua mostrando que não estamos aqui apenas esperando pela vinda do Senhor, mas vigiando e trabalhando. Um vigia não pode cochilar, caso contrário é pego de surpresa. Além da admoestação para vigiarmos (Lucas 12:37) existem outras características daquele que realmente vive na expectativa de encontrar-se com Jesus a qualquer momento. Ele diz:
“Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam… Quem é, pois, o administrador fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos seus servos, para lhes dar sua porção de alimento no tempo devido? Feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens” (Lucas 12:40-44). Portanto, devemos estar preparados, isto é, sempre prontos, pois não sabemos quando o Senhor virá nos buscar. Se você depende da carona de seu amigo que vai passar em sua casa para pegá-lo, o que você faz? Deixa para se aprontar quando seu amigo estiver buzinando no portão ou fica de prontidão?
Deus avisou os israelitas no Egito que deviam se aprontar para sair dali imediatamente após comerem o cordeiro assado no fogo — uma figura de Cristo sacrificado em lugar do pecador. Deus disse a eles: “Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente” (Ex 12:11). Não sei se existe outro lugar na Bíblia que mostre tamanho senso de urgência. Afinal, você consegue imaginar pessoas comendo com uma mão e segurando um cajado na outra?
Outra exortação para aquele que espera é que seja como um “administrador fiel e sensato”, encarregado de alimentar e cuidar daqueles que o seu Senhor colocou sob sua responsabilidade. Mas como alimentar outros com a Palavra de Deus se nós mesmos não nos alimentarmos dela todos os dias? E se não soubermos administrar o que temos nesta vida, como iremos administrar as coisas do Senhor no futuro? “Com ele reinaremos”, diz 2 Timóteo 2:12, portanto “feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens” (Lucas 12:43-44).
Portanto, quando o Senhor vier, não irá querer nos encontrar ociosos, e sim ocupados com os interesses dele. Alguns cristãos sentem arrepios quando ouvem falar de boas obras, e vão logo disparando versículos que afirmam que não somos salvos por obras, o que é verdade. Mas somos salvos para um propósito, e este é claramente indicado após o versículo de Efésios 2 que diz que somos “salvos pela graça, por meio da fé… não por obras, para que ninguém se glorie. Somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:8-10).
Nos próximos 3 minutos saiba como você pode comer, beber e se divertir.
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Comer, rezar e amar?
Por três vezes neste capítulo Jesus fala de comer, beber e alegrar-se. A primeira, no versículo 19, expressa o desejo do fazendeiro rico, que quer aumentar seus celeiros para garantir uma vida sossegada. Ele diz a si mesmo “coma, beba e alegre-se” (Lucas 12:19), sem saber que irá morrer. Ele quer assegurar uma aposentadoria feliz, o que é perfeitamente lícito. O problema está em excluir Deus de seus planos e confiar em sua própria capacidade. Ele pode até ser um bom cidadão, que cuida de sua família, gera empregos e faz caridade, mas Jesus o chama de “louco” ou “insensato”. Por quê?
Porque loucos são os que “tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível… Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1:21-25).
Embora Romanos 1:21-25 esteja falando dos pagãos, a descrição serve para todos os que idolatram a capacidade humana e vivem em função das coisas criadas. Nesta classe estão os céticos, ateus, humanistas, racionalistas, hedonistas ou quem quer que viva uma vida de indiferença para com Deus, ainda que seja politicamente correto e se preocupe com o ser humano, a comunidade e a salvação do planeta. Alguns acrescentam ao seu humanismo uma pitada de espiritualidade e vivem a vida apenas para comer, rezar e amar.
No versículo 37 de Lucas 12 é a vez dos verdadeiros servos desfrutarem por graça aquilo que o rico buscou obter pelo esforço. Destes, Jesus diz: “Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los” (Lucas 12:37). Existe um tempo de descanso, satisfação e alegria para quem crê em Jesus e espera por ele. Mesmo que passe por dificuldades e necessidades nesta vida, ele comerá, beberá e se alegrará quando for servido pelo próprio Senhor.
A próxima passagem sobre comer, beber e alegrar-se é a do falso servo no versículo 45. Ali diz: “‘Meu senhor se demora a voltar’, e então começa a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a embriagar-se” (Lucas 12:45). Este é o religioso que nunca se converteu, mas chama Jesus de Senhor. Ele não liga para a vinda de Cristo e é pior que o ímpio, que quer apenas comer, beber e se divertir. Ele quer embriagar-se, e é o que acontece com quem detém o poder religioso. Como um ébrio insensível, ele não tem escrúpulos em massacrar as ovelhas que apascenta. Mas sua sentença é clara: “O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe, e o punirá severamente e lhe dará um lugar com os infiéis” (Lucas 12:47). Ou seja, o seu destino é o lago de fogo.
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Responsabilidade
O versículo 47 diz: “Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lucas 12:47).
Se para o crente há uma diferença nas recompensas que receberá no céu, para o incrédulo haverá uma variedade de condenações no lago de fogo. Se você foi batizado em nome de Jesus e o chama de Senhor, mesmo sem ser convertido de verdade, você pertence à esfera da responsabilidade cristã e está sujeito a uma condenação mais severa que a do aborígene que nunca ouviu falar de Jesus.
É claro que no final todos os incrédulos — cristãos nominais ou não — irão para o mesmo lago de fogo, mas o grau de punição dependerá da responsabilidade de cada um. Mesmo o pagão, que recebeu naturalmente de Deus um testemunho por meio da Criação e de sua própria consciência, será avaliado desta forma “no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo” (Rm 2:16).
Existe até uma diferença geográfica no tratamento que Deus dará aos povos no futuro reino de mil anos de Cristo. Ele abençoará as nações que hoje não são cristãs e transformará em deserto os territórios dos povos que conheceram a verdade. Você entenderá melhor isto se considerar que o livro de Apocalipse identifica a futura “Babilônia” como a falsa cristandade — aquela que deveria ser noiva, mas surpreende o apóstolo João ao surgir como meretriz.
João diz: “Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus. Quando a vi, fiquei muito admirado” (Ap 17:6). Assim como no passado o sistema católico — e mais tarde o protestante — perseguiu e matou cristãos genuínos por não se sujeitarem, a cristandade apóstata que após o arrebatamento crerá no anticristo irá perseguir o remanescente judeu que se converterá em tempos de grande tribulação.
As referências proféticas a “Babilônia” mostram que as terras onde o cristianismo floresceu, como Europa e suas colônias, ficarão desoladas no reinado de Cristo. O profeta Isaías diz: “Nunca mais será repovoada nem habitada, de geração em geração… Mas as criaturas do deserto lá estarão, e as suas casas se encherão de chacais; nela habitarão corujas e saltarão bodes selvagens. As hienas uivarão em suas fortalezas, e os chacais em seus luxuosos palácios. O tempo dela está terminando, e os seus dias não serão prolongados” (Is 13:20-23).
Nos próximos 3 minutos Jesus acende um fogo.
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Rejeição
Jesus agora fala de sua rejeição: “Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Mas tenho que passar por um batismo, e como estou angustiado até que ele se realize! Vocês pensam que vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo. Pelo contrário, vim trazer divisão! De agora em diante haverá cinco numa família divididos uns contra os outros: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos pai contra filho e filho contra pai, mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra” (Lucas 12:49-53).
Se você achou que ao se converter a Cristo a vida seria tranquila, já deve ter percebido que não é bem assim. Quando os anjos anunciaram a chegada de Jesus, eles proclamaram: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lucas 2:14). Teria havido paz se Jesus não fosse rejeitado, mas ele foi. Sua encarnação trouxe fogo à terra, e tão logo nasceu, os homens já queriam matá-lo. Sua vida santa era demais para eles suportarem. “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas” (Jo 3:19-20).
Enquanto Jesus andou aqui, o juízo de Deus se manifestava pelo fogo que queimava as consciências. Ainda não era a hora de o fogo literal do juízo de Deus ser derramado sobre a humanidade culpada. “Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele… Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (Jo 3:17; 2 Co 5:19).
Jesus diz que tem ainda que passar por um “batismo”, que seria a sua morte na cruz recebendo sobre si o fogo do juízo de Deus por causa do pecado. “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo 12:24). Jesus morreu, ressuscitou e subiu à glória, consumando assim a obra que o Pai lhe tinha dado. Enquanto andou aqui, sua presença acendeu o fogo do juízo; na cruz o fogo caiu sobre si e, por substituição, sobre todo aquele que crê. Para o incrédulo resta a perspectiva futura do fogo eterno.
Todavia o fogo da presença de Jesus continua no mundo, agora por intermédio dos que foram salvos por ele e são rejeitados à semelhança de sua rejeição. A simples presença de Jesus no mundo incomodava, e agora a simples presença do crente incomoda. Casais são separados, famílias são divididas e amigos se tornam inimigos por causa do ódio natural que o homem tem contra Cristo. Assim como nos dias de Jesus foram os religiosos do judaísmo os seus maiores opositores, à medida que a cristandade caminha para a apostasia a oposição à verdade virá cada vez mais dos que professam ser cristãos.
Nos próximos 3 minutos os judeus são incapazes de fazer a previsão do tempo.
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Compre colírio
Um pouco antes Jesus alertava os discípulos da rejeição que sofreriam por segui-lo. Agora ele fala às multidões, uma mescla de judeus crentes e incrédulos: “Quando vocês veem uma nuvem se levantando no ocidente, logo dizem: ‘Vai chover’, e assim acontece. E quando sopra o vento sul, vocês dizem: ‘Vai fazer calor’, e assim ocorre. Hipócritas! Vocês sabem interpretar o aspecto da terra e do céu. Como não sabem interpretar o tempo presente?” (Lucas 12:54-56).
Eles eram capazes de julgar os sinais do clima físico, mas não o clima espiritual; viam as nuvens e a chuva, mas estavam cegos para interpretar o “tempo presente”. O juízo estava prestes a vir sobre a nação que levava o testemunho de Deus na terra. Logo depois Jesus diria do Templo: “Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus a visitaria” (Lucas 19:44). Esse tempo era o momento da visita do “Emanuel”, nome usado para anunciar o nascimento de Jesus e que significava “Deus conosco”.
Durante séculos, o povo esperou pelo Messias e agora o rejeitavam por ele não se encaixar em seus planos. Orgulhosos de sua religião, os judeus estavam cegos para sua própria degradação e ruína. Em outra ocasião eles diriam: “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém” (Jo 8:33). Eles sequer percebiam que estavam sob o jugo do invasor romano e trabalhavam para o sustento do inimigo. A história se repetiria quando o sistema religioso cristão, batizado profeticamente de “Babilônia”, passasse a se vender como uma prostituta. “Os reis da terra se prostituíram com ela; à custa do seu luxo excessivo os negociantes da terra se enriqueceram” (Ap 18:3).
Assim como aconteceu com Israel, a Igreja falhou miseravelmente como um testemunho de Deus na terra. Dos ricos palácios do Vaticano aos pregadores de prosperidade da TV, passando pelas articulações políticas do protestantismo fundamentalista, tudo na cristandade cheira ao mundano. Ela vive exatamente da mesma maneira que os judeus dos tempos de Jesus: no mundo e para o mundo. Algumas frases das cartas às sete igrejas de Apocalipse resumem a mensagem que Jesus tem para a Igreja hoje: “Sei onde você habita, onde está o trono de Satanás… você tem fama de estar viva, mas está morta… porque você é morna, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-la da minha boca… [você] é miserável, digna de compaixão, pobre, cega e nua” (Ap 2:13, 3:1, 16-17).
E você? Qual é a sua percepção do testemunho cristão no mundo? Acredita mesmo que está tudo bem e cada vez melhor? Então a receita é a mesma de Apocalipse 3:18: “Compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar”. O lugar que Jesus ocupa hoje, em relação à cristandade, é do lado de fora. Por isso, na continuação, ele diz aos que individualmente querem manter comunhão com ele fora do arraial religioso: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”(Ap 3:20).
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Saber julgar
Os versículos finais de Lucas 12 são uma consequência da incapacidade dos judeus de “interpretarem o tempo presente” (Lucas 12:56). A rejeição do Messias já era evidente quando ele veio ao mundo e Maria “o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Ao ser expulso do mundo, Jesus sofreu “fora das portas da cidade” (Hb 13:12). Porém, mesmo em meio à rejeição generalizada, um remanescente ainda seguia a Jesus e sofria a rejeição dos religiosos. Eles podiam ser encontrados dentro da grande massa do testemunho judaico, mas separados do mal que havia ali.
Do mesmo modo como foi excluído de entre os judeus na vida e na morte, o Senhor ocupa hoje um lugar fora do cristianismo institucional, apesar de o Espírito Santo habitar individualmente no coração de todo verdadeiro salvo por Jesus. A história do judaísmo se repetirá com a cristandade apóstata. Em Apocalipse ela é chamada de “Babilônia” e irá perseguir o remanescente de judeus que se converterá após o arrebatamento da Igreja. Judeus e gentios convertidos habitarão a terra durante o reinado de mil anos de Cristo. A exortação para os que têm qualquer associação com “Babilônia” é: “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados” (Ap 18:4).
Enquanto os judeus se opunham à verdade, a cristandade apóstata corrompe a verdade, o que é pior. A ordem é sair dela para evitar a contaminação. Um dos princípios na Palavra de Deus é que o mal contamina pelo simples contato. Em Ageu 2:13 o profeta pergunta: “‘Se alguém levar carne consagrada na borda de suas vestes, e com ela tocar num pão, ou em algo cozido, ou em vinho, ou em azeite ou em qualquer comida, isso ficará consagrado?’ Os sacerdotes responderam: ‘Não’. Em seguida perguntou Ageu: ‘Se alguém ficar impuro por tocar num cadáver e depois tocar em alguma dessas coisas, ela ficará impura?’ ‘Sim’, responderam os sacerdotes, ‘ficará impura’”. Judas usa a expressão “odiando até a roupa contaminada pela carne” (Jd 1:23) para nos alertar do perigo da contaminação por contato.
Não cabe ao cristão decidir quem é ou não salvo por Cristo, pois “o Senhor conhece quem lhe pertence”. Sua responsabilidade é julgar o mal e apartar-se. Paulo escreve: “Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm 2:19). Por não saberem julgar ou “interpretar o tempo presente” Jesus repreende os judeus usando de um exemplo que mostra a importância de se saber julgar, falando de coisas que todos nós tememos ter de enfrentar, como “magistrado”, “juiz”, “oficial de justiça” e “prisão”. Ele diz: “Por que vocês não julgam por si mesmos o que é justo? Quando algum de vocês estiver indo com seu adversário para o magistrado, faça tudo para se reconciliar com ele no caminho; para que ele não o arraste ao juiz, o juiz o entregue ao oficial de justiça, e o oficial de justiça o jogue na prisão. Eu lhe digo que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo” (Lucas 12:57-59).
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Todos iguais
O capítulo 12 do Evangelho de Lucas terminou com o fracasso dos judeus em discernir o tempo da chegada do Messias. Agora o capítulo 13 revela o orgulho individual e nacional do povo. Se você for um dos que acham que quando algo vai mal a alguém isso é porque a pessoa fez algo de errado, o que Jesus diz serve para você. E para mim também, pois não existe um ser humano que não goste de apontar o dedo para as falhas dos outros para desviar a atenção de si mesmo.
Os judeus vão a Jesus contar dos galileus aos quais Pilatos teria mandado matar enquanto ofereciam sacrifícios a Deus. A intenção deles é maliciosa, e Jesus percebe isso. Os habitantes da Judeia não toleravam os da Galileia e os consideravam inferiores. O comentário de Natanael no Evangelho de João sobre Nazaré, cidade da Galileia, revela a opinião comum na Judeia. Quando Filipe avisou Natanael que tinha encontrado Jesus de Nazaré, cidade da Galileia, sua reação foi: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?” (Jo 1:46).
Jesus não se limita a comentar o caso dos galileus, mas acrescenta outro também trágico: o desmoronamento de uma torre em Siloé que causou a morte de dezoito pessoas. Aquele que sonda os corações certamente sabe o que se passa no interior daqueles judeus orgulhosos de seu território, e por isso mostra que os habitantes da Galileia eram tão pecadores quanto os da Judeia:
“Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão. Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão” (Lucas 13:1-5).
Ao invés de pensarem na crueldade de Pilatos provavelmente eles estavam levantando suspeitas sobre a conduta das vítimas. No judaísmo, que era um sistema religioso de causa e efeito, bênção e prosperidade eram prometidas como recompensa para a obediência, enquanto para os desobedientes sobravam as adversidades, doenças e morte. Mas Jesus ensina algo que vai muito além do pensamento judeu: aos olhos de Deus, todos — absolutamente todos — são igualmente culpados e merecem morrer, a menos que se arrependam.
A carta aos Romanos diz que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus… assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 3:23; 5:12). Você já se enxergou nesse “todos” ou será que é como os da Judeia que se achavam menos culpados que os da Galileia?
Nos próximos 3 minutos Jesus decreta o fim do judaísmo.
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O fim do judaísmo
Após denunciar o orgulho individual de alguns judeus, que se consideravam melhores que os outros, Jesus revela o orgulho nacional do povo usando de uma parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em sua vinha. Foi procurar fruto nela, e não achou nenhum. Por isso disse ao que cuidava da vinha: ‘Já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não acho. Corte-a! Por que deixá-la inutilizar a terra? ‘ Respondeu o homem: ‘Senhor, deixe-a por mais um ano, e eu cavarei ao redor dela e a adubarei. Se der fruto no ano que vem, muito bem! Se não, corte-a’” (Lucas 13:6-9).
Se você quiser entender o Novo Testamento deve ter sempre em mente o que João diz sobre Jesus em seu evangelho: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1:11-12). Repare que o primeiro advento ou vinda de Jesus tem duas etapas. Primeiro, ele veio para o que era seu, isto é, os judeus. Como os seus não o receberam, ele passou a tratar com judeus e gentios que o receberam pela fé, fazendo deles filhos de Deus.
Portanto, ao ler os evangelhos, pergunte sempre: “O que isto tem a ver com os judeus?”. Somente depois é que você deve tentar identificar se existe algo que possa ser aplicado de forma direta ou indireta a você. Vemos que este capítulo está claramente relacionado aos judeus. Se perguntarmos ao profeta Isaías que vinha ou fazenda é esta, e o que significa a planta figueira, teremos a resposta: “A vinha do Senhor dos Exércitos é a nação de Israel, e os homens de Judá são a planta que ele amava” (Is 5:7).
Durante tempo suficiente — os três anos mencionados na parábola — Deus procurou fruto em sua vinha, Israel, e não encontrou. Depois que a nação foi dividida tudo o que sobrou foi um pequeno remanescente — Judá e Benjamim — que voltou a Jerusalém para reconstruir a cidade e o Templo. Estes são os judeus e, como a figueira da parábola, representam a planta que devia ter dado fruto, porém não deu. Deus mandou que a figueira fosse cortada, isto é, que fosse dado um fim naquele testemunho. Porém um intercessor suplica: “Deixe-a por mais um ano, e eu cavarei ao redor dela e a adubarei. Se der fruto no ano que vem, muito bem! Se não, corte-a” (Lucas 13:8-9).
O que intercede é o próprio Senhor Jesus e este “mais um ano” representa o tempo de seu ministério entre os judeus. Apesar de dar à figueira todas as condições para que desse fruto, isto não aconteceu e ela acabaria sendo cortada totalmente no ano 70 D.C. quando o Templo de Jerusalém foi destruído e o judaísmo se transformou em mera recordação. Os judeus que hoje existem não podem praticar sua religião sem o Templo e sem sacrifícios, por isso mantêm apenas uma casca ou aparência daquilo que era no passado. Mas o recado de Jesus aos judeus não termina aí, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Encurvados
No episódio anterior Jesus usou de uma parábola para decretar o fim do judaísmo. Visto profeticamente, este episódio revela que no futuro ele irá curar um remanescente de Israel de sua condição arruinada. “Certo sábado Jesus estava ensinando numa das sinagogas, e ali estava uma mulher que tinha um espírito que a mantinha doente havia dezoito anos. Ela andava encurvada e de forma alguma podia endireitar-se. Ao vê-la, Jesus chamou-a à frente e lhe disse: ‘Mulher, você está livre da sua doença’. Então lhe impôs as mãos; e imediatamente ela se endireitou, e louvava a Deus” (Lucas 13:10-13).
O contexto do capítulo fala dos judeus rejeitando seu Messias, portanto não fica difícil identificar o que representa esta mulher. Em Romanos 10:11 Paulo cita uma profecia a respeito de Israel: “Suas costas fiquem encurvadas para sempre”. O Senhor chama a mulher de “filha de Abraão” (Lucas 13:16). Em Gálatas 3:7 diz que “Os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão”. Apesar de sua fé genuína ela sofria as consequências do pecado e do estado geral de incredulidade de sua nação, do mesmo modo como todo verdadeiro crente no Senhor Jesus hoje sofre por causa da apostasia que vai tomando conta da cristandade.
O Senhor diz que “Satanás a mantinha presa”, revelando sob o jugo de quem os judeus haviam se colocado. A indignação do dirigente da sinagoga pela cura ter sido no sábado não tinha fundamento, pois Levítico 23:7 proibia os israelitas apenas de executarem “trabalho servil” no sábado, isto é, aquele feito com finalidade de salário ou lucro. Mas o líder da sinagoga insiste: “Há seis dias em que se deve trabalhar. Venham para ser curados nesses dias, e não no sábado” (Lucas 13:14). Ele diz isso como se pudesse curar nos outros dias da semana. Se pudesse, ela não estaria ali esperando há dezoito anos.
Jesus repreende os judeus: “Hipócritas! Cada um de vocês não desamarra no sábado o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para dar-lhe água? Então, esta mulher, uma filha de Abraão a quem Satanás mantinha presa por dezoito longos anos, não deveria no dia de sábado ser libertada daquilo que a prendia?” (Lucas 13:15-16). Eles tinham misericórdia de seus animais que davam lucro, mas não tinham escrúpulos em preferir que a mulher continuasse vivendo naquela condição. A ironia de tudo isso é que, enquanto os religiosos judeus reclamavam do Senhor, a mulher “louvava a Deus” (Lucas 13:13).
A libertação dela é completa, assim como será completa a libertação de Israel no futuro. Seu corpo ficou ereto e ela deixou de olhar só para a terra e foi capaz de olhar para o céu. Ela estava livre do peso da Lei e dos grilhões de Satanás e o resultado foi glória e louvor. Assim teria acontecido com os judeus se tivessem recebido seu Messias. Mas a incredulidade os mantinha encurvados e incapazes de ver e entender as coisas do céu, e é também a incredulidade que mantêm ainda hoje muitos encurvados sob o jugo da religião, da Lei e de Satanás.
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O Reino
Na história da humanidade você encontra muitos exemplos de reinos e governos que são organizados antes mesmo de assumirem o poder. Geralmente algum partido de oposição ao governo vigente começa a se articular e a decidir quem assumirá cada posição na nova ordem de coisas. Às vezes até mesmo uma nova constituição é redigida para quando o novo governo assumir o controle. Algo semelhante ocorre com o reino de Deus. Ele já existe, mas não está no poder.
É importante entender que “reino de Deus” não é sinônimo de céu ou salvação eterna. O reino é a esfera de governo de um Rei sobre seus súditos, sejam eles submissos ou não. Jesus veio ao mundo para reinar, porém foi rejeitado. Portanto o reino de Deus já estava no mundo funcionando nos bastidores, pois o Rei tinha seguidores em campanha divulgando suas propostas de governo e convidando as pessoas a se filiarem ao reino. Ao mesmo tempo Jesus dava provas de que seu reino era real, ao revelar o seu poder e de como seria a vida na terra quando estivesse no trono. A cura da mulher encurvada era uma dessas provas.
Se você entender isto entenderá a passagem de Hebreus 6 que diz que “para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir [ou seja, do Reino], e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento” (Hb 6:4-6). Essas pessoas são as mesmas que tiveram um contato direto com Jesus e não foram salvas porque não creram de verdade. Estavam no reino, porém eram contrárias ao Rei.
Elas foram expostas à luz da presença de Cristo, sentiram um gostinho do dom celestial e foram participantes do Espírito Santo ao serem influenciadas por ele. O Espírito é quem convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo vindouro, como explica João 16:8, tentando levá-lo a Cristo. Ele também santifica o pecador colocando-o numa posição de privilégio, como a do incrédulo casado com uma mulher crente em 1 Coríntios 7:14. Os “poderes da era que há de vir” são os que Jesus manifestava ao curar doentes e alimentar multidões. Muitos dos que beberam do vinho nas bodas de Caná e comeram do pão que Jesus multiplicou estariam mais tarde cuspindo nele e gritando: “Crucifica-o! Crucifica-o!”.
Para mostrar que na ausência do Rei o Reino iria se deteriorar nas mãos dos homens, Jesus faz uma pergunta e a responde na forma de dois exemplos: “Com que se parece o Reino de Deus? Com que o compararei? É como um grão de mostarda que um homem semeou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos… É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada” (Lucas 13:18-21). Nos próximos 3 minutos você ficará surpreso ao descobrir como as religiões invertem o significado destes exemplos.
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A árvore mutante
Primeiro Jesus compara o seu Reino a uma hortaliça: “É como um grão de mostarda que um homem semeou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos” (Lucas 13:18-19). Se quiser entender a Bíblia você deve buscar as respostas na própria Bíblia, e é o que vamos fazer aqui para entender o significado da árvore e das aves em seus ramos.
Se você aprendeu que a semente de mostarda transformada em árvore é uma figura positiva do avanço do evangelho no mundo, é melhor passar uma borracha nessa ideia. Alguns acrescentam que os pássaros aninhados seriam os líderes religiosos instalados nos diferentes ramos da cristandade para promover o crescimento da igreja. Apesar de uma explicação assim ser tão conveniente e confortável para eles quanto aos ninhos, eles deveriam se envergonhar de aplicar a si mesmos uma posição que o Senhor rejeitou. Ele disse: “As aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lucas 9:58).
Para começar, um pé de mostarda cresce no máximo até um metro e vinte. Ninguém chamaria isso de árvore e é improvável que pássaros façam ninhos em seus ramos. Portanto Jesus está falando de uma mutação, um crescimento anormal do Reino na terra. Na Bíblia a árvore é uma figura da humanidade, que tem raízes na terra e não no céu. No capítulo 4 de seu livro o profeta Daniel compara a grande árvore do sonho de Nabucodonosor ao próprio rei, cujos domínios se estenderiam por toda a terra. Mas aquela árvore seria derrubada, pois seu crescimento anormal não vinha de Deus, e sim do homem.
Na Bíblia encontramos também o significado das aves do céu. Na Parábola do Semeador Jesus diz que as “aves” que comem as sementes caídas à beira do caminho representam Satanás. Apocalipse 18:2 diz que Babilônia “se tornou habitação de demônios e antro de todo espírito imundo, antro de toda ave impura e detestável”. Você já sabe que Babilônia é a futura cristandade apóstata, aquela que deveria se apresentar como noiva de Cristo, mas surpreende o apóstolo João ao surgir na visão como uma meretriz.
Portanto Jesus está dizendo que, nas mãos dos homens, o Reino teria um crescimento anormal. A história da cristandade mostra que os ramos dessa árvore sempre serviram para aninhar “toda ave impura e detestável”. A árvore não é uma imagem positiva do crescimento do evangelho, e sim do futuro sombrio do testemunho de Deus na terra. Este se tornaria uma aberração nas mãos dos homens e abrigaria líderes da pior espécie. Paulo os chama de “falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo” e acrescenta que “o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça” (2 Co 11:14-15).
E a massa fermentada? Nos próximos 3 minutos você verá que terá de passar uma borracha também no que aprendeu sobre isto.
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A massa fermentada
Mais uma vez Jesus faz uma previsão negativa a respeito do crescimento anormal do testemunho de Deus, hoje representado pela cristandade. Agora é a vez de você passar uma borracha no que aprendeu dos teólogos e líderes religiosos sobre o significado da massa fermentada. Jesus volta a fazer uma pergunta seguida da resposta na forma de uma figura: “A que compararei o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada” (Lucas 13:20-21).
Assim como aconteceu com a semente de mostarda, que cresceu além do normal até virar uma aberração, a massa também representa um crescimento da cristandade no mundo, porém causado por fermento. Tente encontrar na Bíblia um significado positivo para “fermento” e você não achará. Desde sua primeira menção no livro de Êxodo, até a última na carta de Paulo aos Gálatas, o fermento sempre tem conotação negativa.
Em Êxodo 12:15 Deus ordenava: “No primeiro dia tirem de casa o fermento, porque quem comer qualquer coisa fermentada, do primeiro ao sétimo dia, será eliminado de Israel”. Ao falar da má doutrina que contamina, Paulo escreveu em Gálatas 5:9: “Um pouco de fermento leveda toda a massa”, usando a mesma expressão de 1 Coríntios 5 ao tratar do pecado moral e do “fermento da maldade e da perversidade” (1 Co 5:8). Nos evangelhos o Senhor alertou os discípulos: “Cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus” e eles “entenderam que não estava lhes dizendo que tomassem cuidado com o fermento de pão, mas com o ensino dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16:6-12).
Considerando que o crescimento na igreja se dá pelo ensino da Palavra, e que o fermento é comparado à má doutrina, como interpretar o papel da mulher na parábola? Entendendo os limites que Deus coloca ao ministério das mulheres. Em 1 Coríntios 14, a ordem para que as mulheres permaneçam caladas nas igrejas é chamada de “mandamento do Senhor” (1 Co 14:33-37). Em 1 Timóteo, Paulo explica a razão: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher” (1 Tm 2:11-14).
Deus diz que a mulher é suscetível ao engano e por isso não deve ensinar. Além disso, no Éden, Deus colocou inimizade entre a serpente e a mulher, o que a transformou no alvo predileto do diabo. Outra pista para entendermos o que significa a mulher que introduz fermento na massa é o costume católico e protestante de dizer que “a igreja ensina”, quando a igreja, por ser a noiva, jamais deveria ensinar. A igreja aprende; quem ensina são os dons dados à igreja. Antes de você me chamar de machista ou avesso às mulheres é melhor conferir se é isso mesmo que a Bíblia diz. Se for, o melhor a fazer é se submeter ao ensino do Espírito Santo de Deus.
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Contexto
Você já começou a conversar com alguém e depois descobriu que falavam de assuntos diferentes? Isto ocorre por usarmos palavras com significados diferentes para diferentes pessoas. Se você pedir uma receita à cozinheira, ela pensará em comida, mas se pedir ao médico ele pensará em medicamento. Se o macaco de seu carro tiver problemas, não peça a opinião de seu amigo veterinário. Vá direto a um mecânico ou loja de autopeças. Portanto, ao ler a Bíblia, procure saber o contexto para não entender errado o que está sendo falado.
A primeira edição da Bíblia em inglês, publicada em 1535 por iniciativa do Rei Tiago da Inglaterra, ou “King James”, trazia um prefácio de Miles Coverdale que dizia: “Será de grande auxílio para entenderes as Escrituras se atentares, não apenas para o que é dito ou escrito, mas de quem e para quem, com que palavras, em que época, onde, com que intenção, em quais circunstâncias, e considerando o que vem antes e o que vem depois”.
Este cuidado deve ser aplicado na pergunta que o homem faz a Jesus: “Senhor, serão poucos os salvos?”. Para os judeus, “salvação” costumava representar a libertação das mãos dos inimigos para habitar em paz na terra prometida sob o reino do Messias. Você não encontra no Antigo Testamento o conceito celestial de salvação. A esperança de Israel era na terra, não no céu, e para o cristão os exemplos de salvação do Antigo Testamento servem como sombras e figuras das coisas celestiais, pois a esperança da igreja é celestial, não terrena.
Portanto, a pergunta deste judeu pode muito bem ser traduzida assim: “Senhor, serão poucos os que sobreviverão para entrar no Reino?”. Jesus diz: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lucas 13:24). Considerando que o Reino em seu estado atual é uma mistura de joio e trigo, apenas os esforçados conseguem suportar a oposição. Para estes a porta é estreita por causa das dificuldades, mas volto a dizer que a resposta de Jesus não está se referindo à salvação da alma e à entrada no céu.
Se você entender que para um judeu é isto que significa “salvação”, entenderá também que muitos erram ao interpretar como salvação eterna passagens como Mateus 24, que diz que “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24:13). O trecho fala claramente de sobrevivência, de estar vivo por ocasião do estabelecimento do Reino do Messias na terra. Por isso naquele capítulo é explicado que “se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria”, ou “seria salvo”, como dizem outras versões (Mt 13:22).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala do estabelecimento do Reino.
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Primeiros e últimos
Após falar da persistência necessária para se entrar no Reino que os judeus tanto esperavam, Jesus continua em forma de parábola: “Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta… comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’ Ali haverá choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão, Isaque e Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, mas vocês excluídos. Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e ocuparão os seus lugares à mesa no Reino de Deus” (Lucas 13:25-29).
Jesus fala de um evento na terra, não no céu. A referência aos quatro pontos cardeais não faria sentido no céu. A igreja, que nos evangelhos era um mistério a ser revelado mais tarde a Paulo, não aparece nestas parábolas. Mas em seu testemunho exterior a cristandade representa hoje o Reino, onde o joio e o trigo caminham lado a lado. Após o arrebatamento da igreja restarão aqui judeus e gentios, alguns dos quais se converterão e serão introduzidos vivos no Reino de mil anos após passarem por grande tribulação. Mas os que hoje escutam o evangelho da graça e não creem ficarão na terra após o arrebatamento, sem uma segunda chance de conversão. Só quem nunca escutou poderá se converter.
O mundo está cheio de cristãos que praticam sua religião, participam da ceia comendo do pão e bebendo do cálice, e escutam os pregadores da Palavra que falam em nome de Jesus. São estes que irão argumentar: “Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas” (Lucas 13:26). Porém o Senhor não os reconhecerá. Eles são o joio, que é muito semelhante ao trigo, mas cujas folhas não acompanham o sol, como o trigo faz. Participar de cerimônias cristãs não faz de você um cristão. Comer do pão e beber do cálice não é garantia de que sua comunhão seja com Cristo. A característica dos falsos discípulos é que eles praticam o mal, já que a religião não dá uma vida nova para se viver para Deus.
Mas quem são os “últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos” (Lucas 13:30)? Os primeiros a receberem os oráculos de Deus foram os judeus, porém seu legalismo os privou de apreciar a graça imerecida. Já os gentios que se converterem durante os tempos de tribulação que precedem o estabelecimento do Reino na terra, serão os primeiros a apreciar a gratuidade da salvação sem as amarras do legalismo e do cerimonial judeu.
Nos próximos 3 minutos Jesus continua sua jornada para Jerusalém, onde deve morrer.
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A hipocrisia dos fariseus
No versículo 31 deste capítulo 13 de Lucas vemos os fariseus preocupados com a segurança de Jesus. Eles se aproximam dele e avisam: “Saia e vá embora daqui, pois Herodes quer matá-lo” (Lucas 13:31). O que os fariseus provavelmente queriam era que Jesus se escondesse e parasse de criticá-los em público. Herodes talvez quisesse o mesmo, pois temia que Jesus fosse a ressurreição de João Batista, ao qual havia mandado decapitar. Tirá-lo de circulação poderia resolver o problema do rei e dos religiosos judeus sem precisar matá-lo, já que isto geraria um protesto da multidão que o seguia.
Por natureza, todo ser humano deseja o mesmo: livrar-se de Jesus. Alguns tentam se livrar dele combatendo tudo que tenha qualquer ligação com o cristianismo. É o caso de países islâmicos avessos ao evangelho. Outros tentam ser indiferentes, mas não conseguem calar suas consciências quando colocam a cabeça no travesseiro. Mas existe ainda um terceiro tipo, que é o mais ladino e perigoso, e é esta a posição tanto de Herodes quanto dos fariseus neste momento. Eles adotam a estratégia: “Se não puder lutar contra seu inimigo, junte-se a ele”.
Hoje muitos fazem isso. Apesar de não terem qualquer simpatia por Jesus, fingem que são seus aliados para atingir seus interesses mesquinhos. São aqueles que vestem um manto de cristianismo apenas quando convém. Você já deve ter ouvido falar de políticos ateus que, depois de eleitos, dizem “Graças a Deus” e passam a cortejar os que se dizem cristãos. Herodes, que nem judeu era e sim usurpador do trono, capacho dos romanos e inimigo do povo de Deus, aparece aqui numa conveniente aliança com os religiosos judeus contra Jesus.
Mas Jesus conhece a hipocrisia deles e manda um recado a Herodes: “Vão dizer àquela raposa: ‘Expulsarei demônios e curarei o povo hoje e amanhã, e no terceiro dia estarei pronto’. Mas, preciso prosseguir hoje, amanhã e depois de amanhã, pois certamente nenhum profeta deve morrer fora de Jerusalém!” (Lucas 13:32-33). Nenhum religioso ou governante iria interferir naquilo que já estava determinado por Deus. Jesus não fala de três dias literais, mas de um testemunho completo, o que é sempre representado por dois ou três. Ele completaria o tempo do seu testemunho à nação incrédula de Israel, morreria e ressuscitaria conforme estava determinado. Jerusalém acrescentaria à sua lista de profetas assassinados o nome do próprio Messias e Rei de Israel.
Em função dessa rejeição, nos próximos 3 minutos Jesus lamenta o destino de Jerusalém.
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Não me verão mais
Muitos questionam a divindade de Jesus, apesar de a Bíblia afirmar isso em muitos lugares. Mas existem passagens que dão a entender que Jesus é Divino, porém de forma indireta. É o caso do primeiro versículo da carta aos Gálatas, no qual Paulo apresenta suas credenciais dizendo que foi “enviado, não da parte de homens… mas por Jesus Cristo e por Deus Pai” (Gl 1:1). O leitor atento irá perceber que ele fala de duas categorias: a dos que são meramente humanos e outra, na qual estão “Jesus Cristo e… Deus Pai”.
Nos dois últimos versículos de Lucas 13 também é possível perceber a divindade e a eternidade de Jesus, quando ele diz: “Jerusalém, Jerusalém, você, que matas os profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!” (Lucas 13:34). Como poderia Jesus ter tentado reunir o povo de Israel sob suas asas se ele tinha apenas trinta anos de idade e seu ministério público só três anos? A resposta é que ele fez isto ao longo da história de Israel, pois Jesus é o mesmo Jeová que encontramos no Antigo Testamento.
A parábola dos lavradores maus, contada por Jesus em Mateus 21, vai se tornando realidade. Nela o dono da vinha envia seus servos para buscar seus frutos, porém “a um espancaram, a outro mataram e apedrejaram o terceiro”, fazendo o mesmo com os que vieram depois. “Por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: ‘A meu filho respeitarão’. Mas quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar a sua herança’. Assim eles o agarraram, lançaram-no para fora da vinha e o mataram” (Mt 21:35-39).
Em nosso capítulo está chegando a hora de cumprir-se a última parte da parábola: “O Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino” (Mt 21:43). “O Reino de Deus será tirado de vocês” equivale às palavras “Eis que a casa de vocês ficará deserta” do último versículo de Lucas 13. A casa dos judeus realmente está deserta até hoje e o judaísmo é uma religião apenas de formas e rituais, porém sem Deus. O Reino seria dado a outros e é esta a situação atual. Porém, o que muitos cristãos não percebem é que Deus voltaria a tratar com os judeus no futuro e que um remanescente de judeus fiéis receberia a Cristo quando ele viesse estabelecer seu reino visível na terra. É disto que Jesus fala aqui: “Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’” (Lucas 13:35).
Nos próximos 3 minutos Jesus cura, exalta e recompensa.
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Cura, exaltação e recompensa
O capítulo 14 de Lucas começa com o convite de um fariseu para Jesus comer em sua casa. Na sequência vemos três coisas que caracterizam alguém que se aproxima de Jesus na condição que Deus espera do pecador: cura, exaltação e recompensa. Estas três coisas estão representadas na cura de um homem hidrópico, na exaltação do que se coloca em último lugar e na recompensa dos que sabem que “há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20:35).
Tão logo Jesus entra na casa do fariseu duas coisas ficam evidentes. Ali está um homem hidrópico, isto é, que sofre de inchaço no corpo, uma figura perfeita do pecador inchado de pecados e incapaz de curar-se a si mesmo. Jesus conhece os pensamentos dos fariseus e doutores da lei que estão ali e lança uma pergunta desafiadora: “É permitido ou não curar no sábado?” (Lucas 14:3). Eles obviamente acham que curar no sábado é uma transgressão da Lei e no capítulo anterior o dirigente da sinagoga havia declarado isto. Porém agora até mesmo os juízes de Israel ficam em silêncio. Aqueles homens que sabiam a Lei de cor e salteado não podem apontar uma passagem sequer em que a guarda da lei anule a misericórdia e graça de Deus.
Jesus cura o homem e ainda revela o que há no coração daqueles que exigem que você guarde a Lei para ser salvo. Anote aí para nunca mais se esquecer: Todo religioso legalista é um hipócrita. Ele vai dizer o que você deve fazer enquanto ele mesmo só finge que faz. Jesus já havia mostrado isso quando falou dos fariseus no Evangelho de Mateus, dizendo que eles “não praticam o que pregam”, pois “Atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens” (Mt 23:3-5).
Depois de curar e ordenar que o homem saísse dali, Jesus vira-se para os fariseus e faz outra pergunta que eles também não ousam responder, pois a resposta denunciaria a hipocrisia deles: “Se um de vocês tiver um filho ou um boi, e este cair num poço no dia de sábado, não irá tirá-lo imediatamente?” (Lucas 14:5). No capítulo anterior, após curar a mulher encurvada e ser repreendido pelo chefe da sinagoga, Jesus revelou a hipocrisia deles com uma pergunta semelhante: “Hipócritas! Cada um de vocês não desamarra no sábado o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para dar-lhe água?” (Lucas 13:15). Naquele caso era o cuidado com as necessidades, agora é o cuidado com a vida. O legalismo sempre irá querer impedir a graça de Deus de salvar o pecador.
Nos próximos 3 minutos veja o que Cristo pensa da exaltação própria.
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Humilhados exaltados
Ainda na casa do fariseu, Jesus observa como os convidados escolhem os lugares de honra à mesa, e conta uma parábola: “Quando alguém o convidar para um banquete de casamento, não ocupe o lugar de honra, pois pode ser que tenha sido convidado alguém de maior honra do que você. Se for assim, aquele que convidou os dois virá e lhe dirá: ‘Dê o lugar a este’. Então, humilhado, você precisará ocupar o lugar menos importante. Mas quando você for convidado, ocupe o lugar menos importante, de forma que, quando vier aquele que o convidou, diga-lhe: ‘Amigo, passe para um lugar mais importante’. Então você será honrado na presença de todos os convidados. Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14:7-11).
A exaltação própria é uma forma de hipocrisia, por você achar que é mais importante do que é na realidade. Jesus denuncia a hipocrisia dos fariseus, que queriam parecer justos, quando não passavam de “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23:27). Se você achar que é bom o suficiente para merecer o céu ainda não entendeu que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”, e não os bons (1Tm 1:15). Se você se considera pecador, há esperança para você. Caso se considere melhor que um marginal, o mais provável é que ele seja salvo e você não.
