Bruce Anstey

Definições Doutrinais

DEFINIÇÕES DOUTRINAIS – _Um Manual de Termos Doutrinais & Expressões no Novo Testamento

B. Anstey

Originalmente publicado por:

CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING

12048 – 59th Ave.

Surrey, BC V3X 3L3

CANADÁ

Primeira edição em Inglês – março/ 2016

Versão 1.8

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com exclusividade por

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.

atendimento@verdadesvivas.com.br

Primeira Edição em Português – maio/2018

eBook versão 1.0

Abreviaturas utilizadas:

ARC – João Ferreira de Almeida – Corrigida e Revisada - 1969

ARA – João Ferreira de Almeida – Corrigida e Atualizada - 1993

ATB – João Ferreira de Almeida – Tradução Brasileira

JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby

KJV – Tradução inglesa do King James

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada

APRESENTAÇÃO

O cuidado em disponibilizar um livro deste gênero tem sido o de fornecer aos Cristãos aquilo que acreditamos ser uma representação precisa das várias verdades doutrinais que foram recuperadas nos anos de 1800. O desafio tem sido o de expor a verdade de uma forma simples e concisa para que a geração atual possa compreendê-la, mas, ao mesmo tempo, ter a certeza de que a sua profundidade não seja de alguma forma perdida.

Não há a intenção de fazer desse livro um dicionário bíblico, embora ele esteja disposto em ordem alfabética como um dicionário. Portanto, não tem vocábulos referentes a pessoas, lugares e coisas. Mesmo assim, contém cerca de 150 termos e expressões doutrinárias do Novo Testamento, e poderia ser classificado como um Manual Bíblico.

Tendo agora concluído este trabalho, nós o encomendamos às mãos do Senhor, e confiamos que Ele vai usá-lo para edificar os santos na santíssima fé (Jd 20).

Fevereiro de 2016

NOTA DOS TRADUTORES

"Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que é em Cristo Jesus, e o que de mim ouviste diante de muitas testemunhas, entrega-o a homens fiéis, os quais sejam capazes de ensinar também a outros" (2 Timóteo 2:1-2 – ATB)

É com profunda gratidão a Deus nosso Pai e ao nosso Senhor Jesus Cristo, que a verdade uma vez entregue a Igreja (Jd 3) foi recuperada durante o início de 1800 – agora mais de 190 anos atrás – e feita conhecida mais uma vez ao povo de Deus. A recuperação da doutrina de Paulo e a redescoberta do verdadeiro caráter celestial da Igreja foi dado a conhecer a muitos dos nossos primeiros irmãos que foram tão graciosamente reunidos pelo Espírito de Deus, fora do arraial (Hb 13:13), para o precioso Nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Esses homens piedosos não apenas ensinaram energicamente a verdade oralmente, mas também foram diligentes em ensinar a verdade por meio de seus vários escritos - periódicos Cristãos, exposições dos vários livros da Bíblia, transcrições escritas de muitas leituras, tratados defendendo a verdade e expondo erro doutrinário e assim por diante. Desta forma, eles procuraram passar a verdade para outra geração de crentes, como os versos acima citados nos admoestam a fazer.

Nestes últimos dias da história da Igreja nesta Terra, Deus levantou outros que diligentemente leram estes escritos mais antigos, procurando andar na verdade ensinada neles, e que tentaram diligentemente ministrar as mesmas coisas a outra geração em sua totalidade. Este volume, Definições Doutrinais, é uma compilação de ensinamentos doutrinários que são vitais para entender a verdade essencial do Cristianismo. Ele foi escrito por um irmão amado no Senhor que trabalhou energicamente para passar estas coisas para outra geração. Por essa razão, a equipe de tradutores formada por alguns Cristãos reunidos pelo Espírito de Deus ao precioso Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Brasil, tem trabalhado para traduzir este excelente livro para a nossa língua nativa.

Expressamos nossa gratidão ao Senhor por Seu cuidado e assistência graciosos enquanto trabalhamos nesta tradução, e também queremos agradecer ao autor e sua esposa por seu tremendo encorajamento e ajuda para que esse livro pudesse ser traduzido e impresso. Nós agora o encomendamos ao Senhor por Sua rica bênção.

"Agora pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a Ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados." (Atos 20:32)

Equipe de tradutores da Associação Verdades Vivas

Maio de 2018

DEFINIÇÕES DOUTRINAIS

INTRODUÇÃO

Conhecer o significado dos termos da Escritura é essencial para entender a revelação divina que Deus colocou em nossas mãos – a Bíblia. Sem uma compreensão básica destes termos e expressões doutrinais, iremos certamente perder o que Deus deseja que aprendamos por meio de Sua Palavra.

Olhando para a Cristandade como um todo, parece que a exatidão doutrinal não é considerada como de suma importância pela maioria dos Cristãos. Como resultado, muitos deles não têm aplicado tempo necessário para se familiarizarem com os significados dos termos e expressões nas Escrituras. Isso os deixou um tanto mal instruídos quanto a estas coisas. Comparativamente hoje há poucos que estão "fundados e firmes" e "confirmados na fé" (Cl 1:23, 2:7), e, como consequência disto, muitos estão sendo "jogados de um para outro lado e levados ao redor por todos os ventos de doutrina" (Ef 4:14 – ATB).

Um dos problemas entre aqueles que têm interesse em conhecer o significado dos termos da Escritura é que tentam entendê-los por meio do uso de significados modernos das palavras no nosso idioma. Parece que não compreendem que a Bíblia é sua própria intérprete. Assim sendo, como regra geral, quando procuramos compreender um determinado termo, temos de olhar para dentro das capas do próprio Livro para aprender como Deus usa esse termo, a fim de entender qual o seu significado em determinada passagem.

Outra coisa comum é a "homogeneização" dos termos da Escritura. Muitos termos são generalizados e assumidos como sendo sinônimos quando eles não são. Infelizmente, muito tem sido perdido por manejar a Palavra de Deus dessa maneira. Deus, porém, não é redundante quando faz uso dos termos. Se Ele usa uma palavra diferente em uma passagem, é porque há um significado diferente que está sendo transmitido.

Percebendo a necessidade entre os Cristãos do entendimento destes termos na Escritura, vários livros foram produzidos por vários autores, em um esforço para ajudar as pessoas a compreender melhor suas Bíblias. Isso é louvável. No entanto, na maioria desses esforços, os próprios escritores não tinham claras para si mesmos muitas das doutrinas das Escrituras, e aquilo que eles têm apresentado, em muitos casos, tem causado confusão. Comentando sobre este dilema, F. B. Hole disse, "o ensinamento Cristão… com demasiada frequência tem se aproveitado de termos usados na revelação de Deus, a Bíblia, e, então, após tê-los esvaziado do seu significado bíblico, encheu-os novamente com outro significado para atender aos seus próprios interesses" (Paul’s Epistles, vol. 2. págs. 100-101). Portanto, se nos basearmos nas explicações que estão sendo ensinadas na Cristandade, poderemos não obter a verdade.

Uma vez que existem divergências entre os instrutores Cristãos quanto ao significado destes termos doutrinais da Escritura, uma boa pergunta a se fazer é: "Qual autor ou livro uma pessoa deve ler para garantir que ela esteja adquirindo a verdade?" É nossa convicção de que Cristãos que procuram a verdade em sua forma mais pura (com o máximo de exatidão) devem se apegar, o tanto quanto possível, aos ensinamentos daqueles que estiveram ligados ao movimento de Deus para recuperar muita verdade nos anos 1800. Esses seriam homens espirituais e de discernimento, tais como: J. N. Darby, J. G. Bellett, G. V. Wigram, C. H. Mackintosh, W. Kelly, F. G. Patterson, F. W. Grant, C. Stanley, A. P. Cecil, E. Dennett, T. B. Baines, A. Miller, W. Scott, J. A. Trench, W. T. Turpin, W. W. Fereday, H. H. Snell, W. J. Hocking, W. T. P. Wolston, S. Ridout, H. Smith, etc. Esses homens estavam mais próximos da fonte, quando Deus a abriu novamente e trouxe de volta à Igreja muitas preciosas verdades que haviam sido perdidas por séculos. Como resultado, seus escritos apresentam a verdade com um brilho inigualável. Grande parte do trabalho de desfazer as ideias errôneas que têm permanecido no mundo Cristão há anos, tem sido feita por esses homens.

O objetivo deste livro é ajudar os crentes no Senhor Jesus Cristo a compreender melhor a revelação divina da verdade Cristã, fornecendo uma versão condensada da verdade doutrinária que foi recuperada nos anos de 1800. Não é, de maneira alguma, uma exposição exaustiva do que foi trazido à tona naquele momento, mas acreditamos que o que é apresentado neste livro é uma exposição clara e precisa do que esses homens sustentaram e ensinaram. A nossa preocupação do começo ao fim tem sido a de apresentar a verdade em uma linguagem que nossa geração atual possa entender, e, ao mesmo tempo, não perder nada da sua profundidade.

É nossa convicção de que cada Cristão precisa aplicar um tempo para aprender o significado dos termos e expressões doutrinais das Escrituras, de modo a garantir uma sã compreensão da verdade transmitida na Palavra de Deus. Não podemos reter "a fiel palavra" (Tt 1:9), se não sabemos o seu significado! A boa notícia é que não precisamos nos matricular em uma escola bíblica ou um seminário para aprender essas coisas. Um livro simples, como este próprio volume, pode servir a esse propósito. Acreditamos que uma compreensão inteligente da revelação divina irá aumentar nossa apreciação pela verdade e pelo próprio Senhor e Sua obra consumada na cruz. Ele também irá nos ajudar, de forma prática, a ordenar nossa vida mais alinhada à mente e à vontade de Deus.

Acreditamos que este manual vai ajudar o crente em seu estudo das Escrituras, e, portanto, pode ser usado como um companheiro da Bíblia.

EXPLICAÇÃO DOS TERMOS & EXPRESSÕES DO NOVO TESTAMENTO

ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO, A

Refere-se à "imagem" idólatra que o anticristo irá estabelecer no templo em Jerusalém, que os judeus serão forçados a adorar (Dn 12:11; Mt 24:15; Ap 13:12-18). Os gentios e o império da besta (as nações ocidentais) também a adorarão (Ap 13:12 – "a terra [profética]". Isso ocorrerá na metade da septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27, 12:11). A adoração da imagem pela massa dos judeus trará o julgamento de Deus sobre eles na forma de uma desolação da terra de Israel por uma confederação árabe de nações islâmicas (Sl 83:1-8; Dn 11:40-42). Um remanescente dos judeus irá, por causa da consciência, recusar a se curvar à imagem, e será perseguido por isso (Is 8:11-16; Mt 24:21-22).

ACEITAÇÃO

"Aceito" é um termo que se refere aos crentes no Senhor Jesus Cristo sendo "trazidos em favor" com Deus, por receber a Cristo como seu Salvador (Rm 5:2; Ef 1:6 – JND). Como resultado, eles têm uma nova posição diante de Deus em Cristo, que está além do alcance do julgamento eterno.

Para compreender corretamente a aceitação do Cristão, é necessário entender primeiro a aceitação de Cristo, pois são uma e a mesma coisa. Não só a obra de expiação de Cristo foi aceita por Deus como aquilo que satisfez as exigências da justiça divina, mas o próprio Cristo foi aceito diante de Deus. Isto é testemunhado na Sua ressurreição e ascensão (1 Tm 3:16). Deus O assentou no lugar mais alto no céu – à Sua mão direita (Ef 1:20-21; Fp 2:9-11). Ele está lá agora como um Homem glorificado com todo o favor de Deus repousando sobre Ele. A maravilha deste grande fato é que a Bíblia afirma que os crentes no Senhor Jesus estão "em Cristo" (Jo 14:20; Rm 8:1; 1 Co 1:30; 2 Co 5:17, etc.). Essa é uma expressão técnica usada nas epístolas de Paulo, para indicar que o crente está no lugar de Cristo diante de Deus. Assim, a medida da Sua aceitação é a nossa! Nós somos aceitos "no Amado" (Ef 1:6). O apóstolo João afirma essa mesma grande verdade: "como Ele é (aceito perante Deus no céu), nós somos também neste mundo" (1 Jo 4:17 – ATB).

A Escritura indica que aqueles com fé que não tiveram o privilégio de ouvir o evangelho da graça de Deus, e que, portanto, não fazem parte da Igreja de Deus, são aceitos "com" Ele (At 10:35). Dos Cristãos, por outro lado, é dito serem aceitos n’Ele (Ef 1:6). Isso indica uma relação mais próxima com o Senhor, resultante de serem habitados pelo Espírito de Deus.

ADOÇÃO

Um termo usado nas Escrituras em conexão com Israel (Rm 9:4) e a Igreja (Rm 8:14-15, 23; Gl 4:5-7; Ef 1:5), mas de maneiras amplamente diferentes. Em conexão com Israel, "adoção" se refere a eles sendo estabelecidos em um lugar privilegiado em relação a Deus entre as nações da Terra (Êx 4:22). Mas no sentido Cristão, "adoção" tem a ver com um filho de Deus, na família de Deus, sendo estabelecido no lugar de favor do próprio Filho, por ser habitado pelo Espírito Santo. Isso vai além da aceitação e leva o crente a compartilhar dos privilégios e da liberdade que apenas um filho pode ter na presença de Deus.

A palavra "adoção" no grego significa literalmente "lugar de filho" (A nota de rodapé na Tradução de J. N. Darby de Romanos 8:15 afirma, "Adoção é a mesma palavra de �filiação� em Gálatas 4:5"). "Filiação" é uma bênção característica do Cristão. Isto é, ela é uma bênção especial que Deus tem reservado apenas para os Cristãos. Outros em Sua família – os santos do Antigo Testamento, o remanescente judeu que surgirá, os Israelitas redimidos das dez tribos, os Gentios convertidos no Milênio, etc. – não estão nessa posição diante de Deus. Todos esses fazem parte da família de Deus, mas, na dispensação da graça, apenas os Cristãos têm a posição de filhos.

Filiação é a posição mais alta de bênção que uma criatura pode ter em relação a Deus. Os anjos foram chamados de "filhos de Deus" no Velho Testamento (Gn 6:2; Jó 1:6), mas uma vez que Cristo ressuscitou dos mortos e ascendeu ao alto, levando Humanidade ao lugar em que Ele mesmo está diante de Deus, os anjos não têm mais essa designação. Os "filhos de Deus" (Rm 8:14) é um termo reservado agora exclusivamente para os Cristãos, pois eles têm um lugar superior de bênção e privilégio diante de Deus, acima de todas as outras criaturas abençoadas. Deus poderia ter nos colocado no lugar dos anjos eleitos, ou mesmo ter nos elevado à posição de destaque de um arcanjo – e teríamos sido gratos por isso. Mas Ele fez algo muito mais elevado e mais abençoado do que isso – Ele nos colocou na posição que é do Seu próprio Filho, com todo o favor e privilégios que decorrem por possuirmos essa posição!

A coisa mais maravilhosa com relação a isso é que Deus planejou essa grande bênção para os Cristãos "antes da fundação do mundo", e é "segundo o beneplácito de Sua vontade" fazer isso acontecer (Ef 1:3-6). Ter um grupo de filhos diante d’Ele, trazidos à mesma posição que Seu próprio Filho tem, traz verdadeiro gozo e satisfação ao Seu coração! Como "filhos de Deus" nós compartilhamos:

A posição do Filho – aceitação (Ef 1:6).

A vida do Filho – a vida eterna (Jo 17:2).

A liberdade do Filho diante do Pai (Rm 8:14-16).

A herança do Filho (Rm 8:17).

A glória do Filho (Rm 8:18; Jo 17:22).

Geralmente se pensa que a "adoção" é uma ação de Deus que traz uma pessoa para dentro de Sua família. No entanto, não é isso o que a Escritura ensina. Há apenas um caminho que leva alguém à família de Deus – é pelo novo nascimento (ser nascido de novo). A geração de "filiação" tem a ver com aquele que nasceu de novo (portanto, é um filho de Deus, na família de Deus) e que está sendo elevado ou promovido a uma posição especial de privilégio e distinção dentro da família. É o ser colocado na mesma posição que o próprio Filho de Deus tem diante de Deus! Isso ocorre quando uma pessoa crê no evangelho da sua salvação e é selado com o Espírito Santo (Ef 1:13). Assim, quando uma pessoa é nascida de novo, ela passa a fazer parte da família de Deus, mas quando ela recebe o Espírito por crer no evangelho, ela é posicionada como um filho (a geração de "filiação") na família.

As pessoas com um passado judaico provavelmente compreenderiam mais facilmente a maneira na qual a adoção é usada nas Escrituras do que aqueles com antecedentes gentios. Em uma família judaica, quando um menino chega à idade de 13 anos, seus pais celebram o "Bar Mitzvá" para ele, e assim ele formalmente é promovido de uma criança na família para se tornar um filho. E então passa a gozar de maiores liberdades e privilégios na casa. O "Bar Mitzvá" não traz o menino à família, mas eleva-o a um lugar privilegiado na mesma. É o mesmo com o espírito de adoção na família de Deus. (N. do T.: tanto em Romanos 8 quanto em Gálatas 4 encontramos a mesma palavra o grego “**uihothesia” **que está como “adoção de filhos” em Gl 4:5 – KJV ou “filiação” em Gl 4:5 – JND)

O apóstolo Paulo ensina isso em Gálatas 4:1-7. Ele diferencia entre "crianças" e "filhos" na família de Deus, usando uma família judaica para ilustrá-la. As crianças, no sentido em que ele usa o termo nessa passagem, são vistas como tendo uma posição diminuta na família. Ele as correlaciona com o lugar que os crentes tinham nos tempos do Antigo Testamento. Mas com a vinda de Cristo para cumprir a redenção e enviar o Espírito Santo, os crentes daquele velho sistema, que O receberam como Salvador, também receberam "a adoção de filhos" e, portanto, foram elevados ou promovidos à posição Cristã de "filiação". Eles deixaram a posição inferior e vieram para a posição privilegiada de "filhos" na família de Deus. (O apóstolo João, no entanto, não usa a palavra "crianças" no mesmo sentido diminuto como Paulo faz em Gálatas. Nos escritos de João, os filhos são vistos como tendo o Espírito Santo e, portanto, na completa posição Cristã – 1 Jo 2:20, 3:24, 4:13. Mesmo aqueles a quem João designa como "filhinhos", que são os novos convertidos, são vistos como estando nessa posição – 1 Jo 2:18. João os chama de filhos, porque a ênfase em suas epístolas está ligada à vida eterna e ao relacionamento que temos com o Pai em afeição, do qual "filhos" retrata isso – 1 Jo 3:1. Às vezes a versão King James traduz erroneamente "crianças" ("children" em Inglês) como "filhos" ("sons" em Inglês) nos escritos de João, e isso pode causar confusão. Por exemplo, Jo 1:12; 1 Jo 3:1).

Enquanto Deus abençoa todos os que estão em Sua família, Ele é soberano e pode conceder favor especial a alguns em Sua família acima dos outros, se Ele quiser. Isto é o que Ele tem feito escolhendo os crentes desta atual dispensação (Cristãos) para a filiação. Há quatro passagens na Escritura onde a filiação é mencionada; cada referência destaca um aspecto diferente dessa grande bênção Cristã:

Gálatas 4:1-7 enfatiza a posição privilegiada que temos que está acima das outras pessoas abençoadas na família de Deus.

Romanos 8:14-15 enfatiza a liberdade especial que temos diante de Deus, tendo acesso à Sua presença em qualquer momento e sendo capazes de nos dirigir a Ele como nosso Pai, com uma intimidade que nenhuma outra criatura abençoada jamais conhecera – ao clamar, "Abba, Pai".

Efésios 1:3-10 enfatiza as bênçãos superiores e inteligência que temos no propósito de Deus, o qual até o dia de hoje tinha sido mantido em segredo, em "o Mistério".

Hebreus 2:10-13 enfatiza a dignidade que temos por sermos identificados com Cristo como Seus "irmãos" na geração da nova criação – sendo Cristo a Cabeça da raça como o "Primogênito" (Ap 3:14; Rm 8:29; Cl 1:18).

ADVOCACIA

Essa é uma das duas funções que constituem a atual obra do Senhor nas alturas em favor do Seu povo – Seu sacerdócio e Sua advocacia. Ambas têm a ver com a Sua "intercessão" por nós, mas de maneiras diferentes (Rm 8:34).

Sua intercessão como um Sacerdote é para a manutenção de Seu povo no caminho da fé, para que eles não venham a falhar.

Sua intercessão como um Advogado é para Seu povo quando eles falham.

Advocacia refere-se "àquele que assume a causa de outro". Nas Escrituras, ela é aplicada ao Senhor (1 Jo 2:1) e também ao Espírito Santo (traduzido como "Consolador" em João 14:16, 26, 15:26, 16:7). A advocacia do Senhor tem a ver com a Sua obra em restaurar crentes à comunhão com Deus.

O pecado interrompe a comunhão do crente com Deus; arrependimento e confissão o restaura à comunhão com Deus (1 Jo 1:9). O problema é que, se nós falhamos e ficamos num caminho longe do Senhor, não temos poder para nos restaurar a nós mesmos – tal é o efeito do pecado na vida de um crente. Se deixados sozinhos, nunca voltaríamos para Deus em arrependimento e confissão. Daí vem a necessidade da obra de Cristo como nosso Advogado. Existem quatro coisas envolvidas na advocacia do Senhor:

1) ELE INTERCEDE POR NÓS (Lc 22:31). Ele vai ao Pai e intercede por nossa restauração. Ao mesmo tempo, mantém a nossa causa diante de Deus contra as acusações do diabo em relação aos pecados envolvidos com a nossa falha (Ap 12:10). Ele faz isso com base em haver feito "propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 2:2). Ele, por assim dizer, aponta para o sangue e diz: "Eu paguei por esses pecados." Assim, nossa restauração está fundada sobre o que Cristo realizou na cruz.

2) ELE DIRIGE O ESPÍRITO DE DEUS PARA FAZER COM QUE A PALAVRA DE DEUS CAUSE UM EFEITO EM NOSSA CONSCIÊNCIA (Lc 22:61). O Espírito de Deus vai falar sobre o nosso estado e nossa conduta pecaminosa e vai nos ocupar com nossa falha até que a encaremos e nos arrependamos. Ele usará a Palavra de Deus para quebrar nossos corações endurecidos pelo pecado (Jr 23:29). Ele pode trazer um verso à mente – seja por ouvir, ler ou se lembrar dele – que irá falar com a nossa consciência. Assim, a Palavra de Deus tem parte na restauração de nossas almas (Sl. 19:7, 119:9).

3) ELE PROVIDENCIALMENTE APLICA DISCIPLINA SANTA EM NOSSAS VIDAS (1 Pe 3:12). O Pai vai trabalhar para este fim também (1 Pe 1:16-17). Todas as Suas ações em nosso favor se baseiam em Seu amor por nós (Hb 12:5-11). Seu amor é tal que pode até mesmo usar algum tipo de problema (sofrimento, doença, tristeza, etc.) em nossas vidas para chamar nossa atenção e nos corrigir (Jó 33:14-22).

4) ELE VAI MOTIVAR NOSSOS IRMÃOS, E ELES VIRÃO A NÓS PARA NOS RESTAURAR (Gl 6:1; Tg 5:19-20). Um irmão ou uma irmã pode nos falar sobre o nosso andar, e isso pode ser usado pelo Senhor para nos fazer voltar.

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Longe esteja o pensamento que um crente possa ser achado pecando, porque isso é uma aberração no Cristianismo. Mas se pecar, 1 João 2:1-2 nos diz que a advocacia de Cristo entra em ação imediatamente. Ele diz: "se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". Note que aqui não diz, "Se alguém se volta para Deus e confessa seus pecados, o Senhor age por ele como seu Advogado." Isto significaria dizer que Sua defesa começaria a agir quando o crente se volta para Deus em arrependimento. No entanto, o Senhor não espera que nos voltemos para Deus em arrependimento, porque Ele sabe que se deixados sozinhos, isso nunca iria acontecer. A verdade é que o crente que falha apenas se volta para Deus e confessa seus pecados, porque a obra de Cristo, como nosso Advogado, já estava operando.

J. N. Darby disse: "Alguns dizem que temos de usar a advocacia de Cristo, mas não é assim. Cristo é que a usa para nós. Por que eu me volto a Deus quando falho? É porque Ele usa a Sua advocacia, e nova graça é aplicada – nova graça opera em minha mente. Não há nada em nós que nos traga de volta a Deus, apenas a nova graça trabalhando em nossa consciência. Por isso, é dito: �se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai�. Não é "se alguém se arrepender" (Nine Lectures on First John, pág 16). Em outra ocasião, perguntaram ao Sr. Darby "Quando é que o Senhor age como um Advogado? É quando um santo peca?" Resposta: "A Palavra não diz, se alguém se arrepender e confessar; mas, se alguém pecar, temos um Advogado". E foi retrucado: "Então nada começa com a gente?". Resposta: "Nada que eu saiba, a não ser o pecado. E a confissão é o efeito da advocacia" (Notes and Jotting, pág. 6).

Assim, a advocacia de Cristo não funciona como um advogado moderno, com o qual é erroneamente comparado. O advogado moderno vai trabalhar para o seu cliente quando ele solicita sua ajuda, mas a advocacia de Cristo entra em ação antes de o crente que falhou solicite a ajuda restauradora do Senhor. Tudo isso destaca a fidelidade do nosso Deus em restaurar Seu povo desobediente. Ele tem ciúmes de nossas afeições e não vai permitir que continuemos nos caminhos da injustiça para sempre. Ele pode nos permitir provar o fruto de nossos caminhos por um tempo (Pv 14:14), porque a vontade da carne precisa ser quebrada no crente desobediente, mas, custe o que custar, Ele vai trazer aquele que caiu de volta (Sl. 23:3 – "Restaura minha alma" – JND). Muitas vezes isso não ocorre até que a pessoa esteja em seu leito morte.

A intercessão de Cristo como nosso Advogado não deve ser confundida com a Sua intercessão como nosso Sumo Sacerdote. Ambas se referem ao Seu presente serviço nas alturas, mas elas são diferentes. O sacerdócio de Cristo é para sustentar o santo a fim de que ele não peque (Hb 4:14-16, 7:25-26); Sua advocacia é para restaurar um santo – se for necessário – porque ele pecou. O sacerdócio é com Deus (Hb 2:17, 5:1, 7:25; 1 Pe 2:5) e a advocacia, com o Pai (1 Jo 2:1). O sacerdócio de Cristo tem a ver com a contínua intercessão enquanto que Sua intercessão como nosso Advogado é apenas exercida quando necessário. (Veja: O Sacerdócio de Cristo.)

APOSTASIA

Refere-se ao abandono formal da fé que a pessoa uma vez professou. Apostasia pode ser do Judaísmo (At 21:21 – "apostatarem de Moisés" - ATB) ou pode ser do Cristianismo (1 Tm 4:1 – "apostatarão alguns da fé"; 2 Ts 2:3 – "a apostasia"). Ela é indicada nas Escrituras pelas expressões "desviar" ou "recair" (Lc 8:13; 2 Ts 2:3; Hb 6:6).

Apostatar é algo que só pode ser feito por um crente meramente professo. Um verdadeiro crente pode ter uma queda e andar distante do Senhor, mas ele não abandonará a fé. Apostasia é uma coisa muito solene, pois, uma vez que alguém se apostata, não há esperança de arrependimento. A Escritura diz que é "impossível" (Hb 6:4-6.). Assim, os tais estão condenados, embora eles ainda estejam vivos neste mundo! As seguintes passagens referem-se a apóstatas: Mt 7:21-23, 12:43-45, 13:5-7, 20-22; Mc 3:28-30; Jo 15:2, 6; At 1:25; Rm 11:22; 1 Co 9:27, 10:12; Hb 2:1-4, 3:7-15, 6:4-6, 10:26-31, 12:12-29; 2 Pe 2:1, 20-21; Ap 8:8-12.

Poderíamos perguntar: por que as advertências sobre apostasia foram registradas na Bíblia – um livro escrito para crentes – se os crentes não podem apostatar? A resposta é que em muitas passagens os escritores divinamente inspirados do Novo Testamento não estão se dirigindo a crentes exclusivamente. A Escritura indica que ao longo do tempo o testemunho Cristão iria deteriorar-se em uma mistura profana de verdadeiros crentes e os meramente professantes (Mt 13:25, etc.). Sendo este o caso, os escritores do Novo Testamento incluíram, em suas observações aos santos, advertências contra aqueles que se transitavam entre eles e que não eram verdadeiros. Essas pessoas estavam correndo o risco de caírem em apostasia. Tais advertências foram destinadas a atingir suas consciências e despertá-las para a realidade de que elas não eram salvas, e que precisavam ser, porque se virassem as costas para a fé que tinham professado, seriam condenadas para sempre como apóstatas!

Muitos Cristãos não sabem a diferença entre queda e apostasia e a confusão entre essas duas coisas os têm levado a conclusões erradas – e uma dessas conclusões é que os crentes podem perder sua salvação. A diferença entre queda e apostasia é ilustrada em Pedro e Judas. Ambos se afastaram do Senhor; com Pedro era uma queda e ele foi restaurado mais tarde, mas com Judas era a apostasia, e não houve retorno. W. Scott disse: "Para queda há remédio; para apostasia não há nenhum" (Doctrinal Summaries, pág. 44). (Veja: Queda)

ARRAIAL, O

Refere-se ao sistema religioso do Judaísmo que o Senhor ordenou para Israel (Êx 25-31; Hb 13:13). É predominantemente uma maneira exterior de se aproximar de Deus em adoração por meio de formas e rituais cerimoniais. Foi uma ordem terrena de prática religiosa que foi dada a um grupo terreno de pessoas no tempo do Antigo Testamento, que tinha esperanças terrenas e um destino terreno na terra de Canaã. "O arraial", portanto, refere-se ao Judaísmo e todos os seus princípios e práticas relacionados. Ele está em forte contraste com o "novo e vivo caminho" de adoração no Cristianismo (Hb 10:19-22), que é a maneira celestial de aproximação de Deus "em espírito e em verdade" (Jo 4:23-24) ordenado para um grupo celestial de crentes, que têm esperanças celestiais e um destino celestial.

No presente tempo Cristão, o Senhor está fora "do arraial" (Hb 13:13). Os líderes responsáveis do sistema judaico O expulsaram e O mataram! (Mt 21:37-39; Jo 1:11; At 3:13-15; Hb 13:12). Após a ressurreição, o Senhor permaneceu fora desse sistema e continuará assim "até que a plenitude dos gentios haja entrado" (Rm 11:25). No presente, Ele está reunindo crentes em torno de Si mesmo para adoração, ministério e comunhão Cristã no lugar de Sua escolha, fora do arraial (Hb 13:13-16, Mt 18:20). O escritor de Hebreus nos diz que isto acontecerá durante todo o período do novo e vivo caminho no Cristianismo. O ponto em Hebreus 13:9-16 é que Deus não quer que os dois sistemas de adoração (Judaísmo e Cristianismo) sejam misturados (Hb 13:10). A passagem nos diz que o Judaísmo é algo do qual os Cristãos devem se separar, porque o Senhor não está Se identificando com aquela ordem de coisas hoje. Eles são instruídos a saírem "a Ele fora do arraial" e oferecerem "sempre por Ele a Deus sacrifício de louvor" lá onde o Senhor está – sem o uso de qualquer dos meios externos de adoração usados no Judaísmo (Hb 13:15).

O problema é que as denominações na Cristandade não entenderam o ensino em Hebreus 13:9-16, nem foi dada a devida consideração à instrução de Hebreus 9:8-9, 23-24, que diz que o sistema do tabernáculo do Antigo Testamento ("o arraial") é uma figura do verdadeiro santuário no qual os Cristãos podem agora adorar pelo Espírito. Em vez de vê-lo como uma figura, os Cristãos têm usado o sistema do tabernáculo como um padrão para suas igrejas, e têm tomado muitas coisas daquela ordem Judaica em um sentido literal para seus lugares de culto e seus serviços religiosos.

O que se segue é uma pequena lista de algumas das coisas que foram tomadas do Judaísmo e introduzidas nos grupos da igreja atual:

O uso de templos ornamentados e catedrais para locais de culto.

Uma casta especial de homens ordenados que desempenham funções em nome da congregação.

O uso de instrumentos musicais para ajudar na adoração.

O uso de um coral.

O uso do incenso para criar uma atmosfera religiosa.

O uso de vestes pelos "ministros" e membros do coral.

O uso efetivo de um altar (não-sacrificial).

A prática do dízimo.

A observância de dias santos e festas religiosas.

Um registro de nomes das pessoas da congregação.

A adoração Judaica recorre aos sentidos naturais, sendo uma religião terrena e relativa aos sentidos. Na verdade, uma pessoa não precisa nem mesmo nascer de novo para apreciá-la e desfrutá-la, assim ela é estimulada pelos sentidos de:

Visão – A grandeza do templo (1 Rs 10:4-5; Mc 13:1; Lc 21:5).

Olfato – A queima do incenso que criava uma atmosfera envolvente (Êx 30:34-38).

Paladar – Ao se comer os sacrifícios (Dt 14:26).

Audição – A bela música produzida pela orquestra e acompanhamento do coral (1 Cr 25:1, 3, 6-7).

Tato – Ao participar das ofertas de maneira física, dançando e levantando mãos, etc. (2 Sm 6:13-14; 1 Rs 8:22).

É verdade que muitas dessas práticas Judaicas foram alteradas um pouco pelas igrejas da Cristandade para se encaixar no contexto Cristão, mas esses lugares ainda têm os adornos do Judaísmo. Na verdade, essa ordem judaica permeou a Igreja e muitas dessas coisas permaneceram no Cristianismo durante tanto tempo que acabaram se tornando aceitas pelas massas como o ideal de Deus. A maioria das pessoas hoje pensa que é bom e certo ter essa mistura Judaico-Cristã. Infelizmente, a mistura dessas duas ordens de aproximação a Deus destruiu a distinção de cada uma, e o que resultou dessa mistura é algo que não é nem o verdadeiro Judaísmo nem o verdadeiro Cristianismo. Ambos foram estragados (Lc 5:36-39).

No Cristianismo, oferecemos "sacrifícios espirituais" dirigidos pelo Espírito Santo (1 Pe 2:5; Fp 3:3) em contraste com as "ordenanças carnais" na ordem Judaica (Hb 9:10 – ATB). Os sacrifícios Cristãos de louvor são feitos na presença imediata de Deus dentro do véu (Hb 10:19-20, 13:15). Esse é um privilégio que Israel não teve. É significativo que não encontramos em nenhum lugar no livro dos Atos, nem nas Epístolas, que os Cristãos adoravam o Senhor em suas reuniões usando rituais e meios mecânicos exteriores, como instrumentos musicais. Os dois únicos meios que os Cristãos usam na adoração nas Escrituras são seus "corações" (Cl 3:16 e Ef 5:19) e seus "lábios" (Hb 13:15). Uma vez que a adoração Cristã é "em espírito e em verdade" (Jo 4:24), podemos discretamente nos assentar e produzir em nossas almas e espíritos o verdadeiro louvor a Deus pelo Espírito Santo. Essa é a verdadeira adoração (Cristã) celestial, pois no céu não haverá necessidade de instrumentos musicais e rituais na adoração a Deus, como no Judaísmo. Assim, o lugar de adoração Cristã é:

Dentro do véu em espírito (Hb 10:19-20).

Fora do acampamento quanto à posição eclesiástica (Hb 13:13).

Não é que a ordem Judaica de adoração seja má; ela não é. Foi criada e ordenada por Deus para Israel. O que as Escrituras ensinam é que não é para a Igreja. Quando Israel for restaurado e abençoado em sua terra num dia vindouro (o Milênio), eles apropriadamente adorarão a Deus segundo essa ordem Judaica (Ezequiel 43-46).

ARREBATAMENTO & A APARIÇÃO DE CRISTO, O

A Bíblia indica que a segunda vinda de Cristo tem duas partes ou fases. Elas são chamadas de "Arrebatamento" e "Aparição de Cristo". É importante entender a distinção entre as duas, porque foram completamente confundidas pelos expositores Cristãos, universalmente, por mais de mil e quinhentos anos! Quando a verdade foi recuperada nos anos 1800, essa confusão foi esclarecida.

Embora o Senhor venha do céu em ambas as ocasiões, o Arrebatamento e a Aparição de Cristo ocorrem em momentos diferentes. Algumas das diferenças são:

O Arrebatamento ocorrerá quando o Senhor vier pelos Seus santos (Jo 14:2-3); a Aparição de Cristo ocorrerá quando Ele vier com os Seus santos que foram levados para o céu no Arrebatamento (1 Ts 3:13, 4:14; Jd 14; Zc 14:5).

O Arrebatamento ocorrerá antes do período de sete anos de tribulação (Ap 3:10), e a Aparição de Cristo ocorrerá "logo depois da tribulação" (Mt 24:29-30 – ATB).

O Arrebatamento pode ocorrer a qualquer momento (Mt 25:13), mas a Aparição de Cristo não ocorrerá até sete anos após o Arrebatamento (Cl 3:4).

No Arrebatamento, o Senhor virá secretamente, "no piscar de um olho" (1 Co 15:52 – JND); na Sua Aparição, Ele virá publicamente e todo olho O verá (Ap 1:7).

No Arrebatamento, Ele virá para libertar a Igreja (1 Ts 1:10); na Sua Aparição, Ele virá para libertar Israel (Sl 6:1-4). A Igreja será guardada de entrar na Tribulação (Ap 3:10), enquanto os judeus irão atravessá-la, mas serão libertados dela no final, pelo Senhor trazendo fim à Tribulação.

No Arrebatamento, Ele virá nos ares para a Sua Igreja porque eles são o Seu povo celestial (1 Ts 4:15-18); na Sua Aparição, Ele voltará à Terra (o Monte das Oliveiras) para Israel, porque eles são Seu povo terrenal (Zc 14:4-5).

No Arrebatamento, Ele tirará os crentes deste mundo e deixará os ímpios (Jo 14:2-3); na Sua Aparição, os ímpios serão retirados do reino dos céus para julgamento e os crentes (aqueles que se converteram pelo evangelho do reino que será pregado durante a Tribulação) serão deixados para desfrutarem bênção na Terra (Mt 13:41-43, 25:41).

No Arrebatamento, Ele virá libertar os Seus santos (a Igreja) da "ira" vindoura (1 Ts 1:10); na Sua Aparição, Ele virá para executar a "ira" (Ap 19:15).

No Arrebatamento, o Senhor virá como "o Noivo" (Mt 25:10), mas na Sua Aparição, Ele virá como "o Filho do Homem" (Mt 24:30, 37, 39, 44, etc.).

No Arrebatamento, Ele virá como a "Estrela da Manhã" que aparece pouco antes do amanhecer (Ap 22:16); na Sua Aparição, Ele virá como o "Sol da Justiça", que é o amanhecer (Ml 4:2).

No Arrebatamento, Ele virá sem sinais, porque o Cristão caminha por fé e não por vista (2 Co 5:7); na Sua Aparição, a Sua vinda será cercada de sinais, porque os judeus procuram sinais (Lc 21:11, 25-27; 1 Co 1:22 – ARA).

Como mencionado, o principal erro na Cristandade sobre a vinda do Senhor é supor que o Arrebatamento e a Aparição são o mesmo evento. Essa ideia não leva em consideração o fato de que há uma série de coisas, indicadas nas Escrituras, que ocorrerão entre esses dois eventos e que tornam a ideia inviável. É claro, portanto, que essas duas fases da vinda do Senhor não acontecem ao mesmo tempo. Quando o Senhor vier e nos levar da Terra, Ele nos levará à "casa do Pai" e nos introduzirá formalmente a essa cena celestial (Jo 14:2-3). Então o "tribunal de Cristo" terá lugar (2 Co 5:10). Depois disso, haverá um tempo de adoração "ao redor do trono" no céu (Ap 4-5). Então, depois disso, haverá "as bodas do Cordeiro" e "a ceia" que a segue (Ap 19:6-10). É somente depois que essas coisas ocorrem é que os céus se abrem e o Senhor vem em Sua Aparição (Ap 19:11-21). Dizer que todas essas coisas acontecem em um momento de tempo é complicado e inviável.

Outro erro comum que os Cristãos têm em relação à vinda do Senhor é que eles pensam que Ele vem como um "ladrão de noite" no Arrebatamento. No entanto, um olhar cuidadoso nas Escrituras mostrará que isso está em conexão com a Sua Aparição (Mt 24:43-44; Lc 12:39-40; 1 Ts 5:2; 2 Pe 3:10; Ap 3:5, 16:15). No Arrebatamento, o Senhor vem chamar a Igreja, que é a Sua noiva (1 Ts 4:15-18, etc.) e vem nesse evento como "o Noivo" (Mt 25:6-10) – não como um "ladrão" (Vir como um ladrão não é a forma de se tomar a própria noiva!). Além disso, a maioria das passagens que mencionam a vinda do Senhor como um ladrão, falam d’Ele executando julgamento sobre o mundo naquele momento. Isso acontece na Aparição, mas não há julgamento executado no mundo no Arrebatamento; é a silenciosa tomada dos crentes da Terra para Si.

Por exemplo, Mateus 24:43-44 correlaciona a vinda do Senhor como um ladrão com Ele vindo como "o Filho do Homem" – que é o modo como Ele é apresentado nas Escrituras quando age em juízo (Dn 7:13; Jo 5:27; Ap 1:13-16). Nunca se fala d’Ele como o Filho do Homem em conexão com a Igreja. Esse título nem sequer é usado nas epístolas dirigidas a Igreja e onde ela é instruída. (Hb 2:6 é uma citação do Antigo Testamento). 1 Tessalonicenses 5:3 afirma que a vinda de Cristo como ladrão será quando Ele trouxer "repentina destruição" sobre o mundo dos incrédulos. 2 Pedro 3:7-10 conecta a Sua vinda como ladrão com "o dia do juízo". Apocalipse 16:15-16 diz que, quando o Senhor vier como um ladrão, Ele julgará os exércitos que se reunirão em "Armagedom" para lutar contra Ele. A parábola em Lucas 12:36-39 indica que a vinda do Senhor como um ladrão será depois que "as bodas" ocorrerem.

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Há pelo menos cinco coisas maravilhosas que acontecem para o crente como resultado do Arrebatamento:

Estaremos com Cristo, para nunca mais nos separarmos (Jo 14:2-3; 1 Ts 5:10).

Seremos como Cristo (Fp 3:21; 1 Jo 3:2).

Estaremos unidos para sempre com nossos irmãos (1 Ts 4:15-18; 2 Ts 2:1).

Seremos libertados para sempre de todos os perigos espirituais e problemas físicos, doenças, tristezas, etc. (Jd 21).

Receberemos as recompensas de nossos trabalhos aqui (Mt 25:19-23; Lc 19:15-19; Hb 10:35-37).

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O Senhor afirmou claramente que nenhum homem sabe quando Ele virá no Arrebatamento (Mt 25:13 – ATB), nem quando Ele aparecerá para julgar o mundo com justiça (Mt 24:36). Por conseguinte, é inútil tentar estabelecer datas para qualquer um desses eventos.

ARREPENDIMENTO

O arrependimento significa ter uma mudança de pensamento a respeito de uma conduta errada que estávamos tendo, e por ter feito nosso julgamento sobre isso. A nota de rodapé na tradução de J. N. Darby em Mateus 3:8 diz: "O arrependimento indica o julgamento moral da alma sobre todo o passado, sobre tudo o que é da carne diante de Deus. Inclui, mas vai além de apenas uma mudança de pensamento". O Concise Bible Dictionary afirma: "O arrependimento tem sido descrito como uma mudança de pensamento diante de Deus que leva a um julgamento de si mesmo e de seus atos" (pág. 658).

A confissão é um ato, mas o arrependimento é um processo que deve continuar por toda a vida do crente depois que ele é salvo. Lucas 15:7 diz: "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende". Note que não diz, "arrependido", mas "que se arrepende" – isso indica que é algo que deveria continuar na vida de um crente. De fato, se deixássemos de nos arrepender de uma coisa errada ou de uma conduta errada que vivemos, não estaríamos mais mantendo nosso julgamento sobre essa coisa ou esse curso e, assim, estaríamos voltando a eles em nosso coração. Isso não significa que devemos voltar e reviver com tristeza os erros que fizemos, mas sim seguir o caminho com alegria, mantendo um pensamento mudado e a convicção do julgamento contra essa coisa ou conduta particular. Em 2 Coríntios 7:10, temos o princípio do arrependimento. O arrependimento de Coríntios era para "nunca ser pesaroso" – JND. Ou seja, eles não deveriam mudar de ideia sobre seu arrependimento, porque ao fazê-lo, estariam voltando para seus erros. Assim, quanto mais velhos nos tornamos e quanto mais tempo estivermos na senda Cristã, mais profundo nosso ódio deve ser contra os pecados que antes cometemos – mas não devemos nos ocupar com essas coisas; a ocupação normal do crente é Cristo e Seus interesses.

O arrependimento é produzido nos homens pela "bondade de Deus" tocando seus corações (Rm 2:4 – ATB). Quando o filho pródigo pensou na bondade de seu pai, ela o levou a mudar de ideia sobre seu pai e a julgar a si mesmo (Lc 15:17-19). Infelizmente, arrependimento é uma palavra que perdeu seu significado bíblico nas mentes de muitos hoje. Parte da confusão resultou do mau ensinamento que tem existido na profissão Cristã há anos. Alguns exemplos são:

Arrependimento não é autopunição. Autopunição é o esforço do homem para expiar seus erros.

Arrependimento não é confissão. Alguns erroneamente pensam que, se pedirem desculpas por algum mal feito, então estão se arrependendo. No entanto, é possível fazer uma confissão e não estar verdadeiramente arrependido.

Arrependimento não é reforma. Reforma tem mais a ver com uma mudança exterior, o "virar uma nova página" na tentativa de substituir maus hábitos com bons. Embora que essas coisas surjam do arrependimento, elas não são arrependimento. Deus não está nos pedindo para fazer promessas solenes para as quais não temos o poder de manter.

Arrependimento não é penitência. A penitência é tristeza pelo pecado. Isso pode resultar em arrependimento, mas a própria tristeza não é arrependimento.

O arrependimento deve ser visto no pecador que vem a Cristo para a salvação e também no crente que falhou e que é restaurado ao Senhor (At 20:21; Ap 2:5, etc.). A versão ARC diz que Judas "se arrependeu", mas deveria dizer que ele estava "tocado com remorso" – JND. Ele não estava arrependido. O verdadeiro arrependimento tem seus frutos. Estes são sinais reveladores que uma pessoa manifestará. João Batista afirmou isso aos fariseus não arrependidos que vieram até ele. Ele disse: "Produzi pois frutos dignos de arrependimento" (Mt 3:8). Noemi ilustra as marcas do verdadeiro arrependimento.

Ela fez um claro rompimento com sua vida anterior em Moabe. A bondade de Deus tinha trabalhado em seu coração quando ela ouviu que Ele havia dado pão ao Seu povo. O resultado foi que "saiu do lugar onde estivera" (Rt 1:6-7).

Ela voltou ao seu ponto de partida (Rt 1:19). Ela foi para "Belém", o mesmo lugar de onde ela e seu marido tinham vindo quando moravam na terra de Israel. Isso ilustra a necessidade de voltar à raiz do nosso fracasso e julgá-lo.

Ela manifestou um genuíno espírito quebrantado e humildade. Ela disse: "Não me chameis Noemi; chamai-me Mara" Mara significa "amarga". Assim, ela indicou uma amargura de alma em relação a sua conduta (Rt 1:20; Sl 51:17).

Ela justificou a Deus em tudo o que Ele permitiu que acontecesse com ela (Rt 1:20).

Ela fez uma franca confissão de seu erro. Ela disse: "Eu saí …" (Rt 1:21 – ATB). Ela não culpou seu marido ou qualquer outra pessoa.

Ela deu todo o crédito ao Senhor por sua restauração. Ela disse: "O Senhor me fez tornar" (Rt 1:21; Sl 23:3).

Ela queria estar entre o povo do Senhor (Rt 1:22).

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As Escrituras indicam que o próprio Deus Se arrepende, mas não, é claro, da mesma maneira que os homens falhos se arrependem. Como o arrependimento significa ter um pensamento mudado, Deus pode e muda Seu pensamento de vez em quando. Mas com Deus, o arrependimento nunca tem a ver com o julgamento de Si mesmo, porque Ele nunca faz nada errado.

Quando se trata dos propósitos de Deus, Ele nunca Se arrepende (Nm 23:19; 1 Sm 15:29). Mas quanto aos Seus caminhos para com os homens, Ele Se arrepende (Gn 6:6-7; 1 Sm 15:11). Muitas vezes, o arrependimento de Deus está relacionado com a possibilidade de arrependimento do homem. Quando Deus vê verdadeiro arrependimento nos homens sobre quem Ele pronunciou um juízo, Ele pode arrepender-Se e não executar o julgamento (Êx 32:14; Jz 2:18; 1 Cr 21:15; Sl 90:13, 106:44-45; Jr 18:8; Jl 2:13; Jn 3:9-10). Tal é a misericórdia de Deus.

ASSEMBLEIA (IGREJA)

A palavra traduzida como "assembleia" (igreja) é "ekklesia" em grego. Isso significa "chamados para fora", e refere-se àqueles que foram chamados juntamente com um propósito. Ela é mencionada uma vez em conexão com os filhos de Israel – um grupo de pessoas chamado para fora do Egito para um relacionamento com o Senhor. Enquanto eles estavam no deserto em seu caminho para a terra de Canaã, Estevão a chamou de "a assembleia no deserto" (At 7:38 – JND). A palavra "assembleia" também foi usada uma vez em conexão com um grupo de gentios pagãos (incrédulos), que foi convocado para tomar uma decisão sobre o seu negócio (At 19:32, 41).

Todas as outras referências à "assembleia" na Escritura falam de um grupo especial de pessoas que creram no evangelho e assim receberam o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador – isto é: os Cristãos. Eles foram "chamados fora" da massa da humanidade para um lugar especial de favor e bênção diante de Deus, em relação com Cristo, que é "a Cabeça da assembleia" (Ef. 5:23). O termo é usado de duas maneiras em conexão com os Cristãos:

Em primeiro lugar, para descrever os crentes no Senhor Jesus universalmente. Trata-se de todos os que creem n’Ele e são selados com o Espírito Santo, desde o dia de Pentecostes ao Arrebatamento (Mt 16.18; Ef 1:22, 5:25, 29, 32, etc.).

Em segundo lugar, para descrever os crentes no Senhor Jesus em sua localidade (em um povoado ou uma cidade), exercendo juntos suas funções como um grupo reunido para adoração e ministério (Mt 18:18; At 11:22, 13:1; Rm 16:1, 5; 1 Co 1:2; Cl. 4:15-16; 1 Ts 1:1, etc.).

É digno de se notar que a Escritura se refere ao aspecto local da assembleia com muito mais frequência (cerca de 90 vezes) do que o seu aspecto universal (cerca de 20 vezes). Distinguir esses dois aspectos requer simplesmente examinar o contexto da passagem, onde o termo é encontrado.

Um equívoco comum, em conexão com o aspecto local da assembleia, é vê-la meramente como a soma de todos os crentes em uma determinada cidade ou povoado, mas isso não está correto, pois estaria fazendo a assembleia local ser apenas uma versão resumida do que ela é em seu aspecto universal. Essa definição errônea tem levado à ideia de que hoje não há nada na Terra, em qualquer cidade ou povoado, que possa ser considerada como a assembleia local, porque a Igreja, no seu testemunho, está num estado irremediavelmente dividido. No entanto, a Escritura indica que ainda pode haver uma assembleia local em uma cidade ou povoado, mesmo que nem todos os crentes dessa cidade ou povoado estejam presentes em tal assembleia. A primeira referência na Palavra de Deus a uma assembleia local mostra claramente que são aqueles que têm sido biblicamente reunidos para o nome do Senhor pelo Espírito Santo em uma determinada cidade (Mt 18:15-20). O Senhor disse, buscando explicar os problemas que poderiam ameaçar a unidade dos santos, que se pode chegar a um ponto onde eles precisariam falar à assembleia – "dize-o à assembleia (igreja)" e, portanto, levar ao seu conhecimento a dificuldade apresentada. Depois de falar da autoridade da qual a assembleia foi revestida para agir administrativamente na questão, se fosse necessário (Mt 18:18-19), continua a definir o que é uma assembleia local, dizendo: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles" (Mt 18:20). Então, de uma forma clara, a assembleia local é os santos reunidos ao Seu nome. Mesmo se fossem apenas dois ou três reunidos dessa forma, seria ainda "a assembleia" em uma determinada cidade ou povoado.

Quando olhamos para as outras referências na Bíblia que se referem à assembleia local, vemos que ela se reúne e atua de forma prática, independentemente da presença de todos os Cristãos daquela localidade. Ela se reúne para partir o pão (1 Co 11:18-26) e para ser ensinada pela Palavra de Deus (1 Co 14:3-5). A Escritura também indica que a assembleia é algo que um Cristão pode não estar sempre dentro (1 Co 14:18-19), e algo do qual uma pessoa pode realmente ser expulsa! (3 Jo 10) Na verdade, até mesmo incrédulos poderiam ser achados nela se considerarmos esse aspecto da assembleia! (1 Co 14:23-24). Essas coisas mostram que o aspecto local da assembleia é diferente do seu aspecto universal. Assim, enquanto a assembleia local, em princípio, abrange todos os verdadeiros crentes em uma cidade ou povoado, ela pode não conter todos os crentes naquela localidade de forma prática.

J. N. Darby disse: "É claro que os Cristãos de um determinado lugar, tendo sido reunidos, eram verdadeiramente a assembleia daquele lugar. Mas não era apenas a assembleia que tinha a Deus, mas aquela a qual Deus mesmo a tinha; aquela que desfrutava com exclusividade dos privilégios que apenas Ele poderia conceder a ela, por ser Sua assembleia" (Collected Writings, vol. 1, pág. 260). W. Kelly disse: "Onde há apenas três reunidos sob os princípios de Deus (isto é, no terreno da igreja), é, se assim posso dizer, igreja, se não a igreja. Se houvesse três mil verdadeiros santos reunidos, mas não sob princípios de Deus, eles não seriam a igreja" (Lectures on Matthew, pág. 327). Assim, embora a maioria dos Cristãos de uma determinada cidade ou povoado não está reunida ao nome do Senhor, aqueles que estão no verdadeiro terreno da assembleia naquela cidade ou povoado são de propriedade de Deus, e isso por causa da presença de Cristo no meio deles, de acordo com Mateus 18:20.

Tendo estabelecido este ponto, nos adiantamos em dizer que é certamente fora de todo o caráter do Cristianismo, que aqueles reunidos ao nome do Senhor se denominem, formalmente, "a assembleia" deste ou daquele lugar. Quão inapropriado seria, em um dia de ruína para aqueles assim reunidos, proclamar que são a assembleia em uma determinada cidade ou povoado, mesmo que eles possam acreditar verdadeiramente que estejam moralmente nesse terreno. J. N. Darby disse: "É claro que, se dois ou três estiverem reunidos, são uma assembleia, e, se estiverem biblicamente reunidos, uma assembleia de Deus; e se não, o que mais seriam? Se for a única em determinado lugar, é a assembleia de Deus naquele lugar, mas eu faço uma objeção a se tomar o título para si de forma prática, porque a assembleia de Deus, em qualquer lugar, abrange propriamente todos os santos desse tal lugar, e há um perigo prático para as almas em assumirem esse título e perderem de vista a ruína, e se estabelecerem como sendo algo… porém se houver uma assembleia assim estabelecida, e outra for criada pela vontade do homem em independência daquela, apenas a primeira será moralmente, aos olhos de Deus, a assembleia de Deus, e a outra absolutamente não o será, porque ela foi estabelecida em independência da unidade do corpo" (Letters of J. N. Darby, vol. 1, pág. 424).

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Quanto à linha de tempo da chamada e formação da assembleia em seu aspecto universal, a Escritura indica que ela começou com a descida do Espírito Santo do céu, no dia de Pentecostes (At 2:1-4). Era um novo "começo" nos caminhos de Deus (At 11:15). Não foi um avivamento nas relações de Deus com Israel, como foi o caso nos dias de Ezequias e de Josias, mas uma coisa totalmente nova nos caminhos de Deus. Essa coisa nova – a Igreja ou Assembleia – foi formada pelo batismo do Espírito Santo (Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33; At 1:5, 11:16; 1 Co 12:13). (Veja: Batismo do Espírito Santo.) A Escritura indica claramente que a Igreja não existia antes desse momento inicial, quando o Espírito de Deus veio habitar nos crentes reunidos naquele cenáculo. Portanto ela não poderia ter existido nos tempos do Antigo Testamento, nem poderia ter existido nos dias do ministério terreno do Senhor. Os quatro pontos seguintes provam isso:

O MINISTÉRIO DE CRISTO – Nos dias do ministério terreno do Senhor, Ele ensinou aos Seus discípulos que iria edificar a Igreja em algum momento futuro. Ele disse: "Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja" (Mt 16:18). Claramente, ela não existia naquele tempo.

A MORTE DE CRISTO – Efésios 2:14-16 afirma que uma das coisas que caracterizam a Igreja é que “o muro de separação" entre crentes judeus e gentios foi derrubado e que a "inimizade” que existia entre eles foi desfeita. Isso, diz Paulo, foi feito na morte de Cristo “na cruz”, significando que a Igreja não poderia ter existido antes de Cristo morrer.

A RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO DE CRISTO – Efésios 1:20-23 e Colossenses 1:18 indicam que, antes que a Igreja pudesse ser trazida à existência, Cristo, que estava destinado a ser a sua cabeça, deveria ressuscitar dos mortos e subir ao céu (Jo 7:39).

O ENVIO DO ESPÍRITO SANTO POR CRISTO – 1 Coríntios 12:13 afirma que a Igreja foi formada pela vinda do Espírito Santo para habitar neste novo grupo de crentes. Isso não aconteceu até o Pentecostes.

A Igreja pode ser vista nas Escrituras em pelo menos doze figuras diferentes, que descrevem seus vários aspectos. Elas são:

UM CORPO – a unidade que existe entre os membros (Rm 12:4-5; Ef 4:1-16).

UMA CASA – o testemunho público do caráter de Deus (1 Tm 3:14-16; 1 Pe 2:5-9).

UM TEMPLO – o lugar da santa morada do Senhor (Sl 93:5; 1 Co 3:16-17; Ef 2:21).

UM REBANHO – o divino Centro de reunião (Cristo) (Jo 10:16; At 20:28; 1 Pe 5:2).

UMA NOIVA – o amor e afeição de Cristo por ela (Ef 5:26-31; Ap 19:7-9, 21:2, 9).