O pecado de Satanás foi a auto exaltação. Antes de enganar Eva, mentindo que ela seria “como Deus” (Gn 3:5), ele já tinha enganado a si mesmo, ao dizer: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo” (Is 14:13-14). Imagine um ser criado querer ficar acima de seu Criador! A resposta de Deus foi: “Às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo!” (Is 14:15).
Por causa do pecado todos somos hipócritas e mentirosos por natureza, sempre buscando a exaltação própria à custa de outros e por necessidade de autoafirmação. Quando alguém se torna religioso, como os fariseus que nesta passagem, corre o risco de ser identificado com a lista das características dos religiosos nos últimos dias da cristandade em 2 Timóteo 3:1-5. Ela termina com “Aparência de piedade”. Você pode enganar muita gente querendo parecer fiel e santo, mas não vai enganar a Deus que tudo vê. É por isso que “todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14:11). Na primeira turma está Satanás. Na última, os verdadeiros crentes.
Aqui Jesus falou dos convidados. Nos próximos 3 minutos ele fala do anfitrião.
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Graça produz graça
Nos últimos 3 minutos, Jesus falou dos convidados que exaltavam a si mesmos buscando os melhores lugares. Agora o recado é para o anfitrião: “Quando você der um banquete ou jantar, não convide seus amigos, irmãos ou parentes, nem seus vizinhos ricos; se o fizer, eles poderão também, por sua vez, convidá-lo, e assim você será recompensado” (Lucas 14:12). Ao entregar o seu Filho à morte por pecadores, Deus não esperava encontrar merecedores. Ele não convidaria os melhores do mundo, os mais inteligentes, os mais versados na Bíblia ou os ganhadores do Prêmio Nobel para fazerem parte de sua família. Em 1 Coríntios, Paulo descreve como são os que Deus escolhe:
“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele… para que, como está escrito: ‘Quem se gloriar, glorie-se no Senhor’” (1 Co 1:26-31).
Nesta vida tudo é conseguido com esforço, trabalho e estudos, menos a salvação eterna que você só pode receber por graça, não por mérito. A razão é que toda a glória deve ser exclusivamente de Deus. Ele é o anfitrião que convida a todos para cearem em sua casa, mas nem todos querem. Mais adiante neste capítulo 14 de Lucas o Senhor irá falar do homem rico que obriga “Os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos” (Lucas 14:21) a participarem de sua ceia, pois se dependesse deles não iriam querer. O significado do termo “graça” é “favor imerecido”, e não existe outro meio de você ser salvo a menos que aceite o convite de Deus para crer em Cristo, que morreu em seu lugar para que você pudesse ser salvo.
Jesus instrui o anfitrião com estas palavras, mostrando assim o comportamento que espera de quem foi salvo por graça: agir também em graça sem esperar por recompensa. Ele diz: “Quando você der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos, e os cegos. Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos” (Lucas 14:13-14). Os chamados “justos” aqui não recebem esta designação por algo que tenham feito, mas por terem sido justificados por Deus. Eles participarão da “ressurreição da vida” (Jo 5:29), e é de ressurreição que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Duas ressurreições
Ao falar da atitude que caracteriza um salvo por Cristo, que é a de dar sem esperar receber algo em troca, Jesus complementa dizendo que “a sua recompensa virá na ressurreição dos justos” (Lucas 14:14). Muitos ficam confusos com esta passagem e mais ainda com a de João 5:28-29, que diz: “Está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Afinal, a salvação é por graça ou por mérito para quem faz o bem?
“Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus”, diz Paulo em Efésios 2:8. Quando uma afirmação assim esbarra em outra que parece contradizê-la, devemos nos lembrar de que não existem contradições na Palavra de Deus. Então o que significaria a expressão “Os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida”? Simples. Uma pessoa salva por graça fica capacitada por Deus a fazer o bem, e assim é identificada. Ela receberá uma recompensa ou galardão pelo bem que Deus a capacitou fazer quando ressuscitar para a vida eterna. As demais pessoas também ressuscitarão, mas para serem condenadas.
Apesar de ambas as ressurreições aparecerem juntas neste versículo, isto não significa que ocorrerão simultaneamente. A Bíblia ainda fala de um terceiro tipo de ressurreição, a de pessoas como Lázaro que ressuscitaram em seus velhos corpos e depois morreram outra vez. Não era uma ressurreição permanente e só acontecia com quem já era convertido antes de morrer. Deus não iria ressuscitar um incrédulo para dar a impressão de que existiria uma segunda chance de se converter após a morte. Até hoje Jesus é o único que ressuscitou em um corpo glorioso como o que os salvos terão. É o que vemos em 1 Coríntios 15:
“Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias [ou o primeiro] dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem. Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder” (1 Co 15:20-23).
Portanto existem duas ressurreições — a dos salvos e a dos perdidos — mas a primeira ocorrerá em diferentes estágios, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Três estágios
As passagens que falam genericamente de ressurreição usam a expressão “ressurreição dos mortos”, mas a ressurreição de Cristo e dos salvos é tratada como “ressurreição dentre os mortos”. Isto é para indicar que Jesus foi tirado de entre os que estavam mortos. A mesma expressão “dentre os mortos” é usada também para a ressurreição dos salvos por Cristo, pois os corpos dos demais permanecerão na morte até o juízo final. Por isso Paulo escreve em Filipenses 3:11 que aguardava “a ressurreição dentre os mortos”.
A ressurreição dos salvos é chamada de “primeira ressurreição” em Apocalipse 20:5, “ressurreição da vida” em João 5:29 e “ressurreição dos justos” em Lucas 14:14. Mas ela acontece em pelo menos três estágios: primeiro Cristo, que é “as primícias”, cuja ressurreição revela o que acontecerá também com os que crerem nele. Hoje existe apenas um Homem de carne e ossos no céu, porém depois da ressurreição dos mortos em Cristo e a transformação dos vivos no arrebatamento da igreja, todos os crentes que morreram e hoje estão em espírito no céu, receberão seus corpos à semelhança do que aconteceu com Jesus.
Então o céu será habitado por milhões de seres humanos em corpos de carne e ossos, porém diferentes deste corpo natural, pois poderão viver na eternidade, quando o tempo deixar de existir. Mas serão corpos tangíveis, e não espíritos, como Jesus explicou depois de ressuscitar: “Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho” (Lucas 24:39). Ele surgiu em um aposento com as portas fechadas e comeu peixe com os discípulos.
A ressurreição de Jesus é a primeira fase da primeira ressurreição; a ressurreição dos que morreram em Cristo e a transformação dos vivos no arrebatamento é a segunda fase. A terceira fase seria a ressurreição dos mártires da grande tribulação que virá após o arrebatamento da igreja. Alguns acreditam que os santos do Antigo Testamento ressuscitarão nesta fase, porém eu creio que eles estejam entre os “mortos em Cristo” (1Ts 4:16) ressuscitados no arrebatamento. Poderá haver ainda mais uma ressurreição ou transformação dos corpos no final do milênio, pois devemos nos lembrar de que a terra no reinado de Cristo será habitada por pessoas vivas em corpos naturais e que ainda haverá morte. Sugiro a leitura das passagens que falam da primeira, segunda e terceira fases da primeira ressurreição em 1 Coríntios 15, 1 Tessalonicenses 4:15-18 e Apocalipse 14:13.
Nos próximos 3 minutos veremos a segunda ressurreição, mas espero sinceramente que você não esteja entre os que participarão dela.
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A segunda ressurreição
Até aqui vimos que “Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (1 Co 15:20-21).
Essa “primeira ressurreição” (Ap 20:5) inaugurada por Jesus ocorre em pelo menos três estágios, até que todos os salvos estejam em corpos gloriosos, imortais e eternos à semelhança do corpo de carne e ossos que Jesus tem hoje nos céus. Mas, e os perdidos? Estes “ressuscitarão para serem condenados” (Jo 5:29), conforme vemos em Apocalipse 20:11-15:
“Depois vi um grande trono branco e aquele que nele estava assentado. A terra e o céu fugiram da sua presença, e não se encontrou lugar para eles. Vi também os mortos, grandes e pequenos, de pé diante do trono, e livros foram abertos. Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros. O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia; e cada um foi julgado de acordo com o que tinha feito. Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte. Se o nome de alguém não foi encontrado no livro da vida, este foi lançado no lago de fogo”.
Ao contrário do que alguns acreditam o juízo final não é para ver quem será salvo e quem será condenado. Naquele dia os salvos já estarão guardados como “trigo” recolhido no celeiro de Deus. O resto é palha, como João Batista revela em Mateus 3:12 ao falar que Jesus “traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga”. Mas não pense que isto signifique a destruição literal dos ímpios, pois Jesus afirma que a vida natural que há neles não termina, revelando que no lago de fogo “o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48).
E você, é trigo para Deus ou palha para o fogo? Sua decisão de crer em Jesus e ser salvo para participar da primeira ressurreição só pode ser tomada em vida. Quem morre sem salvação nunca poderá ser salvo. Não queira pagar para ver, pois o preço é eterno “e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48).
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Judeus, gentios e Igreja
Um dos que estão com Jesus à mesa diz: “Feliz será aquele que comer no banquete do Reino de Deus” (Lucas 14:15). Certamente será um privilégio participar dos benefícios do Reino de Deus quando este for estabelecido pelo Messias na terra. Mas será que aquele homem e os outros estavam cientes de que o Rei estava bem ali com eles e convidando cada um a desfrutar desse privilégio?
Hoje, apesar de exilado no céu, Jesus continua convidando a muitos, não do modo como fez com os judeus para serem meros súditos de seu reino, mas para desfrutarem de um privilégio ainda mais elevado: o de filhos de Deus e membros do corpo de Cristo, a Igreja, que é a sua Noiva. Esta reinará com ele, e não sob ele como acontecerá com Israel. Você pode até ter boa intenção ao chamar a Cristo de “Rei”, mas as escrituras nunca o chamam de Rei da Igreja. Para a Igreja ele é o Noivo, um privilégio muito mais elevado do que o prometido a Israel.
Depois de ressuscitar e subir ao céu, Jesus sentou-se no trono de seu Pai, mas quando ele estiver sentado em seu próprio trono a sua promessa para os que forem salvos por ele vai muito além de apenas “comer no banquete do Reino de Deus”. Em Apocalipse 3:21 ele diz: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono”. Chamar a Cristo de Rei da Igreja é depreciar o amor que ele tem por sua Noiva, a Igreja, e colocá-la no mesmo nível de Israel, o povo terreno de Deus.
Na atual dispensação os chamados por Cristo são tirados dentre judeus e gentios para formarem a Igreja. Judeus, gentios e Igreja são as três classes de pessoas que hoje Deus enxerga no mundo, como o apóstolo Paulo revela nesta passagem: “Não se tornem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus” (1 Co 10:32). Para o cristão individualmente Jesus não é Rei, é Senhor, e para a Igreja coletivamente ele é Noivo e Cabeça do corpo.
Mas será que estes detalhes são tão importantes assim? Na Bíblia tudo é importante, mas é evidente que ninguém precisa saber estas coisas para ser salvo. Basta ter fé em Cristo, que é a única condição para se receber o perdão dos pecados e a justificação, que significa ser considerado justo aos olhos de Deus. O convite para estar com Cristo e com o Pai nos céus continua a ser feito neste mesmo capítulo 14 de Lucas, quando Jesus conta uma parábola para mostrar que as pessoas dão mais importância aos bens, trabalho e família do que a estarem na companhia de Cristo. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Tudo pronto!
Em resposta ao comentário do homem que disse que felizes seriam os que participariam do banquete no Reino de Deus, Jesus conta uma parábola: “Certo homem estava preparando um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora de começar, enviou seu servo para dizer aos que haviam sido convidados: ‘Venham, pois tudo já está pronto’” (Lucas 14:16-17). Assim é o convite que Deus faz — um convite que só precisa ser aceito, pois “tudo já está pronto”. Não faria sentido você ser convidado para um banquete e no convite vir escrito: “Traga sua própria comida, bebida, prato, talheres e guardanapos”.
Pois é exatamente isto que muitas religiões fazem: convidam você para o banquete de Deus, porém mandam que você traga a comida. Pregam uma salvação por obras, dizendo que você precisa se esforçar, sofrer e trabalhar para ser salvo. Mas quem dá o banquete é que deve cuidar de tudo. Assim é a salvação; Deus não exige de você coisa alguma para ajudar na obra que custou a vida de Jesus.
Deus pode dizer “tudo está pronto” porque há dois mil anos Jesus bradou na cruz: “Está consumado!” (Jo 19:30). Horas antes em sua oração ao Pai “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29) disse: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17:4). Portanto não resta obra alguma para você fazer para ser salvo e nem para permanecer salvo. A salvação é obra de Deus, do princípio ao fim. Romanos 11:6 diz que “se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça”.
Agora imagine você ser convidado para um jantar e o anfitrião dizer: “O jantar está pronto!”. Você toma seu lugar à mesa e são trazidas as travessas, todas contendo apenas bilhetes com os dizeres “Promessa de Arroz”, “Promessa de Feijão”, “Promessa de Frango”, Etc. Então seu amigo avisa: “Sirva-se à vontade, mas só no final você saberá se vai ganhar comida, pois isso irá depender do modo como se comportar à mesa”. Loucura, não é mesmo?
Mas é isto que ensinam as religiões que convidam você para sentar-se à mesa do banquete, mas não lhe dão certeza alguma de que será alimentado antes de o banquete terminar. Elas ensinam que você é salvo pela fé, porém precisará perseverar para permanecer salvo. A menos que você seja um hipócrita, nunca terá certeza se está se esforçando o suficiente. Será que você está à mesa de um banquete assim ou do banquete de Deus, que diz: “Tudo está pronto”?
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Desculpas
“Certo homem estava preparando um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora de começar, enviou seu servo para dizer aos que haviam sido convidados: ‘Venham, pois tudo já está pronto’. Mas eles começaram, um por um, a apresentar desculpas. O primeiro disse: ‘Acabei de comprar uma propriedade, e preciso ir vê-la. Por favor, desculpe-me’. Outro disse: ‘Acabei de comprar cinco juntas de bois e estou indo experimentá-las. Por favor, desculpe-me’. Ainda outro disse: ‘Acabo de me casar, por isso não posso ir’” (Lucas 14:18-20).
O homem da parábola é Deus; ele quer ter comunhão com suas criaturas e para isso envia o convite através do Espírito Santo, aqui representado pelo “Servo”. Na mesma parábola em Mateus 22 você encontra “servos”, no plural, pois ali fala daqueles que levam o convite do evangelho. Os primeiros convidados são pessoas de posses. Um tem bens materiais, outro, juntas de bois para executar seu trabalho, e outro uma esposa para constituir família. Fica claro que eles acham que já têm tudo, portanto não necessitam do favor do anfitrião.
Você pode aplicar esta parábola a qualquer pessoa que coloque bens, trabalho e família acima da salvação e comunhão com Deus, mas no sentido profético estes convidados são os judeus, um povo agraciado por Deus com uma terra, um serviço a Deus e uma família. Mesmo assim os judeus desprezaram o convite para “comer no banquete no Reino de Deus” (Lucas 14:15). Quando o servo voltou e relatou as desculpas dadas por cada um “o dono da casa irou-se” (Lucas 14:21). Essa ira é a mesma do capítulo 10 de Hebreus, que fala do que espera por aqueles que desprezaram a graça de Deus. Ali diz:
“Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia… Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: ‘A mim pertence a vingança; eu retribuirei’; e outra vez: ‘O Senhor julgará o seu povo’” (Hb 10:28-31).
Esse “seu povo” que o Senhor julgará de forma tão severa é o povo judeu, pois primeiro Jesus “veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1:11). Mais adiante na parábola, ao se referir aos primeiros convidados, o dono da casa diz que “Nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete” (Lucas 14:24). Mas nem por isso Deus dá por encerrado seu convite de graça, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Uma casa cheia
Diante da recusa dos convidados “o dono da casa irou-se e ordenou ao seu servo: ‘Vá rapidamente para as ruas e becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos’. Disse o servo: ‘O que o senhor ordenou foi feito, e ainda há lugar’. Então o senhor disse ao servo: ‘Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar, para que a minha casa fique cheia. Eu lhes digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete’” (Lucas 14:21-24).
Os primeiros convidados são os judeus que rejeitaram o Messias. Então o “dono da casa” envia o servo em caráter de urgência para “as ruas e becos da cidade em busca dos pobres, os aleijados, os cegos e os mancos”. Estes são os discípulos e outros israelitas que seguiam a Jesus e seriam perseguidos e mortos pelos judeus, como foram Estêvão e Tiago (At 7:59; 12:2), e também os que Saulo entregava às autoridades. Todos os apóstolos, exceto João, sofreriam mortes violentas. A eles cabe muito bem o que é dito na carta aos Hebreus a respeito dos mártires do Antigo Testamento: “O mundo não era digno deles” (Hb 11:38).
O que os caracterizava — e também caracteriza hoje todo aquele que crê em Jesus — era o fato de serem “pobres”, pois nada possuíam para dar em troca da salvação. Também eram “aleijados” ou incapacitados de qualquer boa obra para Deus. Eram “cegos”, pois por si mesmos nunca teriam encontrado o Caminho, e “mancos” porque sozinhos seriam incapazes de andar nele. Você é assim?
Após estes serem introduzidos no grande banquete o servo avisa que “ainda há lugar”. Se antes ele tinha saído pelas “ruas e becos da cidade”, agora é fora do arraial de Israel que o servo busca pessoas. Seu senhor diz: “Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar, para que a minha casa fique cheia”. Estes são os gentios, estrangeiros e estranhos às alianças de Deus com Israel. Devemos nos lembrar de que o servo é uma figura do Espírito Santo, o único que pode realmente “forçar” alguém a crer em Jesus. Mas não é por força brutal, porém com uma irresistível influência que exerce na alma. “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor” (Zc 4:6).
É de grande consolo saber que Deus quer que sua casa fique cheia, o que nos remete a Colossenses 1:18 que diz que o objetivo é que Cristo “em tudo tenha a supremacia” ou o primeiro lugar. Portanto no final será maior o número de salvos por Cristo do que de perdidos, Fica fácil você entender isto se considerar que os bilhões de abortos, crianças e mentalmente incapazes têm seu lugar garantido nos “muitos aposentos” (Jo 14:2) da casa do Pai graças ao sangue derramado na cruz.
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Graça e Discipulado
Ao reparar na multidão que o segue, Jesus lhes diz: “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:25-27). Ele não diz que “não pode ser salvo”, mas que “não pode ser meu discípulo”.
Um pouco antes neste capítulo Jesus falou da graça de Deus, o favor imerecido que recebem os que aceitam o convite para a grande ceia. Depois de tamanha revelação de graça não é de estranhar que uma multidão decida segui-lo. Porém graça e discipulado são coisas distintas, apesar de conectadas. Neste capítulo nós vemos primeiro a graça e depois o discipulado, nesta ordem.
Graça é o que Deus oferece ao pecador; é a manifestação do amor livre e desimpedido de Deus que não pede nada em troca. Ele deu o seu Filho para morrer na cruz e agora oferece uma salvação que é totalmente de graça. Ela só pode ser recebida pelos que reconhecem nada ter para dar em troca, como os pobres, aleijados, cegos e mancos da parábola. Deus não está oferecendo uma barganha, mas um presente para aqueles que ele convida a crerem em Jesus.
O discipulado genuíno é resultado da graça na vida de quem crê em Jesus. Se a graça é a ação, discipulado é a reação manifestada na forma de uma sincera gratidão e interesse pelas coisas de Deus. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19). O discípulo está sempre desejoso de aprender mais desse amor, como Maria, irmã de Marta, que “ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra” (Lucas 10:39). Portanto é a graça que gera o discipulado, e não o contrário.
Porém muitos invertem esta ordem e se declaram discípulos por interesse no favor de Deus. Quem professa o nome de Cristo dizendo-se “cristão” acaba se colocando na condição de discípulo, seja convertido ou não. Enquanto seguir a Jesus significava ouvir belos discursos, ter o pão cotidiano e ser curado das enfermidades, muitos o seguiam. Mas ao descobrirem o que realmente era ser discípulo a reação destes foi: “‘Dura é essa palavra. Quem consegue ouvi-la?’ Daquela hora em diante muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo” (Jo 6:60, 66).
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Discipulado
Muitos dos que se diziam discípulos de Jesus estavam mais interessados nos benefícios do que nas responsabilidades e acabaram decidindo abandoná-lo. “Jesus perguntou aos doze: ‘Vocês também não querem ir?’ Simão Pedro lhe respondeu: ‘Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus’” (Jo 6:67-69).
Pedro e os outros mostraram que não seguiam a Jesus pelas vantagens materiais e transitórias, mas por ele ser quem era e pela promessa da vida eterna. Porém, para mostrar que podem existir falsos discípulos, Jesus revelou: “‘Não fui eu que os escolhi, os doze? Todavia, um de vocês é um diabo!’ Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, que, embora fosse um dos doze, mais tarde haveria de traí-lo” (Jo 6:70-71).
Existem também aqueles que são discípulos de homens, achando que isso faz deles discípulos de Cristo. É claro que na Bíblia encontramos discípulos de profetas como João Batista, mas na atual dispensação vemos todos os cristãos como discípulos de Cristo apenas. Paulo alertou os irmãos em Éfeso que depois de sua partida surgiriam homens em busca de seguidores. Ele disse: “Dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos” (At 20:30).
Ele também chamou de mundanos ou carnais aqueles que seguiam a homens, mesmo dentre os verdadeiros servos de Deus: “Pois quando alguém diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu sou de Apolo’, não estão sendo mundanos? Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um” (1 Co 3:4-5). O equivalente moderno disso seria dizer “eu sou de Lutero”, “eu de Calvino” ou “eu do pastor fulano”.
Nos evangelhos Jesus revela algumas características de um verdadeiro discípulo: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos” (Jo 8:31). Ter prazer na Palavra de Deus e procurar aprender cada vez mais é uma das marcas de um verdadeiro discípulo. Outra é dar fruto para Deus, como explicou Jesus ao dizer: “Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos” (Jo 15:8). Mas para dar fruto, primeiro você precisa estar morto, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Mais que a própria vida
Na parábola da grande ceia alguns rejeitam o convite por suas vidas girarem em torno dos bens, trabalho e família. A respeito da família Jesus diz que “se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs… não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26). Então ele chega ao extremo de dizer que o amor à própria vida não pode ficar acima do amor a ele. “Se alguém vem a mim e ama… sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26).
Pense bem no que ele diz. Quem teria o direito de exigir tal coisa? Quem poderia dizer a você que nada e ninguém pode ser mais amado do que ele? Quem poderia esperar que você o amasse mais que a própria vida? A história está cheia de ditadores que exigiram isso de seus seguidores, mas eles morreram e foram esquecidos. Somente uma Pessoa poderia, de fato e de direito, pedir tal coisa: o próprio Deus Criador.
Pois Jesus não é nada menos que o Criador e mantenedor de todas as coisas. Você só existe por causa dele e para ele, e sem ele nada em sua vida fará sentido. Quando pensamos nos milhões que foram martirizados por sua fé em Jesus entendemos o que significa amar mais a ele do que a própria vida. Afinal, ele nos amou mais do que a si mesmo quando se entregou como sacrifício por nós numa cruz assumindo nossa culpa.
Então ele diz: “Aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). Isto nada tem a ver com os que saem pelas estradas carregando uma cruz para pagar promessas ou receber uma bênção. Com Deus não se faz barganha. Mas há quem interprete o “carregar sua cruz” como algum sofrimento que ajudaria a limpar seus pecados. Porém o único sofrimento que podia nos purificar foi o de Jesus nas três horas de trevas em que foi julgado e condenado por Deus na cruz em nosso lugar, morrendo ali depois de ter sido feito pecado por nós.
Carregar a própria cruz significa considerar-se morto para a vontade própria para seguir a Jesus. Há dois mil anos quem visse um condenado carregando uma cruz a caminho da execução certamente diria: “Aquele já era; está morto!”. Ninguém iria perder tempo perguntando a ele se queria comprar um campo, uma junta de bois ou casar-se. A cruz era morte certa.
Nos próximos 3 minutos Paulo fala dos que foram crucificados com Cristo e não eram os dois ladrões.
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Crucificados com Cristo
Até aqui vimos que ser discípulo não significa necessariamente estar salvo e ter seus pecados perdoados. Muitos dos que se declaram “cristãos” ou discípulos de Cristo nunca se converteram. Do mesmo modo há cristãos verdadeiramente salvos pela fé, mas que estão longe de serem verdadeiros seguidores de Jesus na vida diária, preferindo seguir suas próprias vontades. É desses salvos de mãos vazias que Paulo fala em 1 Coríntios 3:15: “Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo”.
Jesus falou também de cada um “carregar sua cruz”, e não estava falando da cruz que ele levou, e sim de cada um considerar-se morto para esta vida. Os Gálatas haviam se esquecido da cruz neste sentido e tentavam manter-se salvos por seus próprios esforços. Por isso Paulo pergunta: “Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado?” (Gl 3:1). Se Cristo tinha sido crucificado, e com ele o nosso velho homem, como eles podiam achar que iriam melhorar a carne por meio de regras?
Para mostrar que é só pela fé que somos salvos e andamos “em novidade de vida” (Rm 6:4), Paulo afirma: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2:20). Em seguida ele mostra a posição que o crente deve ocupar: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5:24), portanto “que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6:14).
Cristo foi crucificado por mim, eu fui crucificado com Cristo, crucifiquei minha carne com suas paixões e desejos, o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo. Cinco vezes a cruz é aplicada aqui ao cristão, e todas elas mostram por que devo tomar sobre mim a cruz para seguir a Jesus. Isto é, devo considerar-me morto para minha vida a fim de ter uma vida de real comunhão com Deus seguindo a Cristo como discípulo.
Agora você entendeu o que significam as palavras de Jesus, quando diz: “Aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). E se o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo, seria correto eu viver em função das coisas terrenas prometidas por alguns pregadores? Veja a resposta nos próximos 3 minutos.
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Crucificado para o mundo
Se você foi a Cristo em busca de uma vida mansa e próspera neste mundo provavelmente foi enganado pelas promessas de um pregador do evangelho da prosperidade. O mesmo falso evangelho foi pregado pela serpente no Éden e oferecia tudo o que “parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e… desejável para… se obter discernimento” (Gn 3:6). Foram estas também as tentações usadas pelo diabo ao sugerir que Jesus transformasse pedras em pão, para agradar seu “paladar”; ao encher seus “olhos” com todas as riquezas do mundo; e ainda insistir que saltasse do ponto mais alto do templo para fazer prova de Deus.
Em sua primeira epístola João nos exorta a não irmos atrás das coisas terrenas como as prometidas pelos pregadores da prosperidade. Ele diz: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provêm do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 Jo 2:15-17).
Esses pregadores apoiam suas promessas principalmente no Antigo Testamento, pois para Israel, Deus prometeu sim prosperidade terrena, mas nunca bênçãos celestiais. Para a igreja, porém, a exortação é que “tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos” (1Tm 6:8).
Pregadores assim certamente prosperam pregando um falso evangelho que apela para o ventre, a ganância e a ambição do ser humano. Paulo já alertava contra isso, ao dizer que “há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. Quanto a estes, o seu destino é a perdição, o seu deus é o estômago e têm orgulho do que é vergonhoso; eles só pensam nas coisas terrenas. A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:18-20).
Portanto esqueça a ideia de que seguir a Cristo seja fácil em um mundo cujo príncipe é Satanás. Você sofrerá oposição e perseguições, e ainda será zombado quando não conseguir viver aquilo que prega. É o que veremos nos próximos 3 minutos, ao considerarmos o custo do discipulado.
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A torre
Enquanto a salvação é pela fé e de graça a todo aquele que crê em Jesus, segui-lo na prática tem um custo. Jesus dá dois exemplos disso, um que fala de construir uma torre e outro de preparar-se para a batalha. A exortação é para que você saiba que segui-lo tem um preço. Ele diz: “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’” (Lucas 14:28-29).
Uma torre é alta e visível. Assim é o crente que constrói uma torre: o seu testemunho será evidente a todos os homens e ele ficará numa posição estratégica e privilegiada para perceber a aproximação do inimigo e discernir suas intenções. Ele também discernirá qual é a vontade de Deus e como reagir a cada ataque. Esse discernimento é um privilégio do crente espiritual, isto é, que não apenas foi salvo por Cristo e tem o Espírito Santo, mas que é guiado por este mesmo Espírito e não pela carne.
O apóstolo Paulo escreve que “quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1 Co 2:15-16). Ou seja, o crente que anda em comunhão com Deus e com a sua Palavra não somente sabe discernir a vontade de Deus, como também as intenções de Satanás e dos incrédulos. Mas para os incrédulos o crente espiritual é um verdadeiro enigma. Não conseguem compreendê-lo.
Um bom exemplo de ‘construtor de torres’ você encontra no rei Uzias. Ele “construiu torres fortificadas em Jerusalém” e “também construiu torres no deserto” (2 Cr 26:9-10). Ele não construiu apenas em Jerusalém, mas também no deserto para detectar os inimigos quando ainda estivessem longe das portas da cidade. E quais são as ‘portas’ desta nossa ‘cidade’ que é a alma ou coração? Nossos olhos e ouvidos. Deus os colocou numa ‘torre’, isto é, no ponto mais alto do nosso corpo.
Do poeta grego Cícero ao britânico Shakespeare, muitos autores já usaram a frase “Os olhos são a janela da alma”, mas nos evangelhos você encontra o Senhor Jesus mostrando que não apenas os olhos, mas também os ouvidos são as principais vias de acesso ao nosso coração. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Visão estratégica
Olhos e ouvidos são as vias de acesso ao coração, mas eles por si só não são capazes de decidir. É você, por meio de sua vontade, quem decide o que entra ou não, como aconteceu com os judeus que recusaram a verdade: “De má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria” (Mt 13:15).
Se os judeus fecharam olhos e ouvidos à verdade, Eva os abriu à mentira. Ela não só deu ouvidos à serpente, como também “viu que a árvore… era atraente aos olhos” (Gn 3:6). As tentações do inimigo continuam chegando através de nossos olhos e ouvidos, e cabe a cada um discernir e controlar o que deve ou não passar por nossas ‘portas’. O apóstolo Pedro escreveu: “Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar” (1 Pe 5:8).
No Antigo Testamento há uma figura de como agir. Neemias conta o que fez depois que os judeus reconstruíram os muros de Jerusalém: “Eu lhes disse: As portas de Jerusalém não deverão ser abertas enquanto o sol não estiver alto” (Ne 7:1-3). O sol a pino não deixa sombra, e assim deve ser o nosso cuidado. Enquanto existir alguma sombra de dúvida sobre algo ou alguém é prudente você não abrir as portas do seu coração.
Às vezes você será tentado a abrir para aquilo que é lícito, que não aparenta risco e parece até poder ajudar. Quando os inimigos dos judeus viram que os muros reconstruídos já não tinham brechas, enviaram a Neemias uma proposta: “Venha, vamos nos encontrar num dos povoados da planície de Ono”, mas ele respondeu: “Estou executando um grande projeto e não posso descer. Por que parar a obra para ir encontrar-me com vocês?” (Ne 6:2-3).
Se você também estiver “executando um grande projeto” não irá dar ouvidos aos convites dos ímpios. O primeiro Salmo diz: “Feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite. É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham” (Sl 1:1-3). E por falar em água, nos próximos 3 minutos voltaremos ao rei Uzias para ver o que mais ele construiu além das torres.
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Cisternas
Não basta construir torres para vigiar o inimigo; é preciso também cavar cisternas, como fez o rei Uzias, que “construiu torres fortificadas em Jerusalém e… cavou muitas cisternas, pois ele possuía muitos rebanhos na Sefelá e na planície. Ele mantinha trabalhadores em seus campos e em suas vinhas, nas colinas e nas terras férteis, pois gostava da agricultura” (2 Cr 26:9-10). Algumas traduções trazem a palavra “poços”, mas a passagem realmente fala de “cisternas” ou reservatórios de água.
Efésios 5:26 diz que Cristo purificou sua Noiva, a Igreja, “pelo lavar da água mediante a palavra”, e em várias outras passagens a água aparece como figura da Palavra de Deus. Costumamos instalar fechaduras, travas e alarmes para vivermos seguros, mas quem poderia pensar que é cavando “muitas cisternas” que podemos “ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6:11)? “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti”, diz o Salmo 119:11. O Salmo 19 diz que essa Palavra “é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes” (Sl 19:7).
A água das cisternas do rei servia para manter seus rebanhos, além dos “trabalhadores em seus campos e em suas vinhas, nas colinas e nas terras férteis” (2 Cr 26:10). O primeiro Salmo diz que aquele que tem prazer na Palavra de Deus e medita nela é como “árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham” (Sl 1:1-3). Somos aconselhados a beber dois litros de água por dia para vivermos saudáveis, mas quanto da Palavra realmente bebemos? Não estou falando de volume, pois é possível ler a Bíblia inteira em menos de cem horas corridas sem aproveitar uma vírgula. Estou falando de saborear e digerir a Palavra até ela impregnar nossos pensamentos.
Proteção, vigor, sabedoria, refrigério e muito mais você encontra na Palavra de Deus se as “cisternas” de seu coração estiverem sempre cheias dessa água pura. Os 176 versículos das 22 estrofes que compõem o Salmo 119 mencionam a Palavra de Deus. Cada estrofe começa com o nome de uma letra do alfabeto hebraico, e uma antiga lenda dizia que Davi usava este Salmo como uma cartilha para ensinar o alfabeto e a sabedoria de Deus a seu filho Salomão. Faz sentido. Eu aprendi a ler com uma cartilha chamada “Caminho Suave” e não posso imaginar um caminho mais suave do que a Palavra de Deus para aprender a ler, falar e pensar os pensamentos de Deus.
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Guerra espiritual
Uma torre é defensiva, para você vigiar contra ataques e defender sua fé sem atacar pessoas. Mas existe uma esfera onde o cristão é soldado em uma batalha contra seres espirituais. “Pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6:12). E é de guerra que Jesus fala aqui.
“Qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz” (Lucas 14:28-32).
Esta guerra não é travada com decibéis de berros prepotentes cuspidos num microfone, nem brandindo a Bíblia de forma ameaçadora ou caminhando de um lado para o outro num palco, como um cão bravio que marca território. É de joelhos que o crente luta em oração e sujeição a Deus, mantendo o domínio do próprio corpo. Paulo escreve que “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz… Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1 Co 14:32-33; 9:26-27).
Reprovado é quem começa a edificar ou sai a batalhar confiando na própria inteligência, oratória e poder de persuasão. Sem oração, leitura da Palavra e comunhão com Deus você viverá uma farsa. Muitos que um dia caminharam bem hoje só fingem caminhar. A respeito da torre, Jesus diz: “Se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele” (Lucas 14:29). E sobre a guerra contra o inimigo de nossas almas, ele avisa: “Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz” (Lucas 14:32).
É num espírito de renúncia, inclusive daquilo que achamos que temos de bom em nós, que o crente segue a Jesus. Não é o pedreiro quem fornece o material da construção onde trabalha, e nem o soldado vai à guerra vestindo a farda que ele mesmo costurou. “Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:32).
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Sal
Neste capítulo 14 de Lucas aprendemos da bondade daquele que convida para o grande banquete, mostrando que a salvação é pela graça e não por mérito. Também vimos que, se por um lado a salvação é de graça, por outro o discipulado exige empenho daquele que deseja seguir a Jesus. Para ser um discípulo de Cristo há quatro coisas que você deve considerar.
Cristo deve ocupar o primeiro lugar em seu coração, acima de todas as coisas e pessoas, e acima até de sua própria vontade. Além disso, você deve carregar sua própria cruz, isto é, considerar-se morto para si mesmo e saber que o mundo morreu para você e você para o mundo. Você também deve calcular o custo de seguir a Jesus e buscar nele os recursos para edificar um testemunho forte, visível e vigilante. Finalmente você deve estar ciente de quais são os seus verdadeiros inimigos e saber que não vem de você a força para combatê-los.
Este capítulo nos dá os ingredientes da receita da salvação e comunhão com Deus, e como toda receita não poderia faltar o sal, só que neste caso o sal é o próprio discípulo. É disto que Jesus fala nos últimos dois versículos de Lucas 14: “O sal é bom, mas se ele perder o sabor, como restaurá-lo? Não serve nem para o solo nem para adubo; é jogado fora” (Lucas 14:34-35).
O sal serve para dar sabor aos alimentos e também para preservá-los. Onde não há refrigeradores a carne é salgada para não estragar. O discípulo é o sal da terra: sua presença aqui não apenas revela o sabor do cristianismo autêntico, mas também evita que o mal se alastre. Mas isto não significa que o cristão deva usar de força bruta ou ingerência nos assuntos deste mundo para conter o mal. Sua simples presença e exemplo causam essa influência. Quantas vezes você chegou numa roda de amigos que falavam bobagens e eles mudaram de assunto quando viram você?
O modo como o cristão se comunica também deve ser equilibrado — nem pouco, nem muito sal. “O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal” (Cl 4:6). Sem comunhão pessoal com Deus você corre o risco de perder o sabor, isto é, virar um sal que não salga. Um sal assim não serve nem para adubar a terra. O mundo pode não gostar de um cristão fiel, mas certamente irá desdenhar de um fracassado na fé. Jesus termina dizendo: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça” (Lucas 14:35). Você tem ouvidos para ouvir o que vem de Deus, ou vive de escutar a opinião pública como os fariseus dos próximos 3 minutos?
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Cobertos de folhas
O capítulo 15 do Evangelho de Lucas começa dizendo que “todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvi-lo. Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: ‘Este homem recebe pecadores e come com eles’” (Lucas 15:1-2). Publicanos eram judeus coletores de impostos que traíam seu povo por trabalharem para o invasor romano. Pecadores eram judeus com um comportamento contrário à Lei de Moisés, como prostitutas, homossexuais e ladrões ou mesmo samaritanos e gentios.
Deus havia dado a Lei a Israel como o padrão divino para o homem, provando assim ser ele incapaz de viver segundo este padrão. Isto porque “quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente. Pois aquele que disse: ‘Não adulterarás’, também disse: ‘Não matarás’. Se você não comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei” (Tg 2:10-11). Portanto a Lei só serve para condenar, nunca para salvar. Mas os fariseus e outros religiosos judeus seguiam exteriormente a Lei como meio de salvação, vivendo de aparências.
Assim como fizeram nossos ancestrais no jardim do Éden, o ser humano junta “folhas de figueira para cobrir-se” (Gn 3:7). Ele tenta parecer exteriormente que está com seu pecado coberto pelas “folhas” da justiça própria. Folhas são o que embelezam a árvore, porém se esta não der frutos para nada serve. No Evangelho de Marcos você encontra o que Jesus fez à árvore sem frutos: “Vendo à distância uma figueira com folhas, foi ver se encontraria nela algum fruto. Aproximando-se dela, nada encontrou, a não ser folhas, porque não era tempo de figos. Então lhe disse: ‘Ninguém mais coma de seu fruto’. E os seus discípulos ouviram-no dizer isso… De manhã, ao passarem, viram a figueira seca desde as raízes” (Mc 11:13-20).
Quando Adão e Eva perceberam que Deus vinha ao encontro deles “esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim” (Gn 3:8). Ao perceber que suas “folhas” de justiça própria não serão suficientes aos olhos de Deus o ser humano corre para a religião, a reunião das “as árvores do jardim”, acreditando que camuflado entre as “folhas” de outros fique oculto aos olhos de Deus. Então ele passa a considerar-se melhor que aqueles que não têm uma religião ou cujos pecados são evidentes, como fazem os fariseus aqui. Nos próximos 3 minutos os fariseus pensam estar ofendendo Jesus, mas o que dizem é verdade.
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O que você acha de si mesmo?
Os fariseus criticam Jesus, dizendo: “Este homem recebe pecadores e come com eles” (Lucas 15:2). Apesar de estarem cientes do que é o pecado aberto e notório, eles não são capazes de perceber a imundície que há em seus corações sob o manto da religião. Jesus não se defende da acusação dos fariseus, pois eles têm razão: “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1Tm 1:15). “O Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes”, explica Jesus, e completa: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento” (Lucas 19:10; Mc 2:17).
“Todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvi-lo” (Lucas 15:1). Por que Jesus exerce tamanha atração sobre os marginalizados? Porque eles reconhecem seus pecados, sabem que estão perdidos e buscam em Jesus o perdão e a cura de suas almas. Portanto esqueça aquela conversa religiosa de que Deus salva os bons, pois ninguém é bom segundo o padrão de Deus que é o seu Filho Jesus. A menos que você se enxergue na descrição do capítulo 3 da carta aos Romanos, não irá querer se juntar aos publicanos e pecadores que se aproximam de Jesus. Ali diz:
“Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam. Veneno de serpentes está em seus lábios. Suas bocas estão cheias de maldição e amargura. Seus pés são ágeis para derramar sangue; ruína e desgraça marcam os seus caminhos, e não conhecem o caminho da paz. Aos seus olhos é inútil temer a Deus” (Rm 3:10-13).
Se você é do tipo que processaria por difamação alguém que dissesse estas coisas de você, então ainda não entendeu o que é ser pecador. E se acha que é capaz de ser salvo — ou permanecer salvo — por sua obediência, bondade e perseverança, ainda não entendeu como é horrendo o pecado aos olhos de Deus. Tão maligno que nada menos que o sangue do próprio Filho de Deus seria capaz de extirpar tal mancha. Será que há dois mil anos você estaria entre aqueles publicanos e pecadores que buscavam por Jesus, ou você estaria entre os religiosos de boa reputação que se escandalizavam com aquilo?
Nos próximos 3 minutos vamos falar de música, literatura e cinema.
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Entretenimento bíblico?
“Então Jesus lhes contou esta parábola: Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la?” (Lucas 15:3-4). Quando me converti costumava ouvir um hino cuja letra dizia: “As noventa e nove, deixou no aprisco”. Tempos depois fui descobrir que as “noventa e nove” foram deixadas no deserto, não no aprisco. Será que você já se deu conta do quanto é influenciado por músicas, livros e filmes de temas bíblicos? Pois é, nem tudo o que é vendido como “cristão” ou “evangélico” é bom.
Sabe aquele calendário com Jesus de cabelos longos e olhos azuis? Jesus não era europeu e a Bíblia diz que é vergonhoso para o homem ter cabelos longos. Em um desenho animado do “filho pródigo” um cãozinho corre ao encontro do filho, salta em seus braços e lambe seu rosto. No Evangelho é o pai quem corre, o abraça e o beija. Em um livro para crianças Saulo aparece caindo do cavalo, mas Saulo não caiu do cavalo quando ia a Damasco prender cristãos — ao menos não literalmente.
Noé se esforça para acionar o mecanismo que fecha a porta da arca em um filme cristão, mas na Bíblia quem fecha a porta é Deus. Em Hollywood Sansão é o mais musculoso, mas na Bíblia ninguém sabia de onde vinha sua força, portanto ele não era uma montanha de músculos. Em um filme sobre o Evangelho Judas se joga no fogo do altar para morrer. A Bíblia diz que ele se enforcou e que seu corpo caiu de grande altura. Quantos reis magos você vê no presépio? A Bíblia não diz que eram três e eles não visitaram um bebê numa manjedoura, e sim um menino de dois anos.