UMA ESPOSA – herdeiros da herança (Rm 8:17; Ap 19:7-9, 21:9).

UM TESOURO – a preciosidade de cada indivíduo para Cristo (Mt 13:44).

UMA PÉROLA – seu valor e beleza coletiva para Cristo (Mt 13:45-46).

UMA LAVOURA – seu serviço (1 Co 3:5-9).

UMA POUSADA- seu amor e cuidado por outros (Lc 10:30-37).

UM CASTIÇAL – testemunho e privilégios da assembleia local (Ap 1:12, 20:3:22).

UMA CIDADE – sua administração no mundo por vir (Ap 21:9-22:5)

BATISMO

A palavra "batizar" significa "colocar em" e implica "imersão". A Bíblia fala de sete batismos diferentes em conexão com pessoas. (Na religião judaica havia também vários copos e vasos que eram cerimonialmente lavados sendo imersos em água, o que foi chamado de "batismos" – Mc 7:3-4; Hb 6:2, 9:10.) Os sete batismos de pessoas são:

  1. Batismo de Israel a Moisés (1 Co 10:1-2)

Essa foi a identificação formal de Israel com Moisés, seu líder, que os levou a uma esfera de privilégio com Deus, como os versículos 2-4 indicam. Foi um batismo de uma mistura de várias pessoas, muitas das quais mais tarde provaram ser incrédulas (Hb 3:19).

  1. Batismo de Arrependimento de João Batista (Mt 3:5-6; At 19:3)

Este foi um batismo em água que desassociou o remanescente judeu crente e arrependido do corpo nacional de judeus que não viram necessidade disso (Lc 7:29-30). Isso os tornou moralmente prontos para receber o Messias (Lc 1:17), que João disse que viria depois dele (Mt 3:11). Esse batismo tinha em vista a remissão de seus pecados (Lc 3:3).

  1. Batismo de Cristo Nos Sofrimentos do Martírio e Morte (Mc 10:39)

Isto refere-se aos sofrimentos do Senhor nas mãos dos homens que deram causa à Sua morte. É algo que o Senhor disse que os apóstolos (e muitos Cristãos) iriam também sofrer, sendo perseguidos até a morte (At 12:2, 22:4; Ap 2:10).

  1. Batismo de Cristo nos Sofrimentos da Expiação e Morte (Mc 10:38; Lc 12:50)

Esse é o batismo de julgamento no qual o Senhor foi imerso quando Ele foi feito sacrifício pelo pecado (Hb 9:26, 10:12).

  1. Batismo do Espírito Santo (Mt 3:11; 1 Co 12:13)

Refere-se à vinda do Espírito Santo no Pentecostes para habitar nos crentes (At 2), pelo qual eles foram ligados a Cristo, a Cabeça no céu como membros de Seu corpo (1 Co 12:12-13). (Veja: Batismo do Espírito Santo.)

  1. Batismo do Fogo (Mt 3:11; 2 Ts 1:8)

Esse é um batismo no julgamento punitivo (do qual "fogo" é uma figura) no qual o Senhor mergulhará a profissão cristã sem vida no tempo de Sua Aparição (2 Ts 1:8).

  1. Batismo Cristão (Ef 4:5)

Essa é uma ordenança Cristã de iniciação, realizada "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28:20). No batismo Cristão, uma pessoa se reveste de um novo nome – o nome de Cristo (Gl 3:27) e entra em uma nova posição na Terra – a esfera da profissão Cristã – onde o senhorio de Cristo é reconhecido (Ef 4:5). Assim, ela é colocada formalmente em terreno Cristão. O batismo não só identifica uma pessoa com a morte e o sepultamento de Cristo (Rm 6:3-4; Cl 2:12), mas também com a ressurreição de Cristo (1 Pe 3:21). Foi administrado aos crentes judeus (At 2:41), aos crentes samaritanos (At 8:12), aos crentes gentios (At 8:38, 10:48) e aos lares Cristãos (At 16:15, 33; 1 Co 1:16). Contrariamente à crença popular, o batismo Cristão não é um ato público ou testemunho ao mundo da fé de alguém em Cristo. Se fosse assim, Paulo não teria batizado o carcereiro no meio da noite, mas teria esperado um momento conveniente para fazê-lo publicamente (At 16:33).

BATISMO DO ESPÍRITO SANTO

O batismo do Espírito Santo é mencionado sete vezes na Escritura (Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33; At 1:5, 11:16; 1 Co 12:13). Refere-se à obra do Espírito de formar o corpo de Cristo e foi realizado pelo Senhor quando Ele enviou o Espírito do céu no dia de Pentecostes e conectou os crentes, que estavam no cenáculo em Jerusalém, em um só corpo pela habitação do Espírito Santo (At 2:1-4, 33). Isso foi estendido mais tarde para incluir os crentes gentios (At 11:1-18). Uma vez feito isso, a obra de batismo do Espírito estava para sempre finalizada e nunca mais seria repetida. 1 Coríntios 12:12-13 confirma isso, referindo-se a esse evento no tempo verbal aoristo (no grego), o que significa que era um ato feito uma vez para sempre. Portanto, o Espírito de Deus não está batizando hoje. Se Ele estivesse, então haveria muitos corpos de Cristo na Terra, porque o único propósito do batismo do Espírito era formar o corpo de Cristo, o que a Escritura afirma enfaticamente: "Há um só corpo" (Ef 4:4).

Um exame mais atento às sete referências na Bíblia ao batismo do Espírito mostrará que é um ato histórico, e não algo que o Espírito está fazendo hoje. Cinco dessas referências apontam para essa ação do Espírito no tempo futuro, posto que elas foram proferidas antes do Pentecostes (Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33 e At 1:5). A sexta e a sétima referência ao batismo do Espírito foram proferidas após o Pentecostes (At 11:16; 1 Co 12:13) e apontam para o tempo passado, para algo que o Espírito já tinha feito. Uma vez que não há nas Escrituras nenhuma outra coisa sobre o Espírito Santo que tenha ocorrido entre esses dois grupos de referências, elas teriam que estar se referindo à vinda do Espírito no dia de Pentecostes para formar o corpo de Cristo.

Existem dois principais equívocos a respeito do batismo do Espírito Santo. O primeiro é o que poderíamos chamar de visão "Pentecostal" ou "Carismática". Os Cristãos que têm essa ideia veem o batismo do Espírito como sendo uma experiência pessoal que um crente tem algum tempo depois de ser salvo, pelo qual ele é enchido do Espírito, e, portanto, capacitado para falar em línguas, etc. No entanto, nas Escrituras, o batismo do Espírito Santo nunca é mencionado como acontecendo a alguém individualmente. Era uma ação totalmente coletiva de unir aquela multidão, de uns 120 crentes, no cenáculo superior em Jerusalém, formando uma unidade, pelo fato da Sua habitação neles.

A segunda visão é a principal visão evangélica "não-carismática". Os Cristãos que defendem essa ideia pensam que o batismo do Espírito Santo ocorre quando uma pessoa crê no Senhor Jesus Cristo e assim recebe o Espírito e, então, passa a fazer parte do corpo de Cristo, no entanto, isso também não é correto. Observe cuidadosamente que 1 Cor 12:13 não diz: "todos nós fomos batizados em o (no) um corpo". Adicionar o artigo "o" muda o significado consideravelmente, pois supõe que o corpo existia antes da ocorrência do batismo, mencionada no versículo. Isso apoiaria essa ideia equivocada. Contudo, o versículo não diz isso. Ele diz "batizados em um corpo", significando que foi o batismo que formou o "um corpo", assim, o batismo do Espírito é um acontecimento histórico. (Ef 1:13).

Poderíamos nos perguntar como é que Paulo poderia falar de si mesmo (e dos coríntios) como sendo batizados pelo Espírito, quando eles nem sequer ainda haviam sido salvos quando o Espírito desceu e formou a Corpo de Cristo no Pentecostes. A resposta é que Paulo estava falando representativamente. Ele disse: "Nós" – referindo-se a todos os Cristãos – "fomos batizados em um corpo", referindo-se à ação do Espírito no Pentecostes. É algo como a fundação de uma empresa. Ela é fundada uma vez, e cada vez que a empresa contrata um novo empregado não precisa ser fundada novamente. O novo empregado é simplesmente acrescentado à empresa já fundada. Da mesma forma, quando alguém é salvo hoje, ele é acrescentado, pela presença interior do Espírito, a um corpo já batizado. Como mencionado, isso é chamado o selo do Espírito (Ef 1:13; 2 Co 1:21-22).

Levando nossa ilustração um pouco mais adiante, suponha que estamos numa reunião da diretoria da empresa e ouvimos um dos diretores dizer: "Nós fomos fundados há 100 anos". Não teríamos dificuldade em entender o que ele quis dizer. Mas alguém que não entende isso muito bem poderia perguntar: "O que ele quer dizer? Nenhuma dessas pessoas na reunião tem mais de 60 anos de idade. Como ele pode dizer: �Nós… há 100 anos…?�" Bem, o diretor estava falando representativamente da empresa. Da mesma forma, sendo parte do grupo de Cristãos que foi batizado no Pentecostes, Paulo e os Coríntios foram incluídos nesse batismo, assim como nós também fomos.

W. Scott disse: "O batismo de todos os crentes em um corpo é um ato institucional e nunca repetido. Como resultado desse batismo espiritual, um corpo é formado, e os crentes se acham nesse corpo batizado pelo Espírito, quando são selados por Deus" (Some New Testament Teachings, pág. 174).

Outro expositor da revista Scripture Truth disse: "Examinemos agora algumas das ações atribuídas ao Espírito Santo. Primeiro, aprendemos que Ele batiza. A Escritura mostra claramente que esse batismo é um fato histórico realizado, que ocorreu uma vez por todas no Pentecostes" (Scripture Truth, vol.21, pág. 102).

J. N. Darby disse: "Quanto a uma pessoa ser batizada com o Espírito Santo, após o Pentecostes, devo dizer que ela foi introduzida em um corpo já batizado" (Letters, vol.3, pág. 446).

F. G. Patterson disse: "O Espírito Santo os batizou em �um corpo�. Deixe-me dizer que não é dito na Escritura, que um indivíduo foi batizado com o Espírito Santo, nem mesmo o próprio Senhor" (The Church of God, the Body of Christ, pág. 27).

W.T.P. Wolston disse: "Se o batismo do Espírito Santo ocorreu no Pentecostes, a Escritura diz que ele sempre será repetido? Eu creio nitidamente que não. O Espírito Santo veio, Ele está aqui. O Espírito Santo foi recebido e, portanto, não há nenhum batismo novo a ser buscado" (Another Comforter, pág. 226). Ele também disse: "O batismo do Espírito Santo ocorreu uma vez, e apenas uma vez, por tudo que li a seu respeito nas Escrituras".

Portanto, o batismo do Espírito não é algo que está acontecendo hoje como uma experiência pós-salvação, nem é o que introduz crentes ao corpo de Cristo. Foi uma ação histórica do Espírito que há muito se consumou e nunca mais será repetida.

BÊNÇÃO

Bênção é mencionada na Escritura de quatro maneiras: Em primeiro lugar indica um estado de alegria e felicidade. A própria palavra "abençoado" significa feliz. Por exemplo, Romanos 4:7 diz: "Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos". E Lucas 12:37 diz: "Bem-aventurados os servos os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando". Nesse sentido, muitas vezes oramos e pedimos a Deus para "abençoar" o nosso tempo juntos em algum evento particular. Assim, estamos pedindo a Deus que nos dê um tempo feliz e espiritualmente proveitoso.

Em segundo lugar, o termo é usado num caráter de feliz agradecimento a Deus. Por exemplo, "Louvarei ao Senhor em todo o tempo" (Sl 34:1). E: "bendizemos a Deus e Pai" (Tg 3:9; Ef 1:3). Por isso, cantamos: "Nós abençoamos o nome de nosso Salvador, nossos pecados são todos perdoados" (Hino 146 – Hinário Little Flock).

Em terceiro lugar, é usado para indicar os dons temporais (materiais) dados em nome do Senhor (2 Co 9:5-6 – JND).

Em quarto lugar, o termo é usado para indicar nossas peculiares bênçãos Cristãs em Cristo. Em Efésios 1:3 é dito: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo". Essas bênçãos são celestiais, espirituais e eternas, em contraste com as bênçãos de Israel, que são terrenas, materiais e temporais. As celestiais são:

Redenção em Cristo Jesus (Rm 3:24).

Perdão dos pecados em Cristo – uma consciência purificada (Rm 4:7; Ef 4:32; Hb 9:14).

Justificados em Cristo Jesus (Rm 4:25-5:1; Gl 2:16-17).

O dom do Espírito em Cristo – ungido, selado e dado o penhor (garantia) do Espírito (Rm 5:5; 2 Co 1:21-22; Ef 1:13).

Reconciliação em Cristo Jesus – "chegastes perto" (Rm 5:10; Ef 2:13; Cl 1:21).

Santificado em Cristo Jesus (Rm 6:19; 1 Co 1:2).

Vida Eterna em Cristo Jesus (Rm 6:23; 2 Tm 1:1).

Libertação (Salvação) em Cristo Jesus (Rm 8:1-2).

Filiação em Cristo Jesus (Rm 8:14-15; Gl 3:26, 4:5-7).

Herdeiros em Cristo (Rm 8:17; Ef 1:10-11; Gl 3:29).

Nova criação em Cristo Jesus (Rm 8:29; Gl 6:15; 2 Co 5:17).

Um corpo em Cristo (Rm 12:5).

(Nota: as referências bíblicas acima são da tradução de J. N. Darby)

BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO

Blasfêmia significa falar de forma difamatória ou depreciativa das Pessoas da Divindade. Isso é o que a "geração" infiel dos judeus (Mt 12:39,42) fez quando viu o Senhor. "Blasfêmia contra o Espírito Santo" é o pecado nacional dos judeus que viveram na época em que o Senhor veio (Mt 12:24-32). Em Marcos 3:29-30 vemos especificamente o que é esse pecado. Diz: "Porque diziam: Tem espírito imundo". Assim, eles atribuíram o poder que operava no ministério do Senhor Jesus a Satanás (Mt 12:24; Mc 3:22; Lc 11:15). Eles disseram que o Senhor Jesus, em Seu ministério, estava associado com e capacitado pelo submundo de Satanás, o que é um absurdo!

Essa blasfêmia contra o Espírito Santo trouxe um julgamento imperdoável de "condenação eterna" sobre a porção incrédula da nação (Sl 69:22-28).

É triste dizer que hoje há pessoas que pensam que cometeram esse pecado e, ao fazê-lo, se condenaram e agora acham que não há esperança de que sejam salvas. Eles o chamam, "O pecado imperdoável", no entanto, essa é uma mentira do diabo. A Bíblia não ensina que a blasfêmia contra o Espírito Santo é algo cometido por um indivíduo, mas sim o pecado de Israel como nação. Considerando o que a Escritura diz que é a "blasfêmia contra o Espírito Santo" (Mc 3:30), aqueles que pensam ter cometido o chamado "pecado imperdoável", perguntem-se a si mesmos: "O Senhor Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus que veio do céu para salvar os pecadores?" Se a sua resposta for "Sim", então essa é uma prova clara de que eles não cometeram o pecado imperdoável de blasfêmia contra o Espírito Santo! Que Cristão diria que o Senhor Jesus tinha "um espírito imundo"? Nenhum deles, por mais infiel que seja, jamais abrigou o pensamento de que o Senhor Jesus veio do submundo para fazer a obra de Satanás. Isso é algo que apenas uma pessoa apóstata diria. (Veja: Apostasia.) Por mais distante que esteja do Senhor, um Cristão que tenha caído pode buscar em sua alma, e verá que ainda há, em algum lugar nos profundos recessos de seu coração, a convicção sincera de que o Senhor Jesus Cristo veio do céu como o Salvador dos pecadores.

Mesmo que hoje alguém tenha dito coisas depreciativas sobre a Pessoa do Senhor Jesus Cristo, ele ainda pode ser salvo, pois a Escritura diz: "o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 Jo 1:7). C. H. Mackintosh disse: "Não cremos que algum pecador, neste ano aceitável, neste dia de salvação (Lc 4:17-19), esteja além do alcance do amor perdoador de Deus e do sangue expiatório de Jesus". Paulo, o apóstolo, era um "blasfemo" e Deus o salvou! (1 Tm 1:13).

CABEÇA (AUTORIDADE) DE CRISTO, A

Isso se refere à direção, ao controle e à provisão de Cristo nas várias esferas sobre as quais Ele é Cabeça. W. Scott disse que há, pelo menos, quatro tipos de autoridade de Cristo (The Young Christian, vol. 5, pág. 11; The Book of Revelation, pág. 111). As seguintes referências expõem-nas na ordem em que Cristo as tomou:

  1. Cabeça da criação (Cl 1:15-17; 1 Co 11:3)

O Senhor tomou essa autoridade em Sua encarnação – quando Se tornou um Homem (Lc 1:35; Fl 2:7-8). Sendo Quem Ele era, ao entrar em Sua própria criação, Ele não poderia tomar nenhum outro lugar nela a não ser o de "Primogênito de toda a criação" (Cl 1:15). Sendo o Filho, Ele deve, necessariamente, ter preeminência em posição e dignidade, indicadas pela palavra "Primogênito". A tão imensa criação não foi apenas criada por Ele (Jo 1:3, 10; Cl 1:16; Hb 1:2; Ap 4:11), mas é também sustentada pelo Seu poder. Os homens falam sobre a criação sendo regida pelas leis da natureza, mas a Escritura diz que ela "subsiste" pelo poder do Filho de Deus (Cl 1:17).

Cristo não é apenas a Cabeça dos objetos inanimados na criação, mas é também "a Cabeça de todo homem" na criação (1 Co 11:3). Isso se refere a todos os homens – salvos e perdidos. W. Scott disse: "Cristo é a cabeça de todo homem. Não se trata de homem salvo ou não. Cristo não é Cabeça apenas de todo homem Cristão" (The Young Christian, vol. 5, pág. 41). Na criação, Deus estabeleceu uma ordem em relação aos papéis dos homens e das mulheres que deve ser observada na vida cotidiana e na assembleia. A esse respeito, o apóstolo Paulo diz: "o varão não provém da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão" (1 Co 11:8-9).

  1. Cabeça da raça da nova da criação (Rm 5:12-21; 1 Co 15:22, 45-49; 2 Co 5:17; Ap 3:14)

O Senhor tornou-Se Cabeça da raça da nova criação de homens quando ressuscitou de entre os mortos (Cl 1:18b).

Deus propôs que "o mundo vindouro" (o Milênio) estivesse sob o domínio do homem. O Salmo 8 indica isso. É algo que nunca foi dito a respeito dos anjos. Deus fez os anjos para servir, mas não para governar (Hb 1:13-14, 2:5). A única criatura que Ele fez para governar foi o homem. No entanto, a queda do homem tornou-o completamente incapaz de governar para Deus em qualquer sentido (Ec 7:29). No seu estado caído, ele não serve mais para esse propósito. Deus não pode usar o homem em seu estado atual para governar o mundo vindouro; o homem só poderia fazer do mundo vindouro uma total confusão, como ele fez neste mundo desde sua queda. Assim, a entrada do pecado parece frustrar o propósito de Deus para o homem. No entanto, Deus enfrentou esse dilema na vinda de Cristo para assumir a humanidade para a glória de Deus. Ele Se tornou um Homem e assumiu as dívidas, nas quais o homem havia incorrido, ao entrar na morte e fazer expiação pelo pecado (Hb 2:9). Ao ressuscitar dentre os mortos, Cristo tornou-Se a Cabeça de uma nova raça de homens (Cl 1:18; Ap 3:14), que é capaz de governar o mundo vindouro como Deus havia proposto (1 Co 6:2).

Colossenses 1:18b afirma que o Senhor Jesus Cristo é "o princípio e o primogênito dentre os mortos". Quando Cristo ressuscitou dos mortos, tornou-Se o "princípio" e, portanto, a Cabeça dessa nova raça (2 Co 5:17; Gl 6:15; Ef 2:10; Ap 3:14). Hebreus 2:10 refere-se a isto, afirmando que, se Deus iria trazer "muitos filhos" (a nova raça) à "glória" (glorificação), o "Príncipe [Autor] da salvação deles" (o Senhor Jesus Cristo) primeiro teria que ser "perfeito". Isso se refere à ressurreição e glorificação de Cristo (Lc 13:32; Hb 5:9). Isso mostra que deveria haver uma Cabeça glorificada no céu, antes de poder haver uma raça debaixo d’Ele, que Ele traria à glorificação. Assim, o Filho de Deus tornou-Se o Filho do Homem para que Ele fizesse dos filhos dos homens crentes, filhos de Deus. Na ressurreição, o Senhor declarou Sua autoridade, como Cabeça da raça da nova criação, ao assoprar sobre os discípulos (Jo 20:22), que foi o que Ele fez com a primeira raça (Gn 2:7). (Veja: Nova Criação.)

  1. Cabeça do corpo (Ef 1:22, 4:15, 5:23; Cl 1:18, 2:19)

O Senhor tornou-Se a Cabeça do corpo subindo ao céu e enviando o Espírito Santo para batizar os crentes em um corpo (1 Co 12:12-13). Como a cabeça de uma pessoa é o lugar da sua inteligência, dando instruções para seu corpo, assim Cristo, como Cabeça de Seu corpo (místico) é a autoridade de controle e direção da Igreja. Assim, devemos olhar para Ele em tudo o que diz respeito à assembleia. Os crentes colossenses estavam se distraindo e estavam olhando para outras coisas no mundo espiritual, e Paulo lhes disse que eles "não estavam retendo a cabeça" de forma prática, que é uma responsabilidade coletiva do corpo.

Efésios 5:23 afirma que "Cristo é a Cabeça da Igreja", mas Efésios 1:22-23 diz que Ele também é "Cabeça sobre todas as coisas para a Igreja, que é o Seu corpo" (JND). Essas coisas são ligeiramente diferentes. Sendo Cabeça "sobre todas as coisas para" a Igreja se refere ao fato de que Ele controla tudo o que toca a Igreja, pois Ele é o Controlador de todas as circunstâncias. Portanto, nada toca os membros de Seu corpo que Ele não conheça e Se preocupe (At 9:4).

A Cabeça do corpo de Cristo é frequentemente confundida com a Cabeça da raça da nova criação. Nossa conexão com Cristo como Cabeça da nova criação é estar "em" Ele (n’Ele) e isso é individual (2 Co 5:17 – "se alguém está em Cristo… "). Enquanto que nossa conexão com Cristo como Cabeça do corpo é "para" Ele, que é união – uma coisa coletiva (Ef 4:15). Portanto, a Escritura não fala da Igreja como estando "em Cristo", mas assim estamos como irmãos individuais na raça da nova criação. Ambas as conexões são verdadeiras com relação aos crentes, mas são linhas diferentes de verdade em conexão com nosso relacionamento com o Senhor. W. Scott disse: "Quando a associação dos membros no corpo é considerada, não é dito que eles estão "em Cristo". Nós [como membros] não estamos na Cabeça. A união das várias partes e membros do corpo humano não está na cabeça. Eles estão unidos à cabeça, mas não na cabeça. "Em Cristo" transmite uma diferente ordem e caráter de verdade do que a união a Ele. Unido a Ele é o corpo; n’Ele é a raça [nova criação]. Ambos, é claro, são verdadeiros em relação aos crentes "(The Young Christian, vol. 5, pág. 14). As epístolas aos Efésios e aos Colossenses são as únicas epístolas que mencionam a Cabeça (Liderança) de Cristo do corpo.

  1. Cabeça dos principados e potestades (Cl 2:10)

Tendo subido ao céu, as Escrituras afirmam que Cristo é "a Cabeça de todo principado e potestade". Estes são seres angelicais. Ele os criou antes da fundação do mundo (Sl 104:4; Hb 1:7), e assim, sendo seu Criador, Ele é infinitamente superior a eles em inteligência, poder, dignidade, etc. Na verdade, eles O adoram (Hb 1:6) e são responsáveis perante Ele desde que foram criados (Jó 1:6-7). Mas o que o apóstolo Paulo nos diz em Colossenses 2:10 é que os Cristãos agora são responsáveis perante Ele como um Homem – um Homem glorificado! Os Cristãos ao longo dos séculos ficaram fascinados com os anjos, mas Paulo mostra nessa passagem que, uma vez que Cristo é a Cabeça de todos esses seres angelicais, seria absurdo nos ocupar com eles quando temos o próprio Criador deles para nos ocupar! Deus O colocou diante de nós como o único Objeto para nossos corações, e Ele nos concedeu o alto privilégio de ter comunhão inteligente com Ele! Que necessidade teríamos então de nos meter "em coisas", em relação aos anjos, que não vimos? (Cl 2:18)

CARNE, A

Quando usada com o artigo "a" antes da palavra, ela se refere à pecaminosa natureza caída do homem. Mas quando é usada sem o artigo, geralmente está se referindo ao que é humano, ao invés do que é pecaminoso. (Infelizmente, a tradução inglesa King James nem sempre segue esta regra, como acontece nas traduções mais criteriosas de J. N. Darby, W. Kelly, etc.)

Com base nisso, a Escritura tem o cuidado de afirmar que o Senhor Jesus veio "em carne" – não incluindo o artigo (1 Jo 4:2-3; Rm 1:3; 1 Tm 3:16). Dizer "na carne" em conexão com a humanidade do Senhor poderia implicar que Ele tomou parte na pecaminosa natureza caída, o que Ele definitivamente não fez. No entanto, o artigo "a" é corretamente usado em conexão com os homens, porque todos na raça de Adão nasceram com uma natureza caída de pecado (Rm 7:5, etc.) porque todos os da raça de Adão foram nascidos com a pecaminosa natureza caída.

CASA DE DEUS, A

Nos tempos do Antigo Testamento, a casa de Deus era um edifício feito de pedras e madeira e coberto de ouro (1 Rs 5-6). Mas hoje no Cristianismo, "a casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo" (1 Tm 3:15) é uma "casa espiritual" composta de crentes no Senhor Jesus Cristo, que são vistos como "pedras vivas" na sua construção (1 Co 3:9b; Ef 2:20-21; Hb 3:6; 1 Pe 2:5).

Cristãos frequentemente se referem (erroneamente) ao prédio ou salão da sua igreja como a casa de Deus. Um caso vem à mente de um irmão que estava triste com as crianças que estavam correndo e brincando no corredor após uma das reuniões bíblicas. Ele disse: "As crianças não deveriam estar correndo por aqui; esta é a casa de Deus!" Mas essa observação significa pensar na casa de Deus da mesma forma que ela era no Antigo Testamento, no Judaísmo. Mas, como foi dito, a casa de Deus nesta dispensação Cristã não é um edifício físico feito pelas mãos dos homens, porém, um edifício espiritual. Desse mal-entendido vem a ideia de que, em certos horários prescritos, os Cristãos vão para a casa de Deus para adorar, por exemplo, às dez horas do Domingo. Essa confusão vem das falsas ideias propostas pelo catolicismo e pela teologia da Reforma. A verdade é que nós "somos" a casa de Deus (Hb 3:6) e estamos "na" casa de Deus (1 Tm 3:15) em todos os momentos – 24 horas por dia, sete dias por semana – não apenas quando estamos reunidos com outros Cristãos nas reuniões bíblicas. (Nem devemos confundir "a casa de Deus" com a "casa do Pai" – Jo 14:2-3. A casa de Deus é algo na Terra, enquanto que a casa do Pai é algo no céu.) A Igreja, vista como a casa de Deus, é o vaso de testemunho de Deus na Terra. É para mostrar o verdadeiro caráter de Deus diante do mundo. O apóstolo Pedro afirma isso em sua primeira epístola. Depois de declarar que os crentes são "casa espiritual" de Deus, ele continua dizendo que, como tal, somos responsáveis por anunciar "as virtudes daqu’Ele" que nos chamou "das trevas para a Sua maravilhosa luz" (1 Pe 2:5-9). Então, assim como podemos aprender certas coisas sobre o ocupante de uma casa, olhando para a sua casa, da mesma forma os homens deveriam ser capazes de olhar para a casa de Deus e conhecer o Seu caráter. Se o jardim estiver descuidado, se há lixo por toda a parte, se a casa precisa de pintura, etc., tudo isso nos dá uma visão sobre o tipo de pessoa que vive lá. Por outro lado, podemos ver uma casa bem cuidada (por aquilo que nossos olhos conseguem discernir) e concluir que o proprietário provavelmente é uma pessoa bem ordenada. Assim, Deus deseja que Seu caráter seja visto na ordem de Sua casa. Uma vez que somos casa de Deus, o mundo deve estar apto a observar nossa conduta e maneiras e conhecer o verdadeiro caráter de Deus.

Essa linha de verdade é muito negligenciada. Muitos Cristãos têm a ideia de que Deus não está preocupado com o que eles são exteriormente. Para eles o que está dentro é a única coisa que importa. 1 Samuel 16:7 às vezes é usado para justificar: "o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração". Mas esse mesmo versículo só reforça o ponto em que precisamos prestar atenção ao nosso testemunho exterior. Como os homens não podem ver o que está em nossos corações – só Deus pode ver isso – eles têm que olhar para o que é exterior. Certamente, o mais importante é ter uma relação com Deus interiormente pela fé, mas não é a única coisa que os Cristãos precisam se preocupar. Temos uma responsabilidade em relação à impressão que causamos diante do mundo, porque nosso testemunho pessoal reflete Deus.

As duas principais características de Deus que os Cristãos, como a casa de Deus, devem manifestar diante do mundo são:

Deus o Salvador – Como tal, a disposição de Deus em graça para com todos os homens deve soar de Sua casa para o mundo por meio do "evangelho da gloria do Deus bem-aventurado" (1 Tm 1:11, 2:3-6). Assim, o favor de Deus em buscar o bem e a bênção dos homens deve ser manifestado perante o mundo por aqueles que compõem a casa.

Deus o Criador – Como tal, os padrões morais de Deus e a ordem moral nos papéis dos homens e das mulheres, que Ele estabeleceu desde o início da criação, devem ser demonstrados por aqueles que compõem a casa (1 Tm 2:8-15, etc.).

A casa de Deus hoje no Cristianismo é vista nas Escrituras de duas maneiras:

Sob o primeiro aspecto a casa é vista como constituída somente pelos verdadeiros crentes (Mt 16:18; 1 Co 3:9b; Ef 2:20-21; 1 Tm 3:15; Hb 3:6; 1 Pe 2:5). Uma vez que o evangelho ainda está sendo pregado e reunindo o material ("pedras vivas"), sob esse aspecto a casa é vista como estando ainda em construção e não estará completa até o último crente ser salvo e colocado na estrutura (Ef 2:20-21), quando, então, no Arrebatamento, o Senhor virá e levará a Igreja para casa no céu. Cristo é o Construtor Mestre (Mt 16:18) e "a pedra angular" da casa (Ef 2:20); sendo Ele também o "Filho sobre a Sua (de Deus) própria casa" (Hb 3:6).

Sob o segundo aspecto a casa é vista como tendo uma mistura de crentes verdadeiros e crentes apenas professos (1 Co 3:9-17; Ef 2:22; 2 Tm 2:20; 1 Pe 4:17). Os homens são vistos como tendo parte no trabalho de construção da casa, mas, infelizmente, nem todos são bons construtores. Alguns estão construindo com bom material e outros com material ruim (1 Co 3:9-17). Tendo Deus atribuído essa responsabilidade aos homens no tempo da ausência do Senhor (Mt 24:45), muitos dos construtores têm mostrado desrespeito à ordem de Sua casa introduzindo uma ordem feita por eles mesmos. Consequentemente, todo o tipo de coisas foi trazido para dentro da casa, mas que realmente não deveriam estar lá, e muita desordem e ruína tem sido o resultado. A casa de Deus, nesse aspecto, é agora como uma "grande casa", cheia de confusão (2 Tm 2:20). Na verdade, hoje há tanta desordem na casa de Deus que há pouquíssimas coisas que ainda estão de acordo com o padrão de Sua casa conforme Sua Palavra. Deus não é indiferente a isso. Atualmente Ele julga os que estão em Sua casa de maneira governamental (1 Co 3:17, 11:30-32; 1 Pe 4:17).

Sob esse segundo aspecto, a casa é vista como "morada de Deus" na Terra. Ou seja, Ele habita nela pela presença do "Espírito" (Ef 2:22). Uma vez que o Espírito Santo está na casa (1 Co 3:16), aqueles que nela estão como meros Cristãos professos são "participantes do Espírito Santo" de uma maneira exterior, sem realmente ser habitados pelo Espírito (Hb 6:4). Esse segundo aspecto abrange toda a profissão Cristã na Terra. Assim, nunca uma assembleia local foi chamada de a casa de Deus na Escritura.

A casa de Deus no Antigo Testamento tinha dois edifícios adjacentes: a casa do Senhor (1 Rs 5-6) e a casa do rei Salomão (1 Rs 7). Esses dois edifícios exemplificam os dois aspectos da casa de Deus hoje. A casa do Senhor (o templo) estava aberta a todos os que viessem a Deus para adorá-Lo – tendo inclusive um pátio para os gentios. No entanto, nem todos aqueles que entravam nos recintos do templo necessariamente tinham uma fé verdadeira. É uma figura do segundo aspecto da casa de Deus hoje, onde existe uma mistura de verdadeiros crentes e meros professos. A casa de Salomão tinha uma série de salas interligadas que estavam fechadas a todos, com exceção dele mesmo e de sua família. Os gentios que visitaram a terra e outros em Israel não tiveram acesso a ela. É uma figura do primeiro aspecto da casa que é composto apenas por verdadeiros crentes. (Sinopse dos Livros da Bíblia, por J. N. Darby em 1 Rs 5-7).

Algumas diferenças notáveis entre esses dois aspectos são:

No primeiro aspecto, a casa de Deus é vista sob a perspectiva da soberania de Deus (Ef 2:20-21). No segundo aspecto, é vista sob a perspectiva da responsabilidade do homem (1 Pe 4:17).

No primeiro aspecto, as pessoas se tornam parte da casa crendo no evangelho. No segundo aspecto, as pessoas entram na casa fazendo uma profissão de fé em Cristo (2 Tm 2:19) ou por serem batizadas (o que é o meio formal de entrar nela).

No primeiro aspecto, os fiéis "são" a casa (Hb 3:6; 1 Pe 2:5); no segundo aspecto, os crentes (e os falsos crentes) estão "dentro" da casa (2 Tm 2:20).

No primeiro aspecto da casa, o Espírito de Deus habita "nos" crentes (Jo 14:17; At 2:4); no segundo aspecto, o Espírito de Deus habita tanto "nos" crentes como "com" [ou entre] crentes (Jo 14:17; At 2:2; 1 Co 3:16-17).

O primeiro aspecto às vezes é chamado de "a casa da realidade", enquanto o segundo aspecto às vezes é chamado de "a casa da profissão".

CERTEZA

Este termo é usado principalmente de duas formas no Novo Testamento:

Primeiramente mostra a firme convicção do crente a respeito da eterna salvação de sua alma em Cristo (1 Ts 1:5; Hb 6:11, 10:22; 1 Jo 3:19).

Em segundo lugar, tem a ver com sua convicção sobre a exatidão da verdade que a Palavra de Deus ensina (Cl 2:2; 2 Tm 3:14).

Com relação àquilo que pertence à salvação da alma, infelizmente há muitos que, depois de haverem crido, têm dúvidas se eles estão verdadeiramente salvos. Alguns vivem sob o temor de serem julgados por seus pecados se não guardarem a fidelidade no caminho Cristão. Isso não é absolutamente o que Deus quer para Seus filhos. Ele quer que tenhamos "inteira certeza de fé" com relação a este importante assunto (Hb 10:22), porque se não tivermos isso, seremos prejudicados em nosso crescimento espiritual.

A certeza da salvação do Cristão é baseada em conhecimento e fé. Conhecimento pode ser resumido em três coisas:

Conhecer o que aconteceu na cruz

Conhecer o que aconteceu no sepulcro

Conhecer onde Cristo está agora à destra de Deus

Deus quer nos fazer acreditar no testemunho da Sua Palavra com relação a esses três fatos. O crente que entende e em fé simples aceita esses grandes fatos terá uma sólida certeza de sua salvação e paz em sua alma. Sob condições normais ele nunca mais terá dúvida novamente.

1) CONHECER E CRER NO QUE ACONTECEU NA CRUZ – A Escritura fala que quando o Senhor Jesus Cristo estava na cruz, Deus "fez cair sobre Ele" os pecados de todos aqueles que iriam crer (Is 53:6). Durante as três horas de trevas, Cristo "levou" o juízo por todos esses pecados (Hb 9:28; 1 Pe 2:24). Assim, o preço pelos pecados do crente foi inteiramente pago por meio da obra "consumada" de Cristo. Os clamores da justiça divina foram satisfeitos (Sl 85:10; Is 53:10) e Deus foi "glorificado" de forma completa (Jo 12:27-28, 13:31-32). A obra consumada de Cristo satisfez tão completamente a justiça divina, que se Deus buscasse o crente para julgar seus pecados, iria mostrar-Se injusto, porque o preço foi totalmente pago. Isso seria exigir um segundo pagamento pelos pecados deles, o que Deus nunca irá fazer.

2) CONHECER E CRER NO QUE ACONTECEU NO SEPULCRO – Para colocar a questão longe de qualquer dúvida, Deus ressuscitou o Senhor Jesus Cristo de entre os mortos (Rm 4:24-25) e isso é muito significativo. A ressurreição de Cristo é a afirmação pública de Deus de que Ele aceitou a obra de Cristo na cruz como o pagamento total dos pecados dos crentes. Ela é o Seu "selo de aprovação" e o Seu "amém" para o que Cristo consumou em Sua morte (1 Pe 1:21). É importante entender que a certeza não está baseada na nossa aceitação da obra consumada de Cristo, mas em saber que Deus a aceitou! O sacrifício do Senhor Jesus Cristo foi uma oferta que não foi feita para nós, mas para Deus (Hb 9:14), e a prova de que Deus a aceitou é a Sua ressurreição de entre os mortos.

O Sr. G. Cutting tinha uma ilustração que enfatizava esse ponto. Ele dizia que na questão de uma dívida normal, o seu credor é o único que tem o direito de escrever "PAGO" na conta. Não teria nenhum valor se o devedor escrevesse, porque ele não tem nenhum poder de declarar a conta paga. Se o devedor o fizesse, isso não daria qualquer satisfação ao credor e nem iria dar tranquilidade ao devedor. A certeza do devedor só pode vir pelo conhecimento de que o credor está satisfeito. Da mesma forma, com relação ao débito de nossos pecados, a única forma na qual temos certeza de que tudo foi pago é ver que tudo foi acertado com Deus. Nós precisamos ver que Deus está completamente satisfeito com o pagamento que Cristo fez por nós, e que o fato de Deus ressuscitar a Cristo de entre os mortos prova a Sua completa satisfação. Assim, a forma de obtermos a mais profunda certeza para nossas almas é ver que a questão toda foi resolvida totalmente diante de Deus. Se o pagamento por nossos pecados é suficiente para Deus, então deve ser também para nós e isso deve resolver qualquer questão que possamos ter.

3) CONHECER ONDE CRISTO ESTÁ AGORA À DESTRA DE DEUS – Não apenas a obra expiatória de Cristo foi aceita por Deus, mas Cristo mesmo foi aceito diante de Deus. Isso é testemunhado pela Sua ascensão (1 Tm 3:16). Deus O assentou – à Sua própria direita (Ef 1:20; Fl 2:9-11; Cl 3:1). Ele está ali agora como o Homem glorificado, com todo o favor de Deus repousando sobre Ele. O fato de Deus recebê-Lo no céu é a mais clara prova de que nossos pecados se foram para sempre. Quando o Senhor estava na cruz, Ele recebeu os nossos pecados sobre Si e Ele não poderia os ter levado Consigo para o céu, porque a santidade de Deus é tal que Ele não pode ter pecado em Sua presença (Hc 1:13). Assim, a ascensão de Cristo é algo triunfante. Ela prova que todos os nossos pecados se foram!

Portanto, a completa certeza da nossa salvação pertence à pessoa que crê naquilo que a Palavra de Deus diz sobre estas três coisas, porque Deus não pode voltar atrás em Sua Palavra (Nm 23:19; Hb 6:17-18). Ele teria mais a perder do que nós! Nós iriamos perder a nossa salvação, mas Ele iria perder Sua credibilidade como sendo um Deus justo e santo – e, necessariamente, cessaria de ser Deus! Nós então podemos estar certos, que Ele não vai voltar atrás na Sua Palavra.

Certeza sólida, portanto, não é obtida por procurarmos dentro de nós mesmos sua confirmação, mas por crermos no que Deus estabeleceu em Sua Palavra concernente à nossa salvação em Cristo. Imagine que uma pessoa está condenada por um crime e está diante de uma sentença de prisão e então alguém lhe diz que ela está perdoada por causa de certas circunstâncias que envolveram o incidente e pela boa graça da corte judicial. Como ela teria certeza que foi realmente perdoada? Seria lendo o que passava em seu próprio coração? Ou talvez por ouvir alguns rumores? Ou seria por ler o certificado de perdão assinado pelo juiz principal da corte? Obviamente seria por ler o documento oficial que declarasse o seu perdão. Da mesma forma acontece se quisermos ter certeza de que fomos salvos. Nossos sentimentos e anseios, o que as pessoas possam falar não vai nos dar as evidências que precisamos para ter paz – pois esses recursos não têm autoridade para declarar nada sobre o assunto. Devemos ir à Palavra de Deus e ver o que Deus, "o Juiz de todos", diz a respeito (Hb 12:23). Nós podemos colocar a nossa inteira confiança em Sua Palavra pois Ele não pode mentir, e isso é tudo o que precisamos para uma sólida certeza da nossa salvação. Sua Palavra diz: "Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra, e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida" (Jo 5:24).

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Com vistas a dar ao crente uma paz estabelecida com relação a seus pecados, Deus falou largamente em Sua Palavra para mostrar que os pecados do crente se foram – e se foram para sempre. Ele usa várias figuras e expressões para descrever as bênçãos desse grande fato, a fim de que não exista nenhuma pergunta ou dúvida legítima na mente do crente que aceita o testemunho da Palavra de Deus. Algumas das coisas que Deus fez com nossos pecados são:

Ele fez a purificação dos nossos pecados (Hb 1:3).

Ele afasta de nós os nossos pecados para tão longe quanto o Oriente está do Ocidente (Sl 103:12).

Ele apagou os nossos pecados (Is 44:22 – ATB; Sl 51:1).

Ele lançou nossos pecados para trás de Suas costas (Is 38:17).

Ele lança nossos pecados nas profundezas do mar (Mq 7:19).

Ele tirou nossos pecados (1 Jo 3:5).

Ele nos lavou de nossos pecados (Ap 1:5).

Ele nos purifica de nossos pecados (1 Jo 1:7).

Ele perdoa nossos pecados (Rm 4:7; Ef 1:7).

Ele não Se lembra mais de nossos pecados (Hb 10:17).

CÉU

A Escritura fala do "terceiro céu" como sendo a morada de Deus (2 Co 12:2). Como não pode haver nada acima disso, concluímos que existem três céus:

Os céus criados – (Gn 1:1, 8; Sl 19:1, etc.). São os céus físicos onde as estrelas brilham (Gn 22:17) e onde os pássaros voam (Jr 4:25). (Alguns veem o espaço aéreo e o espaço exterior como sendo dois céus diferentes, mas a Escritura não os distingue – Gn 1:14-17, 20.)

O reino da atividade espiritual (Ef 1:3, 20, 2:6, 3:10, 6:12 – "os lugares celestiais"). Os Cristãos estão assentados em Cristo nessa esfera com suas bênçãos espirituais (Ef 1:3, 2:6). Satanás também se move nessa esfera e trabalha para impedir o gozo do crente de suas bênçãos (Ef 2:2), e assim há um conflito espiritual ali (Ef 6:11-12).

A morada ou a habitação de Deus – "o céu dos céus" (Dt 10:14; Js 2:11; 2 Cr 2:6; Sl 11:4, etc.). É onde Cristo está (Lc 24:51), e onde as almas e os espíritos dos redimidos estão com Cristo (Lc 23:43; 2 Co 5:6-8; Fl 1:23). Paulo se refere a ele como "o terceiro céu" (2 Co 12:2).

CHEIO DO ESPÍRITO

Este termo tem a ver com o estado do crente e, portanto, algo mais do que receber "o dom do Espírito Santo" pelo qual somos habitados por Ele (At 2:38, 8:15-17, 10:45, 19:2; 2 Co 1:21-22; Gl 3:2; Ef 1:13, 4:30; 1 Ts 4:8, etc.). Estar "cheio do Espírito" (Ef 5:18; At 2:4, 4:31, 6:3, 7:55, 9:17, 11:24, etc.) tem a ver com dar o controle total de nossas vidas ao Espírito de uma forma prática.

Uma ilustração dada por H. P. Barker torna clara essa distinção. Ele disse. "Um visitante em sua casa não a ocupa. Ele está restrito à parte da casa à qual você o introduziu. Se, no entanto, você colocar sua casa inteira à sua disposição, e lhe der a chave de cada quarto e armário, ele então controlará todo o lugar. Não é que ele tenha vindo para fazer isto, mas agora, por seu ato de entrega, ele terá completo controle. Assim também é com o Espírito Santo. Muitas vezes O restringimos a certas partes de nossa experiência e vida, mas Ele deseja ter total controle, para nos possuir inteiramente para os interesses de Cristo. Quando entregamos ao Seu controle toda a nossa casa, então Ele está num indisputado comando dela e, nesse sentido, nos enche" (The Holy Spirit Here Today, pág. 77).

Assim, o crente recebe o Espírito Santo uma vez em sua vida crendo no Senhor Jesus Cristo. Quando este Hóspede divino faz dele Sua residência, Ele nunca a deixa, pois o crente é com Ele "selado para o dia" da sua "redenção" final – que é quando o Senhor vem no Arrebatamento (Ef 4:30; Jo 14:16 – "para sempre"). Mas o crente pode ser enchido muitas vezes. Isto é porque nosso estado é como a maré vazante, e podemos não estar sempre rendidos ao Espírito como deveríamos. Sendo este o caso, não há nas Escrituras exortações aos Cristãos para serem "selados" ou "ungidos" com o Espírito. Esses termos têm a ver com a presença permanente do Espírito no crente. E como os Cristãos são crentes, já receberam o Espírito. Há, no entanto, exortações nas Escrituras para serem "cheios" do Espírito.

Bem podemos perguntar: "Como é que um Cristão se enche do Espírito?" As passagens seguintes, que falam do “encher”, nos dão a resposta:

Em Atos 2:1-4, dedicando-se aos interesses do Senhor.

Em Atos 4:31, ocupando-se com a oração e a leitura da Palavra de Deus.

Em Atos 6:3 e Atos 11:22-24, servindo aos outros em nome do Senhor.

Em Atos 7:55, testemunhando de Cristo.

Em Efésios 5:18-21, regozijando-se no Senhor com canto e ações de graças.

Porém, para que possamos ser preenchidos, precisamos primeiro ser esvaziados de tudo o que é incompatível com o Senhor. Muitas vezes há coisas na vida dos crentes que não têm direito de estar ali, e elas impedem o Espírito. Consequentemente, Ele não os enche. Podem ser pensamentos impuros, motivos indignos, desejos cobiçosos, interesses e ambições egoístas, etc. Essas coisas certamente precisam ser lançadas fora e a grande questão é: "Como fazer isso"? A resposta é: "Sob o princípio da substituição". H. P. Barker deu a conveniente ilustração sobre este ponto. Ele disse: "Suponha que eu tenha em minha mão um copo, aparentemente vazio. Na verdade, ele está cheio de ar. Como posso esvaziá-lo do ar? Não por agitá-lo freneticamente com a boca para baixo, nem limpando-o com um pano. Ele é esvaziado por simplesmente estar parado em uma mesa enquanto é enchido com água. Eu o esvazio de ar enchendo-o com água." (The Holy Spirit Here Today, pág. 78). É o mesmo que ser cheio do Espírito; quando coisas e atividades Cristãs ocupam nossos pensamentos e nossas vidas, aquelas outras coisas não terão lugar nela. Se tentarmos forçar a estarmos cheios do Espírito de outra maneira, a vida Cristã vai se tornar uma coisa legalista e, afinal, desmoronará por falta de energia para continuar nelas.

Estar cheio do Espírito Santo tem muito a ver com se entregar às reivindicações de Cristo e ao Hóspede divino que habita em nós. Nossa vontade é a principal culpada. Outra ilustração de H. P. Barker nos ajuda a compreender este ponto. Na Alemanha, há muitos anos, um magnífico órgão de tubos de renome mundial foi construído em uma grande catedral. Um dia um visitante foi à catedral e perguntou se ele poderia tocar o órgão. O zelador disse ao visitante que não era permitido deixar estranhos tocarem o instrumento. O visitante insistiu, e, finalmente, depois de muita persuasão, o zelador permitiu-lhe sentar-se ao órgão. Imediatamente, a música mais deslumbrante fluiu daquele órgão e encheu a catedral. O zelador ficou atônito e parou imóvel, admirado, enquanto ouvia os maravilhosos sons que reverberavam pela construção. Após o visitante ter tocado por algum tempo e estando prestes a sair, o zelador foi até ele e perguntou: "Quem é você?" Ele respondeu: "Mendelssohn" – Era o grande compositor em pessoa! Então o zelador ficou constrangido e disse: "Imagine só; eu estava aqui impedindo você, um homem tão eminente e de tal habilidade, e o maior compositor na Europa, de tocar este órgão! Estou envergonhado de mim mesmo". Muito mais excelente do que qualquer compositor humano famoso, o Espírito de Deus entrou em nossos corações quando fomos salvos. Mas temos nós, como aquele zelador, proibido o Compositor divino de sentar-Se ao painel de controle de nossas vidas para criar, por assim dizer, "uma belíssima música" para a glória de Deus?

CIRCUNCISÃO

Deus instituiu a circuncisão como um sinal de Sua aliança com Abraão e seus descendentes, com objetivo de abençoá-los na terra de Canaã (Gn 17:10-11). Os judeus entenderam isso como uma garantia irrevogável da bênção de Deus sobre eles (Gn 15:5, 17:10). Uma vez que estavam nesse relacionamento com Deus, eles acreditavam que seria impossível para eles a perdição eterna, porque Ele estaria negando Sua Palavra se eles acabassem perdidos.

No entanto, em Romanos 2:25-29, Paulo explica que a circuncisão não abrigará ninguém do julgamento eterno de seus pecados, da mesma forma que confiar na Lei não o fará. Ele mostra que um judeu precisava ter mais do que o sinal exterior da circuncisão em seu corpo para ser um verdadeiro judeu aprovado por Deus. Ele diz: "Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne, Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra: cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus". Os judeus tinham "circuncisão que é exterior na carne", mas eles também precisavam da "circuncisão que é do coração", que envolvia ter fé, para que seu destino eterno estivesse assegurado.

A circuncisão é um sinal visível que promete bênção visível para Abraão e seus descendentes. Ela estava conectada com bênçãos temporais, tais como: posse da terra de Canaã, produção abundante nas colheitas, boa saúde, proteção de seus inimigos terrestres, etc. Essas coisas temporais têm a ver com a vida na Terra sob o favor de Deus. Os judeus, entretanto, estavam erroneamente confiando no rito da circuncisão, que está relacionado com a bênção temporal, e imaginavam que ele assegurava a sua bênção eterna.

Os judeus não estão sozinhos nesse mal-entendido. Muitos Cristãos professos também confiam em coisas e ritos exteriores, tais como: batismo, ser membro de uma igreja, votos de confirmação, etc., mas essas coisas também não garantirão a bênção eterna de ninguém. Paulo se refere à circuncisão de três maneiras em suas epístolas:

Representa os judeus nacionalmente, em oposição aos gentios que são considerados como a incircuncisão (Rm 2:26-27, 15:8; Gl 2:8-9; Ef 1:11).

Indica o rito em si mesmo – o literal procedimento cirúrgico realizado no corpo (Rm 2:28, Gn 17:11).

Representa uma vida de fé para Deus que é separada da atividade da carne (Rm 2:29; Fl 3:3).

CISMA

Um "cisma" é uma divisão interna ou uma partição entre os Cristãos (1 Co 11:18). Aqueles envolvidos em um cisma ainda se reunirão externamente com aqueles com quem se divergem, mas provavelmente estarão infelizes (Rm 16:17; 1 Co 1:10, 3:3, 11:18). Esse era o caso com os coríntios. O apóstolo Paulo os advertiu que, se os cismas existissem e não fossem tratados e julgados como mal, surgiriam "entre vós heresias", brotando desses cismas (1 Co 11:18-19). Assim, uma divisão interna deixada sem julgamento evoluirá para uma divisão externa. (Veja: Heresia.)

Em Romanos 16:17, Paulo diz: "Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos [motivos de tropeço] em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles" - ARA. Isso se refere àqueles que causam essas rupturas internas entre os santos. Aqueles que "causam" divisões são os líderes ou instigadores e não aqueles que simplesmente seguem um movimento. Assim, devemos distinguir os líderes dentre aqueles que se desviaram nessas questões. Nós devemos "nos afastar" dos líderes, mas nos achegar e tentar ajudar aqueles que estão sendo atraídos para um movimento de divisão.

Paulo diz que a maneira pela qual esses promotores de divisão obtêm seguidores é por meio de "suaves palavras e lisonjas [elogios]", e as pessoas que são enganadas por eles são os "símplices" e "desavisados" (Rm 16:18). Absalão é um exemplo do homem que divide uma assembleia (2 Sm 15-18). Ele atraiu pessoas após si, que "iam na sua simplicidade", que "nada sabiam daquele negócio" (2 Sm 15:11). Seu método era concordar com aqueles que tinham alguma queixa e beijá-los. O resultado foi que ele furtou "o coração dos homens de Israel" (2 Sm 15:1-6). A formação do seu partido não aconteceu da noite para o dia; demorou "quatro anos" (2 Sm 15:7 – ARA). Lentamente, mas com certeza, Absalão abalou a muitos em Israel que o seguiram e o resultado foi a divisão em Israel.

COMPRA (Aquisição)

Este é o aspecto mais amplo da obra de Cristo na cruz, pela qual Ele adquiriu a prerrogativa e os direitos de tudo na criação. Como resultado, Ele tem duas esferas de possessão. Compra engloba:

Todas as pessoas – Isso inclui tanto as salvas (1 Co 6:20, 7:23; Ap 5:9, 14:3) como as que não são salvas (2 Pe 2:1-2 – ATB).

Todas as coisas criadas – Essa é a "possessão adquirida" (Ef 1:14 – ATB).

Hebreus 2:9 refere-se ao pagamento que Cristo fez nesta grande compra – Ele "provou a morte por todas as coisas" - JND. "Todas as coisas" é muito amplo, incluindo pessoas e coisas. Sua compra é mencionada em uma parábola em Mateus 13:44. O "homem" (Cristo – v. 37) comprou o "campo" (o mundo – v. 38) que inclui o "tesouro" (crentes). Assim, vemos que Sua compra envolveu coisas e pessoas. Na oração do Senhor, considerando a obra da redenção como sendo já realizada, Ele mencionou que a Ele tinha sido dado a prerrogativa e os direitos sobre "toda a carne" (Jo 17:2). O apóstolo Paulo mencionou que as coisas criadas também pertencem ao Senhor por causa de Sua compra (Ef 1:14 – "a possessão adquirida"). Assim, Ele é agora Dono de tudo.

Um tipo visto no livro de Rute ilustra o círculo duplo das possessões de Cristo. Noemi vendeu uma parcela de terra que pertencia ao seu marido Elimeleque, que havia falecido (Rt 4:3). Como Boaz (uma figura de Cristo) desejava ter Rute como sua esposa, ele teve que comprar aquela porção da herança que lhe daria tudo o que havia nela, inclusive Rute. Rute 4:9-10 diz: "Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Vós sois hoje testemunhas de que comprei da mão de Noemi tudo o que era de Elimeleque, e tudo o que era de Quiliom e de Malom. Também a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, tomei-a (comprei-a – JND) por minha mulher". A compra de Boaz da parcela de terra é uma figura da compra de Cristo de todas as coisas e a compra de Rute ilustra o tesouro de pessoas que vieram junto com a compra do campo.

No entanto, todos os homens sendo "comprados" não significa que todos os homens são salvos. Comprado não é sinônimo de salvação. Significa simplesmente que todos os homens e todas as coisas pertencem a Cristo com base no que Ele realizou na cruz. Ele é o dono deles, quer os homens considerem Sua compra pela fé e reconheçam Seu direito sobre eles ou não. Em 2 Pedro 2:1, o apóstolo mostra que comprado não significa salvo. Ele diz: "Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá ainda falsos mestres, os quais introduzirão heresias destruidoras, negando até ao Senhor que os comprou**, trazendo sobre si repentina destruição**" (ATB). Essas pessoas foram "**compradas**", mas eles estavam indo para uma eternidade perdida! Isso não é porque eles perderam a salvação – porque isso não pode acontecer (Jo 10:27-28, etc.) – mas porque eles não tinham considerado a compra de Cristo. (Veja também Jd 4) Muitos confundem "**comprado**" com "**redimido**". No entanto, Efésios 1:14 mostra que não são sinônimos. Lá fala de algo que foi "**comprado**" e está esperando por sua "**redenção**". Claramente isso não poderia estar se referindo aos Cristãos porque já fomos redimidos (Ef 1:7). A possessão comprada neste versículo é a herança, que é toda a coisa criada (Ef 1:11). Cristo pagou o preço por ela, mas atualmente ela está sob os efeitos do pecado e da corrupção. Na Sua Aparição, Ele a libertará (o significado da redenção) para o propósito para o qual Deus a destinou – para ser o palco sobre o qual Ele exibirá a glória de Cristo no reino. (Veja: Redenção)

COMUNHÃO

Significa ser "participantes em conjunto" naquilo que as partes envolvidas têm em comum (1 Co 10:16). Os crentes no Senhor Jesus Cristo foram trazidos à "comunhão" com o Pai e o Filho (1 Jo 1:3), com o Espírito Santo (2 Co 13:14) e uns com os outros (1 Jo 1:7). Assim, permanecendo juntos nessa comunhão, Deus e Seu povo têm seus corações entretecidos em reflexão inteligente, objetivo, propósito, desejo e afeto em relação a todas as coisas passadas, presentes e futuras. Se nossos pensamentos e ideias não estão de acordo com a mente de Deus, então estamos sem comunhão com Ele, no que diz respeito a esses tópicos.