Os escritores, ilustradores, roteiristas, artistas e diretores contratados para produzir obras comerciais com temas cristãos geralmente são incrédulos. Com eles você aprende sobre figurinos e arquitetura antiga, mas não a Verdade. Ao contrário, você será influenciado por seus erros, pois para atrair público eles precisam inventar personagens e enredos que induzem você a acreditar que aquilo está na Bíblia, quando não está. O homem natural “não é capaz de entendê-las [as coisas de Deus], porque elas são discernidas espiritualmente” (1 Co 2:14). Portanto nem tudo o que traz o selo “evangélico” ou “cristão” é bom. Não se deixe levar pela arte de incrédulos e pela sabedoria do mundo quando o assunto é a Palavra de Deus.
Nos próximos três minutos saiba quem são as noventa e nove ovelhas perdidas.
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Nos ombros do Pastor
João, em seu Evangelho, revela uma mudança radical no modo de Deus tratar com Israel. Ali Jesus diz: “Aquele que entra pela porta [do aprisco] é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora. Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10:2-4).
As ovelhas de Israel estavam protegidas por um aprisco, “sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada” (Gl 3:23). Jesus era o único Pastor credenciado a entrar, chamar as ovelhas e sair seguido por elas. A partir daí as ovelhas não seriam mais mantidas juntas pelos muros do aprisco legal, mas o Pastor seria o imã que as atrairia para si, mantendo-as em um só rebanho e sob um só Pastor, não mais em um aprisco.
Neste capítulo 15 de Lucas o Senhor conta uma parábola: “Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a alegremente sobre os ombros e vai para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se” (Lucas 15:4-7).
As noventa e nove ovelhas representam Israel por meio dos fariseus que aqui criticam Jesus. Elas não são deixadas no aprisco, mas em um lugar deserto, longe dos cuidados e da proteção do Pastor. Enquanto isso ele sai em busca do pecador, a ovelha perdida que está balindo desesperadamente por socorro. Ao encontrá-la o Pastor se alegra duas vezes: uma quando a coloca sobre os ombros e outra ao chegar à sua casa e convocar seus amigos para se alegrarem com ele.
Repare que do momento em que a ovelha perdida é encontrada até chegar ao lar do Pastor ela não pisa o chão. Ao longo do caminho é transportada sobre os fortes ombros do Pastor. Ainda que ela experimente os rigores do sol, do vento e da chuva, nada poderá fazê-la cair, pois é o Pastor quem a mantém segura. Se você já creu em Jesus como seu Salvador, quem é que está neste momento conduzindo você ao lar celestial? Suas próprias pernas? Pense nisto da próxima vez em que lhe vierem dúvidas se chegará ou não ao seu destino; se poderá ou não perder sua salvação.
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Retocado ou perdoado?
A parábola da ovelha perdida termina dizendo que “haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se” (Lucas 15:7). Não que os “noventa e nove justos” não tenham de que se arrepender, pois em Romanos 3:10 diz que “não há nenhum justo, nem um sequer”. Eles acham que não precisam. Sua religião de regras ajuda a aplacar suas consciências, como acontece com qualquer religião que dê aos seus membros uma lista de regras.
Em religiões assim as pessoas adotam um mesmo vocabulário, modo de vestir, corte de cabelo e outros costumes como uma “lei” a ser seguida para se obter a salvação. A conversão pregada ali é de uma mudança apenas exterior, de um modo de vida para outro, algo que até um ateu é capaz de fazer se seguir à risca os “Doze Passos” dos “Alcoólicos Anônimos”. Não são novas criaturas, apenas velhas criaturas religiosas e retocadas.
Quando pessoas de religiões assim conseguem cumprir todas as regras sentem-se justas e corretas como os fariseus, e passam a apontar o dedo para quem não pertence à sua religião e não anda segundo as mesmas regras. Quanto maior o número de ‘ímpios’ para os quais puderem apontar o dedo, maior será o sentimento de satisfação e justiça própria.
Em lugares assim as ovelhas não são alimentadas pela Palavra do bom Pastor, mas alimentam-se umas às outras com os chamados ‘testemunhos’. Como ‘quem conta um conto aumenta um ponto’, muitos desses testemunhos são exagerados para impressionar. “Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa” (Cl 2:18). É desses que Paulo escreveu, ao dizer que “não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para as fábulas” (2Tm 4:3-4).
Enquanto isso, os pecadores que reconhecem seu estado arruinado e clamam por perdão são socorridos e transportados pelo Pastor na jornada rumo ao céu. Eles estão cientes de que em si mesmos não existe qualquer fidelidade ou perseverança que os faça chegar lá, mas é Cristo quem “Os manterá firmes até o fim, de modo que… serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:8). Em que classe de pessoas você está: na dos religiosos retocados ou dos pecadores perdoados?
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Uma moeda nas trevas
Depois da parábola da ovelha perdida o Senhor conta outra que também termina em alegria. Ele diz: “Ou, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:8-10).
Se antes a perdida era uma ovelha rebelde e capaz de caminhar aonde não devia, agora é uma moeda, um objeto inanimado como o pecador morto e incapaz. Se, por um lado, somos tão incapazes quanto uma moeda de sairmos da perdição causada pelo pecado herdado de Adão, por outro usamos dessa natureza para pecar, entregando nossos corpos à “escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade” como “escravos do pecado” (Rm 6:19-20). Andamos praticando pecados como a ovelha desgarrada porque somos pecadores como a moeda perdida.
O trabalho do Pastor foi ir pessoalmente até a ovelha em sua condição perdida e carregá-la nos ombros de volta à sua casa. Jesus desceu da glória dos céus, assumiu a forma humana e foi às últimas consequências para salvar a ovelha perdida. “Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fp 2:6-8).
Se no Pastor vemos o Filho de Deus carregando o peso da salvação de sua ovelha, na mulher vemos os sentimentos do Espírito Santo empenhado na busca daquilo que não quer perder. Para encontrar sua moeda ela acende uma luz, e é pela ação do Espírito que “a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4) revela ao pecador sua condição de perdido e necessitado. Mas a história não ficaria completa se o Senhor contasse apenas estas duas parábolas que falam do papel do Filho de Deus e do Espírito Santo na salvação do pecador. Falta ainda uma terceira Pessoa da Trindade, o Pai, feliz por avistar ao longe o filho perdido que caminha de volta ao lar.
É o que iremos ver nos próximos 3 minutos na parábola do filho pródigo. Ou será que deveríamos chamá-la de “Parábola do Pai pródigo”?
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Parábola do Pai pródigo
As três parábolas que abrem o capítulo 15 do Evangelho de Lucas mostram respectivamente o papel do Filho, do Espírito Santo e do Pai na salvação de uma alma. Mas a terceira parábola, a do filho pródigo, é a que mais toca nossos sentimentos por apresentar não uma ovelha ou moeda, mas o pecador de carne e ossos colhendo o fruto amargo de sua rebelião. Esta é a mensagem mais óbvia passada pela parábola, a de que devemos nos arrepender e voltar para a casa do Pai. Mas existe outra mensagem menos óbvia que só percebemos quando analisamos o contexto.
Perceba que o Senhor não conta estas parábolas para os publicanos e pecadores, mas para os religiosos fariseus. Se na primeira parábola eles eram as noventa e nove ovelhas que não se achavam perdidas, nesta eles são representados pelo filho mais velho, o “bom rapaz” da história. O que temos nesta parábola são dois perdidos. Um por ser mau, baladeiro e gastador; outro por ser bom, caseiro e controlado. Independentemente de seu modo de vida, todo ser humano é um pecador perdido.
Talvez você pergunte a razão do título desta mensagem ser “O Pai pródigo” e não “O filho pródigo”. Se considerarmos que “pródigo” significa “gastador”, podemos dizer que o pai da parábola é bem mais pródigo que o filho rebelde. Por quê? Preste atenção no que ele faz: “Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, quero a minha parte da herança’. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles” (Lucas 15:11-12). Ao entregar ao filho pródigo a sua parte da herança ele automaticamente fica sem nada, pois o que restou pertence ao outro filho. O próprio pai declara isso ao filho mais velho: “Tudo o que tenho é seu” (Lucas 15:31).
Agora pense no que fez Deus, “aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8:32). “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). O filho pródigo “desperdiçou os seus bens” (Lucas 15:13). E Deus, com que gastou o seu maior tesouro, o seu Filho amado? Com pecadores como eu e você; com ladrões, prostitutas e corruptos da pior espécie. Será possível encontrar alguém tão pródigo e “mão aberta” quanto Deus?
Nos próximos 3 minutos vamos acompanhar as desventuras do filho pródigo em seu caminho de volta à casa do pai.
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Perdido ou achado?
Eu e você sabemos o que significa ser um filho pródigo numa terra distante, pois nascemos assim, pecadores e longe de Deus por causa de nosso pecado e rebelião. Sem perceber, passamos boa parte da vida na “escravidão da decadência” (Rm 8:21) e obrigados a servir a alguém que nos priva até da comida destinada aos porcos. Esse alguém é o diabo.
Mas nem todos se consideram perdidos até perderem as coisas que realmente valorizam nesta vida, como aconteceu com o jovem da parábola. Foi só depois de perder o dinheiro e os amigos que ele caiu em si. Alguns, porém, nem perdendo tudo se reconhecem perdidos. Ou adotam uma postura de um otimismo cego, acreditando que tudo vai dar certo, ou se desesperam sem enxergar uma solução. O problema é que não consideram uma terceira opção: Deus.
O jovem da parábola reconhece seu estado arruinado. Ao invés de tentar recuperar o que perdeu ou mergulhar de vez na lama dos porcos, ele pensa nos privilégios de se viver na casa do pai: “Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome!” (Lucas 15:17). Então ele toma uma decisão: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados” (Lucas 15:18-19). Arrependido, envergonhado e humilhado, ele está pronto para voltar.
“Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lucas 15:20). O que o filho faz? Diz a seu pai para tratá-lo como um empregado? De jeito nenhum. Ele sabe que não é digno de ser chamado filho, mas mesmo assim é recebido como um filho arrependido, e não como um empregado. Ele diz: “Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho” (Lucas 15:21).
Porém o pai diz aos servos: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e comemorar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado” (Lucas 15:22). A expressão “foi achado” mostra que não foi o filho quem se encontrou, e sim o pai nunca desistiu de procurá-lo. Neste exato momento Deus está procurando por você e quer dizer a seu respeito: “Foi achado!”. Você já foi achado ou ainda nem se deu conta de que está perdido?
Nos próximos 3 minutos o pai corre para o abraço.
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Correndo para o abraço
Quando você assiste a um filme não imagina como irá terminar. Se soubesse, não perderia seu tempo assistindo. Cabe ao roteirista, que escreve o enredo, surpreendê-lo introduzindo novos personagens, trazendo à tona segredos ocultos e criando reviravoltas para entreter o público. Você acha que Deus seria menos criativo que esses roteiristas?
Existe um plano e existe um roteiro nos estúdios de Deus, e nada acontece por acidente. Você não pode julgar o filme enquanto não assistir até o fim, quando se dá o desfecho. Então todos os fios da meada, que pareciam soltos, se encontram para formar uma perfeita trama. O “filme” que Deus escreveu ainda não terminou. Ele foi escrito antes da criação do tempo, quando foi também ensaiado pela Divindade.
Seu tema é o amor, e seus principais protagonistas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — já ensaiavam o verbo “amar” desde eternamente. No mundo Jesus orou ao Pai dizendo: “Me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17:24). Esse amor era tanto, que outros personagens foram convidados a participar do “filme”, e é aí que nós entramos, como o filho perdido da parábola. No enredo existe um “novilho cevado”, que é morto, figura do “Cordeiro sem mancha e sem defeito”, preparado de antemão para ser sacrificado, “conhecido antes da criação do mundo, [e] revelado nestes últimos tempos” (1 Pe 1:19-20).
Se alguém me pergunta quando foi que Deus começou a me amar, respondo que ele nunca começou, pois sempre me amou. Afinal, como teria preparado na eternidade um Cordeiro para morrer por mim antes que eu existisse? Como teria escolhido a mim e a outros “antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.”? “Em amor nos predestinou — também antes da criação do mundo — para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Ef 1:4-5).
Eu nunca teria chegado ao Pai se ele não tivesse me enxergado de longe — de uma eternidade de distância — e corrido me abraçar, como ao filho da parábola. “Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lucas 15:20). Não fui eu quem tirou meu “trapo imundo” (Is 64:6), “mas o pai disse aos seus servos: ‘Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e comemorar. ‘“ (Lucas 15:22-23).
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Desprezando a bondade
Enquanto o filho pródigo era recebido com festa, “o filho mais velho… chamou um dos servos e perguntou-lhe o que estava acontecendo… ‘Seu irmão voltou, e seu pai matou o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e salvo’. O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar. Então seu pai saiu e insistiu com ele. Mas ele respondeu ao seu pai: ‘Todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. Mas quando volta para casa esse seu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele!’” (Lucas 15:25-30).
O filho mais velho não é diferente do pródigo. Um queria gastar a herança com prostitutas, o outro com os amigos, e para eles o pai só servia para financiar a diversão. Porém, enquanto um entra na casa arrependido, o outro não. Ele se revolta por achar que merecia receber algo pelo tempo de serviço ao pai. Mas o pai responde que, por graça, tudo já pertencia a ele. “Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu” (Lucas 15:31).
O filho pródigo estava perdido por ser mau, gastador e baladeiro. O filho mais velho estava perdido por ser bom, trabalhador e caseiro, as mesmas qualidades que o fizeram recusar a graça do pai e a negar-se a entrar em sua casa. Alguém que confie em sua vida correta como meio de salvação não entende a magnitude do sacrifício de Cristo na cruz e não crê na eficácia de seu sangue derramado para nos purificar de nossos pecados. Ele acredita ser capaz de purificar-se a si mesmo.
Nunca me esquecerei da visita que fiz com um irmão à tia dele, que estava numa cama há anos, vítima de uma doença deformante. Assim que ele terminou de falar da graça de Deus e da salvação pela fé, a mulher se alterou. Extremamente irada e aos berros, contestava: “Quer dizer que todos esses anos na cama, todas as dores que passei e as orações que fiz não contam nada para minha salvação?!”. Nós achamos melhor sair dali antes que ela se exaltasse ainda mais.
E você, reagiria da mesma maneira se soubesse que sua caridade, seu sofrimento, suas orações ou qualquer outra coisa não contam pontos para o perdão de seus pecados e a salvação eterna? “Será que você despreza as riquezas da bondade, tolerância e paciência [de Deus], não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Rm 2:4).
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O administrador corrupto
Jesus conta a parábola de um homem rico que decide demitir seu administrador. Ao receber o aviso prévio ele se preocupa, pois já não tem idade para fazer trabalho braçal e teria vergonha de mendigar. Então planeja um esquema: chama cada devedor de seu patrão e reduz a dívida para poderem quitá-la. Ele “perguntou ao primeiro: ‘Quanto você deve ao meu senhor? ‘ ‘Cem potes de azeite’, respondeu ele. O administrador lhe disse: ‘Tome a sua conta, sente-se depressa e escreva cinquenta’. A seguir perguntou ao segundo: ‘E você, quanto deve? ‘ ‘Cem tonéis de trigo’… Ele lhe disse: ‘Tome a sua conta e escreva oitenta’” (Lucas 16:5-7).
Jesus diz que o homem rico elogiou o administrador desonesto, não sua desonestidade, mas sua prudência. Você só entenderá a parábola se ler a conclusão: “Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz” (Lucas 16:16). Por que Jesus diz que os “filhos deste mundo”, isto é, os incrédulos, são mais espertos do que os “filhos da luz” ou crentes? Porque aproveitam o tempo presente para garantir amigos no futuro, como fez o administrador. A lição aqui não é ser desonesto, mas ser prudente e investir no futuro. Por isso Jesus diz: “Usem a riqueza deste mundo ímpio” — ou “riquezas da injustiça” — “para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas” (Lucas 16:9).
A “riqueza deste mundo ímpio” é o dinheiro. O cristão deve ser sábio investindo nas coisas que permanecem. O administrador desonesto negociou com dinheiro que não era dele para garantir resultados futuros. Os cristãos também negociam com riqueza que não é deles, mas de Deus, para “ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas” (Lucas 16:9). A pergunta é: Quantos “Amigos” eu e você iremos encontrar na glória? Quantos nós ajudamos a terem suas dívidas perdoadas por Deus para garantirem seu lugar nas “moradas eternas”? E quanto das “riquezas da injustiça”, isto é, do dinheiro que Deus nos dá, nós investimos neste trabalho de “ganhar amigos”?
Nosso tempo aqui na terra é breve, mas os recursos que Deus nos dá para fazer sua obra são infinitos. A questão é saber se somos confiáveis para administrar esses recursos, ao contrário de muitos que passaram por aqui e falharam. Como veremos nos próximos 3 minutos.
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Administradores de Deus
No princípio Deus escolheu um homem, Adão, para ser administrador da Criação. Ele e Eva deveriam se multiplicar, povoar a terra, dominar sobre os animais e cultivar o jardim do Éden. Havia um único mandamento: Não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Antes mesmo de terem seu primeiro filho, ou colherem os primeiros frutos de seu cultivo, eles já tinham desobedecido esse mandamento.
Adão e Eva descobriram que o mero conhecimento do bem e do mal, adquirido ao comerem da árvore proibida, não lhes capacitava a fazer o bem ou evitar o mal. Seus descendentes mergulharam na iniquidade e Deus decidiu destruir o mundo num dilúvio, preservando a Noé e sua família. A eles foi ordenado: “Sejam férteis e multipliquem-se; espalhem-se pela terra e proliferem nela” (Gn 9:7). Para administrar a terra Noé recebeu a autoridade de governar e exercer poder sobre seus semelhantes.
Mas seus descendentes falharam, por não se espalharem pela terra como Deus havia ordenado. Ao contrário, concentraram-se num só lugar para construir uma cidade e uma torre com um objetivo contrário à ordem dada por Deus. Eles disseram: “Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra” (Gn 11:4). Deus confundiu suas línguas e os espalhou pela face da terra, formando assim diferentes nações.
De uma dessas nações Deus tirou um homem, Abraão, e prometeu que nele todas as famílias da terra seriam abençoadas. De seu descendente, Jacó, Deus criou a nação de Israel, responsável por administrar as coisas de Deus na terra. Israel recebeu a Lei, as promessas, os concertos, a adoração e possessões terrenas. Mas, assim como o administrador da parábola, Israel não soube multiplicar as bênçãos terrenas que recebeu.
Então Deus criou outro povo, a Igreja, para transformar coisas terrenas em resultados espirituais. Como os lendários alquimistas, que tentavam transformar chumbo em ouro, o cristão é capaz de transformar bens materiais em espirituais. Como ele faz isto? Usando os recursos que Deus coloca em suas mãos para promover a obra do evangelho, a fim de que pessoas se convertam a Cristo e sejam salvas. É assim que conseguem “ganhar amigos, de forma que, quando ela [a riqueza] acabar, estes os recebam nas moradas eternas” (Lucas 16:9).
Mas para isto é preciso ser idôneo, como Jesus explica nos próximos 3 minutos.
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Pouco ou muito?
Um amigo não convertido foi convidado a uma dessas “igrejas” de pregadores da prosperidade e, ao invés de sair dali convencido a crer em Jesus, saiu enojado. Marcou no relógio uma hora e quarenta minutos de pedidos de dinheiro. Ele, que pensava ter sido convidado para um culto a Deus, saiu convencido de que aquilo era um culto a Mamom, o dinheiro.
Mas qual é a importância que Deus dá ao dinheiro? Ao compará-lo às “moradas eternas” em Lucas 16, Jesus diz que “quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lucas 16:10). Para Deus, o valor da riqueza é “pouco”, mas ele chama de “muito” os “tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam” (Mt 6:20).
Deus diz: “Tanto a prata quanto o ouro me pertencem… Não tenho necessidade de nenhum novilho dos seus estábulos, nem dos bodes dos seus currais, pois todos os animais da floresta são meus, como são as cabeças de gado aos milhares nas colinas… fui eu quem lhe deu o trigo, o vinho e o azeite, quem o cobriu de ouro e de prata” (Ag 2:8; Sl 50:10; Os 2:8-9). Você acha que aquele que em Mateus 17:27 colocou uma moeda na boca do peixe que Pedro iria pescar precisaria do nosso dinheiro?
Mas então por que a Bíblia diz para contribuirmos para a propagação do evangelho e as necessidades dos irmãos? Porque Deus quer testar a nossa capacidade de administrar “o pouco”, isto é, o dinheiro, antes de nos confiar o “muito” das riquezas espirituais. Jesus diz: “Se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas? E se vocês não forem dignos de confiança em relação ao que é dos outros, quem lhes dará o que é de vocês?”. Antes de lhe entregar um violino Stradivarius de quinze milhões de dólares Deus quer saber se você cuida bem do pandeiro.
Ele também dá um recado aos que se dedicam ao culto a Mamom: “Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. Obviamente os adeptos do evangelho da prosperidade irão rir disso, mas não é novidade. A passagem continua dizendo que “os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus” (Lucas 16:10-14).
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Justificar-se
Após revelar a avareza do coração dos religiosos fariseus — e ser ridicularizado por eles — Jesus lhes diz: “Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15). Estamos sempre prontos a nos justificarmos a nós mesmos, seja culpando outros por nossos erros, seja apresentando boas obras na tentativa de neutralizá-los.
Desde o dia em que Adão tentou se justificar diante de Deus, dizendo, “foi a mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi” (Gn 3:12), ficamos especialistas na arte da justiça própria. Porém, se é fácil identificar a justificativa que joga a culpa em terceiros, o mesmo não acontece com a justiça própria construída pela autovalorização, quando tentamos parecer melhor do que somos exibindo os nossos feitos.
Ainda que nas coisas dos homens essa atitude ajude você a conseguir emprego, pois é necessário apontar os gols que marcou na carreira, nas coisas de Deus ela é deplorável. Neste mesmo evangelho Jesus alerta: “Quando vocês tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (Lucas 17:10). A exaltação própria é característica da cristandade dos últimos dias, representada por Laodiceia. Ela diz: “Estou rica, adquiri riquezas e não preciso de nada”, porém o Senhor retruca: “Não reconhece, porém, que é miserável, digna de compaixão, pobre, cega e que está nua” (Ap 3:17).
Quantos cristãos você conhece que se gabam da riqueza de seus templos, do número de membros de suas “igrejas” ou da capacidade intelectual de seus pregadores? Ao fazerem isso estão medindo as coisas pela régua dos homens, e não de Deus. Eles se esquecem de que “aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15). E o que tem valor para Deus? Ele mostra claramente ao elogiar Filadélfia, na sexta carta de Apocalipse: “Você tem pouca força, mas guardou a minha palavra e não negou o meu nome” (Ap 3:8).
A cristandade dos últimos dias busca ter muita força — às vezes até por meios políticos —, despreza a Palavra, em especial a doutrina de Paulo, e identifica seus membros por diferentes denominações, considerando insuficiente serem identificados com Cristo apenas como “cristãos”. Quanto a seus líderes, bem, é o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Líderes gananciosos
Na dispensação da Lei a bênção era prometida na forma de prosperidade material como consequência da obediência. Por isso os homens buscavam obedecer — ou ao menos parecer que obedeciam — a fim de serem beneficiados com saúde e riquezas. Seus líderes religiosos acabaram se esquecendo de que a obediência deveria ser aos olhos de Deus, e não dos homens, e passaram a alardear seus próprios feitos ou ocupar posições de destaque segundo o que achavam de si mesmos.
No Evangelho de Mateus Jesus os critica, dizendo: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens. Eles fazem seus filactérios bem largos e as franjas de suas vestes bem longas; gostam do lugar de honra nos banquetes e dos assentos mais importantes nas sinagogas, de serem saudados nas praças e de serem chamados ‘rabis’ [mestres]” (Mt 23:5-7).
Filactérios eram fitas amarradas ao corpo com trechos das Escrituras. Ao alargar seus filactérios, os líderes queriam exibir um maior conhecimento delas. Deus também havia ordenado que fizessem franjas nas vestes, mas não para serem vistas por outros, e sim como um lembrete para si mesmos. “Quando vocês virem essas franjas se lembrarão de todos os mandamentos do Senhor, para que lhes obedeçam” (Nm 15:40). Na cristandade isso equivaleria aos vários títulos eclesiásticos e teológicos inventados pelos clérigos para se mostrarem superiores aos leigos.
Mas o que os leigos acham disso? Eles gostam, e o Salmo 49:18 explica essa característica do comportamento humano: “Os homens te louvam, enquanto fazes o bem a ti mesmo”. Por isso muitos seguem os pregadores de prosperidade, indiferentes às denúncias que revelam suas fortunas. Eles os seguem por desejarem a mesma prosperidade, e o raciocínio é que quanto mais próspero o líder, mais poder ele tem de tornar prósperos seus liderados. Para esses pregadores denúncias de riqueza servem de propaganda, pois atraem mais gente em busca de prosperidade material.
Ao descrever a cristandade, Paulo diz que “nos últimos dias os homens serão egoístas, avarentos [ou gananciosos], presunçosos, arrogantes…” (2Tm 3:1-9). A lista de adjetivos continua e diz também que eles fazem como os magos de Faraó, que imitavam os sinais que Deus fazia por meio de Moisés. Qualquer semelhança com o que você vê em alguns pregadores do rádio e TV não é mera coincidência.
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Justificação
Nem tudo no Evangelho de Lucas está em ordem cronológica. Algumas coisas seguem uma ordem moral, como neste capítulo 16. Ele começa com a parábola do administrador infiel, segue falando da correta administração do que pertence a Deus e denuncia a avareza dos fariseus. Agora Jesus fala da justiça própria, antes de falar da lei, do divórcio e terminar com a história do rico e do mendigo. Apesar de parecerem assuntos diferentes, tudo está ligado e tem a ver com os judeus, a lei e o judaísmo.
Jesus diz aos fariseus: “Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês” (Lucas 16:15). Encontramos na Bíblia tanto a justificação horizontal — de homem para homem — como a justificação vertical, do homem para com Deus. Tiago, em sua epístola, fala da primeira, mostrando que diante de seu semelhante o homem é justificado pelas obras. Ali diz:
“A fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: Você tem fé; eu tenho obras. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil? Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar?” (Tg 2:17-21). Ao dizer “Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” fica fácil entender que ele está falando de uma justificação horizontal, de homem para homem.
Porém na carta aos Romanos, Paulo fala da justificação vertical, do homem para com Deus: “Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus” — ou seja, diante dos homens. “Que diz a Escritura? ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’” (Rm 4:2-3). Deus, que vê os corações, justifica o homem por sua fé e deposita isso em sua conta. “Àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça” (Rm 4:5).
Um exemplo de ímpio justificado apenas pela fé é o ladrão que se converteu na cruz. Sem fazer qualquer obra, sem ser batizado ou cumprir qualquer ordenança, ele recebeu a certeza de encontrar-se naquele mesmo dia com o Senhor no Paraíso. Mas o que isso e tudo o mais neste capítulo tem a ver com os judeus e o judaísmo? Bem, é disso que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Lei ou graça
A Lei dada por Deus recompensava o homem por sua fidelidade. Se você obedecesse, seria recompensado, caso contrário viveria doente, na miséria, sem filhos e seu nome cairia no esquecimento. A Lei é pura e perfeita para o homem natural vivendo na terra. O problema é que somos imperfeitos, por isso a Lei acabou desvirtuada pelos judeus, que faziam de conta que a praticavam de olho na recompensa. Tornaram-se gananciosos de riquezas materiais e posições de destaque na sociedade.
Jesus fala de uma mudança: “A Lei e os profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele. É mais fácil o céu e a terra desaparecerem do que cair da Lei o menor traço” (Lucas 16:16-17). A Lei não deixaria de existir, mas seria em vão tentar justificar-se por ela. João Batista anunciara a chegada do Messias e seu Reino, e os judeus, culpados de violar a Lei, deviam se arrepender e serem batizados, assumindo uma nova posição no Reino. “Mas os fariseus e os peritos na Lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João” (Lucas 7:30).
Se o normal até ali era buscar a justificação pela Lei, não seria normal arrepender-se por não ter conseguido e aceitar “as boas novas do Reino”. “Forçar sua entrada” no Reino seria equivalente à expressão “forçar a barra”. Quem fizesse isso seria perseguido pelos que se justificavam a si mesmos. O problema não estava na Lei, que é boa e perfeita, mas no homem que é incapaz de cumpri-la por estar morto em delitos e pecados. Este precisaria depender inteiramente da graça de Deus, “pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17).
Em suma, a lei não deixou de existir; o que deixou de existir foi o homem descendente de Adão. Na cruz Jesus deu um fim nele, inaugurando um novo homem pela ressurreição. Aqueles que insistem em permanecer sob a Lei colocam a corda no próprio pescoço, pois a Lei não foi feita para salvar, e sim para condenar. Ela prometia prosperidade aos fiéis, mas condenação aos infiéis. Você se considera cem por cento fiel e cumpridor de todos os preceitos da Lei? A menos que seja hipócrita, a resposta será não. Então, sob a Lei você está condenado, não só por transgredi-la, mas por ser adúltero. Não entendeu? Então é melhor ouvir os próximos 3 minutos, quando veremos que é adultério querer viver com dois maridos.
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Adúlteros
Jesus diz: “Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada do seu marido estará cometendo adultério” (Lucas 16:18). Por que será que ele interrompe o assunto da Lei do versículo 17 para falar de adultério e divórcio? Ele não interrompe; o assunto aqui ainda é a Lei, e você só entenderá isso se ler o que Paulo escreve em sua Carta aos Romanos, que é o evangelho explicado.
“Acaso vocês não sabem que a lei tem autoridade sobre alguém apenas enquanto ele vive? Por exemplo, pela lei a mulher casada está ligada a seu marido enquanto ele estiver vivo; mas, se o marido morrer, ela estará livre da lei do casamento. Por isso, se ela se casar com outro homem enquanto seu marido ainda estiver vivo, será considerada adúltera. Mas se o marido morrer, ela estará livre daquela lei, e mesmo que venha a se casar com outro homem, não será adúltera. Assim, meus irmãos, vocês também morreram para a Lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos” (Rm 7:1-4).
A questão é: Pode um morto guardar a Lei? Não! E por acaso não é assim que Deus vê o crente em relação à Lei? “Agora, mortos para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da lei, para que sirvamos em novidade de espírito, e não segundo a velha forma da lei escrita” (Rm 7:6). Agora veja como tudo está maravilhosamente conectado a este capítulo de Lucas: “Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério” (Lucas 16:18). O assunto aqui não é divórcio, mas adultério, caso o vínculo não tenha sido desfeito pela morte.
Por isso o apóstolo Paulo explica: “Vocês também morreram para a lei, por meio do corpo de Cristo para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos” (Rm 7:4). Se agora pertencemos a Cristo, como continuar pertencendo à Lei para a qual morremos? Querer viver sob ambos é adultério. Além disso, “tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). Isto significa que aqueles que creem em Jesus são justos aos olhos de Deus, e Paulo escreve a Timóteo que a Lei “não é feita para os justos” (1Tm 1:9).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de um rico anônimo e de um mendigo chamado Lázaro.
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O anônimo e Lázaro
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias. Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Em vez disso, os cães vinham lamber as suas feridas” (Lucas 16:19:21).
Alguns leem esta história achando que é uma parábola, mas não é. Trata-se da história real de um rico anônimo aos olhos de Deus, e um mendigo cujo nome o Espírito Santo fez questão de registrar, apesar de ser invisível aos olhos do rico. Provérbios 10:7 diz que “a memória deixada pelos justos será uma bênção, mas o nome dos ímpios apodrecerá.”.
Tudo neste capítulo tem a ver com a maneira como utilizamos nossos bens. Jesus começa falando do administrador que, apesar de infiel, foi elogiado por seu senhor por ser previdente no uso da riqueza alheia. Então ele segue alertando para o perigo do amor ao dinheiro, fala da mudança radical exigida para se viver no Reino de Deus e do engano da justiça própria. O rico vestia-se de “púrpura”, cor usada pela realeza, e “linho fino”, que na Bíblia tem a conotação de justiça individual. Ele se achava nobre e justo, mas Deus tinha uma ideia diferente a seu respeito.
A história não fazia sentido para o judeu. Afinal, como poderia o rico, que foi abençoado com prosperidade, estar perdido, se no Antigo Testamento a prosperidade era prometida como consequência da obediência a Deus? E como Lázaro teria sido salvo se era doente e não trazia nenhuma evidência de bênção física e prosperidade material? Em Deuteronômio 28 Deus havia prometido a Israel que, se obedecessem e seguissem fielmente todos os mandamentos, Deus os colocaria “muito acima de todas as nações da terra” e lhes concederia saúde e “grande prosperidade”. A desobediência traria o inverso, isto é, doenças e pobreza como no caso de Lázaro.
Jesus deixa claro que a salvação não vem da obediência para a justificação própria, que na Lei poderia ser evidenciada pela prosperidade, mas é pela fé e resultado da graça do Deus que “justifica o ímpio” (Rm 4:5). Mas salvação é algo decidido nesta vida, pois a porta do céu fica na terra. Daqui você sai salvo ou perdido eternamente, como diz em Eclesiastes 11:3, “Caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará”. Mas este é o assunto dos próximos 3 minutos.
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Depois que morremos
Quer saber o que acontece após a morte? Então preste atenção na história do rico e Lázaro, pois ela revela o além. Ali Deus é representado pela figura de Abraão e a sorte do rico é selada no momento em que morre. Enquanto o seu corpo é sepultado, tem início o sofrimento eterno da alma e do espírito no lugar “onde o seu verme não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48). De passagens como Jó 17:14 e 25:6 aprendemos que “verme” é uma metáfora usada para o ser humano em seu estado de impotência.
Algumas traduções trazem que o rico estava no “inferno”, mas a palavra original grega é “hades” e não tem a conotação de um lugar físico, mas da condição após a morte. Se aqui Lázaro aparece no seio de Abraão, mais tarde Jesus revelaria que a alma e o espírito dos salvos vão para junto dele. Foi o que prometeu ao ladrão convertido na cruz minutos antes de morrer: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43). Em 2 Coríntios 12:2 o apóstolo Paulo identifica o Paraíso como sendo o “terceiro céu”.
Jesus revela que a condição após a morte não é de sono, pois tanto Lázaro quanto o rico estão bem despertos. Apenas os seus corpos estão no sono da morte: Lázaro aguardando “a ressurreição da vida” e o rico “a ressurreição da condenação” (Jo 5:29). O rico pode ter recebido um funeral de luxo, mas foi Lázaro quem recebeu um transporte angelical: “O mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão” (Lucas 16:22).
Consciente de sua perdição e sofrimento, e do lugar privilegiado que Lázaro agora ocupa, o rico faz dois pedidos. O primeiro parece mostrar que ele ainda se considera um homem de posição, pois trata Lázaro como um servo ao seu dispor: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo” (Lucas 16:24). Ele não pede para ser tirado dali, mas para que Lázaro seja enviado em seu socorro. Um perdido jamais irá querer ser tirado da perdição se isto significar ter de viver para sempre junto a Deus. Ele não quis isso aqui e não irá querer isso lá.
É impossível Lázaro levar algum refrigério ao rico, conforme explica Abraão: “Entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:26). Você já pensou no que significa isso? Se não pensou, vou ajudá-lo a pensar nos próximos 3 minutos.
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Destino
Experimente falar de morte a um incrédulo e ele provavelmente baterá três vezes com os dedos na madeira, numa tentativa supersticiosa de evitar o inevitável. Agora pergunte ao apóstolo Paulo o que ele achava da morte e sua resposta será: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1:21).
O incrédulo sabe que, com a morte, deixará de desfrutar de seus bens, reputação, família, amigos, prazeres, Etc. Por isso se agarra a essas coisas, pois é tudo o que tem. Não se espante quando vir alguém desesperado em defender opiniões, propriedades ou paixões. Se lhe tirarem isso nada lhe restará. O crente, porém, sabe que as coisas desta vida são passageiras, por isso se agarra às coisas eternas. Abraão diz ao rico: “Lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento” (Lucas 16:25).
As religiões inventaram purgatório, reencarnação, sono da alma, salvação universal, aniquilamento dos perdidos, etc., mas a verdade é que o rico e Lázaro não estão dormindo e nem aguardando num purgatório. Não estão se preparando para voltar à terra reencarnados e nem podem mudar sua condição. “Há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:26). Portanto não perca seu tempo com rezas e velas, e nem tente consultar os mortos. Os perdidos não podem mais ser ajudados e os salvos não precisam de sua ajuda.
Mas o rico insiste em achar que Lázaro está ao seu serviço e pede a Abraão: “Manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento” (Lucas 16:27-28). Abraão responde que eles já têm a Palavra de Deus, no caso, Moisés e os profetas. O rico não desiste: “‘Se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam’. Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos’”. (Lucas 16:30-31).
Se você está esperando alguém voltar de entre os mortos para poder crer em Jesus então pode crer agora mesmo, pois ele próprio ressuscitou.
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Pedra de tropeço
“A Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo”, diz João 1:17. Em Lucas 17 Jesus fala aos discípulos coisas que não farão sentido para você se não for um discípulo dele. Por que digo isto? Porque em sua condição natural o ser humano vive “satisfazendo as vontades da carne, seguindo os seus desejos e pensamentos” (Ef 2:3), os quais são contrários à direção do Espírito Santo que habita no crente em Jesus. Se você é dos que acham que ninguém tem nada a ver com a sua vida, então ainda não sabe o que é ser guiado pelo Espírito Santo em submissão a Cristo Jesus, o Senhor.
“Jesus disse aos seus discípulos: ‘É inevitável que aconteçam coisas que levem o povo a tropeçar, mas ai da pessoa por meio de quem elas acontecem. Seria melhor que ela fosse lançada no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço, do que levar um desses pequeninos a pecar” (Lucas 17:1-2). Se as suas palavras e Atos puderem levar alguém a cair em pecado você não está vivendo segundo o amor fraternal. A seriedade disso o Senhor mostra com o exemplo da pesada pedra de moinho.
A Palavra de Deus aconselha: “É melhor não comer carne nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve seu irmão a cair” (Rm 14:21). Será que depois de saber disso você seria capaz de dizer que ninguém tem nada a ver com a sua vida? Será que poderia viver despreocupado com o fato de alguém poder tropeçar por seguir o seu exemplo? O cristão é exortado a não ser uma pedra de tropeço, mas deve viver no mesmo espírito do Senhor, descrito no capítulo 2 de Filipenses:
“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:3-8).
Mas se alguém me prejudicar, não devo aplicar a lei do “olho por olho, dente por dente” (Ex 21:24)? Não, porque a “lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). Como agir então? Em graça, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Repreensão
O Senhor diz: “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe” (Lucas 17:3-4). Repare que a passagem não diz para você deixar para lá ou relevar o pecado. Todo pecado é uma transgressão contra Deus, mesmo quando praticado contra o próximo. Então a forma bíblica de se lidar com o pecado é primeiro repreender quem pecou e depois perdoar, quando houver arrependimento.
Mas repreender não seria falta de amor? Ao contrário, a Bíblia está cheia de exemplos de repreensão para o benefício de quem errou. No livro de Provérbios encontramos passagens como: “A repreensão faz marca mais profunda no homem de entendimento do que cem açoites no tolo… Melhor é a repreensão feita abertamente do que o amor oculto… O Senhor disciplina [ou repreende] a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem…” (Pv 3:12; 17:10; 29:15;). Todavia a repreensão deve ser em um espírito de graça, e não de ódio ou vingança. Seu objetivo é levar o que pecou a arrepender-se e ser restaurado à comunhão com Deus.
Na carta aos Gálatas o apóstolo Paulo repreende aqueles que insistiam em guardar a Lei de Moisés, a qual obviamente devia também influenciar o modo como tratavam o irmão surpreendido em pecado. Afinal, a Lei mandava aplicar o “olho por olho, dente por dente” (Ex 21:24), mas Paulo admoesta: “Se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado” (Gl 6:1).
Quando a repreensão não é feita em amor e graça, aquele que repreende também incorre em pecado se o fizer em um espírito de ódio. O que repreende também corre o risco de achar-se melhor ou mais espiritual que o que pecou. Além disso, não são poucos os que, ao lidarem com a avaliação do pecado, repreensão e aconselhamento, acabam sendo tentados e caindo na mesma falta. Por isso em 1 Coríntios 10:12 temos o alerta: “Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia”.
Mas o processo de restauração do transgressor não deve parar na repreensão, pois a continuação da passagem fala de arrependimento e perdão, que são os nossos assuntos para os próximos 3 minutos.
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Arrependimento
O versículo 4 de Lucas 17 fala de arrependimento e perdão, e ali o número sete representa algo completo, tanto para o arrependimento como para o perdão. “Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe”. Arrepender-se é ir contra a natureza humana que quer sempre estar com a razão. Para se arrepender você precisa admitir que falhou, e seu ego não vai gostar disso. Você pode até fazer algo para reparar o dano e mesmo assim não estar arrependido, como quando paga uma multa de trânsito. Você sente-se mal pelo dinheiro que gastou, mas não pela infração que cometeu.
Ao pecarmos, nosso primeiro impulso é jogar a culpa em alguém, e isso não vem de hoje. Eva jogou a culpa na serpente: “A serpente me enganou, e eu comi” (Gn 3:13). Adão culpou a mulher e o próprio Deus: “Foi a mulher que [tu] me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi” (Gn 3:12). Colocar a culpa no outro é um instinto carnal, mas julgar a si mesmo e se considerar culpado é o resultado da graça operada por Deus na alma, algo contrário à natureza humana.
Três coisas nos levam ao arrependimento: a bondade de Deus, o juízo futuro e a tristeza: “Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Rm 2:4). “Deus… agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou” (At 17:30-31). “A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte” (2 Co 7:9).
O arrependimento genuíno é um exercício profundo de alma, como descreve o profeta Jeremias: “De fato, depois de desviar-me, eu me arrependi; depois que entendi, bati no meu peito. Estou envergonhado e humilhado” (Jr 31:19). O arrependimento verdadeiro gera uma mudança de atitude, mas o falso é apenas uma fuga das consequências, como acontece com o bandido que se diz arrependido só porque foi preso. Ao tratar com os fariseus e saduceus, que só tinham aparência de piedade, João Batista os alertou da necessidade de demonstrar o arrependimento na prática: “Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? Deem fruto que mostre o arrependimento!” (Mt 3:7)
Nos próximos 3 minutos nosso assunto será o perdão.
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Perdão
A ideia de perdão nos faz pensar em dívida. Quando alguém empresta de você e não paga, lhe ofende ou quebra um copo em sua casa, sua reação natural é: “Vai pagar!”. Quando você percebe que nunca irá receber, passa a desejar que o outro pague de outro modo, ficando na miséria, sendo difamado ou tendo seus copos quebrados. Mas perdoar não é apenas abrir mão de receber, e sim pagar pelo devedor, trabalhando duro para repor o dinheiro, reconstruindo a própria reputação ou comprando um novo copo.