Comunhão deste tipo não aparece na Escritura senão depois de consumada a expiação, sobre a qual Deus sai em busca do homem, em graça, para formar um relacionamento com os crentes à luz da plena revelação da verdade. Os santos do Antigo Testamento, como Abraão, tinham comunhão com Deus, mas não da maneira na qual os Cristãos conhecem a comunhão com Deus pela morada interior do Espírito. H. M. Hooke disse: "A primeira vez que ela [a comunhão] ocorre no Novo Testamento é em Atos 2:42. Por que você não a vê antes? Porque até que você tenha a vida eterna revelada, manifestada, e até que ela tenha sido comunicada, não poderia haver tal coisa como a comunhão. Como poderia Deus levar as pessoas a terem comunhão Consigo mesmo sem antes ter tirado seus pecados? Não foi até que Cristo morreu, ressuscitou e foi para o céu, e o Espírito Santo desceu, para que você obtivesse essa palavra" (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 234).

Na Escritura, a comunhão Cristã (1 Co 1:9; At 2:42-47) é sobretudo proximidade. Implica estar "reunidos" ao nome do Senhor Jesus Cristo (Mt 18:20), "reunidos" para partir o pão (At 20:7 – ATB), estavam "reunidos" para a oração (At 4:31, 12:12; Rm 15:30), "se reuniram" para o ministério da Palavra (At 11:26; 1 Co 14:23), "reunido" a congregação para ações administrativas (At 15:30; Rm 1:12), andando "unidos" em um mesmo sentido e com os mesmos objetivos (1 Co 1:10), e sendo "cooperadores" no serviço do Senhor (1 Co 3:9; 2 Co 6:1 – ATB).

Tudo isso se baseia no fato de que fomos vivificados "juntamente", ressuscitados "juntamente" e assentados "juntamente" em Cristo (Ef 2:5-6 – JND), e também porque fomos "bem conjuntados" (Ef 2:21 – ATB) e edificados "juntamente" para a habitação de Deus na Terra (Ef 2:22). Em breve seremos arrebatados "juntamente", e assim reunidos juntamente "com Ele" (2 Ts 2:1), seremos glorificados juntamente "com Ele" (Rm 8:17) e, finalmente, viveremos "juntamente" com Ele (1 Ts 5:10).

CONCISÃO

É o termo que o apóstolo Paulo usou para descrever aqueles que recebem a marca da circuncisão em seus corpos, mas se opõem ao que ela inclui praticamente (Fp 3:2). A palavra significa literalmente "oposição a cortar". ("Con" significa "contra", e "Cisão" significa "cortar".) É um corte na carne, mas não vai tão fundo afim de cortar a carne num sentido prático e espiritual. Ela está em contraste com a "circuncisão", que é um completo corte da carne. Por isso, "a concisão" eram os mestres judaizantes que se opunham ao corte da carne na prática. Esses se infiltraram nas fileiras Cristãs nos dias de Paulo e têm sido uma doença para o verdadeiro Cristianismo desde então. (Veja: Circuncisão.) (N. do T.: Em Filipenses 3:2,3, na versão ARC, usa a mesma palavra "circuncisão", porém no versículo 2 a palavra original em grego é "katatome" i.e., concisão e no versículo 3 a palavra é "peritome" i.e., circuncisão.)

CONDENAÇÃO

Refere-se à condenação irrevogável de pessoas que passam deste mundo em seus pecados. Ela se aplica a Satanás e seus anjos também.

Muitos pensam que julgamento e condenação são a mesma coisa, e usam os termos de forma intercambiável. No entanto, isso não é verdade. "Julgamento" é a sentença ou veredicto que foi colocado sobre todos os homens porque todos pecaram. (Algumas versões da Bíblia traduzem "julgamento" como "veredicto). Se os homens vêm a Cristo e são salvos, eles evitam esse julgamento. "Condenação", por outro lado, é algo final e irrevogável, pois nunca é revertida. É a porção futura de todos os que passam deste mundo em seus pecados sem fé (Mc 16:16 – "será condenado"). "O mundo" (1 Co 11:32), "a carne" (Rm 8:3), "o diabo" (1 Tm 3:6) e as pessoas que morreram em seus pecados (Jo 5:29) são as únicas coisas e pessoas das quais é dito que estão sob condenação agora. Por isso, os homens que estão vivos neste mundo em seus pecados estão sob julgamento, mas eles não estão sob condenação – pelo menos não ainda. Se eles saírem deste mundo em sua condição perdida, então passarão para a condenação.

Romanos 5:16 mostra claramente que julgamento e condenação não são sinônimos. Ela diz: "Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação". Isso mostra que o julgamento precede a condenação. W. Scott disse: "O julgamento e a condenação não significam a mesma coisa: a condenação é futura e final. O julgamento a precede". J. N. Darby afirma na nota de rodapé de sua tradução em Lucas 20:47 que a palavra "julgamento" é "a sentença passada sobre a coisa acusada como culpada, a acusação em si mesma é o fundamento do julgamento, não o fato da condenação".

Alguns podem se perguntar como João 3:18 se encaixa nisso, pois diz: "Quem crê n’Ele não é condenado; mas quem não crê já está condenado; porquanto não crê no nome do Unigênito Filho de Deus" (ARC). No entanto, essa tradução na versão King James (N. do T.: e na ARC também) não é correta. Deveria se ler "julgado", em vez de condenado. Romanos 8:1 afirma: "Portanto agora nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus". Note que não diz, como alguns imaginam: "Portanto agora **não há mais **nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus" – o que implicaria que eles antes estavam sob condenação, mas eles escaparam por meio da fé em Cristo. O ponto no versículo é que, sendo justificado como resultado de estar "em Cristo", é impossível que o crente chegue à "condenação".

C. H. Mackintosh disse: "O leitor inglês deve ser informado de que, em toda a passagem, João 5:22-26, as palavras �julgamento� e �condenação� são todas expressas pela mesma palavra no original, e essa palavra é simplesmente �julgamento� – o processo, não o resultado" (Papers on the Lord�s Coming, pág. 48).

J. N. Darby disse: "Todos sabemos, se sabemos alguma coisa, a diferença entre pecados passados (ou presentes) e a natureza má [o pecado], o fruto e a árvore. Se alguém me perguntar: �O homem é condenado por ambos?� Eu deveria dizer ele está perdido, em vez de condenado" (Collected Writings, vol. 34, pág. 416).

CONFISSÃO

As Escrituras indicam que há dois tipos de confissão entre os homens. Uma delas é a confissão de "Jesus como Senhor" e está relacionada com a salvação inicial da alma (Rm 10:9-10) e a outra é a confissão de pecados, que está relacionada com a restauração de um crente que falhou (1 Jo 1:9).

Muitos Cristãos evangélicos pensam que, para que alguém seja verdadeiramente salvo, deve fazer uma confissão pública de sua fé em Cristo. Romanos 10:9 é usado para apoiar essa ideia. Diz: "Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus [Jesus como Senhor], e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo". Como resultado, os pregadores evangélicos muitas vezes impelem confissões públicas em suas reuniões e comícios evangélicos. Eles dão um "chamado ao altar" ao seu público, pedindo àqueles que querem ser salvos para virem à frente fazer uma declaração pública de sua fé. No entanto, se fizermos da confissão da fé em Cristo perante os homens uma condição de sua salvação eterna, então a bênção do evangelho não será unicamente no princípio da fé, mas terá como base a fé e as obras! E isso é contrário aos fundamentos do Evangelho (Rm 3:26-31, 4:4-5; Ef 2:8-9). Além disso, significaria que uma pessoa não poderia ser salva se estivesse sozinha em algum lugar deserto – porque não teria ninguém para quem confessar! De acordo com essa ideia, pode haver "arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus" (At 20:21 – ATB), mas não seria suficiente! Há uma condição adicional – deve haver confissão de fé a alguém. Mas e se ela morresse antes de ter uma chance de dizer a alguém de sua fé em Cristo? De acordo com esse ensinamento, estaria perdida! Não é necessário dizer que essa ideia equivocada não está de acordo com as Escrituras.

"Confessar" em Romanos 10:9 significa "concordar" (Concordância de Strong) ou "expressar acordo". A questão é: expressar concordância com quem? A. Roach disse que à luz de Filipenses 2:11 "toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" e de Romanos 14:11 "toda a língua confessará a Deus", é claro que essa confissão deve ser feita a Deus, não aos homens. O crente reconhece diante de Deus que "Jesus Cristo é o Senhor". H. A. Ironside disse: "A confissão aqui não é, naturalmente, a mesma quando nosso Senhor diz: �Portanto, qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus�. Essa é antes a confissão da alma ao próprio Deus que ele recebe Jesus como Senhor" (Lectures on Romans, págs. 130-131).

Paulo menciona a "boca" antes do "coração" (que é a ordem encontrada em Deuteronômio 30:14), mas em Romanos 10:10, ele inverte essa ordem, dando a verdadeira ordem que ocorre quando uma pessoa é salva. Assim, a recepção interna da Palavra pela fé resulta em uma expressão externa da fé de alguém na confissão de que "Jesus Cristo é o Senhor".

Em condições normais, um crente verdadeiro fará uma confissão de sua fé em Cristo diante daqueles de seu convívio. Isso deve acontecer de forma bastante natural, pois as boas novas da salvação são muito boas para que sejam guardadas apenas para nós mesmos. Confissão de nossa fé diante dos homens é bom, e se um crente não confessar Cristo diante dos homens, lhe serão negadas uma recompensa e uma menção honrosa perante o Pai no dia vindouro (Mt 10:32-33) – mas essa não é uma condição pela qual ele é salvo eternamente. Um novo crente pode hesitar em confessar Cristo no início, mas seu bem-estar eterno não depende disso. Paulo ensinou que a bênção da salvação é unicamente sob "o princípio da fé" (Rm 1:17, 3:30, 4:16, 5:1). Ele estaria contradizendo-se em Romanos 10:9, se estabelecesse a condição de confissão diante dos homens como base da salvação de uma pessoa.

O segundo tipo de confissão tem a ver com pecados, mas é em conexão com um crente sendo restaurado à comunhão com Deus. 1 João 1:9 diz: "Se (nós) confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça". O "nós" neste versículo se refere aos filhos na família de Deus – os Cristãos. Um crente que falhou, tendo permitido o pecado em sua vida, precisa voltar ao seu caminho em arrependimento até o ponto de partida de seu desvio do Senhor e confessar esses pecados a Deus Pai. Ao fazer isso, ele julga a si mesmo e chega ao fundo da causa de seu desvio. Alguém perguntou a J. N. Darby sobre uma situação em que alguém se afastou, mas não pode pensar em nenhum pecado em particular que tenha sido a causa desse afastamento de Deus. Ele disse que se esse fosse o caso, a pessoa pode confessar que seu estado era mau.

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Muitos têm a ideia de que pecadores arrependidos que vêm a Cristo para a salvação devem confessar seus pecados. Mas a Escritura não diz isso. Se fosse necessário fazer isso para ser salvo, então ninguém seria salvo! Qual pecador pode lembrar-se de todos os seus pecados? Especialmente quando consideramos que "a lâmpada [dos pensamentos] dos perversos é pecado" (Pv 21:4) – ATB) e "O pensamento do tolo é pecado" (Pv 24:9). Nesse caso, nossos pecados devem ser milhares – talvez milhões! Seria uma tarefa impossível para um pecador confessar tudo isso. Felizmente, Deus não coloca isso como condição da salvação de nossas almas. O pecador que busca a salvação deve reconhecer (ou confessar) que é um pecador, e ao crer, deve confessar Jesus como Senhor. Mas Deus não exige que ele tenha de confessar cada pecado que cometeu em sua vida para ser salvo.

CONSAGRAÇÃO

Este termo vem do Antigo Testamento, mas a sua verdade também é encontrada no Novo Testamento, embora a palavra não o seja. "Consagração" significa "encher as mãos" (Êx 32:29 – margem KJV; 1 Rs 13:33). Um Cristão "consagrado" é aquele que tem as mãos cheias no cumprimento de seu serviço para o Senhor. Ele está ocupado nas coisas do Senhor, e isso até o ponto em que ele não tem espaço para outras coisas em sua vida.

Isso é ilustrado na consagração dos sacerdotes no Antigo Testamento. Em Êxodo 29, depois que os filhos de Arão foram lavados com "água" (v. 4), espargidos com "sangue" (v. 20), e ungidos com "óleo" (v. 21), Moisés encheu as mãos com dez coisas que tipificam Cristo de várias maneiras (versículos 22-24). Se pudéssemos imaginar em nossas mentes aqueles sacerdotes parados ali naquele dia com todas aquelas coisas em suas mãos, imediatamente compreenderíamos que eles não tinham lugar para outras coisas. Da mesma forma, um Cristão consagrado é um indivíduo focado cuja vida está repleta do serviço do Senhor.

Muitas vezes dedicação é confundida com consagração, mas há uma diferença:

A dedicação tem a ver com o crente colocando algo na mão do Senhor – isto é, sua vida, para ser usada como Lhe agrada (Rm 12:1).

A consagração tem a ver com o Senhor colocar alguma coisa nas mãos do crente – isto é, uma obra que o crente pode fazer por Ele (Rm 12:6-8).

CONSCIÊNCIA

É uma faculdade no homem, adquirida na queda (Gn 3:5-7, 22), segundo a qual ele tem um conhecimento próprio e consciente do bem e do mal. A palavra "consciência" aparece apenas uma vez no Antigo Testamento (Ec 10:20 – margem KJV), mas o fato de sua presença no homem é mencionado em vários lugares. Provérbios 20:27, por exemplo, diz que funciona como "a lâmpada do Senhor, que esquadrinha todo o mais íntimo do ventre" ("ventre" é usado como uma figura para denotar a parte mais profunda do ser). É também aludida como "uma voz mansa e delicada" no homem, segundo a qual ele sabe discernir o certo e o errado (1 Rs 19:12). Também, quando Davi fez algo errado, disse que seu coração "doeu" (1 Sm 24:5; Jó 27:6). Essas coisas são os efeitos da operação da consciência nos homens.

No Novo Testamento, a "consciência" é definida como aquela que dá testemunho nos pensamentos e nos corações dos homens em relação ao bem e ao mal (Rm 2:14-15, 7:7). Um homem é capaz de condenar outro homem por sua má conduta, porque tem um padrão moral em si mesmo (pela sua consciência) que lhe permite julgar o que é moralmente certo e errado. Em Romanos 2:13-15, Paulo explica que, embora os gentios não tenham recebido a Lei de Moisés (os Dez Mandamentos), dada aos judeus, se eles seguissem sua consciência, fariam "naturalmente as coisas que são da lei". Isso é porque os padrões morais de Deus foram escritos em seus corações. Esse testemunho interior "para si mesmos são lei". Uma pessoa, portanto, não precisa de uma lei formal dizendo que é errado matar, roubar e cometer adultério, etc., porém ela sabe que essas coisas são erradas. O Criador escreveu em nossos corações como devemos viver sendo seres morais responsáveis, e nossas consciências dão testemunho disso.

Se um homem sabe que suas ações estão de acordo com essa lei interior, sua consciência é "boa" (At 23:1; 1 Tm 1:5, 19; Hb 13:18; 1 Pe 3:16, 21), "pura" (1 Tm 3:9, 2 Tm. 1:3), e "sem ofensa" (At 24:16). Se o que ele faz não é bom, sua consciência será "contaminada" (Tt 1:15; 1 Co 8:7) e "" (Hb 10:22) e o acusará de seus erros. Se sua vida é caracterizada por más ações, sua consciência se tornará "cauterizada" (1 Tm 4:2), e ele se tornará insensível às acusações dela. Assim, nessa situação sua consciência não será mais um testemunho confiável, como visto naqueles que são descritos em Romanos 1. No entanto, os homens com consciências cauterizadas ainda são responsáveis pelo que fazem.

O evangelho traz a consciência do homem para a plena luz de Deus e lhe expõe a obra consumada de Cristo na cruz. A pessoa que crê no evangelho da sua salvação é "selada" com o Espírito Santo (Ef 1:13) e recebe uma consciência "purificada" (Hb 9:14, 10:2). Isso não significa que o crente não será mais consciente de pecar, mas com respeito ao juízo eterno de seus pecados, ele entende que tudo foi levado em consideração na obra expiatória de Cristo, e sua consciência é silenciada para sempre quanto a esse assunto.

CONVERSÃO

Refere-se ao coração de alguém sendo movido em direção a Deus (Sl 19:7, 51:13; Jr 31:18; Ez 33:11; Lc 1:16). Inicialmente, a conversão ocorre quando uma pessoa nasce de Deus (Mt 18:3; At 3:19, 15:3, 26:18; 1 Ts 1:9, etc.), mas não é usada exclusivamente para o novo nascimento e salvação da pessoa, como muitos pensam. Se, mais tarde, na vida de um crente, ele se tornar descuidado em sua caminhada e voltar para o mundo, ele precisará se converter novamente. Assim, é possível que alguém seja convertido mais de uma vez – mas é uma coisa triste, de fato, se ele precisar de conversões subsequentes. Isso não significa que, se um crente falha, ele perde a salvação e precisa ser salvo de novo, mas precisa que seu coração volte ao Senhor para que sua comunhão com Deus seja restaurada.

W. Kelly disse: "A Escritura emprega isso [a conversão] não apenas para quando alguém se volta inicialmente para Deus, mas para quando essa volta para Ele acontece por alguém ter dado um passo em falso. Essa é realmente a principal diferença entre conversão e vivificação. Pois a vivificação só pode ocorrer uma vez, mas a conversão pode ser repetida" (Lectures Introductory to the Study of Minor Prophets, pág. 378).

Tiago disse: "Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter**, saiba que aquele que fizer** **converter** **do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados**" (Tg 5:19-20). Ao dizer: "**Irmãos, se algum de entre vós** …", está claro que Tiago estava se referindo aos crentes. Os verdadeiros crentes podem andar "**desviados da verdade**" e falhar, e se o fizerem, precisam ser convertidos de novo. A "**morte**" de que Tiago fala aqui é a morte física, a qual Deus pode permitir na vida de um crente desobediente como um julgamento governamental, se ele não se arrepender (1 Jo 5:16; 1 Co 5:2, 11:30; Êx 30:21; Ec 7:17). Isso não significa que um crente que morre sob a mão do juízo governamental de Deus perde a salvação de sua alma, pois as condutas governamentais de Deus com Seu povo dizem respeito apenas ao seu tempo na Terra e não tocam em sua posição e destino eternos.

O apóstolo Pedro é um exemplo de um crente que teve uma segunda conversão. Disse-lhe o Senhor: "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres**, confirma teus irmãos**" (Lc 22:31-32). Pedro havia conhecido o Senhor no início do Seu ministério e se converteu naquele tempo. Depois de uns três anos e meio Pedro O negou e, consequentemente, precisou se converter novamente (Mc 16:7; Lc 24:34; Jo 21:15-19). Note que o Senhor não orou para que a salvação da alma de Pedro e sua segurança eterna não "**falhassem**" – porque não podem falhar, mas que sua _fé_ não falhasse quando seu coração se afastasse do Senhor.

O "convertido" de Tiago 5:19 e Lucas 22:32 são traduzidos por J. N. Darby como "restaurado", a fim de ajudar a distinguir a conversão inicial de alguém de uma conversão posterior que ele possa ter. Mas W. Kelly afirma que traduzir esses versos como "restaurado" é realmente uma interpretação, porque o significado literal da palavra é convertido, o qual significa ter novamente o coração voltado para Deus (Lectures Introductory to the Study of the Minor Prophets, pág. 378).

CORPO DE CRISTO, O

A figura de um corpo humano é usada na Escritura para descrever a Igreja de Deus (a assembleia) na Terra em relação a Cristo no céu (Rm 12:4-5; 1 Co 12:12). Os crentes no Senhor Jesus Cristo são vistos como os membros do corpo – cada um tendo uma "função" diferente (Rm 12:4) – com Cristo sendo a Cabeça. Essa união da Cabeça e do corpo é mantida pela presença interior do Espírito Santo. Os instrutores bíblicos às vezes se referem a ele como o corpo "místico" de Cristo, o que significa que essa união é algo que a visão física não distingue. O apóstolo Paulo é o único escritor do Novo Testamento a usar essa figura, e ela só é encontrada em quatro de suas epístolas – Romanos, 1 Coríntios, Efésios e Colossenses.

É a única associação de membros sobre a qual a Escritura se refere com relação aos crentes no Senhor Jesus Cristo. C. H. Mackintosh disse: "Não há nada nas Escrituras como ser membro de uma igreja" (The Assembly of God, pág. 10). J. N. Darby disse: "Relação de membros de uma assembleia é desconhecida nas Escrituras, e ali (na assembleia) estão os membros do corpo de Cristo" (Collected Writings, vol.31, pág. 383). No entanto, os Cristãos muitas vezes falam de "seu corpo" e "nosso corpo" em referência às várias comunhões feitas pelo homem na Cristandade, subentendendo que Cristo tem muitos corpos na Terra, o que é uma negação prática de Efésios 4:4, que diz: "Há um só corpo".

O "um só corpo" refere-se a todos os Cristãos na Terra, onde quer que estejam, a qualquer momento. Seu aspecto atual não inclui Cristãos que morreram e partiram para estar com o Senhor. Isto pode ser visto no fato de ser dito que os membros do Corpo de Cristo sofrem com aqueles membros que estão sofrendo (1 Co 12:26), e certamente não há sofrimento no céu. No entanto, todos os Cristãos serão parte do corpo em seu estado completo, quando Cristo vier para reinar em Seu reino milenar (Ef 1:23). Assim, os que já partiram não perdem nada no final, mesmo que eles atualmente não sejam vistos como estando no corpo no momento.

W. J. Hocking disse: "Dificilmente se pensaria que há fundamento na Escritura que a Igreja de Deus, isto é, a Igreja de Deus composta de todos os crentes em Cristo desde Pentecostes até o dia de Sua vinda, seja descrita como o corpo. O corpo é o ser vivo em qualquer momento aqui na Terra, embora associado com Cristo no céu. Aqueles santos que dormiram e estão agora com Cristo, ainda fazem parte da assembleia que Cristo está construindo, mas o corpo de Cristo é o organismo vivo na Terra". (Christ and His Church, pág. 42).

J. N. Darby disse: "Isto é evidente: pelo fato de o Espírito Santo estar aqui embaixo, os santos que já partiram não participam do corpo no presente, mas certamente eles definitivamente, fizeram parte do corpo – do corpo agora na mente e propósito de Deus, embora não de fato, por terem saído da cena em que o corpo foi formado pelo Espírito Santo que desceu do céu" (Letters, vol.1, pág. 511). Ele também disse: "Não nos é dito nada a respeito dos espíritos que partiram, senão que eles estão com Cristo. Eles não perderam nenhum privilégio a não ser aqueles que dizem respeito às coisas aqui na Terra. Certamente eles não estão separados de Cristo para se reunir com Ele depois, pois, tal separação não poderia ocorrer, digo isto por uma questão de fé e de princípios básicos; mas os irmãos que partiram não fazem mais, pessoalmente, parte do corpo (de Cristo), na sua condição presente, por estar o corpo de fato aqui embaixo… É verdade que todos os santos entre esses dois grandes eventos pertencem ao corpo de Cristo na mente e no conselho de Deus. Mas aqueles que morreram perderam sua atual conexão com o corpo, tendo passado da esfera onde o Espírito Santo está pessoalmente. Eles deixaram de estar em sua unidade – seus corpos não estando ainda ressuscitados, não participam mais do corpo como é reconhecido por Deus" (Letters, vol.1, pág. 527).

DEIDADE

Essa palavra não é encontrada na Escritura, mas a sua verdade certamente é. Refere-se à essência de Deus mesmo. Há pelo menos dez atributos notáveis nas Pessoas da Divindade. Eles são:

Eternidade – Ele é uma Pessoa eterna e sempre existente, sem princípio nem fim (Gn 21:33; Dt 33:27; Sl 90:2; Mq 5:2; Jo 1:1, 8:58).

Infinidade – Não há fronteiras para a grandeza de Sua Pessoa (1 Rs 8:27; 2 Cr 2:6; At 17:24).

Onisciência – Ele conhece tudo (Sl 139:2-4, 147:5; Ez 11:5; Mt 11:27; Jo 1:48, 21:17).

Onipotência – Ele é todo-poderoso (Mt 28:18; Jo 1:3; Cl 1:16-17; Ap 19:6).

Onipresença – Ele está em toda parte (Sl 139:7-8; Jo 3:13).

Imutabilidade – Ele não muda (Ml 3:6, Hb 1:12, 13:8, Tg 1:17).

Impecabilidade – Ele é incapaz de pecar – Sendo santo (Nm 23:19; 1 Sm 15:29; Jo 8:46; 2 Co 5:21; Hb 6:18; Tt 1:2; 1 Jo 3:5).

Soberania – Ele controla o curso da história mundial por Sua providência (Jó 42:2; Sl 135:6; Pv 16:33, 21:1; Is 41:2-4, 45:6-7; Lm 3:37; Mt 17:27; At 15:18; Ef 1:11).

Autossuficiência – Ele é independente de todas as criaturas (Is 40:13-14; Dn 4:35; 1 Co 8:6).

Justiça – Ele tem razão em todo o Seu trato com Suas criaturas (Is 6:3; 1 Jo 1:5; Ap 4:8; Gn 19:25; Jó 8:3; At 17:31; Rm 3:5-6; Hb 2:2; Ap 20:12).

DIA DE CRISTO, O

Este termo refere-se ao tempo em que Cristo Se apresentará em visível glória com a Igreja diante do mundo (2 Ts 1:10; Jo 17:23). O "dia de Cristo" (ou "o dia de Jesus Cristo") começará na Aparição de Cristo e continuará durante todo o Milênio (1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fl 1:6, 10, 2:16), que vai durar mil anos. O dia de Cristo aparece como "aquele dia" em alguns lugares nas epístolas de Paulo (2 Ts 1:10; 2 Tm 1:12, 18, 4:8). Nele as recompensas que os santos receberão no tribunal de Cristo estarão em exibição (1 Co 3:13; 2 Tm 1:12; Fl 2:16).

"O dia de Cristo" não é o dia ao qual o Senhor se referiu no cenáculo, quando Ele disse: "Naquele dia…" (Jo 14:20, 16:23, 26), pois o Senhor estava falando deste presente dia em que o Espírito viria morar na Terra, na Igreja. Nem é o mesmo dia do qual os profetas do Antigo Testamento falaram quando disseram: "Naquele dia…" (Zc 12:3, 4, 6, 8, 9, 11, 13:1, 2, 4, etc.) que é o dia do Messias na Terra em conexão com Israel. O dia de Cristo tem a ver com Sua glória celestial com a Igreja.

"O dia de Cristo" e "o dia do Senhor" referem-se ao mesmo período de tempo (o Milênio); o primeiro enfatiza a manifestação da glória de Cristo e o segundo o exercício de Seu julgamento.

DIA DE DEUS, O

Esse termo refere-se ao Estado Eterno (2 Pe 3:12), que existirá depois que o tempo chegar ao seu "fim" (1 Co 15:24-28). Ele também é chamado "o dia da eternidade" (2 Pe 3:18) e "os séculos dos séculos" (Gl 1:5; Ef 2:7, 3:21; 1 Tm 1:17; 1 Pe 5:11; Ap 5:13, 22:5).

DIA DO SENHOR, O

Esse é um termo do Antigo Testamento (Is 2:12, etc.), usado no Novo Testamento para indicar o momento em que a autoridade do Senhor será estabelecida publicamente na Terra (1 Ts 5:2, 4; 2 Ts 2:2-3 – ATB; Lc 21:34). (Não é "o dia do Senhor" [the Lord’s day], que é o primeiro dia da semana – Ap 1:10). "O dia do Senhor" [the day of the Lord] começará na Aparição de Cristo e continuará pelo Milênio (2 Pe 3:8-10), durante os mil anos. Deus designou esse "dia", no qual Cristo "com justiça há de julgar o mundo" (At 17:31). O Senhor intervirá publicamente sobre os caminhos do homem na Terra com os Seus julgamentos marciais (Is 30:27-33; Ap 19:11-21; Is 63:1-6), e então prosseguirá com as sessões do Seu julgamento (Mt 25:31-40) e, finalmente, com Seu julgamento milenar (Sl 101:3-7; Zc 5:1-4).

Há duas coisas que sinalizam que "o dia do Senhor" está "à mão" (prestes a começar):

A revelação do "homem do pecado" (o anticristo) e o "abandono" da Cristandade que seguirá seus enganos na Grande Tribulação (2 Ts 2:3).

O ataque do rei do Norte (Assírio) sobre os judeus que retornarão à sua terra natal no final da Grande Tribulação (Jl 1:15, 2:1-11).

"O dia do Senhor" e "o dia de Cristo" referem-se ao mesmo período de tempo (o Milênio); o primeiro enfatiza o exercício de Seu julgamento na Terra e o último a exibição de Sua glória com a Igreja.

DISCIPLINA

Disciplina significa "abrir o entendimento pela correção" (Jó 36:10). Toda disciplina, se vem da mão de Deus, é boa, pois Ele é a fonte de todo o bem. Existem duas classes de disciplina:

Disciplina de edificação de caráter.

Disciplina corretiva.

Sob a categoria de edificação de caráter, a disciplina deve ser vista como um treinamento divino na escola de Deus. Há pelo menos três tipos de treinamento divino – cada um começando com a letra "P":

  1. Disciplina preparatória

Tem a ver com uma ação de Deus preparando Seus servos para uma obra específica à qual Ele os chamará. Assim como um atleta é preparado por treinamento, Deus treina Seu povo para o serviço ao qual Ele os chama. Um exemplo desse tipo de treinamento divino é visto no que Paulo disse aos Coríntios: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar [encorajar] os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação [encorajamento] com que nós mesmos somos consolados [encorajados] de Deus" (2 Co 1:3-6). Isso mostra que Deus coloca Seu povo em certas situações difíceis para que aprendam por elas sobre Sua compaixão e conforto por meio de uma experiência prática. Essas experiências com o Senhor amolecem nossos corações (Jó 23:16) e nos enchem de compaixão pelos outros, e deixando-nos mais inclinados a nos compadecer, confortar e encorajar aqueles que estão passando por provações. Assim, as experiências que passamos na vida têm uma maneira de nos preparar para uma certa linha de serviço na qual o Senhor vai nos usar.

O Senhor Jesus Cristo experimentou esse tipo de treinamento disciplinar em Sua vida que O preparou (pelos sofrimentos que Ele experimentou) para ser nosso "misericordioso e fiel Sumo Sacerdote" (Hb 2:17-18, 4:15, 5:8).

  1. Disciplina purificativa

Às vezes chamada de disciplina "produtiva", tem a ver com a obra de Deus de remoção das falhas de caráter e traços em nossas personalidades que não sejam semelhantes a Cristo. Há falhas de caráter em cada Cristão que impedem, de alguma forma, que Cristo possa ser visto neles. Essas coisas não são pecados propriamente, mas são traços de caráter em nossas personalidades que talvez nem sejamos conscientes deles. Mesmo que não possamos estar cientes dessas coisas em nosso caráter, Deus as vê (e nossos irmãos também, muitas vezes), e Ele Se ocupa em remover essas falhas por meio de Sua disciplina purificativa. Ele o faz usando as provações e tribulações que tocam nossas vidas. Essas disciplinas não formam Cristo em nós – o que se dá somente quando nos ocupamos com Ele (2 Co 3:18) – mas elas têm o objetivo de nos fazer ver a nós mesmos mais claramente, e assim sermos levados a nos julgar. Tão logo essas qualidades indesejáveis forem removidas de nossas personalidades, Cristo será visto em nós com mais nitidez.

Vemos esse tipo de disciplina na vida de Jó. Ele era "sincero [perfeito], reto e temente a Deus, e desviava-se do mal" (Jó 1:1). Isso mostra claramente que o problema de Jó não estava em suas ações – ele certamente não estava fazendo nada de errado que pudesse ser visto em sua vida – era sua atitude que precisava de ajuste. Ele tinha uma atitude de autoestima que o Senhor removeu por meio das provações que experimentou. O Senhor usou as provações que o afligiram como uma disciplina purificativa. No final, Jó viu o que o Senhor estava tentando mostrar, e ele se abominou, e se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42:6). Ao julgar-se a si mesmo, ele era a melhor pessoa para fazê-lo. Assim, por meio desse tipo de disciplina, Deus fez um bom homem ser melhor! Podemos pensar que as atitudes não são tão importantes, mas Deus vê de outra forma, e Ele fará o possível para corrigir um espírito errado em Seus filhos, pois Ele é "o Pai dos espíritos" (Hb 12:9).

Várias figuras são usadas na Escritura para indicar esse processo de remoção das imperfeições em nosso andar e caminhos. Davi disse: "Cercas o meu andar" (Sl 139:2-3). Cercar (ou peneirar, separar) é o processo de remover a palha do trigo. Salomão disse: "Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor" (Pv 25:4). Escórias são as impurezas em metais preciosos que o ourives remove por meio do calor intenso. Jeremias disse que o vinhateiro remove o sedimento de seu vinho, mudando-o cuidadosamente de "vaso para vaso" (Jr 48:11). O Senhor disse que o Pai "limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto" (Jo 15:1-2). Isso se refere ao processo de poda que os lavradores fazem para ter um maior rendimento em sua vinha. O escritor de Hebreus, disse: "tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos: não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas Este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade" (Hb 12:9-10). Isto refere-se à criação e admoestação (Ef 6:4) que um pai terreno emprega para corrigir seus filhos que têm um espírito incorreto, o mesmo que o Senhor semelhantemente faz conosco.

  1. Disciplina preventiva

Este tipo de disciplina tem a ver com o benefício que recebemos com as dificuldades e provas pelas quais passamos em nossas vidas e que resultam em nossa preservação. A dependência expressa pela oração e o andar em humildade com o Senhor são essenciais para sermos preservados no caminho da fé. Quando começamos nossas vidas Cristãs, geralmente não há bastante desse bem precioso em nossas vidas, e estamos sujeitos a cair sob um ataque do inimigo de nossas almas. Conhecendo nosso estado e nossas necessidades espirituais muito melhor do que nós, Deus em perfeita sabedoria, permite certas provações e dificuldades em nossas vidas para nos exercitar e, se recebidas adequadamente, irão nos preservar no caminho (Sl 18:30; Rm 8:28). Essas provações e dificuldades têm um modo de nos manter em constante exercício para nos lançar sobre o Senhor em humilde dependência. O resultado é que somos preservados de andar descuidados e independentes, que é a fórmula para cairmos de nossa firmeza (2 Pe 3:17).

Paulo mencionou este tipo de disciplina para os coríntios falando: "para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disseme: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo" (2 Co 12:7-9). Essa disciplina foi dada a Paulo para mantê-lo humilde e dependente, de modo que não ficasse inchado pelo orgulho e fosse levado pela autoestima – o que certamente o levaria à sua queda (Pv 16:18). Assim, o Senhor usou essa aflição como uma disciplina preventiva para preservar Paulo como um vaso útil em Seu serviço. Se o apóstolo Paulo precisou disso, nós certamente também precisamos.

  1. Disciplina punitiva

O quarto tipo de disciplina é a corretiva, que o Senhor determina na vida de um Cristão desobediente por causa de um curso de pecado que ele está buscando. Ela é enviada por Ele como algo punitivo e é projetado para quebrar a vontade do Cristão desobediente, e assim corrigi-lo e restaurá-lo. Embora não fosse Cristão, a experiência de Jonas com o Senhor é um exemplo. Este tipo de disciplina emana do coração de Deus em amor (Hb 12:6). Seu amor é tal que Ele não permitirá que Seus filhos desobedientes continuem indefinidamente em um curso intencional de pecado. Custe o que custar, Ele trará de volta o Cristão que se desviar – mesmo que seja no seu leito de morte.

Paulo se referiu a esse tipo de disciplina quando disse: "quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (1 Co 11:32). O julgamento e castigo a que Paulo se refere aqui é o governamental. Alguns dos coríntios tinham sentido a mão de Deus dessa maneira punitiva – havia doentes e alguns foram levados pela morte (1 Jo 5:16). Eliú também lembrou a Jó desse aspecto da disciplina de Deus (Jó 36:9-12). Isso poderia vir sobre nós pela mão de nossos irmãos em uma ação administrativa em nome do Senhor. Paulo lançou um par de blasfemadores fora da assembleia, de tal forma que eles "aprendam a não blasfemar" (1 Tm 1:20).

Quando somos castigados dessa maneira, existe o perigo de "subestimar" a disciplina e considerá-la como sendo algum outro tipo de disciplina, e então perdermos o que o Senhor está nos dizendo. J. N. Darby disse: "Não duvido que uma grande parte das doenças e das provações dos Cristãos seja castigos enviados por Deus por causa de coisas que são más à Sua vista, que a consciência deveria ter prestado atenção, mas que as negligenciou. Deus foi forçado a produzir em nós o efeito que o julgamento próprio deveria ter produzido antes da Sua ação. No entanto, não é verdade supor que todas as aflições são disciplinares. Embora sejam assim às vezes, elas não são sempre enviadas por causa de pecado" (Collected Writings, vol.16, pág. 175).

DISCIPULADO

A palavra "discípulo" significa "um aprendiz". Um discípulo do Senhor Jesus Cristo é um aprendiz professo e um seguidor de Seus ensinamentos.

A Escritura apresenta o discipulado como uma renúncia completa e incondicional da vida do crente à causa de Cristo neste mundo. O custo desse compromisso é grande em termos do que se deve desistir. Envolve deixar cada ambição pessoal e objetivo que possamos ter na vida e adotar os objetivos de Deus para a divulgar a glória de Cristo na Terra. Com tal compromisso vêm sofrimento, reprovação, dificuldades e muito trabalho duro. Não há como fugir dessas coisas, pois elas são normais ao verdadeiro discipulado. Por estranho que possa parecer, esses incríveis sacrifícios e dificuldades para o nome do Senhor não dão ao discípulo uma posição melhor no céu, nem adicionam algo às suas bênçãos espirituais em Cristo.

Em vista dessas dificuldades, podemos nos perguntar por que um crente assumiria esse compromisso de se tornar um discípulo de Cristo – quando não há vantagem aparente nisso? Além disso, o Senhor nunca ordenou a ninguém que fosse discípulo d’Ele! Aqueles que assim se comprometeram com Ele o fizeram por sua própria vontade. De fato, o Senhor advertiu aqueles que consideravam ser um de Seus discípulos que isso envolveria muita abnegação e sacrifício (Mt 16:24), e assim seria uma decisão dispendiosa (Lc 14:28-30). No entanto, apesar de tudo isso, muitos milhares tomaram o discipulado sobre si mesmos como discípulos do Senhor Jesus Cristo – e ninguém se arrependeu! A razão de sua disposição para entregar suas vidas dessa maneira é que a "compaixão de Deus" (Rm 12:1) e "o amor de Cristo" (2 Co 5:14-15) tomaram conta de seus corações e os têm constrangido – e, portanto, eles fazem isso com alegria. Eles veem isso como sendo o mínimo que poderiam fazer por Ele. Eles não se arrependem do passo que deram porque descobriram que, embora seja um caminho difícil, também é um caminho muito feliz (Lc 6:20-23 – "bem-aventurado" significa "feliz"). Na verdade, eles encontraram o segredo da verdadeira felicidade na vida o qual milhões estão procurando!

A Escritura indica que há dois tipos de discípulos de Cristo:

Aqueles que são "discípulos" (Jo 6:60-61).

Aqueles que são "verdadeiramente discípulos" (Jo 8:31).

A diferença entre ambos é grande. Quanto a ser um "discípulo" do Senhor, Ele indicou que há duas coisas que tornam uma pessoa como tal. Ele disse aos Seus apóstolos: "ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado" (Mt 28:19-20). A primeira dessas coisas (batismo) é um ato único. É o sinal externo da identificação de uma pessoa com Cristo (Gl 3:27). Ele introduz formalmente uma pessoa na esfera onde a autoridade do Senhor é reconhecida praticamente na vida de um discípulo. A segunda coisa, que tem a ver com receber instrução moral e espiritual, é um processo de aprendizagem. Se essas instruções são recebidas e praticadas, também torna uma pessoa um discípulo do Senhor Jesus.

No entanto, um mero crente professante, sem uma verdadeira fé em Deus, pode submeter-se à ordenança do batismo e receber instruções morais – e assim ele poderia ser contado como um discípulo do Senhor. Sendo esse o caso, o Senhor prova cada um de Seus discípulos quanto à sua realidade. Vemos isso em João 6:24-59. O Senhor usou intencionalmente o ensino simbólico em conexão com a vida eterna ao Se dirigir a Seus discípulos. Muitos deles não conseguiram entender o que Ele estava dizendo e recuaram. Eles rejeitaram o ensino como sendo sem sentido e deixaram de segui-Lo (Jo 6:66). E, ao fazê-lo, eles provaram afinal que não eram verdadeiros crentes. Por estranho que possa parecer, eles eram discípulos, mas não crentes!

Por outro lado, há aqueles que são verdadeiros crentes e comprometidos em seguir o Senhor. Ele os chamou de "verdadeiramente discípulos" (Jo 8:31). Eles provam ser tais por continuarem nesse caminho de fé, seguindo o Senhor através de dificuldades e rejeições associadas ao verdadeiro discipulado. Além de serem marcados pelos dois sinais exteriores de um "discípulo" (batismo e instrução), há uma série de outras coisas que os distinguem como sendo "verdadeiramente discípulos", que são:

Eles negam-se a si mesmos e fazem as pretensões de Cristo preeminentes sobre todas as outras reivindicações em suas vidas (Lc 14:26 e Mt 16:24).

Eles estão dispostos a ser identificados com Cristo em Sua rejeição e a suportar Sua reprovação (Lc 14:27).

Eles consideram o preço e fazem um compromisso vitalício no serviço de seu Mestre (Luc 14:28-33).

Eles têm um desejo de ser como o seu Mestre em todas as coisas (Mt 10:25).

Eles permanecem na Sua Palavra (Jo 8:31).

Eles têm um amor genuíno por todos os outros discípulos (Jo 13:35).

Eles são caracterizados por terem uma vida de oração e comunhão com Deus, que resulta em uma vida cheia de frutos para a glória de Deus (Jo 15:7-8).

DISPENSAÇÕES

A palavra "dispensação" significa "a administração de uma casa", ou "o gerenciamento de uma família", ou "a lei de uma casa". No sentido usado na Escritura, fala de um tratamento público, ordenado por Deus, aos homens na administração de Seus caminhos, em Sua casa, durante várias eras.

Uma vez que a casa de Deus na Terra não foi estabelecida num sentido verdadeiro até que Ele formalmente assumiu relações com Israel no terreno da redenção, com a construção do tabernáculo onde Ele pôde encontrar-Se com eles (Êx 25-40), poderíamos dizer que a partir desse momento em diante há três dispensações principais nos caminhos de Deus (The Concise Bible Dictionary_,_ págs. 216-217). Antes disso, os homens andavam com Deus como indivíduos, mas não havia um sistema público, ordenado por Deus, tratando com os homens coletivamente em relação à Sua casa.

A primeira delas é a Dispensação da Lei, que era um tratamento ordenado por Deus aos homens (a nação de Israel), segundo o qual as obrigações e exigências da Lei deveriam ser cumpridas pelo povo para que eles pudessem andar em comunhão com Deus. Essa administração passou por três fases:

Cerca de 400 anos sob os Juízes (desde a entrada de Israel na terra de Canaã até o final dos Juízes – At 13:19-20).

Cerca de 500 anos sob os reinos (de Saul ao cativeiro babilônico).

Cerca de 600 anos de testemunho profético durante os Tempos dos Gentios (do cativeiro a João Batista (Lc 16:16).

A segunda dispensação é a presente "dispensação [administração] do Mistério" (Ef 3:9). Essa é uma administração especial para o governo de uma companhia celestial de pessoas (a Igreja) neste presente Dia da Graça. O apóstolo Paulo foi encarregado de "demonstrar a todos" acerca do que envolvia essa administração (Ef 3:9). Três vezes ele fala de lhe ter sido "dada" uma revelação especial da verdade relativa à presente "dispensação" (1 Co 9:17; Ef 3:2; Cl 1:25). Ele devia ensinar as grandes verdades do Mistério "que desde os séculos esteve oculto" em relação a "Cristo e à Igreja" (Ef 3:9, 5:32), incluindo, desde o chamado da Igreja até os arranjos práticos para os santos se reunirem para adoração e ministério. A Igreja propriamente não é uma dispensação, mas é governada por uma dispensação ou lei da casa de Deus em relação à verdade revelada no Mistério.

O ministério da graça realmente começou com o ministério de nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 1:17), mas quando Seu povo terreno o rejeitou, Deus revelou a presente dispensação do Mistério no chamado celestial da Igreja, com a vinda do Espírito Santo em Pentecostes (At 2:1-4, 11:15). Os crentes hoje estão sendo chamados dentre os judeus e dentre os gentios para fazer parte de uma coisa nova, celestial – a Igreja, o corpo e a noiva de Cristo (At 15:14, 26:17). O encargo do verdadeiro ministério Cristão é "promover a dispensação de Deus" ajudando os santos que compõem a Igreja a compreender seu chamado celestial em Cristo e a viver suas vidas de acordo com a atual administração de Sua casa (1 Tm 1:4).

A terceira dispensação ainda está por vir – "a dispensação da plenitude dos tempos" (Ef 1:10). Essa será uma ordem especial de Deus aos homens durante o reinado público de Cristo no Milênio. O remanescente restaurado de Israel e das nações gentias desfrutarão uma porção terrena de bênção sob a administração de Cristo e da Igreja, que reinará sobre o universo desde os céus (Sl 103:19; Ap 21:10).

Essas três dispensações (ou administrações) da casa de Deus são imensamente diferentes. Na verdade, quanto mais as estudarmos, mais veremos como são diferentes. Por exemplo, a Dispensação da Lei tem a ver com um povo que tem uma porção e um destino terrenal, enquanto que a Dispensação do Mistério – intercalada entre a Dispensação da Lei e a Dispensação da Plenitude dos Tempos – tem a ver com pessoas que têm um chamamento e um destino celestial (a Igreja). Atualmente, o tratamento de Deus com a nação de Israel está suspenso (Dn 9:24-27; Os 5:15-6:3; Mq 5:2-3; Rm 11:11-24, etc.). Enquanto isso Ele está chamando os crentes deste mundo pelo evangelho da Sua graça para compor a Igreja (At 15:14, 26:17). Quando o número total de crentes eleitos for salvo e trazido à Igreja (Rm 11:25), Deus retomará Seus tratos com Israel e trará um remanescente de todas as doze tribos à bênção (Rm 11:26-27). As nações gentias também serão abençoadas, sujeitas a esse remanescente, no reino milenar de Cristo. Assim, houve uma mudança nos caminhos dispensacionais de Deus, da Lei à Graça, administrada em o Mistério, e haverá outra mudança da administração do Mistério para a administração do reino milenar. Em um dia próximo, quando o propósito de Deus for totalmente cumprido, o reino terá pessoas na Terra abençoadas em relação a Cristo, e também pessoas no céu abençoadas com Cristo.

Muitas vezes as dispensações foram confundidas com as eras (ou séculos). Alguns tentaram uniformizá-las e torná-las na mesma coisa. Por exemplo, o Dicionário da Bíblia de Unger diz: "Uma dispensação é uma era de tempo durante a qual o homem é testado". Esquema das "Sete Dispensações" de C. I. Scofield é outro exemplo dessa mistura.

No entanto, eras e dispensações não são iguais. W. Kelly disse: "A palavra �dispensação� não tem nenhuma referência a um determinado período ou era" (Lectures on the Epistle to the Ephesians, pág. 27 – nota de rodapé). Uma "era" é um período de tempo, e uma "dispensação" é uma ordenação moral e espiritual de Deus durante um período de tempo, em relação a alguma verdade específica que Ele concedeu à Sua casa. De acordo com isso, J. N. Darby falou de estar "em" uma época, mas "sob" uma dispensação (Collected Writings, vol. 10, pág.12).

DOM

No Novo Testamento, "dom" é um assunto que é tratado de algumas maneiras diferentes. Em primeiro lugar, há "o dom do Espírito Santo", que é dado a toda pessoa que crê no Senhor Jesus Cristo (Jo 4:10; At 2:38, 10:45; 1 Ts 4:8; 1 Jo 3:24). Ao receber o Espírito Santo a pessoa se torna parte da Igreja de Deus, que é o corpo de Cristo.

Há o dom da "graça" que é dado a cada membro do corpo de Cristo, pelo qual cada um é capaz de preencher o lugar no corpo que lhe foi atribuído (Ef 4:7).

Há também dádivas espirituais que são dadas aos crentes, chamadas "dons espirituais", ou "manifestações espirituais", como traduzido por J. N. Darby (1 Co 12:1, 14:1, 12). Essa dádiva espiritual é dada a uma pessoa no momento em que ela crê no Senhor Jesus e recebe o Espírito Santo. Quando ela é conduzida pelo Espírito para exercer seu dom, contribuirá de alguma forma para a edificação do corpo (1 Co 12:7; Ef 4:15). A Bíblia ensina que a todos os crentes foi dado pelo menos um dom (1 Co 12:7; 1 Pe 4:10). O ministério é simplesmente o exercício do dom de alguém; como todos os Cristãos têm algum dom, todos os Cristãos estão "no ministério". A extensão completa desses dons é muito mais ampla do que ensinar, exortar, profetizar, pregar, etc. Inclui dons de sinais tais como: cura, línguas, e dom de milagres (1 Co 12:9-10), e dons de caráter mais privado, como ajudar as pessoas individualmente – como pastorear, ajudar, dar, mostrar misericórdia, etc. (Rm 12:8, 1 Co 12:28).

Há também "dons" especiais que são dados à Igreja por Cristo, a Cabeça do corpo (Ef 4:10-11). Esses são homens que em si mesmos possuem certos dons espirituais para ministrar a Palavra. Eles são: "apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores [mestres]". O Senhor dá esses homens com o propósito de preparar os santos e, assim, torná-los capazes de contribuir na obra do ministério (Ef 4:12). Os apóstolos já não existem (Ef 2:20), mas os outros dons certamente sim. Os profetas que estão conosco hoje não são aqueles que recebem revelações e predizem eventos futuros (At 11:28, 21:10-11), mas aqueles que ministram a Palavra para edificação, exortação e consolação (1 Co 14:3).

Os dons de sinais e de testemunho acima mencionados cessaram porque o propósito para o qual foram dados já foi cumprido. Isso aconteceu de duas maneiras:

Em primeiro lugar, esses dons foram usados para dar "testemunho" à nação judaica que Deus era capaz e estava disposto a trazer o reino em todo o seu poder e glória (como apresentado nos profetas do Antigo Testamento), se eles recebessem o Senhor Jesus como seu legítimo Messias. Deus confirmou essa graça para com eles no ministério dos apóstolos (At 2:43), pelo qual a nação provou "os poderes do mundo vindouro" (Hb 6:4-5 – ATB) e viu "sinais e milagres" e "várias maravilhas" com "dons do Espírito Santo, distribuídos por Sua vontade" (Hb 2:3-4), e eles também tiveram homens falando-lhes em "línguas" (At 2:1-13, 1 Co 14:21-22). Mas quando os judeus rejeitaram formalmente esse testemunho (At 7:54-60), a não ser o remanescente que creu (Rm 11:5), Deus colocou a nação de lado no ano 70 d.C., com a destruição de Jerusalém e do templo e com a morte de uma grande porção do povo (Mt 21:33-44, 22:7, 24:2). Então, o uso desses dons de sinais não era mais necessário (1 Co 13:8). A história testemunha o fato de que, após o primeiro século, esses dons de milagres não eram mais usados.

Em segundo lugar, Deus usou os dons de sinais para dar testemunho aos gentios de que Ele havia efetuado um novo início em Seus caminhos dispensacionais ao enviar o Espírito Santo no Pentecostes para formar a Igreja (Mc 16:15-20; Rm 15:18-19). Aos gentios foi dada a oportunidade de fazer parte da Igreja, se recebessem o Senhor Jesus. Depois que a Igreja foi estabelecida naqueles primeiros tempos, os dons de sinais que foram manifestados em associação com a pregação do evangelho, não tiveram continuidade. Novamente, a história da Igreja testemunha esse fato.

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A esfera na qual os dons operam na casa de Deus é uma das três esferas distintas de privilégio e responsabilidade – sacerdócio, dom e ofício. A Cristandade tem entendido mal as distinções que marcam estas três esferas de atividade espiritual e as fundiu em uma só, e disso veio a invenção de um clérigo (um assim-chamado ministro ou pastor), que não tem o apoio da Escritura. É, portanto, importante notar a diferença entre eles. Uma diferença é que o sacerdócio tem a ver com o que vai do homem para Deus, pois está relacionado ao louvor e à oração, enquanto o dom tem a ver com coisas espirituais sendo ministradas de Deus para o homem. (Veja: O Sacerdócio dos Crentes e Ofício).

Quando a esfera do dom na casa de Deus está sendo considerada, geralmente se refere aos dons que pertencem ao ministério público da Palavra – pregar, ensinar, exortar, etc. No entanto, o exercício do dom espiritual de alguém é algo que não se limita às reuniões da assembleia; os dons devem ser exercitados sempre e onde quer que uma pessoa, dirigida pelo Espírito, é conduzida a fazê-lo.

Uma coisa importante de se notar em conexão com o assunto de dom é que a Escritura não ensina que uma pessoa precisa ser treinada em um seminário e ordenada antes que possa usar seu dom espiritual. As Escrituras também não ensinam que esses dons devam ser exercitados sob o patrocínio da assembleia, ou sob a direção de uma organização para-eclesiástica ou um conselho missionário. Cada dom é dado pelo Senhor e deve ser usado sob Sua direção. A posse de um dom espiritual é a autorização de Deus para usá-lo. O apóstolo Pedro indica isto, dizendo: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu" (1 Pe 4:10). Ele também disse: "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus: se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá". Note que Pedro não diz que depois de receber um dom para ministrar a Palavra alguém precise ir à escola antes que possa usá-lo. A simples ordem na Escritura é: "Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação" (1 Co 14:26). É assim que a Igreja foi ensinada e edificada no seu princípio e é o modelo para o ministério Cristão de hoje.

J. N. Darby disse: "Se Cristo pensou em me dar um dom, eu devo negociar com meu talento como Seu servo, e a assembleia nada tem a ver com isso: Definitivamente eu não sou servo dela… Eu me recuso terminantemente a ser seu servo. Se eu faço ou digo algo como um indivíduo, chamado para a disciplina, aí é outra questão; mas ao negociar com o meu talento, eu não atuo nem por nem para uma assembleia. Quando vou ensinar, exercito individualmente o meu dom… O Senhorio de Cristo é negado por aqueles que sustentam essas ideias; eles querem fazer da assembleia, ou deles próprios, senhores. Se eu sou servo de Cristo, deixe-me servi-Lo na liberdade do Espírito. Eles querem fazer dos servos de Cristo servos da assembleia, e negar o serviço individual como sendo responsável a Cristo… Eu sou livre para agir sem consultá-los no meu serviço a Cristo: eles não são os donos dos servos do Senhor" (Letters, vol. 2, pág. 92).

O dom de uma pessoa precisa ser desenvolvido, e isso leva tempo e treino. Quanto mais a pessoa amadurece nas coisas divinas, mais eficiente ela se tornará no seu ministério (At 18:24-28; Mc 4:20). A maneira bíblica de uma pessoa ser ensinada nas coisas divinas é assistir às reuniões de leitura da Bíblia (1 Tm 4:13) e outras reuniões onde a Palavra de Deus é ensinada sob a direção do Espírito Santo (At 20:7; 1 Co 14:29-31). Há também um ministério escrito (2 Tm 4:13), e um ministério gravado, dado por pessoas bem formadas e dotadas.

Também é importante entender que esses dons "espirituais" não são dons naturais (1 Co 12:1, 14:1, 12). Os dons naturais foram dados aos homens por Deus desde o nascimento, e os homens os desenvolvem pela prática. Esses podem ser coisas tais como habilidades musicais, habilidades artísticas, habilidades atléticas, capacidade intelectual, etc. Em Mateus 25:14-30, o Senhor fez uma distinção entre dons espirituais (usando a figura de "talentos" – uma unidade monetária) e habilidades naturais, destreza (que Ele chamou de "capacidade"), mostrando que estas são duas coisas diferentes. A sabedoria de Deus é vista na parábola pois o homem deu talentos aos seus servos "segundo" suas diferentes habilidades. Isso nos ensina que o Senhor dá dons espirituais aos membros de Seu corpo que correspondem ao que foi formado naturalmente em suas personalidades. Por exemplo, um evangelista provavelmente deveria ter uma capacidade natural de falar com as pessoas, uma vez que o essencial desse tipo de serviço é alcançar as pessoas com o evangelho. Não é provável que o Senhor dê esse dom a uma pessoa que seja tímida e não possua habilidades comunicativas. Do mesmo modo, o dom de ensino requer certo grau de habilidade natural na forma de capacidade intelectual. O dom do ensino, portanto, provavelmente seria dado a alguém que tem uma mente organizada.

Os Cristãos, de um modo geral, estão confusos em relação a isso. Eles pensam que a habilidade natural de alguém é seu dom no corpo de Cristo. Daí vem a crença de que os Cristãos devem buscar carreiras mundanas na vida – tais como: esportes profissionais, música profissional e outros tipos de entretenimento mundano, porque têm uma habilidade natural nessa direção. J. N. Darby disse: "É um princípio inteiramente falso de que ter dons naturais é uma razão para usá-los. Posso ter força ou velocidade incrível para correr; eu derrubo um homem com um braço, e ganho o troféu com outro. A música pode ser uma coisa mais refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu acredito ser da mais alta importância. Os Cristãos perderam sua influência moral ao considerar a natureza e o mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse, vocês não podem misturar carne e Espírito" (Letters, vol. 3, pág. 476). Nem vemos a Igreja nas Escrituras tendo reuniões para essas pessoas talentosas mostrarem suas habilidades naturais. Os dons espirituais não são para o entretenimento Cristão, mas para a edificação dos santos nas coisas espirituais.

Também é importante ver que todos esses dons não residem em uma pessoa. A Escritura diz: "Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito…" (1 Co 12:8-10). Um homem pode ter mais de um dom, mas está claro por esta passagem que ele não vai possuir todos os dons. Portanto, a assembleia precisará da participação de todos os que têm dom para ministrar a Palavra, se for para ela receber o benefício dos dons em seu meio. Infelizmente, o sistema de clérigos/leigos existente em quase toda a Cristandade toma o lugar do livre exercício dos dons nessas assembleias.

ELEITO, O (Escolhido)

Isto nos fala de Deus, na Sua soberania, escolhendo pessoas e anjos para vários propósitos. A Palavra de Deus indica que existem vários grupos entre o povo de Deus que foram assim escolhidos. Há aqueles a quem Ele "escolheu" para fazer parte da Igreja – os Cristãos (Ef 1:4; Cl 3:12; 1 Ts 1:4; 1 Pe 1:2, 2:9). Há também judeus "eleitos" (Is 65:9, 15, 22; Mt 24:22; Lc 18:7), e os israelitas "eleitos" das dez tribos (Mt 24:31). Há até anjos "eleitos" (1 Tm 5:21). O próprio Senhor também é mencionado como o "Meu Eleito" (Is 42:1; Mt 12:18).

A eleição está intimamente ligada à predestinação. A diferença é que a eleição tem a ver com ser escolhido e a predestinação tem a ver com para que fomos escolhidos. A eleição, portanto, diz respeito a pessoas, e a predestinação diz respeito ao lugar (o destino) que Deus tem "marcado" para essas pessoas (Ef 1:5 – JND).

EM CRISTO & CRISTO EM VOCÊ

Essas são expressões técnicas usadas pelo apóstolo Paulo para indicar a posição e o estado do Cristão.

"Em Cristo" é um termo posicional indicando a ligação do Cristão com Cristo no mesmo lugar de favor que Ele está diante de Deus. Literalmente, significa estar "no lugar de Cristo perante Deus" (Rm 6:11, 23, 8:1, 39, etc.). Esse lugar foi assegurado para nós por meio da ressurreição de Cristo dentre os mortos e de Sua ascensão à mão direita de Deus como um homem glorificado. É uma posição que pertence a todo crente no Senhor Jesus Cristo, independentemente do seu estado de alma porque tem a ver com a imutável posição do Cristão perante Deus. O Cristão, mesmo que morto, ainda é visto como estando "em Cristo"! (1 Ts 4:16; Rm 8:38-39). Está é nossa ligação com Ele como Cabeça da raça da nova criação, da qual nós somos os Seus "muitos irmãos" (Rm 8:29; 2 Co 5:17). Assim, o termo indica a posição especial que os Cristãos têm e que os santos do Antigo Testamento não tiveram, pois, em seus dias, Cristo ainda não havia vindo, nem havia subido ao alto como um Homem glorificado. Na verdade, todas as nossas distintas bênçãos Cristãs estão "em Cristo". (Veja: Bênção.)

"Cristo em você" é um termo que muitos Cristãos geralmente entendem mal. Eles pensam que isso significa que Cristo habita pessoalmente neles. Por isso, muitas vezes ouvimos frases como: "Cristo habita em mim", ou "Jesus vive em mim"! Embora seja verdade que o crente é habitado por uma Pessoa divina, não é Cristo Quem habita em nós, mas o Espírito Santo (Jo 14:17; At 5:32; Rm 5:5; 1 Co 6:19; 1 Ts 4:8; Tg 4:5; 1 Jo 3:24). Não têm ajudado muito frases de evangelistas modernos como: "Abra seu coração e deixe Jesus entrar" ou "Peça a Jesus para entrar em seu coração", etc. A Escritura não apoia a ideia de que há duas Pessoas divinas que habitam no Cristão. É verdade que Ele é Onipresente (um atributo da deidade) e que em espírito está em todo o lugar, mas Ele pessoalmente reside no Seu próprio corpo humano glorificado no céu.

Certas passagens da Escritura dizem: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim**; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim**" (Gl 2:20). "**Cristo em vós****, esperança da glória**" (Cl 1:27). "**Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e** **Eu nele**" (Jo 6:56). "**Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim, e** **Eu em vós**" (Jo 14:20). Essas passagens não estão se referindo a Cristo habitando pessoalmente nos crentes, embora seja compreensível como uma pessoa poderia erroneamente concluir isso delas. Em vez disso, elas estão se referindo a um estado subjetivo nos crentes, que resulta por eles terem a _vida_ de Cristo. Esses versículos estão simplesmente afirmando que temos a Sua própria vida e natureza em nós e, portanto, a capacidade de ter suas características morais formadas e exibidas em nós pelo Espírito (2 Co 3:18). Portanto, Cristo está em nós moralmente, mas não pessoalmente. Colossenses 1:27 está se referindo a isso em um sentido coletivo – indicado pelo "vós". Comentando este versículo, W. Kelly disse: "É a vida de Cristo em nós em sua manifestação completa do seu caráter de ressurreição" (_Lectures on Colossians_, pág. 108). Outro expositor disse: "É dito em Colossenses que o mistério é �Cristo em vós, esperança da glória� como tendo um efeito presente na reprodução das características de Cristo nos gentios" (_Precious_ _Things_, vol. 3, pág. 120). Portanto, Cristo está conosco em espírito – como uma Pessoa onipresente (Mt 18:20, 28:20; Hb 13:5), mas Ele não habita em nós pessoalmente, como o Espírito Santo habita.

ENCARNAÇÃO DE CRISTO, A

Esse termo não é encontrado nas Escrituras, mas a verdade que ele transmite com certeza é. Refere-se ao fato de o Senhor unir a humanidade com a Sua Pessoa e Se tornar um Homem. Isso significa que Ele teve um "espírito" humano (Jo 11:33, 13:21), uma "alma" humana (Mt 26:38; Jo 12:27) e um "corpo" humano (Hb 10:5). No entanto, ao fazer isso, Ele não declinou de Sua divindade. Assim, Ele era totalmente Homem e totalmente Deus. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável para a mente do homem (Mt 11:27). Não somos chamados a compreendê-la, mas simplesmente a aceitá-la e crer. Essa encarnação ocorreu quando Maria "concebeu" do Espírito Santo (Mt 1:20) e Ele "nasceu" no mundo (Lc 1:35). (Veja: Jo 1:14; Rm 1:3; Fl 2:5-8; 1 Tm 3:16a.)

O Senhor não tomou simplesmente um corpo humano como uma capa dentro da qual o Seu Espírito divino habitou – o erro do Apolinarianismo. Havia uma união verdadeira entre tudo n’Ele como pessoa divina com tudo o que constitui um ser humano. Tornar-Se um homem era uma condescendência inacreditável, pois essa união da natureza divina com a humana será para sempre. O Senhor viveu e Se moveu e teve Seu Ser neste mundo como um Homem, e Ele entregou Sua vida na morte como um Homem, e assim Ele passou ao estado intermediário (Sua alma e espírito foram temporariamente separados de Seu corpo), mas mesmo na morte, Ele ainda era um Homem (At 2:27). Na ressurreição, Ele tomou Seu corpo novamente e ascendeu à direita de Deus em um estado glorificado (1 Tm 3:16b) – e Ele permanecerá um Homem por toda a eternidade!

Quando a Escritura fala da humanidade de Cristo, ela cuidadosamente se guarda da ideia de que Ele tomou parte na natureza caída pelo pecado que temos. Por exemplo, Hebreus 2:14 diz: "como os filhos participam (no original κοινωνέω – transliteração "koinoneo") da carne e do sangue, também Ele participou (no original μετέχω – transliteração "metecho") [tomou parte] das mesmas coisas". Isso significa que "como" os humanos tomam parte na humanidade (a qual envolve três partes – um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano), Cristo também participou "das mesmas coisas". Em outras palavras, Ele Se tornou um Homem real. No entanto, ao falar da humanidade de Cristo, o Espírito usa uma palavra diferente do que Ele usa para descrever nossa humanidade. Os "filhos", diz o escritor, são "participantes" da carne e sangue. A palavra grega traduzida como "participantes" (koinoneo) refere-se a algo universal compartilhado por toda a humanidade. Isso é verdade para todos os homens, pois todos participamos plenamente da humanidade – até na participação da natureza do pecado. No entanto, quando o versículo continua a falar de Cristo tornando-Se um Homem, o escritor usa outra palavra grega. Ele diz que o Senhor "tomou parte" (metecho) na mesma. Essa palavra indica um compartilhamento de algo, sem especificar o grau dessa partilha, e, portanto, indica que, quando Cristo Se tornou Homem, a Sua humanidade não chegou tão longe a ponto de compartilhar da humanidade caída.

Além disso, Hebreus 4:15 afirma que a humanidade do Senhor era "sem pecado". O "pecado" (singular) é frequentemente usado nas epístolas do Novo Testamento para indicar a velha natureza caída do pecado. Esse versículo, portanto, deixa claro que o Senhor não teve uma natureza humana caída, como têm todos os descendentes do Adão caído (Sl 51:5).

A encarnação, portanto, é diferente das manifestações divinas no Antigo Testamento. Aquelas foram ocasiões em que Cristo tomou a forma humana e interagiu com os homens para determinados fins. Muitas vezes, a Escritura usa o título "Anjo" para indicar isso (Gn 16:7, 18:1-33, 32:24-32; Êx 3:2, 4:24, 14:19; Js 5:13-15; Jz 6:11-24, 13:3-5, 9-21; 1 Cr 21:18-30, etc.). Naquelas ocasiões, o Senhor apareceu numa forma humana, mas não era a união das duas naturezas (divina e humana) envolvidas em Sua encarnação.

ESPERANÇA

Na Escritura, esperança não é usada da mesma maneira que no idioma comum – a linguagem de hoje. Usamos a palavra em nossos dias para nos referir a algo que gostaríamos de ver acontecer, mas não temos garantia de que isso aconteça. Na Bíblia, a esperança é uma certeza adiada; ela tem expectativa conectada com segurança.

Em Romanos 5:2, Paulo fala da "esperança da glória de Deus", que tem a ver com a futura glorificação do crente na vinda do Senhor (o Arrebatamento). É algo que o crente espera com certeza. Isso definitivamente acontecerá – apenas não sabemos quando. Esse fim glorioso de estar com Cristo e de ser como Cristo é a esperança do Cristão. Quando primeiro cremos no evangelho e recebemos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, fomos colocados na esperança de nossa final glorificação. Paulo se refere a isso em Romanos 8:24, afirmando que "em esperança somos salvos". Isso significa que quando inicialmente cremos em Cristo como nosso Salvador, foi com a ideia de obter este último aspecto da redenção. Assim, quando fomos "salvos", foi "em esperança" da realidade completa e final que está se aproximando.

Conhecendo o glorioso futuro que nos espera, somos sustentados no caminho, porque o que esperamos é firme e seguro. Em esperança fomos salvos, e em seu poder vivemos. Isso nos dá "paciência" para esperá-lo (Rm 8:25). Foi dito que a e a esperança são bons companheiros de viagem para o Cristão em seu caminho pelo deserto neste mundo, e isso é verdade. Mas na vinda do Senhor (Arrebatamento), nos separaremos desses companheiros e entraremos no céu com o Senhor, onde o amor permanecerá exclusivo. Não precisaremos de fé e esperança lá.

ESTADO ETERNO, O

Este termo não é encontrado nas Escrituras, mas transmite um pensamento bíblico. Os instrutores bíblicos o usam quando se referem a uma condição de coisas que Deus criará nos céus e na Terra depois que o tempo terminar seu curso – isto é, depois do Milênio. Há apenas três lugares nas Escrituras onde o Estado Eterno é descrito: 1 Coríntios 15:24-28; 2 Pedro 3:12-13 e Apocalipse 21:1-8.

No estado Eterno, a reconciliação de todas as coisas será completa; tudo estará de acordo com a mente de Deus (Cl 1:20). O pecado e a morte existirão no Milênio (Sl 101:5-8; Is 65:20; Zc 5:1-4; 1 Co 15:25), mas no Estado Eterno eles desaparecerão (Jo 1:29; 1 Co 15:26). Durante o Milênio, a justiça "reinará" (Is 32:1, 61:11). Será a regra de vida para todos na Terra; tudo o que levanta a cabeça contra ela será julgado e derrubado. Mas no Estado Eterno, a justiça "habita" pacificamente (2 Pe 3:13). Não haverá necessidade de impô-la, pois não haverá poder contrário para resistir a ela – tudo será de Deus e Ele será "tudo em todos" (1 Co 15:28). A Escritura diz que Cristo e os santos celestiais "reinarão para todo o sempre" (que é o Estado Eterno). Cristo terá entregado o reino ao Pai, e não haverá necessidade de governo na Terra (1 Co 15:24). Assim, o Milênio será para a reivindicação do caráter de Deus, mas o Estado Eterno será para a satisfação de Seu coração. O Milênio será "o dia do Senhor" (Is 1:12, etc.) e "o dia de Cristo" (Fp 1:6, 10, 2:16, etc.), mas o Estado Eterno será "o dia de Deus" (2 Pe 3:12) e "o dia da eternidade" (2 Pe 3:18). Tudo no céu e na Terra refletirá a glória de Deus naquele dia eterno.

O céu e a Terra permanecerão como lugares distintos por toda a eternidade, mas eles estarão em uma condição inteiramente nova, que será totalmente diferente daquilo que conhecemos hoje. Apocalipse 21:1 diz que "o mar já não existe". Isso, tomado simbolicamente, indica que não haverá mais separação nas circunstâncias que conhecemos hoje. Um "mar" é um elemento separador na natureza e é usado neste versículo para indicar a separação em circunstâncias, espaço, tempos e nacionalidade, etc. Portanto, as dimensões do tempo, limites geográficos, limitações e diferenças humanas desaparecerão. Não haverá nada para separar os homens da feliz comunhão uns com os outros e com Deus. Uma condição de felicidade imutável permeará tudo. Assim, não haverá mais "lágrimas", "morte", "tristeza", "choro" e "dor" – coisas essas que são o resultado direto do pecado (Ap 21:5).

A Nova Jerusalém será vista como a morada eterna da Igreja, que será "adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido" (Ap 21:2). Assim, a Igreja existirá como uma entidade distinta dos outros grupos de pessoas redimidas como sendo a "noiva" de Cristo. A Igreja como "a esposa do Cordeiro" (o que ela será no Milênio, ajudando no governo da Terra – Ap 21:9) cessará no Estado Eterno, mas a Igreja como "noiva" de Cristo continuará pela eternidade. Ela estará lá totalmente "para" o Seu gozo e para a satisfação do Seu coração.

Da Nova Jerusalém é dito que vem "de Deus", mas não há indicação de que ela toque a Terra; assim o céu e a Terra permanecerão distintos no Estado Eterno, mas estarão na mais estreita harmonia. Naquele dia eterno, será triunfantemente declarado: "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará" (Ap 21:3). Este é o grande desejo de Deus – habitar em comunhão com "os filhos dos homens" (Pv 8:31). Quando isso ocorrer, será anunciado triunfantemente – "Está cumprido" (Ap 21:6). Isso marca o cumprimento do propósito de Deus para com o homem.

Apocalipse 21:8 afirma que haverá também um estado imutável de condenação para os perdidos. Oito classes de pecadores são mencionadas como estando sob eterna condenação no lago de fogo. O Estado Eterno não tem fim. Isso é muito solene.

ESTADO INTERMEDIÁRIO, O

Esse termo não é encontrado nas Escrituras, mas a verdade que ele transmite certamente sim. Refere-se à condição de uma pessoa após a morte, mas antes da ressurreição. O estado intermediário às vezes é referido como o estado "separado", porque na morte as três partes que compõem um ser humano (espírito, alma e corpo) estão separadas (Tg 2:26). O espírito e a alma ficariam conscientes no Hades – o mundo invisível das pessoas desencarnadas – e o corpo ficaria no túmulo.

Se uma pessoa morre na fé, sendo um crente, ele estaria "despido" no estado intermediário (2 Co 5:4). Seu espírito e alma estariam "com Cristo" no "paraíso" (Fp 1:23; Lc 24:51; At 1:9-10, 3:21, 7:55) enquanto o seu corpo estaria no túmulo, aguardando a ressurreição. Seu espírito e alma estarão em um estado que é "muito melhor" do que qualquer coisa que ele tenha experimentado enquanto estava vivo no corpo aqui na Terra (Fp 1:23).

A alma e o espírito daqueles que morreram sem fé também estão no estado intermediário no Hades, mas estão em um estado completamente diferente do que o dos justos. Estando perdidos, eles "lamentam" em "tormentos" (Lc 16:23; Jó 14:22, 30:24) e aguardam a ressurreição quando terão seu julgamento eterno sentenciado no Julgamento do Grande Trono Branco e então serão lançados no inferno, "o lago de fogo" (Ap 20:11-15). (Veja: Inferno.) O estado intermediário é, portanto, uma condição temporária dos mortos. Todos os que morreram estão nesse estado separado – tanto os justos como os injustos. Mas eles não permanecerão lá para sempre. Todos serão ressuscitados, mas em momentos diferentes, e assim terão destinos completamente diferentes. (Veja: Hades e Ressurreição.)

EVANGELHO, O

A palavra "evangelho" significa "boas novas" ou "notícias alegres", e é usada na Escritura para indicar que Deus tem boas notícias para o homem. Esse fato mostra que Deus está interessado na bênção do homem.

As Escrituras registram que houve diferentes mensagens do evangelho que foram pregadas aos homens em diferentes momentos da história, prometendo diferentes formas de bênção vindas de Deus. Unir esses chamados do evangelho em uma única mensagem é um erro e não leva em conta os caminhos dispensacionais de Deus.

As boas notícias de Deus foram anunciadas pela primeira vez a Adão e Eva no jardim do Éden. Elas prometiam que Satanás seria finalmente esmagado sob o julgamento de Deus (Gn 3:15; Rm 16:20 e Ap 20:10), mas ela não foi especificamente chamada de evangelho. As boas novas foram anunciadas a Noé, pelas quais ele foi levado a construir uma arca para salvar a sua casa (Hb 11:7), embora, novamente, isso não tenha sido chamado de evangelho.

"O evangelho" foi pregado a Abraão, prometendo a bênção por ter sido considerado justo por Deus (Gl 3:8).

"O evangelho" foi pregado à nação de Israel, prometendo-lhe a libertação da escravidão no Egito e uma herança material na terra de Canaã (Êx 3:7-8; Nm 13:26; Hb 4:2-3).

"O evangelho do reino" foi pregado à nação de Israel por João Batista (Mt 3), pelo Senhor Jesus Cristo (Mt 4) e pelos apóstolos (Mt 10), prometendo que, se aceitassem Cristo como seu Messias, Ele estabeleceria o reino de uma maneira literal como retratada pelos profetas do Antigo Testamento. Mas os judeus rejeitaram o Senhor Jesus Cristo (Is 49:4, 50:5-7, 53:1-4; Mq 5:2), e consequentemente, essa oferta do evangelho do reino foi adiada (Mq 5:3; Mt 12:14-21; Rm 11:7-11). Ele será pregado novamente em um dia futuro (na septuagésima semana de Daniel 9:27) pelo remanescente judaico fiel (Sl 95-96; Mt 24:14). Muitos naquele dia serão abençoados por ele – incluindo os gentios (Is 55-56; Ap 9:7). Eles participarão das bênçãos terrenas do reino que este evangelho promete.

O evangelho pregado nestes tempos Cristãos tem pelo menos sete títulos, transmitindo vários aspectos da mensagem das boas novas de Deus ao mundo de hoje. Esse evangelho anuncia que Deus em graça desceu ao homem na Pessoa de Cristo, e por meio de Seu sofrimento expiatório, de Sua morte e do Seu sangue derramado garantiu salvação aos pecadores que creem. E mais do que isso, anuncia que Deus ressuscitou a Cristo de entre os mortos e O assentou à Sua direita nas alturas, e o crente agora tem um lugar de aceitação n’Ele, em Quem estão todas as suas bênçãos. A pessoa que crê nessa grande mensagem é selada com o Espírito Santo (Ef 1:13) e é feita parte da Igreja de Deus, o corpo e a noiva de Cristo (Ef 1:22-23). Assim, esse evangelho é um chamado celestial de crentes para um destino celestial com Cristo (1 Co 15:48-49; 2 Co 5:1; Ef 1:3, 2:6, 6:12; Fl 3:20; Cl 1:5, 3:1-2; Hb 3:1, 8:1-2, 9:11, 10:19-21, 11:16, 12:22, 13:14; 1 Pe 1:4). Todos os que creem nesse evangelho viverão e reinarão com Cristo nos céus sobre a Terra no Milênio (Ap 21:9-22:5).

Quando ele é chamado "o Evangelho da Graça de Deus" (At 20:24), está se referindo à vinda de Cristo desde os céus em graça para morrer pelos pecadores.

Quando se chama "o Evangelho da Glória de Deus" (1 Tm 1:11), está enfatizando a ascensão de Cristo ao alto em glória e a aceitação do crente n’Ele ali diante de Deus. (Paulo chamou esse aspecto de "meu Evangelho" – Rm 2:16, 16:25; 2 Tm 2:8).

Quando é chamado "o Evangelho de Deus" (Rm 1:1), está apontando para a fonte das boas novas – o próprio Deus que desenhou o plano da salvação.

Quando se chama "o Evangelho de Seu Filho" (Rm 1:9), está se referindo ao amor de Deus que O levou a dar o mais precioso Objeto de Seu coração para salvar os pecadores.

Quando se chama "o Evangelho de Cristo" (Fp 1:27), está se referindo ao grande tema do Evangelho – Cristo e Sua glória.

Quando é chamado "o Evangelho da Paz" (Ef 6:15), está se referindo à paz prática que nossos pés pregam (isto é, nossas vidas) enquanto caminhamos por este mundo conturbado.

Quando se chama "o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo" (2 Ts 1:8), não está somente enfatizando a salvação de nossas almas, mas também a salvação de nossas vidas, tornando Cristo o Senhor em nossas vidas de forma prática.

Esse evangelho exclusivamente Cristão não deve ser confundido com o evangelho do reino. Como mencionado, o destino daqueles que creem no evangelho da graça e glória de Deus é viver e reinar com Cristo nos céus em Seu reino milenar. Enquanto que o destino daqueles que creem no evangelho do reino é viver na Terra no reino milenar de Cristo (Ap 7). Essas são duas esferas diferentes de bênção – celestiais e terrenais. Essas distintas mensagens não estão indo ao mundo ao mesmo tempo, pois haveria confusão se fossem pregadas juntas.

"O evangelho eterno" (Ap 14:6-7) são as boas novas que a própria criação prega ao longo dos séculos. Elas dão testemunho da glória de Deus (Sl 19:1), da sabedoria e inteligência de Deus (Sl 147:4-5), do poder de Deus (Rm 1:19-20) e da bondade de Deus (At 14:17). Mesmo que pessoas nunca entrem em contato com o evangelho da graça de Deus, que nos fala da obra consumada de Cristo, elas ainda podem ser alcançadas e abençoadas por Deus ao crerem nesse testemunho na criação. A prova de sua fé no Deus Criador será vista neles ao temerem a Deus e praticarem a justiça. Como resultado, eles serão "aceitos" (ATB) em Cristo (At 10:35). Se eles morrerem na sua fé simples, irão para o céu, mas eles não farão parte da Igreja de Deus, porque para isso é necessário o selo do Espírito, que só ocorre quando alguém crê na obra consumada de Cristo (Ef 1:13).

EXPIAÇÃO

Este termo não é encontrado no Novo Testamento, mas a sua verdade certamente é. Aqueles que ensinam sobre a Bíblia usam a palavra "expiação", fazendo referência à obra que Cristo realizou na cruz na aniquilação do(s) pecado(s) pelo sacrifício de Si mesmo (Hb 9:26).

A palavra "expiação" ("kaphar" em hebraico) significa cobrir (Lv 16:6, 10-11, 16-18, 27, etc.). Os sacrifícios pelo pecado no Antigo Testamento fizeram isso, "cobriram" os pecados do povo diante de Deus (Sl 32:1). Mas esses sacrifícios não poderiam "tirar" pecados (Hb 10:4). Isso exigiu um sacrifício infinitamente maior do que os "dos touros e dos bodes". Hoje, por conta da obra consumada de Cristo na cruz, os pecados daqueles que creem são "aniquilados" (Hb 9:26) e "tirados" (1 Jo 3:5). Uma vez que a obra consumada de Cristo fez muito mais do que fornecer uma cobertura para o pecado, a palavra "expiação" desaparece no Novo Testamento, quando a morte de Cristo está sendo considerada. As duas partes de Sua obra consumada estão centradas em:

PROPICIAÇÃO – atende às santas reivindicações de Deus contra o pecado.

SUBSTITUIÇÃO – atende à nossa culpa.

  1. Propiciação – (Rm 3:25; Hb 2.17; 1 Jo 2:2, 4:10)

Refere-se ao lado do sofrimento e morte de Cristo que a natureza santa de Deus reivindicou, tendo Cristo concedido uma satisfação completa às reivindicações da justiça divina. Esse é o lado de Deus na obra de Cristo. Ela foi realizada para "todo o mundo" (1 Jo 2:2) e para "toda" a humanidade (Rm 3:22; 2 Co 5:15; 1 Tm 2:6), e, assim, fez com que todo o mundo possa ser salvo.

Em Romanos 3:25, J. N. Darby traduz "propiciação" como "propiciatório". O sentido dado pelo apóstolo Paulo nesse versículo é que Deus estabeleceu Cristo como o Propiciatório no testemunho do evangelho. O propiciatório no sistema de sacrifício do Velho Testamento era o lugar onde Deus Se encontrava com o Seu povo com base no sangue de uma vítima – o sacrifício (Êx 25:21-22; Lv 16:14). O sangue sobre o propiciatório ilustra (tipicamente) o que o evangelho anuncia – que a propiciação foi feita. Cristo glorificado nas alturas agora é o divino Lugar de reunião para que todos no mundo venham e sejam salvos. Ele não está na cruz hoje, mas está ressuscitado e sentado em glória nas alturas, como um Objeto de testemunho para que todos possam crer. Assim, o pecador que deseja ser salvo não vem a um Salvador morto na cruz, mas a um Salvador ressuscitado e assentado nas alturas. Os apóstolos pregaram Cristo como tal (um Salvador ressuscitado) por todo o livro de Atos (At 4:10-12, 5:29-32, 10:38-43, 13:22-39, 16:31).

  1. Substituição – (1 Pe 3:18 – "o Justo pelos injustos")

Refere-se à parte da obra de Cristo na cruz que trata com o fato de Ele ter assumido nossa posição de culpados sob o julgamento de Deus, e assim suportado os nossos pecados em Seu próprio corpo sobre o madeiro (1 Pe 2:24). Propiciação é para todo o mundo (1 Jo 2:2), mas a substituição só se aplica para aqueles que creem. A palavra "substituição" não está na Bíblia, mas a sua verdade é encontrada em muitos lugares. Por exemplo, quando o lado do crente na obra de Cristo está sendo visto (substituição) as Escrituras dizem "muitos" – referindo-se aos muitos que acreditam (Is 53:11-12; Mt 20:28, 26:28; Jo 17:2; Rm 5:19; Hb 2:10, 9:28). Ou, ela dirá, "nos", "nosso" ou "nós" – novamente referindo-se a esse mesmo grupo de crentes (Rm 4,25; 1 Co 15:3; 1 Pe 2:24; Ap 1:5, etc.). Isaías 53 menciona dez vezes a obra substitutiva de Cristo – versos 5 (quatro vezes), 6, 8, 10, 11, 12 (duas vezes).

Um erro frequente na pregação de hoje é contar aos pecadores perdidos que Cristo morreu pelos pecados deles. Se essa afirmação errônea for desenvolvida até sua conclusão lógica, faz Deus ser injusto em Seu trato com os homens! Se de fato Cristo suportou o julgamento pelos pecados de todos os homens, então Deus não julgaria nenhum pecador por seus pecados, porque o preço teria sido pago por eles. Portanto, é incorreto anunciar para um público de incrédulos que Cristo morreu pelos seus pecados, ou que Cristo levou seus pecados. Ele só levou os pecados daqueles que creem – os "muitos" (Is 53:12; Hb 9:28). Dessa ideia errada vem o pensamento de que no dia do juízo, Deus não julgará o incrédulo por seus pecados, porque isso foi resolvido na cruz. A questão naquele dia (eles pensam) será simplesmente se uma pessoa recebeu a Cristo ou não. Se eles não O receberam pela fé, eles serão julgados com base nisso, como os que rejeitaram a Cristo. Isso, no entanto, não é a verdade da Escritura que diz que os perdidos serão julgados "segundo as suas obras" (Ap 20:12-15). Como regra geral, no evangelho devemos pregar propiciação para o mundo (1 Tm 2:6), e aos pecadores que crerem na mensagem da graça de Deus, nós devemos ensinar a verdade da substituição para que tenham paz.

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Romanos 3:25 mostra o lado de Deus na obra de Cristo na cruz, enfatizando a propiciação, enquanto Romanos 4:25 mostra o lado do crente na obra de Cristo na cruz, enfatizando a substituição. Em 1 Pedro 3:18, o apóstolo Pedro liga estas duas verdades, e então acrescenta a elas a verdade da reconciliação. Ele disse: "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados (propiciação), o Justo pelos injustos (substituição), para levar-nos a Deus (reconciliação)".

As duas partes da expiação são ilustradas nos sacrifícios feitos no Dia da Expiação. Ela foi primeiramente feita para a casa de Aarão (Lv 16:11-14), que tipifica a Igreja como um grupo de sacerdotes (1 Pe 2:5; Ap 1:6). E, em seguida, para a casa de Israel (Lv 16:15-22), que é uma figura do remanescente de Israel entrando na bênção da obra de Cristo na cruz em um dia vindouro (Rm 11:26). A sequência desses eventos é significativa e indica que a Igreja entra no benefício da expiação que Cristo fez na cruz antes do remanescente de Israel entrar. Embora a expiação tenha sido feita duas vezes no capítulo (em favor desses dois grupos), ela tipificava a obra única de expiação que o Senhor fez na cruz.

Em cada um desses sacrifícios são vistas a propiciação e a substituição. No que diz respeito à casa de Aarão, um novilho foi levado ao altar e foi morto, e seu sangue foi espargido "sobre" o propiciatório diante de Deus (v. 14a). Isso tipifica a propiciação. Em seguida, sete gotas de sangue foram espargidas no solo "diante" do propiciatório, onde os sacerdotes (os filhos de Aarão) ficavam em pé e ministravam (v. 14b). Isso tipifica a substituição.

No que diz respeito à casa de Israel, um dos dois bodes que tinham sido tomados para o sacrifício foi levado ao altar e foi morto, e seu sangue foi espargido "sobre" o propiciatório. Isso fala de propiciação. Em seguida, o bode vivo que tinha os pecados do povo confessados sobre si, foi enviado para o deserto (vs. 21-22). Isso tipifica os pecados dos filhos de Israel sendo confessados (Sl 69:5) e carregados (Is 53:12) por Cristo na cruz, como Substituto deles. Quando o remanescente de Israel vier para receber o benefício dessa obra em um dia futuro, eles vão entender que os seus pecados foram removidos para tão longe quanto o Oriente é do Ocidente (Sl 103:12). W. Kelly disse: "A expiação consiste em duas partes, unidas para nós no novilho, e para Israel nos dois bodes de Levítico 16, que estabeleceram a parte de Jeová na propiciação e a parte do povo na substituição" (The Bible Herald, vol. 1, pág. 234).

A arca de Noé, que era o meio de Deus salvar Noé e sua família, também tipifica estas duas partes na expiação. Ao fazer a arca, Noé tinha que passar betume nela "por dentro e por fora" (Gn 6:14). "Betume" é a mesma palavra de "atone" em hebraico. Foi o que deixou a arca impermeável à chuva (julgamento) que veio contra ela. Deus viu o betume do lado de fora, e a família de Noé viu o betume do lado de dentro. Isso tipifica propiciação e substituição.

Embora a Bíblia faça distinção entre os sofrimentos expiatórios de Cristo, Sua morte expiatória, e Seu sangue expiatório, Deus quer que tomemos as três partes como sendo uma obra. Muitos têm caído em graves erros separando-as umas das outras. Como regra geral, devemos distingui-las, mas não separá-las.

EXTINGUIR & ENTRISTECER O ESPÍRITO

Essas são duas coisas negativas que nenhum Cristão sóbrio quer em sua vida. Mas, infelizmente, por nossas ações descuidadas, acabamos "entristecendo" e "extinguindo" o Espírito Santo que habita em nós (Ef 4:30; 1 Ts 5:19).

Quanto a extinguir o Espírito, Deus quer nos usar como um canal pelo qual Ele pode agir para a bênção de outros. O Senhor disse: "Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios d�água viva correrão do seu ventre. E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que n’Ele cressem" (Jo 7:38-39). Deus deseja trabalhar por meio de nós pelo Espírito, e nossa responsabilidade é permitir que o Espírito tenha essa liberdade. Não devemos impedi-Lo nisso. Se o fizermos, estaremos extinguindo o Espírito. É como uma mangueira de jardim que tem água fluindo nela, e alguém faz uma dobra para que o fluxo de água seja interrompido ou quase impedido. Da mesma forma, o Espírito pode nos levar a fazer algo pelo Senhor e nossa vontade se opõe a Ele e não o fazemos. Talvez seja para sugerir um hino em uma reunião bíblica, ou dar um folheto do evangelho para alguém, etc.

Extinguir o Espírito é ilustrado na Escritura na história do servo de Abraão (Gn 24). Ele é um tipo do Espírito de Deus que foi enviado para garantir uma noiva para Isaque (um tipo de Cristo). É uma figura do Espírito sendo enviado a este mundo para buscar uma noiva para Cristo. Tendo obtido a permissão de Betuel (pai de Rebeca) para levá-la a Isaque, sua mãe e seu irmão interferiram e quiseram deter o servo de Abraão "por um ano inteiro" (Gn 24:55 – margem KJV) antes de deixá-lo levá-la. Esta é uma figura de extinguir o Espírito. O servo então disse: "Não me detenhais, pois o Senhor tem prosperado o meu caminho; deixai-me partir, para que eu volte a meu senhor" (Gn 24:56). Da mesma forma, o Espírito está nos dizendo: "Não Me detenhais". Ele quer conduzir nossos corações após Cristo e nos usar como um canal de bênção para outros, e não quer que nada que se interponha a isso.

Entristecer o Espírito Santo é um pouco diferente. Tem que ver com sairmos a fazer algo que o Espírito não nos levou a fazê-lo, e, dessa forma, Ele está entristecido por nossas ações. É o pecado que entristece o Espírito. Quando o crente peca, o Hóspede divino interior sente e nos exercitará a julgar esse pecado.

De uma forma resumida, extinguir o Espírito é não fazer algo que Ele quer que façamos e entristecer o Espírito é fazer algo que Ele não nos levou a fazer.

A Escritura usa essa palavra de duas maneiras, mas com dois significados completamente diferentes. Como regra, quando o artigo "a" é usado com "", se refere à revelação Cristã da verdade. Por exemplo, Judas 3 diz: "A fé que uma vez foi entregue aos santos". Mas quando o artigo "a" não é mencionado, se refere simplesmente à energia interior da confiança de uma alma em Deus. Por exemplo, Atos 20:21 diz: "arrependimento para com Deus e a em nosso Senhor Jesus". (N. do T.: As traduções em Português acrescentaram incorretamente o artigo "a").

FILHO ETERNO, O

Este termo não é encontrado nas Escrituras, embora a verdade que ele transmite certamente é. Refere-se ao relacionamento de Cristo na Divindade como Filho, como sendo aquilo que tem existido eternamente. Não se refere à eternidade de Seu ser, mas à eternidade de Sua Filiação. Alguns erroneamente pensam que embora Ele existisse eternamente como uma das Pessoas na Divindade, Ele não Se tornou o Filho até Sua encarnação. Esse erro é chamado de "Filiação Temporal". As seguintes passagens indicam que a Filiação de Cristo é eterna: Provérbios 30:4 indica que a Filiação de Cristo não só existia antes de Sua encarnação, mas que existia antes mesmo da criação do mundo!

Colossenses 1:13-16 e Hebreus 1:1-2 afirmam que Cristo, como Filho de Deus, criou o mundo, provando assim que Sua Filiação existia muito antes de Ele ter entrado neste mundo como um Homem.

Isaías 9:6 e João 3:16 também indicam que a Filiação de Cristo existia antes que Ele viesse a este mundo. Esses versículos afirmam que o Filho de Deus foi "dado", e para que algo seja dado, primeiro deve existir. Do contrário, a palavra "dado" perde seu significado.

Muitas passagens da Escritura (especialmente no Evangelho de João) atestam o fato de que Cristo, como Filho de Deus, foi "enviado" pelo Pai. Novamente, isso demonstra que a Filiação de Cristo tinha que ser preexistente à Sua Humanidade, caso contrário, "enviado" também perderia seu significado. Veja Mc 12:6; Jo 3:17, 3:34, 4:34, 5:23-24, 30, 36-38, 6:29, 38-40, 44, 57, 7:16, 18, 28-29, 33, 8:16, 18, 26, 29, 42, 9:4, 10:36, 11:42, 12:44-45, 49, 13:16, 20, 14:24, 15:21, 16:5, 17:3, 18, 21, 23, 25, 20:21; At 3:26; Rm 8:3; Gl 4:4; 1 Jo 4:9, 10, 14.

J. N. Darby disse: "Se eu não tenho a Ele como Filho antes do Seu nascimento no mundo, perco tudo o que o Filho é. Se Ele é Filho apenas após a encarnação, você perdeu todo o amor do Pai ao enviar o Filho" Collected Writings, vol. 25, págs. 230-231). Ele também disse: "O Pai enviou o Filho para ser o Salvador do mundo". Ele não enviou meramente uma ideia. Havia uma Pessoa viva de Quem é dito que foi enviada. Não era apenas quando neste mundo que Ele foi enviado, pois Ele diz: "Eu saí do Pai, e vim ao mundo" (Notes and Comments, vol. 2, pág. 281).

João 1:18 afirma, em referência a Cristo como o Filho de Deus "que está no seio do Pai". A palavra "está" neste versículo refere-se ao presente eterno.

João 11:27 afirma que Cristo é "o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo". As palavras "havia de vir" confirmam Sua preexistência à Sua Humanidade.

João 16:27-28 indica que Cristo como o Filho de Deus "saiu do Pai". Isto mostra que Ele estava ao lado do Pai antes de Ele ter vindo a este mundo.

Em João 17, o Senhor Se dirige ao "Pai" como sendo o "Filho". Esse relacionamento de Pai e Filho é referido por toda a oração. Duas vezes Ele faz referência a algo que existia entre Eles antes da fundação do mundo: a "glória" que Ele, como Filho, tinha com o Pai (v. 5) e o "amor" que Ele, como Filho, desfrutava do Pai (v. 24). Essas duas coisas mostram claramente que Ele estava com o Pai como o Filho antes de Sua encarnação.

Hebreus 5:8 mostra que houve um ponto na história pessoal do Senhor quando Ele, como "o Filho", não sabia o que era ser obediente, nunca tendo sido submetido à obediência. Isso, é claro, foi antes que Ele Se tornasse um Homem. Este versículo afirma que, apesar de ser "o Filho", quando Ele Se tornou um Homem, Ele teve que aprender a obediência como qualquer outro homem – somente, é claro, Ele aprendeu isso em perfeição. H. Smith disse: "Ele aprendeu por experiência o que custa obedecer" (Outline of the Epistle to the Hebrews, pág. 31).

1 João 1:1-2 afirma que Cristo, "a Vida Eterna", estava "com o Pai" antes de ser "manifestada" neste mundo. O fato de que Ele estava "com o Pai" antes de vir ao mundo, mostra que Ele estava lá como o Filho, pois "pai" e "filho" são termos correlativos; não pode haver um pai sem que haja um filho! Por isso, Ele, como o Filho, preexistiu à Sua encarnação. O Sr. Darby observou: "O que é chamado de �A Filiação Eterna� é uma verdade vital; de outra forma, perdemos o Pai enviando o Filho, e o Filho criando, e não temos Pai se não temos Filho" (Notes and Comments, vol. 2, pág. 300).

Hebreus 7:3 descreve as características do sacerdócio de Melquisedeque. O escritor inspirado não está dizendo que Melquisedeque não tinha pai ou mãe, mas que ele foi introduzido nas Escrituras (Gn 14) sem que elas nos dessem qualquer detalhe sobre sua genealogia. Não está registrado quem era seu pai e sua mãe. O ensinamento simbólico que o Espírito de Deus usa é apresentar Melquisedeque como sendo uma pessoa eterna com um sacerdócio eterno. O escritor acrescenta, "feito semelhante ao Filho de Deus", porque ele assume que todos nós sabemos que o Filho de Deus é eterno.

J. N. Darby disse: "A noção de Filiação em Cristo somente quando Encarnado é destrutiva para a alegria mais elementar da Igreja, e abominável para aqueles que têm comunhão pelo Espírito na verdade" (Collected Writings, vol. 3, pág. 89). Ele também disse: "Eu considero vital manter a Filiação antes dos mundos, isto é a verdade".

J. G. Bellett disse: "É evidente que o Filho era o Eterno, o nome deste Eterno Filho é Jesus Cristo" (Bible Treasure, vol.6, pág. 57).

W. Kelly disse: "Sob todas as mudanças, externamente, Ele permanece desde a eternidade, o Filho Unigênito no seio do Pai. Portanto, o Filho estando nesta afável proximidade de amor, não tem a Deus somente, mas ao Pai (Lectures Introductory to the Gospels, on John 1, pág. 463).

C. H. Mackintosh disse: "Questione a Eterna Filiação de Cristo, questione a Sua divindade, questione a Sua humanidade imaculada, e você terá aberto a porta da enxurrada para que uma onda desoladora de erro mortal se apresse a entrar" (Notes of the Pentateuch, Levítico, pág. 39) W. T. P. Wolston disse: "O Pai nunca foi Encarnado e o Espírito de Deus nunca foi Encarnado, mas o Filho de Deus, o Verbo, "Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade" (Jo 1:14) O Filho Eterno entrou nesta cena, humilhando-Se a Si mesmo e tornando-Se um Homem" (Seekers For Light, pág. 107).

W. Scott disse: "O Filho unigênito, que está no seio do Pai", é apenas uma vez escrito nas Escrituras, e é a declaração para nós da profundidade e ternura do amor no qual o Filho sempre habitou com Seu Pai" (Bible Handbook, Old Testament, pág. 72).

A. J. Pollock disse: "Sabemos, dos quatro evangelhos, qual das três Pessoas da Trindade o Senhor Jesus era: o Filho, o Filho eterno, o Filho de toda a eternidade… recusar reconhecer isto é o Espírito do anticristo" (The Amazing Jew, pág. 45).

GLÓRIA

Ela pode ser descrita como "excelência em exibição" ou "excelência manifestada". É usada na Escritura em conexão com Deus, o Pai (Rm 6:4; Fp 2:11) e com Deus, o Filho (Jo 11:4, 13:31-32). Também é usada para descrever o estado final dos santos. Em conexão com as Pessoas da Divindade, a glória tem a ver com os atributos divinos sendo trazidos à exibição. Toda perfeição e excelência são encontradas na Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. A Escritura declara pelo menos sete grandes glórias que Lhe pertencem. Elas se dividem em duas categorias:

Suas glórias intrínsecas – Essas são qualidades essenciais inerentes à Sua Pessoa, sendo Ele Perfeito como é. Elas não foram dadas a Ele, nem Ele as adquiriu – elas sempre foram Suas por causa de Quem Ele é. Algumas dessas glórias foram veladas quando Ele Se tornou um Homem, e algumas não podiam ser veladas.

Suas glórias adquiridas – Essas são glórias que o Senhor trouxe para Deus por meio do Seu poder e graça. Algumas dessas glórias são compartilhadas com Seu povo redimido, e algumas não podem ser compartilhadas.

  1. Glória divina

Hebreus 1:2-3 diz: "Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo, por Quem fez também o mundo, o Qual, sendo o resplendor da Sua glória**, e a expressa imagem da Sua Pessoa**". Essa "**glória**" é Sua glória intrínseca, essencial na divindade. O Senhor não a adquiriu, porque sempre Lhe pertenceu, pois Ele estava "**com Deus**" e "**era Deus**" (Jo 1:1; 1 Tm 6:14-16). Os atributos da divindade que residem n’Ele são eternidade, infinidade, onisciência, onipotência, onipresença, imutabilidade, impecabilidade, soberania, autossuficiência e justiça. Essa glória nunca será compartilhada com os homens; pertence exclusivamente à divindade. (Veja: Deidade.)

  1. Glória da filiação

João 1:14 diz: "E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e contemplamos Sua glória**, uma glória como de um unigênito para com o pai, cheio de graça e verdade**" (JND). Essa é uma glória intrínseca que Cristo tem como sendo o Unigênito Filho de Deus. Esta, também, não é uma glória adquirida; Ele sempre a teve, sendo o Filho eterno de Deus (Is 9:6; Hb 1:5; 1 Jo 4:14).

João 1:14 nos diz que o Senhor trouxe Consigo a eterna glória da Filiação na Sua Humanidade, e os que tinham fé contemplaram essa glória. Em um parêntese, João qualifica o caráter da glória que o Senhor tinha como o Filho de Deus, mostrando a glória que um filho unigênito tem com seu pai, tendo a atenção e afeto plenos e indivisíveis de seu pai. Assim, "um unigênito para com o pai" (JND) não é grafado com maiúsculas no texto porque se refere à relação humana de um pai com seu filho. O Espírito de Deus está usando isso para ilustrar a afeição que o Pai tem pelo Filho.

Quando o termo "Unigênito" é aplicado ao Senhor Jesus, refere-se à Sua relação não-criada – eterna – com Deus, o Pai. Demonstra o prazer do Pai n’Ele. Da mesma forma, quando o Senhor Jesus veio entre os homens, eles O viram vivendo no pleno gozo do amor de Seu Pai. Ele era o Objeto da total atenção e deleite de Seu Pai (Mt 3:17), porque Ele sempre habitou "no seio do Pai" (Jo 1:18; Pv 8:30) como "o Filho do Seu amor" (Cl 1:13). A "túnica de várias cores" de José é um tipo dessa glória. A túnica o distinguia como sendo o filho do amor especial de seu pai (Gn 37:3-4). José é um tipo de Cristo.

Ao retornar a Seu Pai nas alturas, o Senhor pediu que Ele pudesse ter essa glória de Filho – que Ele tinha com o Pai "antes que o mundo existisse" – como um Homem glorificado (Jo 17:5). Esse não era um pedido para que Ele fosse reinvestido com esta glória porque Ele nunca a renunciou. Seu pedido era para tê-la agora como um Homem glorificado. Isso Lhe foi concedido em Sua ascensão, quando Ele foi "recebido acima em glória" (1 Tm 3:16 – JND). Essa glória de Filho que Cristo tem não será compartilhada com os redimidos, mas o lugar que Ele tem como Filho diante do Pai é compartilhado conosco! (Ef 1:5; Gl 4:5-6).

  1. Glória da criação

A Bíblia diz: "Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos" (Sl 19:1). Esse versículo indica que as três Pessoas da divindade estavam envolvidas na criação, pois "Deus" (Elohim) é plural no hebraico (Gn 1:1). Veja também Eclesiastes 12:1 ("Criador" é plural). O Pai era a Fonte (Hb 3:4; At 14:15), o Espírito era o Poder (Gn 1:2; Jó 26:13), mas o Filho era o Agente pelo qual a obra foi feita (Jo 1:3, 10; Cl 1:16; Hb 1:2; Ap 4:11).

A glória do Senhor como Criador não é uma glória intrínseca que Ele sempre teve; havia um ponto na eternidade passada, quando Ele não tinha essa glória. Foi adquirida quando "Ele fez os mundos" (Hb 1:2 – JND; Jo 1:3, 10). Essa glória jamais foi velada; ela é exibida diariamente diante de todos (Sl 19:2-4).

  1. Glória moral

Sendo o Senhor Quem era, quando Ele Se tornou um Homem e viveu neste mundo, Sua vida foi perfeita. Havia uma glória moral conectada com tudo o que Ele disse e fez que simplesmente não poderia ser escondida ou velada. No final de Sua senda terrena, Ele olhou para Deus, Seu Pai e disse: "Eu glorifiquei**-Te na Terra**" (Jo 17:4). De todos os homens que já viveram na Terra, Ele é O único que realmente pôde dizer isso a Deus.

Sua vida foi caracterizada pela obediência e submissão à vontade de Seu Pai (Jo 4:34, 8:29). Como um Homem perfeitamente dependente, Ele viveu de cada palavra que saía da boca de Deus (Mt 4:4). Nos quatro Evangelhos, contemplamos uma vida de total abstinência de Si mesmo, como atesta a Escritura: "Cristo não Se agradou a Si mesmo" (Rm 15:3 – ATB). Ele estava cheio de graça e "o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo" (At 10:38). Ele trabalhou para o bem dos outros e livremente Se valeu do poder de Deus para suprir todas as reais necessidades deles, mas pessoalmente sofreu necessidade, fome e sede, sem jamais fazer um milagre para Si mesmo. Suas atividades eram principalmente nas camadas mais humildes da vida. Ele sempre foi acessível; Ele nunca Se desviou de uma pessoa que veio a Ele (Jo 6:37). Ele teve tempo para as crianças (Mt 19:13-15), e o órfão e as viúvas encontraram misericórdia n’Ele (Lc 7:11-17).

Quando Ele falava, as pessoas "se maravilhavam das palavras de graça que saíam da Sua boca" (Lc 4:22). Não havia engano em Sua boca (1 Pe 2:22). As pessoas diziam: "nunca homem algum falou assim como este Homem" (Jo 7:46). Sua sabedoria prática deu evidência ao fato de que Ele vivia na presença do Senhor Deus que Lhe deu "a língua dos que são instruídos" para que Ele "saiba sustentar com palavras o que está cansado" (Is 50:4 – ATB). Ele conversou com a mulher no poço com um tato maravilhoso, e ganhou-a de uma vida de pecado sem realizar um único milagre (Jo 4). Sendo confrontado por aqueles que se opuseram a Ele, nunca discutiu ou disse uma palavra em um tom de voz inadequado. Quando insultos pessoais eram lançados sobre Ele, nunca Se defendia. Foi somente quando os homens maus lançaram seus ataques depreciativos contra a glória de Deus, que Ele lhes respondeu com uma sabedoria maravilhosa (Jo 8:48-49). Ao longo de toda Sua vida e ministério, Ele ilustrou perfeitamente Seu próprio ensinamento – "fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes" (Lc 6:35). Não há um momento sequer onde Ele tenha exigido algo daqueles a quem Ele restaurou e livrou. Quando Ele amou, curou e salvou, não buscou nada em troca.

No entanto, Sua santidade fez d’Ele um total estranho num mundo contaminado. Ele frequentemente passava noites a céus abertos sem um lugar para recostar Sua cabeça, porém nunca Se queixou de ter sido deixado sozinho e rejeitado (Jo 7:53-8:1; Lc 9:58). Ele era tão humilde e despretensioso que Ele não era proeminente entre Seus discípulos embora fosse seu Mestre. Em Sua prisão no jardim, eles não puderam identificá-Lo como o Líder do pequeno grupo que O seguiu, e tiveram que perguntar qual deles era Ele. Visto que havia ensinando diariamente no templo, eles deveriam ter sido capazes de identificá-Lo (Jo 18:4-8). Quando foi maltratado e injuriado pelos principais sacerdotes e anciãos, e mais tarde pelas autoridades romanas, "quando padecia não ameaçava, mas entregava-Se àquele que julga justamente" (1 Pe 2:23). Quando estava sofrendo e morrendo na cruz, quando todos os outros estavam pensando em si mesmos, Ele ainda tinha tempo para o ladrão que estava à beira da morte e da condenação. Encontrou tempo para derramar o azeite e o vinho dos recursos de Deus quando viu verdadeiro arrependimento ali (Lc 23:40-43).

Essa glória moral está sendo compartilhada agora com os redimidos, pois foi dada a eles a própria vida de Cristo e, portanto, têm a capacidade de manifestar essas feições morais, que estão sendo formadas neles agora pelo Espírito na medida em que eles estão ocupados com Ele (2 Co 3:18). Essa obra de conformidade moral será completada quando o Senhor vier (o Arrebatamento), ocasião em que glorificará Seu povo celestial, livrando-os de suas naturezas caídas. Então serão completamente como Cristo – moralmente (1 Jo 3:2). No Estado Eterno, o céu e a Terra serão preenchidos com uma nova raça de homens que são moralmente perfeitos como Cristo.

  1. Glória da redenção

Essa é uma glória que Cristo adquiriu ao entrar na morte e consumar a redenção. Tendo glorificado a Deus sobre a questão do pecado na cruz, Deus "O ressuscitou dentre os mortos e Lhe deu glória" (1 Pe 1:21). Ele está agora à direita de Deus "coroado de glória e de honra" (Hb 2:9). Essa é uma glória adquirida. É algo que o Senhor não tinha antes de realizar Sua obra consumada na cruz. Ele a ganhou ou a adquiriu por ser obediente até a morte, e assim, trouxe uma glória a Deus que a divindade não tinha antes. A maravilha disso é que Ele compartilha essa glória com os Seus redimidos! "Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste" (Jo 17:22; 2 Ts 2:14). No dia milenar vindouro, ela será exibida diante de todos, "para que o mundo conheça" o grande amor que Cristo tem pela Igreja (Jo 17:23; Ef 5:25).

  1. Glória da preeminência

Quando o Senhor Jesus ressuscitou de entre os mortos, Ele Se tornou a Cabeça de uma nova raça de homens – a nova criação (Ap 3:14). Ao fazê-lo, Ele adquiriu outra glória que não tinha até então. Na nova criação, Ele é "o Primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8:29). "Primogênito", nesse sentido, não se refere a ser o primeiro na ordem de nascimento, mas primeiro em ordem e posição. (Compare Gn 48:14 com Jr 31:9 e 1 Cr 2:13-15 com Sl 89:27). Sendo o "Primogênito", Ele sempre terá o primeiro lugar na nova criação, e assim, há uma glória especial conectada com essa posição que apenas Ele tem e que Lhe pertence por direito. Essa glória especial distingue o Senhor de todos os outros homens na nova raça, "para que em tudo tenha a preeminência" (Cl 1:18). Ele tem "um Nome que é sobre todo o nome" (Fp 2:9; Ef 1:21). O Senhor orou para que nós pudéssemos contemplar essa glória, dizendo: "aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a Minha glória que Me deste" (Jo 17:24). Essa glória não é compartilhada.

  1. Glória do reino

As Escrituras do Antigo Testamento estão cheias de descrições da glória oficial do Reino de Cristo. Todo israelita piedoso esperava o dia em que seu Messias e Rei reinasse sobre toda a Terra (Zc 14:9). Quando o reino for estabelecido em poder no mundo vindouro, "a glória do Senhor encherá toda a Terra" (Nm 14:21; Hc 2:14; Ez 39:21, 43:2). "ajuntarei todas as nações e línguas; e virão, e verão a Minha glória**… que não ouviram a Minha fama, nem viram a Minha** **glória****; e anunciarão a Minha** **glória** **entre as nações**" (Is 66:18-19). Esta glória é algo que Ele ainda vai adquirir, e fará isso por meio de Seus severos juízos quando da Sua Aparição.

Quando o Senhor Jesus andou entre os homens, Deus deu a três dos apóstolos um vislumbre dessa glória futura do reino no monte de transfiguração (Mt 17:1-9; 2 Pe 1:16-18). "Quando despertaram, viram a Sua glória" (Lc 9:32). Essa glória do Reino do Senhor será compartilhada com a Igreja, pois Ele a associará Consigo na administração do mundo vindouro. Sob a figura de uma "cidade" que desce dos céus – "tinha a glória de Deus" – a Igreja como a noiva de Cristo refletirá a glória do reino de Cristo diante do mundo (Ap 21:9-22:5; Rm 8:18).

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Em conexão com o estado final dos santos, "glória" refere-se à excelência que se manifestará em sua condição glorificada – no espírito, na alma e no corpo. Cristo foi glorificado dessa maneira quando Ele ressuscitou dentre os mortos e ascendeu à mão direita de Deus (At 3:13; 1 Pe 1:21; 1 Tm 3:16), mas os Cristãos e os santos do Antigo Testamento aguardam esta glorificação, que não ocorrerá até que Cristo venha – o Arrebatamento (Rm 8:17-18; 1 Co 15:43, 51-56; 2 Co 5:1-4; Fl 3:21; 1 Ts 4:15-18; Hb 11:40; 1 Jo 3:2). Finalmente, todos os que irão povoar os "novos céus e nova Terra" também serão glorificados (2 Pe 3:13; Ap 21:1).

Na mente de muitos Cristãos, "glória" é sinônimo de céu. Eles falam dela como se fosse um lugar no céu onde Deus habita, para o qual um crente vai depois que morre. Muitos hinos refletem essa ideia equivocada – como: "Venham juntar-se a esse grupo santo que segue para a glória" (Hinário Ecos de Glória n° 29). Ou, "Ninguém pode ir para a glória, nem habitar com Deus acima…" (n° 307). No entanto, na Escritura "glória" é uma condição, não um lugar. Muitas traduções não ajudam o assunto, pois afirmam que Cristo foi "recebido acima na glória" em Sua ascensão (1 Tm 3:16). Mas essa é uma tradução errada; o versículo deveria dizer que Ele foi recebido "em glória", o que significa que Ele subiu ao céu em uma condição glorificada.

Usando as expressões "em glória" e "na glória" do modo como os Cristãos geralmente usam, confunde o estado atual dos santos que partiram com seu futuro estado de glorificação. Os crentes que partiram estão no céu com o Senhor agora, mas ainda não estão lá em glória (num estado glorificado). Seus corpos ainda estão no túmulo, aguardando a ressurreição. J. N. Darby disse: "O estado intermediário, então, não é a glória (para isso devemos esperar pelo corpo; ele é ressuscitado em glória, Ele irá mudar nossos corpos, e moldá-los como o Seu corpo glorioso") (Collected Writings, vol. 31, pág. 185). Assim, seria incorreto dizer que os santos que partiram estão "em glória". Há somente um Homem que está glorificado agora – o próprio Cristo (At 3:13; Fl 2:9-11; 1 Tm 3:16; 1 Pe 1:21).

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A "glória" (Shekinah em hebraico) refere-se à presença visível de Jeová habitando sobre o arraial de Israel no deserto (Êx 13:21-22) e sobre o templo na terra de Canaã (2 Cr 5:13-14). Shekinah é uma palavra hebraica, não encontrada na Escritura, que significa "habitação" ou "presença" (Rm 9:4). Por causa do fracasso de Israel, a nuvem de glória foi removida deles, significando que Deus não poderia mais Se identificar publicamente com Seu povo errante. A nuvem de glória foi removida lentamente, mostrando a relutância do Senhor em Se retirar do Seu povo. O Senhor desejava morar com eles, mas eles estavam em um estado tal que isso não era mais possível. A nuvem de glória foi removida deles em sete etapas:

Ela estava sobre o "querubim" no santuário (Ez 8:4, 9:3a).

Ela se removeu **"**para a entrada da casa" (Ez 9:3b – ATB).