O perdão pode ter um custo material ou emocional, mas é o único meio de se livrar da dívida que passou a ser sua. Perdão que guarda rancor não é perdão. É como depositar o pagamento em juízo, ou seja, você paga, mas o outro não recebe. Fazer o outro pagar denegrindo a imagem dele na sociedade ou o demonizando em pensamento, também não é perdoar. O verdadeiro perdão leva você a orar e interceder por seu adversário.
Perdão gerado por um sentimento de superioridade não é perdão. Falo daquele que trata o ofensor com desdém e se considera superior dizendo a si mesmo: “Pobre alma pouco evoluída! Eu jamais faria algo assim”. Se você pensa desta maneira é porque não sabe que também é um devedor necessitado do perdão de Deus. A diferença é que, se o seu devedor tem como pagar por seu copo quebrado, você jamais conseguirá pagar a dívida dos pecados que pratica contra Deus, a qual se acumula a cada dia.
Se você entendeu que perdoar seu ofensor é você mesmo pagar o preço irá entender que, para nos perdoar, Deus precisou entregar o seu próprio Filho em pagamento. Jesus foi julgado em nosso lugar e considerado culpado, pagando na cruz por nossos pecados como se fossem dele. Você não será capaz de perdoar se não assumir a perda, o sofrimento e a dor.
No Salmo 69:4 é Jesus quem diz, profeticamente: “Sou forçado a devolver o que não roubei”. Isaías também profetizou: “O Senhor fez cair sobre ele [Jesus] a iniquidade de todos nós… porquanto ele derramou sua vida até à morte, e foi contado entre os transgressores. Pois ele carregou o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Is 53:6-12); “Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: ‘Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam’” (Rm 15:3).
Mas como perdoar quando estamos irados? Saiba nos próximos 3 minutos.
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Ira santa
A dificuldade para perdoar está associada à nossa dificuldade em lidar com as emoções. A carta aos Efésios diz: “Fiquem irados, mas não pequem”(Ef 4:26). A passagem não diz para não ficarmos irados, mas para não pecarmos. O problema não está na ira, pois o próprio Deus fica irado, mas em como administrá-la. A continuação diz que não devemos permanecer irados até o final do dia e nem darmos lugar ao diabo. Este certamente se aproveitará de nossos sentimentos para nos tentar.
Sentimentos que costumamos chamar de negativos, como ira, indignação ou tristeza, não são apenas humanos, mas divinos em sua origem. Se você fizer uma busca em uma Bíblia eletrônica por estes sentimentos e suas variantes descobrirá que muitas vezes eles aparecem relacionados a Deus. Você fica irado com a injustiça? Deus também. Indignado com a infidelidade? Por que Deus não ficaria? Fica triste quando traído? Deus muito mais. Por que achar que Deus seria menos sensível que você?
Um Deus neutro, indiferente e impassível para com o mal seria também alheio para com o bem e incapaz de amar, se compadecer ou se alegrar. Mas sabemos que Deus ama, se compadece e também se entristece, ao mesmo tempo em que odeia “o ímpio e a quem ama a injustiça” (Sl 11:5) — algo que todos nós somos por natureza. Todavia Deus se compadece do pecador contrito, o perdoa e se alegra com sua conversão.
Mas por que nossa ira costuma se transformar em agressão, a indignação em violência e a tristeza em depressão? Porque somos permeáveis e suscetíveis ao mal. Deus não. “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1:13). Sua ira, indignação ou tristeza são santas, isto é, separadas das causas pois estas não podem atingi-lo. A nossa se transforma em pecado quando nos sentimos prejudicados ou ameaçados por aquilo que causou tais sentimentos e queremos nos proteger. Daí a exortação para administrarmos a ira antes que ela se transforme em pecado.
O capítulo 4 da carta aos Efésios continua com preceitos práticos como não furtar, não falar palavrão, não entristecer o Espírito Santo, livrar-se da amargura, indignação, ira, maldade, gritaria e calúnia, e termina dizendo: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo” (Ef 4:32). Mas como viver assim e ainda perdoar como Deus nos perdoou? Trocando de roupa, conforme veremos nos próximos 3 minutos.
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Trocando de roupa
A passagem de Efésios traz uma lista de preceitos do tipo não furte, não minta, livre-se da amargura, da indignação, da ira, da gritaria, da calúnia, da maldade, Etc. Mas é importante perceber que antes dessa lista vem o segredo para se viver de acordo com a natureza de Deus, não seguindo uma lista de preceitos, mas trocando de roupa: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (Ef 4:22-24).
Regras morais ou códigos de conduta você encontra em todas as religiões, mas existe uma diferença no cristianismo. Neste, não é a mudança de comportamento que faz de você um novo homem, mas é o “ser um novo homem” que o leva a mudar de comportamento. O cristão deve viver e agir de acordo com a nova identidade que recebeu por graça, e não tentar usar uma identidade forjada por suas próprias mãos. É a diferença entre receber um “RG” emitido pelo governo, em papel timbrado e impresso na Casa da Moeda, e criar seu próprio “RG” numa impressora jato de tinta.
As religiões humanas dizem “Não faça o mal”, porém Deus diz “Você não é dos que praticam o mal”. As religiões dizem para você fazer o bem para se tornar uma pessoa melhor; Deus diz que você faz o bem por já ser uma pessoa melhor. Ao crer em Jesus você descobre que seu velho “eu” foi morto na cruz e você nasceu de novo, purificado pela água da Palavra e comprado pelo sangue de Cristo, ambos vertidos do lado ferido de Jesus. Agora você tem o Espírito Santo de Deus habitando em si, e quando você peca, Deus não diz “Não faça assim!”, mas diz “Você não é assim!”.
“Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?… Assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos em novidade de vida” (Rm 6:2-4). Só conseguimos perdoar “como Deus nos perdoou em Cristo” (Ef 4:32) quando trocamos de roupa, nos despimos do velho homem e nos vestimos do novo. Aí temos “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus… [que] esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens… humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:7-8).
Nos próximos 3 minutos os discípulos pedem por mais fé.
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Amoreira no mar
Os discípulos se sentem impotentes diante dos desafios de não ser pedra de tropeço, saber repreender com graça o pecador e perdoá-lo sete vezes ao dia. Afinal, de si mesmo ninguém consegue agradar a Deus, como diz a carta aos Romanos: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10).
Quando nos damos conta de nossa total incapacidade fazemos como os discípulos e pedimos ao Senhor: “Aumenta a nossa fé” (Lucas 17:5). Somente por fé podemos nos aproximar “do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16 ). E graça se obtém por fé, seja ela grande ou pequena. Por isso Jesus explica que a fé, ainda que minúscula, é capaz de grandes proezas:
“Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela lhes obedecerá” (Lucas 17:6). Mas Jesus fala de uma fé colocada fora de si mesmo, a fé em Deus. As pessoas lhe dirão: “Confie em si mesmo!”, porém Deus lhe dirá: “Maldito é o homem que confia no homem” (Jr 17:5).
Se você já descobriu que é um pecador perdido e incapaz irá depositar sua fé em Deus e em seu Filho Jesus, que morreu para pagar por seus pecados e ressuscitou para sua justificação. Você irá reconhecer que é dele que vem a graça da qual você depende para receber a salvação sem mérito algum de sua parte. Graça significa favor imerecido.
A amoreira produz um emaranhado de raízes que a mantém firme no solo, assim como o pecado que está arraigado em nós. Mas isto não impede que a fé obtenha de Deus graça suficiente para desarraigá-lo e lançá-lo no mar. Miquéias profetizou que Deus nos perdoaria e atiraria “todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7:18-19). Ele pôde fazer isso porque Jesus foi lançado nas profundezas da morte em nosso lugar. São suas as palavras ditas por intermédio de Jonas: “Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” (Jn 2:3).
Nos próximos 3 minutos saiba como servir a este Senhor que morreu para nos salvar.
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Servir
Jesus diz aos discípulos: “Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? Pelo contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (Lucas 17:7-10).
A prioridade de quem serve não é o seu próprio bem estar, mas o de seu senhor. Ao servo também não cabe se gloriar por servir e nem esperar por palavras de agradecimento. Seu papel é servir e, depois de cumpridas suas tarefas, se considerar inútil por não ter feito nada mais que a obrigação. E o que isto tem a ver com a fé mencionada nos versículos anteriores? A fé não pode agir em independência, como se fosse um superpoder que o crente possui para fazer sua própria vontade, mas deve estar subordinada ao Senhor e para o serviço dele.
Para que o servo ande por fé ele precisa primeiro se colocar no seu devido lugar de servo. O servo do exemplo dado por Jesus estava arando ou cuidando das ovelhas, duas atividades para as quais encontramos um paralelo na obra de Deus nas mãos do evangelista que semeia ou do pastor que apascenta. Mas quando seu senhor chega ele está pronto a assumir tarefas de menor visibilidade, como preparar o jantar e servir a mesa. Só depois de seu senhor ter comido é que ele prepara o próprio prato.
Qualquer que seja o serviço que estejamos fazendo para o Senhor, não devemos buscar uma posição mais elevada que a de um simples servo. O serviço na obra de Deus só faz sentido quando feito diretamente para o Senhor em comunhão, adoração e submissão a ele. Portanto, se em algum momento você rogar ao Senhor “aumenta a nossa fé”, como fizeram os discípulos, é bom perguntar antes: Será que desejo mais fé para o meu próprio benefício ou para a glória de Deus? Não seja como aqueles que, “quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres” (Tg 4:3).
Nos próximos 3 minutos você irá descobrir que nove dentre dez que rogaram ao Senhor para serem curados não estavam buscando a glória de Deus, mas apenas seu próprio bem-estar.
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Nove dentre dez leprosos
“A caminho de Jerusalém… dez leprosos dirigiram-se a ele [a Jesus]. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: ‘Jesus, Mestre, tem piedade de nós!’ Ao vê-los, ele disse: ‘Vão mostrar-se aos sacerdotes’” (Lucas 17:11-14). A lepra era uma doença temida. Além da enfermidade, o leproso era discriminado e expulso do convívio social. Por isso estes “ficaram a certa distância”, ao invés de se aproximarem de Jesus.
A lepra é uma figura do pecado, por tirar a sensibilidade da pele fazendo com que o doente se machuque sem sentir dor. O pecado faz o mesmo e nos deixa insensíveis ao mal que nos corrói pouco a pouco, do mesmo modo como as infecções e a gangrena fazem com o corpo do leproso. O pecado também nos mantém “a certa distância” de Jesus.
Os dez leprosos pedem para serem curados, mas recebem instruções para se apresentarem aos sacerdotes. Todos obedecem, pois a Lei dada a Israel determinava que apenas os sacerdotes tinham autoridade para declarar um leproso curado de sua lepra e apto a voltar ao convívio social. Se você ler o capítulo 14 de Levítico verá que a Lei exigia do leproso curado um complexo cerimonial.
No caminho os dez leprosos são curados, porém apenas um percebe que aquele que o curou é maior que os sacerdotes e toda a lei cerimonial do judaísmo. Ele não chega a ir até lá, mas “quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano” (Lucas 17:14-16). Enquanto nove estão ocupados com o cerimonial, um está ocupado com Jesus, a verdadeira fonte da bênção, de quem ouve algo que os outros não puderam ouvir por estarem presos à religião: “Levante-se e vá; a sua fé o salvou” (Lucas 17:19).
É triste ver como nove dentre dez cristãos hoje estão mais ocupados com um cerimonialismo vazio do que com a Pessoa de Cristo. As únicas ordenanças dadas à igreja são o batismo, feito uma só vez, e a ceia do Senhor, celebrada a cada dia do Senhor (o Domingo). Tudo o mais — como templos, sacerdotes, vestes rituais, sacrifícios, incensos, promessas, instrumentos musicais, dízimos, peregrinações, Etc. — não passa de uma imitação barata do judaísmo. Ocupar-se com isso é ficar de costas para Cristo, aquele que deve ser nossa ocupação agora e eternamente.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala do Reino que estava no meio deles.
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O Reino e o Rei
“Certa vez, tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus respondeu: ‘O Reino de Deus não vem de modo visível, nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre vocês’” (Lucas 17:20-21). Os fariseus esperavam pela manifestação gloriosa do Messias em um reino visível, ignorando o que havia sido previsto pelo profeta Daniel: “…o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele. A cidade e o lugar santo serão destruídos pelo povo do governante que virá” (Dn 9:26).
Jesus explica que o Reino já estava entre eles desde o momento em que seu Rei havia chegado ao mundo. Algumas versões da Bíblia trazem a frase “O Reino de Deus está dentro de vós”, porém a tradução correta é “no meio de vós” ou “entre vós”, pois o Reino não poderia estar “dentro” daqueles fariseus incrédulos. Jesus havia apresentado todas as credenciais do verdadeiro Messias e Rei de Israel, curando enfermos, restaurando a vista aos cegos e ressuscitando os mortos, porém os judeus não queriam recebê-lo. “Não queremos que este reine sobre nós” (Lucas 19:14) era o sentimento em seus corações.
A religiosidade que há no homem natural irá sempre buscar o que é visível, mesmo que isto signifique virar as costas para Jesus e se ocupar com grandes edifícios e rituais. Enquanto os nove leprosos curados se ocupavam com a grandiosidade física do Templo de Jerusalém e seus rituais, o décimo se prostrava aos pés de Jesus em gratidão. Quando Jesus voltar para estabelecer seu Reino de mil anos em glória, poder e majestade todo olho o verá, mas aqui o Reino e o Rei já estavam entre os judeus.
João Batista havia anunciado a chegada do Reino ao pregar “Arrependam-se porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3:2). A palavra “próximo” tem o sentido de “perto” ou “ao alcance da mão”. Em Mateus 12:28 Jesus explica aos judeus: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Mt 12:28). A expressão “Reino dos Céus” está mais relacionada ao governo desse Reino, que passou a emanar dos céus a partir do momento em que Jesus assentou-se nas alturas. Já a expressão “Reino de Deus” tem mais a ver com o resultado moral que esse governo nos céus causa nas pessoas na terra.
Nos próximos 3 minutos iremos entender melhor alguns aspectos do “Reino” e da forma como ele hoje se apresenta.
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O Reino invisível
Ao dizer aos fariseus que “O Reino de Deus não vem de modo visível” (Lucas 17:20) Jesus está se referindo àquele primeiro momento em que o Rei já estava entre eles, apesar de o Reino ainda não ter sido manifestado em poder e glória. Depois que os judeus rejeitassem seu Rei o Reino ficaria em suspenso. Enquanto isso os crentes viveriam “na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo”, como João identifica o atual período em Apocalipse 1:9. Jesus descreve a condição atual do Reino na parábola de Lucas 19:12 com estas palavras: “Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar” (Lucas 19:12).
Hoje o reino existe em sua forma misteriosa e compreensível apenas aos crentes. “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não”, disse Jesus aos discípulos em Mateus 13:11. Hoje eu e milhões de crentes em Jesus nos aproximamos “do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16). Onde está esse trono? Não na terra, mas no céu, como avisou Jesus na cruz, enquanto era ridicularizado por seus algozes: “De agora em diante o Filho do homem estará assentado à direita do Deus todo-poderoso” (Lucas 22:69).
O mundo agora é liderado por um príncipe usurpador, Satanás, que procura atrapalhar a vida dos cidadãos do céu que vivem na terra. Ainda que a estes possa faltar o que comer e beber, eles já desfrutam de justiça, paz e alegria, atributos do Reino invisíveis ao mundo, porém bem reais para os que têm o Espírito Santo. “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17). Para enxergar este Reino temporariamente invisível aos olhos da carne é preciso nascer de novo, como explicou Jesus a Nicodemos: “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (Jo 3:3).
Porém, embora o Reino seja celestial em sua origem, na terra ele foi desfigurado pelos homens. Em Mateus 13 Jesus conta as quatro primeiras parábolas do Reino ao povo em geral, deixando as outras para contar em particular aos discípulos. Estas revelam como o mal se infiltraria até que Cristo voltasse para estabelecer o seu Reino em poder. O Reino hoje não é a Igreja, o Corpo de Cristo que contém apenas os salvos, mas a esfera de todos os que professam ser cristãos, sejam incrédulos ou crentes, falsos ou verdadeiros, joio ou trigo. Nos próximos 3 minutos Jesus explica aos discípulos como será sua vinda para estabelecer o Reino.
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Um Rei ausente
No versículo 22 de Lucas 17 Jesus deixa de lado os fariseus para falar em particular aos discípulos. É importante distinguir quando ele fala aos líderes religiosos, ao povo em geral ou aos discípulos em particular. O apóstolo Paulo exortou Timóteo a “Apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro… que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2:15). O verbo “manejar” tem o sentido de “dissecar” ou separar cuidadosamente as partes. Para entender as Escrituras é preciso perguntar ‘quando’ algo está sendo dito, ‘onde’, ‘em que circunstância’ e ‘com qual objetivo’.
Neste momento Jesus está em Israel, falando a judeus que aguardam pelo Messias em meio à rejeição dos líderes e do povo em geral. Considerando que estes discípulos logo deixariam o status de judeus para serem feitos Igreja, morrendo antes de Cristo voltar para reinar, o discurso não era diretamente para eles. Todavia as instruções permaneceriam válidas para pessoas naquele mesmo caráter: o remanescente de judeus fiéis que viverá na terra nos momentos que precedem a vinda de Cristo para reinar.
Jesus começa falando do período de sua ausência: “Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do homem, mas não verão. Dirão a vocês: ‘Lá está ele! ‘ ou ‘Aqui está! ‘ Não se apressem em segui-los. Pois o Filho do homem no seu dia será como o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu” (Lucas 17:22-24). Mesmo que a aplicação direta da passagem seja para os judeus que se converterão após o arrebatamento da Igreja, o princípio vale também para hoje. Muitos falsos cristos surgiram nos últimos dois mil anos e enganaram a muitos, porém a vinda do verdadeiro para reinar será tão visível quanto um raio no céu.
Mas não é só contra aqueles que descaradamente declaram ser Jesus que devemos nos precaver. Mesmo para o período da Igreja o apóstolo Paulo deixou um alerta ao despedir-se dos anciãos de Éfeso: “Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir a cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas” (At 20:29). Os “lobos ferozes” seriam os interessados em se alimentar do rebanho. Os “homens que torcerão a verdade” seriam aqueles em busca de seguidores. Como identificá-los? É o que você verá nos próximos 3 minutos.
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Sob o poder do maligno
Jesus alerta seus discípulos contra os que declaram ser o Cristo. As mesmas instruções aparecem no Evangelho de Mateus falando de “falsos cristos e falsos profetas”. Mas não é preciso alguém chegar ao ponto de declarar ser Jesus para estar “sob o poder do Maligno” (1 Jo 5:19). Basta negar a encarnação do Filho de Deus, como explica o apóstolo João:
“Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; mas todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo” (1 Jo 4:1).
Ele não diz que os que são de Deus confessam “que Jesus Cristo nasceu”, mas “que Jesus Cristo veio em carne”. Que ele nasceu todos sabemos, mas apenas quem crê que ele é Deus e Homem confessa que ele “veio em carne”. Isto significa reconhecer sua divindade e pré-existência eterna antes de assumir a forma humana. A mesma carta termina confirmando isto: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno. Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20).
Nossa mente é incapaz de entender como Jesus pode ser ao mesmo tempo Deus e Homem, por isso é pela fé e guiados pelo Espírito Santo de Deus que aceitamos isto. A Bíblia ensina claramente que Deus é um, porém em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Nós as encontramos no batismo de Jesus em Mateus 3:16: “Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mt 3:16). Se você aprendeu a contar até três saberá identificar aqui cada Pessoa divina.
Portanto, dois indícios para você identificar os falsos profetas são o fato de negarem a divindade de Cristo e a Trindade. Mas nos próximos 3 minutos veremos ainda outras maneiras de identificar “lobos ferozes” e “homens que torcem a verdade, a fim de atrair os discípulos” (At 20:29).
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Falsos apóstolos e profetas
O apóstolo João escreveu que “todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo _e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (_2 Jo 1:9). Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30), portanto a “doutrina de Cristo” inclui confessar que só tem a Deus quem tem o Pai e o Filho. Paulo a chama de “sã doutrina” em 1 Timóteo 1:1 e 6:3, e acrescenta que a recebeu, não de homens, mas do Senhor juntamente com a revelação do que é a Igreja.
Muitos se gabam de receber novas revelações, mas são falsos profetas, “homens que torcem a verdade, a fim de atrair os discípulos” (At 20:29). Ultrapassar a doutrina de Cristo é ir além do que Deus revelou em sua Palavra, inclusive negando a graça de Deus e o sacrifício expiatório de Jesus, e pregando uma salvação por obras, religião ou pela guarda da Lei de Moisés. Aos cristãos da Galácia, influenciados por judaizantes que pregavam a salvação pela guarda da Lei, Paulo escreveu: “Algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” (Gl 1:6-8).
O falso evangelho dá glória ao homem ao dizer que é por seu próprio esforço que ele pode ser salvo. O verdadeiro evangelho glorifica a Deus, que graciosamente salva o pecador que crê em Jesus. Para identificar uma falsa doutrina basta perguntar: “Quem recebe a glória no final, o homem ou Deus?”. Se os meus esforços me garantissem merecer a salvação, no final eu poderia chegar ao céu e cobrar: “Senhor, eu fiz isso e aquilo, agora me dê a salvação porque mereço”. Isto faria de Deus meu devedor.
O apóstolo Judas acrescenta três características dos falsos profetas. Ele os compara aos que “seguiram o caminho de Caim… caíram no erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá” (Jd 1:11). Caim quis conquistar o favor de Deus com seu trabalho; Balaão era ganancioso e profetizava mediante cachê; e Coré era rebelde e prepotente, querendo ser o que não era. Paulo alerta contra os “falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça” (2 Co 11:13). Quer mais? Então leia o capítulo 3 de 2 Timóteo sabendo que ali o apóstolo descreve os “perversos e impostores” (2Tm 3:13) dos últimos dias. Será que você está sendo enganado por um deles?
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Rejeição, morte e ressurreição
Antes de entrar nos detalhes da profecia que fala dos momentos que precedem sua vinda para reinar, Jesus revela que sua rejeição pelos judeus seria condição necessária para ele voltar e estabelecer o seu Reino. Ele diz: “Antes é necessário que ele [o Cristo] sofra muito e seja rejeitado por esta geração” (Lucas 17:25). Sua rejeição desencadearia uma sequência de eventos que marcariam o fim de uma era e o início da atual dispensação.
“Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse… No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (Mc 8:31; Jo 7:37-39).
Nunca antes o Espírito Santo tinha habitado na terra, embora já atuasse aqui. Para que ele fosse enviado ao mundo era preciso Jesus morrer, ressuscitar, subir aos céus e ser glorificado. Qualquer ideia de que a Igreja seja uma continuação de Israel esbarra no fato de o Espírito Santo nunca ter habitado em Israel de forma permanente, seja no povo em geral, seja no israelita em particular. A carta de Paulo aos Efésios mostra ainda que os dons só foram dados após Cristo ter subido aos céus: “Por isso é que foi dito: ‘Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens’… E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:8-12).
Você entende agora a razão de em Mateus 16:18 Jesus ter usado o verbo no futuro, quando disse a Pedro: “Edificarei a minha igreja”? Foi para edificá-la que ele deu os dons, o que só aconteceu após ele ter morrido, ressuscitado e subido aos céus. Boa parte da confusão que você encontra na cristandade hoje se deve ao fato de muitos não entenderem que Deus possui dois povos distintos, Israel e Igreja. E é de Israel, e não da Igreja, que Jesus fala na passagem dos próximos 3 minutos.
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Surpresa!
Jesus avisa: “Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e os destruiu a todos. Aconteceu a mesma coisa nos dias de Ló. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e construindo. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os destruiu a todos” (Lucas 17:26-29).
Esta passagem mostra que tudo ia bem até as pessoas serem pegas de surpresa por um juízo de morte. Comer, beber, comprar, vender, plantar e construir são coisas que eu e você fazemos porque acreditamos que amanhã ainda estaremos aqui. Se você soubesse que o mundo iria acabar hoje dispensaria os pedreiros que constroem sua casa, os agricultores que plantam sua comida e cancelaria suas compras pois perderia o apetite.
O mundo pode não acabar hoje, porém ao final desta mensagem de três minutos mais de trezentas pessoas terão partido desta vida. No final do dia 153 mil pessoas terão passado para a eternidade. Ao descrever os dias de Noé, Jesus fala de comer, beber e se casar, atividades tão antigas quanto o homem. Ao falar dos dias de Ló, séculos mais tarde, mais atividades são mencionadas: as pessoas compravam, vendiam, plantavam e construíam. Desde então muitas atividades foram acrescentadas à vida moderna, mas elas em nada mudam o fato de que estamos aqui de passagem.
Se você acha que falar de morte e fim do mundo é pressão psicológica, então enfie a cabeça na areia e continue a alimentar sua negação. Caso contrário, saiba que Deus oferece uma rota de escape. O apóstolo Pedro escreve: “Há muito tempo existiam céus e terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3:5-9).
Nos próximos 3 minutos Jesus revela o que acontecerá quando ele vier em poder e glória para reinar neste mundo.
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Jesus ou conspirações?
Do versículo 22 ao final do capítulo 17 de Lucas o contexto é o da vinda de Cristo para reinar e não deve ser confundido com o arrebatamento da igreja. No arrebatamento ele não desce à terra, mas o encontro se dá “nas nuvens” e “nos ares” (1Ts 4:17). Em sua vinda para reinar “Os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras” (Zc 14:4-5). No arrebatamento apenas os salvos o verão, “num abrir e fechar de olhos” (1 Co 15:52), mas a sua vinda “será como o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu” (Lucas 17:24) e “todo olho o verá” (Ap 1:7).
O arrebatamento da igreja não depende de sinais para acontecer, “porque vivemos por fé, e não pelo que vemos” (2 Co 5:7). São os judeus que “pedem sinais” (1 Co 1:22), como “grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares, e acontecimentos terríveis” (Lucas 21:11). No arrebatamento Cristo vem libertar a Igreja (1 Ts 1:10), mas a sua vinda como Rei será para libertar Israel (Sl 6:1-4). Por isso no arrebatamento é ele quem reúne pessoalmente os seus (1Ts 4:15-18; 2Ts 2:1), enquanto em sua vinda ele enviará os seus anjos para reunir os eleitos de Israel (Mt 24:30-31).
No arrebatamento o Senhor tira do mundo os crentes e deixa os incrédulos (Jo 14:2-3). Em sua vinda os ímpios serão tirados do mundo para juízo, enquanto os convertidos em tempos de tribulação serão deixados para viver na terra no reino de mil anos (Mt 13:41-43; 25:41). No arrebatamento ele vem libertar os seus “da ira que há de vir” (1 Ts 1:10), mas em sua vinda ele vem derramar sua ira (Ap 19:15). Portanto, Jesus veio uma vez, voltará para arrebatar os que lhe pertencem, ressuscitando os mortos e transformando os vivos, e uns sete anos mais tarde virá de maneira manifesta a todo o mundo para julgar as nações e reinar por mil anos.
Se você já tem a salvação, não há com que se preocupar. A Internet está infestada de teorias conspiratórias de uma nova ordem mundial, Illuminati e invasões extraterrestres. Isso é estratégia do diabo para tirar nossos olhos de Cristo e colocá-los nas circunstâncias, como Pedro, “quando reparou no vento, ficou com medo” e começou a afundar (Mt 14:30). Para os que já têm sua salvação assegurada valem estas palavras: “Não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente… como se o dia do Senhor já tivesse chegado” (2 Ts 2:2). Afinal, quando você se converteu “deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro”, não foi para ficar amedrontado com conspirações, mas para “esperar dos céus a… Jesus, que nos livra da ira que há de vir” (1Ts 1:9-10).
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Uns tirados, outros deixados
Os versículos seguintes apresentam o cenário na terra por ocasião da vinda de Cristo para julgar as nações e estabelecer o seu reino: “Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado. Naquele dia, quem estiver no telhado de sua casa, não deve descer para apanhar os seus bens dentro de casa. Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar atrás por coisa alguma. Lembrem-se da mulher de Ló! Quem tentar conservar a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida a preservará. Eu lhes digo: naquela noite duas pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada. Duas mulheres estarão moendo trigo juntas; uma será tirada e a outra deixada. Duas pessoas estarão no campo; uma será tirada e a outra deixada” (Lucas 17:30-36).
O capítulo 24 de Mateus, que trata dos mesmos eventos, diz: “Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem” (Mt 24:37). Repare que foi o juízo de Deus que levou a todos pela morte, e será também o juízo que descerá como abutre fazendo distinção entre duas pessoas ocupadas numa mesma atividade: “uma será tirada e a outra deixada” (Lucas 17:36).
Apesar de alguns interpretarem estas passagens como o arrebatamento da Igreja, elas falam de juízo e morte. Quando Cristo vier reinar ele separará os bodes das ovelhas, tirando uns e deixando outros para habitarem em seu reino na terra com o remanescente de judeus convertidos que ele chama de “meus pequeninos irmãos”(Mt 25:31-46). Quando os discípulos perguntam onde ocorrerá esse terrível juízo discriminatório Jesus responde: “Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres”(Lucas 17:37). Abutres ficam pairando sobre suas vítimas até a hora do mergulho final para despedaçá-las, e assim será na vinda de Cristo. Naquele dia o Senhor irá tirar da terra todo aquele que não servir para viver em seu reino. Os que restarem entrarão com seus corpos físicos e naturais no reino que irá durar mil anos.
Neste capítulo 17 de Lucas o Senhor falou de exercitarmos um espírito de graça em perdoar, de humildade no servir, de gratidão como a do leproso curado e de vigilância aguardando por sua vinda. Nos próximos 3 minutos ele abre o capítulo 18 falando da perseverança na oração.
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Orar sempre
No capítulo 18 de Lucas o Senhor conta uma parábola sobre a necessidade de “orar sempre e nunca desanimar”, mas ainda no contexto do assunto do capítulo anterior, que era sua vinda para reinar na terra. Ele diz:
“Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário’. Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha me importunar’. E o Senhor continuou: Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: ele lhes fará justiça, e depressa” (Lucas 18:1-8).
A parábola da viúva neste capítulo 18 de Lucas serve de ânimo para os crentes de todas as épocas, mas não devemos perder de vista que ela é dirigida primeiramente ao remanescente de judeus fiéis que estará na terra quando acontecer o que foi descrito no capítulo 17 e após a Igreja ter sido arrebatada. O Senhor conclui a parábola com uma pergunta retórica, isto é, para a qual ele já sabe a resposta: “Quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lucas 18:8).
Ele fala de um tempo de “grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (Mt 24:21), quando a fé será quase inexistente e os judeus, que aguardarão pelo Messias, serão “perseguidos e condenados à morte… odiados por todas as nações…”. Uma época quando muitos, “escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24:9-14). Isso precederá sua vinda para estabelecer seu reino na terra, por isso diz que “se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria” — ou “nenhuma carne se salvaria”, como diz outra tradução. “Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados” (Mt 24:22).
Os eleitos de Deus precisarão estar vivos para entrarem no reino terreno, por isso os dias serão “abreviados” ou não sobraria ninguém na terra. Mas “orar sempre e nunca desanimar” também serve para nós, porém com outra conotação, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Maldição ou intercessão?
Como você já viu, a parábola da viúva que roga ao injusto juiz está no contexto do judaísmo e para o remanescente de judeus fiéis que habitarão na terra após o arrebatamento da Igreja. É um erro pensar que a viúva aqui represente a Igreja, pois esta não é viúva, e sim “noiva, a esposa do Cordeiro” (Ap 21:9), uma “virgem pura” (2 Co 11:2) pela qual Cristo “entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef 5:25-27). Mas de Jerusalém o profeta diz: “Como se parece com uma viúva, a que antes era grandiosa entre as nações” (Lm 1:1).
Outro detalhe é que a viúva da parábola não roga pelo pão diário ou por outra necessidade, mas por vingança. Ela diz: “Faze-me justiça contra o meu adversário” (Lucas 18:3). Esse tipo de oração fazia sentido para Israel, que tinha inimigos de carne e ossos contra os quais lutar, mas não para a Igreja, cuja “luta não é contra pessoas, mas contra… as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Este detalhe passa despercebido para a maioria dos cristãos que acreditam que as promessas feitas a Israel se apliquem à Igreja. Por isso você encontra tantos hinos evangélicos falando de maldição, vingança e vitória sobre os adversários.
Alguém poderia alegar que tudo isso é encontrado nos Salmos, mas este é o ponto: os Salmos não são hinos cristãos. Se você discorda, tente cantar algo com estes versos tirados dos Salmos: “Certamente Deus esmagará a cabeça dos [meus] inimigos, o crânio cabeludo dos que persistem em seus pecados… para que [eu] encharque os pés no sangue dos inimigos, sangue do qual a língua dos cães terá a sua porção… Puseste os meus inimigos em fuga e exterminei os que me odiavam… Fiquem órfãos os seus filhos e a sua esposa, viúva. Vivam os seus filhos vagando como mendigos… Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!” (Sl 68:21-23; 18:40; 109:9-10; 137:9).
Todavia, na doutrina dos apóstolos aprendemos a interceder pelos que nos fazem mal: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem… Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber… Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12:14, 20-21). Deu para perceber que cristianismo não é uma fé motivacional de prosperidade, vingança e vitória?
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Batendo no peito alheio
Jesus conta uma parábola sobre “alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros”. Ele diz: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’” (Lucas 18:9-13).
Os fariseus eram a seita mais rigorosa do judaísmo, sempre preocupados em apresentar boa aparência mesmo que fossem “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23:27). Publicanos eram coletores de impostos que entregavam ao invasor romano o dinheiro de seu próprio povo. Eles sabiam que estavam enfiados até o pescoço num esquema de traição e corrupção. Apesar de insistir para que se arrependessem, Jesus não era severo com publicanos, ladrões e prostitutas, porém chamava de “raça de víboras” (Mt 23:33) os religiosos fariseus.
Mesmo que Deus nunca tenha incluído na Lei a obrigatoriedade ou frequência do jejum, o fariseu se gaba de jejuar duas vezes por semana. Do mesmo modo, muitos dos que hoje se dizem cristãos inventam regras, “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2:23). No fundo o fariseu não está satisfazendo a Deus, mas a seu próprio ego por não ser ladrão, corrupto ou adúltero, e por jejuar e dar o dízimo. Ao fazer isso ele condena os que não são como ele, batendo, por assim dizer, no peito alheio.
O publicano, por sua vez, bate no próprio peito, ou seja, mostra que é merecedor do juízo divino por ser pecador. Ele ficava “à distância… e nem ousava olhar para o céu”, mas confiava na misericórdia de Deus, e não em sua obediência ou boas obras. Se você gosta de bater no peito alheio saiba que quando tiver um dedo apontado para alguém terá três apontados para o seu próprio peito. Apesar de toda a aparência de religiosidade do fariseu, Jesus revela: “Eu lhes digo que este homem [o publicano], e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lucas 18:14).
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Um reino de crianças
“O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isto, os discípulos repreendiam os que as tinham trazido. Mas Jesus chamou a si as crianças e disse: ‘Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele’” (Lucas 18:15-17).
Uma criança não precisa se tornar adulta para ser salva, mas um adulto precisa se tornar como criança para receber o Reino de Deus. Isto é de grande consolo aos pais que perderam seus filhos em tenra idade ou que se converteram a Cristo e ainda trazem na memória algum aborto praticado quando ainda não conheciam a Verdade. Todas essas crianças estão neste exato momento “com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1:23).
Crianças são automaticamente beneficiadas pelos resultados do sacrifício de Cristo, pois ainda não têm consciência de seu pecado. Mas este não é o meu caso e nem o seu. Nós temos idade suficiente para saber que somos pecadores e que nenhuma boa obra nossa poderá nos salvar. Como escreveu Paulo aos cristãos de Éfeso, “vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9).
Portanto, se você perdeu um filho ainda na infância alegre-se com o fato de a qualquer momento poder encontrar-se com ele. Mas se você ainda não se converteu a Cristo jamais voltará a vê-lo: ele estará na presença de Deus e você no lago de fogo. Como resolver isso? Transforme-se agora mesmo numa criança crendo com uma fé infantil que Jesus morreu na cruz em seu lugar para pagar por seus pecados ali. Deus precisava condenar o pecador, mas queria também salvá-lo. Se inocentasse o culpado seria injusto; se o condenasse não estaria agindo com misericórdia.
Ao entregar o seu próprio Filho para substituir o pecador na condenação Deus foi justo e misericordioso: por graça deu ao pecador a salvação que ele não merecia e por misericórdia o livrou da condenação que merecia. Para aquele que crê em Jesus com a simplicidade de uma criança seus pecados foram todos pagos na cruz. Mas muitos que hoje se dizem cristãos agem como os discípulos de outrora: Conhecem a Jesus, porém impedem que outros sejam encaminhados a ele. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Atrapalhando os dons
Uma leitura desatenta do versículo 15 de Lucas capítulo 18 pode nos levar a pensar que os discípulos estivessem impedindo as crianças de irem a Jesus. Embora esta fosse uma consequência do que faziam, na verdade eles criticavam os que levavam as crianças: “O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isto, os discípulos repreendiam Os que as tinham trazido” (Lucas 18:15).
Você pode causar um grande estrago à obra do evangelho atrapalhando os que querem levar as pessoas a Jesus. Chamamos a isto de “evangelizar”, porém evangelização não é tarefa da igreja ou de alguma missão ou organização, mas de cristãos individualmente. Para isso alguns recebem de Cristo o dom de evangelista, conforme é explicado em Efésios 4:8-11: Quando Cristo “subiu em triunfo às alturas… deu dons aos homens… e ele designou alguns para… evangelistas”.
Como ocorre com os outros dons citados no mesmo capítulo, nenhum homem ou curso teológico pode fazer de alguém um evangelista, ou tirar tal dom, “pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis” (Rm 11:29). Conheci o pastor de uma denominação que me confidenciou: “Mario, eu não sirvo para ficar no púlpito ensinando crentes e nem tenho jeito para visitar os membros da congregação. Meu prazer é estar nas ruas pregando o evangelho!”. Ele tinha sido consagrado pastor por sua religião, mas seu dom era de evangelista, e a responsabilidade do evangelista é para com o seu Senhor e não para com uma organização.
Mesmo os que não têm o dom de evangelista podem fazer o trabalho de um, e parece ter sido esta a razão de Paulo dizer a Timóteo “Faça a obra de um evangelista” (2Tm 4:5). E antes que você pense que é só falando que se conduz alguém a Cristo, veja o que Pedro aconselha às esposas de maridos incrédulos: “Do mesmo modo, mulheres, sujeitem-se a seus maridos, a fim de que, se alguns deles não obedecem à Palavra, sejam ganhos sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês” (1 Pe 3:1-2).
Sempre que os homens tentam interferir nos dons que são dados por Cristo acabam atrapalhando o trabalho daqueles que querem levar adultos e crianças a Jesus, como acontecia com os discípulos neste capítulo. Mas existe uma outra maneira de colocar tropeços à salvação de alguém, conforme veremos nos próximos 3 minutos.
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Empecilhos à salvação
Os discípulos impediam aqueles que tentavam levar as crianças a Jesus, talvez por acharem que aquilo era conversa para gente grande. Jesus os repreende deixando claro que a fé não é dos que se consideram entendidos, mas dos que se colocam na condição de simples crianças que creem em coisas que não conseguem compreender. Mas o capítulo 18 de Lucas traz ainda outros empecilhos à fé e à salvação.
No início do capítulo, ao falar da insistência da viúva pelo auxílio do juiz, o Senhor sinaliza que tem seus ouvidos atentos ao nosso clamor. O profeta Jeremias escreveu: “‘Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês’, declara o Senhor” (Jr 29:12-14). Desistir não é uma opção.
Outro empecilho à salvação é considerar-se justo, comparando-se a outros ou confiando em sua justiça própria. O fariseu do versículo 10 se achava melhor que o publicano por dar o dízimo e jejuar. O publicano, por sua vez, não se achava digno de se aproximar de Deus e, ao bater no próprio peito, reconhecia merecer o castigo divino. Jesus afirma “que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus” (Lucas 18:14).
O versículo 18 de Lucas fala do encontro de Jesus com um príncipe, que confiava que seria justificado se guardasse a Lei. Mas o primeiro mandamento dizia: “Não terás outros deuses além de mim” (Dt 20:3), e ao recusar abrir mão de suas riquezas para seguir a Jesus, que é Deus e Homem, ele deixava claro quais eram os deuses que seguia e adorava.
Mais um empecilho à salvação está implícito na resposta de Jesus à pergunta dos discípulos acerca de quem poderia ser salvo. “Jesus respondeu: O que é impossível para os homens é possível para Deus” (Lucas 18:27). Se você considerar a salvação humanamente possível de se obter por mérito, ainda não entendeu a magnitude de seu pecado e que é só por graça ou favor imerecido que somos salvos. Qualquer coisa vinda de nós — seja a guarda da Lei, as boas obras, a religião, jejuns, dízimos, Etc. — acabará anulando a verdade de que a salvação é uma dádiva de Deus àqueles que a recebem por graça quando creem em Jesus, o Salvador.
Nos próximos 3 minutos voltaremos a falar do príncipe que idolatrava seus bens.
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Que farei?
“Certo homem importante lhe perguntou: ‘Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?’. ‘Por que você me chama bom’, respondeu Jesus. ‘Não há ninguém que seja bom, a não ser somente Deus. Você conhece os mandamentos: ‘Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’. ‘A tudo isso tenho obedecido desde a adolescência’, disse ele. Ao ouvir isso, disse-lhe Jesus: ‘Falta-lhe ainda uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me’. Ouvindo isso, ele ficou triste, porque era muito rico” (Lucas 18:18-23).
Jesus decide testar esse príncipe de Israel. Ao chamar Jesus de “bom” ele aprende que ninguém é bom, exceto Deus. O teste é para ver se ele reconhece que Jesus é Deus, mas isto não acontece. Ele está mais interessado em si mesmo e em receber a vida eterna. Então Jesus faz outro teste. Ele quer saber o que fazer? Então aqui vai uma lista que tem apenas cinco mandamentos que falam da responsabilidade do homem para com o seu próximo. Jesus omite os quatro primeiros mandamentos da Lei dada aos judeus que falavam da responsabilidade para com Deus.
Mas aquele homem se gaba de estar em dia com todos esses cinco mandamentos. Afirma que nunca adulterou, matou, furtou, mentiu ou deixou de honrar pai e mãe. Você conhece alguém assim? Mesmo que ele não tivesse praticado adultérios, homicídios ou roubos, em outra passagem dos evangelhos Jesus ensina que o simples desejo de fazê-lo é pecado. Nunca mentiu? Nunca desobedeceu seus pais? Se ele for feito da mesma carne que eu então não posso acreditar no que diz.
No Evangelho de Mateus, Jesus resume a Lei e os Profetas em dois mandamentos: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento e… ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22:37-40). Se este homem realmente amasse o seu próximo como a si mesmo não teria problemas em dar sua fortuna aos pobres, e se amasse a Deus de todo o coração seguiria a Jesus. Mas ele não faz nem uma coisa nem outra, pois amava a si mesmo e às suas riquezas mais que a seu próximo e a Deus.