Ela se removeu para **"**sobre a entrada da casa" (Ez 10:4 – ATB).

Ela se removeu **"**de sobre a entrada da casa" (Ez 10:18 – ATB).

Ela se removeu "do meio da cidade" (Ez 11:23a – ATB).

Ele se removeu para "sobre o monte que está ao oriente da cidade" (Ez 11:23b).

Ela se removeu para o "vale" em Babilônia "junto ao rio Quebar" (Ez 3:23).

GOVERNO DE DEUS, O

Esse termo não é encontrado na Escritura, mas a verdade que ela transmite certamente é. Os instrutores bíblicos usam o termo para indicar o trato providencial de Deus com os homens, positiva ou negativamente, como consequência da maneira com que agem em suas vidas. Isso acontece na vida daqueles que são salvos, bem como na daqueles que estão perdidos. Gálatas 6:7-8 dá o princípio geral de como o governo de Deus funciona. Diz: "Não vos enganeis; de Deus não se zomba. Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará: porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna" (ATB). Isso nos mostra que há consequências para nossas ações, tanto para o bem quanto para o mal – embora talvez não sintamos os resultados imediatamente.

Como mencionado, existem dois lados do governo de Deus – o que é positivo e o que é negativo – com relação ao que experimentamos em nossas vidas. Estes poderiam ser chamados:

Juízo governamental.

Bênção governamental.

Uma vez que "todo o poder" foi dado ao Senhor "no céu e na Terra" (Mt 28:18), Ele pode fazer com que coisas boas, assim como permitir que coisas ruins, ocorram na vida dos homens de acordo com suas obras. Ele pode "cercar" o caminho do transgressor com juízos governamentais em formas de dificuldades, problemas, tristezas, doenças, etc., a fim de deter seu caminho rebelde e produzir arrependimento (Os 2:6-7). O apóstolo Pedro advertiu que se formos descuidados e andarmos na impiedade, nós "invocaremos" (ou "chamaremos") a ação de Deus "o Pai" em nossas vidas em um sentido de juízo. Ele, "sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um" (1 Pe 1:16-17). Veja também 1 Co 11:29-32; 1 Pe 3:12b; Tg 5:20b; 1 Jo 5:16b. Deus também pode usar Seu poder para ordenar circunstâncias felizes e abençoadas na vida dos homens que fazem o bem, e assim, eles recebem "bênção por herança" (1 Pe 3:9 – ATB) em suas vidas de forma prática para "ver os bons dias" (1 Pe 3:10-12a; Ef 6:1-3). Os Provérbios enfatizam os caminhos de Deus no governo com os homens, para o bem ou para o mal – dependendo das ações de cada um. É um tema fundamental que percorre todo esse livro.

É interessante notar que a extensão das relações governamentais de Deus com os homens no julgamento pertence apenas ao seu tempo neste mundo e não afeta seu destino eterno. No entanto, as ações governamentais de Deus referentes às bênçãos em conexão com os crentes podem ser desfrutadas agora nesta vida, e em muitos casos também será levada para a eternidade (Gl 6:8). Tal é a bondade de Deus. Além disso, se trouxermos sobre nós o juízo governamental de Deus, haverá também o perdão governamental de Deus (Mt 18:26-27; Lc 7:48; Jo 5:14; Tg 5:15; Sl 103:10-11). Isso tem a ver com Deus retirar o Seu juízo governamental, sobre qualquer forma que tenhamos sentido esse julgamento, por nos termos arrependido. O Senhor pode escolher deixar que continuemos sentindo os efeitos de Seu julgamento governamental, mesmo quando houve um arrependimento real, porque Ele conhece as tendências de nossos corações, e assim nos mantém em dependência, com a finalidade de impedir que saiamos do caminho novamente. A comunhão será restaurada, mas os efeitos de nossas ações podem continuar a ser sentidos (2 Sm 12:10). Seja qual for o caso, Deus não comete erros no que Ele faz conosco, pois Seus caminhos são perfeitos (Sl 18:30). (Veja: Perdão Governamental.) Muitos Cristãos têm uma visão desequilibrada do assunto do governo de Deus. Eles veem apenas o lado do julgamento, mas isso está desequilibrado. Ao se referir a alguém que se rebelou contra Deus, eles poderiam dizer: "fulano de tal está sob o governo de Deus" – não percebendo que o governo de Deus tem a ver com Sua boa mão de bênção na vida de uma pessoa também. A verdade é que todos os Cristãos estão sob o governo de Deus – e devemos ser gratos por isso!

Os homens do mundo chamariam o governo de Deus de "karma" (um termo da religião "oriental"), mas eles não são sinônimos. O "karma" vê os caminhos de Deus com os homens de uma perspectiva cheia de superstição e não leva em consideração o perdão governamental de Deus, que nem sempre trabalha negativamente com aqueles que fazem o mal, quando vê o arrependimento neles.

GRAÇA

Isso se refere ao favor imerecido de Deus para com os homens. É obter algo bom de Deus sem que mereçamos. O maior destes dons gratuitos da graça de Deus é a salvação de nossas almas (Rm 11:5-6; Ef 1:7, 2:8; 1 Pe 1:9). O efeito prático da obra da graça de Deus no coração humano torna o beneficiário um adorador espontâneo e agradecido (Rt 2:10; Jo 9:35-38). Também produz um desejo nas almas de agradar ao Senhor, "renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas", vivendo "neste presente século sóbria, e justa, e piamente" (Tt 2:11-12). Ela também produz energia para servi-Lo (1 Sm 25:41; 1 Co 15:10).

A graça de Deus é também para com o Seu povo, fornecendo-lhe vários tipos de ajuda prática nas circunstâncias da vida que os capacita a prosseguir por Ele, mesmo em situações adversas (2 Co 12:9-10; Hb 12:28; Tg 4:6; 1 Pe 5:10). (Veja: Misericórdia.)

GRANDE TRIBULAÇÃO, A

A "grande tribulação" (Mt 24:21) refere-se à terrível perseguição que será dirigida ao fiel remanescente judeu durante a segunda metade da septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27). Também é chamada de "a angústia de Jacó" (Jr 30:7), "o tempo de angústia" (Dn 12:1), e "a hora da tentação" (Ap 3:10). Ela durará 1.260 dias (Ap 11:3, 12:6).

A causa dessa perseguição será o resultado direto do remanescente fiel dos judeus recusar receber a marca da besta e a adorar sua imagem (Ap 13:14-16). Isso provocará o ódio amargo da besta e do anticristo, que desencadearão contra o remanescente a mais terrível perseguição que o mundo jamais conheceu (Mt 24:21). Eles farão "guerra" contra os santos e "vencerão" e "matarão" a muitos pelo martírio (Ap 11:7, 12:13-17, 13:7, 15; Sl 12:1; Is 57:1). Os judeus apóstatas na terra, que receberão o anticristo e adorarão a imagem da besta, ajudarão na perseguição contra seus irmãos. W. Scott menciona que esse terrível período de perseguição será "abreviado" pelo Senhor cerca de 17 dias e meio ou 18 dias por causa dos eleitos (Mt 24:22). Isto é visto no fato de que os últimos 3 anos e meio da semana profética, que são 1.278 dias (42 meses), serão reduzidos para 1.260 dias (Exposition of the Revelation of Jesus Christ, pág. 172).

No meio da semana profética, a besta ("a pequena ponta [chifre]" – Dn 7:8, 20-21) se levantará e assumirá o cargo de "príncipe" romano como líder da confederação ocidental de dez nações – "a besta" (Ap 13:1). (Essas potências ocidentais também podem ser referidas como o Império Romano revivido). Ao assumir o cargo, este novo líder do império irá quebrar os termos do "concerto" ("asa [proteção] das abominações"), que terá sido firmado com a massa incrédula dos judeus (Dn 9:27).

O império então, sob este homem diabólico, tomará o controle da terra de Israel e irá mantê-la como sendo parte do império. Ele abolirá todo culto judeu para abrir caminho para um novo tipo de religião – "a abominação da desolação" – que é a adoração à besta e à sua imagem (Dn 12:11; Mt 24:15; Ap 13:14-16). Como resultado, as coisas se tornarão espiritualmente em densas trevas no reino da besta – o Ocidente (Ap 8:12). O verdadeiro conhecimento de Deus será abolido de seu reino e haverá uma fome pela Palavra de Deus (Am 8:11-12).

Como mencionado, todos no reino da besta, que se recusam a receber a marca da besta e a adorar a sua imagem serão perseguidos. Muitos serão perseguidos até a morte (Ap 13:7, 15). Por causa da cidade de Jerusalém e da terra de Israel terem se entregue à perversidade da idolatria que o anticristo introduzirá, e a perseguição que daí surgirá, o remanescente judeu será forçado a fugir para as montanhas, para as cavernas e as grutas da terra em busca de segurança. Eles serão caçados além da medida (Sl 42-72 – o 2º Livro dos Salmos; Mt 24:16-21; Ap 12:6, 14-15). A perseguição será tão severa que as pessoas hesitarão em expressar seus pensamentos aos seus próprios cônjuges ou membros da família por medo de serem entregues às autoridades. O amigo mais querido não será digno de confiança (Jr 9:4-5; Mq 7:2, 5-6; Mt 10:21-23).

Alguns do remanescente judeu fugirão para as montanhas da Judéia por abrigo (Mt 24:16). Outros fugirão para o Leste, à terra de Moabe – Jordão hoje (Is 16:3-4; 1 Sm 22:34; Sl 44:11; Sl 61:2). Outros irão para o Norte até as montanhas do Hermon, ao sul do Líbano (Sl 42:6). Embora que a maioria do remanescente fuja, um pequeno número ficará para trás em Jerusalém. Deus os usará para manter um testemunho adequado para Si (expressado pelas "duas testemunhas") em face da idolatria. Eles serão milagrosamente protegidos por Deus por toda a duração do seu testemunho de 1.260 dias, e então Ele permitirá que sejam martirizados (Ap 11:3-13).

A Grande Tribulação será finalizada pelo ataque do Rei do Norte e sua confederação árabe (Dn 11:40-42). Os judeus apóstatas, que perseguem o remanescente, serão massacrados pelos exércitos atacantes. O rei deles (o anticristo), que prometeu segurança para os judeus, fugirá de seu posto na terra (Zc 11:17) e, os judeus apóstatas que confiaram nele, ficarão perplexos ao serem massacrados (Is 8:21-22). Aproximadamente 10 milhões de judeus apóstatas serão mortos pelos exércitos atacantes! (Zc 13:8) Depois disso, o Senhor aparecerá do céu para julgar os inimigos de Israel. Ele restaurará e abençoará a nação (o remanescente dos judeus que sobreviveu e os verdadeiros entre as dez tribos) de acordo com as promessas dos profetas do Antigo Testamento (Rm 11:26-27; Os 6:1-3; Ml 4:2).

HADES

"Sheol" e "Hades" referem-se à mesma coisa; o Sheol no Antigo Testamento (hebraico) e Hades no Novo Testamento (grego). (veja a nota de rodapé do Salmo 6:5 da tradução de J. N. Darby) O Sheol/Hades é o mundo invisível para onde vão as almas e espíritos desencarnados dos crentes e dos incrédulos falecidos, sem especificar em que condição estão. (veja a nota de rodapé de Mateus 11:23 - JND). O evangelho trouxe à luz "a vida e imortalidade" (2 Tm 1:10 – ATB) e, como resultado, sabemos agora que existem duas condições opostas no Sheol/Hades: "tormentos" para os perdidos (Lc 16:24-25) e felicidade ("paraíso" – "o jardim das delícias") para os crentes (Lc 23:43).

O que pode ser confuso é que Hades é traduzido erroneamente como "inferno" oito vezes na tradução ARC (Mt 11:23, 16:18; Lc 10:15; 1 Co 15:55; Ap 1:18, 6:8, 20:13, 14). Cada uma dessas referências deve ser traduzida como "Hades". Consultando uma tradução crítica, como a Tradução J. N. Darby (N. do T.: ou a ATB), encontramos o esclarecimento disso imediatamente.

Uma consulta foi enviada ao editor da revista Help and Food sobre Hades: "O que é Hades? Resposta: Sem dúvida, é todo o mundo invisível, incluindo os salvos e os perdidos. Veja Lucas 16:23; Apocalipse 20:13-14, para os perdidos, e Atos 2:27, 31 para nosso bendito Senhor. Hades responde ao Sheol no Antigo Testamento" (Help and Food, vol. 14, pág. 140). Devemos acrescentar a essas referências, 1 Coríntios 15:55, que indica que os crentes que morreram estão no Hades.

Sheol/Hades é um estado temporário. Todos nesse estado intermediário ou separado, ao qual a morte leva uma pessoa, serão ressuscitados – tanto crentes como incrédulos – mas em momentos diferentes. (Veja: Ressurreição). Todos os que morreram na fé estão "despidos" no Hades (2 Co 5:4). Suas almas e espíritos estão "com Cristo" (Fp 1:23) no "paraíso" (Lc 23:43), que está no céu, porque a Escritura diz que é no céu que Cristo está (Lc 24:51; At 1:9-10, 3:21, 7:55; Fl 3:20; Hb 4:14). Paulo confirma isso, dizendo que, quando estava desencarnado, ele estava no "paraíso" no "terceiro céu" (2 Co 12:2-4). O Senhor também ensinou que as almas desencarnadas e os espíritos das crianças que morreram abaixo da idade da responsabilidade vão direto para o "céu" (Mt 18:10 – "seus anjos" é uma referência aos seus espíritos desencarnados, veja At 12:15). Os corpos dessas pessoas desencarnadas, no entanto, atualmente estão no túmulo.

As almas e os espíritos de todos os que morreram sem fé também estão no Hades, mas estão em "tormentos" (Lc 16:23). Eles permanecerão nesse estado até o fim dos tempos, momento em que serão ressuscitados e julgados pelos seus pecados no "grande trono branco" (Is 24:22; Ap 20:11-15). Eles serão então lançados no "lago de fogo", que é o inferno. Portanto, contrariamente ao que normalmente se pensa, aqueles que morreram em seus pecados ainda não estão no inferno, e quando eles forem colocados lá, não estarão mortos. Eles serão ressuscitados e lançados ali vivos! (Ap 20:5, 13).

HERANÇA, A

Há dois aspectos da herança do Cristão no Novo Testamento:

São coisas materiais – ou seja, todas as coisas criadas no céu e na Terra (Ef 1:11, 14, 18; Cl 3:24)

São coisas espirituais que os crentes possuem em Cristo – isto é, nossas bênçãos espirituais (At 20:32, 26:18; Cl 1:12; 1 Pe 1:4).

Vista como coisas materiais, é chamada "Sua herança (de Cristo)" (Ef 1:18) e "nossa herança" (Ef 1:14) porque somos "herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo" (Rm 8:17). Paulo disse: "Tudo é vosso" (1 Co 3:21), e isso inclui a herança. É algo que é nosso agora (Ef 1:11 – "No qual também obtivemos uma herança" (JND). Foi comprada para nós pela obra de Cristo na cruz (Hb 2:9 – "provasse a morte por tudo" (JND). No entanto, ainda que ela já nos pertença, ainda não foi redimida (Ef 1:14). A redenção da herança tem a ver com a libertação com a qual Cristo a libertará do pecado, de Satanás e do mundo, para que possa ser usada para mostrar a Sua glória no mundo vindouro (o Milênio). Isso ocorrerá na Aparição de Cristo por meio de seus juízos marciais.

Vista como coisas espirituais, a herança tem a ver com o que os crentes possuem espiritualmente em Cristo, ou seja, nossas bênçãos espirituais (Ef 1:3). Atos 26:18, Colossenses 1:12 e 1 Pedro 1:4 falam dela vista dessa forma. J. N. Darby traduz "uma porção" em Atos 26:18 (margem) e em Colossenses 1:12 para distingui-la do lado material da herança. Visto da perspectiva do Cristão na Terra, este aspecto da herança é visto como estando "no céu". J. N. Darby disse: "A herança é a herança de todas as coisas que Cristo criou. Mas em 1 Pedro ou em Colossenses 1, ela está no céu" (Notes and Jottings, pág. 101).

HERESIA

Refere-se a uma divisão exterior (visível) no testemunho Cristão, onde alguns se separam como um grupo distinto. "Heresia" é fazer uma "seita" entre Cristãos e é traduzida como tal em 1 Coríntios 11:19 na Tradução J. N. Darby. É um mal que emana da carne – a natureza caída de pecado (Gl 5:20). Na Escritura é aplicada às divisões que se desenvolveram na religião judaica (At 5:17, 15:5, 24:5, 26:5) e nas divisões que se desenvolveriam no Cristianismo (1 Co 11:19; Gl. 5:20; 2 Pe 2:1).

Heresia não é o mesmo que "cisma", que é uma ruptura ou divisão interior (invisível) entre os Cristãos (1 Co 11:18). Aqueles envolvidos em um cisma ainda se reunirão exteriormente com aqueles com quem eles têm uma divergência, mas provavelmente estarão infelizes (Rm 16:17; 1 Co 1:10, 3:3, 11:18). Este era o caso com os Coríntios. O apóstolo Paulo os advertiu que, se os cismas existissem, e não fossem tratados e julgados como maus, haveria "entre vós heresias" que surgiriam desses cismas (1 Co 11:18-19). Assim, uma divisão interior (um cisma) se desenvolverá em uma divisão exterior (uma heresia), com o passar do tempo. Uma pessoa que conspira uma divisão exterior entre os Cristãos é um "herege" (Tt 3:10). Paulo nos diz que, se nos encontrarmos com uma pessoa que tem agido em vontade própria e se separado com o seu partido, devemos "depois de uma e outra admoestação", evitá-lo (Tt 3:10).

A palavra heresia é comumente considerada como sendo uma má doutrina e foi popularizada como tal pela Igreja Católica Romana há centenas de anos. Eles rotularam como hereges todos aqueles que não sustentavam suas doutrinas. Os instrutores bíblicos hoje às vezes usam o termo de forma convencional para indicar erros doutrinários, mas a heresia, no seu significado bíblico, não implica necessariamente má doutrina. G.V. Wigram nos diz que o pior e mais difícil tipo de heresia a ser detectado é aquele que não envolve má doutrina, embora o espírito de criação de partido e divisão está ali presente. (Memorials of Ministry of G.V. Wigram, vol. 2, pág. 91). Heresia se tornou sinônimo de má doutrina provavelmente porque a maioria dos hereges geralmente formam sua divisão em torno de uma má doutrina (2 Pe 2:1).

Assim, uma heresia/seita é a formação de uma comunidade de crentes fora e separada da única comunhão à qual todos os Cristãos têm sido chamados na Escritura – expressada pela "Mesa do Senhor" (1 Co 1:9, 10:21). O mal da heresia é que ela divide o testemunho Cristão em grupos e comunhões separados, cada um com seus próprios estatutos e administração, etc. Não é a vontade de Deus ter Cristãos assim divididos. Ele gostaria de tê-los reunidos em um terreno de comunhão (mesmo que eles estejam em várias localidades em todo o mundo), de modo a expressar o fato de serem "um só corpo" (Ef 4:4). A criação de todas essas igrejas na Cristandade ("plantação de igrejas" como é chamado) geralmente é feita com boas intenções, mas em ignorância com relação ao modo de Deus reunir os Cristãos para adoração e ministério. Nós, portanto, precisamos mostrar muita paciência para com aqueles que estão nessas comunhões feitas pelo homem. Ainda assim, todos esses esforços para formação de igrejas, destroem a unidade do corpo na prática.

HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A

Isso se refere ao fato de o Senhor Jesus Cristo ter uma natureza humana incapaz de pecar. Não toca precisamente a questão se Ele pecou em Sua vida (o que, sem dúvida, não o fez), mas se Ele tinha uma natureza que fosse capaz de pecar. Enquanto todos os Cristãos concordam unanimemente que Cristo não pecou, muitos pensam que Ele poderia ter pecado, se Ele assim escolhesse. Mas essa falsa ideia ataca a impecabilidade da Pessoa de Cristo e é um grave erro que afeta a doutrina de Cristo.

Quando Cristo veio ao mundo (Sua encarnação), Ele tomou a humanidade (um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano) em união com Sua Pessoa. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável (Mt 11:27). Ao fazê-lo, Ele não tomou a natureza humana inocente que Adão teve antes da queda. Aquela natureza era sem pecado, mas não tinha o conhecimento do bem e do mal, e era capaz de pecar – o que Adão infelizmente demonstrou (Rm 5:12). Cristo não poderia ter tomado essa natureza porque ela já não existia em seu estado inocente no momento da Sua chegada ao mundo. Ela tinha sido corrompida pela desobediência de Adão e estava caída. Nem Cristo poderia ter Se unido a Si mesmo com essa natureza em seu estado caído, pois, ao fazê-lo, teria levado o pecado à Sua Pessoa, e assim Ele teria deixado de ser Santo. Se Ele tivesse feito isso, teria deixado de ser Deus, porque santidade (a ausência do mal) é um dos atributos essenciais da divindade! (Is 6:3; Ap 4:8) A Bíblia indica que Deus preparou para Ele uma "Santa" humanidade – espírito, alma e corpo (Lc 1:35; Hb 7:26, 10:5). Sendo Santo, o Senhor Jesus teve uma natureza humana que não podia pecar.

Então, desde a queda de Adão, quando falamos de uma pessoa pecar – independentemente de quem possa ser – traz imediatamente à discussão, a pessoa tendo a natureza pecaminosa que produziria esses pecados. Os pecados, como sabemos, são o produto do pecado (a natureza). Por isso, dizer que o Senhor Jesus poderia pecar (embora Ele não o tenha feito) implica dizer que Ele teve a natureza caída do pecado! Esta é uma suposição terrivelmente equivocada que a Palavra de Deus certamente não ampara.

As seguintes referências mostram que Cristo não participou da humanidade caída, embora Ele certamente tenha Se tornado um Homem: 1 João 3:5 diz: "n�Ele não há pecado". Essa declaração única da Palavra de Deus resolve a questão se Cristo poderia pecar. Ela nos diz que Ele não tinha a natureza pecaminosa em Si mesmo e, portanto, Ele não tinha a possibilidade de cometer pecados.

Em Lucas 1:35, em conexão com a encarnação do Senhor, o anjo que veio a Maria disse: "o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus". Isso nos diz que a essência de Sua natureza como homem é "Santa". Isso não pode ser dito de nenhum outro homem. Nós não nascemos santos (Sl 51:5).

Em Lucas 3:23 (ATB), ao traçar a linhagem do Senhor até Adão, a Escritura diz: "Ora o mesmo Jesus, ao começar o Seu ministério, tinha cerca de trinta anos, sendo filho (como se julgava) de José". A frase "como se julgava" é inserida no texto pelo Espírito Santo para mostrar que o Senhor não era o filho natural de José; Ele era apenas seu filho legal. Ele foi "concebido" pelo Espírito Santo, e não por José (Mt 1:20). O fato de a Escritura afirmar que José não tinha nada a ver (biologicamente) com a concepção do Senhor, mostra o cuidado que Deus toma em não permitir qualquer pensamento de que Cristo tenha herdado a natureza caída do pecado passada a Ele através dos descendentes de Adão.

Romanos 8:3 diz: "Deus, enviando a Seu próprio Filho em semelhança de carne de pecado e por causa do pecado, condenou o pecado na carne". Mais uma vez, vemos que a Escritura tem cuidado em proteger a humanidade de Cristo, afirmando que a Sua vinda em humanidade foi "em semelhança de carne de pecado". Assim, Ele não tinha "carne de pecado", mas estava apenas em "semelhança" dela. Ou seja, por todas as aparências exteriores, Ele Se parecia com qualquer outro homem (Hb 10:20), mas, interiormente, Ele não tinha a natureza do pecado.

Hebreus 2:6 diz: "Que é o homem**, para que dele Te lembres?**" Essa é uma citação do Salmo 8. O salmista fica maravilhado com a graça de Deus que se importa com homens. A palavra aqui para "**homem**" no hebraico é "_Enosh_". Ela indica o estado fraco e frágil do homem – implicando uma condição caída e degenerada. O salmo prossegue dizendo: "**…ou o filho do** **homem****, para que o visites?**". Isso refere-se à visita de Deus à raça humana na Pessoa de Seu Filho (Lc 1:78). Note que nessa ocasião, o salmista usa uma palavra diferente para "**homem**" no hebraico daquela que ele havia usado anteriormente. Aqui é "_Adão_", que não carrega as conotações de "_Enosh_". Isto significa que, quando Cristo visitasse a humanidade, ao Se tornar um Homem, não seria no estado do degenerado "_Enosh_".

Hebreus 2:14 diz: "E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou [tomou parte] das mesmas coisas". Aqui novamente, as Escrituras guardam cuidadosamente a humanidade sem pecado de Cristo. Mais uma vez, as Escrituras usam duas palavras diferentes no grego para distinguir entre homens caídos que participam da humanidade e Cristo que tomou parte na humanidade. A primeira palavra (koinoneo), traduzida como "participam", refere-se a uma participação completa em algo. É usada neste versículo para denotar o tipo de participação na humanidade que todos na raça de Adão têm. E como é uma total participação, necessariamente incluirá a participar da natureza caída do pecado. A outra palavra (metecho) é traduzida como "tomou parte" (JND e KJV), que significa participar de algo sem especificar a profundidade da participação, é usada para denotar a participação que Cristo teve na humanidade. Ele tomou parte na humanidade, mas não ao ponto de participar da natureza caída do pecado, que todos os outros homens têm. (Veja a nota de rodapé na tradução de J. N. Darby sobre esse versículo.) Em Hebreus 4:15, no que diz respeito às provas e as tentações do Senhor em Sua senda terrenal, o escritor diz: "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado [apartado do pecado]". Infelizmente, lendo esse versículo como está na tradução King James (e em muitas traduções modernas – N. do T.: e na maioria das em Português), parece que está dizendo que o Senhor não cometeu nenhum pecado em Sua vida. Mas este não é o assunto do versículo. A frase, "mas sem pecado" deve ser traduzida "apartado [separado, desassociado] do pecado". Separado do pecado significa que Suas tentações não estavam na classificação das tentações que tinham a ver com a natureza pecaminosa. Existem dois tipos de tentações às quais os homens estão sujeitos: há tentações e provações (provas santas) externas pelas quais a fé e a paciência de alguém são testadas, e há tentações internas que resultam de alguém ter uma natureza de pecado (provas pecaminosas). (Veja Tg 1:2-12 e 1:13-16.) O escritor de Hebreus está simplesmente afirmando que o Senhor foi tentado de todos os modos que um homem justo poderia ser tentado, mas não na classe de tentações que estão conectadas com a natureza interior do pecado. A razão para isso é óbvia – Ele nunca teve a natureza de pecado. J. N. Darby disse: "Há dois tipos de tentações: uma vem de fora – todas as dificuldades da vida Cristã. Cristo passou por elas duma forma muito mais intensa do que qualquer um de nós. O outro tipo de tentação é quando um homem é levado por sua própria concupiscência e seduzido. Cristo, é claro, nunca teve isso" (Notes and Jottings, pág. 6).

Em João 8:46, o Senhor disse aos Seus acusadores: "Quem dentre vós Me convence de pecado?". Ninguém poderia provar que Ele tinha aquela natureza caída, porque ninguém poderia apontar para um único pecado que Ele houvesse cometido.

Em João 14:30, o Senhor anunciou aos discípulos: "se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim". Ele estava se referindo à vinda de Satanás para molestá-Lo e amedrontá-Lo, mas Ele lhes assegurou que não havia nada "em" Ele (isto é, a natureza do pecado) que respondesse aos seus ataques.

Tiago 1:13 diz que "Deus não pode ser tentado pelo mal". Assim, a santidade é um atributo intrínseco de Deus (Is 6:3; Ap 4:8). Se quando Deus, na Pessoa de Seu Filho, Se tornou um Homem (1 Tm 3:16), tivesse Se tornado capaz de ser tentado a fazer o mal, então Ele teria renunciado a um dos Seus atributos essenciais da divindade. Portanto, se a doutrina que afirma que Cristo poderia pecar é verdadeira, então Cristo deixou de ser tudo o que Ele era como Deus ao Se tornar um Homem! Isso é blasfêmia!

1 João 3:9 diz: "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus". Esse versículo está falando sobre o crente tendo uma nova natureza (resultante de um novo nascimento) que não pode pecar. João explica que isso é assim porque, sendo gerados por Deus, temos "Sua semente" em nós. Isso confirma o que todo Cristão já conhece – que a "semente" (ou a vida) de Deus não pode pecar. Portanto, como Cristo é "Deus manifestado em carne" (1 Tm 3:16), então segue-se naturalmente que Ele não poderia pecar – porque Deus não pode pecar! O que poderia ser mais claro do que isso?

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três objeções principais a esta verdade sobre a humanidade de Cristo:

1) Aqueles que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, pensam que é roubar o Senhor da Sua glória de obediência dizer que não poderia pecar. Eles dizem que se isso fosse verdade, então, Cristo não obteria crédito (nenhuma glória) pela Sua vida de perfeita obediência ao Pai, porque Ele não podia fazer nada além do que era certo.

Para a razão humana, pode parecer que estas coisas referentes à humanidade de Cristo estão roubando-O de glória, mas, na verdade, ensinar que Ele poderia pecar ataca a impecabilidade de Sua Pessoa e macula Sua glória. Não somos mais sábios do que a Palavra de Deus. Quando nossa razão humana nos leva a conclusões que estão em conflito com as Escrituras – o que faz esta doutrina – devemos abdicar de nossos pensamentos e aceitar o que a Escritura diz como a autoridade final, pois ela é a infalível Palavra de Deus (Sl 12:6; Jo 10:35).

2) Os que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, apontam para as tentações do Senhor no deserto, e perguntam: "Qual foi o propósito de ter Cristo passando por essas tentações quando Ele não poderia falhar?" A resposta é que elas não eram para Deus descobrir se Cristo iria ou não pecar. Ele conheceu Sua perfeição sem pecado e pronunciou Sua aprovação sobre Ele – "Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo" antes de ter sido tentado (Mt 3:17-4:11). Se as tentações fossem com o propósito de descobrir se Cristo pecaria ou não, então o pronunciamento de Deus teria sido depois que Ele passasse pela tentação. Seria, por assim dizer, Seu "selo de aprovação" na perfeita obediência de Cristo. Mas essas tentações não eram para Deus; elas são para nós vermos e sabermos, além de qualquer sombra de dúvida, que Cristo não poderia pecar. Se Ele tivesse qualquer tendência em Si para o pecado, isso teria se manifestado sob tentações tão intensas – mas nada foi manifestado além da perfeição moral.

Muitos estão confusos quanto a isso, por causa do pensamento de que "tentado" (Mt 4:1) perde o seu significado se não envolve a possibilidade de pecar. Mas isso é um erro. Tentar significa testar, e nem todos os testes implicam a possibilidade de falha. Suponha que havia um objeto valioso feito de ouro fino – era ouro 100% puro. Mas a autenticidade foi contestada. Então, para provar o que já sabemos, o testamos por um joalheiro. E com certeza, ele volta certificado como sendo 100% puro. Por que o objeto foi testado? Sabíamos do que era feito o tempo todo. Obviamente, o teste foi para aqueles que tiveram alguma dúvida sobre ele. Da mesma forma, com as tentações do Senhor, todos esses testes apenas provaram o que era verdadeiro n�Ele – que Ele não podia pecar. Essas provas que o Senhor sofreu são registradas na Escritura para nós, para que nós possamos conhecer esse fato abençoado sobre o Filho de Deus.

3) Alguns que consideram que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, dizem que não pode haver uma verdadeira humanidade sem que uma pessoa tenha a capacidade de pecar, porque é uma característica essencial do ser humano. Eles dirão que ensinar que Cristo não podia pecar é dizer que Ele não era um verdadeiro homem. Eles acreditam que ensinar isso rouba de Cristo a capacidade de simpatizar-Se conosco em nossas tentações de concupiscência e pecado. No entanto, a verdade é que há muitas coisas que experimentamos na vida, como homens, que o Senhor nunca experimentou. Mas isso não significa que Ele não fosse um verdadeiro homem. Também isso não O desqualifica de ser um Sumo Sacerdote que Se compadece. Por exemplo, nós experimentamos enfermidades (doenças), mas o Senhor não. Nós experimentamos a alegria do perdão, mas o Senhor nunca precisou de perdão. Ele nunca Se casou, nem criou filhos, mas Ele era (e é) um verdadeiro Homem. Por que pensamos que Ele teria que ter todas essas experiências antes que pudesse ser considerado como um verdadeiro Homem?

Hebreus 4:15 é frequentemente citado para dar suporte à essa ideia equivocada. Diz que o Senhor foi "como nós, em tudo foi tentado", o que (em suas mentes) incluiria a tentação de pecar. No entanto, aqueles que dizem essas coisas negligenciaram o fato de que o escritor inspirado qualifica essas tentações dizendo "apartado do pecado" – isto é, tais tentações relativas ao pecado eram de uma classe separada. Isso significa que as tentações do Senhor não foram daquela categoria. Se tivessem lido esse versículo com mais cuidado, também teriam visto que o escritor se refere a provações em conexão com nossas "enfermidades", que são doenças corporais (Mt 8:17; Jo 5:5; Rm 8:26; 2 Co 12:5). Enfermidades não são tentações a pecar. Notemos também que, embora o Senhor não tenha tido enfermidades pessoalmente (Ele nunca esteve doente), o versículo diz que Ele pode Se simpatizar com nossas enfermidades. Isso mostra que é falsa a suposição de que Cristo não poderia ter sido um homem verdadeiro sem experimentar tudo o que experimentamos.

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O raciocínio nessas ideias blasfemas é absurdo. Pense nas ramificações de Cristo poder pecar. Se Ele pudesse pecar quando estava na Terra, então poderia pecar agora no céu – pois a Escritura diz que Ele é "o mesmo ontem, e hoje, e eternamente" (Hb 13:8; At 1:11). Longe esteja tal pensamento, mas se Ele fosse pecar agora, Ele certamente seria expulso do céu, como Satanás uma vez foi! E o que aconteceria conosco? Nós perderíamos tudo – nosso Salvador, nossa salvação e todas as nossas bênçãos – porque tudo o que temos está "em Cristo"! Se essa má doutrina fosse verdadeira, não estaríamos eternamente seguros, como a Escritura ensina (Jo 10:27-28), porque a qualquer momento Cristo poderia pecar e perderíamos nosso Salvador. Além disso, se Cristo pecou, que parte d�Ele iria ao inferno? Porque na Sua encarnação, houve uma união da natureza humana e da natureza divina que nunca pode ser desfeita.

IMAGEM & SEMELHANÇA

Quando Deus criou o homem, Ele disse: "Façamos o homem à Nossa imagem, segundo a Nossa semelhança" (Gn 1:26). A "imagem" tem a ver com o homem ter sido colocado numa posição de representante visível de Deus na criação (1 Co 11:7). A "semelhança" tem a ver com o homem ter sido feito moralmente como Deus, sem pecado (Gn 5:1; Tg 3:9).

Quando o homem caiu, ele deixou de ser moralmente como Deus. Por isso, em seu estado caído, o homem perdeu sua semelhança com Deus. Daí em diante não se fala mais de o homem ser "à semelhança de Deus". Na verdade, fala-se da posteridade de Adão ser "à sua semelhança" (Gn 5:3), o que implica que Adão passou a seus descendentes a sua natureza pecaminosa, que ele adquiriu na queda (Rm 5:12; Sl 51:5). No entanto, mesmo em seu estado caído, do homem é dito ser "à imagem de Deus" (Gn 9:6). A queda não o absolveu de sua responsabilidade de representar Deus. Mas triste é dizer que essa imagem no homem foi manchada pelo pecado. O homem não representou Deus devidamente na criação.

Quando Cristo veio ao mundo, a Escritura diz que Ele era "a imagem de Deus" (2 Co 4:4; Cl 1:15; Hb 1:3). Ele não foi "feito" à imagem de Deus (como o homem foi) – Ele era "a imagem de Deus" em virtude de ser Quem Ele era. Assim, Ele representou perfeitamente a Deus como Cabeça da criação. No entanto, as Escrituras não dizem que Cristo era "à semelhança de Deus", como o homem era quando Deus o criou. A razão para isso é que, quando Cristo andou aqui, Ele não era como Deus, Ele era Deus (Jo 1:1). As Escrituras dizem que ao entrar na Humanidade, Cristo foi "feito semelhante aos homens" (Fp 2:7 – ATB; Rm 8:3). Isso não significa que Cristo tomou a carne pecaminosa em união Consigo. Ele não era semelhante ao homem moralmente. Esta afirmação refere-se ao fato de o Senhor ser semelhante aos homens na sua constituição – tendo um espírito humano (Jo 13:21), uma alma humana (Jo 13:27) e um corpo humano (Hb 10:5). Embora fosse um Homem real, Ele era "sem pecado" (Hb 4.15) – isto é, sem a natureza pecaminosa.

A boa notícia é que Deus, em graça, criou uma nova raça de homens sob Cristo (2 Co 5:17; Ef 2:10; Ap 3:14), na qual tanto a semelhança como a imagem são recuperadas. Os "muitos irmãos" (crentes) de Cristo na nova raça agora podem exibir os traços morais de Deus e, assim, representar a Deus na Terra convenientemente (Rm 8:29; Hb 2:11). A epístola aos Efésios realça a "semelhança de Deus" sendo exibida nessa nova raça (Ef 4:24-32), e a epístola aos Colossenses realça o fato de que a nova raça se "renova para o conhecimento, segundo a imagem daqu’Ele que o criou" (Cl 3:10). Assim, a nova raça sob Cristo recuperou aquilo que a velha raça perdeu sob Adão.

IMORTALIDADE & INCORRUPTIBILIDADE

Refere-se ao estado imortal no qual os crentes serão transformados quando forem glorificados. Para os santos do Novo e do Antigo Testamento, isso ocorrerá no momento do Arrebatamento (1 Co 15:51-56; Hb 11:40). Para a porção martirizada do remanescente judaico crente, será no final da Grande Tribulação (Ap 14:13). Os santos do Antigo Testamento não sabiam muito a respeito da vida após a morte, mas essa verdade já foi trazida à luz pelo evangelho. Agora sabemos que há "vida" para a alma e "incorrupção" para o corpo (2 Tm 1:10).

Como mencionado, no momento do Arrebatamento, o Senhor efetuará uma transformação nos santos que morreram, que Paulo declara como: "isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade" (1 Co 15:53a). O Senhor também efetuará uma mudança nos santos vivos conforme Paulo afirma: "isto que é mortal se revista da imortalidade" (1 Co 15:53b). Essa mudança será tanto moral quanto física. Suas almas e espíritos se livrarão da natureza caída de pecado, e assim eles serão feitos moralmente como Cristo é (1 Jo 3:2). Além disso, seus corpos serão feitos fisicamente como o corpo de Cristo é (Fp 3:21).

A alma de todos os homens é imortal – independentemente de ser salvo ou não. Gênesis 2:7 diz: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da Terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente". Isso mostra que os espíritos e almas dos homens são "viventes" e não sujeitos à morte. Todos esses viverão para sempre, seja no gozo da bênção de Deus ou sob a condenação. Mesmo depois que uma pessoa morre e seu corpo é sepultado, seu espírito e sua alma continuam vivos. Em relação a isso, o Senhor disse: "Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para Ele vivem todos [os mortos]" (Lc 20:38). Enquanto a alma do homem é imortal, seu corpo é "mortal" – sujeito à morte (Jó 4:17; Rm 6:12, 8:11; 1 Co 15:53-54; 2 Co 4:11). A boa notícia é que chegará um momento para o crente quando aquilo que é "mortal" será "absorvido pela vida" (2 Co 5:4).

IMUTABILIDADE

Refere-se ao caráter imutável de Deus – Sua invariabilidade (Ml 3:6; Hb 1:12, 13:8; Tg 1:17). É um atributo essencial da divindade. Em conexão com os tratos do Senhor com Abraão, há duas coisas que se diz serem imutáveis: a promessa da Palavra de Deus e o juramento que Ele fez (Hb 6:17-18).

INDIGNAÇÃO, A

Este é um curto período de tempo na profecia (cerca de 75 dias) que ocorrerá no final da Grande Tribulação, mas antes do início do Milênio (Is 10:5, 25, 26:20; Dn 8:19, 11:36, etc.). Muitos detalhes na profecia ocorrem nesse resumido período no qual cada estudante da profecia precisa notar e entender. Durante esse tempo, os exércitos gentios atacarão Israel (na verdade os judeus), e depois de ter destruído a multidão dos judeus na terra (que são apóstatas), o Senhor intervirá a favor da nação, vindo do céu pessoalmente (a Aparição) para julgar aqueles exércitos e restaurar um remanescente das doze tribos de Israel. Posteriormente, Ele defenderá Israel de qualquer outro ataque (por exemplo, Gogue) e começará o Seu reino milenar, momento em que o restante de Israel será abençoado num relacionamento baseado num novo concerto com Ele (Jr 31:31-34). Este período é chamado de "a indignação", porque é quando o Senhor liberará Sua indignação sobre a multidão apóstata dos judeus na terra que O rejeitaram e receberam o anticristo (Is 57:9; Ap 13:11-18). Sua indignação também será derramada sobre israelitas infiéis dentre as dez tribos (Ez 11:9-10, 20:33-38; Ap 14:18-20).

Para cumprir Sua indignação contra os judeus apóstatas, o Senhor empregará "o Rei do Norte" e sua confederação árabe de dez países (Sl 83:6-8). Essas nações islâmicas têm um ódio profundo e de longa data contra Israel e ficarão felizes em unir forças para atacá-los e destrui-los (Sl 83:1-5). Eles irão varrer a terra de Israel do Norte para o Sul e devastá-la, matando cerca de dez milhões de judeus em questão de alguns dias! (Dn 11:40-41; Zc 13:8) Isso é chamado de "a consumação" (Dn 9:27; Is 10:22-23, 28:22 – ATB).

Depois que estes exércitos tiverem passado pela terra de Israel, entrarão no Egito e conquistarão esta terra também (Dn 11:42-43). Quando o Rei do Norte estiver indo a caminho do Egito, os exércitos da "besta" (a confederação de dez países no Ocidente – Ap 13:1, 17:12-14) entrarão na terra de Israel desde o Oeste para defender este território que eles acreditam ser deles (Nm 24:24). É neste momento que o Senhor virá do céu com os Seus exércitos de homens glorificados (Sua Aparição) e destruirá os exércitos da besta "pelo esplendor da Sua vinda" (2 Ts 1:8, 2:8; Ap 16:13-15, 19:11-18).

Ao mesmo tempo, o Senhor executará o juízo da "ceifa", enviando Seus anjos para purificar a terra profética ocidental (Cristandade) de todos os que rejeitaram o evangelho da graça de Deus. Aqueles tratados neste julgamento serão crentes meramente professos que abandonaram sua confissão de fé em Deus (apóstatas). Este será um julgamento discriminatório (seletivo), onde os anjos tiram os incrédulos da Terra e os lançam vivos no lago de fogo (Mt 13:37-43, 24:39-41; Ap 14:14-16). Os primeiros destes serão a besta e o anticristo (Ap 19:20).

Quando o Rei do Norte estiver no Egito, ele ouvirá notícias de que um Guerreiro celestial apareceu e se virará para o norte para encontrá-Lo em batalha na terra de Israel (Dn 8:25, 11:44). O Senhor terá indignação contra estes exércitos e executará o Seu julgamento sobre eles (Dn 11:45; Is 30:27-33, 59:19b; Jl 2:20; Zc 9:8, 14:3).

Depois que o Senhor julgar as potências ocidentais sob o comando da besta e os exércitos do Rei do Norte, Ele restaurará a nação de Israel. Este será um remanescente de todas as doze tribos, e ocorrerá em duas fases:

O Senhor Se mostrará ao remanescente dos judeus (as duas tribos) que se lamentarão em arrependimento, motivo pelo qual serão restaurados a Ele (Mt 24:30, Zc 12:9-13:1).

O Senhor reunirá as dez tribos de volta à terra de Israel e restaurará um remanescente deles para Si mesmo (Mt 24:31; Ez 11:9-10, 20:34-38; Zc 13:4-6).

Então, quando um remanescente de todas as doze tribos de Israel estiver morando em segurança na sua terra sob a proteção do Senhor, será atacado pela última confederação das nações dos gentios sob Gogue – Rússia e seus confederados (Ez 38-39). Naquele tempo, o Senhor defenderá Israel destes exércitos rugindo desde Sião para destrui-los no que se chama "juízo da vindima" (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:12-14). O Senhor irá de Jerusalém para a terra de Edom (as terras da Transjordânia, ao sudeste de Israel) para destruir os exércitos confederados de Gogue que serão reunidos lá (Is 34:1-10, 63:1-6; Hc 3:3-16). Depois disso, os exércitos do Israel restaurado sairão e possuirão sua inteira herança prometida a Abraão, expulsando quaisquer pessoas que restarem em sua legítima herança (Sl 47:3, 108:7-13; Is 11:14; Jr 51:20-23; Ez 39:10; Ob 17-20; Mq 4:13, 5:8). Isso marcará o fim de todas as guerras e o fim da Indignação (Sl 46:9; Zc 9:10). Depois disso, o Milênio (o reinado de mil anos de Cristo) começará.

Daniel 11:36 indica quando "a Indignação" começará. O profeta afirma que o voluntarioso rei dos judeus (o seu falso messias – o anticristo) reinará "até que se cumpra a indignação" (ATB).

Outras passagens das Escrituras indicam que ele reinará na terra de Israel como o rei dos judeus até o momento em que o Rei do Norte ataque, momento em que ele fugirá de seu posto (Is 22:19; Zc 11:17). Apocalipse 13:5 indica que a besta e o anticristo continuarão em seus papéis por 42 meses (três anos e meio), que é a segunda metade da semana profética de Daniel (Dn 9:27), o período da Grande Tribulação (Ap 11:2). Juntando essas coisas, aprendemos que a Indignação começa no fim da Grande Tribulação, com o ataque do Rei do Norte. Isaías 10:25 nos diz quando "a Indignação" terminará. O profeta indica que acabará quando o Senhor julgar Gogue e sua confederação – visto em Isaías como o segundo ataque Assírio (Is 10:26-34).

Isso significa que a indignação durará apenas 75 dias. Isso pode ser calculado a partir de três versos em Daniel 12. Esses versículos indicam três extensões para a septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27) – cada uma se estendendo a partir do meio da semana (Dn 12:11; Mt 24:15). Essas datas marcam três etapas da libertação de Israel.

Aos 1.260 dias ou "um tempo, de tempos e metade de um tempo" (Daniel 12:7; Apocalipse 11:3, 12:6, 14), o remanescente dos judeus é libertado do anticristo.

Em "mil duzentos e noventa dias" (1.290 dias) (Daniel 12:11), o remanescente dos judeus é libertado do Rei do Norte.

Em "mil trezentos e trinta e cinco dias" (1.335 dias) o remanescente de todas as doze tribos de Israel é libertado de Gogue (Daniel 12:12).

Assim, os 75 dias (2 meses e meio) da Indignação é o período desde 1.260 dias até 1.335 dias. Isso mostra que a libertação de Israel não ocorrerá em um dia.

INFERNO

"Inferno" ("Ghenna" no grego) é a morada eterna dos condenados (Mt 5:22, 29, 30, 10:28, 18:9, 23:15, 33; Mc 9:43, 45, 47; Lc 12:5; Tg 3:6). É onde os perdidos serão punidos eternamente por seus pecados. Todas as pessoas que tiverem seu fim no inferno serão colocadas vivas lá, e assim sofrerão nesse lugar, não apenas em suas almas e espíritos, mas também em seus corpos (Mt 10:28; Mc 9:43-47). Isso é diferente dos "tormentos" dos perdidos no estado intermediário no Hades (Lc 16:23), onde o sofrimento é na alma e no espírito, mas não no corpo. (Lc 16:23-24 menciona o perdido no Hades como tendo olhos e uma língua – que são partes do corpo humano – mas o Senhor se referia a eles simbolicamente. Ele não poderia estar falando literalmente de seus corpos, porque seus corpos estavam no túmulo). (Veja: Hades.)

O "lago de fogo" simboliza o inferno, o lugar eterno dos condenados (Ap 19:20, 20:13-15). Não é um lago literal ardendo em fogo. "Fogo", na Escritura, é um símbolo de julgamento. Um "lago" é um lugar de confinamento, onde as águas de vários riachos e rios são ajuntadas. Portanto, o lago de fogo é um lugar de confinamento sob o julgamento de Deus. É onde os perdidos pagam o preço pelos seus pecados em "tormento eterno" (Mt 25:46). O sofrimento nesse lugar horrível será justo e "segundo as suas obras" (Ap 20:13). O grau de luz que os homens tiveram de Deus terá uma parte na determinação do seu efetivo julgamento, e assim o sofrimento dos perdidos no inferno será graduado (Lc 12:47-48). Deus, sendo justo e reto, não permitirá que ninguém sofra ali por algo que não tenha feito. Uma vez que "o Juiz de toda a Terra" apenas fará o que é certo (Gn 18:25; Hb 12:23), Ele não permitirá que crianças ou pessoas com deficiências mentais acabem indo para o inferno – não são responsáveis por seus pecados (Mt 18:10).

Contrariamente ao ensino popular e convencional, nenhum homem ou o diabo está no inferno hoje. Ele foi "preparado para o diabo e seus anjos", mas agora não há ninguém lá (Mt 25:41). Embora tenha sido preparado especificamente para o diabo, é triste dizer que todos os que seguem o diabo terão seu fim lá. O diabo será uma das últimas criaturas a ser colocada lá no final dos tempos (Ap 20:10).

Há pelo menos quatro grupos diferentes de pessoas que serão lançadas no inferno, em quatro ocasiões diferentes:

Em primeiro lugar, na Aparição de Cristo, que ocorrerá após a Grande Tribulação, os "anjos" de Deus irão por todo o "reino dos céus" – a esfera na Terra que professou o domínio dos céus (Cristandade) e lançarão todos os incrédulos no inferno, o lago de fogo (Mt 13:41-42, 22:13, 24:36-41, 25:30). Essas pessoas serão apenas crentes professos que abandonaram sua professada fé em Deus (apóstatas, ateus, etc.). O trabalho dos anjos naquele tempo será o de purificar o reino dos céus da mistura de crentes e incrédulos que existiu durante séculos. Aqueles que creram no evangelho do reino, que será pregado no período da Tribulação, e aqueles que não mostraram hostilidade contra ele, serão deixados na Terra para entrar no reino milenar de Cristo. Aqueles que os anjos lançarem no inferno nesse momento serão as pessoas mais responsáveis do mundo, pois tiveram maior grau de luz de Deus – rejeitaram o evangelho de Sua graça tendo o conhecimento dele (Lc 12:47-48). Eles não morrerão, mas serão lançados vivos no inferno. As primeiras pessoas nesse grupo serão a besta e o anticristo (Ap 19:20). Esse será o julgamento dos vivos dentro da terra profética.

(Os soldados dos exércitos que atacam a terra de Israel depois de o Senhor aparecer serão mortos nos julgamentos do Senhor – Jr 25:33; Ez 39:11-12. Esses não serão lançados no lago de fogo naquele momento, mas tendo sido mortos, suas almas e espíritos sofrerão no Hades. Eles serão ressuscitados mais tarde no "grande trono branco" e, então, serão lançados no inferno. Além disso, aqueles que são julgados todas as manhãs durante o reino milenar de Cristo por fazerem o mal, também morrerão e serão ressuscitados no julgamento do "grande trono branco" (Sl 101:8; Zc 5:1-4 – "desarraigar" refere-se à morte).

Em segundo lugar, depois de executados os severos julgamentos do Senhor que cairão sobre os exércitos que se reunirem para O combater na Sua Aparição, o Senhor estabelecerá "o trono da Sua glória" na Terra e executará um julgamento das nações que estão além da terra profética (Mt 25:31-46). O Senhor terá Seus "santos anjos" com Ele e agirão como Seus executores nesse julgamento sobre as nações que mostraram hostilidade aos mensageiros do evangelho do reino. Os indivíduos dessas nações serão enviados direto para "fogo eterno" (inferno) sem morrer.

Em terceiro lugar, depois que o Milênio tiver finalizado seu curso de mil anos, Satanás será solto do abismo e lhe será permitido enganar os incrédulos. Estes são aqueles que terão uma "obediência fingida" durante o Milênio (Sl 18:44, etc.). O diabo os conduzirá em um ataque total contra a cidade santa, Jerusalém, mas o Senhor intervirá em julgamento e lançará Satanás, seus anjos, e aqueles homens incrédulos vivos no inferno, o lago de fogo (Ap 20:7-10).

Em quarto lugar, a segunda ressurreição, que é a "ressurreição da condenação" (Jo 5:29; At 24:15; Ap 20:5), ocorrerá na mesma época (Ap 20:11-15). Os incrédulos que morreram em seus pecados ao longo de todo o período de tempo, que estão atualmente em "tormentos" no Hades (Lc 16:23), ressuscitarão diante do "grande trono branco" e serão julgados de acordo com seus pecados. Esses também serão lançados vivos no inferno, o lago de fogo (Ap 20:11-15).

ISRAEL DE DEUS, O

Esse terno refere-se aos crentes no Senhor Jesus Cristo que foram salvos para fora da nação de Israel (Gl 6:16; At 26:17 – "Livrando-te deste povo"). Eles são "um resto, segundo a eleição da graça" daquela nação (Rm 11:5) e agora fazem parte da Igreja de Deus.

JULGAMENTO

A Escritura fala de pelo menos doze julgamentos diferentes:

  1. Julgamento do pecado e dos pecados

Esse é o maior de todos os julgamentos nas Escrituras. Tem a ver com o que Deus realizou para Sua própria glória e para a bênção do homem, por meio do sacrifício de Cristo na cruz. Como o Portador do pecado, Ele levou o juízo de todo o contágio do pecado na criação (Hb 2:9, 9:26; Rm 8:3). Isso não significa que todos os homens são libertados do julgamento de seus pecados e são salvos, mas que, pela obra de Cristo na cruz, a salvação dos homens é agora possível, porque a "propiciação" foi feita "pelos (pecados) de todo o mundo" (1 Jo 2:2).

  1. Julgamento próprio

Isso tem a ver com o crente não se poupando, mas julgando todo mau pensamento, palavras vãs e más ações em sua vida, de modo a manter uma boa consciência e assim poder desfrutar a comunhão ininterrupta com Deus (1 Co 11:31a). A circuncisão de Israel em Gilgal é uma figura disso – tipificando o corte (julgamento) da atividade da carne em nossas vidas (Js 5). Quando eles vieram daquele lugar, foram vitoriosos sobre seus inimigos (Js 10:7, 43, etc.), mas quando eles negligenciaram ir a Gilgal antes de encontrar seus inimigos, eles foram derrotados (Js 7:1-5).

  1. Julgamento governamental

Esse tipo de julgamento tem a ver com a maneira atual de Deus tratar o Seu povo que deliberadamente se desvia d�Ele (1 Co 11:32; 1 Pe 1:17, 3:12b, 4:17). A extensão dessa ação governamental ocorre apenas durante seu tempo na Terra; não tem nada a ver com seu destino eterno. Não envolve apenas aos crentes, mas diz respeito a todos os que estão na casa de Deus – incluindo os crentes meramente professos e aqueles que estão fora da casa. Em relação aos crentes, poderia ser chamado de "o governo do Pai" (1 Pe 1:17), e, em conexão com os incrédulos, poderia ser chamado de "o governo de Deus" (2 Pe 3).

O julgamento governamental pode ser sentido na vida de uma pessoa por Deus providencialmente permitir que certas coisas negativas aconteçam a alguém para que esta pessoa colha o que semeou (Gl 6:7-8). Como o Senhor tem "todo poder" no céu e na Terra (Mt 28:18), Ele pode tocar em nossas vidas de várias maneiras, se assim Ele o quiser. Para o crente, esse tipo de julgamento tem como objetivo chamar sua atenção e levá-lo a julgar o que quer que seja que o Senhor trate em sua vida que esteja inconsistente com a Sua santidade. Mesmo depois de termos tratado coisas que não estão corretas em nossas vidas, o Senhor pode ainda nos deixar continuar sob os efeitos de Seu julgamento governamental para nos manter humildes e dependentes (2 Sm 12:10).

  1. Julgamento administrativo na Assembleia

Uma assembleia, que seja conforme as Escrituras, exercerá disciplina quando necessário. A assembleia é responsável por manter a santidade e ordem na casa de Deus e deve lidar com os problemas antes que saiam de seu controle. Se a assembleia puder corrigir o curso que uma pessoa está seguindo antes de chegar ao ponto em que deva afastá-la da sua comunhão, terá feito um bom trabalho e libertado tal pessoa de muitos problemas e tristezas em sua vida (Tg 5:19-20). Isso mostra que a maior parte de toda a disciplina da Igreja deve ser exercida em relação a uma pessoa quando ela ainda está em comunhão.

Existem três áreas principais de preocupação em que uma pessoa pode falhar e um julgamento administrativo de excomunhão pode ser necessário. Os seguintes cenários dão o procedimento geral. Isso não pode ser considerado regra e tratado como se estivéssemos consultando um manual. Cada caso deve ser tratado na sua própria importância e com discernimento espiritual (Gl 6:1)

a) Uma pessoa mundana – (falha em seu andar)

Isso se aplicaria a uma grande variedade de desordens morais (1 Co 5:11, etc.). Aqueles que têm o cuidado do rebanho em seus corações devem tentar "restaurar" uma pessoa surpreendido em uma falha (Gl 6:1; Jo 13:14). Eles procurarão alcançar a consciência da pessoa de forma gentil e atenciosa num esforço de afastá-la do curso em que possa estar. Se isso não a alcançar, o próximo passo será "avisá-la" com uma repreensão privada (1 Ts 5:14). Se a pessoa persiste em seu curso, mas não está em algum pecado em particular que exija a excomunhão, aqueles que têm o cuidado podem encorajar os santos a se "apartar" da pessoa num esforço para alcançá-lo (2 Ts 3:6-15). Se um determinado pecado que requer excomunhão se tornar manifesto, a assembleia deve então agir executando um julgamento de ligação para "tirar" essa pessoa (Mt 18:18-20; 1 Co 5:4, 11-13).

b) Uma pessoa heterodoxa (falha em sua doutrina)

Se uma pessoa adota uma doutrina errônea, aqueles que têm o cuidado devem "adverti-lo" a não ensinar nenhuma outra doutrina além do que é ortodoxo (1 Tm 1:3). Se ele insiste em propor suas ideias errôneas, a assembleia é responsável por "julgar" seus ensinamentos, pedindo que ele cesse e desista de ministrar nas reuniões (1 Co 14:29). Se as doutrinas da pessoa são de natureza blasfema, tocando a Pessoa e a obra de Cristo, a assembleia deve excomungá-lo, porque seus ensinamentos contaminarão os outros (Gl 5:9). O apóstolo Paulo fez isso com Himeneu e Alexandre, entregando-os a Satanás para que fossem "ensinados por disciplina a não blasfemar" (1 Tm 1:20 – JND). A assembleia não pode entregar alguém diretamente a Satanás como um apóstolo poderia fazer, mas pode colocá-lo fora de sua comunhão, onde Deus julga.

c) Uma pessoa divisiva – (herética em seu espírito)

Isto tem a ver com uma pessoa que cria uma separação na assembleia, tendo um espírito de partidarismo em alguma questão. É um mal eclesiástico e o mais difícil de todos os males de se detectar e de se lidar. Uma vez que isso prejudica a unidade da assembleia, ele precisa ser detido. Em primeiro lugar, os irmãos devem se "desviar" daqueles que causam tais divisões (Rm 16:17-18). Isso não está falando daqueles que seguem em divisões, mas daqueles que as "causam" – os instigadores dela. Uma repreensão pública é apropriada quando alguém divide os santos de alguma forma (Gl 2:12-14; 1 Tm 5:19-20). Se a pessoa continua a forçar suas questões e dividir o rebanho, a assembleia tem motivos para excomungá-lo. Semear discórdia entre os irmãos é uma "abominação" (Pv 6:16-19), uma obra da carne (Gl 5:20), e pessoas que assim dividem os santos devem ser excomungadas. (Veja: Heresia) Existem três razões principais porque a assembleia deve executar julgamentos administrativos.