Seu problema não era a riqueza, mas a avareza. Outros ricos, como Nicodemos e José de Arimateia, não foram testados do mesmo modo porque não confiavam nas riquezas e queriam seguir a Jesus.
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Camelo em buraco de agulha
O rico saiu decepcionado da conversa com Jesus. Seu coração revelara que ele só se importava consigo mesmo e com suas riquezas. Você já buscou a Deus e saiu decepcionado? O problema não estava em Deus, mas em suas prioridades. Talvez você tenha ido a ele pensando no que iria ganhar, quando devia pensar no que iria perder: seus pecados. Você só pede por socorro quando sente a lama bater no queixo e percebe que irá perecer.
O primeiro clamor de um pecador convicto não é por riqueza, saúde ou algum outro benefício, mas para que Deus o purifique de seus pecados, algo que homem algum consegue fazer. Deus pergunta, através do profeta Jeremias: “Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal” (Jr 13:23).
Será que você acredita ser capaz de escapar do juízo eterno sendo bom? Isso é tão impossível quanto fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha. O pecado fez de você réu culpado e merecedor do juízo, e a única saída é aceitar o perdão divino. Um condenado pode ser liberto se cumprir sua pena ou receber um perdão judicial. É o caso de uma mãe culpada de causar a morte de um filho por acidente. Primeiro o juiz a condena e depois a isenta da pena concedendo o perdão por misericórdia.
Nem pense em cumprir a pena imposta por Deus para seus pecados, pois ela é eterna. Então só lhe resta confiar na misericórdia divina e clamar por perdão. Trata-se de um perdão que decorre de uma pena cumprida em sua totalidade por um Substituto, Jesus. Na cruz Deus fez dele pecado por nós, derramando sobre ele em três horas de trevas uma eternidade de castigo. Agora, pela fé e por graça, você pode ter um perdão completo, independente do peso de seus pecados e do juízo que eles mereciam.
Jesus comenta: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Mas ele respondeu: os impossíveis dos homens são possíveis para Deus” (Lucas 18:24-27). Em seus devaneios os teólogos ficam discutindo se “camelo” seria uma corda de amarrar navio e “agulha” um portão estreito. Mas o assunto de Jesus é a impossibilidade de o homem salvar-se a si mesmo. Então nos próximos 3 minutos vem Pedro e pergunta: “E o que eu ganho com isso?”
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Muitas vezes mais
Quando os discípulos veem que o homem rico preferiu conservar suas riquezas a seguir a Jesus, Pedro comenta: “Nós deixamos tudo o que tínhamos para seguir-te!”. O Senhor, então, responde: “Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pai ou filhos por causa do Reino de Deus deixará de receber, na presente era, muitas vezes mais, e, na era futura, a vida eterna” (Lucas 18:28-30).
No fundo o que Pedro quer saber é o que ganhará por ter trocado o que tinha nesta vida para seguir a Jesus. Este raciocínio é natural ao coração humano. Se existir em nós qualquer desejo de seguir a Jesus esse desejo será egoísta e interesseiro. Uma leitura distraída da resposta de Jesus dada a Pedro pode parecer indicar que nossa disposição de deixar nossos bens para seguir o Senhor seria recompensada com a garantia de vida eterna.
Mas é preciso lembrar que Jesus tinha acabado de comentar que a salvação “é impossível para os homens”, mas “é possível para Deus” (Lucas 18:27). Ou seja, nada do que fazemos irá nos garantir a vida eterna. Esta só pode ser recebida por graça, e isto fica patente desta afirmação de Jesus e de muitas outras passagens das Escrituras, como a de Efésios 2:8-10: “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.”.
Então o que significa a resposta de Jesus a Pedro? Que a pessoa salva pela fé em Cristo é transformada em um instrumento de Deus para “boas obras”, as quais incluem o desapego pelas coisas materiais e pelos vínculos afetivos, e até a disposição para abrir mão disso se esta for a direção recebida de Deus. Esse desapego é fruto de um coração que recebeu a salvação por graça.
Além disso, de uma certa maneira aquele que crê recebe, na vida presente, “muitas vezes mais… casa, mulher, irmãos, pai ou filhos” no sentido de encontrar nos milhares de irmãos em Cristo aquilo que talvez não tenha encontrado nos bens e parentescos desta vida. Esse mesmo desapego pelas coisas do aqui e agora faz o crente desfrutar melhor das coisas que são eternas. O que Jesus revela aos discípulos nos próximos 3 minutos é prova disso, ou seja, de como ele tinha vindo ao mundo, não para salvar sua própria vida, mas para entregá-la numa cruz de dor e humilhação.
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Critério de auto referência
Depois de tranquilizar a Pedro, preocupado com o que iria ganhar por ter deixado tudo para segui-lo, Jesus faz uma revelação surpreendente. Ele, que “sendo rico, se fez pobre” (2 Co 8:9) por amor de nós, iria entregar seu bem mais precioso, a própria vida, para que pudéssemos ser salvos.
“Jesus chamou à parte os doze e lhes disse: ‘Estamos subindo para Jerusalém, e tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá. Ele será entregue aos gentios que zombarão dele, o insultarão, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão. No terceiro dia ele ressuscitará’. Os discípulos não entenderam nada dessas coisas. O significado dessas palavras lhes estava oculto, e eles não sabiam do que ele estava falando” (Lucas 18:31-34).
Pela terceira vez Jesus avisa que irá morrer, mas os discípulos não compreendem. Eles sabiam que Jesus corria o risco de cair numa emboscada ou ser apedrejado em um ato espontâneo por suas críticas contra o clero. Mas ser entregue às autoridades romanas significava um julgamento formal. E como poderia ele ser julgado e condenado à morte sem ter cometido crime algum?
Ele avisa que “tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá”, e se eles tivessem buscado nas Escrituras teriam visto muitas referências à humilhação e morte do Messias antes de ele vir em glória como libertador. “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras” (Mt 22:29), dissera ele aos fariseus em outra ocasião. Apesar de copiarem, estudarem e pregarem as Escrituras todos os dias, os religiosos judeus julgavam tudo pelo critério de auto referência, que é quando você analisa as coisas com base em ideias preconcebidas e não segundo a verdade.
Mais tarde, os próprios discípulos no caminho para Emaús demonstrariam sua frustração com a morte de Jesus, pois pensavam exatamente como os religiosos. Eles diriam: “Nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel” (Lucas 24:20-21). As referências à morte do Messias eram abundantes nos Salmos e nos livros dos profetas, mas o povo tinha sido cegado pelo ensino errôneo dos escribas, fariseus e sacerdotes. E você, confere na Bíblia tudo o que escuta por aí ou simplesmente acredita nas ideias preconcebidas da religião humana?
Nos próximos 3 minutos um cego faz Jesus parar.
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Incapaz de fazer
Jesus passa por Jericó e à beira do caminho há um mendigo cego que, ao ouvir o ruído da multidão, pergunta o que está acontecendo. A resposta é que “Jesus de Nazaré está passando” (Lucas 18:35). Jesus era de Belém, mas por ter sido criado em Nazaré alguns o chamavam assim. Os nascidos em Nazaré eram discriminados, como você percebe na passagem do Evangelho de João, quando Natanael é informado por Filipe que haviam encontrado o Messias, “Jesus de Nazaré, filho de José”. Natanael contestou: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?” (Jo 1:45-46).
Mas se os homens dizem que é “Jesus de Nazaré”, não é assim que o cego o chama. Ele “se pôs a gritar: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lc 18:38). Chamá-lo de “Filho de Davi” era tratá-lo com a dignidade real que ele merecia. “Os que iam adiante o repreendiam para que ficasse quieto”, talvez embaraçados com o escândalo causado pelo cego, “mas ele gritava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lucas 18:39). O que acontece a seguir é significativo: “Jesus parou” (Lucas 18:40).
Em um episódio no Antigo Testamento, quando o anoitecer poderia atrapalhar a vitória de Israel sobre o inimigo, “Josué exclamou ao Senhor, na presença de Israel: ‘Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó lua, sobre o vale de Aijalom!’ O sol parou, e a lua se deteve, até a nação vingar-se dos seus inimigos” (Js 10:12-13). O Senhor é capaz de fazer o sol parar no meio do alto céu, mas aqui vemos um cego capaz de fazer o Senhor parar na terra.
Lemos em Isaías 57:15: “Assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: ‘Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito’”. Um pouco antes vimos um rico saudável perguntar a Jesus: “Que farei para herdar a vida eterna?” (Lucas 18:18). Agora vemos um cego pobre que clama por misericórdia por saber que é incapaz de fazer coisa alguma. E como poderia, se precisou da ajuda de outros para saber que Jesus passava e ser levado a ele?
É Jesus quem pergunta: “‘O que você quer que eu lhe faça?’ ‘Senhor, eu quero ver’, respondeu ele. Jesus lhe disse: ‘Recupere a visão! A sua fé o curou’. Imediatamente ele recuperou a visão; e seguia a Jesus glorificando a Deus. Quando todo o povo viu isso, deu louvores a Deus” (Lucas 18:41-43). E você? Ainda está querendo saber o que fazer para ser salvo ou se reconhece incapaz ao ponto de deixar que Jesus faça por você?
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Vergonha
No capítulo 18 de Lucas vimos um rico, que idolatrava suas riquezas, rejeitar Jesus. Na ocasião Jesus comentou: “Como é difícil aos ricos entrarem no Reino de Deus!”, e quando os discípulos perguntaram, “Então, quem pode ser salvo?”, Jesus respondeu: “O que é impossível para os homens é possível para Deus” (Lucas 18:24-27). O capítulo 19 começa com Jesus em Jericó e “havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos” (Lucas 19:1-2). Jesus mostra agora como o “impossível para os homens”, isto é, alguém salvar-se a si mesmo, “é possível para Deus”.
É significativo o fato de Zaqueu morar em Jericó, cidade amaldiçoada no capítulo 6 do livro de Josué. Jesus irá libertar Zaqueu da maldição do pecado que assola cada coração humano. Ao contrário do rico do capítulo anterior, que queria guardar a Lei mais para ter boa reputação diante dos homens do que diante de Deus, Zaqueu não dá a mínima importância à sua riqueza e posição social. Ele está disposto a se expor ao ridículo para conhecer a Jesus. Por ser baixinho, Zaqueu sobe numa figueira brava, árvore cujo fruto é de má qualidade e uma figura da incapacidade do ser humano pecador de produzir bons frutos para Deus.
Zaqueu não quer ver a Jesus por curiosidade, ganância de prosperidade ou necessidade de cura. Ele é rico e saudável. Seu foco está na Pessoa de Jesus. Se no capítulo anterior Jesus parou por causa de um cego que não tinha vergonha de gritar por misericórdia, mesmo sendo criticado pela multidão, aqui ele se detém para falar com um rico que não tem medo do que as pessoas irão pensar dele. Espero que você não esteja entre os que estão mais preocupados com a própria reputação do que com a salvação.
Muitos não confessam fé em Jesus para não serem ridicularizados, porém Jesus declarou: “Quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus” (Lucas 12:8-9). Uma fé genuína em Jesus inclui crer de coração em sua Pessoa, morte e ressurreição, e também confessar com a boca sujeição a ele. “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação” (Rm 10:9-10). Você prefere passar vergonha diante de Deus ou dos homens?
Nos próximos 3 minutos Jesus chama Zaqueu pelo nome.
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Zaqueu
Zaqueu é um homem de baixa estatura que deseja ver Jesus passar e, por causa da multidão, sobe numa árvore. “Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: ‘Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje’. Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria” (Lucas 19:5-6). Como Jesus sabia o nome daquele coletor de impostos trepado numa figueira brava? Porque ele é Deus, o Senhor.
O profeta Isaías escreve acerca de um rei, dizendo: “Eu sou o Senhor… que diz acerca de Ciro: ‘Ele é meu pastor, e realizará tudo o que me agrada; ele dirá acerca de Jerusalém: ‘Seja reconstruída’, e do templo: ‘Sejam lançados os seus alicerces’” (Is 44:24-28). Detalhe: Isaías escreveu estas linhas e citou o nome de um rei que iria nascer uns 150 anos depois. Como ele poderia saber? Por revelação divina, como tudo mais nas Escrituras.
Deus sabe o nome de cada pessoa que viveu, vive e viverá, e também “determina o número de estrelas e chama cada uma pelo nome” (Sl 147:4). Os astrônomos não sabem quantas estrelas existem e já não conseguem dar nomes as recém descobertas. Hoje elas são chamadas por códigos alfanuméricos. Mas Jesus sabe o nome das estrelas, de Zaqueu e também o meu e o seu. Ele diz a Zaqueu: “Quero ficar em sua casa hoje” e Zaqueu “desceu rapidamente e o recebeu com alegria” (Lucas 19:5-6). Não seria esta também sua reação se Jesus quisesse se hospedar em sua casa? Certamente você o receberia alegremente e de portas abertas. Ou não?
A oposição formada por “todo o povo” logo condena a iniciativa de Jesus. “Ele se hospedou na casa de um ‘pecador’” (Lucas 19:7), dizem eles, como se aquele que sabe o nome das estrelas não conhecesse cada pecado de Zaqueu. Incomodado com os comentários, Zaqueu tenta se justificar: “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19:8).
Esta é a versão mais correta da passagem, e não as que parecem apontar que Zaqueu teria decidido agir assim como consequência da visita de Jesus. Isto porque não é com base em um bom proceder que a salvação entra na casa de Zaqueu, mas por graça e como resposta a uma fé genuína igual à de Abraão, que “creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gl 3:6). Por isso Jesus diz: “Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lucas 19:9-10). Se você ainda está perdido, faça como Zaqueu: receba a Jesus com alegria.
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Desde quando?
No episódio anterior conhecemos Zaqueu, um pecador perdido que dava metade de seus bens aos pobres e restituía quadruplicado algum imposto cobrado a mais. Porém não foi por suas boas obras que o Senhor lhe declarou: “Hoje houve salvação nesta casa!”. Zaqueu foi salvo por pertencer à linhagem dos filhos Abraão, aquele cuja “fé lhe foi creditada como justiça” e é chamado de “pai de todos os que creem” (Rm 4:9-11).
Será que você também é da descendência de Abraão? Se for, então não tentará apoiar sua salvação em suas boas obras, mas na graça de Deus. Pois “a promessa vem pela fé, para que seja de acordo com a graça e seja assim garantida a toda a descendência de Abraão” (Rm 4:16). Repare nas palavras “promessa”, “fé”, “graça” e “garantida”. Assim é a salvação: ela foi prometida pelo Deus que não pode mentir, é recebida por fé, não por obras, vem de graça e é garantida, isto é, impossível de se perder.
Mas desde quando Deus teria concebido uma tal salvação? Quando teria começado a se interessar por Zaqueu, por mim ou por você? Por cinco vezes a Bíblia fala de um tempo antes da existência do tempo, e você ficará surpreso ao saber que, na eternidade Deus já estava interessado em Zaqueu, em mim e em você. Então já estávamos nos pensamentos de Deus.
Tudo começa com o amor do Pai pelo Filho eterno, Jesus, que diz: “Pai… [tu] me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17:24). Descobrimos então que “Deus nos escolheu nele [em Cristo] antes da criação do mundo… [e] em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos” (Ef 1:4-5). Para isso Deus preparou “um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo” (1 Pe 1:20).
Se você já creu em Jesus como seu Salvador, saiba que ele “nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos” (2Tm 1:9). Sabemos também que a “fé e o conhecimento da verdade que conduz à piedade… se fundamentam na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos” (Tt 1:1-2).
Agora, quando lhe perguntarem quando Deus começou a amar você, a melhor resposta é “nunca”, pois ele sempre amou, “antes da criação do mundo”, “antes dos tempos eternos”, antes mesmo de você existir.
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Na esfera do Reino
No episódio anterior Jesus declarou que a salvação havia entrado na casa de Zaqueu, mas não por merecimento de Zaqueu. A salvação é recebida por fé, a mesma fé de Abraão, chamado de “pai de todos os que creem” (Rm 4:9-11). Agora Jesus vai falar da responsabilidade daquele que crê com o coração e com a boca confessa que Cristo é seu Senhor. Se a salvação é recebida por graça e mediante a fé, a recompensa é recebida pelas obras e pelo modo como o crente utiliza o que recebeu de Deus.
Mas antes Jesus precisava esclarecer algo. Com sua presença no mundo aqueles judeus “foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir” (Hb 6:4-5), ou seja, do reino do Messias. Agora, “porque [Jesus] estava perto de Jerusalém o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato” (Lucas 19:11). Porém os profetas indicavam uma ausência do Messias entre sua primeira vinda e o estabelecimento do Reino em glória. O profeta Daniel dissera: “O Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele” (Dn 9:26).
O Reino de Deus aparece em diferentes aspectos no Novo Testamento. João Batista veio como precursor do Rei para anunciar esse reino. Seu discurso era: “O tempo é chegado… O Reino de Deus está próximo” (Mc 1:15). Então, no início de seu ministério, Jesus declarou, “O Reino de Deus está entre vocês” (Lucas 17:21), pois ele, o Rei, estava entre eles ainda que o reino não tivesse sido estabelecido em poder. Após Jesus morrer, ressuscitar e subir aos céus, o Reino permanece na terra em sua ausência e dele fazem parte os que se sujeitam a Cristo, vivendo segundo os princípios que ele estabeleceu para o seu Reino. Esses são os “bem aventurados” dos capítulos 5 de Mateus e 6 de Lucas.
Fica fácil entender se nos lembrarmos da História do Brasil. Quando D. João VI transferiu o reino para as terras brasileiras, Portugal foi invadido e dominado por Napoleão. Os portugueses que continuaram a viver em Portugal permaneceram sujeitos a um rei ausente, falando a língua e praticando os costumes desse reino, mesmo vivendo em terras tomadas pela França. Assim vivem os cristãos no Reino de Deus, um reino cujo Rei viajou para o céu e prometeu voltar. E é exatamente assim que Jesus começa a parábola que veremos nos próximos 3 minutos, quando “um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar” (Lucas 19:12).
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A parábola das minas
Jesus conta uma parábola: “Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar. Então, chamou dez dos seus servos e lhes deu dez minas. Disse ele: ‘Façam esse dinheiro render até à minha volta’. Mas os seus súditos o odiavam e depois enviaram uma delegação para lhe dizer: ‘Não queremos que este homem seja nosso rei’. Contudo, foi feito rei e voltou. Então mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber quanto tinham lucrado.” Será bom você ler Lucas 19:12-27 para conhecer a história completa.
Jesus está se referindo ao fato de o povo pensar “que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato” (Lucas 19:11). Mas não. Antes de voltar para reinar Jesus teria de morrer, ressuscitar e ser glorificado. Jesus é esse “homem de nobre nascimento” da parábola que agora está nessa “terra distante” de onde prometeu voltar. Os judeus são os que declararam “Não queremos que este homem seja nosso rei” (Lucas 19:14) e “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25), ao rejeitarem seu testemunho em vida e assumirem a responsabilidade por sua morte.
Na continuação da parábola o Rei volta e passa a indagar dos servos quanto tinha rendido os recursos que cada um recebeu para administrar. O primeiro fez a “mina” ou moeda que recebeu render “outras dez”, e seu empenho é premiado com a responsabilidade de governar sobre “dez cidades”. O segundo transformou uma moeda em cinco e foi posto sobre cinco cidades. O terceiro não negociou com a moeda e nem teve a iniciativa de investi-la para render juros, e ainda culpa o Rei por seu marasmo: “Tive medo, porque és um homem severo. Tiras o que não puseste e colhes o que não semeaste” (Lucas 19:21).
Aquela era a opinião que o mau servo tinha do Rei, que aproveita para julgá-lo segundo suas próprias palavras e recompensar o que mais multiplicou o dinheiro. O Rei diz: “‘Tomem dele a sua mina e deem-na ao que tem dez’. ‘Senhor’, disseram, ‘ele já tem dez!’ Ele respondeu: ‘Eu lhes digo que a quem tem, mais será dado, mas a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado.’”(Lucas 19:23-26). Enquanto os dois primeiros servos representam cristãos genuínos, este último pode tanto representar um falso professo como também um que será “salvo como alguém que escapa através do fogo”(1 Co 3:15), sem nada ter construído para Deus.
Mas este é um assunto que voltaremos a abordar nos próximos 3 minutos.
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Sacrifício vivo
Na parábola deste capítulo vimos dois servos úteis e um inútil e ignorante do caráter de seu senhor. Os dois primeiros foram recompensados por sua iniciativa, enquanto o terceiro foi censurado por sua apatia. Sua desculpa se baseou no que ele pensava de seu senhor. Será que você está entre os que têm a mesma opinião a respeito de Deus? Você o considera um Deus severo, que tira o que não deu e colhe o que não plantou? Esta é a opinião daqueles que acusam Deus de querer privá-los dos prazeres desta vida.
Se tal atitude já é reprovável nos incrédulos, que ignoram que Deus “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt 5:45), quanto mais nos que dizem crer em Jesus. Nós, os que cremos no Salvador, fomos “lavados… santificados… justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1 Co 6:11), e estamos prontos a ocupar um lugar no céu. Se somos deixados na terra é “para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:10), e não para vivermos “como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos” (Ef 4:17).
Talvez você alegue ser incapaz de fazer algo para Deus, mas será que não pode orar e interceder pelos que fazem? Talvez sua desculpa seja falta de dinheiro, esquecendo-se da pobre mulher que tinha apenas duas moedas e foi elogiada pelo Senhor por sua liberalidade. Ainda que não tenha coisa alguma, você ainda tem a si mesmo para oferecer. Na carta aos Romanos Paulo exorta os cristãos a oferecerem o próprio corpo “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, chamando a isto de “culto racional” (Rm 12:1).
Quando Jesus entregou-se a Deus como sacrifício por mim e por você, aquilo significou sua morte. Mas quando um crente é convidado a sacrificar-se para Deus isto significa entregar-se vivo — seu corpo, seu trabalho, sua adoração e seus bens. Mas nosso sacrifício não é para remover pecados, pois Deus proveu o sacrifício perfeito, Cristo, “oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos” (Hb 9:28).
Além dos dois servos úteis e do inútil, existe na parábola uma outra classe de pessoas, das quais o Rei declara: “Aqueles inimigos meus, que não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam-nos aqui e matem-nos na minha frente!” (Lucas 19:27). Esses representam os judeus que não querem se sujeitar a Cristo, algo que até um jumento xucro se dispõe a fazer nos próximos 3 minutos.
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O jumento xucro
Em seu caminho em direção a Jerusalém Jesus envia “dois dos seus discípulos, dizendo-lhes: ‘Vão ao povoado que está adiante e, ao entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, no qual ninguém jamais montou. Desamarrem-no e tragam-no aqui. Se alguém lhes perguntar: ‘Por que o estão desamarrando?’ digam-lhe: ‘O Senhor precisa dele.’”. Os discípulos fazem como lhes fora ordenado. Depois, “lançaram seus mantos sobre o jumentinho e fizeram que Jesus montasse nele” (Lucas 19:28-35).
O jumento xucro representa o homem religioso, ainda amarrado à Lei dada a Moisés para restringir seus passos e impedir que ele se comporte como um animal selvagem. Paulo explica que “antes que viesse esta fé, estávamos sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor” (Gl 3:23-25).
Jesus ordena aos discípulos que desamarrem o jumento para este poder ser útil e transportar o Senhor. Hoje cada crente em Cristo está liberto da Lei e pode servir a Cristo levando alegremente o seu nome e testemunho neste mundo como prova de gratidão, e não por obrigação. Os fariseus costumavam fazer o contrário: Atavam “fardos pesados e difíceis de suportar” (Mt 23:4) e os colocavam nos ombros dos homens, apesar de eles próprios não desejarem carregá-los. Muitos líderes religiosos fazem o mesmo hoje com seus seguidores, alheios ao fato de que a salvação não é recebida por mérito ou pela guarda da Lei, mas por graça.
Por outro lado, há também os que compreendem que sua salvação é por graça, porém estão interessados apenas em se verem livres das amarras. Se o jumento tivesse apenas sido solto, que utilidade teria para o Senhor? Todavia, “o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:14-15).
Depois de liberto da Lei, do pecado e da condenação, para quem você vive? Como tem empregado sua vida aqui? Que utilidade você tem para Deus?
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Bendito é o Rei
Lucas descreve a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: Os discípulos “lançaram seus mantos sobre o jumentinho e fizeram que Jesus montasse nele. Enquanto ele prosseguia, o povo estendia os seus mantos pelo caminho. Quando ele já estava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar a Deus alegremente, em alta voz, por todos os milagres que tinham visto: ‘Bendito é o rei que vem em nome do Senhor!’ ‘Paz no céu e glória nas alturas!’” (Lucas 19:35-38).
A cena do homem gentil que estende seu casaco sobre a poça de lama para a mulher passar é bem conhecida nos romances. E é nessa disposição que as pessoas estendem suas vestes para forrar o caminho de Jesus. Ele não está montado num possante cavalo, como faria um rei conquistador. Isso ele ainda fará, como revela o Livro do Apocalipse: “Vi o céu aberto e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça. Seus olhos são como chamas de fogo” (Ap 19:11-12). Aqui ele monta humildemente um jumentinho, pois entra em Jerusalém para morrer e salvar, e não para conquistar e julgar.
A multidão o exalta “por todos os milagres que tinham visto”, porém Deus coloca em suas bocas o devido louvor: “Bendito é o rei que vem em nome do Senhor”, e “Paz no céu e glória nas alturas”, anunciam “alegremente, em alta voz”. É fácil perceber a origem divina dessas palavras, pois quando “alguns dos fariseus que estavam no meio da multidão disseram a Jesus: ‘Mestre, repreende os teus discípulos!’ ‘Eu lhes digo’, respondeu ele, ‘se eles se calarem, as pedras clamarão’”. (Lucas 19:39-40). Aquele que seria capaz de fazer as pedras clamarem é quem faz sair louvor da boca daquelas pessoas, mesmo que não entendessem o que falavam.
Em Lucas 2:14 os anjos proclamavam “Glória a Deus nas alturas”, e depois “paz na terra”. Mas aqui o Rei já foi rejeitado e não se fala em “paz na terra”, pois esta ficará devastada antes que ele volte para reinar. Aqui o clamor divinamente inspirado diz “Paz no céu” e só depois “Glória nas alturas”. Antes que a paz venha sobre a terra Jesus precisa morrer, ressuscitar e ser glorificado, cumprindo assim a única obra capaz de garantir “paz no céu” e “Glória nas alturas”. Se você é daqueles que acreditam na possibilidade de paz neste mundo sinto dizer que está iludido. Nenhuma paz haverá até Cristo voltar para reinar, mas seria bom você atentar para o fato de a paz já ter sido resolvida no céu, e é disto que iremos falar nos próximos 3 minutos.
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Paz no céu
Costumamos pensar na obra de Cristo apenas no sentido de nos salvar, mas sua morte, ressurreição e glorificação “à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1:3) têm uma abrangência bem maior. Antes de Adão e Eva caírem em pecado houve outra queda envolvendo Satanás, o “querubim guardião” (Ez 28:14). Aquilo criou uma situação estranha, pois tanto os anjos fieis a Deus como “as forças espirituais do mal”, contra as quais o cristão é exortado a lutar, passaram a compartilhar de uma mesma esfera “nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Por isso nos capítulos 1 e 2 do Livro de Jó você encontra Satanás no céu e Apocalipse 12 revela a futura expulsão de Satanás e seus anjos com estas palavras:
“Houve uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar no céu. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. Então ouvi uma forte voz do céu que dizia: ‘Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite’” (Ap 12:7-10).
A vitória de Miguel e seus anjos contra os rebeldes do céu só será possível no futuro porque na cruz Jesus esmagou a cabeça da serpente, como havia sido predito no Jardim do Éden. Não foi por intermédio de anjos que Deus selou a sorte de Satanás, o querubim mais elevado na hierarquia angelical, mas por meio de um Homem, Jesus, descendente da mulher que o diabo enganou no princípio. Por isso o evangelho está entre as “coisas que até os anjos anseiam observar” (1 Pe 1:12) e buscam conhecer a “multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3:10) manifestada através da Igreja.
“Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz. Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação” (Cl 1:19-22).
Nos próximos 3 minutos Jesus chora.
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“Vocês não quiseram!”
“Quando se aproximou e viu a cidade [Jerusalém], Jesus chorou sobre ela e disse: ‘Se você compreendesse neste dia, sim, você também, o que traz a paz! Mas agora isso está oculto aos seus olhos. Virão dias em que os seus inimigos construirão trincheiras contra você, e a rodearão e a cercarão de todos os lados. Também a lançarão por terra, você e os seus filhos. Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus a visitaria’”. (Lucas 19:41-44).
Duas passagens nos Evangelhos falam de Jesus chorando. Em João 11:35, quando Lázaro morreu, ele chorou, mas não um pranto de luto, pois sabia que traria Lázaro de volta da morte. Ele chorou por Marta e Maria, irmãs de Lázaro, e pela ruína causada pelo pecado. No original, a palavra grega para o choro das irmãs tem o sentido de pranto. A palavra usada para o choro de Jesus significa que verteu lágrimas em silêncio. Mas o choro à entrada de Jerusalém é de pranto, de profunda desolação.
A vinda de Jesus havia sido acompanhada da promessa de “paz na terra” (Lucas 2:14), mas os judeus rejeitaram seu Messias, apesar dos avisos dos profetas que tinham vindo antes dele. Ele já havia se lamentado disso em Lucas 13:34, quando disse: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’”.
Agora preste muita atenção nesta frase de Jesus ao falar dos judeus: “Vocês não quiseram”. Por não desejarem o Príncipe da Paz tudo o que restava para eles seriam guerras. Não é surpresa, portanto, toda a desgraça que caiu sobre esse povo nos últimos dois mil anos. O profeta Oseias revela o sentimento por detrás desse pranto de Jesus: “Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho… Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los… O meu coração está enternecido” (Os 11).
Agora pense em seu destino se um dia Jesus precisar dizer de você que, por mais que tenha tentado atrair sua atenção, você não quis recebê-lo.
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De mercadores a assassinos
No início de seu ministério Jesus viu no pátio do templo “alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro” e, enquanto expulsava os comerciantes e cambistas, disse: “Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!” (Jo 2:14-16). Agora, no final de seu ministério, mais uma vez ele “entrou no templo e começou a expulsar os que estavam vendendo”, dizendo: “A minha casa será casa de oração; mas vocês fizeram dela um covil de ladrões.’” (Lucas 19:45-46).
É um erro aplicar estas passagens ao comércio nas dependências das chamadas ‘igrejas’, pois isto seria dar a esses templos o mesmo status do Templo em Jerusalém. Deus não autorizou a construção de nenhum templo cristão, portanto os chamados ‘templos’ da cristandade não têm qualquer valor para Deus. Na atual dispensação o Senhor Jesus prometeu estar no meio de dois ou três congregados ao seu Nome. O que importa não são as paredes usadas para reunir os cristãos, mas aquele em torno de quem o Espírito Santo os reúne.
Também é um erro chamar esses edifícios de “casa de Deus”, pois “a casa de Deus… é a igreja do Deus vivo” (1Tm 3:15). Fazer de quatro paredes o elemento reunidor é perder de vista o Espírito Santo, o único que reúne os crentes em torno de Cristo. Colocar um homem à frente como “pastor” do rebanho é desprezar a liderança do Senhor, que “chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora [do aprisco]” (Jo 10:3-4). Acrescentar ao cristão uma denominação é desonrar o nome que está acima de todo nome — Cristo — dado “como cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas” (Ef 1:21-23).
O corpo de Cristo é perfeito e indivisível, mas a casa de Deus, a esfera da profissão cristã, foi arruinada pelo homem. A “casa de Deus… coluna e fundamento da verdade” (1Tm 3:15) se transformou numa “grande casa” onde “há vasos… para fins honrosos, outros para fins desonrosos” (2Tm 2:20), principalmente por causa daqueles que “pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6:5). Em Israel o comércio associado às coisas de Deus foi só o começo. Na primeira limpeza do Templo Jesus chamou a “casa de Deus” de “mercado”, mas agora a chama de “covil de ladrões” que se transformariam em assassinos, pois “Os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes do povo procuravam matá-lo” (Lucas 19:47).
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Com que autoridade?
“Quando Jesus estava ensinando o povo no templo e pregando as boas novas, chegaram-se a ele os chefes dos sacerdotes, juntamente com os mestres da lei e os líderes religiosos, e lhe perguntaram: ‘Com que autoridade estás fazendo estas coisas? Quem te deu esta autoridade?’” (Lucas 20:1-2). A pergunta dos líderes religiosos é pretensiosa. Eles se acham capazes de julgar a resposta de Jesus e decidir se ele tem ou não autoridade para ensinar. Ao fazerem isso estão se colocando acima do próprio Senhor e fazendo-se juiz dele. Jesus responde com uma pergunta para ver se eles têm competência para julgar sua autoridade.
“Digam-me: ‘O batismo de João era do céu, ou dos homens?’ Eles discutiam entre si, dizendo: ‘Se dissermos: ‘do céu’, ele perguntará: ‘Então por que vocês não creram nele?’ Mas se dissermos: ‘dos homens’, todo o povo nos apedrejará, porque convencidos estão de que João era um profeta. Assim, responderam: ‘Não sabemos de onde era’. Disse então Jesus: ‘Tampouco lhes direi com que autoridade estou fazendo estas coisas.’” (Lucas 20:3-8).
Os líderes religiosos revelam assim a sua total incompetência para julgar as coisas divinas. Seu orgulho era tão grande que já haviam abandonado as Escrituras e adotado a si mesmos, seus dogmas e tradições como referencial para julgar. A cristandade segue o mesmo caminho ao adotar títulos acadêmicos para certificar quem está ou não capacitado para falar da parte de Deus. Mas a verdade é que “quando ele [Cristo] subiu em triunfo às alturas… deu dons aos homens… e designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:7-12).
Hoje homens outorgam a outros homens dons que só podem ser dados por Cristo. Ordenam ao ministério e enviam para a obra aqueles que cumprem um currículo acadêmico, esquecendo-se de que a seara é do Senhor e que ele próprio ensinou que devíamos pedir “ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua seara” (Mt 9:38). Homem algum pode enviar outro homem. Pode, no máximo, impor suas mãos em comunhão com aquele que o Espírito Santo envia, reconhecendo assim o mover de Deus, mas nunca querer fazer algo que cabe ao Senhor e ao Espírito.
Nos próximos 3 minutos Jesus conta uma parábola sob medida.
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Pedra de tropeço
Jesus conta uma parábola e “Os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes… perceberam que era contra eles que ele havia contado” (Lucas 20:19). Às vezes você escuta o evangelho e pensa: “Fulano devia ouvir isso…”. Mas e se Deus estiver querendo falar com você? Aqui os fariseus entenderam que o recado era para eles, mas ao invés de se arrependerem, endureceram ainda mais seus corações. Será que você está entre os que endurecem o coração ou entre os que aceitam alegremente as boas novas de salvação?
O evangelho é um divisor de águas que revela os que estão destinados à vida eterna e os que querem continuar inimigos de Deus. Foi o que aconteceu em Antioquia da Pisídia, quando o resultado da pregação de Paulo e Barnabé foi a divisão dos ouvintes entre salvos e perdidos: “Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna… Mas os judeus incitaram as mulheres piedosas de elevada posição e os principais da cidade e, provocando perseguição contra Paulo e Barnabé, os expulsaram do seu território” (At 13:48-50).
A parábola de Jesus previa a rejeição da parte dos judeus. Nela um homem que planta uma vinha, arrenda a terra a alguns lavradores e viaja para longe. A cada colheita ele envia um funcionário para receber sua parte do arrendamento, mas os arrendatários espancam e humilham cada um deles, expulsando-os de mãos vazias. “Então o proprietário da vinha disse: ‘Que farei? Mandarei meu filho amado; quem sabe o respeitarão’. Mas quando os lavradores o viram, combinaram entre si dizendo: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. Assim, lançaram-no fora da vinha e o mataram. O que lhes fará então o dono da vinha? Virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros”. (Lucas 20:13-16).
A vinha representa Israel, que Deus formou para dar fruto para si, mas os judeus falharam miseravelmente e perderam por um tempo sua posição de testemunho, o qual foi entregue à Igreja. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Lucas 20:17). Em outro evangelho Jesus diria a Pedro, “sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18), e mais tarde Pedro, em sua carta, identificaria Jesus como a “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1 Pe 2:4). Para os que creem em Cristo, “esta pedra é preciosa; mas para os que não creem, a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular, pedra de tropeço e rocha que faz cair” (1 Pe 2:7-8).
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A Deus o que é de Deus
Primeiro “os chefes dos sacerdotes, juntamente com os mestres da lei e os líderes religiosos” (Lucas 20:1) quiseram questionar a autoridade de Jesus tentando acusá-lo de ser uma fraude. Mas a estratégia falhou e foram desmascarados. Agora eles mandam “espiões, que se fingiam justos, para apanhar Jesus em alguma coisa que ele dissesse, de forma que o pudessem entregar ao poder e à autoridade do governador” (Lucas 20:20).
Em Apocalipse o apóstolo João viu a Jesus e disse que “seus olhos eram como chama de fogo” (Ap 1:14). Como um moderno raio laser, o olhar do Senhor penetra todas as coisas. Imagine a ingenuidade dos líderes religiosos enviando “espiões, que se fingiam justos, para apanhar Jesus em alguma coisa” (Lucas 20:20). E você, já tentou parecer justo aos olhos de Deus, fingindo-se capaz de viver de modo a merecer o céu?
Aplicar uma maquiagem de religião não vai funcionar. Basta um olhar penetrante do Senhor para o seu rímel derreter, sua base virar meleca e o lápis dos olhos escorrer como negras lágrimas. É assim que Deus nos vê quando fingimos ser justos. A única solução para o pecador é apresentar-se de cara lavada e convicto de sua culpa, arrependido e crendo que Jesus morreu em seu lugar para pagar por seus pecados. Não com a maquiagem da religião ou das boas obras que Deus é convencido, mas com o “sangue de Jesus” que “nos purifica de todos os nossos pecados” (1 Jo 1:7).
Tentar bajular a Deus com rezas e cerimônias é fazer como esses espiões hipócritas, quando dizem: “Mestre, sabemos que falas e ensinas o que é correto, e que não mostras parcialidade, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade”. Jesus percebe a astúcia deles quando perguntam se seria correto pagar imposto a César. Ele pede uma moeda de um denário e pergunta: “De quem é a imagem e a inscrição que há nela?”. “De César” respondem eles. “Portanto, deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20:21-26). Mais uma vez eles afastam-se em silêncio.
Os judeus estavam sob o domínio de César por terem rejeitado a Deus, e eram obrigados a dar a César o que era de César. E Deus, o que queria? Queria a eles próprios, do mesmo modo como ele quer a mim e a você. Por isso Paulo escreve aos cristãos de Corinto: “Vocês foram comprados por alto preço” (1 Co 6:20), por Jesus ter pago com a própria vida a redenção do pecador. Se você ainda não creu em Jesus continua súdito do “César” ou príncipe deste mundo, que é Satanás.
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Os filhos da ressurreição
Agora é a vez dos saduceus tentarem fazer Jesus cair em contradição. Por não crerem na ressurreição, eles apresentam um caso hipotético de uma viúva que se casa com o cunhado e fica outra vez viúva, e assim sucessivamente até ter sido casada com sete irmãos antes de ela própria falecer. A pergunta se baseava na Lei, que dizia que uma viúva sem filhos deveria se casar com o cunhado, para deste gerar descendência para o marido falecido. A pergunta deles é: “Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?” (Lucas 20:33).
Jesus expõe a ignorância dos que analisam as coisas eternas com a mente carnal. Ele diz: “Os filhos desta era casam-se e são dados em casamento, mas os que forem considerados dignos de tomar parte na era que há de vir e na ressurreição dentre os mortos não se casarão nem serão dados em casamento, e não podem mais morrer, pois são como os anjos. São filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (Lucas 20:34-36).
Os “filhos desta era” são as pessoas em geral, que vivem num mundo onde Deus estabeleceu o matrimônio entre homem e mulher. “O Criador os fez homem e mulher… Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne” (Mt 19:4-5). A “era que há de vir” é a eternidade, mas aqui Jesus fala apenas dos salvos, “Os que forem considerados dignos” de participar da ressurreição “dentre os mortos”, e não “dos mortos” como aparece erroneamente em algumas versões da Bíblia. Os perdidos também ressuscitarão no final, porém apenas para serem lançado vivos no lago de fogo.
Ao dizer que “Os filhos de Deus… que são filhos da ressurreição… não se casarão nem serão dados em casamento, e não podem mais morrer, pois são como os anjos” Jesus mostra que serão imortais e não mais sujeitos às distinções da vida aqui. Aos crentes em Cristo, Paulo escreve: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus… Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3:27, 28). Isto não implica em perda de gênero ou identidade, mas das posições que ocupavam aqui com suas distinções entre homens e mulheres, judeus e gentios ou escravos e livres. Tampouco significa perda de memória ou da afeição dos relacionamentos, pois depois de ressuscitados não seremos menos humanos do que somos aqui.
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Morte e ressurreição
Se Jesus tivesse vindo apenas para servir de exemplo de como deveríamos viver para agradar a Deus, continuaríamos perdidos. Sabe aquela foto na qual você aparece na praia ao lado de amigos e amigas e se sente péssimo, pois a boa forma deles só serve para revelar que você está fora do padrão? Assim é com a perfeição de Jesus. Ela mostra que estamos longe da boa forma espiritual exigida para passarmos pela “porta estreita”, o “Apertado caminho que leva à vida” (Mt 7:14). Jesus era naturalmente “sem pecado” (Hb 4:15), mas nós, “se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1:8).
Embora a vida de Jesus sirva de exemplo, dizer que para ser salvo você precisaria viver como ele viveu não seria “boa notícia”, que é o significado de “evangelho”. Seria uma péssima notícia, pois ninguém iria conseguir. Então o que é o evangelho? Paulo explica: “Quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei… por meio deste evangelho vocês são salvos… Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:1-3).
Ao pregar o evangelho a Cornélio e seus amigos, Pedro falou de “como Jesus andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo”, mas não foi por terem escutado isso que eles foram salvos e receberam o Espírito Santo. Foi só quando Pedro disse que “o mataram, suspendendo-o num madeiro” e que “Deus o ressuscitou no terceiro dia… e que todo aquele que nele crê recebe o perdão dos pecados mediante o seu nome” que “o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem” (At 10:38-44).
A “boa notícia” inclui a ressurreição, por isso Jesus insiste com os mestres da Lei que Deus “não é Deus de mortos, mas de vivos” (Lucas 20:38). Paulo explica que “se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados… Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:12-19). Se o “evangelho” que você tem escutado fala de seguir o exemplo de Jesus para ser salvo, você está sendo enganado. Se não passar de curas, prosperidade e libertação, você está perdendo seu tempo. Um evangelho sem sangue não irá limpar seus pecados, e um evangelho sem ressurreição irá prometer benefícios “só nesta vida”, colocando você entre “Os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19).
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Herói ou Deus?
Agora é a vez de Jesus perguntar aos religiosos judeus: “Como dizem que o Cristo é Filho de Davi? O próprio Davi afirma no Livro dos Salmos: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos como estrado para os teus pés’. Portanto Davi o chama ‘Senhor’. Então, como é que ele pode ser seu filho?” (Lucas 20:41-44). Até aqui os judeus estavam preocupados com os relacionamentos pós-ressurreição, mas Jesus eleva a conversa a um outro nível. Ele fala da natureza eterna do Messias que, apesar de descendente de Davi, existia antes dele e era seu superior. Só alguém que fosse Deus e Homem poderia ser tanto Senhor de Davi quanto seu descendente.
Crer em Cristo implica crer que ele é Deus e Homem; reconhecê-lo como o Criador de todas as coisas e honrar o Filho de Deus com a mesma honra devida ao Pai. “Para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou” (Jo 5:23). Muitos que se dizem cristãos negam a divindade de Cristo e acham que considerá-lo um grande homem ou um espírito elevado seja honrá-lo. Mas por que tantos resistem em admitir sua divindade? Porque somos condicionados a admirar os heróis.
Herói é quem se distingue por sua coragem, habilidade e poder; que é admirado por sua bravura, altruísmo e nobreza de caráter. Herói é nosso modelo ideal — é o mocinho dos filmes, o campeão dos esportes, o bilionário dos negócios que, por seu próprio mérito, conquistou o status de um semideus. Ou seja, herói é alguém que não somos, mas gostaríamos de ser e adotamos como modelo para um dia chegarmos lá.
Todavia, ao reconhecer que Jesus é Deus você vê aniquilada toda a vaidade de tentar ser como ele é por meio de seus esforços. Você é obrigado a admitir que não passa de um pecador e que “Jesus” significa “Jeová Salvador”, o “Deus conosco” (Mt 1:23). Então você deixa de olhar para ele com a admiração de um fã e passa a buscá-lo como um pecador perdido que necessita, não de um herói para servir de exemplo, mas de um Salvador. Você descobre que ele não subiu ao pódio dos heróis, mas que, “embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fp 2:6-8).
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Seminários teológicos?
Recebi um e-mail de alguém em dúvida se devia ler ou não meus livros de comentários bíblicos, pois não encontrou em meu currículo uma formação em teologia. Os cristãos se acostumaram ao modelo judaico de sacerdotes, escribas e doutores da Lei, e não percebem que isso não existe na Igreja. No judaísmo havia um clero intermediando os homens e Deus, mas não na Igreja. Nela todos são “sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 2:5). Hoje alguém que adote o título de “sacerdote” para se distinguir de outros cristãos é um impostor. Todos desfrutam igualmente de “plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus” (Hb 10:19).
Mas não deveria existir na Igreja pessoas aptas a ensinarem as Escrituras? Certamente, e para isso Cristo “deu dons aos homens… com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:8-12). Aprendemos dos dons nas reuniões da igreja, onde “todos podem profetizar”, que significa proferir algo da Palavra de Deus, “de forma que todos sejam instruídos e encorajados” (1 Co 14:31). E podemos adotar a sugestão de Paulo a Timóteo: “As coisas que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar a outros” (2Tm 2:2).
Alguém poderá dizer: “Ah! Eis aí o fundamento para os seminários teológicos!”. Será? Observe que Paulo fala de transmitir a “sã doutrina” (2Tm 1:13) que Timóteo havia escutado dele e que hoje temos nas epístolas, e não na filosofia, sociologia, psicologia, etc., ensinadas nos seminários. O critério para decidir a quem ensinar não seria a capacidade intelectual dos alunos, mas que fossem “homens fiéis”. E tudo o que receberiam seria ensino, e não investidura de autoridade e poder sobre os irmãos.
O modelo judaico de “_mestres da lei”_produziu uma classe de homens versados nas Escrituras, porém inimigos de Deus. Foram eles que ajudaram Herodes quando quis matar o menino Jesus (Mt 2). Serão também os líderes de uma cristandade sem Cristo, a “_grande prostituta”_de Apocalipse 17, os instrumentos do diabo para perseguir os judeus fiéis na “grande tribulação”(Ap 7:14). Por isso Jesus aqui alerta seus discípulos: “Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, e gostam muito de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes… e para disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!”(Lucas 20:45-47).
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A viúva pobre
No capítulo 21 do Evangelho de Lucas “Jesus olhou e viu os ricos colocando suas contribuições nas caixas de ofertas. Viu também uma viúva pobre colocar duas pequeninas moedas de cobre. E disse: ‘Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou mais do que todos os outros. Todos esses deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver’” (Lucas 21:1-4). A divisão de capítulos não existe nos originais, portanto devemos ler este episódio como uma sequência do capítulo 20. E que sequência é essa?
No capítulo 20 encontramos Jesus no templo ensinando e tendo sua autoridade questionada pelos líderes religiosos dos judeus. Então ele conta uma parábola expondo a avareza desses líderes que, à semelhança dos lavradores maus, não teriam escrúpulos em matar o próprio filho do senhor da vinha para ficar com a herança. Eles eram os “pastores de Israel” que apascentavam a si mesmos, comiam a gordura das ovelhas e se vestiam com sua lã, como são descritos em Ezequiel 34. O capítulo termina com o alerta para os discípulos terem cuidado com os “mestres da Lei” que “devoram as casas das viúvas” (Lucas 20:47), ou seja, roubam seus bens.
E o que vemos agora no capítulo 21? Uma dessas viúvas espoliadas pelos mestres da Lei à qual restam apenas duas moedas que ela fielmente coloca na caixa das ofertas do Templo. Nos versículos seguintes Jesus anuncia a total destruição do Templo, e no capítulo 2 do Evangelho de João revela ser o seu corpo o verdadeiro Templo que seria derrubado na morte, porém levantado três dias depois na ressurreição. Apesar de a pobre mulher estar entregando seu dinheiro no lugar que Deus já havia rejeitado, Jesus não a repreende por isso, muito pelo contrário. Ele elogia sua fidelidade.
Assim é também com as pobres viúvas que hoje são enganadas por falsos pastores que se apascentam a si mesmos nos falsos templos da cristandade. À semelhança dos líderes judeus eles “serão punidos com maior rigor” (Lucas 20:47), mas elas recompensadas por sua fidelidade. Foi para o Senhor que elas entregaram, e se esses pregadores ímpios tomaram para si essas ofertas, não roubaram delas, mas do Senhor. É a ele que irão prestar contas e, ainda que supliquem “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?”, o Senhor lhes dirá: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mt 7:22-23).
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Expectativa ou pavor?
Se você visitasse Jesus ficaria ocupado com ele ou com sua casa? Você não ficaria olhando a decoração tendo o Senhor bem ali na sua frente! Mas os discípulos aqui “estavam comentando como o templo era adornado com lindas pedras e dádivas dedicadas a Deus” (Mt 21:5). Porém Jesus mostra que o Templo já não era importante e anuncia sua destruição: “Disso que vocês estão vendo, dias virão em que não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas” (Lucas 21:6).
É fácil ficarmos mais ocupados com as profecias acerca do Senhor do que com o Senhor das profecias. E é o que parece estar acontecendo aqui, ao perguntarem: “Quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal de que elas estão prestes a acontecer?” (Lucas 21:7). Em Apocalipse 19:10 aprendemos que “o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”, portanto é a sua Pessoa que importa, e não os eventos. Jesus quer mostrar aos discípulos que o judaísmo chegara ao fim e que, quando o assunto fosse profecia, deviam ficar atentos pois muitos iriam querer enganá-los.
Ele alerta: “Cuidado para não serem enganados. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ‘o tempo está próximo’. Não os sigam. Quando ouvirem falar de guerras e rebeliões, não tenham medo. É necessário que primeiro aconteçam essas coisas, mas o fim não virá imediatamente” (Lucas 21:8-9). Dos versículos 8 ao 24 ele fala da destruição do Templo que ocorreria no ano 70 da era cristã. Dos versículos 25 ao 33 deste capítulo 21 de Lucas ele trata de sua vinda para estabelecer o Reino.
Hoje enquanto alguns dizem ser o Cristo, outros ficam aterrorizados com teorias conspiratórias e alarmes “de guerras e rebeliões”. Mas o Senhor tranquiliza os seus ao dizer: “Não tenham medo”. Quem é salvo por Cristo não deve se ocupar com o que aterroriza, mas com a vinda do Senhor para buscar sua Igreja. Ao escrever aos crentes Paulo não falou de terror, mas de consolo. “Nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados… para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4:17-18).
Porém para o incrédulo resta “tão somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10:27). Para o incrédulo o Senhor virá como ladrão de noite, mas o crente o espera como o Noivo que vem buscar sua noiva, a Igreja. “O Espírito e a noiva dizem: Vem!” (Ap 22:17). E você, deseja muito a volta do Senhor ou sente pavor só de pensar?
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Curiosidade mórbida
Gostamos de nos sentir vivos, e uma forma de experimentarmos isso é vendo a morte alheia. Crimes, acidentes ou tragédias geram em nós sensações de terror, indignação e alívio, esta última por não sermos nós os protagonistas da dor. Somos movidos a adrenalina e na falta da tragédia real buscamos a artificial nos filmes. Vemos corridas, lutas e touradas torcendo para o carro explodir, o atleta sangrar e o touro chifrar. Alguém precisa morrer para nos sentirmos vivos e despertos.
Esta curiosidade mórbida inclui saber como será a maior de todas as tragédias, o fim do mundo. Pensamos nisso achando que as coisas irão se desmoronar numa tela de um cinema onde seremos meros espectadores. Se foi com uma curiosidade assim que os discípulos perguntaram a Jesus quando aconteceria a destruição do Templo e que sinal haveria de que estava prestes a acontecer, a resposta que recebem tem um fundo moral e não visa satisfazer a curiosidade de quem quer ver a notícia no jornal.
Depois de avisar para não serem enganados com falsos Cristos e nem se amedrontarem com notícias alarmantes de guerras e rebeliões, ele dá uma ideia de eventos que precederão sua vinda futura para reinar: “Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares, e acontecimentos terríveis e grandes sinais provenientes do céu” (Lucas 21:10-11). Acredito que os versículos 10 e 11 façam parte do que ele diz a partir do versículo 25, quando “haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas”.
Os versículos 12 ao 24 já aconteceram. Os discípulos foram perseguidos, presos e levados à presença dos governantes, aos quais testemunharam de Cristo com notável intrepidez. Todos os apóstolos, exceto João, foram martirizados. Mesmo assim Deus esteve no controle, pois ainda que seus corpos tenham sido mortos Jesus lhes prometeu: “Nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá” (Lucas 21:18). Isto porque o crente tem a certeza da ressurreição, como diz a letra de um hino: “Porque ele vive, posso crer no amanhã, porque ele vive, temor não há. Pois eu bem sei, eu sei, que a minha vida está nas mãos do meu Jesus, que vivo está.”
Se você ainda não tem esta mesma certeza e acha que a profecia bíblica só serve para tema de filmes de catástrofes, é melhor crer em Jesus como seu Salvador e garantir seu lugar no céu.
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O cerco de Jerusalém
Os versículos 20 ao 24 de Lucas 21 falam do cerco de Jerusalém e da destruição do Templo pelos romanos no ano 70. Quando Jesus diz que não ficaria pedra sobre pedra ele falou sério. O Templo foi incendiado e todo o ouro dos revestimentos, vasos e utensílios se derreteu infiltrando-se por entre as pedras da construção. Para recuperá-lo os romanos desmontaram pedra por pedra, deixando no lugar apenas a laje, hoje ocupada por uma mesquita, e um muro de arrimo conhecido como “Muro das Lamentações”.
“Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos, vocês saberão que a sua devastação está próxima… pois esses são os dias de vingança, em cumprimento de tudo o que foi escrito… haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos gentios até que os tempos deles se cumpram” (Lucas 21:20-24).
Esse cerco e destruição foram profetizados por Daniel no capítulo 9 de seu livro. Dos versículos 23 ao 27 o profeta fala de um período de 490 anos da história e do futuro de Israel que começa com a reconstrução de Jerusalém e do Templo descrita em Esdras e Neemias. Então o profeta revela a vinda e morte do Messias, seguidas do cerco e destruição da cidade e do Templo ocorridos no ano 70 da era cristã. A profecia ignora o período de quase dois mil anos da Igreja e passa a tratar dos sete últimos anos que precedem a volta de Cristo para julgar as nações e estabelecer seu reino.
É nesse período de sete anos, ou “semana”, que o anticristo, o “governante que virá” (Dn 9:26), fará uma aliança com os judeus, porém os enganará. Esse “governante” será líder do mesmo povo que destruiu o Templo há dois mil anos, o que nos dá a entender que o Império Romano será restabelecido com um misto de totalitarismo e democracia. A estátua do sonho de Nabucodonosor, decifrado por Daniel no capítulo 2 de seu livro, tinha as pernas de ferro, representando o Império Romano, e os pés de ferro misturado com barro indicavam um ressurgimento do mesmo império, porém como uma mescla de poder autoritário e vontade do povo.
Sugiro a leitura de Daniel 9:23-27 antes dos próximos 3 minutos, quando contarei o que aconteceu com um judeu que foi confrontado com esta mesma profecia. Esse povo, que rejeitou e matou seu Messias, dará as boas-vindas ao anticristo juntamente com a cristandade apóstata que ficar na terra após o arrebatamento da Igreja.
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Cadê o Messias?
No início dos anos 80 eu aguardava na fila do caixa de uma livraria cristã em São Paulo, quando um jovem à minha frente puxou conversa. Com um LP de música cristã nas mãos, ele me contou que era judeu e tinha entrado ali só para comprar o disco para a brincadeira de ‘Amigo secreto’. Uma colega cristã havia escolhido aquele presente. A consciência do rapaz devia incomodá-lo para ele se dar ao trabalho de se justificar a um desconhecido. Seu olfato judeu desaprovava sua presença entre pessoas que exalavam “o aroma de Cristo” (2 Co 2:15).
Decidi então acrescentar mais umas gotas desse perfume falando do evangelho com versículos tirados do Novo Testamento da Bíblia que eu tinha ido ali comprar. Sua rejeição foi imediata. Em tom de zombaria declarou: “Nós judeus, quando pegamos uma Bíblia, descartamos o Novo Testamento porque é tudo mentira”. Sentime totalmente impotente. Como falar do evangelho sem usar o Novo Testamento?
Então um homem atrás de mim pediu licença, pegou a Bíblia de minhas mãos e, abrindo no capítulo 9 do livro do profeta Daniel no Antigo Testamento, começou a ler a partir do versículo 24. Vi que o rapaz demonstrou aprovação com um aceno da cabeça. A passagem identificava com “semanas” de anos os principais eventos passados e futuros da história de Israel: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade… Desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas [totalizando 69 semanas ou 483 anos]; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos”.
O homem fez uma pausa e perguntou quando teria sido essa restauração, e o rapaz indicou que fora na época de Esdras e Neemias. O homem continuou: “E depois… será cortado o Messias… e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário.”. Então ele perguntou quando ocorreu a destruição da cidade e do Templo, e o rapaz apontou o ano 70 da era cristã. Então aquele irmão em Cristo falou: “Aqui diz que o Messias viria e seria tirado em algum momento entre a reconstrução do Templo e sua destruição. O Templo já foi destruído. Cadê o Messias?”.
O jovem ficou pálido. Jogou o LP sobre o balcão e começou a gritar: “Não! Não! Não pode ser Jesus! Se fosse nossos mestres teriam nos ensinado assim!”. E saiu correndo da livraria sem levar o presente para a colega.
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Uma tríplice pergunta
Jerusalém já foi cercada várias vezes e será novamente quando Cristo voltar. Apesar das semelhanças entre os textos, Lucas 21:20-24 fala da destruição do Templo no ano 70 da era cristã, e Mateus 24 dos eventos da última semana profética de Daniel 9. Esta começa com “uma aliança [do anticristo] que durará uma semana. No meio da semana ele dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível”(Dn 9:27, Mt 24:15). Os primeiros três anos e meio são “o início das dores”(Mt 24:8) e os últimos a “grande tribulação” (Mt 24:21).
“Jesus passava o dia ensinando no templo; e, ao entardecer, saía para passar a noite no monte chamado das Oliveiras. Todo o povo ia de manhã cedo ouvi-lo no templo” (Lucas 21:37-38). Em Mateus 24:3, após falar da destruição do Templo, “tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, os discípulos dirigiram-se a ele em particular e disseram: ‘Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?’”. A revelação da destruição do Templo foi pública, mas as outras coisas foram ditas aos discípulos em particular.
A tríplice pergunta — “quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?” (Mt 24:3) — exige uma tríplice resposta. Lucas 21:8-24 mostra o que os discípulos sofreriam antes e depois da destruição do Templo. A partir do versículo 25 o assunto é a vinda de Cristo para derrotar os inimigos e libertar os judeus convertidos no período de sete anos profetizado por Daniel. O tema de Mateus 24 é a “grande tribulação”, da qual os cristãos terão sido livrados pelo arrebatamento da Igreja descrito em 1 Tessalonicenses 4:13-18.
Tudo em Mateus 24:13-22 tem a ver com Israel, que voltará a ser o testemunho de Deus após a partida da Igreja. “Sacrilégio, “lugar santo”, “Judeia” e “sábado” nada têm a ver com cristãos. O “evangelho do Reino” a ser pregado em todo o mundo não é o mesmo “evangelho da graça de Deus” (At 20:24) que pregamos, e o “perseverar até o fim” não é para a salvação eterna, mas para a sobrevivência do corpo. Os sobreviventes entrarão vivos no Reino de mil anos de Cristo na terra, enquanto a Igreja reinará com ele a partir do céu. Se você já se converteu a Cristo, não irá se encontrar nesta fotografia. Se não se converter poderá estar entre os que serão “levados” pela morte, como quando “veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt 24:37-41).
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Observem a figueira
Jesus fez apenas um milagre para amaldiçoar ao invés de abençoar: “Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas nada encontrou, a não ser folhas. Então lhe disse: ‘Nunca mais dê frutos!’ Imediatamente a árvore secou” (Mt 21:19). A figueira representa Israel que Jesus encontrou sem fruto para Deus e determinou que secasse. E assim tem sido enquanto Jerusalém é “pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram” (Lucas 21:24). Por isso Paulo explica que “Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios” (Rm 11:25). Apesar da volta dos judeus à sua terra, o tempo de os gentios interferirem na terra deles ainda não chegou ao fim.
Jesus volta a falar da figueira: “Observem a figueira e todas as árvores. Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo” (Lucas 21:29). Brotos e folhas dão uma aparência de vida às árvores, porém de nada valem se não existir fruto. Assim tem sido desde 1948, não apenas com a figueira, mas com “todas as árvores”. Nos últimos anos Israel renasceu graças à capacidade de seu povo, e o petróleo fez as nações vizinhas passarem de tribos nômades a potências com influência global. Mas nada de fruto para Deus.
Quando Adão e Eva caíram em pecado cobriram sua nudez com aventais de folhas de figueira. Assim está Israel hoje, com seus aventais de folhas e nenhum fruto para Deus. A volta à sua terra ainda não é o cumprimento da profecia que diz: “Quando vocês e os seus filhos voltarem para o Senhor, para o seu Deus, e lhe obedecerem de todo o coração e de toda a alma, de acordo com tudo o que hoje lhes ordeno, então o Senhor, o seu Deus, lhes trará restauração e terá compaixão de vocês e os reunirá novamente de todas as nações por onde os tiver espalhado… Ele os trará para a terra dos seus antepassados, e vocês tomarão posse dela” (Dt 30:2-5).
Os judeus voltaram para sua terra mas não para o Senhor. Sua inimizade contra Cristo permanece a mesma. A promessa de restauração é ainda futura, quando um remanescente se converterá em meio a grande tribulação e dois terços da população perecer, como mostra Zacarias 13:8-9: “Na terra toda, dois terços serão ceifados e morrerão; todavia a terça parte permanecerá… Colocarei essa terça parte no fogo, e a refinarei como prata, e a purificarei como ouro. Ela invocará o meu nome, e eu lhe responderei. É o meu povo, direi; e ela dirá: ‘O Senhor é o meu Deus’.”
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“Não passará esta geração”
Você não encontra a Igreja nas profecias do Antigo Testamento, e ela só aparece nos Evangelhos duas vezes, em Mateus 16:18 e 18:17. Por isso é inútil buscar nas profecias coisas relacionadas à Igreja. É de Israel e do mundo que elas falam. Mesmo assim, quando vemos sinais de que as profecias para Israel podem se cumprir a qualquer momento ficamos alegres, pois seu cumprimento só poderá acontecer após a Igreja sair daqui. E hoje vemos “a figueira e todas as árvores” brotando (Lucas 21:29).
Ao dizer aos discípulos, “quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo” (Lucas 21:31), Jesus não se dirigia a eles como Igreja, pois esta só viria a existir em Atos 2. Ele falava a um remanescente de judeus que “esperavam a redenção de Jerusalém” (Lucas 2:38), como foram Ana, Simeão e outros. Após Jesus ser rejeitado, morrer, ressuscitar e subir aos céus Deus enviou o Espírito Santo à terra, batizando os salvos num só corpo. Então a Igreja, o mistério guardado desde a eternidade, passou a existir reunindo judeus e gentios convertidos a Cristo.
Jesus diz aos discípulos: “Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam” (Lucas 21:32). Alguns achavam que ele falava da geração dos discípulos, mas quando eles morreram sem que Cristo tivesse voltado em glória, ficou claro que a interpretação devia ser outra. Ele poderia estar se referindo à geração que visse a “figueira e todas as árvores” brotando, ou seja, a atual. Apesar de não existir qualquer pré-requisito profético para o arrebatamento, esta interpretação nos levaria a cancelar o plano funerário, por assim dizer, já que somos a mesma geração que viu Israel ressurgir. A terceira possibilidade é que Jesus estaria falando de uma geração no sentido moral, de judeus que, à semelhança daqueles discípulos, estarão aguardando o Reino.
Após o arrebatamento, além desse remanescente judeu fiel, ficarão na terra judeus e gentios incrédulos e também cristãos nominais que não foram arrebatados por nunca terem nascido de novo. “Rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” e não poderão mais crer. Será que você estaria entre os ‘deixados para trás’ que ouviram o evangelho e “não creram na verdade”? Ao contrário do que dizem nos filmes e livros sobre o tema, não haverá segunda chance para quem ouviu e não creu, pois “Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade” (2Ts 2:10-12). Quem foi evangelizado e não creu em Cristo será enganado e crerá no anticristo.
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##À espera da ira
A Bíblia tem apenas uma interpretação, mas muitas aplicações. Apesar de os evangelhos falarem especificamente de Israel e do mundo, seus princípios morais podem ser aplicados ao corpo de Cristo, que é a Igreja. É o caso de Lucas 21:34-36: “Tenham cuidado, para que os seus corações não fiquem carregados de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente. Porque ele virá sobre todos os que vivem na face de toda a terra. Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo o que está para acontecer, e estar de pé diante do Filho do homem”.
Aqui os discípulos representam os judeus que passarão pela “grande tribulação” (Mt 24:21) que terminará uns sete anos após a Igreja ter sido arrebatada da terra para se encontrar com o Senhor nos ares. Ao cristão, porém, a promessa é: “Eu o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra. Venho em breve!” (Ap 3:10). A certeza de que não passariam pela grande tribulação foi dada também aos cristãos de Tessalônica, que “se voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que há de vir” (1Ts 1:10).
Não se trata aqui da ira da condenação eterna, pois desta Jesus já livrou cada um que creu nele. Trata-se da ira que cairá sobre os incrédulos que estiverem na terra quando Cristo vier para reinar. A interpretação direta do texto é para os que estarão na terra na “grande tribulação” (Mt 24:21), que atingirá seu ponto máximo com as “sete últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus… as sete taças de ouro cheias da ira de Deus” (Ap 15:1, 7) que “Os sete anjos vão derramar sobre a terra” (Ap 16:1), e não sobre os perdidos no juízo final. Mas a exortação à vigilância serve também para os cristãos hoje, que antes disso serão “arrebatados… nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares” (1Ts 4:17).
Após o arrebatamento essa expectativa afligirá a “todos os que vivem na face de toda a terra” (Lucas 21:35). Dentre eles estarão gentios, judeus e a falsa igreja ou “grande prostituta” (Ap 17:1). Mas esta não é a expectativa dos verdadeiros crentes hoje, que “não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão” (1Ts 5:2). Estes não esperam por um ladrão que venha privá-los de seus “tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam” (Mt 6:19). Eles esperam pelo Amado de suas almas.
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##À espera de Cristo
Pergunte a um grupo de cristãos qual é a expectativa de cada um e você terá diferentes respostas. Uns esperam que o evangelho seja pregado em todo o mundo para criar uma nova era de paz e prosperidade. Na profecia você realmente encontra uma terra transformada com Cristo reinando por mil anos, porém essa expectativa é para Israel, não para a Igreja. Afinal, como poderia “a esposa do Cordeiro” (Ap 21:9) viver na terra sabendo que “a nossa cidadania está nos céus” (Fp 3:20)? Nós reinaremos “sobre a terra” (Ap 5:10) e seus habitantes judeus e gentios, e não na terra.
Outros estão esperando por guerras, fomes e catástrofes globais, pela chegada do anticristo e, finalmente, pela vinda de Cristo em glória para julgar. Porém esta expectativa é para os cristãos nominais que serão deixados para trás após o arrebatamento da igreja, pois “rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2:10). Ela também serve para um remanescente de judeus fiéis que sofrerá com a grande tribulação. Nesse tempo os verdadeiros salvos já não estarão no mundo, pois o Senhor prometeu que sua Igreja seria guardada “da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo” (Ap 3:10).
Os viciados em teorias conspiratórias vivem nessa expectativa de catástrofes sem perceber que ocupar-se com o anticristo, guerras e organizações secretas não é ocupar-se com Cristo. Alguns ainda acrescentam a toda essa desgraça a ideia de que o crente será julgado no final e vivem em total insegurança e pavor. Não creram na afirmação de Jesus de que o crente já “tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5:24).
Enquanto alguns esperam pela morte, pelo anticristo e pelo juízo final, qual a expectativa que Deus dá aos cristãos? “Esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos” (1Ts 1:10). Como será isso? “Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles”. Onde? “Nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares” (1 Ts 4:16). Quando? “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1 Co 15:52). Não se deixe enganar esperando pela volta de Cristo para alguma época remota. Para o cristão, entre o presente momento e o encontro com Cristo nos ares não há nada que ainda precise acontecer. Ou melhor, há sim: Um piscar de olhos!
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Judas quer ficar rico
Lucas não segue uma ordem cronológica. Os outros Evangelhos mostram Satanás entrando em Judas durante a refeição da Páscoa e antes da ceia do Senhor. Em João 13:27 Jesus diz que o traidor seria “aquele a quem eu der este pedaço de pão molhado no prato’. Então, molhando o pedaço de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Tão logo Judas comeu o pão, Satanás entrou nele. ‘O que você está para fazer, faça depressa’, disse-lhe Jesus… Assim que comeu o pão, Judas saiu.”. Neste evangelho Judas, Satanás e os líderes religiosos aparecem reunidos numa mesma trama.
Aproximava-se “a festa dos pães sem fermento, chamada Páscoa, e os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei estavam procurando um meio de matar Jesus, mas tinham medo do povo. Então Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, um dos Doze. Judas dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e aos oficiais da guarda do templo e tratou com eles como lhes poderia entregar Jesus. A proposta muito os alegrou, e lhe prometeram dinheiro. Ele consentiu e ficou esperando uma oportunidade para lhes entregar Jesus quando a multidão não estivesse presente” (Lucas 22:1-6).
Quando se quer eliminar um terrorista toma-se o cuidado de surpreendê-lo só a fim de evitar danos colaterais. Para os sacerdotes Jesus é um agitador que visa tirá-los do poder e deve ser capturado, porém longe da multidão. Mas como saber onde e quando? O que eles não imaginavam era que um dos discípulos fosse procurá-los, movido pela ganância. “O amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição” (1Tm 6:9-10).
Pense nisto na próxima vez que invejar algum milionário. Muitos dizem que “o dinheiro é a raiz de todos os males”, mas não é o que diz a passagem. Não é pecado ser rico. Pecado é querer ser rico. Lembre-se de que foi “um homem rico, de Arimateia, chamado José” (Mt 27:57-60) que Deus escolheu para ir a Pilatos requerer o corpo de Jesus. Só alguém rico e influente poderia ser recebido pelo governador, ter seu pedido atendido e ainda pagar as despesas do funeral. Outro rico, “Nicodemos, levou cerca de trinta e quatro quilos de uma mistura de mirra e aloés” (Jo 19:39) para preparar o corpo de Jesus. Se o Senhor lhe der mais do que o necessário, isto é um sinal de que você deve usar sua riqueza para ele.
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Encontro marcado com a morte
“Finalmente, chegou o dia dos pães sem fermento, no qual devia ser sacrificado o cordeiro pascal” (Lucas 22:7). Na mesma ocasião em que os judeus celebravam sua libertação da escravidão do Egito Jesus tinha um encontro marcado com a morte. Esta seria a verdadeira Páscoa, a concretização daquilo que foi tipificado em milhares de páscoas celebradas desde a libertação do povo hebreu. Mas desta vez o sacrificado não seria um animal, e sim um Homem, o único e suficiente “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Quando Deus, por intermédio de Moisés, libertou o povo da escravidão do Egito, a série de pragas que caiu sobre a terra culminou com a morte dos primogênitos. Só havia uma maneira de os hebreus escaparem daquele juízo que cairia sobre cada família: um sacrifício substitutivo. Para isso Deus deu instruções de como um cordeiro devia ser morto e seu sangue passado do lado de fora dos batentes da porta de cada casa. Deus disse:
“Esta é a Páscoa do Senhor. Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor! O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito” (Ex 12:11-13).
A palavra “Páscoa” significa “passar por cima”, e foi o que o Senhor fez com as casas nas quais o sangue foi aplicado ao batente da porta: passou por cima, pois a morte já havia estado ali. A salvação proporcionada pelo sangue do cordeiro era ampla o suficiente para incluir também os egípcios que acreditassem na ameaça, e foi assim que muitos deles e de outros povos acabaram saindo junto com os hebreus. Em Números 11:4 nós os encontramos como “um bando de estrangeiros que havia no meio deles”.
Aquele sacrifício do cordeiro substituto era uma figura do sacrifício maior que Deus faria séculos mais tarde. Todavia, no lugar de um animal, Deus usaria o seu Cordeiro perfeito e sem mancha de pecado, seu próprio Filho Jesus. Se o sangue daquele sacrifício no Egito foi capaz de livrar da morte hebreus e estrangeiros que creram no que Deus disse, “quanto mais, então, o sangue de Cristo” (Hb 9:14). Se Jesus tivesse faltado ao encontro que Deus marcou com ele na cruz ninguém seria salvo. E o que aconteceria se os discípulos não seguissem as instruções dos próximos 3 minutos?
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Perguntar não ofende
Olhe ao redor e você encontrará hoje uma triste caricatura do cristianismo: homens corruptos atraindo multidões desesperadas por curas ou em busca de riqueza; shows de música, luz e pirotecnia apelidados de “louvor”; templos magníficos mantidos por clérigos que vivem no luxo e ostentação… Que semelhança tem isso com os cristãos do princípio, que congregavam em simplicidade e temor? Nenhuma. Em muitos casos, se você espremer será capaz de obter algumas gotas do evangelho da graça ainda incontaminado, mas na maioria das vezes até este virá poluído por regras, condições, rituais e outras coisas inventadas pelo homem.
Quando começou esse desvio? Logo após o tempo dos apóstolos, e Paulo previu que seria assim depois de sua partida: “Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos… Agora, eu os entrego a Deus e à Palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados. Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros.” (At 20:29-34).
Veja o antídoto que ele receitou contra os lobos, hereges e avarentos: “Deus e a Palavra da sua graça”. Hoje não existem mais apóstolos, mas eles nos legaram a “Palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados”. E nisto reside a importância da passagem que vamos ler em Lucas 22. Embora este episódio tenha ocorrido antes da criação da Igreja, ele estabelece um princípio que vale para todas as épocas, que é o de perguntar ao Senhor antes de agir. Este é nosso seguro contra ataques do inimigo e das heresias ou divisões: “Jesus enviou Pedro e João, dizendo: ‘Vão preparar a refeição da Páscoa’. ‘Onde queres que a preparemos?’, perguntaram eles” (Lucas 22:8-9).
Pedro e João não decidiram por si mesmos, não perguntaram aos outros discípulos e nem buscaram respostas na literatura dos sábios da época. Eles perguntaram ao Senhor. Hoje, você pode perguntar ao mesmo Senhor, em sua Palavra, onde e como você deve congregar, ou ainda verificar se o lugar e as práticas de onde você congrega estão corretas. Como fazer isso? Simples! Basta comparar com aquilo que Deus nos legou na sua Palavra dada por intermédio dos apóstolos. Quer alguns exemplos? Então nos próximos 3 minutos faremos algumas perguntas ao Senhor.
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Onde e como adorar?
Nos últimos 3 minutos vimos a importância do que Pedro e João fizeram ao perguntarem ao Senhor onde deveriam preparar a Páscoa. Naquela noite a Páscoa seria celebrada em milhares de lugares, mas Jesus estaria apenas no lugar indicado por ele. Se Pedro e João não tivessem perguntado e decidissem por si mesmos aonde ir, teriam celebrado a Páscoa sem desfrutar da presença do Senhor. Por isso, também hoje, devemos sempre perguntar ao Senhor onde e como adorá-lo, ou verificar na sua Palavra se estamos fazendo isso da forma correta.
Por exemplo, pergunte a ele se é correto estabelecer diferentes igrejas criando grupos independentes e com diferentes identidades, e a resposta será: “Concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, e, sim, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer” (1 Co 1:10). E o Espírito seguirá mostrando que os que criam divisões e partidos entre os irmãos fazem isso “porque ainda são carnais… agindo como mundanos” (1 Co 3:3).
Se já é pecado dividir os irmãos, o que Deus dirá de dar diferentes nomes a essas divisões? O Senhor deixou claro que existe um único nome ao qual os salvos devem congregar para tê-lo em seu meio: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20). E Paulo avisa que quando “estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus… estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 5:4), suas decisões serão endossadas no céu. Jesus garantiu isso, ao dizer: “Tudo o que vocês ligarem na terra será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra será desligado no céu” (Mt 18:18).
Apesar de vivermos cercados de “Igreja Isso” e “Igreja Aquilo”, o Espírito Santo diz o que pensa dessa colcha de retalhos criada pelos homens: “Há divisões entre vocês… cada um de vocês afirma: ‘Eu sou de Paulo’; ‘eu de Apolo’; ‘eu de Pedro’; e ‘eu de Cristo’. Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1:11-13). “Pois quando alguém diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu sou de Apolo’, não estão sendo mundanos?” (1 Co 3:4). Nenhuma distinção deveria existir entre os cristãos, pois em Cristo “já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos” (Cl 3:11).
Nos próximos 3 minutos perguntaremos o que Deus acha dos templos.
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Fim dos templos
Fazemos muitas coisas sem perguntarmos a Deus, e por isso existe tanta confusão no testemunho cristão. É o caso dos templos e santuários que cristãos bem intencionados constroem como se fossem lugares físicos de adoração. Mas será que Deus ordenou que os cristãos construíssem templos ou adotassem o modelo judaico de adoração?
É certo que Deus deu a Israel instruções precisas sobre o local onde queria ser adorado. Não era para eles imitarem os pagãos, que adoravam a seus deuses onde e como bem entendessem, mas os israelitas deviam buscar “o local que o Senhor, o seu Deus, escolhesse dentre todas as tribos para ali pôr o seu nome para sua habitação” (Dt 12:5). Não haveria outro nome e não haveria outro lugar onde Deus pudesse ser adorado. Deus ainda os alertou: “Tenham o cuidado de não sacrificar os seus holocaustos em qualquer lugar que lhes agrade. Ofereçam-nos somente no local que o Senhor escolher” (Dt 12:13-14). Esse lugar seria o Templo construído em Jerusalém por direção divina. Somente ali o povo deveria adorar.
Quando Jesus esteve aqui revelou uma mudança radical que estava para acontecer. Diante da afirmação da mulher samaritana de que os “judeus dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”, ele declarou: “Está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém… está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade… Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (Jo 4:20-23). Mais tarde Deus permitiria a destruição total do Templo de Jerusalém, pondo um fim ao modelo judaico de adoração, e a epístola aos Hebreus comprova isso.
Hoje não temos um templo onde adorar e nem estamos separados da presença de Deus por um véu como os judeus estavam. “Temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo” (Hb 10:19-20). Embora não exista um lugar físico de adoração, o princípio de que é o nome do Senhor que valida o lugar permanece. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20). A ordem para hoje é clara: “Saiamos até ele [Jesus], fora do acampamento” (Hb 13:13), ou sistema judaico_._ Mas aonde ir? Perguntando ao Senhor, como os discípulos fizeram: “_Onde queres que a preparemos?”_ (Lucas 22:9).
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O homem com o cântaro
“Jesus enviou Pedro e João, dizendo: ‘Vão preparar a refeição da Páscoa’. ‘Onde queres que a preparemos?’, perguntaram eles. Ele respondeu: ‘Ao entrarem na cidade, vocês encontrarão um homem carregando um pote de água. Sigam-no até a casa em que ele entrar e digam ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde é o salão de hóspedes no qual poderei comer a Páscoa com os meus discípulos?’ Ele lhes mostrará uma ampla sala no andar superior, toda mobiliada. Façam ali os preparativos’. Eles saíram e encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito. Então, prepararam a Páscoa” (Lucas 22:8-13).
Os discípulos acabam de descobrir que Jesus tem discípulos secretos em Jerusalém, como o homem que leva o cântaro e o pai de família disposto a receber aquele grupo de simpatizantes de um procurado pela justiça. Sabemos que a essa altura dos acontecimentos “Os chefes dos sacerdotes e os fariseus tinham ordenado que, se alguém soubesse onde Jesus estava, o denunciasse, para que o pudessem prender” (Jo 11:57).
Mas estas instruções escondem verdades ainda mais preciosas. A primeira é a singularidade do homem com um cântaro. Na época eram as mulheres que transportavam água, e dezenas delas circulavam pelas ruas. Os discípulos não têm dificuldade de encontrar o que era provavelmente o único homem fazendo aquela tarefa. Mas eles não deviam dialogar com o homem, apenas segui-lo. Sabe o que representa esse homem? E a água que leva? Vou dar uma pista.
“Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (Jo 16:13-14). “Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra” (Ef 5:25).
É apenas seguindo a direção do Espírito Santo na Palavra de Deus que você encontrará o lugar que o Senhor escolheu para estar com os seus. Se seguir seus instintos ou opiniões humanas vai acabar no lugar errado. Na casa indicada, a “Ampla sala no andar superior, toda mobiliada” revela que há lugar para todos, que esse lugar está acima do nível do mundo e que nada precisa ser acrescentado. Nem enfeites, nem imagens, nem velas, nem corais, nem mesmo um homem à frente. Este lugar Jesus iria ocupar.
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Um parêntese na Páscoa
Após perguntarem ao Senhor, e seguirem suas instruções de onde ele queria que preparassem a Páscoa, só faltava Jesus. “Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. E disselhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento” (Lucas 22:14-15). Cristãos não celebram a Páscoa, mas o mesmo privilégio de desfrutar de sua presença têm hoje os que lhe obedecem na forma e lugar de celebrar a Ceia do Senhor. Quando reunidos ao seu nome pelo Espírito Santo, “chegada a hora” o Senhor se põe no meio.
Aqui ele come “o pão da aflição” sem fermento e o cordeiro cozido da Páscoa judaica como qualquer outro judeu. O cálice não fazia parte da instituição original da Páscoa dada por Deus no Antigo Testamento, mas era um costume introduzido pelos judeus. “O vinho alegra o coração do homem” (Sl 104:15), mas para Jesus não há motivo para alegria. Esta será sua última Páscoa. Em questão de horas ele será imolado como um Cordeiro no holocausto do juízo divino. “_Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado” (_1 Co 5:7).
A Páscoa só voltará a ser celebrada quando Israel for restaurado e Cristo reinar sobre o seu povo, tendo sua Noiva, a Igreja, reinando consigo. Mas neste momento ele se abstém do vinho e da alegria. Por isso, “recebendo um cálice, ele deu graças e disse: ‘tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei do fruto da videira até que venha o Reino de Deus” (Lucas 22:15-16).
Lucas abre agora um parêntese na celebração da Páscoa para a instituição da Ceia do Senhor, esta sim destinada à Igreja. Digno de nota é a diferença dos verbos gregos usados na passagem. Jesus ‘recebe’ de alguém o cálice da Páscoa, pois este é o sentido do verbo ‘receber’. Já que a Páscoa não tinha nada de novo, o que ele faz é apenas uma continuidade do que era feito há séculos. Porém ele ‘toma’ o pão, e de igual modo o cálice. No grego o verbo ‘tomar’ tem o sentido de uma iniciativa dele. Ninguém lhe passa o pão ou o cálice da Ceia do Senhor. É algo novo que ele acaba de instituir.
Jesus come a Páscoa, mas não come do pão e nem bebe do cálice da Ceia do Senhor. Ele apenas os entrega aos discípulos, pois em sua Ceia ele é o anfitrião e os discípulos são convidados. Assim é hoje, quando cristãos são congregados pelo Espírito para recordar o Senhor e anunciar a sua morte, e não para repetir rituais judaicos, como veremos nos próximos 3 minutos.
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A cópia do judaísmo
Jesus não disse para celebrarmos a Páscoa e nem outras datas. Advento, Natal, Quaresma, Semana Santa e datas destinadas a homenagear os chamados ‘santos’ não têm lugar na adoração cristã. Recebemos do Senhor apenas duas ordenanças: o batismo, feito uma vez na vida, e a Ceia do Senhor, celebrada “no primeiro dia da semana” como faziam os primeiros discípulos quando se reuniam “para partir o pão” (At 20:7).
Mas que mal há em celebrar essas datas se a intenção for agradar a Deus? O mal está em contrariar uma ordem dada por Deus e fazer as coisas segundo a própria vontade, o que é rebeldia. Saul sacrificou fora da ordem dada por Deus e foi repreendido: “Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua Palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria” (1 Sm 15:22).
A cristandade virou uma cópia do judaísmo, com templos, altares, clérigos, vestes especiais, candelabros e ‘dias santos’. Por isso Paulo repreende os cristãos da Galácia: “Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos! Temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis” (Gl 4:10-11). Aos Colossenses, que vinham sendo assediados “com argumentos aparentemente convincentes… e filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo”, Paulo escreveu:
“Não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo… Já que morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: ‘Não manuseie!’ ‘Não prove!’ ‘Não toque!’? Todas essas coisas… se baseiam em mandamentos e ensinos humanos” (Cl 2:4-23).
Se você pratica um cristianismo copiado dos rituais judaicos que Deus colocou de lado nesta nova dispensação, é melhor passar uma borracha em tudo o que aprendeu. Ore a Deus pedindo direção para começar de novo seguindo as instruções do Espírito Santo quanto à onde e como adorar. Nos próximos 3 minutos veremos algo mais sobre a Ceia do Senhor.