Em primeiro lugar, a assembleia é responsável por não permitir que o nome do Senhor seja associado ao mal diante do mundo (2 Co 7:11).

Em segundo lugar, a santidade na assembleia deve ser mantida para que seja conservada como um lugar adequado para a presença santa de Deus (Ef 2:22; Sl 93:5) e impedir que o caráter de fermento do pecado afete a outros (1 Co 5:6-8; Gl 5:9-12).

Em terceiro lugar, é realizada com o objetivo de corrigir e restaurar o ofensor. Ele é colocado fora e não devemos nos socializar com ele (1 Co 5:11), para que ele possa ser levado ao arrependimento e ser restaurado ao Senhor. Quando a pessoa está arrependida, a assembleia deve recebê-la de volta à comunhão (2 Co 2:6-8). Esse desligamento de uma decisão de ligação é também uma ação administrativa da assembleia (Mt 18:18).

  1. Julgamento das obras do crente

Esse julgamento está relacionado aos crentes e ocorrerá no céu após o Arrebatamento, no "Tribunal de Cristo" (Rm 14:10-11; 2 Co 5:10). O propósito disso não é determinar se a pessoa que está sendo examinada é apta para o céu – o que foi estabelecido pela sua fé no que Cristo realizou na cruz (Jo 5:24; Rm 8:1) – mas para encontrar coisas em sua vida que foram feitas para o Senhor e para recompensá-lo devidamente. Alguns Cristãos veem o tribunal de Cristo com tremor, mas não temos nada a temer porque não será um julgamento de nossos pecados no sentido penal.

Não é a pessoa que está sendo julgada no tribunal de Cristo, mas suas obras. O aspecto do julgamento de Cristo com os crentes é como o de um juiz em uma mostra de arte, não como juiz em um tribunal. Sabemos disso "para que no dia do juízo tenhamos confiança" (1 Jo 4:17).

Alguns têm pensado que essa revisão diz respeito apenas aos nossos pecados depois de termos sido salvos. Mas isso não é o que as Escrituras ensinam. Ela diz: "o que tiver feito por meio do corpo" (2 Co 5:10). Para enfatizar esse ponto, C. H. Brown perguntou retoricamente: "Você estava em seu corpo antes de ser salvo? Sim, você estava; então será uma manifestação de toda a sua vida". E. Dennett disse: "A totalidade de nossa vida, o significado de cada ato, seus motivos assim como seus objetivos, serão tornados claros para nós – claros quanto à fonte de todos eles, se nossas atividades surgiram da energia da carne ou se foram produzidas pelo Espírito de Deus" (Christ the Morning Star, pág. 37).

Cada vez que o tribunal de Cristo é mencionado no Novo Testamento, ele é visto de uma perspectiva diferente. Ao juntar essas referências, aprendemos que o Senhor examinará todos os aspectos das nossas vidas. As áreas de revisão são:

Nossos caminhos (2 Co 5:9-10).

Nossas palavras (Mt 12:36).

Nossas maneiras de servir (1 Co 3:12-15).

Nossos pensamentos e motivos (1 Co 4:3-5).

Nossos exercícios pessoais em relação a questões de consciência (Rm 14:10-12).

Há dois motivos principais para o tribunal de Cristo: um tem a ver com efeitos futuros e o outro com efeitos presentes.

Quanto aos efeitos futuros do tribunal, o grande resultado da revisão será o aumento do louvor eterno de Deus e Seu Filho! Isso será realizado de três maneiras: a) O Senhor magnificará a graça de Deus diante de nossos olhos, porque nossa apreciação, por aquilo que Ele fez para nos salvar será aprofundada significativamente em nossas almas. Isso exigirá a revisão de nossas vidas inteiras, onde veremos nossos pecados à luz de um Deus infinitamente santo. J. N. Darby disse: "Naquele dia, aprenderemos a verdadeira maldade de nossa carne". Nós perceberemos que nossa dívida era muito maior do que pensávamos. Então, o Senhor nos mostrará a grandeza de Sua graça que suplantou a tudo e tirou nossos pecados sobre um justo fundamento que custou a Cristo as agonias da cruz. Veremos com maior profundidade do que nunca, que "onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Rm 5:20). Como resultado, uma clamorosa erupção de louvores reverberará dos redimidos.

b) Ao rever nossas vidas, o Senhor revelará a sabedoria de Seus caminhos para conosco na Terra. Ele nos levará através dos "porquês" e os "para quê" em nossas vidas, passo a passo, e nos mostrará que Ele não cometeu nenhum erro no que permitiu que acontecesse. Naquele dia, Ele irá responder a todas as nossas perguntas difíceis sobre essas coisas. Quando olhamos nossas vidas agora, pode parecer uma confusão emaranhada, mas naquele dia conheceremos o significado e a razão de tudo – tudo terá o perfeito sentido (Rm 8:28). Ele vai nos mostrar que havia "necessidade de ser" para tudo (1 Pe 1:6). Conheceremos de maneira mais profunda a verdade do Salmo 18:30: "O caminho de Deus é perfeito". E nós O louvaremos por isso.

c) O Senhor usará a ocasião para determinar nossas recompensas no reino. Naquele dia, Ele encontrará algo para recompensar na vida de cada Cristão (1 Co 4:5; Mt 25:21). Ele não perderá nem a menor coisa que tenha sido feita pelo Seu nome, e nos recompensará por isso (Mt 10:42). Quando virmos as recompensas que Ele nos dará – muitas das quais serão para coisas que teremos esquecido – haverá um fluxo ainda maior de louvores que se derramarão de nossos corações para Ele.

Quanto ao efeito presente do tribunal, uma percepção consciente do que isto envolve, motiva o Cristão a servir o Senhor agora, enquanto há oportunidade. Sabendo que tudo o que fazemos por Ele agora será recompensado e que há pessoas que estarão diante do tribunal de Cristo em seus pecados para serem sentenciados a uma eternidade perdida no inferno (se eles não se salvarem), deveria nos motivar a ocupar-nos no Seu serviço e "persuadir os homens" a se "reconciliar com Deus" (2 Co 5:11, 20).

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Alguns têm imaginado se a revisão ante o tribunal será uma manifestação pública de nossas vidas diante de todos os santos no céu, ou um assunto privado. J. N. Darby foi convidado a responder a esta pergunta no Bible Treasury (W. Kelly - editor). Pergunta: "2 Co 5:10 – A manifestação será diante dos irmãos ou diante do Senhor somente?" Resposta: "Não encontro nada na Escritura que fale de manifestação para irmãos…" (Bible Treasury, vol. 1, pág. 243; Collected Writings, vol. 13, pág. 359).

W. Scott disse: "Todos sairão do tribunal como um assunto entre cada um e Deus. Não será uma exposição pública diante dos outros" (Exposition of the Revelation, pág. 399).

E. Dennett disse: "O tribunal de Cristo… Tudo isso nos será manifestado naquela oportunidade na paciente graça de nosso bendito Senhor, para nós individualmente, não necessariamente para os outros em público" (Christ the Morning Star, págs. 36-37).

H. D. R. Jameson disse: "�Devemos todos comparecer (ou, como deveria ser lido, ser manifestados) diante do tribunal de Cristo�. Note-se, no entanto, que a palavra é �manifestados�, não �julgados�, pois nenhum santo jamais entrará em julgamento (Veja Jo 5:24)… embora nossa manifestação leve tudo à vista (não publicamente, eu julgo, mas como entre o indivíduo e o Senhor)" (Scripture Truth, vol. 1, págs. 317-318).

H. D�A. Champney disse: "Embora seja o tribunal de Cristo, Ele não nos julgará como se fossemos criminosos, mas sim manifestará todos os nossos atos e caminhos… Não creio que Ele nos exporá diante de outros, porém para nós mesmos, e isso também para magnificar Sua graça e amor que nunca nos desamparou" (Wonderful PrivilegesThe Bride of Christ, pág. 10).

F.B. Hole disse: "Ele os conduziu à parte privadamente. Assim será com todos nós quando nos achegarmos a Ele em Sua vinda. Isso significará ser manifestado diante de Seu tribunal, e será na privacidade e no descanso de Sua presença" (The Gospels and Acts, pág. 162).

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Os "todos", em 2 Coríntios 5:10, inclui todos os homens. Isso significa que o tribunal de Cristo realmente se estende até ao julgamento dos incrédulos no Grande Trono Branco. Embora o caráter do julgamento seja completamente diferente. H.D.R. Jameson disse: "Quanto às palavras �todos�, é evidente a partir do contexto que o pensamento do apóstolo inclui a apresentação de todos os homens diante do tribunal (o �todos� no verso 10 alcança seu escopo no pleno significado do �todos� do versículo 14), e como foi indicado pelo falecido Sr. Kelly, a construção grega é, portanto, diferente daquela encontrada em tal Escritura como 2 Coríntios 3:18, onde apenas os crentes são incluídos" (Scripture Truth, vol. 1, pág. 318).

  1. Juízo da consumação

Esse é um julgamento que o Senhor executará sobre os judeus apóstatas no final da Grande Tribulação, pouco antes d’Ele aparecer do céu (Is 10:22-23, 28:22; Dn. 9:27b). Uma vez que será antes de Sua Aparição, será feito indiretamente por meio de um instrumento levantado por Deus – o Rei do Norte e sua confederação árabe (Sl 83:1-8; Dn 11:40-42; Jl 2:1-11, etc.). Esses exércitos devastarão a terra de Israel do Norte até ao Sul, matando cerca de dez milhões dos quinze milhões de judeus que terão voltado à sua pátria naqueles dias (Zc 13:8).

  1. Juízo da ceifa

Isso tem a ver com o julgamento do Senhor sobre as nações Cristianizadas no Ocidente (Mt 13:38-42; Ap 14:14-16). Ele será executado quando o Senhor aparecer (Mt 24:27, 30; 2 Ts 1:7-9; Jd 14-15; Ap 1:7, 3:3, 11:15, etc.). Quando o Senhor vier do céu como um Rei Guerreiro, destruirá os exércitos da besta e lançará o seu líder (com o anticristo) no lago de fogo (Ap 16:13-15, 19:11-21). Naquele tempo, o Senhor "enviará Seus anjos" para expurgar "o reino dos céus" (isto é, a Cristandade) de incrédulos. Esses serão crentes meramente professos e que abandonaram a fé em Deus – apóstatas, ateus, etc. Todos esses serão lançados diretamente no lago de fogo, sem ver a morte (Mt 13:40-42, 49, 24:39-4). É chamado o julgamento da "ceifa" porque é um trabalho discriminatório de separar o "joio" (o ímpio) de entre o "trigo" (o justo). Os ímpios serão retirados em juízo e os justos viverão no reino milenar de Cristo. Isso é o contrário do que acontecerá no Arrebatamento. No Arrebatamento, o Senhor tira os crentes da Terra (1 Ts 1:10, 4:15-18) e deixa os incrédulos para entrarem no período da tribulação (Mt 25:10-12).

  1. Julgamento do lagar (Vindima)

Depois que o Senhor retorna (Sua Aparição) e destrói os exércitos do Ocidente e os exércitos do Rei do Norte, Ele irá restaurar um remanescente de todas as doze tribos de Israel para Si mesmo. Então, enquanto Israel recém-restaurado estiver habitando com segurança em sua terra sob a proteção do Senhor, uma confederação final dos exércitos gentios sob Gogue (Rússia) fará um ataque contra eles (Ez 38-39). O Senhor defenderá Israel desses exércitos rugindo de Sião para destrui-los. Esse é o julgamento do "Lagar" (Vindima) (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:12-14). É chamado de "o lagar" porque, como as uvas em um lagar são esmagadas indiscriminadamente, assim será o julgamento dos pecadores nesta enorme confederação. Esse julgamento contrasta com o julgamento da ceifa no qual alguns são selecionados para julgamento e outros não. O Senhor sairá de Jerusalém para a terra de Edom (uma terra transjordaniana a cerca de 320 quilômetros a sudeste de Israel – Ap 14:20) e destruirá o longo comboio de exércitos confederados de Gogue que se reunirão lá (Is 34:1-10, 63:1-6; Hc 3:3-16). Esse julgamento marcará o fim de todas as guerras (Sl 46:9; Zc 9:10).

  1. Julgamento em sessão

Após os juízos marciais do Senhor terem terminado (a Ceifa e o Lagar), Ele conduzirá uma sessão de julgamento em conexão com o remanescente das nações gentias que estão situadas fora da terra profética (Mt 25:31-46). Uma vez que todos os poderes hostis terão sido subjugados pelos anteriores juízos marciais do Senhor, esse será um julgamento pacífico diante do "trono da Sua glória". Esse trono não está no céu, mas na Terra. Não é o julgamento dos mortos, como é o julgamento do "grande trono branco" (Ap 20:11-15), mas sim um julgamento de pessoas vivas entre as nações remotas do mundo. O critério pelo qual as pessoas dessas nações são julgadas é simplesmente se elas foram ou não hostis aos mensageiros do evangelho do reino ("Meus irmãos") – não se elas pessoalmente acreditaram na mensagem. Aqueles que foram hostis em relação aos mensageiros do Senhor e rejeitaram sua mensagem serão julgados como uma nação "bode", e os indivíduos culpados daquela nação serão lançados no lago de fogo pelos anjos que serão os executores deste julgamento (Mt 25:31).

  1. Julgamento milenar

Quando Cristo estabelecer Seu reino milenar, Ele "reinará com justiça" (Is 32:1, 61:11). O mundo inteiro será obrigado a viver em justiça no que o Senhor chamou de "a regeneração" (Mt 19:28), e aqueles que optarem por fazer de outra forma serão mortos (providencialmente) por um julgamento do Senhor. Na manhã do dia seguinte, o ofensor cairá morto! (Sl 34:12-16, 101:5-8; Sf 3:5; Zc 5:1-4)

  1. Julgamento dos anjos (Maus)

Após o Milênio, no fim do tempo, haverá o julgamento dos anjos maus (1 Co 6:3), e eles serão lançados no lago de fogo com o diabo (Mt 25:41). Os santos glorificados estarão envolvidos na avaliação desse julgamento. O julgamento determinará o grau de punição atribuído a cada anjo caído. Os anjos bons ou "eleitos" (1 Tm 5:21) não fazem parte deste julgamento; eles não precisam ser julgados.

  1. Julgamento do grande trono branco

Esse julgamento também ocorrerá no final do Milênio, quando o tempo tiver cessado. Ele trata dos mortos ímpios. Todos os que morreram em seus pecados sem fé, desde o início até o fim do tempo serão julgados pelo Senhor em Seu "grande trono branco" (Is 24:22, Ap 20:11-15). Os mortos ímpios serão ressuscitados naquele momento e serão sentenciados pelos pecados que cometeram (Ap 20:13). Eles serão lançados no lago de fogo (inferno) e punidos lá eternamente (Mt 25:46). O seu julgamento será "segundo as suas obras". Isto significa que alguns no inferno sofrerão mais, e outros menos, porque todos têm uma quantidade diferente de pecados e um grau diferente de responsabilidade (Lc 12:47-48). Deus não permitirá que ninguém sofra na eternidade por algo que não fez. Não haverá crianças ou pessoas com deficiências mentais punidas nesse julgamento (Mt 18:10); Deus não responsabiliza pessoas por suas ações se não forem mentalmente capazes. Os "grandes e pequenos" que serão julgados naquela época não são crianças e adultos, mas pequenos pecadores e pecadores proeminentes deste mundo que morreram em seus pecados.

JUSTIÇA DE DEUS, A

Ela tem a ver em como Deus é capaz de salvar os pecadores sem comprometer o que Ele é em Si mesmo. "A justiça de Deus" diz respeito à ação de Deus em amor para salvar os pecadores, mas, ao mesmo tempo, não comprometendo o que Ele é como Deus santo e justo (Rm 3:21).

O pecado do homem aparentemente colocou Deus em um dilema. Como "Deus é amor" (1 Jo 4:9), Sua própria natureza invoca a bênção do homem, pois Ele ama a todos (Jo 3:16). Mas, ao mesmo tempo, "Deus é luz" (1 Jo 1:5), e assim Sua santa natureza exige que, com justiça, o homem seja julgado pelos seus pecados (Hb 2:2). Se Deus agisse de acordo com o Seu coração de amor e trouxesse os homens à bênção sem tratar com seus pecados, Ele deixaria de ser santo e justo. Por outro lado, se Deus agisse de acordo com a Sua natureza santa e julgasse os homens de acordo com as reivindicações da justiça divina, todos os homens seriam justamente enviados para o inferno, e nenhum seria salvo – e o amor de Deus permaneceria desconhecido. Como Deus então pode salvar os homens e ainda permanecer justo? O evangelho anuncia isso. Ele declara a justiça de Deus e revela a boa notícia de que Ele encontrou um modo de satisfazer Suas santas reivindicações contra o pecado e, assim, conseguir alcançar em amor os pecadores que creem para a salvação. Assim, Deus é apresentado no evangelho como sendo "Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3:26).

Muitos Cristãos têm a ideia de que a justiça de Deus é algo que é transmitido, ou colocado sobre ou dado ao crente. No entanto, a Escritura não a apresenta dessa maneira. Simplificando, a justiça de Deus se refere a um ato de Deus, não algo que Ele transmite aos homens quando creem. Se Deus nos desse Sua justiça quando fossemos salvos, então Ele ficaria sem ela! W. Scott disse: "É a justiça de Deus, não a do homem. Deus não pode imputar aquilo que é inerente a Si mesmo em seus tratos com os homens" (Unscriptural Phraseology, pág. 10). É verdade que Deus a tem dado (Rm 5:17), mas isso é no sentido de tê-la garantido ou providenciado para a humanidade, em Cristo, o Homem ressuscitado e glorificado. Assim, Cristo "para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça" (1 Co 1:30), e nós "para que n’Ele fôssemos feitos justiça de Deus" para testemunho ao mundo (2 Co 5:21). Mas a justiça de Deus não é algo que foi enviado do céu e colocado sobre o crente, como alguns pensam.

W. Scott também disse: "Não se trata de colocar uma quantidade de justiça dentro ou sobre um homem" (Doctrinal Summaries, pág. 15).

J. N. Darby observou: "O reconhecimento do homem como sendo justo é a sua posição diante de Deus, e não a quantidade de justiça transferida a ele" (Collected Writings, vol. 23, pág. 254).

F. B. Hole disse algo semelhante: "Não devemos ler essas palavras [�a justiça de Deus�] com uma ideia comercial em nossas mentes, como se quisessem dizer que chegamos a Deus trazendo uma porção de fé para a qual recebemos em troca o equivalente em justiça, assim como um comerciante troca bens por dinheiro" (Outlines of Truth, pág. 5).

Algumas traduções modernas, infelizmente, dizem: "justiça que vem de Deus" (Rm 1:17, 3:21, 3:22, 10:3, Fl 3:9). Estas são traduções incorretas que fazem com que as pessoas pensem que é algo que Deus transmite ou dá aos crentes quando creem no evangelho.

A justiça de Deus mostra o que Deus tem feito ao tomar a questão do pecado e resolvê-la para Sua própria glória e para a bênção do homem. Ele enviou Seu Filho para ser aqu’Ele que levaria sobre Si o pecado, e em Sua morte, Deus julgou o pecado de acordo com a Sua santidade. O Senhor Jesus tomou o lugar do crente diante de Deus e levou seus pecados (o julgamento deles) "em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2:24). Sua obra "consumada" na cruz (Jo 19:30) satisfez plenamente as reivindicações da justiça divina e pagou o preço pelos pecados do crente. Assim, Deus não comprometeu o que Ele é como Deus santo e justo ao estender a bênção ao homem. O amor de Deus veio aos homens com a boa notícia de que Ele pode, sobre uma base justa, redimir, perdoar, justificar e reconciliar o pecador que crê.

JUSTIFICAÇÃO

A justificação tem a ver com alguém sendo liberado de todas as acusações de pecado que foram imputadas contra ele, por ser colocado em uma nova posição diante de Deus em Cristo, pela qual ele não é mais visto por Deus como um pecador. A pessoa é "reconhecida" ou "constituída" justa na mente de Deus, e assim sua posição legal no céu é modificada (Rm 4:4-5, 5:19). O Concise Bible Dictionary afirma: "A palavra �justificação� pode ser interpretada como a opinião formada na mente de Deus em relação ao crente, em vista da ordem de coisas onde Cristo é a Cabeça. Essa opinião tem sua expressão em Cristo mesmo, e suas consequências são vistas em Romanos 5" (pág. 446).

Há duas partes da justificação – uma negativa e outra positiva:

O lado negativo tem a ver com o crente ser limpo "de todas as coisas" – isto é, das acusações de pecado (At 13:39).

O lado positivo tem a ver com o crente ser colocado em uma nova posição diante de Deus ("justificado em Cristo" – Gl 2:17), onde nenhuma outra acusação pode ser trazida contra ele. ("Em Cristo" é um termo técnico usado no ministério de Paulo para indicar que o crente está na posição de Cristo diante de Deus). Assim, o crente não está apenas em uma nova posição, mas está ali em uma condição totalmente nova, tendo uma nova vida que é sem pecado. Isso é chamado de "justificação da vida" (Rm 5:18).

W. Kelly disse: "O tão importante tema da justificação foi agora totalmente tratado, tanto do lado do sangue de Cristo derramado em expiação como o de Sua ressurreição, sendo realizado pela morte no poder de Deus; isto é, tanto negativamente quanto positivamente – suportando todas as consequências de nossos pecados e manifestando o novo estado no qual Ele está diante de Deus" (Notes of the Epistle to the Romans, pág. 56).

J. N. Darby disse: "Há duas partes da justificação – �dos pecados� e �da vida�, a primeira, a limpeza de meu antigo estado; e a segunda, colocando-me numa nova posição diante de Deus" (Collected Writings, vol. 21, pág. 193). Ele também disse: "�Justificação da vida�, esta era uma nova posição do homem, certamente ainda não a glória ou a ressurreição com Cristo e a união com Ele, mas uma nova posição e postura, não era simplesmente a limpeza dos pecados pelos quais um homem era culpado em conexão com sua posição antiga, mas uma nova posição na vida, a justificação da vida" (Collected Writings, vol. 13, pág. 206).

F. B. Hole disse: "A justificação, como é colocada diante de nós na Escritura, implica mais do que a bênção negativa de sermos completa e justamente libertados da condenação [julgamento] sob a qual nós estávamos. Envolve nossa posição perante Deus em Cristo, em uma justiça que é positiva e divina" (The Great Salvation, pág. 14).

O grande resultado de sermos justificados é que Deus já não nos vê como antes (como pecadores), porque agora estamos em uma nova posição diante d’Ele. Isso é ilustrado, em figura, em Números 23. Balaão profetizou a respeito do povo de Deus do ponto de vista de Deus ("do cume das penhas"), tipificando assim o que a obra de Cristo na cruz faria dos Cristãos por meio da justificação (v. 9). Desse ponto de vista, Deus não viu Israel como eles realmente estavam – no deserto, no que diz respeito ao seu estado – em todos os tipos de pecados. Balaão disse: Deus "não viu iniquidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó" (v. 21). O profeta não estava querendo dizer que Deus era cego; ele estava falando sob o poder do Espírito sobre o que Israel era posicionalmente diante de Deus, e tipicamente do que somos posicionalmente diante de Deus por meio da obra consumada de Cristo. Assim, nas epístolas de Paulo, a justificação tem a ver com a posição do crente perante Deus, e não o seu estado. É um ato declaratório de Deus pelo qual um pecador ímpio é "imputado" (considerado) como justo (Rm 4:5).

Existem oito expressões diferentes em relação à justificação na Escritura, cada uma demonstrando um aspecto diferente:

Justificado pela graça – a fonte (Rm 3:24).

Justificado pela fé – os meios de apropriação (Rm 3:28).

Justificado pelo sangue – o preço (Rm 5:9).

Justificação da vida – uma nova condição (Rm 5:18).

Justificado do pecado – uma exoneração honrosa desse senhorio (Rm 6:7).

Justificado por Deus – Aqu’Ele que faz o reconhecimento (Rm 8:33).

Justificado em Cristo – a nova posição de aceitação (Gl 2:17).

Justificado pelas obras – a evidência manifestada na vida do crente de ser considerado justo diante de Deus (Tg 2:21, 24).

Alguns dizem que justificado significa "justo como se nunca tivesse pecado". No entanto, essa definição está muito aquém da verdade da justificação. Se estivesse correta, a justificação colocaria os crentes no terreno da inocência, igual ao de Adão no Jardim do Éden antes de pecar. Adão caiu daquela posição, e isso significa que se nós fôssemos colocados ali, existiria uma possibilidade muito real de que iríamos cair também. Então, seríamos pecadores sob julgamento novamente! Porém a justificação nos coloca em um lugar muito mais elevado do que o da inocência. Como mencionado, nossa posição diante de Deus como justificados é o próprio lugar de aceitação e favor em que Cristo está diante de Deus, porque somos "justificados em Cristo" (Gl 2:17), e estamos lá com uma vida que não pode pecar ("Justificação da vida" – Rm 5:17). Não há possibilidade de o crente cair desse lugar.

LIBERTAÇÃO

A libertação, assim como a salvação, é um assunto muito amplo nas Escrituras, com muitas aplicações. A necessidade de libertação pode resultar de problemas resultantes do pecado externo nos homens que se opõem à verdade (Mt 6:13; 2 Co 1:10; 2 Tm 3:11, 4:17-18, etc.), ou pode ser o resultado do pecado operando dentro do coração do crente (Rm 7:24, 8:2). No entanto, quando se trata do assunto da libertação geralmente se tem em vista um problema resultante do pecado operando dentro do crente. Isso diz respeito à experiência da alma de ser libertada da ação interior da natureza pecaminosa ("a carne" – Rm 7:5, etc.), por meio da qual ela é capaz de viver uma vida santa para a glória de Deus.

Os Cristãos, com as melhores intenções, têm procurado controlar suas naturezas pecaminosas de muitas maneiras – mas isso só lhes têm trazido frustração e decepção. Todos esses esforços humanos são inúteis. Alguns homens aplicaram o ascetismo (flagelando o corpo para manter a carne subjugada), o monasticismo (tentando fugir das tentações da vida isolando-se da sociedade), a introspecção (que só leva à introspecção doentia), a psicologia (estudando o comportamento humano), cultura, etc., mas, como já mencionado, essas coisas sempre resultam em fracasso. Como o endemoninhado de Marcos 5, que não podia ser amansado, a carne no homem não pode ser controlada com recursos humanos.

O que muitos Cristãos não percebem é que a bênção prometida no evangelho não apenas tem a ver com a libertação do castigo eterno pelos seus pecados (Rm 3:21-5:11), mas também inclui a libertação do poder do pecado agindo em suas vidas (Rm 5:12-8:17). Não é a intenção de Deus deixar aqueles que Ele perdoou, justificou, reconciliou e salvou, neste mundo sob o domínio de suas naturezas pecaminosas caídas, e sem o poder de andar em retidão. Portanto, não precisamos procurar por dispositivos e métodos humanos para controlar a carne (os quais não funcionam), mas devemos ir a Deus – Ele tem a solução. Tudo é parte do dom de Sua graça no evangelho.

O assunto da libertação de nossa alma é o que Romanos 5:12-8:17 se ocupa em detalhes. Em primeiro lugar, no capítulo 5:12-21, somos ensinados que os crentes no Senhor Jesus Cristo não estão mais sob a liderança de Adão ou parte daquela raça antiga, no que diz respeito à sua posição diante de Deus. Sendo "feitos justos", os crentes são agora parte de uma nova raça de homens sob a liderança de Cristo, onde a graça reina pela justiça para a vida eterna.

Então, em Romanos 6:1-10, nos é dito como aconteceu para o crente a sua transferência da esfera encabeçada por Adão, para a encabeçada por Cristo. Atuando como nosso Cabeça federal (o que significa que Ele age em prol de todos sobre o Seu domínio), Cristo, ao morrer, Se separou de todo o sistema de pecado encabeçado por Adão. Ao fazer isso, Ele nos separou desse sistema também. Pela nossa identificação com a morte de Cristo, Deus nos vê como "mortos" e, portanto, desconectados da raça de Adão e do princípio do pecado que a domina (v. 7). Além disso, ao ser "ressuscitado dentre os mortos" (ATB), Cristo entrou em uma nova esfera de vida onde Ele "vive para Deus", e essa esfera está agora aberta a todos os que pertencem à Sua nova raça (vs. 8-10). Então, nos versículos 11-12, somos exortados a nos "considerar" ("crer que seja assim") diante de Deus que essas coisas que são verdadeiras em relação a Cristo também são verdadeiras em relação a nós. Assim, por causa de nossa identificação com a morte de Cristo, temos o direito de considerar-nos "mortos para o pecado", mas "vivos para Deus" naquela nova esfera em que Cristo vive para Deus. No capítulo 6:13-14, somos exortados a nos submetermos a Ele e a começarmos a praticar a justiça nessa nova esfera da vida – um ato de cada vez. E, pela repetição de bons hábitos, nos tornamos servos da justiça, porque o pecado já não tem domínio sobre o crente.

No capítulo 6:15-23, somos advertidos de que se escolhermos viver na esfera da vida que pertence à carne, estaremos sob escravidão dos pecados que permitimos. É, portanto, imperativo que vivamos de forma prática na esfera correta da vida em que há uma nova gama de objetos para ocupar nossos corações. Essas coisas são chamadas "as coisas do Espírito" (Rm 8:5) e têm a ver com os interesses de Cristo. São coisas como: ler as Escrituras, orar, assistir às reuniões Cristãs para adoração e ministério, cantar hinos e canções espirituais, ler literatura Cristã, ouvir o ministério gravado, ensinar a verdade, compartilhar o evangelho, a comunhão, meditar em coisas espirituais enquanto vamos cumprindo nossas responsabilidades diárias, servindo ao Senhor com boas obras, fazendo visitas, etc. Quando o crente vive de forma prática nessa nova esfera da vida, e está assim ocupado com Cristo e com os Seus interesses, o poder do Espírito de Deus será sentido em sua vida, mantendo a carne em seu lugar (Rm 8:13). Assim, sobre este princípio de mudança, não será dada oportunidade à carne de agir na vida do crente.

Em um parêntese, no capítulo 7:7-25, Paulo mostra que essa libertação não é realizada por meio do esforço humano, mas olhando para Cristo e sendo ocupado com as coisas que pertencem a Ele. Quando fazemos isso, o Espírito de Deus nos ajudará a viver a vida Cristã normal, a qual está acima dos impulsos da carne. Isso é ilustrado no capítulo 8:1-16.

A grande questão é: em qual esfera vivemos nossas vidas? Ao dizer, "se" em Romanos 8:13, Paulo mostra que a responsabilidade recai sobre o crente. Deus quer que sejamos responsavelmente exercitados a respeito de termos vitória sobre a carne. Temos de tomar uma decisão consciente de viver na correta esfera de vida. Isso se resume a uma simples questão de nossa vontade. Nosso problema é que queremos nos cercar de coisas terrenas, naturais e mundanas, e persegui-las, e ao mesmo tempo esperar ter o benefício da libertação prática do poder do pecado que o Espírito nos dá. Mas não podemos viver na sombra e desfrutar do Sol ao mesmo tempo. Se mimarmos a carne, atrapalharemos o Espírito! (ditado inglês: If we pamper the flesh, we hamper the Spirit!) Não é que precisamos mais do Espírito, pois Deus não dá o Espírito por medida (Jo 3:34). Na verdade, é o contrário – o Espírito precisa ter mais de nós! Se submetermos nossas vidas à Sua liderança, que será sempre seguir a Cristo e Seus interesses, não faltará o poder do Espírito em nossas vidas para manter a carne subjugada e, assim, experimentarmos a libertação.

LIMPEZA (Lavagem)

A Bíblia fala da purificação da alma Cristã de três maneiras:

Limpeza moral.

Limpeza judicial.

Limpeza prática.

  1. Limpeza moral

É efetuada em uma pessoa quando ela nasce de novo. O Espírito de Deus usa a Palavra de Deus (da qual a água é uma figura) para comunicar vida divina à alma, e a pessoa é assim "lavada" ou purificada (Jo 13:10a, 15:3; 1 Co 6:11). Ele "todo limpo está" (Jo 13:10b). Essa é uma limpeza de uma vez por todas, pois a lavagem que ocorre no novo nascimento nunca mais é repetida em alguém. A versão de W. Kelly traduz isso como estar "banhado", significando lavagem de uma vez por todas. Como resultado, há algo novo e limpo na pessoa – uma nova vida com uma nova natureza. Em virtude dessa purificação, ela passa a fazer parte da família de Deus, e, portanto, ela nunca entrará em juízo eterno.

  1. Limpeza judicial

Enquanto a limpeza moral torna alguém um filho na família de Deus, ela não o torna, por si só, um Cristão. Para ter o lugar distinto de ser um Cristão na família de Deus, uma pessoa precisa de mais limpeza – o que é efetuado pelo sangue de Cristo (o símbolo de Sua obra consumada) quando aplicado pela fé ao coração e à consciência. Isso requer que a pessoa tenha entendimento do evangelho da graça de Deus e que receba Cristo como seu Salvador. Esse segundo tipo de limpeza tem a ver com a purificação da consciência, e é o que leva uma pessoa à plena posição Cristã diante de Deus em Cristo, sobre a qual ela é selada com o Espírito Santo (Hb 9:14; Ef 1:13). Assim, um Cristão é aquele que foi "lavado" com água (Jo 13:10a, Hb 10:22) e "lavado" no sangue de Cristo (1 Jo 1:7; Ap 1:5). O Sr. Darby distinguiu estas duas lavagens como: "limpeza moral" e "limpeza judicial" (Collected Writings, vol. 13, págs. 236, 238).

Assim, há dois agentes de limpeza necessários para fazer de uma pessoa um Cristão – água e sangue. A água trata do nosso estado imundo e o sangue trata da nossa culpa – a nossa consciência contaminada. Os santos do Antigo Testamento nasceram de novo, e assim foram limpos pela água da Palavra de Deus, mas eles não tiveram uma limpeza judicial da consciência efetuada pelo sangue, porque Cristo ainda não havia consumado a redenção. Consequentemente, suas consciências não foram purificadas, como as consciências dos Cristãos são (Hb 9:14, 10:2). Isso pode ser notado no fato de que eles viveram com certo grau de temor de que seus pecados fossem conduzidos por Deus a julgamento (Sl 25:11, 18, etc.).

Em João 19:34, o "sangue" é mencionado antes da "água", porque está registrando o fato histórico, enquanto que em 1 João 5:6-8, a água é colocada antes do sangue, porque se refere à ordem de sua aplicação na vida dos homens. Um é o lado de Deus e o outro é o do homem. Diante dos olhos de Deus, o sangue deve vir primeiro. O sangue é necessário para que os homens sejam abençoados. Todas as obras de Deus por Sua Palavra e Seu Espírito, com relação ao novo nascimento, são dependentes e têm em vista o fato de Cristo ter entrado no mundo para pagar o preço pelo pecado – do qual o sangue fala (Hb 9:22). J. A. Trench disse: "Um dos soldados com uma lança perfurou Seu lado, e imediatamente saiu sangue e água" (Jo 19:34). Essa é a ordem histórica, e nela o sangue vem em primeiro lugar, como a base de tudo o que era necessário para a glória de Deus e para nossa bênção. Em relação à aplicação para nós, como João coloca em sua epístola (1 Jo 5:6), a água vem em primeiro lugar: �Este é aquele que veio por água e sangue… e o Espírito é o que testifica�" (Scripture Truth, vol. 1, pág. 22).

  1. Limpeza prática

Há um terceiro tipo de limpeza no Novo Testamento que tem a ver com a água da Palavra de Deus sendo aplicada ao andar e aos caminhos dos crentes (Jo 13:10b, Ef 5:26). Isso tem a ver com a limpeza prática. Devemos deixar que o Espírito de Deus aplique a Palavra de Deus aos nossos corações e consciências em nossa leitura diária das Escrituras, e se Ele traz à luz algo em nossas vidas que é inconsistente com a santidade de Deus, devemos julgar a nós mesmos e tirar tal coisa de nossas vidas, e assim então somos purificados de uma maneira prática. Quando conduzimos nossas vidas de acordo com as direções práticas da vida santa na Palavra de Deus, teremos como resultado a limpeza prática. Enquanto a limpeza moral e judicial é efetuada por Deus em nós de uma vez por todas, a limpeza prática é responsabilidade do Cristão. Ela deve acontecer continuamente na vida de um crente, e, dessa forma, a comunhão com Deus será ininterrupta.

LIVRE-ARBÍTRIO, O

Este termo não é encontrado na Bíblia, mas o que ele transmite certamente é. Significa que o homem foi criado com uma vontade que era livre para escolher as coisas de Deus ou para rejeitá-las.

O que a maioria dos Cristãos evangélicos não entende é que o homem perdeu seu poder de escolha, nas coisas de Deus, quando Adão caiu (Gn 3). O homem tinha o livre-arbítrio antes de sua queda, mas exerceu sua vontade para a sua própria queda. J. N. Darby disse: "O homem estava livre no paraíso e ali estava desfrutando o bem. Mas ele usou seu livre-arbítrio e, consequentemente, tornou-se um pecador" (Letters, vol. 3, pág. 316). A raça humana sob Adão está agora em um estado caído em que o homem é cativo da sua natureza de pecado, e assim, ele não é mais um ser moral livre com livre-arbítrio. Ele está cativo do seu estado pecaminoso e é escravo de seus pecados, e assim, a não ser que Deus, opere a vivificação (novo nascimento), ninguém irá a Cristo para a salvação. O homem na carne pode escolher fazer isto ou aquilo nas escolhas ordinárias da vida diária, mas nas coisas espirituais, ele nunca escolherá a Cristo.

O ensino que afirma que o homem na carne (desde a queda) tem livre-arbítrio indica um mal-entendido da verdadeira condição do homem caído. Ele assume que o homem em seu estado perdido ainda tem algum poder sobre o bem para se voltar para Deus para a salvação, se ele o quiser. No entanto, essa ideia errônea nega a depravação total do homem, da qual a Escritura claramente fala. A Bíblia ensina que o homem em seu estado caído é:

"Fraco", e assim é incapaz de fazer qualquer coisa para ajudar a si mesmo (Rm 5:6).

"Não pode ver" o reino de Deus (Jo 3:3).

"Não pode entrar" no reino de Deus (Jo 3:5).

"Não pode receber" coisas espirituais de Deus (Jo 3:27, 32).

"Não pode ir" a Cristo para a salvação (Jo 6:44, 65).

"Não pode falar" (discernir) a verdade quando ela é apresentada (Jo 8:14).

"Não pode ouvir" a Palavra de Deus quando ela é pregada (Jo 8:43, 47).

"Não pode agradar a Deus" em seu estado caído (Rm 8:8).

Assim, os homens perdidos estão espiritualmente "mortos" em seus pecados e estão sem um único pulso de vida diante de Deus (Ef 2:1, 5; Cl 2:13). Como, então, alguém em tal condição impotente pode ser capaz de escolher Cristo e crer no evangelho quando não há faculdades espirituais funcionando nele para capacitá-lo a responder ao chamado de Deus? É impossível.

J. N. Darby disse: "O homem, visto como ele é, sem um pulso de vida em relação a Deus, está morto em delitos e pecados" (Synopsis on Colossians, pág. 48, Loizeaux Bros. Edition).

P. Wilson disse: "Deus nos disse fielmente que não estamos apenas perdidos e sem qualquer força para fazer algo a respeito, mas que estávamos moralmente mortos – mortos para Deus – que não há um movimento de nossos corações para com Ele" (Christian Truth, vol. 12, pág. 250).

H. Smith disse: "Se estamos mortos, não pode haver nenhum movimento do nosso lado em direção a Deus. O primeiro movimento precisa vir de Deus" (Ephesians, pág. 17).

A. P. Cecil disse: "Antes que um homem nasça de novo, ele é visto por Deus como morto em delitos e pecados. Ele não tem mais movimento para Ele do que um cadáver tem. Você pode falar-lhe sobre Deus, mas ele não ouve, não responde e nem vê. Ele não tem fé nem arrependimento, nem nada mais, até a ação do Espírito, quando é vivificado" (Helps By the Way, vol. 3, NS, pág. 175).

A. H. Rule disse: "O homem está num estado de morte, e se quiser ter vida, Deus precisa agir soberanamente. Deus é Quem começa. O próprio homem é impotente, como era o morto Lázaro, até que a palavra vivificante seja proferida. Humanamente falando, um homem morto não pode ouvir nem crer, nem um homem ou um anjo podem fazê-lo ouvir ou crer, mas Deus Se move na cena da morte e tudo é mudado" (Selected Ministry, vol. 2, pág. 210).

A maioria dos Cristãos afirma que o homem em seus pecados é totalmente depravado e perdido. No entanto, quando é examinada sua doutrina sobre como uma pessoa se chega a Cristo para ser salvo, se verificará que eles realmente acreditam que ainda há algo de bom no homem caído – mesmo que seja apenas uma pequena faísca. Assim, eles acreditam que o homem na carne é capaz de responder ao evangelho, se assim o desejar. O que eles estão dizendo, sem perceber, é que enquanto o homem é mau, ele não é tão ruim assim que não possa fazer algo para garantir sua própria bênção. A verdade é que antes que Deus conceda uma nova vida a uma pessoa, ela só tem uma natureza pecaminosa caída (a carne) em seu interior. Se o homem em seu estado caído escolhe ou decide vir a Cristo, então foi a carne que fez a escolha! Isso, entretanto, nunca acontecerá "pois a mente da carne é inimizade contra Deus; visto que não é sujeita à lei de Deus, nem o pode ser" (Rm 8:7 – ATB). A Escritura afirma claramente que esta ação de Deus num novo nascimento não é "da vontade da carne, nem da vontade do varão" (Jo 1:13). C. Stanley comentou: "Seria um absurdo dizer que a nova natureza foi gerada pelo livre-arbítrio da nossa velha e má natureza" (Things New & Old, vol.33, pág. 29).

A verdade é que a carne não é capaz de responder ao evangelho e ser sujeita a Deus – e nunca será (Rm 8:7). A ideia de que o homem tem livre-arbítrio hoje torna a salvação fruto da própria vontade do homem. É uma doutrina que se tornou sinônimo de Arminianismo. (James Arminius, 1560-1609 d.C., ensinou que todos os homens são pecadores depravados, mas ele não viu que sua depravação era tal que eles não podiam escolher crer no evangelho. Ele ensinou que, embora os homens sejam criaturas caídas, eles ainda são seres morais livres e, portanto, têm o poder de crer no evangelho, se assim o desejarem.)

J. N. Darby disse: "O arminianismo, ou melhor, o pelagianismo, alega que o homem pode escolher e que, assim, o velho homem é melhorado por aquilo que ele aceitou. O primeiro passo é feito sem a graça e é o primeiro passo que realmente importa neste caso. Eu creio que devemos manter-nos na Palavra, mas falando de forma filosófica e moral, o livre-arbítrio é uma teoria falsa e absurda" (Letters, vol.1, págs. 315-316).

Na realidade, desde a queda, o homem não é mais um ser moral livre. Ele é cativo de seu estado pecaminoso e escravo dos pecados que comete (Jo 8:34) e a não ser que Deus opere vivificando (novo nascimento), ninguém irá a Cristo para a salvação. Isso não significa que o homem não é responsável pelo que faz. Ele escolhe cometer seus pecados, e quando os comete, fica escravo deles, mas ele ainda é responsável por tudo o que faz (Mt 12:36, Rm 14:12). Portanto, não tendo uma vontade que seja livre para escolher Cristo, não significa que um homem não é responsável por pecar. J. N. Darby assinalou que se um homem tem uma dívida de R$ 100.000,00 e não pode pagá-la, sua incapacidade de pagar não o absolve de sua responsabilidade na questão.

MESA & A CEIA DO SENHOR, A

A "Mesa do Senhor" (1 Co 10:21) é um termo simbólico que significa o terreno bíblico de comunhão sobre o qual o Senhor reúne os Cristãos em torno de Si. (Não é uma mesa literal sobre a qual os Cristãos colocam os emblemas da Ceia do Senhor no partimento do pão). Uma vez que "mesa", na Escritura, simboliza comunhão, "a Mesa do Senhor" refere-se à comunhão dos Cristãos que o Senhor formou. É uma comunhão onde Ele está no meio daqueles que Ele reuniu para adoração e ministério, e onde Sua autoridade é reconhecida e reverenciada em ações administrativas que ocorrem naquela comunhão. Na verdade, a mesa do Senhor é a única "comunhão" entre os homens à qual os Cristãos são chamados (1 Co 1:9). Todas as outras comunhões que os homens fazem são cismáticas – mesmo que tenham sido formadas com as melhores intenções. (Veja: Reunido ao Nome do Senhor).

Um erro comum é confundir "a Mesa do Senhor" (1 Co 10:21) com "a Ceia do Senhor" (1 Co 11:20, 23-26). Muitas vezes, esses dois termos são usados de forma aleatória, como se não houvesse diferença entre eles, mas isso não é correto. Como mencionado, a Mesa do Senhor é um termo simbólico, enquanto que a Ceia do Senhor é uma ordenança literal que os Cristãos participam quando se lembram do Senhor em Sua morte no partimento do pão.

Algumas diferenças entre essas duas coisas são: se uma pessoa está reunida ao nome do Senhor, ela está na Mesa do Senhor vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, mas apenas toma a Ceia do Senhor em uma hora específica do dia do Senhor, uma vez por semana. Outra diferença é que, em condições normais, uma pessoa deve vir à Mesa do Senhor uma vez em sua vida (quando entra em comunhão com aqueles reunidos ao nome do Senhor), mas ele deve comparecer na Ceia do Senhor muitas vezes – ou seja, semanalmente. Portanto, seria incorreto dizer que vamos à Mesa do Senhor no Dia do Senhor. Seria melhor dizer que vamos participar da Ceia do Senhor naquele dia. Pessoas bem-intencionadas podem dizer coisas como: "o irmão tal se levantou à Mesa do Senhor para agradecer", mas o comentário seria mais preciso se fosse dito que o irmão se levantou na Ceia do Senhor para agradecer.

Quando alguém é recebido em comunhão, ele é recebido à "Mesa do Senhor" onde ele tem o privilégio de tomar a "Ceia do Senhor". Se uma pessoa é "tirada" sob um ato administrativo de julgamento pela assembleia (1 Co 5:13), ela é afastada da Mesa do Senhor, não apenas da Ceia do Senhor. Assim, ela é colocada fora da comunhão dos santos reunidos ao nome do Senhor como um todo, o que inclui o privilégio de partir o pão. Alguns pensam que o comer, mencionado em 1 Coríntios 5:11, refere-se à Ceia do Senhor. Daí eles concluem que não devemos partir o pão com uma pessoa que tenha sido afastada, mas que podemos comer uma refeição comum com ela e, portanto, ter comunhão com ele individualmente. Isso, no entanto, é um erro; comer neste versículo tem a ver com qualquer forma de comer – seja no partimento do pão ou em uma refeição comum em nossas casas. A tradução de J. N. Darby esclarece afirmando que não devemos nos "misturar com ela" socialmente (1 Co 5:11).

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A Ceia do Senhor é mencionada em 1 Coríntios 10 e 11 de duas maneiras. Algumas diferenças nesses dois capítulos são:

Capítulo 10:15-17 é o ato coletivo de partir o pão – diz: "o cálice de bênção que (nós) abençoamos" e "o pão que (nós) partimos", enquanto o capítulo 11:23-26 é o ato individual de partir o pão. Diz: "Fazei (vós) isso …"

No capítulo 10:15-17, o "pão", visto em sua forma inteira, representa o corpo místico de Cristo, enquanto o "pão", no capítulo 11:23-26, representa o corpo físico do Senhor no qual Ele sofreu e morreu.

Capítulo 10:15-17 coloca primeiro o "cálice de bênção", seguido do "pão", porque está falando a respeito do nosso direito de estar à Mesa como crentes redimidos – que é resultado do derramamento de Seu sangue. No capítulo 11:23-26, a ordem é inversa, colocando o partimento do pão primeiro, depois seguido pelo beber do cálice, que é a ordem em que deve ser tomada a Ceia (Lc 22:19-20). Isso ocorre porque tomamos a Ceia em memória d’Ele em Sua morte, e Ele sofreu em Seu corpo primeiro, e então, depois de morrer, Seu sangue foi derramado.

No capítulo 10:16-17, o partimento do pão está em conexão com "a Mesa do Senhor", onde demonstramos a comunhão do corpo de Cristo (v. 21). No capítulo 11:26, no partimento do pão ("Ceia do Senhor"), demostramos a morte de Cristo.

O Capítulo 10:15-22 tem que ver com nossa responsabilidade de manter-nos separados de todas as outras mesas (comunhões), sejam mesas cristãs cismáticas, mesas judaicas ou mesas idólatras, enquanto o capítulo 11:23-32 tem a ver com a nossa responsabilidade de manter a pureza pessoal em nossas vidas.

MILÊNIO, O

Esse é um termo que se encontra na versão da Vulgata Latina em Apocalipse 20:4, mas não aparece em outras versões. Refere-se ao reino de Cristo de mil anos, que começará na Sua Aparição. Os profetas de Israel falam desse reino que o Messias estabeleceria (2 Sm 7:12-16; Sl 72, Dn 2:44, etc.). Eles afirmam que ele duraria "para sempre", o que no Antigo Testamento significa "enquanto durar o tempo", ou "até o fim do tempo". Apocalipse 20 afirma que o reino durará mil anos – vindo daí a palavra "Milênio" (Ap 20:4, 6).

Os profetas de Israel descrevem este reino vindouro como tendo condições ideais inimagináveis. Algumas das características excepcionais são:

O Messias de Israel (o Senhor Jesus Cristo) reinará supremo sobre todo o mundo, não apenas sobre Israel (Sl 47:7; Zc 14:9). As nações dos gentios se ajuntarão e se submeterão a Ele com gozo (Sl 18:43-44; Zc 2:11).

Jerusalém será a capital do mundo e o centro religioso da Terra (Is 2:2, 62:6-7; Sl 48; Ez 5:5; Jr 3:17; Sl 87:1-3).

Haverá um governo universal sobre toda a Terra, pelo qual a "justiça" reinará (Sl 72:1-7; Is 9:6-7, 11:4, 16:5, 32:1, 16-18, 61:11).

A duração desse reino será para sempre, enquanto houver tempo (2 Sm 7:12-16; Dn 2:44, 7:14, 44; Sl 145:13).

Israel será estabelecido como a "cabeça" de todas as nações na Terra de acordo com o propósito original de Deus para eles. Eles não estarão mais sob o domínio dos gentios (Dt 26:18-19, 28:1; Is 2:1-5, 60:14; Dn 3:29-30, 7:27; Sl 18:43, 47:3).

Haverá paz mundial. As guerras acabarão (Sl 46:9, 72:7; Is 2:4; Mq 4:3; Os 2:18; Is 60:18; Sl 147:14).

O Senhor fará uma "nova aliança" com Israel sob o princípio da graça, onde Ele os abençoará espiritual e materialmente (Jr 31:31-34).

O Espírito Santo será "derramado" sobre Israel e eles farão milagres para ajudar e abençoar o mundo em nome do Senhor (Is 44:3; Ez 39:29; Jl 2:28-29).

Haverá uma religião mundial – a adoração universal do Senhor Jesus Cristo como Jeová de Israel no contexto do Judaísmo, segundo os princípios da graça da "nova aliança". Assim, o Milênio será uma economia onde a Lei e o Sábado serão observados, etc. (Is 66:23; Ez 44:24, 45:17). O Cristianismo e seu modo de aproximação a Deus "em espírito e verdade" (Jo 4:24; Hb 10:19-22) não será mais a ordem religiosa daquele dia.

A idolatria e toda religião falsa serão abolidas da face da Terra. O Islã, o Hinduísmo, o Budismo, etc., serão tirados para sempre (Is 1:28-31, 2:18; Ez 37:23; Os 14:8; Mq 5:12-14; Zc 13:2-6, 14:9).

A própria criação será libertada de sua escravidão e maldição. A Terra cantará (figurativamente falando) e desfrutará o seu Jubileu (Is 35:1-2; Sl 65:13; Zc 14:11; Ap 22:3). Compare Romanos 8:19-22.

Os cegos, os surdos, os loucos e os coxos, etc. serão todos curados (Is 35:5-6; Sl 146:8). Não haverá mais doenças e epidemias na Terra – gripe, câncer, etc. Consequentemente, não haverá necessidade de médicos, dentistas, enfermeiros, hospitais, etc. (Is 33:24; Sl 103:3).

Homens e mulheres não morrerão de causas naturais, mas viverão tanto quanto a árvore – isso é, por um período de mil anos! (Is 65:20, 22)

Os instintos selvagens e de caça nos animais serão alterados. "O lobo e o cordeiro" viverão juntos. As crianças brincarão com leões e cobras e não serão feridas (Is 11:6-9, 35:9, 65:25; Ez 34:25).

Haverá um novo rio com águas que saram saindo do novo templo que será construído. Ele fluirá para o centro de Jerusalém e se separará em dois braços – um para o Leste, dando no Mar Morto e outro para o Oeste, dando no mar Mediterrâneo. Esse rio terá propriedades curativas que irão enriquecer e fertilizar toda a Terra (Ez 47:1-9; Zc 14:4, 8; Sl 65:9-10; Jl 3:18).

A agricultura florescerá de uma maneira que não se conheceu desde a queda do homem (Sl 65:9-13, 67:6, 144:13-14; Is 27:6, 35:1-2, 7; Jl 2:21-27, 3:18; Am 9:13-15; Mc 4:14; Zc 3:10). O deserto florescerá como uma rosa (Is 35:1-2, 7). Árvores frutíferas produzirão colheitas mensalmente! (Ez 47:12) As colheitas serão tão grandes que não haverá tempo suficiente para se colherem os frutos dos campos antes que seja hora de semear novamente (Am 9:13).

Como resultado de tal abundância, não haverá mais pobreza na Terra (Sl 132:15; Is 41:17, 65:21-23; Sl 146:7).

Todas as nações da Terra serão tributárias de Israel (sob a forma de impostos) e Israel "mamará" da abundância dos gentios e será a nação mais rica da Terra (Is 60:5-6, 9-11, 16-17, 61:4-5; Sl 72:10, 10:14-15; Zc 14:14). Os gentios terão tanto materialmente que terão prazer em dar uma porção a Israel. Serão felizes em servir a Israel – alimentando seus rebanhos, arando seus campos e mantendo suas vinhas (Is 14:2, 61:5-6) – enquanto Israel cuidará das coisas do Senhor com Seus Sacerdotes e Ministros, ensinando as nações a viver no reino (Is 2:3, 61:6; Mq 4:2).

A Terra brilhará com a glória do Senhor e o Milênio será um longo dia sem noite (Ez 43:2; Nm 14:21; Hb 2,14; Sl 72:19). A luz da Sua glória será tão brilhante que a noite não será totalmente escura (Zc 14:6-7, Is 4:5-6, 30:26, 60:19-20; Ap 21:23-24).

Satanás e seus anjos serão presos no abismo, e os homens na Terra não serão mais perseguidos pelo tentador para fazer o mal (Ap 20:1-3, Is 24:21-22).

Qualquer transgressão que acontecer pela vontade própria dos homens será tratado na luz da manhã do dia seguinte. Os ofensores serão mortos por um julgamento providencial do Senhor (Sl 101:7-8; Zc 5:1-4). Qualquer um que possa ter vontade de pecar não ousará fazê-lo por medo de julgamento. Assim, o mundo estará virtualmente livre de crime, imoralidade, corrupção espiritual, etc. Como resultado, não haverá necessidade de sistemas de segurança, cofres, fechaduras, etc.

MINISTÉRIO

Refere-se ao exercício do dom espiritual de uma pessoa – a execução do serviço que o Senhor nos deu para fazer por Ele (1 Pe 4:10-11). Como todos os Cristãos têm um dom, todos devem estar no ministério. Alguém pode não ministrar a Palavra publicamente nas reuniões bíblicas, mas quando o seu dom é exercitado, fará dele, de alguma forma, uma "junta de auxílio" para todo o corpo (Ef 4:16). (Veja: Dom)

As pessoas que dizem ser "chamadas para o Ministério" dão a entender que sentem que estão sendo levados a buscar a ocupação de um clérigo (um chamado Ministro ou Pastor), e assim se matriculam em um seminário para serem treinados para essa posição em uma denominação. Mas, no sentido bíblico da palavra, todos nós fomos "chamados para o ministério", porque todos temos um dom que deve ser exercido para o Senhor. O problema na Igreja hoje é que há muitos como "Arquipo" que não estão cumprindo seu ministério (Cl 4:17).

MISERICÓRDIA & MISERICÓRDIAS

Misericórdia é "não receber o que merecemos" – isto é, ser julgado por nossos pecados. Muitas vezes é mencionada em contraste com a graça, que é "receber algo que não merecemos" – isto é, a salvação e as muitas bênçãos associadas a ela. Assim, Deus estende a Sua "misericórdia" aos homens em seus pecados (Ef 2:4) porque Ele não quer que ninguém se perca eternamente (2 Pe 3:9).

Por outro lado, as "misericórdias" de Deus têm que ver com coisas temporais que Deus concede aos homens providencialmente nas dificuldades da vida na Terra (Gn 32:10; Sl 40:11; Lm 3:22; 2 Co 1:3; Fl 2:1; Cl 3:12). Isto seriam coisas relacionadas ao Seu cuidado pelas pessoas em meio aos perigos da vida, etc. Assim, em contraste com nossas bênçãos que são celestiais, espirituais e eternas, as misericórdias de Deus são provisões terrenas e temporais que Ele concede aos homens na Terra. Esta distinção entre misericórdia e misericórdias é uma ideia geral na Escritura, mas pode haver exceções.

A seguinte citação da revista The Christian Friend (E. Dennett - editor) é útil a este respeito: "No versículo 3 [de Efésios 1] encontramos o melhor tipo de bênçãos, no melhor lugar, elas estão em Cristo e elas estão todas lá. Temos misericórdias temporais com certeza, mas isso é apenas uma coisa passageira, e não a nossa porção" (The Christian Friend, vol. 9, 1882, págs. 213-214).

MISTÉRIOS, OS

O "Mistério", na Escritura, não é algo misterioso e enigmático, mas um segredo revelado, o qual, antes de ser revelado, era desconhecido pelos homens (Dt 29:29). W. Kelly disse: "�O mistério de Sua vontade� não significa algo que você não pode entender, mas algo que você não poderia saber antes que Deus lhe falasse… A palavra �mistério� significa aquilo que a Deus aprouve manter em segredo – algo que Ele não tinha revelado antes – mas que é bastante inteligível quando revelado. �Mistério� no sentido popular, é totalmente diferente do seu sentido na Palavra de Deus" (Lectures on the Epistle to the Ephesians, pág. 25).

Os "mistérios de Deus" (1 Co 4:1, 13:2, 14:2) são certas linhas da verdade que Deus não fez conhecidas aos homens até a vinda do Senhor Jesus Cristo e o envio do Espírito Santo (Rm 16:25; Ef 3:5; Cl 1:26). Essencialmente, elas constituem a revelação da verdade Cristã. Os apóstolos eram os "despenseiros" desses mistérios e, portanto, eram responsáveis por fazer a Igreja conhecê-los (1 Co 4:1). W. Kelly disse: "�Despenseiros dos mistérios de Deus� significa aqueles chamados e responsáveis por divulgar as verdades especiais do Cristianismo" (An Exposition of Timothy, pág. 63).

Como crentes no Senhor Jesus Cristo, os Cristãos são privilegiados por terem sido trazidos a esses segredos do coração de Deus (Jo 15:15; Rm 16:25-26; Ef 1:8-9; Cl 2:2-3). Uma vez que essas verdades foram abertamente reveladas nos escritos inspirados dos apóstolos, elas são agora propriedade comum de todos os crentes. Portanto, não há algo como uma classe especial de Cristãos iniciados que tenham um "mapa interior" dessas coisas. Essas verdades preciosas são para toda a Igreja de Deus. A revelação Cristã da verdade não foi entregue aos apóstolos, mas sim pelos apóstolos "aos santos". Assim, os santos são os guardiões da verdade e devem "batalhar diligentemente" (ARA) por ela conhecendo-a, caminhando nela e divulgando-a (Jd 3).

Há uma série de referências a esses "mistérios" no Novo Testamento. A palavra no texto grego (musterion) aparece umas 27 ou 28 vezes, e levou os instrutores bíblicos a categorizá-los. Alguns dizem que existem sete mistérios, outros dizem dez e outros, doze, catorze, dezessete, etc. A diferença de opinião relativa a quantos realmente existem provém de não se ter em conta que algumas dessas referências falam do mesmo mistério, porém com uma redação ligeiramente diferente. A maioria diz que há dez e são:

  1. Os mistérios do reino (Mt 13:11; Mc 4:11; Lc 8:10)

O Senhor indicou aos Seus discípulos que existem vários "mistérios" (plural) em conexão com o reino. Ele estava aludindo a um subconjunto de dez semelhanças delineadas no Evangelho de Mateus, que são um tipo especial de parábola que começa com a frase: "O reino dos céus é semelhante a …" (Mt 13:24, 31, 33, 44, 45, 47, 18:23, 20:1, 22:1, 25:1). Essas semelhanças descrevem a forma incomum que o reino tomaria neste momento em que o Rei está rejeitado e visivelmente ausente deste mundo. Essas parábolas servem a um duplo propósito. Elas dão uma compreensão das coisas relativas ao reino para aqueles que receberam o Senhor, mas também ocultam a verdade daqueles que não creram n’Ele (Mt 13:10-17).

Essas dez semelhanças indicam que o reino no presente dia estaria sem um Rei visível, sem um centro administrativo terreno, sem fronteiras nacionais, e que a maioria dos seus súditos (os que meramente professam ser crentes) não considerariam a autoridade do Rei, e viveriam como se Ele não existisse. Além disso, essas semelhanças indicam que esse estranho conjunto de circunstâncias e a mistura de crentes verdadeiros com os meramente professos continuariam a existir no reino até a Aparição do Senhor. Esses "mistérios do reino" apresentam a verdade que era desconhecida nos tempos do Antigo Testamento, mas agora está revelada a todos os que creem. (Veja: O reino dos céus)

  1. O mistério da vontade de Deus a respeito de Cristo e da Igreja (Rm 16:25; Ef 1:9-10, 3:3-4, 9, 5:25-32, 6:19; Cl 1:26, 27, 2:2-3, 4:3)

Esse mistério é chamado de "grande" porque é a pedra preciosa de todos os mistérios e é algo que está junto ao coração de Deus (Ef 5:32). Ele revela a verdade de Cristo e da Igreja, e apresenta o grande propósito de Deus de mostrar a glória desse relacionamento diante do mundo no dia vindouro.

A verdade revelada nesse mistério estava "escondida" no coração de Deus desde a fundação do mundo (Ef 3:9). O segredo que agora foi feito conhecido é que Deus exibirá a glória de Cristo perante o mundo por meio de um vaso de testemunho especialmente formado – a Igreja, que é o Seu corpo e a noiva (Ef 1:22-23, 5:25-32; Ap 21:9-22:5). Essa exibição será em duas esferas (no céu e na Terra) e acontecerá na "dispensação da plenitude dos tempos", que é o Milênio (Ef 1:10 – "o Cristo" refere-se à união mística de Cristo e a Igreja). W. Kelly disse: "Há duas grandes partes neste mistério guardado, mas que agora é manifesto. A primeira é que Cristo deve ser estabelecido no céu acima de todos os principados e poderes, e receber o universo todo dado a Ele como Cabeça sobre a herança, sob o fundamento da redenção – Ele próprio, exaltado como Cabeça sobre todas as coisas tanto celestiais como terrenais, e a Igreja unida a Ele como Seu corpo – sendo Ele assim dado como Cabeça à Igreja sobre todas as coisas. Então, o outro lado do mistério é Cristo nos santos aqui embaixo… Em Efésios, o apóstolo enfatiza mais sobre o primeiro desses aspectos, em Colossenses sobre o segundo" (Lectures on Colossians, pág. 107).

  1. O mistério da fé (1 Tm 3:9)

Isso se refere à revelação especial da verdade que foi revelada pela vinda do Espírito Santo. Isso envolve as bênçãos específicas do crente em conexão com a doutrina de Paulo e as instruções da conduta do Cristão de acordo com a presente dispensação (1 Tm 1:4 – JND). Tudo isso era desconhecido nos tempos do Antigo Testamento.

  1. O mistério da piedade (1 Tm 3:16)

Isso se refere ao segredo da vida piedosa. Paulo disse a Timóteo que, se ele quisesse saber "como convém andar na casa de Deus" (1 Tm 3:15), tudo o que precisava fazer era olhar para o Senhor Jesus e Seu caminho perfeito neste mundo. Assim, o segredo de ser piedoso é conhecer o andar e maneiras de Cristo e imitá-Lo. Isso não poderia ter sido algo que os santos do Antigo Testamento conheciam porque Cristo ainda não havia vindo para nos dar o padrão perfeito de piedade. W. Kelly disse: "O segredo (agora revelado) de piedade é a verdade de Cristo. Ele é a fonte, o poder e o padrão do que, de uma maneira prática, é aceitável a Deus – Sua Pessoa, como agora é conhecida" (An exposition of Timothy, pág. 72). A meditação n’Ele e em Sua caminhada nos levará a imitar Sua vida, e assim caminharmos em verdadeira piedade neste mundo.

  1. O mistério da glorificação dos santos (1 Co 15:51-57; 1 Ts 4:15-18)

Isso se refere à revelação da verdade sobre a "vida e a incorrupção" que é trazida à luz por meio do evangelho (2 Tm 1:10). A ressurreição, em si mesma, não era um segredo. Os santos do Antigo Testamento sabiam que Deus ressuscitaria os mortos e eles esperavam pelo momento em que isso aconteceria (Jó 14:10-14; Sl 16:10-11, 17:15). Na verdade, fazia parte da fé judaica ortodoxa (Jo 11:24; At 23:8, 26:8; Hb 6:2). Mas eles não sabiam a maneira na qual eles seriam ressuscitados, e a condição em que eles seriam mudados. Nem sabiam quando isso ocorreria. Eles simplesmente acreditavam que de alguma forma isso aconteceria "no último dia" (Jo 11:24).

Essas coisas foram trazidas à luz pelo evangelho e são um segredo revelado no Novo Testamento. Agora sabemos que os santos que "em Jesus dormem" (1 Ts 4:14) serão ressuscitados "incorruptíveis" – uma condição glorificada – no momento do Arrebatamento (1 Co 15:51-56; Fl 3:21; 1 Ts 4:15-18). Nós também sabemos que, no mesmo momento, os santos vivos também experimentarão uma mudança milagrosa de glorificação e se revestirão "da imortalidade" (Rm 8:11; 1 Co 15:53; 2 Co 5:4). O resultado será que os santos "trarão a imagem do celestial" – Cristo (1 Co 15:49). Eles serão como Ele moralmente (1 Jo 3:2) e fisicamente (Fp 3:21). Isso não era conhecido nos tempos do Velho Testamento.

  1. O mistério das estrelas e dos castiçais (Ap 1:12, 20)

Isso se refere à responsabilidade que os anciãos/bispos têm (nas assembleias locais onde residem) para ordenar a assembleia de acordo com a mente do Senhor na doutrina e na prática. Ao interpretar o que João tinha visto na primeira visão do livro (Ap 1:12-16), o Senhor explicou que "os sete castiçais de ouro" são as assembleias locais estabelecidas na Terra como um testemunho público para Ele como portadores da luz nas comunidades onde estão localizadas. Ele também disse que as sete "estrelas" são os "anjos" dessas assembleias, e que estes estavam em Sua "mão direita" (Ap 1:20, 2:1). Como "estrelas", os anciãos nessas assembleias eram para fornecer luz, sabedoria e orientação para as várias situações que as assembleias enfrentariam. Sendo também chamados "anjos" indica que esses líderes espirituais deveriam agir como mensageiros do Senhor, assegurando-se de que as coisas fossem feitas corretamente. O fato de que eles estavam em Sua "mão direita" indica que eles deveriam agir por Ele como Seus representantes e, portanto, eram diretamente responsáveis a Ele. Isso também não era conhecido nos tempos do Velho Testamento, porque essa função pertence apenas à Igreja e seu testemunho na Terra, e a verdade da Igreja naqueles dias ainda não havia sido revelada.

  1. O mistério da oliveira (Rm 11:25)

Esse mistério tem a ver com a verdade dispensacional que é o ensino bíblico que distingue as várias dispensações (administrações) que a casa de Deus tem tido, ou terá, através dos tempos (Veja: Dispensações). A verdade dispensacional em conexão com "a oliveira" refere-se à suspensão da dispensação da Lei na qual Deus tem tratado com Israel. Isso foi provocado por causa da rejeição de Cristo pelos judeus. Durante essa suspensão, Deus alcançou os gentios e os trouxe a uma posição de favor. Isso é indicado em Romanos 11:17, onde o apóstolo Paulo afirma que os ramos naturais da oliveira foram "quebrados" e os ramos de "zambujeiro" (uma oliveira brava – que não dá fruto) foram enxertados na árvore. Isso não significa que o mundo dos gentios tenha sido salvo pelo evangelho, mas que essa oportunidade e graça foram estendidas a eles.

A passagem menciona que a massa dos gentios, que exteriormente (professamente) abraçará esse privilégio, provará ser incrédula como os judeus também foram, como ramos, e serão "cortados", e que Deus enxertaria novamente os ramos naturais (Rm 11:18-24). Paulo acrescenta que esse re-enxerto não ocorreria "até que a plenitude dos gentios haja entrado" (Rm 11:25). Isso se refere ao número total de crentes entre os gentios que foram "ordenados para a vida eterna" (At 13:48), crendo no evangelho e sendo salvos. Uma vez que isso tenha acontecido, Paulo diz que Deus vai voltar a Sua atenção para Israel novamente e salvará a nação (Rm 11:26-29). Mais uma vez, essa divulgação aos gentios não é encontrada no Antigo Testamento, e, portanto, os santos do Antigo Testamento não sabiam nada disso (Dt 29:29).

  1. O mistério da iniquidade (2 Ts 2:7)

Esse "mistério" tem a ver com o espírito de desobediência que está ativo na profissão Cristã e no mundo de um modo geral. Refere-se à atividade da mente humana em oposição à vontade de Deus em todas as coisas, tanto divinas como seculares, pela influência do diabo. A atividade oculta da iniquidade já estava acontecendo no dia dos apóstolos, e continuaria a crescer até ser plenamente exibida na apostasia do "homem do pecado" (o anticristo).

Não é que Deus não tenha colocado restrição à atividade da iniquidade. O apóstolo Paulo menciona que Deus tem dois que detém essa atividade, que Ele mesmo estabeleceu na Terra que trabalham para restringir o progresso da iniquidade. Paulo os define como:

"Aquilo que o detém" (2 Ts 2:6 – ATB).

"Aquele que agora o detém" (2 Ts 2:7 – ATB).

"Aquilo que o detém" refere-se ao princípio de lei e de ordem no governo humano que Deus colocou na mão do homem para exercer após o dilúvio (Gn 9:5-6; Ec 5:8; Rm 13:1-7). J. N. Darby disse: "�Aquilo que o detém�, portanto, é o poder de Deus atuando no governo aqui na Terra, com autorização d’Ele. O mais grosseiro abuso de poder ainda possui esse último caráter. Cristo disse a Pilatos: �Nenhum poder terias contra Mim, se de cima te não fosse dado� Perverso tanto quanto ele era, seu poder é exercido como vindo de Deus" (Synopsis of the books of the Bible, em 2 Tessalonicenses 2). O Sr. Darby também disse: "�Aquilo que o detém� no grego significa algo. O que é isso? Deus não nos disse o que é, e isso, sem dúvida, porque aquilo que resistia então, não é o mesmo que resiste agora. Então, isso foi, em certo sentido, o Império Romano, como pensavam os pais, que viam no poder do Império Romano um obstáculo para a revelação do homem do pecado e, assim, oraram pela prosperidade desse império. Atualmente, o obstáculo é a existência dos governos estabelecidos por Deus no mundo" (Collected Writings, vol. 27, págs. 302-303).

O segundo Restringidor que Paulo menciona é "Aquele que agora o detém" (2 Ts 2:7). Isso se refere a uma Pessoa divina – o Espírito Santo que reside na Terra, na Igreja – agindo para conter o mal em várias esferas. O apóstolo Paulo diz que o Espírito restringirá "até que do meio seja tirado". Assim, haverá um tempo em que o Espírito Santo não residirá mais na Terra. Como o Espírito habitará na Igreja "para sempre" (Jo 14:16), quando a Igreja for tirada da Terra pelo Senhor, no Arrebatamento, o Espírito também sairá da Terra naquele momento. E. Dennett disse: "O que Paulo ensina em 2 Tessalonicenses 2 é que o que restringe a manifestação desse monstro de iniquidade no presente momento é a presença do Espírito Santo na Terra, na Igreja" (Christ as a Morning Star and the Sun of Righteousness, pág. 46). O Espírito, tendo sido "tirado", não significa que Ele deixará de agir na Terra. Ele continuará trabalhando na Terra, mas será desde o céu como Ele fez nos tempos do Antigo Testamento.

Iniquidade existe no mundo e na Igreja. Apostasia – o abandono de uma profissão feita por alguém concernente à verdade – também está em atividade. (Os verdadeiros crentes não apostatam. Eles podem ser levados juntamente com a atual apostasia e podem começar a abrir mão de certas doutrinas e práticas, mas nunca abandonarão publicamente a profissão de sua fé em Cristo). A atividade oculta da iniquidade está aumentando na Terra porque o primeiro restringidor está lentamente enfraquecendo em razão do aumento constante da apostasia no governo humano. Além disso, como o Espírito de Deus está cada vez mais sendo desconsiderado pelos Cristãos, Ele está Se tornando cada vez mais Entristecido e, consequentemente, não está exercendo Seu poder para conter o mal como Ele poderia, se Lhe fosse dado o Seu legítimo lugar no testemunho Cristão. Mas quando a Igreja e o Espírito Santo são "tirados do caminho", o mal inundará, de forma sem precedentes. Esse segredo revelado nos dá a conhecer que há um fim para a atividade da iniquidade nos julgamentos do Senhor em Sua Aparição (2 Ts 2:8).

  1. O mistério da Babilônia, a mãe das prostitutas (Ap 17:5)

Esse mistério revela que depois que a verdadeira Igreja for chamada da Terra no Arrebatamento, a falsa igreja dos crentes meramente professos (que serão deixados para trás) será encabeçada pelo sistema católico romano. Terá o caráter de confusão religiosa e blasfêmia pelas quais a Babilônia foi conhecida na história; daí o mesmo título é dado a esse sistema. A falsa igreja usará seu dinheiro e influenciará a esfera política para unir as nações na Europa ocidental em uma confederação de dez países (Ap 6:1-2, 17:12-13). Esse é realmente o renascimento do Império Romano (Dn 2:40-43, 7:7-8; Ap 17:7-11). Assim, a Igreja de Roma, em sua corrupção eclesiástica, controlará as superpotências ocidentais, conforme retratado na mulher que está assentada sobre uma besta (Ap 17:1-4). Esse poder de controle durará apenas "um pouco de tempo" (Ap 17:10). Ou seja, só os primeiros três anos e meio da septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27). No meio da semana profética, a esfera política do império energizada por Satanás se levantará e destruirá esse sistema religioso corrupto (Ap 17:16-18). Como todo o assunto da Igreja não era conhecido pelos crentes do Antigo Testamento, a existência da falsa igreja e sua corrupção também é algo que não conheciam.

  1. O mistério de Deus (Ap 10:7)

(Esse "mistério" não é o mesmo que "o mistério de Deus" em Colossenses 2:2, que é um aspecto do mistério de Cristo e da Igreja.) O "mistério" em Apocalipse 10 tem a ver com o segredo dos "caminhos" de Deus com os homens, que são "inescrutáveis" (Rm 11:33), finalmente sendo esclarecidos. Por milhares de anos, Deus permitiu que os homens maus continuassem em sua maldade e aparentemente evitou punir isso. Na verdade, a Sua paciência e tolerância com o pecado e os pecadores neste mundo causam perplexidade. No entanto, quando Cristo intervier publicamente em Sua Aparição, Ele julgará este mundo com justiça (At 17:30-31), e o mistério de Deus será "consumado". Isto é, quando Deus traz seus juízos sobre a Terra, esse mistério se tornará um segredo revelado, e a justiça de todos os Seus tratamentos por todos os tempos será vista, e assim Ele será justificado em tudo.

A maligna atividade das trevas que está acontecendo hoje, aparentemente sem controle, sempre foi difícil para o homem entender. Muitas vezes, é perguntado: Por que Deus permite que o mal continue e cresça no mundo sem julgá-lo? Essa perplexidade é descrita na queixa de Asafe no Salmo 73. Enquanto todos os mistérios anteriores nos foram agora revelados, devemos esperar por esse último mistério ser revelado – o que acontecerá quando o Senhor aparecer.

W. Kelly disse: "O mistério aqui não é Cristo e a Igreja, mas Deus permitindo que o mal continue em seu curso atual com aparente impunidade" (The Revelation Expounded, pág. 127). Ele também disse: "Deus porá um fim ao mistério de Sua atual aparente inatividade no governo público da Terra" (The Revelation Expounded, pág. 126). H. Smith disse: "O mistério de Deus nessa passagem refere-se ao fato de que, por longo tempo, Deus não interveio publicamente nos assuntos dos homens. A maldade dos homens cresceu sem controle sem haver qualquer ação pública por parte de Deus. Os homens foram autorizados a satisfazer suas concupiscências, alcançar suas ambições, aumentar sua rebelião contra Deus e perseguir Seu povo. Através dos séculos, o povo de Deus foi torturado, banido de suas casas e martirizado em fogueiras e Deus aparentemente não interferiu. Tudo isso – que tem sido chamado de o silêncio de Deus – é um grande mistério".

MORTE

A morte sempre envolve separação de uma maneira ou de outra. Ela é usada nas Escrituras em pelo menos sete maneiras diferentes. O contexto determina qual aspecto está sendo exibido. Elas são:

Morte física – é ter a alma e o espírito separados do corpo (Tg 2:26) e não se refere à extinção (Mt 10:28; Lc 20:38). A morte física é uma condição temporária para todos os que morrem – independentemente de uma pessoa ser salva ou perdida (Jo 5:29; At 24:15).

Morte espiritual – é ser separado espiritualmente de Deus por não ter nova vida e nova natureza (Ef 2:1; Cl 2:13).

Segunda morte – é ser eternamente separado de Deus no lago de fogo (Ap 20:6, 14).

Morte apóstata – é ser separado de Deus por abandonar a profissão da fé (Jd 12; Ap 8:9).

Morte nacional – é não mais existir como nação na Terra (Is 26:19; Ez 37; Dn 12:2).

Morte judicial – é ser posicionalmente separado de toda a ordem de pecado encabeçada por Adão, pela morte de Cristo (Rm 6:2, 7:6; Cl 2:20, 3:3).

Morte moral – é ser separado da comunhão com Deus enquanto vive na Terra (Rm 8:13; 1 Tm 5:6).

O leitor notará que cada aspecto da morte envolve um tipo de separação. É solene pensar que o pecado é a causa de cada um desses aspectos da morte! Verdadeiramente, "o salário do pecado é a morte" (Rm 6:23).

A Bíblia nos diz que há apenas dois estados nos quais uma pessoa pode morrer (fisicamente). Ou ela morre "no Senhor" (Ap 14:13) ou "em seus pecados" (Jo 8:24). Morrer em seus pecados é sair deste mundo sem ter tido seus pecados colocados diante de Deus judicialmente pela obra de Cristo na cruz. A pessoa que morre nessa terrível condição será responsável em pagar o preço de seus pecados sob o justo juízo de Deus em uma eternidade perdida. Morrer no Senhor é morrer estando a salvo e seguro de todo julgamento sob o abrigo do sangue de Cristo, o Filho de Deus (Jo 5:24; 1 Jo 1:7). A morte de um crente é "preciosa à vista do Senhor" (Sl 116:15), enquanto a morte de um incrédulo não traz "prazer" para Deus, pois ela significa que essa pessoa estará eternamente perdida (Ez 33:11; 2 Pe 3:9).

MUNDO VINDOURO, O

Essa expressão refere-se ao reino milenar de Cristo (Mt 12:32; Mc 10:30; Lc 18:30; Ef 1:21; Hb 6:5).

Há pelo menos dez expressões diferentes que se referem ao tempo em que Cristo terá Seu dia de glória e poder neste mundo:

O mundo vindouro (Mt 12:32 – ATB; Mc 10:30; Ef 1:21; Hb 6:5).

O Reino dos Céus (Mt 4:17, 6:10, 7:21, 8:11, 10:7).

O Milênio (Ap 20:6 – na versão da Vulgata Latina).

Os Tempos de Refrigério (At 3:19).

A Restauração de Todas as Coisas (At 3:21 – ATB).

A Regeneração (Mt 19:28).

A Reforma (Hb 9:10 – ATB).

A Dispensação da Plenitude dos Tempos (Ef 1:10).

O Dia do Senhor (1 Ts 5:2; 2 Ts 2:2).

O Dia de Cristo (1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fl 1:6, 10, 2:16).

MUNDO, O

Este termo é usado no Novo Testamento de três formas principais:

Como um LUGAR – o planeta Terra (Jo 1:10a, 9:5, 17:28, 18:37; At 17:24; Rm 1:20; 1 Tm 1:15; 1 Jo 4:17; Ap 13:8).

Como uma SOCIEDADE de onde Cristo é excluído (Jo 8:23, 15:19, 17:14b-16, 18; Rm 12:2; Gl 1:4, 6:14; 2 Tm 4:10; Tg 4:4; 1 Jo 2:15-17, 4:5ª, 5:19). O mundo neste sentido se refere à esfera dos assuntos e atividades na Terra que o homem, em sua alienação de Deus, providenciou na tentativa de manter-se feliz e satisfeito sem Cristo. Ele se move com princípios e valores falsos, e se baseia no apelo aos desejos da carne. O princípio fundamental que caracteriza a vida nessa esfera é o egoísmo. Visto sob essa perspectiva, definitivamente o mundo é um inimigo do Cristão, que, se for permitido ter mesmo que um pouco de espaço no coração do crente, destronará Cristo do Seu lugar. O Cristão supera esse inimigo pela fé – contemplando Cristo como o centro de uma cena totalmente diferente (1 Jo 5:4-5).

Como as PESSOAS que são parte integrante da sociedade que o homem construiu para si mesmo em sua alienação de Deus (Sl 17:14; Jo 1:10b, 3:16, 4:42, 6:51, 15:18, 17:14a; 1 Jo 4:5b, 14).

NOVA CRIAÇÃO

Refere-se à nova raça de homens que Deus está criando atualmente sob Cristo, "o último Adão" e "o segundo Homem" (1 Co 15:45, 47). Uma vez que a primeira raça de homens sob Adão falhou terrivelmente (Ec 7:20; Rm 3:23), Deus Se propôs a fazer uma raça completamente nova sob Cristo que O representará adequadamente neste mundo e O glorificará em todas as coisas.

As Escrituras indicam que o Senhor Jesus Se tornou a Cabeça desta nova raça, quando Ele ressuscitou de entre os mortos. Diz que Ele é "o Princípio, o Primogênito dentre os mortos" (Cl 1:18b). Ou seja, ao Se levantar da morte, Cristo foi o "princípio" de uma nova ordem de humanidade (Ap 3:14). Hebreus 2:10 confirma isso, afirmando que, em Deus trazendo "muitos filhos" (uma nova raça) para "glória" (uma condição glorificada), "o Príncipe [Autor] da salvação deles" (o Senhor) primeiro teria que ser feito "perfeito". Isso, novamente, refere-se à ressurreição e glorificação de Cristo (Lc 13:32; Hb 5:9). Assim, aqu’Ele que estava destinado a ser a Cabeça desta nova raça teve que ser glorificado primeiro, antes que pudesse haver uma raça glorificada sob Ele. "Glória" (a glorificação do espírito, da alma e do corpo) é algo que não havia sido predito da velha raça sob Adão, embora Deus tenha dito que a primeira ordem do homem era "muito boa" (Gn 1:31). Isso mostra a superioridade dessa nova raça. Sendo a Cabeça, Cristo tem o lugar de "Primogênito" (primeiro em posição e destaque) nessa raça. Isso significa que Ele é distinguido dos outros na raça, tendo a "preeminência" em "todas as coisas" (Cl 1:18b). (Veja: Primogênito e Cabeça de Cristo.)

Aqueles que creem no Senhor Jesus Cristo e são assim selados com o Espírito Santo (Ef 1:13), fazem parte dessa nova raça por essa conexão. Eles têm um vínculo inseparável com Cristo, a Cabeça, por meio da habitação do Espírito. Isso é indicado nas epístolas de Paulo pela expressão "em Cristo" (2 Co 5:17; Gl 6:15, etc.). No mesmo dia em que o Senhor ressuscitou dentre os mortos, Ele conectou os discípulos Consigo mesmo na vida de ressurreição ao assoprar neles e dizer: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20:22). Isso foi algo semelhante ao que o Senhor fez com Adão na primeira criação quando Ele soprou nele "o fôlego da vida" (Gn 2:7), mas agora era em conexão com Ele sendo a Cabeça da nova raça de homens.

Estando nessa nova raça, os Cristãos são referidos como "irmãos" de Cristo (Rm 8:29; Hb 2:11). A Escritura diz: "Assim O que santifica (Cristo), como os que são santificados (Cristãos), são todos de um" (Hb 2:11). Isso refere-se àqueles dessa nova raça de criação que são da mesma natureza e espécie que o próprio Cristo. "Todos de um" não se refere à unidade do corpo de Cristo, nem fala da unidade na família de Deus, mas da nossa unidade de espécie na nova criação. É uma expressão que indica que estamos unidos com Ele como uma massa, sendo da mesma substância que Ele é. Para indicar isso, a Escritura fala daqueles na nova criação como sendo "de Cristo" (Gl 3:29, 5:24). Portanto, estando nessa nova raça, não estamos apenas "em Cristo" quanto à nossa posição, mas também somos "de Cristo" quanto à nossa unidade de espécie com Ele.

Um exemplo de unidade de espécie é quando a mulher de Adão foi trazida a ele. Ele tinha visto as várias criaturas passarem diante dele – cada uma era "segundo a sua espécie" (Gn 1:21, 24-25). No entanto, não foi encontrada nenhuma entre todas aquelas criaturas que fosse de sua espécie e, assim, todas elas eram inadequadas para ele. Mas quando Deus trouxe a mulher para Adão, pela primeira vez Adão viu uma de sua própria espécie. Ele disse: "Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne" (Gn 2:23). Da mesma forma, somos "um" com Cristo nesta nova ordem de humanidade. Nós estamos num grupo e numa espécie com Ele, e assim, inteiramente adequados a Ele. Por isso, Hebreus 2:11 continua dizendo que Cristo "não Se envergonha de lhes chamar irmãos". Se Adão tivesse tomado uma das outras criaturas para ser sua esposa, teria ficado envergonhado. Mas quando Deus lhe deu a mulher, que era alguém da sua espécie, ficou muito satisfeito. Da mesma forma, Cristo Se alegra de nos apresentar como Seus irmãos. Ele diz: "Eis-Me aqui a Mim e aos filhos que Deus Me deu" (Hb 2:13).

Vale ressaltar que, embora o Senhor não Se envergonhe de nos ter identificado com Ele, como Seus irmãos, a Palavra de Deus nunca nos diz para chamá-Lo de "nosso Irmão mais velho", ou usar outros tais termos de familiaridade. Ele tem uma Glória de Preeminência como a Cabeça da nova criação que O distingue de todos os outros na raça. É uma glória que Ele não compartilha (Jo 17:24). As palavras do Senhor a Maria indicam esse lugar especial e distinto que pertence a Ele apenas. Ele disse: "Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus, e vosso Deus" (Jo 20:17). Note que Ele não disse "nosso" Pai e "nosso" Deus, mas menciona a Si próprio em relação ao Seu Pai e Seu Deus de forma distinta da dos crentes. Isso mostra que, como Homem, Ele tem preeminência em todas as coisas na raça da nova criação.

Além disso, nessa nova ordem de humanidade não há distinções de nacionalidade, sociais, de sexo, etc., assim como há na primeira raça sob Adão (Gn 1:27; 1 Co 11:3-14). O apóstolo Paulo disse: "Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3:28, 6:15). Uma vez que essa raça é assexuada, novas pessoas não são adicionadas a ela por meio da procriação, mas por uma obra do Espírito Santo em um novo nascimento e salvação. Assim, cada pessoa que crê no Senhor Jesus Cristo é uma criação individual de Deus. Todos esses são "criados em Cristo Jesus" como partes individuais da "feitura Sua" (Ef 2:10, 4:24; Cl 3:10), como diz a Escritura: "Se alguém está em Cristo, é uma nova criação" (2 Co 5:17 – ATB). Somos inclinados a pensar que Deus cessou Sua obra de criação quando fez os mundos e colocou o homem na Terra, mas Deus ainda hoje está criando – no sentido em que estamos falando – acrescentando pessoas, como criações individuais, à nova raça sob Cristo.

Na velha criação, os anjos também foram criados individualmente, mas não devemos pensar que essa nova raça é semelhante à dos anjos. Na verdade, somos uma ordem superior de seres criados! Isso pode ser visto no fato de que quando Cristo ressuscitou dentre os mortos e ascendeu aos céus, como um Homem, Ele passou através do elevado lugar no qual os anjos estão, e levou a humanidade para um lugar muito acima dos anjos. Quando Ele entrou nos céus como um Homem, sentou-Se em um lugar "acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro" (Ef 1:21). (Principados e poderes, etc. são seres angélicos). Isso significa que não apenas Cristo está num lugar superior ao dos anjos, mas que agora existe uma raça inteira de homens sob Ele que é superior a esses seres angélicos também! Os homens desta nova raça de criação são agora da mais alta ordem das criaturas de Deus. Nós fomos uma vez parte de uma raça que foi criada "um pouco menor" do que os anjos (Hb 2:7), mas agora estamos em uma raça que não é apenas um pouco mais alta do que os anjos – estamos "muito acima" (Ef 1:21 – ATB) deles!

Como foi com Adão na velha criação, tudo na nova raça da criação leva o caráter da Cabeça da raça. Tem Sua marca de "justiça e santidade" nela (Ef 4:24). Assim, seremos não apenas fisicamente "como" Ele (Fp 3:21), mas também moralmente "como" Ele (1 Jo 3:2). Quanto à semelhança moral, a Escritura diz: "revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade" (Ef 4:24). E, novamente, "vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daqu’Ele que o criou**; onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos**" (Cl 3:9-11).

Como homens nessa raça (quando glorificados), seremos perfeitamente capazes de representar Deus no mundo vindouro, porque temos sido renovados no conhecimento segundo "a imagem daqu’Ele" que nos criou. ("Imagem", na Escritura, sempre traz o pensamento de representação – Gn 1:26; Lc 20:24.) Sendo esse o caso, o apóstolo continua dizendo que precisamos ser exercitados sobre nos revestir, num sentido prático, dos traços morais do "novo homem" (Ef 4:24; Cl 3:10) – que são as características de Cristo – para que possamos exibir a verdade de "Cristo em vós, a esperança de glória" (Cl 1:27 – JND)

Nossa conexão com Cristo na nova criação é frequentemente confundida com nossa conexão com Ele como membros de Seu corpo (místico). No entanto, são duas relações diferentes que temos com Ele. A diferença é que, como homens na nova raça, nós estamos "em Cristo" (2 Co 5:17; Gl 6:15) e somos "de Cristo" (Gl 3:29, 5:24), enquanto que, como membros de Seu corpo, estamos unidos "a" Cristo (2 Co 11:2; Ef 1:22, 4:15) e estamos em "o Cristo". Pode haver algumas exceções, mas "o Cristo" é um termo nas epístolas de Paulo que denota a união mística da Cabeça e os membros de Seu corpo em uma unidade (1 Co 12:12; Ef 1:10, 3:4 – JND). Além disso, a nova criação é algo individual (2 Co 5:17 – "se alguém… "). A associação dos membros do corpo de Cristo é algo coletivo – muitas vezes referida pelos instrutores bíblicos como união. Porém, a Escritura não fala da Igreja como estando "em Cristo", mas como homens, na nova raça da criação que somos. Ambos são verdadeiros para os crentes; eles apenas denotam diferentes aspectos de nossa conexão com Cristo. W. Scott disse: "Quando a associação dos membros do corpo é apresentada a alguém, não se diz que ela está �em Cristo�. Nós [como membros de Seu corpo] não estamos na Cabeça. A união das várias partes e membros do corpo humano não está na cabeça, mas unidos à cabeça, e não nela. �Em Cristo� transmite uma ordem e um caráter diferentes da verdade da união a Ele. Unido a Ele é o corpo; unido para Ele é a raça da nova criação. Ambos os caracteres, é claro, são verdadeiros para os crentes" (The Young Christian, vol. 5, pág. 14).

A perspectiva que Deus tem para essa nova raça é ter tudo nela "glorificado" com Cristo (Rm 8:17-18), e também manifestá-los como "filhos de Deus" diante do mundo no dia milenar vindouro (Rm 8:18; 2 Ts 1:10). Atualmente, não parecemos ser diferentes dos outros homens (1 Jo 3:2), mas isso é porque ainda estamos em nossos corpos de humilhação (Fp 3:21), que fazem parte da ordem da velha criação. No entanto, "assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial" (1 Co 15:49). Ou seja, há um dia chegando quando seremos glorificados como Cristo – em espírito, alma e corpo. Isso significa que nossos corpos terão as capacidades que o Senhor demonstrou em Seu corpo depois que Ele Se levantou da morte – atravessando objetos físicos, viajando grandes distâncias em um momento de tempo, etc. (Lc 24:33-36; Jo 20:19). A natureza caída do pecado em nós também será erradicada. Assim, estamos atualmente em um processo de transferência de Adão para Cristo, que não estará completo até que o Senhor venha por nós.

NOVO HOMEM, O

Esse termo é encontrado em Efésios 4:24 e Colossenses 3:10. Como o "velho homem", o "novo homem" é uma expressão abstrata. Indica a nova ordem de perfeição moral na nova raça da criação sob Cristo. O velho homem é caracterizado por ser "corrupto" e "enganador", mas o novo homem é caracterizado pela "justiça" e "santidade" (Ef 4:22-24).

O termo "o novo homem" é frequentemente usado pelos Cristãos como se fosse sinônimo da nova natureza no crente. Esse é um mal-entendido generalizado entre os Cristãos. As pessoas dirão: "O novo homem em nós precisa se alimentar de Cristo". Ou, "Nosso novo homem precisa de um Objeto – Cristo". Essas declarações confundem o novo homem com a nova vida e natureza no crente, que definitivamente tem desejos e apetites, e precisa de um Objeto. Como mencionado, o novo homem é um termo abstrato – não é algo vivo no crente – denotando a nova ordem moral de perfeição na nova raça da criação. Este ponto foi abordado em um periódico anos atrás: "Novo homem é o que somos pelo novo nascimento? Não. Este é um termo abstrato colocado aqui em contraste tanto com judeus como com gentios. É uma ordem completamente nova de homem obtendo seu caráter de Cristo" (Precious Things, vol. 4, pág. 302).

O "novo homem" apareceu pela primeira vez "em Jesus" (Ef 4:21). Ou seja, os homens viram essa perfeição moral pela primeira vez quando o Senhor andou aqui neste mundo como um Homem. ("Jesus" é o Seu nome como Homem.) Toda característica moral do novo homem foi vista em perfeição n’Ele. Como o velho homem não é Adão pessoalmente, assim também o novo homem não é Cristo pessoalmente. G. Davison disse: "O novo homem não é Cristo pessoalmente, mas é Cristo caracteristicamente" (Precious Things, vol. 3, pág. 260).

A ênfase da exortação de Paulo nos últimos versículos de Efésios 4 é de que devemos colocar em prática o que é verdade de fato. Como somos Cristãos, devemos nos despojar do "velho homem" e nos revestir do "homem novo" – é uma coisa que já foi feita (Ef 4:24; Cl 3:10 – JND). Portanto, somos exortados a deixarmos aquele velho estilo de vida corrupto que marca o velho homem e viver segundo o que caracteriza o novo homem. Paulo menciona uma série de transições morais que naturalmente devem resultar na vida do crente enquanto ele caminha em "verdadeira justiça e santidade". Elas são

Honestidade em vez de falsidade (v. 25).

Inabalável ira justa contra o mal em vez de indiferença (vs. 26-27).

Dar aos outros em vez de roubá-los (v. 28).

Falar com graça aos outros em vez de usar linguagem torpe (v. 29).

Bondade em vez de amargura (vs. 31-32).

Ternura (compaixão) em vez de cólera (vs. 31-32).

Mostrar a graça aos outros em vez de amargura, gritaria, blasfêmia e malícia (vs. 31-32).

Em Colossenses 3, Paulo menciona dez características morais do "novo homem" que deveriam ser vistas nos santos, pois exibem a verdade de "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl 1:27):

Compaixão (v. 12).

Bondade (v. 12).

Humildade (v. 12).

Mansidão (v. 12).

Longanimidade (v. 12)

Paciência (v. 13).

Perdão (v. 13).

Amor (v. 14).

Paz (v. 15).

Gratidão (v. 15).

Como o novo homem é moldado segundo "a imagem daqu’Ele que o criou", nós, sendo parte da nova raça da criação que se revestiu do novo (Ef 4:24; Cl 3:10), somos perfeitamente capazes de representar Deus neste mundo. As características morais do novo homem serão vistas em nós, enquanto andarmos "em Espírito" (Gl 5:22-25).

NOVO NASCIMENTO

O novo nascimento (nascer de novo) é um ato soberano de Deus ao transmitir a vida divina aos homens (Jo 1:13; Tg 1:18; 1 Pe 1:23; Jo 2:29). É essencialmente a mesma coisa que vivificação (Ef 2:1, 5; Cl. 2:13), pois ambos os termos se referem à ação inicial de Deus ao comunicar a vida divina à alma. O novo nascimento não é uma bênção exclusivamente Cristã, pois todos os filhos de Deus, em todas as épocas, foram e serão nascidos de Deus.

Como resultado de terem nascido de novo, os homens têm suas faculdades espirituais despertadas e, portanto, são conscientes de que são responsáveis diante de Deus. Tendo recebido vida e fé por meio dessa ação de Deus, eles têm a capacidade de entender o evangelho e crer no Senhor Jesus Cristo, e quando assim o fazem, são salvos. Sem essa obra inicial de Deus nos homens, ninguém jamais se arrependeria e viria a Cristo para a salvação. (Veja: Livre-arbítrio)

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Há quatro equívocos comuns entre os Cristãos em relação ao novo nascimento (nascer de novo):

O primeiro tem a ver com como e quando uma pessoa nasce de novo. A maioria dos Cristãos dirá que uma pessoa nasce de novo quando crê no Senhor Jesus Cristo. No entanto, as Escrituras não ensinam isso. Isso é colocar "o carro na frente dos bois", por assim dizer. Uma pessoa não crê no Senhor Jesus para nascer de novo, mas sim, ele crê porque nasceu de novo (Jo 1:12-13; 1 Jo 5:1). Quanto à ordem destas coisas, Deus age primeiro e soberanamente concede a vida por meio de um novo nascimento, mediante o qual a fé é dada à pessoa e, portanto, é capacitada a acreditar e ser salva, quando o evangelho lhe é apresentado. Portanto, o novo nascimento não é o resultado de uma pessoa se voltar para Deus e crer no Senhor Jesus Cristo, mas o resultado de Deus comunicar a vida divina à sua alma, permitindo-lhe voltar-se para Deus em arrependimento e crer no Senhor Jesus Cristo para a salvação.

A. J. Pollock disse: "João 1:12-13 nos diz que os que receberam Cristo eram aqueles que �não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus. Uma coisa é experimentar o novo nascimento, outra coisa é receber a Cristo, e João 1:12-13 torna isso muito claro. Se eu, como um homem não regenerado, fosse capaz de exercer a fé para provocar o novo nascimento, então seria da �vontade da carne� e da �vontade do varão�, mas nos é dito claramente que não é assim. É �de Deus� [Jo 1:13], �segundo a Sua vontade� [Tg 1:18], �pela Palavra de Deus� [1 Pe 1:23] e devemos deixar dessa forma… Como pode o homem na carne por um ato de sua própria vontade produzir vida divina? Ela deve vir de Deus" (Scripture Truth, vol. 30, pág. 48).

Comentando João 1:12-13, W. Scott disse: "Só os nascidos de Deus são capazes de recebê-Lo" (Bible Handbook, New Testament, pág. 191). C. Stanley explicou da mesma forma: "O novo nascimento explica quantos O receberam" (Election, pág. 17). F. G. Patterson também disse: "Certamente que é o incrédulo que é vivificado, senão ele seria um crente por seu próprio ato. Onde então estaria a verdade de João 1:10-13 e Tiago 1:18? Se Deus não nos vivificasse pela Palavra, nunca seríamos salvos" (Notes and Queries, pág. 122).

Em segundo lugar, alguns Cristãos confundem novo nascimento com salvação, mas esses termos não são sinônimos nas Escrituras. Fazer com que essas duas coisas signifiquem a mesma coisa leva à confusão. W. Potter enfatizou isso: "não sabes donde vem, nem para onde vai", refere-se ao Espírito de Deus e não à salvação, refere-se ao nascer de novo, "assim é todo aquele que é nascido do Espírito". Devemos manter as verdades da Escritura em suas próprias conexões com as Escrituras. Quando ela fala sobre novo nascimento, não está falando sobre salvação, e é aí onde encontramos tal confusão" (Gathering Up The Fragments, pág. 226).

J. N. Darby disse: "Não devemos confundir a salvação manifestada e ser nascido de Deus" (Letters, Vol. 3, pág. 118). Ele também disse: "A Igreja perdeu a ideia do que é ser salva. As pessoas pensam que é suficiente nascer de novo" (Collected Writings, vol.28, pág. 368).

W. Kelly disse: "Não devemos confundir, como os pregadores e instrutores populares fazem, a recepção da vida e a salvação… É um grande erro, portanto, falar de �salvação num momento�, �libertação no ato� ou qualquer outra dessas frases de efeito comuns do reavivamento superficial que ignoram a Palavra de Deus e brotam da confusão entre vida e salvação" (An Exposition of the Acts, págs. 131-132).

A distinção entre estas duas operações de Deus foi perdida por séculos. W. Kelly relatou: "O fato é que a teologia, em todas as suas vertentes papistas ou protestantes, calvinistas ou arminianas, de alguma forma perdeu e ignora essa verdade tão importante que é o fato de o Espírito separar antes para Deus uma alma renovada e com a finalidade da justificação" (Epistles of Peter, pág. 12).

A verdade é que Deus começa a obra em uma alma pelo novo nascimento, e então quando a pessoa descansa por fé naquilo que Cristo realizou na cruz, ela é salva e selada com o Espírito Santo (Ef 1:13). Estas são duas ações distintas do Espírito: uma no princípio da obra de Deus na alma e outra na sua conclusão. Haverá um intervalo de tempo entre essas duas ações – pode ser de alguns minutos, ou em alguns casos, pode ser de anos. Quando uma pessoa nasce de novo está a salvo (segura) do juízo, mas quando recebe a Cristo, ela é salva e selada com o Espírito Santo. As passagens seguintes mostram que o novo nascimento precede a crença de uma pessoa em Cristo para a salvação:

João 1:12-13 – Aqueles que "creem no Seu nome" são aqueles que "nasceram" de Deus.

João 3:3-8, 14-17 – Sobre a ordem da obra de Deus nas almas, o Senhor falou de ser "nascido de novo" pela Palavra de Deus e pelo Espírito de Deus antes de falar de ser "salvo" por crer no Filho de Deus.

João 5:21, 24 – Novamente, o Senhor falou da obra de Deus de vivificar as almas antes de continuar a falar de sua crença n’Ele para a vida eterna.

João 6:44-47 – O Senhor falou da obra de Seu Pai de atrair pessoas, que é o efeito de nascer de novo, antes de falar daqueles que foram atraídos por crerem n’Ele.

Efésios 2:1-5, 8 – Ao delinear a atividade do amor e da misericórdia de Deus para conosco, o apóstolo Paulo se referiu à Sua obra de vivificar as almas primeiro, e depois falou daqueles a quem Deus tinha vivificado como salvos pela graça, por meio da fé.

2 Tessalonicenses 2:13-14 – Paulo fala da "santificação do Espírito" que é o resultado do novo nascimento, antes da crença de uma pessoa na verdade do evangelho.

1 Pedro 1:2 – Pedro fala da "santificação do Espírito" (o resultado do novo nascimento) como aquilo que precede a "obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (que é apropriar-se pela fé da obra de Cristo na cruz para a salvação).

1 Pedro 1:22-23 – Pedro fala da purificação da alma pela obediência à verdade do evangelho, e isso é o resultado de "termos sido gerados de novo" (Tradução de W. Kelly).

Levítico 8:1-35 – Uma figura do novo nascimento, salvação e selo do Espírito. Os filhos de Arão foram primeiro "lavados com água" (novo nascimento), então foram trazidos ao altar para testemunhar e ser identificados com a morte de um animal que foi sacrificado. O sangue da vítima foi posto na orelha direita, no polegar direito e no dedo grande do pé direito (simbolizando a apropriação pela fé da obra de Cristo em expiação para a salvação da alma). E então eles foram ungidos com óleo, que é uma figura do selo do Espírito.

J. N. Darby disse: "A habitação do Espírito Santo é uma coisa muito diferente da força vivificante do Espírito… Os exemplos dados em Atos, onde há um intervalo de tempo, fazem-nos sensíveis à distinção dos dois" (Collected Writings, vol.26, pág. 89).

Da mesma forma, A. P. Cecil disse: "Eu creio que a Escritura claramente ensina não apenas uma distinção entre o novo nascimento e o selo com o Espírito, mas também um intervalo entre as duas coisas. Pode ser longo ou curto, mas o intervalo de tempo está lá, da mesma maneira como quando um homem primeiro constrói uma casa e depois habita nela" (Helps By the Way, vol. 3, NS, pág. 175).

Em terceiro lugar, os Cristãos, quase universalmente, confundem o novo nascimento com a regeneração – mas essas coisas também não são as mesmas. Ambas se referem a um novo começo, mas são novos começos diferentes. Novo nascimento é um novo começo interior numa pessoa que recebe vida divina. Regeneração, por outro lado, é um novo começo exterior na vida de um crente, pela purificação da sua vida de uma forma prática. Os homens não podem ver a nova vida transmitida no novo nascimento, mas devem ser capazes de ver a mudança exterior na vida daquele que é salvo. Haverá uma notável ruptura com as coisas profanas e mundanas que ele uma vez buscava. (Veja: Regeneração.)

Em quarto lugar, os Cristãos muitas vezes confundem o novo nascimento com a vida eterna, mas também não são sinônimos. Ambos têm a ver com a posse da vida divina, mas de uma maneira diferente. Nascer de novo é ter a vida divina em embrião, por assim dizer. Considerando que a vida eterna tem a ver com a posse da vida divina na consciência do nosso relacionamento com o Pai e o Filho (Jo 17:3), no terreno da redenção (Jo 3:14-15) e no poder da habitação Espírito (Jo 4:14). A possessão desse caráter de vida é chamada de "vida eterna". Isso exigiu a vinda do Filho de Deus para o mundo (Jo 10:10).

Os crentes que viveram antes da vinda de Cristo não poderiam ter tido esse caráter de vida divina, embora eles tenham certamente nascido de novo. J. N. Darby disse: "Quanto aos santos do Antigo Testamento, vida eterna não fazia parte da revelação daquela época, mesmo supondo que os santos do Antigo Testamento a tivessem" (Notes e Jottings, pág. 351). Não dizemos que há dois tipos de vida divina – há apenas um tipo de vida divina – a vida de Cristo (Jo 1:4). Os santos do Antigo Testamento tinham a mesma vida divina que os Cristãos, mas não tinham a revelação da verdade concernente ao Pai e ao Filho e à obra da redenção e ao selo do Espírito. Portanto, a Escritura não chama a vida divina que eles tiveram como sendo vida eterna.

Esta vida mais abundante, que é a vida eterna (Jo 10:10), não é chamada assim porque descreve a sua duração, mas porque descreve o seu caráter. É o próprio caráter da vida a qual o Pai e o Filho desfrutavam em comunhão Um com o Outro na eternidade, antes da fundação do mundo. Os Cristãos nascem de novo (Tg 1:18; 1 Pe 1:23), como também os santos do Antigo Testamento, mas ao receberem a Cristo como seu Salvador, eles têm algo mais – eles têm "vida eterna" (Jo 3:15-16).

Outra distinção entre o novo nascimento e a vida eterna é que a vida divina transmitida aos pecadores pelo novo nascimento é feita sem nenhuma ação consciente de sua parte (Jo 3:8), enquanto a vida eterna é dada a uma pessoa quando conscientemente crê no Senhor Jesus Cristo e O recebe como seu Salvador (Jo 3:16, 36, 5:40, 6:47). (Veja: Vida Eterna)

OFÍCIO

Este termo tem a ver com o governo da igreja – a administração da assembleia (1 Tm 3:1, 10, 13). É algo que é realizado exclusivamente na esfera local da assembleia. Não há na Escritura algo como um governo central nacional ou mundial colocado sobre as assembleias.

A Bíblia ensina que há dois desses ofícios administrativos no governo da igreja:

Bispo (At 14:23, 20:17-35; 1 Tm 3:1-7, 5:17-18; Tt 1:5-9; Hb 13:7, 17, 24; 1 Pe 5:1-4; Ap 1:20).

Diácono [ministro] (At 6:3; 1 Tm 3:8-13).

Os bispos são aqueles que "tomam a iniciativa" na direção da assembleia local em seus assuntos administrativos e estão particularmente ocupados com o estado espiritual do rebanho (1 Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17 – JND). A versão inglesa King James refere-se a esses homens como "os que têm o domínio sobre vós", mas essa expressão pode levar a um mau entendimento e transmitir a ideia equivocada de que exista uma casta especial de homens que estão "sobre" o rebanho, ou seja, o clero. A tradução correta seria: "Aqueles que tomam a iniciativa entre vós". Isso mostra que eles não devem ter "domínio" sobre o rebanho (1 Pe 5:3). Esse trabalho não se refere necessariamente à condução no ensino ou na pregação pública, mas aos assuntos administrativos da assembleia. Confundir estas duas coisas é entender mal a diferença entre dom e ofício, que são duas esferas distintas na casa de Deus. Alguns dos que tomam essa iniciativa podem não ensinar publicamente, mas são muito bons e úteis quando o podem fazer (1 Tm 5:17). Esses homens devem conhecer os princípios da Palavra de Deus e ser capazes de colocá-los para que a assembleia possa entender o curso de ação que Deus tomaria em algum assunto específico (Tt 1:9).

três palavras usadas nas epístolas para descrever esses guias na assembleia local:

Em primeiro lugar, "anciãos" (Presbuteroi). Isso se refere aos avançados em idade e implica maturidade e experiência em assuntos espirituais (At 14:23, 15:6, 20:17; Fl 1:1; 1 Tm 5:17-19; 1 Pe 5:1-4). No entanto, nem todos os homens idosos na assembleia necessariamente assumem o papel de guias (1 Tm 5:1; Tt 2:1-2).

Em segundo lugar, "bispos" (Episkopoi). Isso se refere ao trabalho que eles fazem – pastoreando o rebanho (At 20:28; 1 Pe 5:2), vigiando as almas (At 20:31; Hb 13:17), e admoestando (1 Ts 5:12).

Em terceiro lugar, eles são chamados de "pastores [guias]" (Hegoumenos). Isso se refere à sua capacidade espiritual de liderar e guiar os santos (Hb 13:7, 17, 24).

Não são três posições diferentes na assembleia, mas sim três aspectos de um trabalho que esses homens fazem. Isso pode ser visto da maneira pela qual o Espírito de Deus usa esses termos de forma intercambiável. (Compare At 20:17 com 20:28 e Tt 1:5 com 1:7). No livro de Apocalipse, aqueles que estão neste papel são chamados de "estrelas" e também como "o anjo da igreja que está em [local]" (Ap 1-3). Como "estrelas", eles devem testemunhar da verdade de Deus (os princípios de Sua Palavra) como portadores da luz na assembleia local, fornecendo luz sobre vários assuntos que a assembleia pode se confrontar. Isso é ilustrado em Atos 15. Depois de ouvir o problema que estava preocupando a assembleia, Pedro e Tiago forneceram luz espiritual sobre o assunto. Tiago aplicou um princípio da Palavra de Deus e deu seu julgamento quanto ao que ele acreditava que o Senhor queria que eles fizessem (vs. 15-21). Como "o anjo da igreja", eles agem como mensageiros para trazer a mente de Deus na assembleia na realização da ação. Isso também está ilustrado nos versículos 23-29.

Hoje não há qualquer nomeação oficial de anciãos/bispos/guias para este trabalho, como havia na Igreja primitiva (At 14:23; Tt 1:5), porque não há apóstolos (ou delegados pelos apóstolos) na Terra para ordená-los. Isso não significa que o trabalho de supervisão não possa continuar hoje. O Espírito de Deus ainda está levantando homens para fazer este trabalho (At 20:28). Esses homens não se nomeiam para esse papel, nem são nomeados pela assembleia, como é frequentemente o caso na Igreja hoje. Eles certamente seriam aqueles que um apóstolo ordenaria se estivesse aqui hoje. A assembleia os conhecerá pelo cuidado dedicado aos santos, pelo seu conhecimento dos princípios bíblicos e pelo seu sadio julgamento – e deve reconhecê-los como tais, mesmo que não tenham sido nomeados oficialmente.

No discurso de despedida de Paulo para os anciãos de Éfeso, ele deu uma descrição do caráter e do trabalho de um ancião/bispo/guia, usando a si mesmo como exemplo (At 20:17-35). Ele cuidadosamente delineou o que eles devem ser:

Consistentes (v. 18)

Humildes (v. 19).

Compassivos (v. 19).

Perseverantes (v. 19).

Fieis (v. 20).

Comprometidos (vs. 21-24).

Enérgicos (vs. 24-27).

E também descreveu o que eles devem fazer:

Pastorear o rebanho (v. 28).

Vigiar contra dois perigos sempre presentes: de lobos que entram e homens atraindo discípulos após si (vs. 29-31).

Usar os recursos que Deus deu para essa obra: a oração e a Palavra de Deus (v. 32).

Estar envolvidos no ministério de dar de uma forma prática (vs. 33-35).

O segundo ofício administrativo na assembleia local é o de um "diácono". Isso diz respeito ao trabalho de atendimento aos assuntos temporais da assembleia – coisas materiais, assuntos financeiros, etc. (At 6:3; 1 Tm 3:8-13). A palavra "diácono" significa "servo" e pode ser traduzida como "ministro". Como exemplo, quando Barnabé e Paulo saíram na sua primeira jornada missionária, "tinham também a João como cooperador" (At 13:5). A palavra "ministro" nesse caso pode ser traduzida como "servo" ou "cooperador", e refere-se ao mesmo tipo de trabalho. Por isso, João Marcos ajudou Barnabé e Paulo em coisas temporais no campo missionário. No caso do diácono em 1 Timóteo 3, no entanto, está em conexão com coisas temporais que pertencem à assembleia local.