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Linguagem figurada
“Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês’” (Lucas 22:19-20).
Não existe fundamento para a ideia de que a ceia seja a repetição do sacrifício de Cristo, e que ali pão e vinho sejam transformados literalmente em carne e sangue. Primeiro, porque ao dizer “Isto é o meu corpo”, Jesus ainda não tinha morrido. O seu corpo estava bem ali e o sangue ainda corria em suas veias. Segundo, porque seu sacrifício não poderia se repetir jamais: “Fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas” (Hb 10:10). Se o pão não era literalmente o corpo de Cristo, o que seria então?
Um retrato. Você já viu alguém apontar para uma foto e dizer: “Aquele ali sou eu”? Quando Jesus disse “Eu sou o pão que desceu do céu” (Jo 6:41) você entendeu que ele se referia à figura do maná no deserto. Quando disse “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12) você não achou que ele brilhasse no escuro, e quando falou “Eu sou a porta” (Jo 10:9) nem precisou explicar que a linguagem era figurada. Ao dizer “Eu sou a videira; vocês são os ramos” (Jo 15:5) os discípulos não procuraram por folhas uns nos outros.
Considerar a Ceia uma transubstanciação do trigo em carne e do extrato de uvas em sangue é uma desonra para Cristo; é tentar fazer sua carne e sangue voltarem à condição de antes da ressurreição e glorificação. “Se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5:16). Então como ele está agora? “Vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e glória” (Hb 2:9). Longe de nós achar que seu corpo possa retroceder à condição de fraqueza e humilhação de seus dias aqui.
Como o erro não caminha sozinho, a ideia de se beber vinho acreditando ser sangue esbarra na proibição de Levítico 17 e também na decisão dos apóstolos Atos 15:20 acerca dos gentios que se convertiam: “Devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham… do sangue”. E mais: nos lugares onde se crê na transubstanciação, nem mesmo uma ordem simples de Jesus é obedecida, pois apenas o autodenominado ‘sacerdote’ bebe do cálice. No entanto Jesus ordenou: “Bebei dele todos” (Mt 26:27).
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Coma do pão e beba do cálice
Não foi à toa que Jesus escolheu o pão como figura de seu corpo. Para um pão ser produzido é preciso que o trigo seja triturado, a massa batida e finalmente assada no fogo. Tudo aponta para Cristo, pois “se o grão de trigo… não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo 12:24). De igual modo, a uva precisou ser esmagada para se transformar em vinho. Ao dizer “Isto é o meu corpo dado em favor de vocês… e meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lucas 22:19-20) o Senhor mostra que nos substituiu na morte para podermos ter vida.
Na Páscoa os judeus recordavam a bondade de Jeová por libertá-los da escravidão; na Ceia lembramos o Senhor e anunciamos sua morte. Na Páscoa eles comiam o “pão da aflição” (Dt 16:3) que experimentaram quando escravos; na Ceia anunciamos, não a nossa aflição, mas a do Senhor. A Páscoa era retrospectiva; a Ceia é comemorativa e celebrada com a perspectiva futura de nosso encontro com o Senhor, pois a celebramos “Até que ele venha” (1 Co 11:26).
A Ceia do Senhor não é uma pregação do Evangelho ou meio de salvação, pois dela participam os que já estão salvos. Não é feita com orações e súplicas, mas com ações de graças. Não nos ocupamos com um ritual, mas com Cristo simbolizado pelo pão e pelo cálice de vinho representando seu corpo e seu sangue. Não são pães, fatias ou hóstias, mas, “um único pão… [pois]somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão” (1 Co 10:17). Não são dadas graças genéricas pelos símbolos, mas pelo pão e pelo vinho: “Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos… Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos” (Mt 26:26-27).
A Ceia não é aberta, mas exclusiva àqueles que foram recebidos em comunhão à mesa do Senhor, que não estejam vivendo em pecado. “Um pouco de fermento faz toda a massa ficar fermentada… Com qualquer que, dizendo-se irmão, for imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão, com tais pessoas vocês nem devem comer… Não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (1 Co 5:6-13; 10:21). Assim, aos que estão aptos a participar, a ordem é: “Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice” (1 Co 11:28). Não é um exame para decidir se deve ou não comer e beber, mas para comer e beber: “Então coma do pão e beba do cálice”.
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O pecado do mundo
Jesus, “Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lucas 22:19-20). Foi com Israel, e não com a Igreja, que Deus fez essa “nova aliança”, conforme profetizou Jeremias: “Farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá. Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados… Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo… todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior… Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados” (Jr 31:31-34).
A nova aliança está fundamentada no sacrifício de Cristo e terá efeito em Israel quando o povo se arrepender e Cristo estabelecer o seu Reino. Enquanto isso a Igreja desfruta dos benefícios dessa aliança, mas não foi com ela que Cristo fez a nova aliança. Para ser “nova” precisaria existir uma “velha” aliança com a Igreja, o que não é o caso. A Igreja começou no capítulo 2 de Atos e sua cidadania e destino não são terrenos, como Israel, mas celestiais. “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20).
O sacrifício de Cristo também tem uma dupla aplicação para atender a dois aspectos da ruína causada pelo pecado. Deus precisava tratar da questão do pecado, no singular, e perdoar os pecados, no plural. João Batista fala da primeira quando vê Jesus passar: “É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Em virtude da obra de Cristo foi garantida a retirada do pecado do mundo, pois ele veio “para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo” (Hb 9:26).
O cristão ainda traz em si o pecado, pois existe dentro dele uma velha natureza herdada de Adão, mesmo depois de ter recebido a nova natureza. É o pecado em nós que nos leva a pecar; o pecado é que produz os pecados. Na ressurreição já não traremos o pecado em nós, graças ao Cordeiro que morreu. Quando Cristo voltar para reinar os benefícios dessa obra serão estendidos à Criação, a Israel e às nações, mas o pecado só será erradicado de vez nos “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2 Pe 3:13). E os “pecados”? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Muitos, mas não todos
Apesar de Cristo ter morrido e ressuscitado, cumprindo todas as demandas da justiça divina concernentes ao pecado, ainda não vemos isso realizado no mundo. A razão é que a salvação é pela fé, e não pelo que vemos, “pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo? Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente” (Rm 8:24).
“Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Co 15:25-26). “Agora, porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. Vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e glória por ter sofrido a morte, para que, pela graça de Deus, em favor de todos, experimentasse a morte. Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus, por causa de quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento, o autor da salvação deles” (Hb 2:8-10).
Mas se o Cordeiro de Deus experimentou a morte “em favor de todos” (Hb 2:9), por que nem todos serão salvos? Pela mesma estranha razão de alguns casos de sequestro. Quando um governo paga o resgate de um grupo de cidadãos sequestrados por extremistas, nem sempre todos voltam aos seus lares. Alguns se convertem à causa ou se apaixonam pelo inimigo e decidem ficar. O resgate foi pago por todos, mas nem todos foram salvos. Cristo “morreu por todos” (2 Co 5:14) e o preço pago foi suficiente para que nenhum se perdesse. Porém, “oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb 9:28).
Você só será salvo se estiver entre os que “o esperam para salvação”(Hb 9:28), e isto implica não estar apaixonado pelo inimigo. O pecado do mundo foi resolvido pela obra da cruz, mas os pecados de cada um precisam ser perdoados. Se é verdade que na cruz Jesus morreu para tirar o pecado do mundo, também é certo que ali “ele carregou o pecado de muitos”(Is 53:12), não de todos. Ao crer em Cristo você desfrutará dos mesmos benefícios prometidos a Israel na nova aliança: “Eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados” (Hb 8:12). Mas, se persistir na incredulidade, “já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10:26).
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O cálice da consolação
Existe outro aspecto da Ceia do Senhor que é de consolo para os que creem em Cristo, que foram perdoados de seus pecados e agora “o esperam para salvação” (Hb 9:28). Falo do consolo que dá sabermos que estamos firmados numa questão resolvida. Quando Buda morreu, suas últimas palavras aos discípulos foram: “Continuem se esforçando”. E as últimas palavras de Jesus? “Está consumado!” (Jo 19:30).
Se você ainda continua “se esforçando”, aceite o convite que Jesus faz e descanse numa obra terminada, da qual não resta coisa alguma para você fazer ou completar. Jesus diz: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt 11:28). Se você vive aflito na dúvida se já “se esforçou” o suficiente ou se as boas obras que pratica são suficientes para livrá-lo da condenação, aceite as palavras de Jesus, que disse: “A obra de Deus é esta: crer naquele que ele enviou” (Jo 6:29).
A Ceia do Senhor é também um memorial de consolo. Havia entre os judeus um costume funerário que é citado pelo profeta Jeremias, porém ali na forma de negação, pois se tratava de um castigo para Israel: “Ninguém oferecerá comida para fortalecer os que pranteiam pelos mortos; ninguém dará de beber do cálice da consolação nem mesmo pelo pai ou pela mãe” (Jr 16:7). Partir o pão e “beber do cálice da consolação” em conexão com a morte não era um costume estranho aos judeus, e seu objetivo era o de trazer consolo aos que velavam pelo morto.
Ao instituir a Ceia nos mesmos moldes, o Senhor proveu um momento de consolo para recordarmos os benefícios que fluem de sua morte no tempo de sua ausência. Privados de enxergá-lo como os discípulos o enxergavam naquela noite, podemos vê-lo no pão e no cálice de vinho que representam seu corpo e seu sangue. Mas se os discípulos celebravam aquela Ceia com Jesus antes da morte, nós a celebramos do modo como foi revelada a Paulo, na certeza do sacrifício já consumado e com a brilhante perspectiva de sua vinda. “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha” (1 Co 11:26).
Se “o amor é tão forte quanto a morte” (Ct 8:6), a Ceia nos fala de um amor mais forte que a morte, o de nosso Senhor Jesus Cristo, que “nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança” (2Ts 2:16). “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25).
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Dois traidores
Os discípulos se surpreendem ao descobrirem que existe um traidor entre eles. Como já disse aqui, Lucas não segue uma ordem cronológica, mas moral. Por isso os versículos 21 ao 23 teriam se passado no momento em que comiam a ceia da Páscoa, e não a Ceia do Senhor. O Evangelho de Mateus mostra essa ordem e também a pergunta de Judas diante da revelação de Jesus: “Acaso, sou eu, Mestre? Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste” (Mt 26:25). Pedro, então, toma a iniciativa de pedir a João que pergunte quem seria o traidor:
“‘Senhor, quem é?’ Respondeu Jesus: ‘Aquele a quem eu der este pedaço de pão molhado no prato’. Então, molhando o pedaço de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Tão logo Judas comeu o pão, Satanás entrou nele. ‘O que você está para fazer, faça depressa’, disse-lhe Jesus… Assim que comeu o pão, Judas saiu. E era noite” (Jo 13:23-30). Judas sai antes de Jesus instituir a Ceia do Senhor, e é provável que o pão tenha sido “molhado no prato” com o molho da carne da ceia pascal, e não com vinho. A saída de Judas é acompanhada da expressão “e era noite”. É impossível pensar em um momento mais sinistro do que este da traição.
Jesus cita um Salmo escrito mil anos antes: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar” (Sl 41:9). Possuído pelo diabo, Judas levantaria seu “calcanhar” contra Jesus, e este teria o seu próprio “calcanhar” ferido pela serpente, na expressão usada por Deus no Éden ao anunciar a morte de Cristo: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15). A traição e morte de Cristo não eram nenhuma surpresa, pois estavam perfeitamente alinhados com os desígnios de Deus.
Mas não é apenas Judas que tem seu coração exposto. Referindo-se aos discípulos, depois de revelar que “Satanás pediu vocês para peneira-los como trigo” (Lucas 22:31), Jesus avisa que Pedro está prestes a negá-lo. Pedro, porém, retruca: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte” (Lucas 22:33). O pecado premeditado de Judas, fruto de seu amor ao dinheiro, seria imperdoável e o levaria à destruição. Porém haveria perdão para a autoconfiança de Pedro, por quem Jesus intercederia para que depois ele confirmasse seus irmãos. Enquanto a expectativa da morte em cruz aterroriza o coração de Jesus, os discípulos estão preocupados com outra coisa, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Menos é mais
“Surgiu também uma discussão entre eles, acerca de qual deles era considerado o maior. Jesus lhes disse: ‘Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. Mas, vocês não serão assim. Pelo contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve’” (Lucas 22:24-27).
Nem bem terminam de celebrar a Ceia do Senhor com vistas à sua morte, e os discípulos já estão preocupados em saber qual deles é o maior. Se a expectativa do dinheiro levou Judas a trair Jesus, o desejo de poder é o que leva os discípulos a almejarem uma posição de destaque. Assim somos nós. Quando não estamos ocupados em suprir as necessidades fisiológicas de nosso paladar carnal, ficamos deslumbrados com o brilho das riquezas ou pela possibilidade de ocuparmos o topo da pirâmide do poder, a fim de exercermos domínio e sermos paparicados pelos homens.
Jesus explica essa estranha simbiose entre os que controlam e os que são controlados: “Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores” (Lucas 22:25). O objetivo dos primeiros é dominar, a disposição dos outros é serem dominados em troca de benfeitorias. Se para o ser humano é natural querer exercer o domínio, para o cristão a ordem é: “O maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve” (Lucas 22:26-27).
Ali está aquele a quem Deus “constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo; o Filho [que] é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa… que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens… [que] humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Hb 1:2-3; Fp 2:6-8). No entanto, depois de admoestar seus discípulos, Jesus “levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura” (Jo 13:4-5).
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A recompensa
O que você faria se estivesse à beira da morte sabendo que tinha sido traído por um de seus amigos, que outro iria negá-lo três vezes, enquanto todos eles, ao redor de seu leito, discutissem qual deles seria o maioral? Se fosse comigo, eu diria: “Para mim chega! Vocês não são meus amigos coisa nenhuma! Sumam daqui que vou ligar para outros que são bem mais amigos que vocês!”. Felizmente o Senhor Jesus não é como eu ou você, “porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tg 5:11).
Em circunstâncias muito mais graves e solenes do que as de meu exemplo, as suas palavras de graça aos onze que ficaram com ele são: “Vocês são os que têm permanecido ao meu lado durante as minhas provações. E eu lhes designo um Reino, assim como meu Pai o designou a mim, para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentar-se em tronos, julgando as doze tribos de Israel” (Lucas 22:28-30). Apesar de suas fraquezas, o Senhor jamais se esqueceria de que eles haviam suportado provas e dificuldades; que haviam deixado tudo para segui-lo e sido rejeitados e perseguidos por isso.
A recompensa lhes será dada quando Cristo vier estabelecer seu reino de mil anos na terra. Os apóstolos da Igreja se sentarão em tronos para julgar as doze tribos de Israel. Cada cristão também terá seu galardão ou recompensa pela fidelidade demonstrada a Cristo em sua vida aqui. Conforme o Senhor prometeu em João 5:24, o crente “tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.” Outra versão traz “não será julgado”, pois Cristo foi julgado na cruz em seu lugar. Mas ainda que o crente não seja julgado como serão os incrédulos, as suas obras serão testadas. Não será um julgamento do crente, mas de obras, como acontece em um concurso de obras de arte.
O Espírito Santo nos revela que “Deus não é injusto; ele não se esquecerá do trabalho de vocês e do amor que demonstraram por ele, pois ajudaram os santos e continuam a ajudá-los” (Hb 6:10). A salvação não vem das boas obras, mas as boas obras vêm da salvação e serão recompensadas quando Cristo voltar. A obra de cada salvo “será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um. Se o que alguém construiu permanecer, esse receberá recompensa. Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo” (1 Co 3:13-15).
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Mudança radical
Devemos estar atentos ao fato de que quando Deus diz algo, isso nem sempre vale para todas as ocasiões. É o caso desta passagem: “Então Jesus lhes perguntou: ‘Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?’ ‘Nada’, responderam eles” (Lucas 22:35). Enquanto Jesus andou com eles, suas necessidades eram supridas, e as pessoas, beneficiadas pelas curas, lhes davam abrigo e proteção.
Antes a ordem que os discípulos receberam havia sido: “Não se dirijam aos gentios, nem entrem em cidade alguma dos samaritanos. Antes, dirijam-se às ovelhas perdidas de Israel… Não levem nem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias, nem bordão” (Mt 10:5-10).
Porém agora os judeus haviam rejeitado a Jesus e em poucas horas ele seria preso e condenado à morte. Por isso eles não deviam mais se considerar “em casa” entre os de seu próprio povo. Sua missão não ficaria mais restrita a Israel, como tinha sido até então, mas incluiria o “Ide por todo o mundo” (Mc 16:15). Do capítulo 13:31 ao final do capítulo 17 do Evangelho de João, você encontra a longa conversa de Jesus com os discípulos depois que Judas saiu do meio deles. O Senhor revela que eles seriam odiados por todo mundo, e isso não mudou desde então.
Dois mil anos se passaram e cristãos continuam a ser mortos por sua fé. Ao crer em Jesus você deixa de pertencer a este mundo, e ele diz: “Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia… Se me perseguiram, também perseguirão vocês… Tratarão assim vocês por causa do meu nome” (Jo 15:18-21).
Porém muitos são perseguidos mais por se intrometerem na vida alheia, do que por levarem o nome de Jesus. Ao invés de pregarem o evangelho, que se resume a “Cristo morreu pelos nossos pecados… foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia” (1 Co 15:1-3), pregam mudança de vida, hábitos e costumes, e combatem os que se opõem. Todavia, vestir terno em defunto não faz dele um vivo, assim como obrigar incrédulos a andarem como cristãos não lhes dá vida eterna. “Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo forçará a roupa, tornando pior o rasgo” (Mt 9:16). Quem crer terá sua vida transformada, “‘não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o Senhor” (Zc 4:6).
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Briga de foice
Imagine que você seja um advogado inexperiente e seu chefe lhe diga: “Amanhã deixarei você assumir as rédeas no julgamento. Prepare-se, pois vai ser briga de foice”. No dia seguinte você é preso no fórum, armado de foice e tentando colocar um cabresto no juiz. Jesus aqui usa linguagem figurada para dizer aos discípulos que devem se preparar.
“Então Jesus lhes perguntou: ‘Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?’ ‘Nada’, responderam eles. Ele lhes disse: ‘Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; e se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma. Está escrito: ‘E ele foi contado com os transgressores’; e eu lhes digo que isto precisa cumprir-se em mim. Sim, o que está escrito a meu respeito está para se cumprir’. Os discípulos disseram: ‘Vê, Senhor, aqui estão duas espadas’. ‘Basta!’, respondeu ele” (Lucas 22:35-38).
Levar “bolsa” e “saco de viagem” é o mesmo que dizer para se abastecerem de dinheiro e roupas. E a espada? Que eles se sentiriam em meio a uma ‘briga de foice’. Os discípulos levam ao pé da letra e nem mencionam a bolsa e o saco de viagem. Não se sabe de onde eles logo tiram “duas espadas”. O Senhor lhes diz “Basta!”, não no sentido de que duas seriam suficientes, mas que aquele assunto estava encerrado. Se não fosse assim, como conciliar o ensino do mesmo Jesus? Pois foi ele quem disse:
“O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem… Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas… Amem os seus inimigos e orem pelos que os perseguem” (Jo 18:36; Mt 5:39-44).
Eles não entendem, e são repreendidos, quando um deles “puxou a espada e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Disse-lhe Jesus: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão” (Mt 26:51-53). Cristo não tinha vindo tirar vidas. Pedro, o ‘cortador de orelhas’, mais tarde escreveria: “Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos… Ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca. Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:21-23).
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Da maldição para a benção
Meu pai era um ávido leitor de revistas técnicas, livros históricos e romances. Foi até assinante de um clube do livro, de onde recebeu um volumoso romance de mistério, desses que é impossível parar de ler. Ele sempre recordava o arrependimento de ter perdido uma noite de sono para chegar ao final, quando a trama seria desvendada e o assassino revelado. Porém, ao virar a última página, encontrou um aviso: “Sentimos informar que devido à morte do autor esta obra ficou inacabada”.
Se você acha que ele ficou frustrado, imagine a frustração de milhares de judeus que ainda hoje leem um livro inacabado, o Antigo Testamento, que termina com uma maldição: “Eu virei e castigarei a terra com maldição” (Ml 4:6). Se lessem a obra completa veriam que ela termina com uma bênção: “A graça do Senhor Jesus seja com todos” (Ap 22:21). No coração de todo judeu sincero ecoa a mesma pergunta feita a Filipe pelo eunuco, convertido ao judaísmo, que retornava frustrado de Jerusalém: “De quem o profeta está falando? De si próprio ou de outro?” (At 8:34).
“O eunuco estava lendo esta passagem da Escritura: ‘Ele foi levado como ovelha para o matadouro, e como cordeiro mudo diante do tosquiador, ele não abriu a sua boca. Em sua humilhação foi privado de justiça. Quem pode falar dos seus descendentes? Pois a sua vida foi tirada da terra’ … Então Filipe, começando com aquela passagem da Escritura, anunciou-lhe as boas novas de Jesus” (At 8:32-35).
Em Lucas 22:37, pouco antes da cruz, Jesus diz: “Está escrito: ‘E ele foi contado com os transgressores’; e eu lhes digo que isto precisa cumprir-se em mim. Sim, o que está escrito a meu respeito está para se cumprir.” Ele se refere ao mesmo capítulo lido pelo eunuco, e esta é apenas uma das centenas de profecias, tipos e figuras do Antigo Testamento que se concretizam em Cristo no Novo Testamento. Sem o Novo Testamento, o Antigo é um livro inacabado e seu leitor estará sempre se perguntando: “De quem o profeta está falando?”.
No capítulo 11 da carta aos Hebreus há uma lista de todos os que são da família da fé desde Abel. A lista termina dizendo: “Todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (Hb 11:39-40). Você já alcançou essa “coisa melhor” e a bênção do Novo Testamento, ou parou na maldição do Antigo?
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Carne fraca, espírito pronto
“Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram. Chegando ao lugar, ele lhes disse: ‘Orem para que vocês não caiam em tentação’. Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-se e começou a orar: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua’” (Lucas 22:39-42).
Deus se apraz em colocar ao seu serviço as nossas habilidades naturais, por isso deu a Lucas, “o médico amado” (Cl 4:14), a tarefa de falar da humanidade de Jesus. Veja que Mateus e Marcos apenas mencionam que a sogra de Simão tinha febre, porém Lucas dá um diagnóstico de “febre alta” (Lucas 4:38). Em Atos 28:8 ele descreve o pai de Públio, de Malta, como “doente, acamado, sofrendo de febre e disenteria”. Lucas é o único a descrever a agonia física e emocional de Jesus com detalhes não vistos nos outros evangelhos: “Apareceu-lhe então um anjo do céu que o fortalecia. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão” (Lucas 22:43-44).
Tudo isso reflete a perfeita humanidade de Jesus, que, apesar de Deus, é humano o suficiente para sentir angústia e aflição diante da expectativa de sofrimento e dor. Espiritualmente ele está fortalecido, mas fisicamente está à beira de um colapso. Por isso ele ora ao Pai e é amparado por um anjo. O “cálice” do sofrimento o aterroriza, e se existisse outra maneira de Deus tirar o pecado do mundo, ele passaria longe da cruz. Mas ele ora para que a vontade do Pai prevaleça, pois sabe que não existe alternativa.
“Quando se levantou da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela tristeza. ‘Por que estão dormindo?’, perguntou-lhes. ‘Levantem-se e orem para que vocês não caiam em tentação!… O espírito está pronto, mas a carne é fraca’” (Lucas 22:43-46; Mt 26:41). Jesus ensina o poder da oração diante das provas, e apesar de muitos utilizarem a expressão “a carne é fraca” como desculpa para caírem em pecado moral, não é disto que fala aqui. Seu assunto é a fragilidade do corpo humano para resistir à tortura física e mental. Apesar da debilidade do corpo de carne, o espírito de Jesus está pronto para o que deve enfrentar, e essa prontidão de espírito está disponível a todo crente. Paulo orou para que Deus fortalecesse os efésios “no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito” (Ef 3:16).
Nos próximos 3 minutos Jesus ganha um beijo. De Judas.
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O beijo da traição
Enquanto Jesus falava com seus discípulos, “Apareceu uma multidão conduzida por Judas, um dos doze. Este se aproximou de Jesus para saudá-lo com um beijo” (Lucas 22:47). Um beijo demonstra afeto, respeito e consideração. É também uma forma de cumprimentar, equivalente ao moderno aperto de mão. Se Judas apontasse o dedo para Jesus revelaria suas intenções. Se apenas o cumprimentasse poderia passar despercebido dos outros discípulos. Mas não de Jesus, que conhecia seu pensamento, desejos e intenções. Por isso Jesus pergunta, em tom de exclamação: “Judas, com um beijo você está traindo o Filho do homem?!” (Lucas 22:49).
Judas não sairia ileso daquela tentativa de fingir devoção. E você, é alguém que realmente crê em Cristo como seu Salvador, ou não passa de um que o beija aos domingos? De pessoas assim Jesus falou: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens” (Mt 15:8-9). Dos que “viram os sinais miraculosos que ele estava realizando e creram em seu nome”, João revelou que “Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos” (Jo 2:23-25).
Mas por que Judas precisaria mostrar aos soldados quem era Jesus? Porque, ao contrário das imagens religiosas, ele não tinha olhos azuis, cabelos louros e uma auréola em torno da cabeça. Era igual a qualquer judeu comum de sua época, com olhos e cabelos negros ou castanhos e pele bronzeada. Não se destacava dos discípulos, principalmente à noite. Isaías profetizou de seu aspecto exterior: “Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que o desejássemos” (Is 53:2). Tal descrição era condizente com o aspecto exterior do Tabernáculo no deserto, a grande tenda que representava a presença de Deus na terra.
O Tabernáculo tinha quatro coberturas, e quem estivesse dentro veria a mais bela de todas. Assim é hoje para os salvos por Jesus. Enquanto os incrédulos enxergam nele uma pedra comum, que só faz tropeçar, “para vocês, os que creem, esta pedra é preciosa”, escreveu Pedro (1 Pe 2:7). A feia cobertura exterior do Tabernáculo era feita de peles de animais. Algumas traduções falam de texugos, outras trazem golfinhos ou genericamente animais marinhos. Esqueça a ideia de um casaco de visom ou de uma capa de couro brilhante. O Tabernáculo, visto de fora, “não tinha qualquer aparência ou majestade que nos atraísse”. Assim é Jesus para quem não o conhece na sua intimidade: feio e sem graça.
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A defesa da fé
Ao chegarem os guardas trazidos por Judas, “Os que estavam com Jesus lhe disseram: ‘Senhor, atacaremos com espadas?’. E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita” (Lucas 22:49-50). O Evangelho de João revela que foi Simão Pedro quem atacou Malco, o servo do sumo sacerdote encarregado de prender Jesus. Pedro não era um soldado acostumado ao manejo da espada e pode muito bem ter mirado no pescoço ou na cabeça do homem, mas acertou apenas a orelha. Pedro é imediatamente repreendido por Jesus:
“Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como então se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?” (Mt 26:52-54).
Paulo escreve que, “embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2 Co 10:3-5). Tudo isso mostra claramente que os métodos do cristão para a defesa da fé não são os métodos dos homens.
Efésios 6:13-18 ensina que a “armadura de Deus”, ou equipamento de batalha do cristão, em nada se assemelha aos armamentos usados pelos homens em suas guerras. Ela inclui “o cinto da verdade”, que dá firmeza ao corpo, “a couraça da justiça”, que protege o coração e seus sentimentos, e “o pés calçados com a prontidão do evangelho da paz” para trilharem a senda de Jesus. Para se defender o crente possui “o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno” e “o capacete da salvação” que protege sua mente. A única arma ofensiva é a espada, mas nem um pouco parecida com aquela usada por Pedro. Trata-se da “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus”.
Os cristãos devem destacar a presença de “Cristo como Senhor no coração” e estarem “sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança” que possuem, porém “com mansidão e respeito, conservando boa consciência”, pois “é melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal” (1 Pe 3:15-17).
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O último milagre de Jesus
As primeiras palavras de Jesus nos Evangelhos foram para seus pais, aos doze anos, quando o encontraram no Templo: “Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2:48-49). Ele já cuidava dos interesses de seu Pai antes mesmo de dar início ao seu ministério público e transformar água em vinho na festa de casamento em Caná (Jo 2:11). Aquele seria o seu primeiro milagre.
A desastrada tentativa de Pedro de impedir a prisão de Jesus, decepando a orelha do servo do Sumo-Sacerdote, só serviu para revelar que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (2 Co 5:19). Então, “tocando na orelha do homem, ele o curou” (Lucas 22:51). O último milagre de Jesus foi curar o líder do grupo que havia sido enviado para prendê-lo. Jesus havia dito: “Enquanto é dia, preciso realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar…” (Jo 9:4).
Como já fazia aos doze anos, Jesus continua neste capítulo cuidando dos interesses de seu Pai, e esses interesses são de bênção, não de juízo ou punição; de mãos que curam, não que empunham a espada. Tempos antes, na sinagoga, quando leu Isaías 61, Jesus parou no ponto em que o texto dizia: “…e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lucas 4:19). Ele não continuou lendo. Ainda não era a hora do que vinha a seguir nas palavras do profeta: “…e o dia da vingança do nosso Deus” (Is 61:2).
Se João Batista viera no caráter de um “que jejua e não bebe vinho”, Jesus era visto por seus críticos como “comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11:16-19). Isso tinha um quê de verdade. Em seu primeiro milagre Jesus transformou água em vinho e em seu último curou um pecador inimigo de Deus. “A Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). “A Lei e os profetas duraram até João [Batista]” (Lucas 16:16).
Mas aquele que veio “anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros” (Is 61:1) em poucas horas estará preso, em trevas e abandonado por Deus. A ele podem ser aplicadas as palavras do profeta: “Vocês não se comovem, todos vocês que passam por aqui? Olhem ao redor e vejam se há sofrimento maior do que o que me foi imposto e que o Senhor trouxe sobre mim no dia em que se acendeu a sua ira. Do alto ele fez cair fogo sobre os meus ossos” (Lm 1:12-13).
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A hora de vocês
“Então Jesus disse aos… líderes religiosos que tinham vindo procurá-lo: ‘Estou eu chefiando alguma rebelião, para que vocês tenham vindo com espadas e varas? Todos os dias eu estava com vocês no templo e vocês não levantaram a mão contra mim. Mas esta é a hora de vocês — quando as trevas reinam.’ Então, prendendo-o, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância” (Lucas 22:52-53).
João escreve que, ao se entregar aos que vinham prendê-lo, Jesus deixa escapar uma centelha de poder ao usar as mesmas palavras que usou em Êxodo ao se apresentar a Moisés como o “EU SOU”, ou “JAVÉ”. João diz: “Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: ‘A quem vocês estão procurando?’ ‘A Jesus de Nazaré’, responderam eles. ‘Sou eu’ [ou ‘Eu Sou’], disse Jesus. Quando Jesus disse: ‘Sou eu’, eles recuaram e caíram por terra” (Jo 18:4-6). Lá em Êxodo ele havia se apresentado como o “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3:14).
Esta não é a única vez que Jesus se apresenta como o “EU SOU”. Em outras ocasiões ele declarou: “Se vocês não crerem que EU SOU, de fato morrerão em seus pecados… Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que EU SOU… Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, EU SOU… Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que EU SOU” (Jo 8:24, 28, 58; 13:19). Então Jesus é o mesmo Jeová do Antigo Testamento? Sim.
Ele é o mesmo Jeová que se apresenta severo em algumas circunstâncias no Antigo Testamento, ou se senta para comer com Abraão em Gênesis 18:17-18, revela a ele seus planos de destruir Sodoma e Gomorra e ainda escuta pacientemente Abraão intercedendo pelas cidades. Ele é o mesmo que voltará em poder para julgar, então com aquela aparência tão terrível que fez João cair “aos seus pés como morto” em Apocalipse 1:17.
Se você não crê que Jeová é Jesus e Jesus é Jeová, então não crê na divindade de Cristo, ou não crê na divindade de Jeová, ou crê em uma forma de politeísmo. Seu problema só fica maior e sem solução. Percebe agora a importância do fato de Jesus se entregar sem resistência aos seus captores? Por algumas horas Deus permitiria que as trevas reinassem e os homens tomassem as rédeas dos acontecimentos. “Esta é a hora de vocês, quando as trevas reinam”, disse Jesus. Aquelas trevas são as mesmas que ainda reinam no coração dos que insistem em fazer a própria vontade.
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Quando o coração esfria
Jesus é levado preso para a casa do Sumo Sacerdote e Pedro observa de longe. Perder a proximidade e comunhão com Jesus não foi algo repentino. Começou com Pedro, dominado pela autoconfiança, dizendo: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte” (Lucas 22:33). Depois ele achou que a energia da carne impediria que fosse separado de Jesus. Só acertou uma orelha. Agora Pedro se limita a seguir Jesus de longe, para que as pessoas não pensem que ele seja amigo daquele que o mundo rejeitou. Será que você conhece alguém assim?
Mas ficar longe do único capaz de acalentar seu coração faz Pedro sentir frio. Não existe calor e conforto longe de Jesus, daquele de quem dois outros discípulos mais tarde diriam depois de terem caminhado com o Ressuscitado: “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lucas 24:32). Quando confiamos em nós mesmos, usamos de artifícios carnais para manter nossa comunhão, ou seguimos a Jesus de longe com medo de sermos identificados com ele. No fim acabamos buscando o calor das fogueiras do mundo e a companhia daqueles que condenaram o Senhor.
Quando os inimigos de Jesus “acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao redor dele, Pedro sentou-se com eles. Uma criada o viu sentado ali à luz o fogo. Olhou fixamente para ele e disse: ‘Este homem estava com ele’. Mas ele negou: ‘Mulher, não o conheço’. Pouco depois, um homem o viu e disse: ‘Você também é um deles’. ‘Homem, não sou!’, respondeu Pedro. Cerca de uma hora mais tarde, outro afirmou: ‘Certamente este homem estava com ele, pois é galileu’”. Neste ponto o Evangelho de Mateus acrescenta que Pedro “começou a se amaldiçoar e a jurar: ‘Não conheço esse homem!’” (Lucas 22:55-60; Mt 26:74).
Até o modo de falar muda após alguns minutos na companhia dos ímpios. Pedro xinga e amaldiçoa. Onde estava a mensagem de perdão e salvação que ele pregou nos últimos três anos em que andou com Jesus? “Falava ele ainda, quando o galo cantou. O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: ‘Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes’” (Lucas 22:60-61). Preso e prestes a morrer, Jesus ainda se preocupa com Pedro, e esse amor e cuidado não mudou. O mesmo que morreu e ressuscitou agora zela por seu coração para que não esfrie. Iria você querer se aquecer nas fogueiras dos inimigos do Senhor?
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Sair chorando
Todo cristão sincero se identifica com Pedro em seu fracasso. Um pouco antes Jesus tinha avisado: “‘Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos’. Mas ele respondeu: ‘Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte’”. (Lucas 22:31-33). Satanás queria peneirar todos eles como trigo, mas Simão Pedro corria maior risco. Sua fraqueza estava na confiança própria.
A autoconfiança é vista na carreira profissional como vantagem competitiva, e pode até ser quando o contrário disso é o desânimo, a falta de coragem e sentimento de auto piedade. Mas o cristão possui um recurso muito mais seguro e eficaz que a autoconfiança: a confiança que vem do alto. Posso até ‘confiar no meu taco’, como se costuma dizer, por ter me empenhado em treinar para uma competição, estudar para uma prova ou me capacitar para um emprego. Mas o cristão sabe que precisa de outro tipo de confiança para não ir sozinho à luta. Confiança no Senhor.
Muitos confundem ‘confiar em Deus’ com uma atitude de comodismo, de deixar ‘ao Deus dará’ ou esperar que as coisas caiam do céu. A Bíblia mostra que não é bem assim. “Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é que dá a vitória” (Pv 21:31). É responsabilidade humana o preparar-se, mas a vitória é divina_. “Se não for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda” (_Sl 127:1). Repare que é o Senhor o construtor, mas alguém assenta os tijolos. É o Senhor quem vigia a cidade, mas existe uma sentinela montando guarda.
Confiar em si mesmo foi a ruína de Pedro. Mesmo depois de convertidos trazemos essa velha natureza teimosa, independente e autossuficiente que herdamos de Adão, e sempre que tiramos do Senhor o olhar ela nos faz pecar. O que fazer então? Olhar para o Senhor, pois nossos olhares certamente se cruzarão. “O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro”. De nada adiantaria Pedro culpar outros ou tentar se defender. Ele havia sido peneirado como trigo e falhara, mas mesmo assim continuava trigo, não joio. “Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia” (Pv 28:13). Pedro “saindo dali chorou amargamente” (Lucas 22:61-62). Ele não apenas chorou, mas saiu dali, abandonando a companhia dos inimigos do Senhor e a falsa sensação de conforto daquela fogueira.
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Livrando-se de Jesus
“Os homens que estavam detendo Jesus começaram a zombar dele e a bater nele. Cobriam seus olhos e perguntavam: ‘Profetize! Quem foi que lhe bateu?’ E lhe dirigiam muitas outras palavras de insulto” (Lucas 22:63-65). Pedro já não estava ali para ver como o Senhor se comportou diante de seus acusadores, mas o Espírito Santo mais tarde lhe revelaria que “ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca. Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:22-23).
“Ao romper do dia, reuniu-se o Sinédrio, tanto os chefes dos sacerdotes quanto os mestres da lei, e Jesus foi levado perante eles.” Os sacerdotes intercediam pelo povo diante de Deus, mas aqui acusam o Filho de Deus diante do povo. “‘Se você é o Cristo, diga-nos’, disseram eles. Jesus respondeu: ‘Se eu vos disser, não crereis em mim e, se eu vos perguntar, não me respondereis. Mas de agora em diante o Filho do homem estará assentado à direita do Deus Todo-poderoso’. Perguntaram-lhe todos: ‘Então, você é o Filho de Deus?’ ‘Vós estais dizendo que eu sou’, respondeu ele. Eles disseram: ‘Por que precisamos de mais testemunhas? Acabamos de ouvir dos próprios lábios dele’” (Lucas 22:66-71).
Jesus não andava por aí proclamando ser o Cristo, por isso a pergunta deles é no mínimo estranha: “Se você é o Cristo, diga-nos”. O que os faz pensar assim? Certamente os sinais que Jesus fez, que os profetas haviam apontado como as credenciais do Messias. “Então, você é o Filho de Deus?”. Jesus responde de modo a colocar sobre eles toda a responsabilidade de estarem conscientemente condenando seu Messias: “Vocês estão dizendo que eu sou”. Isso deve ter atingido suas consciências como um raio, mas mesmo assim eles estão dispostos a se livrarem dele. Afinal, como poderiam continuar vivendo sua vida de independência e autossuficiência se o Filho de Deus permanecesse ali para atrapalhar?
Embora este julgamento tenha ocorrido há séculos, ele se repete hoje cada vez que alguém é apresentado a Jesus e se recusa a crer nele. Aceitá-lo implicaria sujeitar-se a ele como Senhor; rejeitá-lo dá a falsa sensação de continuar numa vida de independência. Até quando? Até aquele dia quando terá de dobrar os joelhos diante do “Filho do homem… assentado à direita do Deus Todo-poderoso” e ouvir de sua boca a sentença: “Aparte-se de mim para o fogo eterno” (Mt 25:41). Então aqueles que não quiseram Jesus aqui não o terão também ali. Eternamente_._
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A volta do rejeitado
Chegamos ao capítulo 23 de Lucas, ao momento mais solene da história da humanidade. Alguns dias mais tarde Pedro dirá aos judeus: “Vocês negaram publicamente o Santo e Justo e pediram que lhes fosse libertado um assassino. Vocês mataram o autor da vida!” (At 3:14-15). Embora os judeus tenham sido os principais responsáveis pela morte de Jesus, neste capítulo vemos todas as classes de pessoas representadas nessa injustiça.
Os religiosos entregam Jesus às autoridades seculares para ser executado. O povo prefere “Barrabás, que havia sido lançado na prisão por causa de uma insurreição na cidade e por assassinato” (Lucas 23:19). Os ladrões, alheios à própria sorte, se põem ao lado das autoridades e do povo contra Jesus. Então Pilatos, de forma sarcástica, manda pregar uma placa sobre a cruz, e sem saber torna oficial o fato de toda a humanidade estar representada ali: “Este é o Rei dos Judeus”, anuncia em três idiomas. O latim, do poder secular e militar; o grego, língua universal do comércio, da filosofia, artes e ciência, e o hebraico, representando a religião. Por fim, o próprio Deus, que é luz, será obrigado a abandonar “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Então as trevas reinarão.
Você fica indignado com tanta violência e corrupção no mundo? O que você esperava? A humanidade condenou à morte o Filho de Deus, o autor da vida! É muita ingenuidade achar que este mundo tenha conserto. Talvez você diga que se estivesse lá não o teria rejeitado. Não? Seria você melhor que Pedro, que conviveu com Jesus por mais de três anos e mesmo assim se acovardou quando uma simples criada o expôs como amigo dele? Não se iluda, todos nós teríamos feito o mesmo, pois nascemos inimigos de Deus.
Dizem que se Jesus viesse hoje não seria tratado assim, pois a humanidade está mais evoluída. É mesmo? Neste exato momento algum ‘homem evoluído’ está detonando uma bomba amarrada ao corpo em meio a uma multidão. A questão agora é entre você e Deus. A primeira vinda de Cristo ao mundo já passou, e na próxima “ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram” (Ap 1:7). “Naquele dia os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém, e o monte se dividirá ao meio” (Zc 4:4). “Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos’” (Mt 25:41).
Você não vai esperar até lá para reconciliar-se com Deus, vai?
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Quer ver milagres?
Concluído o julgamento religioso, Jesus é levado a Pilatos para o julgamento civil. Por estarem sob domínio romano, os judeus não podem executar um transgressor. Jesus foi condenado pelos judeus por se declarar Filho de Deus, o que ele realmente era. Agora, diante de Pilatos, os judeus tentam convencer o inimigo invasor de que Jesus conspira contra César. Mas não era isso que eles próprios gostariam de fazer?
“E começaram a acusá-lo, dizendo: ‘Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de imposto a César e se declara ele próprio o Cristo, um rei’. Pilatos perguntou a Jesus: ‘Você é o rei dos judeus?’ ‘Tu o dizes’, respondeu Jesus. Então Pilatos disse aos chefes dos sacerdotes e à multidão: ‘Não encontro motivo para acusar este homem’” (Lucas 23:2-4). Nada é mais degradante do que ver um ímpio ter mais discernimento do que aqueles que conhecem a Palavra de Deus.
Pilatos quer livrar-se do problema, por isso “sabendo que Jesus era da [Galileia], jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também estava em Jerusalém naqueles dias. Quando Herodes viu Jesus, ficou muito alegre, porque havia muito tempo queria vê-lo. Pelo que ouvira falar dele, esperava vê-lo realizar algum milagre” (Lucas 23:7-8).
Quantos hoje ficam alegres ao ouvirem falar de Jesus, mas não por estarem dispostos a crer com o coração e confessá-lo como Senhor, submetendo-se a ele. Ficam alegres apenas com possibilidade de presenciarem algum milagre: serem curados de uma enfermidade, prosperarem nos negócios ou resolverem um relacionamento amoroso. Se este for o seu caso, você não é diferente de Herodes Antipas, o mesmo que mandou matar João Batista por incomodar sua consciência adúltera; o mesmo filho de Herodes, o Grande, que quis se livrar de Jesus quando nasceu e promoveu o massacre dos meninos de Belém.
Portanto, não se iluda com as multidões que hoje enchem os templos da cristandade, achando que todos ali estão interessados em Jesus. “Enquanto [Jesus] estava em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos viram os sinais miraculosos que ele estava realizando e creram em seu nome. Mas Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos. Não precisava que ninguém lhe desse testemunho a respeito do homem, pois ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:23-25). Você já parou para pensar qual o real motivo de você querer ver a Jesus?
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Imagine
Gosto das canções dos Beatles, mas “Imagine” me faz arrepiar. De terror. Em que pese sua beleza poética e melódica, a canção seria o fundo ideal para a cena que temos diante de nós no capítulo 23 de Lucas. Tudo se encaixa: As pessoas unidas em um propósito comum, vivendo em harmonia e sem a preocupação de um destino no céu ou juízo no inferno. Imagine tudo isso “e o mundo viverá como um só”, cantava John Lennon.
De judeus a gentios, de reis a ladrões, de sacerdotes a soldados, aqui todos são um só. “Os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei estavam ali, acusando-o com veemência… Herodes e seus soldados ridicularizaram-no e zombaram dele… Herodes e Pilatos, que até ali eram inimigos, naquele dia tornaram-se amigos… Igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele” (Lucas 23:10-12; Mt 27:44).
No Éden nossos ancestrais creram na promessa da serpente: “Vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5). O que o diabo não contou foi que, apesar de se tornarem “conhecedores do bem e do mal”, eles não teriam poder para fazer o bem ou evitar o mal. Ao decidirem ser “como Deus”, romperam seus laços com o Criador, acabaram nos “laços do diabo, em que à vontade dele estão presos” (2Tm 2:26).
Hoje o homem sonha e canta uma paz mundial, um mundo livre de diferenças, com um só propósito, porém sem Deus. Ou melhor, pode-se até crer em uma força superior, energia cósmica ou grande arquiteto do universo, como se exige nas sociedades que visam unir os homens, independentemente de suas crenças, raças ou nacionalidades. Como nada acontece sem um denominador comum, nada melhor do que a inimizade contra Deus para servir de elemento aglutinador da paz.
Existe nesta cena um frenesi de atividade humana, com todos falando e todos votando com unanimidade. Apenas um está em silêncio: Jesus. Herodes “interrogou-o com muitas perguntas, mas Jesus não lhe deu resposta” (Lucas 23:9). Hoje, quando a violência e a iniquidade correm soltas no mundo, Jesus está em silêncio. Ele voltará a falar ao mundo, porém não serão palavras de graça, mas de juízo. No livro de Apocalipse ele diz: “Continue o injusto a praticar injustiça; continue o imundo na imundícia; continue o justo a praticar justiça; e continue o santo a santificar-se. Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez” (Ap 22:11-12).
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Dia de eleição
Pilatos sabe que não faz sentido condenar Jesus, e tenta de todas as formas livrar-se dessa responsabilidade. Por três vezes ele afirma que Jesus é inocente, além de dizer que Herodes pensava o mesmo. Na Páscoa era costume soltar um prisioneiro, e é com esta possibilidade que Pilatos conta para libertar Jesus. Porém ele acaba cedendo ao clamor popular: “Acaba com ele! Solta-nos Barrabás!… Crucifica-o! Crucifica-o!… pediam insistentemente, com fortes gritos, que ele fosse crucificado; e a gritaria prevaleceu. Então Pilatos decidiu fazer a vontade deles” (Lucas 23:18-23).
O nome “Barrabás” é, na verdade, um sobrenome composto das palavras “Bar” e “Abbas”. No hebraico não se usava sobrenomes como hoje, mas a pessoa era identificada pelo nome do pai. Daí você encontrar nomes como “Simão Barjonas”, que significa “Simão filho de Jonas”, “Bartolomeu” que é “Filho de Tolmai” e “Bartimeu”, o “Filho de Timeu”. A ironia do momento é que o verdadeiro “Filho de Deus” está sendo trocado por uma versão pirata: “Barrabás” — o “Bar Abbas” ou “Filho do Pai”.
Em diferentes passagens Barrabás é identificado como ladrão, insurgente e homicida. Estas características são encontradas no diabo, o ladrão que “vem apenas para furtar, matar e destruir”, em contraste com Jesus, “o bom Pastor” que “dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:10-11). Barrabás também prefigura o anticristo, que será aclamado pela opinião pública. E aí, você realmente acredita que este mundo tenha conserto, depois de ter trocado o “Filho de Deus” por um falso “Filho do Pai”?
Ao escancarar as trevas que traz no coração, a humanidade inaugura o que seria aclamado como a solução para todos os problemas da sociedade: um sistema de governo em que a voz do povo governado prevalece sobre a autoridade do governante. Se o Império Romano é o “quarto reino, forte como o ferro” do sonho profético de Nabucodonosor no capítulo 2 do Livro de Daniel, ou a materialização das pernas da grande estátua, nesta cena temos o embrião dos pés e dos dedos, “em parte de barro e em parte de ferro” (Dn 2:42). Trata-se do futuro renascimento do Império Romano, que “será em parte forte e em parte frágil”. O ferro tipifica a mão forte do governo, porém o barro revela a humanidade. Se na prova cair uma questão perguntando quando foi que começou a democracia, pode responder que foi há dois mil anos com a eleição de Barrabás.
Nos próximos 3 minutos os judeus selam seu próprio destino.
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Futuro sombrio
Em outro evangelho Jesus carrega a cruz, mas aqui nos é dito que ela é carregada por Simão de Cirene. As duas coisas aconteceram em diferentes momentos. Antes o Senhor havia exortado os discípulos a carregarem cada um a sua própria cruz, mas ele certamente não falava de uma cruz de madeira, como fazem os pagadores de promessas na tentativa de agradarem a Deus por seus esforços. Em Lucas 9 Jesus disse:
“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a vida por minha causa, este a salvará” (Lucas 9:23-24). A cruz era o instrumento de morte, como é a cadeira elétrica hoje. Tomar a própria cruz não significa se resignar a um sofrimento, mas considerar-se morto para o mundo, porém vivo para Deus.
“Fui crucificado com Cristo”, escreveu Paulo aos Gálatas apontando a posição que um crente ocupa agora aos olhos de Deus e do mundo. “Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim… Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo… Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Gl 2:20; 6:14; Rm 6:11).
O cortejo era acompanhado por mulheres que “lamentavam e choravam”, e Jesus lhes diz: “Filhas de Jerusalém, não chorem por mim; chorem por vocês mesmas e por seus filhos! Pois chegará a hora em que vocês dirão: ‘Felizes as estéreis, os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram!’. Então dirão às montanhas: ‘Caiam sobre nós!’ e às colinas ‘Cubram-nos!’. Pois se fazem isto com a árvore verde, o que acontecerá quando ela estiver seca?” (Lucas 23:27-31).
Jesus é a “árvore verde” que veio dar fruto e foi cortada. Israel, a árvore seca, já sofreu dois mil anos de perseguição pelo que fez a Jesus, porém mais sofrimentos aguardam esse povo e também os gentios que pisam “aos pés o Filho de Deus” e insultam “o Espírito da graça” (Hb 10:29): “Os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os poderosos… gritarão às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?’” (Ap 6:15-17).
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Entre ladrões
“Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram com os criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda… Um dos criminosos que ali estavam dependurados lançava-lhe insultos: ‘Você não é o Cristo? Salve-se a si mesmo e a nós!’ Mas o outro criminoso o repreendeu, dizendo: ‘Você não teme a Deus, nem estando sob a mesma sentença? Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos Atos merecem. Mas este homem não cometeu nenhum mal’” (Lucas 23:32-33, 39-41).
Mateus e Marcos dizem que “igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele” (Mt 27:44; Mc 15:32), portanto algo fez com que um dos malfeitores parasse de ofender a Jesus. O que o teria feito mudar de ideia? Certamente as palavras de Jesus intercedendo por seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23:34). João e Paulo explicam que “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele… Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (Jo 3:17; 2 Co 5:19).
Neste ladrão vemos a conversão do pecador. Ele é um condenado prestes a morrer e se perder eternamente, mas não parece ligar para isso, como qualquer pessoa que “pensa que escapará do juízo de Deus”. Ele insulta Jesus, como muitos fazem, sem perceber que “está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento e Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento” (Rm 2:3-6). Porém, quando escuta as palavras de bondade ditas por Jesus, é como se despertasse para a exortação: “Será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Rm 2:4).
Portanto, não é você, de si mesmo, quem se arrepende, como se fosse uma boa obra sua, mas é a bondade de Deus que o leva a arrepender-se, pois o Espírito Santo é quem convence “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8). E, uma vez arrependido, você passa a condenar-se a si mesmo — como fez o ladrão — e a justificar a Deus. Então vem o pedido de um que deposita toda a sua fé e confiança em Jesus: “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Será que Jesus respondeu ao ladrão: “Ok, então desça daí, arrume sua vida, seja batizado, filie-se a uma igreja e depois venha falar comigo”? Não, ele apenas disse: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (Lucas 23:42-43).
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Hoje no Paraíso
Nos últimos 3 minutos vimos o que o ladrão convertido na cruz pediu e recebeu. Você reparou que ele pediu uma coisa e recebeu outra? Assim é a maneira de Deus, porque nem sempre sabemos ou entendemos o que pedimos. O ladrão arrependido reconheceu que Jesus era o Rei esperado para governar Israel. Reconheceu também que, apesar de tudo, o seu reino seria de algum modo estabelecido. Tudo o que ele pediu foi ser lembrado por Jesus quando este entrasse em seu reino. Só isso. Não ser esquecido.
Ele certamente não esperava pela resposta de Jesus, que não falou do reino, mas do Paraíso. Não em alguma data futura e indeterminada, mas no menor espaço de tempo possível, e ainda com uma garantia: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (Lucas 23:42-43). Em 2 Coríntios 12:2-4 Paulo identifica o Paraíso como o terceiro céu e Apocalipse 2:7 revela ser a presença de Deus. Mas como poderia Jesus ir ao Paraíso naquele mesmo dia se dizem que ele desceria ao inferno?
A confusão é gerada por uma tradução pouco precisa do Salmo 16:10, citado também em Atos 2:27: “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção”. Outras versões dizem “não deixarás a minha alma na morte”, outras, “na região dos mortos” ou “no sepulcro”. A palavra grega é “hades”, que não significa um lugar, mas uma condição. Naquele dia o ladrão e Jesus estariam ao mesmo tempo no “hades” e “no Paraíso”, isto é, na condição de terem a alma e o espírito separados do corpo, porém no lugar chamado Paraíso.
Então quando é que Jesus teria descido ao inferno? Nunca. A palavra “inferno” não existe na Bíblia. Ela foi usada por tradutores no lugar de palavras com diferentes significados, como “hades”, que é a condição de morte, e “geena”, que é o “lago de fogo”, o destino final dos perdidos. O lago de fogo ainda está vazio. Todos os que morreram estão no hades, isto é, na condição de morte, mas alguns já estão salvos, com Cristo, e outros perdidos e impossibilitados de passarem para o lado dos salvos. Um dia todos deixarão o hades — ou a condição de morte física — para receberem seus corpos: uns para estarem com Deus em corpo, alma e espírito, outros para serem lançados no lago de fogo. Em ambos os casos, eternamente.
Mas se Jesus subiu naquele dia ao Paraíso, quando ele teria pregado aos condenados que estão no hades, como Pedro diz em sua carta? Há muitos séculos, antes do Dilúvio, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Hoje é o dia da salvação
Quando alguém pega a promessa de Jesus ao ladrão arrependido, de que estariam juntos naquele mesmo dia no Paraíso, e junta com Atos 2:27, que previa que Cristo não ficaria no hades, e ainda acrescenta 1 Pedro 3:19 e 4:6 ao pacote, a confusão fica completa. Como já expliquei, hades não é um lugar físico, mas o estado de separação do corpo quando a pessoa morre. Sua alma e espíritos continuam vivos e despertos com Cristo no céu, no caso dos salvos, ou longe de Cristo e sofrendo nessa condição, no caso dos perdidos. Mas vamos ler a passagem em 1 Pedro 2:5; 3:19 e 4:6, inserindo algumas explicações no texto para facilitar sua compreensão.
“[Deus] não poupou o mundo antigo quando trouxe o dilúvio sobre aquele povo ímpio, mas preservou Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas… [Jesus] foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual [Espírito] também foi e pregou [por intermédio de Noé] aos espíritos [que agora estão] em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída… Por isso mesmo o evangelho foi pregado também aos [que hoje estão] mortos, para que eles, mesmo julgados no corpo segundo os homens, vivam pelo Espírito segundo Deus” (1 Pe 2:5; 3:19; 4:6).
Juntando tudo, Jesus não foi ao hades pregar o evangelho no dia em que morreu na cruz. Nesse dia ele foi direto ao Paraíso, se é que você acredita no que ele disse ao ladrão. O que Pedro menciona em sua carta ocorreu muito tempo antes, quando Jesus, no Espírito, usou Noé, o “pregador da justiça”, para avisar os homens do juízo que iria cair sobre o mundo. Essa pregação de Noé durou mais de cem anos, enquanto Deus pacientemente aguardava a construção da arca. Os espíritos dos que ouviram a pregação de Jesus por intermédio de Noé e morreram no dilúvio, estão hoje aprisionados no hades aguardando para serem lançados no lago de fogo.
Nos últimos dois mil anos muitos ouviram o evangelho e morreram na incredulidade e estão hoje no hades. Escutaram da graça de Deus enquanto estavam vivos e agora, mortos, já nada podem fazer para mudar seu destino. De nada adiantaria Cristo ir até eles pregar o evangelho, pois o dia da oportunidade já passou. Que dia? O mesmo que Jesus prometeu ao ladrão que estaria com ele no Paraíso: Hoje! Se você ainda não tomou uma decisão por Cristo, lembre-se de que esse mesmo “hoje” serve para quem escuta o evangelho saber que Amanhã será tarde demais. “Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (Hb 4:7).
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O ponto alto da história
A crucificação de Jesus é o ponto alto da história de ódio do pecador por seu Criador. Até este momento os homens pensavam estar no controle da situação, e o próprio Jesus lhes havia dito: “Esta é a hora de vocês, quando as trevas reinam” (Lucas 22:53). Mas Deus, que até aqui parecia indiferente a tudo o que faziam ao seu Filho, apaga a luz. Homem algum poderia evitar que o sol do meio dia se tornasse em trevas. Aquele era também um sinal de que Deus abandonava Jesus ali para assumir os nossos pecados como se fossem seus, e pagar por todos eles. Por isso ele declara profeticamente no Salmo 69:4: “Sou forçado a devolver o que não roubei”.
Não existe vida para o homem do lado de cá da cruz e da morte. É preciso estar em Cristo, ter morrido ali com ele e ressuscitado ao terceiro dia, para receber vida nova. Na cruz Deus colocou um ponto final na raça dos filhos de Adão para iniciar uma nova criação que está além da morte, onde a verdadeira vida começa.
O Filho de Deus se fez Filho do Homem para, por sua morte, poder transformar em filhos de Deus aqueles que nasceram filhos de homens. O que tinha vida em si mesmo, veio ao mundo morrer para dar vida aos que estavam mortos em delitos e pecados. Aquele que tinha seu lar no céu desceu à terra para dar um lar no céu a nós, criaturas da terra. O único que era perfeitamente justo foi feito pecado na cruz, para que nós, que nascemos em iniquidade, fôssemos feitos justiça de Deus. O imortal se fez mortal para dar vida eterna a nós mortais. Ele que era eternamente livre se fez escravo deixando-se pregar numa cruz, a fim de libertar a nós, escravos do pecado. Aquele que era infinitamente rico se fez pobre ao entregar seu último bem, a própria vida, para enriquecer aqueles que nem vida possuíam. Aquele que é luz desceu às trevas, para transformar em filhos da luz a nós, que éramos trevas. Aquele que estava no seio do Pai veio a esta terra distante e desceu à morte, para levar para perto de si aqueles que estavam longe de Deus.
Jesus bradou em alta voz: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’. Tendo dito isso, expirou. O centurião, vendo o que havia acontecido, louvou a Deus, dizendo: ‘Certamente este homem era justo’. E todo o povo que se havia juntado para presenciar o que estava acontecendo, ao ver isso, começou a bater no peito e a afastar-se. Mas todos os que o conheciam, inclusive as mulheres que o haviam seguido desde a Galileia, ficaram de longe, observando essas coisas” (Lucas 23:44-49).
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Rico ou pobre?
Hoje há tantos evangélicos pregando prosperidade que quase nos esquecemos de que nos anos 70 e 80 a moda entre católicos era a “Teologia da Libertação”. Ao contrário da “Teologia da Prosperidade”, que tenta aplicar à Igreja as promessas feitas a Israel ao afirmar que todo cristão deve ser rico, a chamada “opção pelos pobres” foi adotada por revolucionários para dar um tom religioso ao marxismo e à luta de classes.
Nenhuma delas tem fundamento bíblico, pois o objetivo do cristão neste mundo não é ser pobre ou rico, e nem colocar pobres contra ricos ou se achar capaz de erradicar a pobreza. É claro que a Palavra de Deus sempre exortou “que nos lembrássemos dos pobres” (Gl 2:10), mas Jesus deixou claro que “Os pobres vocês sempre terão consigo” (Jo 12:8), mostrando que este problema não será resolvido até que ele venha para reinar.
É tão errado um rico gloriar-se em sua riqueza, quanto um pobre em sua pobreza. No corpo de Cristo existem mais pobres que ricos, mais iletrados que sábios, mais fracos que poderosos, mas “quem se gloriar, glorie-se no Senhor” (1 Co 1:26-31). Deus permite as diferentes condições para usar os seus de diferentes maneiras. Cristianismo não é comunismo. Os pobres não devem acreditar nas palavras dos pregadores da prosperidade, achando que se fossem ricos seriam felizes, e os ricos não devem confiar nas riquezas, mas estarem prontos a ajudar “especialmente aos da família da fé” (Gl 6:10), ou seja, dando prioridade aos seus irmãos em Cristo.
Se alguns discípulos, pobres e humildes, não tinham acesso ao governador Pilatos para requerer o corpo de Jesus, Deus usou dois discípulos ricos e influentes para esta tarefa. “José, membro do Conselho, homem bom e justo… de Arimateia… “dirigindo-se a Pilatos, pediu o corpo de Jesus”, e “Nicodemos levou cerca de trinta e quatro quilos de uma mistura de mirra e aloés” para preparar o corpo para o sepultamento no sepulcro novo doado por José de Arimateia. (Lucas 23:50-56; Jo 19:38-42).
Entre o povo de Deus há pessoas de diferentes classes sociais, mas todos devem aprender a se contentar com o que possuem, seja riqueza ou pobreza, à semelhança do apóstolo Paulo, que disse: “Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:11-13).
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Crer no impossível
Chegamos ao último capítulo do Evangelho de Lucas, quando “no primeiro dia da semana, de manhã bem cedo, as mulheres tomaram as especiarias aromáticas que haviam preparado e foram ao sepulcro. Encontraram removida a pedra do sepulcro, mas, quando entraram, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. Ficaram perplexas, sem saber o que fazer” (Lucas 24:1-4). A perplexidade delas é igual à minha e à sua, quando as coisas não saem do modo como esperávamos. A razão é que, à semelhança daquelas mulheres, nos esquecemos de incluir Deus em nossa equação. Então, quando Deus age fora do esperado, perdemos o chão.
Para elas, a dor da morte de Jesus aumentou ainda mais com a ideia de seu corpo ter sido roubado do sepulcro. Mas e se ele tivesse ressuscitado? Não, elas não cogitariam tal coisa, pois aí seria preciso pensar fora da caixa de como as coisas acontecem nesta vida sem a intervenção divina. Porém, em alguns minutos elas irão aprender que, para Deus, nada é impossível.
“De repente dois homens com roupas que brilhavam como a luz do sol colocaram-se ao lado delas. Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: ‘Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galileia: ‘É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia’. Então se lembraram das suas palavras” (Lucas 24:4-8).
A espera entre a morte de Jesus e a boa notícia dos anjos elas passaram horas de angústia e depressão. A Lei do descanso obrigatório no sábado não permitia que fossem dar sequência aos trabalhos de aplicar especiarias aromáticas ao corpo do defunto. É triste ver quantos hoje vivem nesse hiato de sofrimento e dor. Ouviram que Jesus morreu, penduram na parede de suas casas uma miniatura da cruz com a figura de um homem morto, e passam a vida “procurando entre os mortos aquele que vive”.
Isso faz lembrar a história do jovem que, ao se converter a Cristo, entendeu logo que crer no evangelho incluía crer na morte e ressurreição de Cristo. Então, quando reparou no crucifixo na parede da sala, não hesitou em arrancar dele a figura do homem morto. Quando sua mãe viu a cruz vazia, exclamou horrorizada: “Cadê o Jesus que estava aqui?!”. “Ressuscitou!”, respondeu o jovem com a naturalidade de quem crê no impossível.
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Nem razão, nem emoção
As mulheres que foram ao sepulcro com perfumes para aplicar ao corpo morto de Jesus eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, além de outras. Mas em outra parte vemos Maria, de Betânia, aplicar perfumes ao corpo vivo de Jesus. Incitados por Judas, alguns protestaram. Afinal, o dinheiro do perfume teria sido melhor empregado se fosse dado aos pobres. Na ocasião Jesus repreendeu os discípulos, dizendo:
“Deixem-na em paz. Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo. Pois os pobres vocês sempre terão consigo, e poderão ajudá-los sempre que o desejarem. Mas a mim vocês nem sempre terão. Ela fez o que pôde. Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para o sepultamento. Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória” (Mc 14:6-9).
Aquela mulher era a única com discernimento espiritual para crer nas palavras de Jesus: “É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia” (Lucas 24:6-7). E os outros? Bem, talvez pensassem como Pedro, que reagiu à notícia da morte e ressurreição dizendo: “‘Nunca, Senhor! Isso nunca te acontecerá!’ Jesus virou-se e disse a Pedro: ‘Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens’” (Mt 16:22-23).
Erramos quando tentamos compreender as coisas de Deus com a razão ou com a emoção. Quando nossas conclusões não são sopradas pelo diabo, como aconteceu com Pedro, elas brotam de sensações e desejos carnais que nada têm a ver com as coisas espirituais. Afinal, seria perfeitamente natural alguém reagir como Pedro diante de um que dizia que seria morto para depois ressuscitar. Ninguém gosta de morrer ou de perder alguém para a morte, e ressurreição não é coisa lógica que se aceite com a razão.
Por isso, para o incrédulo, que anda segundo “a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora atua nos que vivem na desobediência… satisfazendo as vontades da carne, seguindo os seus desejos e pensamentos… a palavra da cruz é loucura… Mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes” (Ef 2:2-3; 1 Co 1:18-19).
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Pare de duvidar e creia!
“Quando [as mulheres] voltaram do sepulcro, contaram todas estas coisas aos Onze e a todos os outros… Mas eles não acreditaram nas mulheres; as palavras delas lhes pareciam loucura. Pedro, todavia, levantou-se e correu ao sepulcro. Abaixando-se, viu as faixas de linho e mais nada; afastou-se, e voltou admirado com o que acontecera” (Lucas 24:9-12). Aqui só fala de Pedro e de como teria ficado “admirado”, mas em outro Evangelho vemos que ele estava acompanhado de João na visita ao sepulcro vazio, e este, chegando lá, “viu e creu” (Jo 20:8). Creu em que, se no sepulcro restavam apenas “as faixas de linho e mais nada” (Lucas 24:12; Jo 20:6-7)? Creu nas Escrituras que previam a morte e ressurreição do Messias, e nas palavras de Jesus.
Naquele primeiro dia da semana, e nos demais do período de quarenta dias que Jesus ainda ficaria na terra, muitos teriam o privilégio de vê-lo, e outros creriam pelo testemunho destes. O Evangelho de Marcos nos diz que “quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios” (Mc 16:9). Vemos que apareceu também a Pedro, antes do encontro com dois discípulos no caminho de Emaús.
Em sua carta aos Coríntios, Paulo diz que Jesus “_Apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez… Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos” (_1 Co 15:5-8). Ele não menciona as mulheres, pois na época elas não eram tidas como testemunhas. Embora então só restassem onze apóstolos, Paulo fala de Jesus ter aparecido “aos doze”, tratando-os como um corpo administrativo, algo como quando dizemos que o Congresso aprovou uma lei, mesmo que nem todos os congressistas estivessem presentes à sessão.
Não sabemos quantos desses creram na ressurreição antes de terem visto o Ressuscitado. O que sabemos é que Tomé não creu enquanto não o viu com seus próprios olhos e foi convidado a tocar em seu corpo. Talvez você considere Tomé feliz por tamanho privilégio, mas não é o que Jesus pensa dos que querem ver para crer. “Disse-lhe Tomé: ‘Senhor meu e Deus meu!’ Então Jesus lhe disse: ‘Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram’.” Talvez a reprimenda feita a Tomé sirva para você, caso esteja vacilando em aceitar o evangelho, ou se for um daqueles que vivem correndo atrás de sinais, curas e milagres: “Pare de duvidar e creia”, Jesus disse a Tomé e diz o mesmo a você e a mim (Jo 20:27-29).
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Nova criação
No dia da ressurreição dois discípulos “estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles; mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo” (Lucas 24:13-16). A pergunta que me vem à mente é: O que aqueles dois discípulos estavam fazendo fora de Jerusalém?
Mesmo que não compreendessem os avisos de Jesus, de que seria entregue à morte e ressuscitaria ao terceiro dia, por que não deram crédito às mulheres que “contaram que tinham tido uma visão de anjos, que disseram que ele estava vivo”? Talvez pela decepção de não ter ocorrido o que queriam, “que fosse ele que iria trazer a redenção a Israel” (Lucas 24:21).
Sempre que nossa vontade não está em harmonia com os pensamentos de Deus ficamos decepcionados e nos afastamos do lugar onde o Senhor gostaria que estivéssemos. Naquele momento Jerusalém era o lugar onde deveriam estar, e a redenção que Deus tinha efetuado ia além da mera libertação do opressor romano. Pela obra da cruz Deus “nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Cl 1:12-13).
Seus “rostos entristecidos” e olhos marejados são incapazes de ver as coisas com clareza. Jesus havia predito aquela tristeza, quando disse: “Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria… agora é hora de tristeza para vocês, mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão, e ninguém lhes tirará essa alegria” (Jo 16:21-22). Agora Jesus está bem ao lado deles, mas a alegria prometida não parece se manifestar. Afinal, eles nem mesmo o reconhecem!
Em 2 Coríntios 5:16-17 Paulo diz que “se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo”. Durante alguns anos eles andaram ao lado de um Jesus fraco e humilde. Agora caminham com o Ressuscitado, num corpo de carne e ossos, porém não mais desta criação. Mas eles só irão perceber isso daqui a pouco, quando o Senhor expressar comunhão com eles e abrir seus olhos. É impossível conhecer a Cristo com os sentidos que herdamos de Adão. Por isso Jesus diz que “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (Jo 3:3). Com que olhos você busca ver a Jesus? Com os olhos da carne, da inteligência e razão?
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Todas as Escrituras
Os discípulos a caminho de Emaús são repreendidos por serem lerdos em crer no que diziam as Escrituras. “Ele lhes disse: ‘Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?’ E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lucas 24:25).
O tema principal do Antigo Testamento é Cristo, o Cordeiro que viria para morrer no lugar do pecador, ressuscitar e “entrar na sua glória”. O tema do Novo Testamento é o mesmo Cristo, que agora já veio e cumpriu a obra que havia sido prenunciada no Jardim do Éden, quando Deus sacrificou um animal inocente para cobrir com sua pele a nudez de Adão e Eva. No passado uma pessoa devia crer no Cordeiro que Deus iria providenciar; hoje você é salvo crendo no Cordeiro que Deus já providenciou.
Quando Jesus começa “por Moisés e todos os profetas” para explicar o que tinha sido escrito de si mesmo, ele está incluindo todas as Escrituras, de Gênesis a Malaquias. Alguém que diz crer apenas nos Evangelhos ou nas palavras de Jesus, e não no Antigo Testamento, certamente nunca percebeu que ele está aqui autenticando tudo o que foi escrito, inclusive aquelas passagens que muitos consideram desagradáveis ou politicamente incorretas segundo os costumes da civilização moderna.
Lembre-se de que ainda que nós não sejamos capazes de compreender o que Deus disse e fez no Antigo Testamento, mesmo assim ele é Deus e a sua Palavra é verdade. Sempre que duvidarmos dele estaremos errando, por mais que a lógica e o bom senso queiram nos dizer que é a sabedoria humana que deve prevalecer. Os homens têm suas próprias maneiras de enxergar as coisas por desconhecerem os propósitos de Deus e se colocarem como o centro do Universo. É por isso que Jesus repreende os fariseus por sua incredulidade no capítulo 5 do Evangelho de João:
“Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas não procuram a glória que vem do Deus único? Contudo, não pensem que eu os acusarei perante o Pai. Quem os acusa é Moisés, em quem estão as suas esperanças. Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto, porém, que não creem no que ele escreveu, como crerão no que eu digo?” (Jo 5:44-47).
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Coisas são abertas
O conhecimento e apreciação de Cristo começam quando ele nos abre as Escrituras. Com os discípulos no caminho de Emaús, Jesus não traz novas revelações, mas fala do que já fora revelado. “E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.”. Delas os discípulos comentariam mais tarde, dizendo: “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lucas 24:27-32).
A fé cristã não existe independente das Escrituras. Você não pode criar um Jesus segundo os seus próprios caprichos. Ou você crê no que é revelado na Bíblia, ou você não crê em Jesus de maneira alguma. Pessoas insatisfeitas com as Escrituras correm atrás de “fábulas profanas de velhas”, mas “o Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada” (1Tm 4:1-2, 7).
Três coisas são abertas aos discípulos: As Escrituras, os olhos e o entendimento. As Escrituras são o ponto de partida para se conhecer a Cristo. Sempre que o Senhor abre as Escrituras a alguém, passa a existir nesse coração o desejo de querer mais e de não perder sua companhia. Isto é o que distingue um verdadeiro crente de um mero religioso. “Fique conosco”, é a reação dos discípulos ao chegarem a Emaús, quando o Senhor parece querer seguir adiante sozinho. São eles que convidam Jesus a entrar e ficar, não o contrário. Quando as Escrituras fazem arder o seu coração, seu maior desejo é que o Senhor fique sempre com você.
“Então, ele entrou para ficar com eles. Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles” (Lucas 24:29-31). Esse ato de intimidade e comunhão faz com que seus olhos sejam abertos. Mas por que o Senhor desaparece da vista deles? Porque, com os olhos da alma abertos, eles não precisarão mais ver para crer. Poderão continuar desfrutando do Senhor e de sua presença mesmo durante a sua ausência, a qual já dura mais de dois mil anos. Mais tarde, quando eles estiverem reunidos com os outros discípulos em Jerusalém e o Senhor se colocar no meio deles, será a vez de lhes abrir o entendimento. Como ele continua fazendo ainda hoje, ao valorizarmos a Pessoa de Cristo, e mais ninguém, quando estamos congregados ao seu Nome.
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Jerusalém
Depois de lhes abrir as Escrituras para poderem identificar nelas o Cristo que havia de vir, morrer, ressuscitar e voltar aos céus, e após lhes abrir os olhos para desfrutarem da certeza da ressurreição, eles ainda precisavam fazer algo: voltar ao lugar de onde nunca deveriam ter saído. A intenção do Senhor era que os discípulos estivessem em Jerusalém para reencontrá-los ali, porém aqueles dois haviam tomado a iniciativa de partir da cidade.
No passado Deus havia estabelecido um lugar para colocar o seu Nome, e esse lugar seria Jerusalém. Ele dissera aos israelitas “[Vocês] procurarão o local que o Senhor, o seu Deus, escolher dentre todas as tribos para ali pôr o seu nome… Tenham o cuidado de não sacrificar os seus holocaustos em qualquer lugar que lhes agrade. Ofereçam-nos somente no local que o Senhor escolher numa das suas tribos” (Dt 12:4-14).
Isso iria mudar, como o próprio Jesus revelou à mulher samaritana, ao dizer: “Está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém” (Jo 4:21). Mas até que essa “hora” chegasse, quando a Igreja, o povo celestial de Deus, passaria a congregar ao Nome do Senhor Jesus, Jerusalém ainda era a “cidade do Grande Rei” (Mt 5:35).
Todavia esse “Grande Rei” havia sido rejeitado por seu próprio povo e entregue ao governador Pilatos, cujos soldados “tiraram-lhe as vestes e puseram nele um manto vermelho; fizeram uma coroa de espinhos e a colocaram em sua cabeça. Puseram uma vara em sua mão direita e, ajoelhando-se diante dele, zombavam: ‘Salve, rei dos judeus!’ Cuspiram nele e, tirando-lhe a vara, batiam-lhe com ela na cabeça. Depois de terem zombado dele, tiraram-lhe o manto e vestiram-lhe suas próprias roupas. Então o levaram para crucificá-lo” (Mt 27:28).
Na cidade onde havia sido morto, ele também seria sepultado, e daquele mesmo sepulcro ele ressuscitaria, conforme havia prometido aos discípulos. Os dois discípulos a caminho de Emaús agora entendem que devem retornar a Jerusalém. “Levantaram-se e voltaram imediatamente para Jerusalém. Ali encontraram os Onze e os que estavam com eles reunidos, que diziam: ‘É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!’ Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como Jesus fora reconhecido por eles quando partia o pão”(Lucas 24:33-35). Agora estão todos ali e só falta um: o próprio Senhor no meio deles. E é isto o que eles estão prestes a testemunhar.
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Jesus no meio
Os discípulos que retornaram de Emaús ainda falavam de seu encontro com o Senhor quando “o próprio Jesus apresentou-se entre eles e lhes disse: ‘Paz seja com vocês!’ Eles ficaram assustados e com medo, pensando que estavam vendo um espírito. Ele lhes disse: ‘Por que vocês estão perturbados e por que se levantam dúvidas em seus corações? Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho’. Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. E por não crerem ainda, tão cheios estavam de alegria e de espanto, ele lhes perguntou: ‘Vocês têm aqui algo para comer?’ Deram-lhe um pedaço de peixe assado, e ele o comeu na presença deles” (Lucas 24:36-43).
Após séculos de influência de filosofias pagãs, os cristãos perderam de vista uma verdade importante acerca da ressurreição: a de que Jesus ressuscitou em um corpo tangível de carne e ossos. Não era um corpo translúcido ou de ectoplasma, mas o mesmo corpo sepultado dias antes e transformado em uma matéria até então desconhecida, pois ninguém havia ressuscitado assim. Um corpo que não estava mais sujeito ao tempo e ao espaço, podendo aparecer no meio dos “discípulos reunidos a portas trancadas” (Jo 20:19) e comer peixe diante deles.
Assim como Adão foi formado do pó da terra em um corpo para viver no tempo, Cristo é o protótipo do Homem da nova Criação em um corpo para a eternidade. “De fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (1 Co 15:20-23).
O que isso tem a ver com você? Tudo, se você tiver sido salvo por Cristo, pois é num corpo assim que viverá para sempre, imune à morte, doenças e sofrimentos. Se a sua esperança for limitada a uma vida saudável, segura e próspera aqui, você ainda não entendeu que “a nossa cidadania está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fp 3:20). Agora a melhor parte: isto pode acontecer agora mesmo, “num abrir e fechar de olhos” (1 Co 15:52).
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Sua próxima piscadela
Nas epístolas de Paulo nós encontramos a palavra “mistério” repetida diversas vezes. Isto porque Paulo recebeu revelações desconhecidas dos profetas do Antigo Testamento e até dos apóstolos que andaram com Jesus. Aos outros apóstolos já tinha sido revelado o “mistério do Reino de Deus” (Mc 4:11), mas os mistérios revelados a Paulo não estão limitados à terra e ao tempo, como é o caso do Reino de mil anos, mas têm uma amplitude eterna. O “mistério” da ressurreição é um deles, e Paulo o apresenta aos Coríntios começando com o contraste da primeira Criação:
“O primeiro homem era do pó da terra; o segundo homem, do céu. Os que são da terra são semelhantes ao homem terreno; os que são do céu, ao homem celestial. Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial. Irmãos, eu lhes declaro que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que é perecível pode herdar o imperecível” (1 Co 15:47-50).
“Eis que eu lhes digo um mistério”, continua Paulo ao trazer uma revelação inédita: “Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘A morte foi destruída pela vitória’. ‘Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?’ O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15:51-57).
Se o Cristo que você segue é apenas um provedor de benefícios para esta vida, então você ainda não conheceu o verdadeiro. Isto aqui é um grão de poeira comparado à eternidade. O Universo, o tempo e a matéria deixarão de existir quando “Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada… Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça”(2 Pe 3:10-13). Em que vida estão suas expectativas? Nesta, sofrida e perecível, ou na eterna, em um corpo ressurreto semelhante ao de Jesus?
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Da Lei para a graça
Aproxima-se o momento em que Jesus se despedirá de seus discípulos para subir aos céus. Ele lhes diz: “‘Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’. Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras” (Lucas 24:44-45). A Lei, os profetas e os Salmos representavam todo o Antigo Testamento, porém nem os discípulos, que andaram por três anos com Jesus, seriam capazes de compreender as Escrituras se o Senhor não lhes abrisse o entendimento.
O apóstolo Paulo deixa isso claro, ao dizer que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Isto significa que o mais sábio incrédulo nunca será capaz de entender uma vírgula sequer da Bíblia, enquanto o mais iletrado crente absorve naturalmente os mistérios de Deus quando guiado pelo Espírito Santo. Entendeu agora a razão de não existir nada para você aprender em livros, filmes e novelas com temas bíblicos produzidos por incrédulos?
Os discípulos aqui são vistos ainda no caráter de um remanescente judeu e no contexto do reino a ser estabelecido na terra. Ainda não são membros do corpo de Cristo, a Igreja, que só seria formada no capítulo 2 do livro de Atos. Mas as palavras de Jesus inauguram o evangelho da graça de Deus, que se resume nesta frase: “O Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas” (Lucas 24:46-48).
João escreveu que “a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17), e Paulo pregou aos Coríntios a boa nova de “que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:1-4). Este evangelho de Lucas, que começou com uma cena tipicamente judaica e terrena, com o sacerdote Zacarias ocupado com a Lei e os serviços do Templo, termina abrindo os céus e inaugurando o evangelho da graça de Deus. A partir daí os discípulos não mais sairão pregando preceitos da Lei, mas a salvação pela fé em Cristo, que morreu e ressuscitou. E você, será que está entre aqueles que ainda pregam a Lei e uma salvação baseada em obras?
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Alegria, alegria!
Jesus encerra sua despedida com a promessa de enviar o Espírito Santo, que só poderia vir morar nos crentes após ele ser glorificado nas alturas. Para isso eles deviam permanecer em Jerusalém, a mesma cidade onde ele tinha sido rejeitado, morto e ressuscitado, e de onde o evangelho da graça sairia levando “o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações” (Lucas 24:47). Ali também o Espírito Santo pousaria na Igreja que estava para ser formada. Jesus diz: “Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto” (Lucas 24:49).
Depois disso ele leva os discípulos a Betânia, a aldeia que era o lugar preferido do Senhor. Ali ele encontrava repouso na casa de Lázaro, era servido por Marta e desfrutava da total atenção de Maria assentada aos seus pés (Jo 12:1-3). Não poderia existir um lugar mais apropriado para ser a última parada de nosso Senhor na terra. Dali ele não só voltaria aos céus, mas subiria abençoando os seus. “Tendo-os levado até as proximidades de Betânia, Jesus levantou as mãos e os abençoou. Estando ainda a abençoá-los, ele os deixou e foi elevado ao céu” (Lucas 24:50-51).
Este evangelho começa e termina com alegria. Primeiro, quando o anjo anunciou a Zacarias o nascimento de João Batista: “Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão” (Lucas 1:14). Depois, “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê [João] agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: ‘Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria’” (Lucas 1:41-44). Mais tarde os pastores ouviriam da boca do anjo “boas novas de grande alegria” pois “na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:10-11).
Ao virem Jesus subir aos céus, os discípulos “o adoraram e voltaram para Jerusalém com grande alegria” (Lucas 24:52). Eles o adoraram porque Jesus é Deus, e se alegraram porque ele lhes abrira as Escrituras, os olhos e o entendimento para desfrutarem da graça de uma obra completa, que garantia o perdão de pecados e a vida eterna. Tudo agora fazia sentido. Enquanto aguardavam o Espírito Santo, “permaneciam constantemente no templo, louvando a Deus” (Lucas 24:53). Mais tarde, com a formação da Igreja, eles entenderiam que não seria mais no Templo que deviam adorar, mas na presença do próprio Senhor, que prometera estar no meio de dois ou três congregados ao seu nome. Ali ele desfrutaria da total atenção dos seus e seria o lugar do seu agrado. Como em Betânia, quando andou aqui.
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Mario Persona é palestrante, professor e consultor de estratégias de comunicação e marketing e autor dos livros “Laura Loft - Diário de uma recepcionista”, “Coleção O que respondi…”, Coleção “O Evangelho em 3 Minutos”, “Meu carro sumiu!”, “Quero um refil!”, “Crônicas para ler depois do fim do mundo”, “Dia de Mudança” (também em inglês: “Moving ON”), “Marketing de Gente”, “Marketing Tutti-Frutti”, “Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades”, “Receitas de Grandes Negócios” e “Crônicas de uma Internet de verão”. Todos eles podem ser encontrados em formato impresso em clubedeautores.com.br e em formato e-book em smashwords.com. Nas horas livres o autor dedica-se a escrever e traduzir textos e livros sobre a Palavra de Deus. Visite 3minutos.net e respondi.com.br
Mario Persona participou também como autor convidado das coletâneas “Os 30+ em Atendimento e Vendas no Brasil”, “Gigantes do Marketing”, “Gigantes das Vendas”, “Educação 2007”, “Professor S.A.” e “Coleção Aprendiz Legal”, além de ter sido citado como “Case Mario Persona” no livro “Os 8 Pês do Marketing Digital”. Traduziu obras como “Marketing Internacional”, de Cateora e Graham, “Administração”, de Schermerhorn, “Liberte a Intuição”, de Roy Williams, além de diversos livros de comentários sobre a Bíblia.
É convidado com frequência para palestras, workshops e treinamentos de temas ligados a negócios, marketing, comunicação, vendas e desenvolvimento pessoal e profissional. Alguns temas são:
Gestão de Mudanças
Criatividade e Inovação
Clima Organizacional
Gestão do Conhecimento
Comunicação
Marketing e Vendas
Satisfação do Cliente
Oratória
Marketing Pessoal
Qualidade Vida-Trabalho
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Segurança no Trabalho
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