Atos 6:1-5 ilustra isso. Uma necessidade prática de administrar coisas temporais surgiu na assembleia em Jerusalém. Os apóstolos naquela assembleia disseram: "Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas". A palavra "servir" aqui tem a mesma raiz da palavra "diácono". Certos homens, portanto, foram nomeados para cuidar do "ministério diário" (ou distribuição de fundos) e "servir mesas", para que os apóstolos estivem livres para continuar seu trabalho de ministério da Palavra.

É triste dizer que a Igreja hoje tirou do termo "ministro" o seu significado e uso bíblico e o conectou à posição criada pelo homem de um clérigo com títulos oficiais de "Ministro" e "Pastor". O lugar e o trabalho de um ministro foram convertidos em uma posição proeminente de pregação e ensino na Igreja – muitas vezes com uma equipe de pessoas que ajudam o pregador. Na Escritura, é exatamente o contrário; um ministro é um servo daqueles que pregam e ensinam! (At 13:5; Rm 16:1)

Uma diferença notável nas qualificações de um bispo e um diácono é que não há menção de que o diácono seja "apto para ensinar". Diz que ele deve manter "o mistério da fé", o que indica que ele deve conhecer a verdade – como todos os santos devem – mas não há nenhuma menção a ele ser apto a ensinar ou a pregar. Outra diferença notável entre esses dois ofícios é que, enquanto os bispos não devem ser escolhidos pela assembleia para o seu trabalho, a assembleia escolhe seus diáconos. Mais uma vez, isso é visto em Atos 6. Os apóstolos instruíram a assembleia em Jerusalém para escolher os homens que eles achavam que eram mais adequados para esse trabalho. Há sabedoria nisso: quem melhor conhece o caráter dessas pessoas do que aqueles que andam em comunhão com eles diariamente? Deve também notar-se que, mesmo após a assembleia ter escolhido esses homens, ela não os ordenou, porque a assembleia (naquele tempo ou agora) não tem poder de ordenação. A assembleia trouxe aqueles a quem escolhera aos apóstolos que os nomearam oficialmente para aquele ofício. Um exemplo desse trabalho pode ser visto no "irmão" que tinha boa reputação por sua confiabilidade sendo "escolhido das igrejas" para ajudar nas questões da coleta e trazê-la aos santos pobres em Jerusalém (2 Co 8:18-19).

Se esse trabalho temporal é realizado de forma fiel, o diácono/ministro ganhará oportunidades em outras áreas de serviço – particularmente no testemunho verbal do evangelho (1 Tm 3:13). A vida bem ordenada e o trabalho fiel de um diácono/ministro na casa de Deus torna-se um testemunho para todos os que estão em sua volta de que ele é um em quem se pode confiar. Isso está ilustrado nas vidas de Estevão e Filipe em Atos 7-8. Esses homens eram diáconos na assembleia em Jerusalém (At 6:5), e tendo feito seus trabalhos fielmente, se tornaram ousados na fé e testemunharam do Senhor diante do Sinédrio (At 7) e na cidade de Samaria (At 8). Estevão tinha um dom de ensino, e Filipe era um evangelista dotado (At 21:8). Mas isso não significa que todos os diáconos tenham dons públicos.

PASTOR

Esse é um dos dons que Cristo, a Cabeça da Igreja, deu à Igreja quando subiu ao céu. "Pastor" (Ef 4:11), refere-se a homens que foram dotados de capacidades espirituais para guiar e aconselhar os santos em questões práticas e, portanto, podem cuidar do estado espiritual do rebanho. Uma das capacidades especiais que um pastor tem é "a palavra da sabedoria" (1 Co 12:8). Essa é a capacidade dada por Deus para expressar a sabedoria divina em palavras pelas quais os santos são ajudados na sua caminhada com o Senhor. É por isso que essas capacidades são chamadas de "palavra" da sabedoria.

É triste dizer que os homens inventaram uma posição na Igreja (um clérigo) que não existe na Palavra de Deus e que "sequestraram" o termo "pastor" e o conectaram a essa posição criada pelo homem. Essa posição é ocupada por um homem ou uma mulher, formalmente treinado em um seminário e ordenado por homens com a finalidade de pregar e ensinar numa congregação Cristã. Essa posição não-bíblica tem sido aceita pelas massas na profissão Cristã há séculos. Há tanto tempo existe e está tão difundida que é aceita de forma incontestada como sendo o ideal de Deus. Ela pode ser vista desde a basílica de São Pedro, em Roma, até a menor capela evangélica num campo.

Os irmãos nos anos 1800, que foram envolvidos na recuperação de muitas verdades para a Igreja, que tinham sido perdidas há séculos, procuraram nas Escrituras para ver se a posição de um clérigo era bíblica e descobriram que não era. W.T.P. Wolston disse de forma sucinta: "Há uma noção na Cristandade de que um pastor é um homem colocado sobre uma congregação. A ideia está na mente das pessoas, mas não na Escritura!" (The Church: What Is It? pág. 173). Esses homens (nos anos 1800) viram nas Escrituras que Cristo prometeu estar "no meio" daqueles a quem o Espírito de Deus reuniu para o Seu nome (Mt 18:20). E, com Alguém tão grande e tão competente como Ele, presente entre os santos reunidos, não é necessário nomear um homem para liderar e guiar a congregação – independentemente de quão dotado essa pessoa possa ser. C.H. Mackintosh disse: "Se Jesus está em nosso meio, por que deveríamos pensar em estabelecer um homem como dirigente? Por que não unanimemente e de todo o coração, permitir que Ele ocupe a cadeira do Líder e se inclinar a Ele em todas as coisas? Por que estabelecer uma autoridade humana, qualquer que seja sua forma, na casa de Deus?" (The Assembly of God, pág. 23).

Estabelecer um homem na assembleia para conduzir as reuniões e administrar a Ceia do Senhor é um grave erro eclesiástico. Não há sequer insinuação de tal coisa na Palavra de Deus, como um homem, mesmo um apóstolo, sendo separado para isso. As Escrituras simplesmente dizem: "ajuntando-se os discípulos para partir o pão" (At 20:7). Independentemente do fato de que as Escrituras ensinam que os crentes devem se reunir para adoração e ministério, ao nome do Senhor somente, esperando a direção do Espírito para guiá-los, dificilmente se encontrará uma reunião de oração sem que alguém (um líder de oração) seja nomeado para conduzi-la. Isso nada mais é do que o homem usurpando o lugar de Cristo e do Espírito Santo na assembleia!

Todos os grupos Cristãos dirão que eles possuem a presença do Espírito em seu meio, mas a prova de que realmente acreditamos no poder e na presença do Espírito na Igreja será demonstrada ao permitirmos que o Senhor dirija as coisas nas reuniões da Igreja pelo Espírito. O que as Escrituras requerem de nós é fé no poder do Espírito, ao deixá-Lo em Seu devido direito de empregar quem Ele quiser para falar nas reuniões. Se foi pelo poder do Espírito que Deus criou o mundo e tudo o que nele há (Jó 26:13, 33:4; Gn 1:2), certamente o Espírito é capaz de guiar alguns Cristãos que estão reunidos para adoração e ministério! Na verdade, a Escritura diz que esta é uma das razões porque o Espírito foi enviado para habitar na Igreja (1 Co 12:4-11). Assim, desde o momento em que o Espírito de Deus foi enviado ao mundo no Pentecostes, será inútil procurarmos no Novo Testamento qualquer tipo de posição na Igreja que, mesmo de longe, se assemelhasse à de um clérigo.

A Escritura não ensina que deve haver um homem na congregação que tenha o direito oficial ao ministério. De fato, ensina que a cada membro do corpo de Cristo foi dado um dom (1 Co 12:7; Ef 4:7; 1 Pe 4:10; Rm 12:6-8) e todos os que têm um dom para ministrar a partir da Palavra de Deus devem ter liberdade para exercer o seu dom na assembleia, conforme o Espírito conduzir (1 Co 12:7-10). No entanto, a posição de um clérigo impede essa manifestação do Espírito nas congregações Cristãs (1 Co 12:1 – JND).

Todo o processo de treinamento e ordenação de um Pastor/Ministro também é uma invenção humana. Não há uma pessoa na Bíblia que tenha sido ordenada pelos homens para pregar a Palavra para a Igreja! W. Kelly disse: "Na verdade, com relação ao que o Novo Testamento fala – e ele fala de forma completa e precisa – nunca alguém foi ordenado pelo homem para pregar o evangelho" (Lectures on the Church of God, pág. 183). As pessoas geralmente respondem: "Mas os homens foram ordenados na Bíblia". Sim, a Bíblia nos diz que Paulo e Barnabé ordenaram anciãos em cada cidade em uma de suas jornadas missionárias (At 14:23). Mas não há um único exemplo nas Escrituras onde Paulo, Barnabé, Tito, etc., tenham ordenado um pastor, mestre ou evangelista com a finalidade de pregar e ensinar!

Alguém professar ter o poder de ordenar é igualmente algo sem propósito. Todo o valor da nomeação de uma pessoa para um ofício depende da validade do poder daquele que faz a nomeação. A Escritura não permite nenhum poder de nomeação, exceto o de um apóstolo, ou de um enviado que tenha recebido de um apóstolo uma comissão para esse propósito. Mas onde há, nos dias de hoje, alguém que possa comprovar adequadamente ter uma comissão apostólica para a atividade de nomeação? A Palavra de Deus nem sequer sugere a continuação desses poderes de ordenar. W. Kelly concluiu: "Minha afirmação é que, nesta questão da ordenação, a Cristandade perdeu a mente e a vontade de Deus, e é ignorante, mas não sem pecado, lutando por uma ordem própria, que é mera desordem diante de Deus" (Lectures on the Church of God, pág. 192). É claro que aqueles que professam poder ordenar hoje não têm qualquer autoridade de Deus para isso.

As organizações da igreja na Cristandade não apenas criaram uma posição que não existe na Palavra de Deus, mas também atribuíram vários títulos a essa posição que também não têm a sanção de Deus. É verdade que as palavras "ministro" e "pastor" são mencionadas na Bíblia, mas nunca são usadas como títulos. Um "pastor" é um homem dotado de capacidades espirituais para guiar, aconselhar e pastorear os santos em questões práticas da vida Cristã – não o título de clérigo. A Palavra de Deus ensina que pastores são apenas um dos muitos dons que Cristo deu (Ef 4:11). Por que estabelecer esse dom na igreja com um título oficial e atribuir a essa pessoa preeminência sobre os outros? A Escritura condena a entrega de títulos lisonjeiros aos homens (Jó 32:21-22). Uma denominação chama seu clérigo "Padre (Pai)", mesmo tendo o Senhor dito para que não se fizesse isso (Mt 23:9). Outras organizações da igreja usam o título "Doutor". (A palavra "doutor" vem do Latim docere, o que significa ensinar, ou seja, um professor). Outras denominações usam o título, "Reverendo". Isso é ultrajante; a Bíblia nos diz que "Reverendo" é um dos nomes do Senhor! (Sl 111:9 – KJV)

PAZ

Há pelo menos sete aspectos da paz nas Escrituras – alguns relacionados à posição do crente diante de Deus, alguns relativos ao estado do crente e um ao futuro estado do mundo sob o reinado público de Cristo. Alguns desses aspectos são posicionais, outros são práticos e o último é profético (ainda por ser cumprido).

  1. Paz em conexão com a posição do crente

A. P. Cecil indicou que há três partes para a posição em paz do crente, e que nos pertencem desde o momento em que cremos no evangelho e fomos selados com o Espírito Santo. Elas são:

a) Paz com Deus (Rm 5:1)

Esta é uma "paz" exterior que existe entre Deus e o crente como resultado de ser "justificado pela fé". É uma condição exterior que prevalece entre duas partes que antes estavam separadas. Da mesma forma, quando duas nações estão em guerra, não há paz. Mas se a paz for estabelecida entre elas, a guerra acaba, cessam as hostilidades e os inimigos são transformados em amigos. Isso foi exatamente o que aconteceu com o crente pela fé na morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Não existe mais uma separação entre nós e Deus; prevalece agora uma condição de "paz com Deus".

Algumas pessoas pensam que o pecador precisa fazer a paz com Deus. Eles dirão: "Faça a sua paz com Deus". No entanto, não podemos fazer paz com Deus porque não somos capazes de atender às reivindicações da justiça divina necessária para a paz. Graças a Deus, Ele interveio para assegurá-la ao crente. A Bíblia ensina que esta paz foi feita para os homens pela obra de Cristo na cruz (Cl 1:20). Assim, tudo o que temos a fazer é crer no testemunho de Deus sobre esse fato, e "sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo".

Esse aspecto da paz é uma realidade objetiva e não um sentimento subjetivo ou um estado de espírito. Assim, não é um sentimento de paz interior na alma do crente, como algumas pessoas pensam. Os sentimentos de paz podem vir e ir, dependendo das circunstâncias e do estado de alma de uma pessoa, mas não fazem parte da justificação do crente e de sua "paz com Deus". A paz com Deus é uma condição permanente na qual o crente habita com Deus. É tão segura e inabalável como seu fundamento: a morte e a ressurreição de Cristo. Romanos 5:1 não está falando do gozo de nossa paz com Deus, mas sim do fato de que temos paz com Deus. Essa paz não depende do nosso estado de alma, nem pode ser perdida pelas fraquezas do nosso caráter ou falhas no caminho da fé, porque é uma coisa eternamente estabelecida e inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus. Portanto, não temos mais desta paz caminhando em comunhão com o Senhor, nem temos menos dela se não caminharmos com Ele.

b) Paz da libertação (Rm 8:6)

Esse aspecto da paz é algo interior. Tem a ver com o crente ser trazido ao descanso em sua alma com relação à culpa de seus pecados. É uma paz interna na alma do crente resultante do conhecimento da sua aceitação (Rm 8:1) e da libertação (Rm 8:2-4). Assim, o crente tem um profundo senso de ter sido libertado do julgamento, e isso faz com que a paz e o descanso preencham sua alma. Esse aspecto interior da paz é muitas vezes confundido com a paz exterior com Deus, acima mencionada.

A aceitação tem a ver com o entendimento do que foi realizado na obra consumada de Cristo na cruz e do lugar que Ele tem à direita de Deus. Como consequência da Sua ressurreição e ascensão, o Senhor agora está em um lugar diante de Deus que está além da condenação. E, devido à habitação do Espírito de Deus no crente, o crente está "em Cristo" (Rm 8:1, etc.). "Em Cristo" é um termo técnico usado na doutrina de Paulo para demonstrar o crente estando "no lugar de Cristo perante Deus" (Ef 1:6). Assim, ele é tão aceito como Cristo é aceito (1 Jo 4:17). (Veja: Aceitação e Em Cristo)

A libertação tem a ver com o Espírito efetuando uma libertação do poder do pecado na alma do crente (Rm 8:2-4). Isso não significa que ele não possa mais pecar, mas que existe um poder nele que lhe permite viver sem pecar, se ele andar no Espírito. Isto é assim em virtude da "lei [princípio] do Espírito de vida, em Cristo Jesus", agindo no crente para superar as inclinações da carne. J. N. Darby observou que quando uma alma obtém essa paz, nunca mais entra em dúvidas a respeito de sua salvação. (Veja: Libertação.)

c) Paz racial (Ef 2:14-15)

Refere-se à condição de paz existente entre os membros do corpo de Cristo, apesar de suas posições anteriores como judeus e gentios serem totalmente opostas. A grande obra de reconciliação com Deus por meio do sangue de Cristo (Ef 2:13), não somente trouxe o crente para perto de Deus, mas também a uma união com os outros membros do corpo de Cristo. Assim, as diferenças que existiram durante séculos entre judeus e gentios foram anuladas; eles estão agora juntos, unidos ao corpo de Cristo pela habitação interior do Espírito.

Como mencionado, os três aspectos de nossa posição em paz são nossos no momento em que cremos no evangelho e somos selados com o Espírito Santo.

  1. Paz em conexão com o estado do crente

Quando o estado de alma do crente está correto, e ele está caminhando em comunhão com o Senhor, existem certos aspectos da paz prática que ele irá desfrutar. Tudo isso tem a ver com o estado do crente. Se, no entanto, ele negligencia andar com o Senhor, não terá os seguintes aspectos da paz:

a) A Paz de Deus (Fp 4:7)

Essa se refere ao estado de tranquilidade no qual o próprio Deus habita. Ele vê e conhece todos os conflitos e problemas que ocorrem neste mundo, mas nenhuma dessas coisas perturba a paz em que Ele habita. Não é que Ele seja indiferente a tudo isso – Ele está muito preocupado com o sofrimento, a tristeza, a violência, etc., e corrigirá tudo um dia – mas isso não perturba a Sua paz. Paulo ensina em Filipenses 4 que Deus quer que vivamos na própria paz em que Ele vive, para que nossas mentes e corações não sejam turbados pelas circunstâncias preocupantes pelas quais passamos neste mundo. Paulo diz que devemos trazer diante de Deus em oração tudo aquilo que nos preocupa e nos incomoda e fazer com que nossas "petições" sejam conhecidas por Ele (Fp 4:6). Ele não diz que Deus necessariamente nos dará tudo o que pedirmos, mas que Ele nos dará a paz nestas situações inquietantes da vida (Fp 4:7). Paulo continua dizendo que não só teremos "a paz de Deus" em nossas almas, mas também teremos "o Deus da paz" conosco em nossas circunstâncias (Fp 4:9). Ou seja, Ele nos concederá um senso especial de Sua presença. Compare Daniel 3:24-25. W. Scott disse: "Oh, Tê-Lo como teu Companheiro de viagem, constantemente ao teu lado; teu guia, guardião e amigo – o Deus da paz!" (Young Christian, vol. 5, pág. 128).

Nunca podemos perder a nossa "paz com Deus", pois está inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus em Cristo. Mas se não trazemos nossas preocupações e problemas a Deus em oração, não poderemos ter a "paz de Deus" em nossas almas e nos incomodaremos com muitas coisas nas vicissitudes da vida (Lc 10:41).

b) A Paz de Cristo (Jo 14:27; Cl 3:16)

Essa se refere ao estado de paz em que o próprio Senhor viveu quando Ele andou por este mundo. Ninguém viu problemas como Ele, nem sofreu como Ele. As dores que Ele experimentou devido ao ódio e à rejeição dos homens pesavam sobre o coração de Deus. No entanto, Ele tomou tudo em perfeita calma, sem ser indiferente. Essa calma veio da aceitação dessas circunstâncias como vindas da mão de Seu Pai, em perfeita submissão (Mt 11:26). Assim, Ele viveu em paz (Mc 14:61, 15:3-5) e dormiu em paz (Mc 4:37-41), e no final da Sua senda na Terra, deu essa paz a Seus seguidores (Jo 14:27), pois eles teriam que passar pelo mesmo mundo hostil.

A diferença entre a paz de Cristo e a paz de Deus é que a paz de Deus resulta quando trazemos nossos problemas e dificuldades para Deus em oração, enquanto que a paz de Cristo resulta de tomarmos nossos problemas e dificuldades como vindos de Deus, em submissão.

c) Paz entre os irmãos (Rm 14:19; 2 Co 13:11; Ef 4:3; 1 Ts 5:13; 2 Tm 2:22, 3:16; Hb 12:14; Tg 3:18; 1 Pe 3:11)

Esse aspecto da paz tem a ver com condições felizes e pacíficas existentes entre os irmãos. O salmista disse: "Eis quão bom e quão agradável é que os irmãos vivam em unidade" (Sl 133:1 – JND). Enquanto isso realmente está falando sobre as tribos de Israel habitando pacificamente, o princípio também é aplicável aos irmãos Cristãos. Satanás está fazendo tudo o que pode para perturbar a paz entre os irmãos. Os santos em cada assembleia local, portanto, devem "operar" sua "salvação" dos ataques malignos entre eles tendo a humildade de Cristo e cada um estimando o outro melhor do que a si mesmo (Fp 2:12).

  1. Paz mundial (Sl 72:3, 7, 147:14; Lc 2:14)

Isso tem a ver com a paz entre as nações na Terra. É algo que os reis e os governadores e políticos têm tentado realizar a milhares de anos, mas todos falharam. A Escritura nos diz que a paz mundial será estabelecida pelos julgamentos do Senhor em Sua Aparição. Ele diz: "havendo os teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça" (Is 26:9). Naquele tempo, o Senhor "faz cessar as guerras até ao fim da Terra" (Sl 46:9).

Muitos Cristãos acreditam que devem fazer o que podem para trazer a paz para o mundo neste presente Dia da Graça. Eles veem isso como seu dever Cristão. Por isso, eles se envolvem na política, apoiam o porte de armas, envolvem-se em protestar contra atos injustos na sociedade, etc. Esse pensamento equivocado tem suas origens na Teologia Reformada (Aliança), que ensina que o reino de Cristo será estabelecido por meio da pregação e da influência Cristã. Essas ideias têm influenciado em quase todos os setores da profissão Cristã hoje. No entanto, enquanto a Bíblia nos ensina que devemos procurar viver pacificamente entre os povos deste mundo (Rm 12:18; 1 Tm 2:1-2), ela não nos ensina a envolver-nos em seus assuntos políticos, porque somos meramente peregrinos passando por ele (1 Pe 2:11). A Bíblia nos assegura que, enquanto este mundo certamente será ordenado corretamente pela força nos julgamentos do Senhor, o Dia da Graça não é o momento para isso. O Senhor ensinou que, enquanto Ele fosse rejeitado por este mundo, seus seguidores não deveriam "lutar" em questões de justiça na sociedade (Jo 18:36; Ap 13:10; Mt 26:52). É uma causa perdida porque as Escrituras ensinam que o mundo continuará piorando, moral e espiritualmente, até que o Senhor intervenha no julgamento (2 Tm 3:13). Portanto, devemos aguardar Ele ordenar o mundo por meio do julgamento que fará na Sua Aparição (At 17:31; 2 Ts 1:7-9; Ap 11:15). Naquele tempo, Ele trará "paz ao povo" de todo este mundo (Sl 72:3).

PECADOS & PECADO

Como regra nas epístolas do Novo Testamento, "pecados" (plural) referem-se às más ações que os homens fazem, e "pecado" (singular) é a natureza caída nos homens (a carne). Assim, "pecados" são ações más, enquanto "pecado" é a natureza má. O primeiro é o que fazemos, e o segundo é o que somos. Assim, "pecados" são manifestações do "pecado", ou "pecados" são o produto do "pecado", ou "pecados" são os frutos de uma árvore má e o "pecado" é a raiz dessa árvore má. O "pecado" é mais do que apenas a velha natureza do pecado; é aquela natureza má com uma vontade determinada a satisfazer suas concupiscências.

Outra diferença entre essas duas coisas é que os "pecados" podem ser "perdoados" pela graça de Deus (Rm 4:7), mas o "pecado" não é perdoado, mas sim é "condenado" sob o justo julgamento de Deus (Rm 8:3). É importante prestar atenção a essa distinção ao ler as epístolas; se não o fizermos, iremos chegar a conclusões equivocadas.

PENHOR DO ESPÍRITO, O

O penhor é um adiantamento feito por algo que uma pessoa pretende tomar posse no futuro. É usado frequentemente em conexão com imóveis. Na Bíblia, é usado para indicar a presença do Espírito no crente como uma garantia de sua porção em Cristo no dia vindouro de glorificação, e também o que lhe permite desfrutar sua porção em Cristo antes que ele chegue ao céu (2 Co 1:22, 5:5; Ef 1:14).

H. P. Barker ilustrou o "penhor do Espírito" como segue: "É como se fosse assim. Eu estou indo em uma viagem marítima, e prometo levar meu filho, um menino de doze anos, comigo. Para seu deleite a bordo do navio eu lhe compro um telescópio – não um mero brinquedo, mas um instrumento realmente útil. Para ele o presente é uma garantia da minha parte de que eu pretendo levá-lo na viagem, mas é mais do que isso. Quando a viagem está chegando ao seu fim, uma palavra percorre todo o navio informando que a terra está à vista. Não consigo ver nada, mas meu garoto com seu olho no telescópio, diz que ele pode ver as montanhas com bastante clareza. Logo eu começo a traçar os contornos das montanhas, mas meu menino exclama: �Eu posso ver árvores e algumas casas�. Essas coisas um pouco mais tarde podem ser discernidas a olho nu, mas o menino grita: �Pai, posso ver as pessoas no porto�. O telescópio lhe dá uma visão mais clara da terra para a qual ele está indo e lhe permite obter vislumbres dela antes do desembarque. Isso é o que o Espírito Santo como o Penhor faz por nós. Ele nos dá uma visão espiritual mais precisa; nos coloca num terreno de presente gozo das grandes coisas que constituem nossa herança eterna; Ele nos capacita, por assim dizer, a respirar a atmosfera do céu e a conhecer o que existe lá antes de chegarmos ali" (Holy Spirit Here Today, pág. 73).

G. Cutting tinha uma boa ilustração que enfatiza o trabalho do Espírito no crente como o Penhor, concedendo ao crente já desfrutar daquilo que receberá no dia vindouro. Ele imaginou um fazendeiro comprando algumas ovelhas em um mercado e confiando-as a seu capataz para levá-las com segurança para casa. " João, coloque-as em um cercado ao lado do celeiro, corte alguns maços daquele capim do campo atrás da casa, e coloque-os no recinto para as ovelhas se alimentarem nesta noite. Amanhã, vamos colocá-las no próprio campo". Isso descreve exatamente a nossa situação. Somos ovelhas compradas e confiadas aos cuidados do Espírito Santo, que nos conduzirá ao céu. No glorioso "cedo venho", pelo qual esperamos, vamos ser transformados nesse campo de capim celestial, por assim dizer. Entretanto, o Espírito como o Penhor de nossa herança nos dá hoje para provar o "capim" das coisas que virão para nosso prazer.

PERDÃO (Remissão)

O significado básico que a palavra "perdão" transmite é "liberar alguém de (ou cancelar) uma dívida". Às vezes é traduzida como "remissão" para transmitir essa ideia. W. Kelly disse: "O perdão é a remissão dos pecados daqueles que creem em Jesus pela fé no Seu sangue" (The Bible Herald, vol.1, pág. 234).

W. Potter indicou que há cinco aspectos do perdão nas Escrituras (The Christian, 2006 January):

  1. Perdão judicial ou eterno

Isso tem a ver com o perdão que uma pessoa recebe de Deus pela fé que o livra do julgamento eterno de seus pecados. Assim, ele tem "a remissão" de seus pecados (Mt 26:28; Lc 24:47; At 2:38, 10:43; Hb 9:22) ou "o perdão dos pecados" (At 5:31, 13:38, 26:18; Ef 1:7, 4:32; Cl 1:14; 1 Jo 2:12). Ao receber esse perdão, a consciência do crente é purificada quanto à sua culpa (Hb 9:14, 10:2, 22), e assim ele tem um conhecimento consciente de que seus pecados foram divinamente perdoados. Essa é a bênção que cada crente no Senhor Jesus Cristo já possui (Ef 1:7).

Esse aspecto eterno de perdão dos pecados foi anunciado pela primeira vez quando o Senhor ressuscitou dos mortos (Lc 24:47). Antes disso, nos tempos do Antigo Testamento e durante o ministério do Senhor na Terra, o perdão foi concedido a pessoas num sentido puramente governamental (Êx 32:32; Lv 4:20, 26, 31, 35; 1 Rs 8:34-39; Sl 86:5; Jr 36:3; Mt 9:2-6, 6:14; Lc 7:47-48, 23:34). Assim, os santos do Antigo Testamento não conheceram esse aspecto eterno de perdão dos pecados. Consequentemente, eles viveram com a incerteza de saber se seus pecados seriam trazidos a julgamento por Deus (Sl 25:7, etc.). H. E. Hayhoe declarou: "Antes do primeiro advento de Cristo, a verdade do perdão eterno de pecados não foi conhecida. De modo geral, o perdão, como referido no Antigo Testamento, era governamental – isto é, tinha a ver com esta vida, mas não com a eternidade" (Present Truth For Christians, pág. 10).

Isso não significa que os santos do Antigo Testamento não estejam no céu, mas que não tinham a consciência de que seus pecados tinham sido perdoados, como têm os Cristãos, porque não conheciam a obra consumada de Cristo. Seus pecados foram mantidos em suspenso sob "a paciência de Deus", esperando o tempo em que Deus os colocaria sobre o Senhor Jesus na cruz, onde eles seriam judicialmente tratados de acordo com as reivindicações da justiça divina (Rm 3:25). Mas os santos do Antigo Testamento não conheciam isso. Assim, seus pecados foram "cobertos" (Sl 32:1), mas hoje com a obra de Cristo tendo sido consumada e com a vinda do Espírito Santo, pelo evangelho temos uma revelação mais completa sobre o que Deus fez com nossos pecados. Sabemos que nossos pecados foram "perdoados" (At 13:38) e que eles foram "aniquilados" (Hb 9:26) e "tirados" (1 Jo 3:5).

  1. Perdão governamental

Refere-se ao perdão que Deus concede a uma pessoa, retirando Seu julgamento governamental que estava sobre ela por causa de seus caminhos pecaminosos (Mt 18:23-25; Gl 6:7, 11:29-32; 1 Pe 1:16-17, 3:12, 4:17; 1 Jo 5:16-17), sendo ela assim perdoada (Sl 103:10-11; Mt 18:26-35; Jo 5:14; Tg 5:15).

Este aspecto do perdão está condicionado a duas coisas da parte daquele que é perdoado. Em primeiro lugar, deve haver arrependimento genuíno (Lv 26:40-41; 2 Cr 12:7, 12, 33:11-13, 19; Jn 3:5-10; 1 Jo 1:9). Em segundo lugar, deve haver a manutenção de um espírito perdoador para com os outros (Mt 6:12, 14-15, 18:23-35; Mc 11:25-26; Lc 6:37). J. N. Darby destacou que esses dois requisitos são ilustrados na vida de Jó. Ele se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42:6) e orou por seus três amigos que o acusaram injustamente, pedindo a Deus que os perdoasse (Jó 42:10). Quando Deus viu essas duas coisas em Jó, Ele removeu sua disciplina e "virou" seu "cativeiro". Uma pessoa nem precisa ser um crente verdadeiro para experimentar esse tipo de perdão governamental de Deus. Este foi o caso do rei Acabe (1 Rs 21:27-29). Portanto, é possível que uma pessoa seja governamentalmente perdoada, mas não eternamente perdoada! (Collected Writings of J. N. Darby, vol. 31, pág. 362).

Quando vemos os filhos de Deus pecando, em circunstâncias normais, devemos orar para que o pecado "lhes não seja imputado" e que sejam governamentalmente perdoados (2 Tm 4:16; 1 Jo 5:16a). Porém pode haver ocasiões em que o discernimento dirá que não deveríamos orar desta maneira por uma pessoa e, portanto, concordar com a sabedoria de Deus em Seus tratamentos governamentais com Seu povo (1 Jo 5:16b).

É importante entender que tanto o julgamento governamental quanto o perdão governamental têm a ver com o tratamento de Deus com os homens enquanto vivem na Terra. Esses tratamentos não afetam seu destino eterno. Os tratamentos governamentais de Deus com os crentes dizem respeito à sua comunhão com Ele, não ao seu relacionamento com Ele.

  1. Perdão restaurativo

J. N. Darby trata isso como uma forma de perdão governamental (Sinopse of the Books of the Bible na nota de rodapé de 1 João 1:9). Tem a ver com Deus retirando Sua disciplina governamental que foi sentida por um de Seus filhos que agiu errado e que teve sua comunhão interrompida pela sua própria negligência e pecado, por cujo perdão a comunhão é novamente desfrutada. A disciplina é retirada porque houve julgamento próprio e confissão de pecados (1 Jo 1:9). O Sr. Darby explica esta forma de ação governamental de Deus da seguinte maneira: "Se falarmos de maneira impensada com nosso irmão, ou andarmos descuidadamente pelas ruas e virmos em nós alguma vaidade, descobriremos o efeito disso em nossas próprias almas no final do dia com Deus. Se alguma palavra irada escapa de mim, eu sinto seu efeito no final do dia com Deus, mas a graça nos restaurará" (Nine Lectures on the First Epistle of John, pág. 15). Assim, mesmo algo tão simples, como ter pensamentos errados ou pronunciar palavras iradas, causará a interrupção da comunhão. Deus nos permite sentir essa perda como um tratamento governamental conosco. Quando o julgamos e o confessamos, a comunhão é restaurada.

Embora isso possa ser tomado como parte do perdão governamental, é um pouco diferente no sentido de que a comunhão pode ser restaurada a uma pessoa, mas ele ainda pode ter que governamentalmente levar as consequências de suas ações. Esse foi o caso de Davi. Deus lhe disse que, por causa de seu pecado com Bate-Seba e da morte de seu marido, a espada não se apartaria jamais de sua casa (2 Sm 12:9-10). Este julgamento foi com Davi todos os seus dias. Mas o Senhor disse que Ele havia traspassado o pecado de Davi por causa do seu arrependimento, e assim Davi foi restaurado à comunhão com o Senhor (2 Sm 12:13). Isto é evidente pelo fato de que ele escreveu muitos salmos de louvor e adoração após sua restauração à comunhão com Deus.

  1. Perdão fraternal

Isso tem a ver com perdoar nosso irmão se ele nos ofendeu (Mt 18:21-22; Ef 4:32). Há duas coisas aqui que não devem ser confundidas. Em primeiro lugar, devemos perdoar do nosso coração (Mt 18:35) a pessoa que nos fez mal. Ou seja, devemos manter um espírito perdoador para com ele, mesmo que não haja nenhum sinal de arrependimento nele. Isso é importante porque se não fizermos isso, sentimentos ruins podem surgir em nosso coração com relação a essa pessoa. E, em segundo lugar, quando a pessoa que nos ofendeu se arrepende e se desculpa pelo que fez, então devemos perdoá-la expressando-o de forma audível ou formal (Lc 17:3-4).

Lucas 17:3-4 tem sido usado para justificar a manutenção de um espírito imperdoável em relação a uma pessoa, porque ela não se desculpou. A parte ofendida dirá: "Eu não vou perdoá-la até que ela se arrependa, porque é o que as Escrituras dizem que devo fazer". No entanto, Mateus 18:35 mostra que, independentemente da pessoa se ter desculpado ou não, devemos manter um espírito de perdão para com ela. A Escritura adverte que aqueles que não perdoarem de coração a seus irmãos terão o perdão governamental do Senhor recusado nos erros que eles cometerem (Mt 6:14-15, 18:23-35; Mc 11:25-26).

  1. Perdão administrativo

Refere-se à assembleia atuando administrativamente nos assuntos de disciplina em relação aos indivíduos que agiram errado. Os apóstolos receberam esta autoridade do Senhor para agir administrativamente por Ele em assuntos de se reter os pecados de uma pessoa e o de perdoar seus pecados (Jo 20:23). As assembleias reunidas ao nome do Senhor também têm este poder (Mt 18:18-20; 1 Co 5:4). Se eles "tiram" uma pessoa da comunhão dos santos (1 Co 5), e se essa pessoa está arrependida, eles devem remover o julgamento colocado sobre ele e "perdoá-lo" (2 Co 2:6-11). (Veja: Julgamento, Julgamento Administrativo na Assembleia)

PERDIÇÃO ETERNA

Refere-se ao julgamento que pertence àqueles que estão eternamente perdidos (Mt 25:46). Eles existirão no inferno eternamente, onde pagarão o preço por seus pecados. (Veja: Inferno.)

Alguns pensam que a "perdição eterna" (2 Ts 1:9; Fp 3:19; Mt 7:13; 2 Pe 2:1, 12, 3:16, etc.) significa que as pessoas são consumidas pelo fogo do julgamento de Deus, e assim deixam de existir. Essa falsa doutrina é chamada Aniquilacionismo. A Palavra de Deus indica que a "perdição eterna" não tem a ver com a perda do ser de uma pessoa, mas com a perda do seu bem-estar eterno.

Jó 14:22 e Jó 30:24 torna claro que os incrédulos ainda existem depois que morrem, pois dizem que eles "clamam" e "lamentam" mesmo depois da destruição deles. Apocalipse 19:20 nos diz que a besta e o falso profeta foram lançados vivos no ardente lago de fogo e no capítulo 20, nos fala que o diabo é lançado no abismo durante o Milênio, e então é solto. E depois de uma breve rebelião, lemos: "E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre" (Ap 20:10). Nota: a besta e o falso profeta ainda estavam lá no lago de fogo após o reinado de mil anos de Cristo! Eles não deixaram de existir. Novamente, diz em Apocalipse 14:10-11: "e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E o fumo do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite". O tormento é uma condição que exige que uma pessoa exista para suportá-lo. Você não pode atormentar o que não existe. O Senhor também disse: "O seu bicho não morre" (Mc 9:48). Isso indica que os tormentos de uma consciência culpada não se extinguirão nos perdidos sob a punição eterna. Além disso, várias Escrituras nos dizem que o fogo do juízo de Deus "nunca se apaga" (Mt 3:12; Mc 9:43, 45; Lc 3:17). Que necessidade haveria de que o fogo continuasse se aqueles que forem lançados lá fossem aniquilados imediatamente? Alguns dizem que a própria morte é o juízo, mas a Escritura diz: "aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso (da morte) o juízo" (Hb 9:27). Se "depois" da morte vem o juízo, como poderia a morte ser o juízo?

Mesmo na linguagem comum "perdição" não significa a cessação da existência. Por exemplo, se pegássemos um machado e fizéssemos uma bela mesa de madeira em pedaços, poderíamos ser acusados de destruir a mesa. No entanto, haveria tanto material espalhado em uma pilha inútil no chão como quando compunha uma bela mesa. Uma vez destruída, ela não pode mais ser usada para a finalidade para a qual foi feita – mas o material de que foi construído ainda existe. É o mesmo com a destruição dos seres humanos. O homem foi feito para a glória de Deus (Is 43:21; Ap 4:11); se ele vai à "perdição eterna", não pode mais ser capacitado pela salvação para o propósito para o qual ele foi criado.

PERFEIÇÃO

A palavra "perfeito" significa o que está totalmente desenvolvido e completo. Ela é aplicada aos Cristãos de três maneiras:

Quanto à nossa presente posição diante de Deus.

Quanto ao nosso estado prático.

Quanto à nossa condição final.

  1. Perfeito em posição

No momento em que alguém crê no evangelho de sua salvação, ele é selado com o Espírito Santo (Ef 1:13) e tem uma posição diante de Deus "em Cristo" que é perfeita. Essa posição não será mais perfeita quando da sua entrada no céu. Ele é "aceito" diante de Deus como Cristo é, pois está no lugar de Cristo perante Deus (Ef 1:6). Isso foi feito possível pela oferta única de Cristo. A Escritura diz: "Com uma só oblação (oferta), aperfeiçoou para sempre [em perpetuidade] os que são santificados" (Hb 10:14). Essa perfeição envolve a "purificação" da consciência pela qual o crente sabe que seus pecados foram tratados com justiça e se foram para sempre (Hb 9:14). É algo que as ofertas no Judaísmo não poderiam fazer (Hb 9:9, 10:1), mas essas ofertas apontaram para a única oferta de Cristo que resolveu a questão do pecado diante de Deus para sempre (Hb 10:1-18). Conhecer isso torna o crente um adorador na presença imediata de Deus (Hb 10:19-22).

  1. Perfeito em estado

A Escritura também fala do fato de o crente ter sido feito "perfeito" quanto ao seu estado prático. A perfeição nesse sentido tem a ver com a maturidade Cristã – ou seja, um crente atingindo o crescimento completo. O grande fardo do apóstolo Paulo no ministério era apresentar os santos "perfeitos em Cristo Jesus". Ele diligentemente se esforçou em "ensinar" e em orar para esse fim (Cl 1:28-2:1; 1 Ts 3:10; 2 Co 13:9, 11). Epafras também é mencionado como orando pelos santos para que eles fossem "perfeitos" dessa maneira (Cl 4:12).

Há uma série de áreas onde os Cristãos precisam estar "perfeitos" nesse sentido (2 Pe 3:18):

a) Aperfeiçoando o foco de nossos corações (Fp 3:13-15)

Em Filipenses 3, vemos a vida de Paulo focada em "uma coisa" – Cristo e Seus interesses. Ele prosseguiu "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação" (o "alvo" no caminho da fé é alcançar a Cristo no alto, o "prêmio" no final do caminho é estar com Ele e ser como Ele em glória.) Todas as energias de Paulo foram canalizadas para aquela busca que o absorveu totalmente. Cristo tinha capturado seu coração, e tudo o que ele queria era mais d’Ele. Assim, todos os outros interesses, ambições e buscas na vida foram considerados estranhos e foram deixados de lado (Fp 3:4-8). Ele disse que tantos quantos tivessem "esse sentimento" eram "perfeitos". Assim, um Cristão completamente maduro, no que diz respeito ao seu foco, é aquele que persegue uma coisa em sua vida – Cristo na glória e os Seus interesses na Terra.

Aperfeiçoar o foco de nossos corações é uma das primeiras coisas que Deus trabalha em nós depois de nos tornarmos Cristãos. Tem muito a ver com nossas prioridades. Antes que uma pessoa se salve, geralmente ela está absorvida em algum aspecto do mundo e na busca de certos objetivos terrestres. Mas quando ela se converte para Cristo, e deixa as ambições e os objetivos terrenos que uma vez capturaram sua atenção, ela alcançou a perfeição Cristã nesse sentido. Uma consequência de ter nossos corações focados nessa "uma coisa" é que nos tornamos Cristãos devotos. Zelo e energia nas coisas de Deus são o que caracterizará nossas vidas. Com Paulo, isso foi uma coisa imediata em sua vida (At 9). No entanto, com a maioria dos crentes, é um processo, e é triste dizer, muitos nunca alcançam esse nível de maturidade Cristã. Paulo bem compreendeu que o desenvolvimento espiritual é uma coisa progressiva e afirmou que aqueles que estavam sentindo "alguma coisa doutra maneira" (aqueles que não estavam tão focados como ele estava), Deus lhes revelaria que a busca de Cristo era a realmente a única busca que vale a pena ter na vida (Fp 3:15). Paulo estava confiante de que, à medida que avançassem na vida Cristã e crescessem em graça, teriam menos interesses estranhos, e Cristo Se tornaria o único objetivo.

b) Aperfeiçoando o nosso entendimento da revelação divina

Paulo disse aos coríntios: "Adultos [perfeitos] em entendimento" (1 Co 14:20). Perfeição nesse sentido, tem a ver com a nossa compreensão da revelação da verdade Cristã. Isso mostra que Deus não quer que sejamos Cristãos devotos apenas, mas quer que também sejamos Cristãos inteligentes. Para esse fim, nos trouxe para o lugar favorecido de "filiação" (Ef 1:5) e "Ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência [inteligência], descobrindo-nos o mistério da sua vontade" (Ef 1:8-9). Isso nos foi revelado nas Escrituras do Novo Testamento – particularmente em Efésios e Colossenses. Se absorvermos a verdade por meio de um estudo diligente (1 Tm 4:6; 2 Tm 2:15), obteremos um conhecimento prático da verdade, e assim nos tornaremos "adultos [perfeitos]" nesse sentido (Hb 5:14). Como tal, seremos homens de Deus que podem ser usados por Deus na obra do Senhor (2 Tm 3:16-17). Poderemos nos levantar para a defesa da fé e, de forma inteligente, "responder com mansidão e temor a qualquer" que nos pede a "razão da esperança" que temos em Cristo (1 Pe 3:15, Jd 3).

O escritor da epístola aos hebreus exortou os santos nesse sentido dizendo: "prossigamos até a perfeição" (Hb 6:1). Para fazer isso, ele lhes disse que não deveriam voltar para a posição judaica do Antigo Testamento de onde vieram, mas "prosseguir" aos princípios do reino os quais o Senhor ensinou nos Evangelhos sinópticos – que ele chama "a doutrina dos princípios elementares de Cristo" (ATB) – até ao "completo crescimento" (JND) no Cristianismo, que é a verdade apresentada nas Epístolas. Esses crentes hebreus estavam, por assim dizer, em uma ponte que se estendeu do Judaísmo ao Cristianismo. Ele exortou-os a que não voltassem atrás na ponte, para o terreno do Antigo Testamento (o sistema legal do Judaísmo) de onde eles vieram, mas também não permanecessem na ponte abraçando apenas a verdade que havia sido manifestada pelo ministério do Senhor (Jo 14:25 – "estas coisas" – ATB). Ele queria que eles continuassem até o pleno Cristianismo, que ele chama de "perfeição". Essa é a verdade encontrada nas Epístolas (Jo 14:26 – "todas as coisas"). Se eles ficassem onde estavam, na ponte, por assim dizer, em algum lugar entre o Judaísmo e o Cristianismo, isso impediria seu crescimento espiritual e eles permaneceriam como bebês (Hb 5:11-13).

A necessidade desse trabalho de "aperfeiçoamento dos santos" neste sentido é grande, porque até que sejam estabelecidos na verdade, eles estarão em perigo de serem "levados em roda por todo o vento de doutrina" (Ef. 4:12-14). Na verdade, é a própria razão pela qual Cristo deu "dons" de edificação à Igreja – pastores, mestres, profetas, etc. (Ef 4:11). Se aproveitarmos o seu ministério, nós iremos "prosseguir até a perfeição" em nosso entendimento da revelação Cristã. Mesmo que possamos não ser dotados no ensino, ainda assim podemos ajudar os outros a entender "com mais precisão o Caminho de Deus" (ATB). Isso é o que Áquila e Priscila fizeram por Apolo (At 18:24-28).

c) Aperfeiçoando a santidade em nosso andar (2 Co 6:14-7:1)

Deus não quer que sejamos apenas devotos e inteligentes, mas também santos (na prática). Assim, a perfeição também é usada na Escritura em conexão com o andar em santidade do crente. Em 2 Coríntios 6:14-7:1, o apóstolo Paulo indicou que aperfeiçoar a santidade em nossas vidas tem duas partes: há o lado exterior envolvendo separação de coisas externas e pessoas do mundo (2 Co 6:14-18) E, também, há o lado interior de se livrar de hábitos e caminhos impuros pelo julgamento de nós mesmos na presença do Senhor (2 Co 7:1). Ter o exterior sem o interior é hipocrisia (Sl 51:6).

A roupa do sacerdote do Antigo Testamento, que era feita de linho, ilustra (figurativamente) o equilíbrio adequado dos dois lados (Êx 28:39-43). "Linho" fala de justiça e pureza práticas. Os sacerdotes usavam "túnicas de linho" (roupa externa), que falam de pureza exterior diante dos olhos dos homens, mas usavam "calções de linho" sob suas túnicas as quais ninguém via, senão Deus. Ele nos fala da pureza interior. A perfeita santidade em nosso andar e caminhos nos faz Cristãos santificados.

d) Aperfeiçoando o amor de Deus em nossos corações (1 Jo 2:5, 4:11-12)

Uma parte importante para se atingir a maturidade Cristã tem a ver com o amor de Deus sendo aperfeiçoado em nós, de modo que amamos como Deus ama. Isso é visto em perfeição na vida do Senhor Jesus. Ele demonstrou perfeitamente o amor de Deus. Aqueles que têm o amor de Deus aperfeiçoado neles amarão como Cristo amou. Isso se manifestará, na pratica, de várias maneiras. Será visto na obediência genuína à Palavra de Deus: "qualquer que guarda a Sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado" (1 Jo 2:5). Será visto em nosso amor uns pelos outros: "se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor é, em nós, aperfeiçoado" (1 Jo 4:12 – ARA). Será visto em nossa vontade de caminhar juntos em unidade: "para que eles sejam perfeitos em unidade" (Jo 17:21-23). Será visto no controle da nossa língua: "se alguém não tropeça em sua palavra, é um homem perfeito" (Tg 3:2 – ATB). Será visto em nossa benevolência para com os pobres e necessitados: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres" (Mt 19:21; 1 Jo 3:17). Muitas vezes, Deus usará provações para desenvolver essas coisas em nós (Tg 1:4).

e) Aperfeiçoando nossa maneira de servir

Nosso serviço para o Senhor é amplo e variado, mas todos temos algo a fazer por Ele, pois não há zangões na colmeia de Deus. Ao caminhar com o Senhor e crescer, nosso serviço para Ele deve se desenvolver proporcionalmente. Quanto mais amadurecemos nas coisas de Deus, mais nossa eficiência no serviço do Senhor aumentará – produzindo "um a trinta, outro a sessenta, outro a cem" (Mc 4:20). O escritor de Hebreus orou pelos santos para esse fim (Hb 13:20-21).

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Um perfil bíblico de um Cristão maduro (perfeito) é o seguinte:

Ele tem um único interesse na vida – Cristo (Fp 3:13-15).

Ele come carne e não apenas leite (Hb 5:11-12).

Ele caminha em separação do mundo (2 Co 6:14-17).

Ele julga a si mesmo (2 Co 7:1).

Ele deixou o Judaísmo e todos os seus princípios (Hb 6:1-4).

Ele é governado por genuína obediência (1 Jo 2:5).

Ele tem um profundo amor pelos outros (1 Jo 4:11-12).

Ele está menos ansioso na provação (Tg 1:2-4).

Ele controla sua língua (Tg 3:2).

Ele é generoso com suas posses (Mt 19:21).

Ele mantém sintonia com seus irmãos (Jo 17:21-23).

Seu serviço é de acordo com a mente de Deus (Hb 13:21).

  1. Perfeito na condição final

O aperfeiçoamento da consciência do crente é o início da obra de Deus de aperfeiçoar os santos. A conclusão da obra tem a ver com a glorificação dos corpos dos santos (Rm 8:17, 30; Fl 3:12; Hb 11:40, 12:23). Isso inclui a erradicação da natureza caída do pecado – a carne (1 Jo 3:2). O Senhor experimentou o ser feito "perfeito" em Seu corpo quando ressuscitou dentre os mortos (Lc 13:32; Hb 5:9). No entanto, Ele não precisava erradicar a natureza caída do pecado porque não tinha uma natureza caída.

Em Hebreus 11 o escritor menciona muitos santos do Antigo Testamento que há muito haviam saído desta cena e estão agora com o Senhor. Ele conclui dizendo: "Eles (os santos do Antigo Testamento) sem nós (os santos do Novo Testamento) não fossem aperfeiçoados". Assim, a obra do Senhor de aperfeiçoar os santos de todas as épocas anteriores (assim como os Cristãos) nesta última forma acontecerá ao mesmo tempo. Sabemos que isso acontecerá na vinda do Senhor – o Arrebatamento (1 Ts 4:15-18). Naquele momento, o "corruptível" se revestirá de "incorruptibilidade". Isso se refere aos santos que adormeceram. Eles serão ressuscitados em um estado glorificado. Além disso, nesse mesmo momento, o "mortal" se revestirá de "imortalidade". Isto se refere aos santos vivos sendo transformados em um estado glorificado (1 Co 15:51-57).

Por isso, todo crente experimentará duas vivificações: a primeira é a vivificação de sua alma e espírito quando ele é trazido da morte para a vida pelo poder de Deus (Ef 2:5; Cl 2:13), e a segunda é a vivificação em seu corpo, que ainda vai ocorrer na vinda do Senhor (Rm 8:11).

PLENITUDE DOS GENTIOS, A

Esta expressão refere-se ao número total de gentios eleitos que serão salvos – a quem Deus escolheu ser parte da Igreja (Rm 11:25). Hoje Deus está realizando uma divulgação por meio do evangelho visitando "os gentios, para tomar deles um povo para o Seu nome" (At 15:14). Quando todos os gentios que Ele escolheu crerem, o Senhor virá e levará a Igreja ao céu em um estado glorificado (1 Ts 4:15-18).

POSIÇÃO & ESTADO

A distinção entre esses dois termos é de grande importância se quisermos ter uma compreensão das Escrituras do Novo Testamento – especialmente das epístolas. Posição e estado referem-se a dois lados da verdade em uma infinidade de assuntos, e distinguir isso requer alguém que "maneja [divide] bem a palavra da verdade" (2 Tm 2:15). Se não distinguirmos essas coisas, iremos chegar a conclusões equivocadas.

Posição

Isso tem a ver com a situação de uma pessoa em relação a Deus. Há apenas duas posições possíveis que os homens podem ter diante de Deus:

"Em Adão" (1 Co 15:22).

"Em Cristo" (Rm 8:1).

Por recebermos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, nossa posição diante de Deus é definitivamente mudada de estar "em Adão" para estar "em Cristo". É uma posição em "graça" eternamente estabelecida (Rm 5:1-2; 1 Co 15:1; 1 Pe 5:12). É perfeita e completa agora como sempre será! Não será mais perfeita quando entrarmos no céu. Ter uma posição diante de Deus "em Cristo" significa que o crente está no lugar de Cristo diante de Deus (Ef 1:6; 1 Jo 4:17). (Veja: Aceitação e Em Cristo.)

Estado (Fp 2:19-20)

Isso tem a ver com a condição moral do crente. Se caminharmos perto do Senhor em comunhão com Deus, estaremos em um bom estado de alma. Mas se formos descuidados e indiferentes às reivindicações de Cristo em nossas vidas e vivermos distantes d�Ele em nossa prática, o estado de nossa alma será ruim. Não é necessário dizer que nosso estado terá um efeito no nosso andar.

As exortações práticas nas epístolas, que têm a ver com o nosso estado, são baseadas em nossa posição em Cristo. Por exemplo, Colossenses 3:9-10 diz: "Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos E vos vestistes do novo, que se renova [renovado – JND] para o conhecimento, segundo a imagem daqu’Ele que o criou". O fato de que fomos despidos do velho homem e vestidos do novo (que tem a ver com a nossa posição) deve nos exercitar sobre não mentirmos mais uns aos outros – porque aquilo que é verdade da nossa posição também deve ser verdade em nosso estado. Assim, enquanto a nossa posição em graça diante de Deus é inabalável, nosso estado espiritual de alma pode variar, dependendo de como caminhamos.

Em Filipenses 4:11, Paulo falou de estar "contente" com "as circunstâncias" em que ele se encontrava. Não devemos confundir o que ele estava dizendo neste versículo. Ele não estava se referindo ao seu estado espiritual, mas sim ao seu estado temporal – suas circunstâncias, isto é, quanto à posse ou falta de bens materiais. Paulo nunca incentivaria satisfação com um baixo estado espiritual.

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Como mencionado, ao estudar os vários assuntos da Escritura devemos ter cuidado em "manejar [dividir] bem a palavra da verdade" (2 Tm 2:15). A cada assunto que nos deparamos, precisamos distinguir o que se refere à nossa posição e o que se refere ao nosso estado. Se não nos preocuparmos com isso, ficaremos confusos muito rapidamente. Podemos ser levados a pensar que a Bíblia se contradiz. Os seguintes são alguns exemplos:

Perfeição – Hebreus 10:14 diz que a obra de Cristo na cruz nos "aperfeiçoou para sempre". Mas Hebreus 13:20-21 diz que Deus está buscando tornar o crente "perfeito" – indicando, então, que os crentes não estão atualmente perfeitos! Isso parece contraditório, mas quando entendemos que a primeira citação se refere à nossa posição e a última ao nosso estado, o problema é resolvido.

**Santidade **– Em Colossenses 3:12, os crentes são chamados de "santos e amados", mas em 1 Pedro 1:16, somos exortados: "Sede santos". Novamente, essas passagens parecem entrar em conflito uma com a outra, mas quando entendemos a distinção entre posição e estado, vemos que não há contradição. A primeira passagem aplica-se à nossa posição, e a segunda ao nosso estado.

Aceitação – Em Efésios 1:6, é dito que os crentes são "agradáveis [aceitos] a Si no Amado", mas em 2 Coríntios 5:9 (ARA) nos diz que "nos esforçamos… para lhe sermos agradáveis". Mais uma vez, essas coisas não são uma contradição; a primeira tem a ver com a nossa posição e a segunda com o nosso estado.

Santificação – Em 1 Coríntios 1:2, é dito que os crentes são "santificados em Cristo Jesus", mas em 2 Timóteo 2:21, nos é dito que se nos separarmos dos vasos para a desonra, seremos "santificados". A primeira refere-se à nossa posição e a segunda ao nosso estado.

Salvação – Em Atos 16:31 nos é dito para "crer" no Senhor Jesus Cristo para ser "salvo", mas em Filipenses 2:12, nos fala para "operar, efetuar" a nossa "salvação". Devemos crer para obter salvação ou devemos trabalhar para obtê-la? Novamente, a resposta está na compreensão de que uma se aplica à nossa posição e outra ao nosso estado.

Purificação – Em Hebreus 1:3 e 9:14, é dito que os crentes são purificados pela fé na obra consumada de Cristo, mas em 2 Timóteo 2:21, devemos nos purificar a nós mesmos. Mais uma vez, temos a diferença entre posição e estado.

Morto com Cristo – Em Romanos 6:2, diz que os crentes estão "mortos", mas em Romanos 8:13 e Colossenses 3:5 nos é dito que os crentes devem "mortificar as obras do corpo". Novamente, isso só pode ser entendido pelo conhecimento da diferença entre posição e estado.

Uma pessoa ficará totalmente confusa ao tentar entender esses e muitos outros tópicos bíblicos, que poderiam ser incluídos aqui, se não souber a diferença entre posição e estado.

PREDESTINAÇÃO

Isso tem a ver com a soberania de Deus ao preparar o destino daqueles a quem Ele escolheu para a bênção (Rm 8:29; Ef 1:5 – "nos marcou de antemão" JND). A eleição está intimamente relacionada com a predestinação, mas não são a mesma coisa. A diferença é:

"Eleição" tem a ver com pessoas selecionadas (Rm 11:5, 7, 28; 1 Ts 1:4; 2 Pe 1:10).

"Predestinação" tem a ver com o lugar (o destino) que foi selecionado para essas pessoas (Rm 8:29-30; Ef 1:5, 11).

A Bíblia ensina que Deus tem predestinado o justo para a bênção, mas não há Escritura que declare que Ele tem predestinado pessoas para uma eternidade perdida. Deus ama a todos os homens, "não querendo que nenhum pereça" (2 Pe 3:9 ARA; 1 Tm 2:4). Romanos 9:22 fala de homens que são "vasos de ira preparados para perdição", mas Deus não os preparou como tais; eles se prepararam a si mesmos por sua própria incredulidade.

PRESCIÊNCIA

É um atributo da divindade que se refere à habilidade de Deus de conhecer todas as coisas antes mesmo delas acontecerem (Is 41:2-4; At 2:23, 15:18; Rm 8:29, 11:2; 1 Pe 1:2). É diferente da providência divina, que é o poder de Deus para guiar e dirigir todas as coisas na Terra de acordo com Sua vontade (Ef 1:11; Pv 21:1). Com a presciência e a providência, Deus prediz o futuro, pois Ele controla a história mundial.

PRIMEIRO HOMEM, O

Este termo denota o que é natural e terreno na raça humana (1 Co 15:47). A Escritura nunca nos diz do "primeiro homem" ser corrupto ou pecaminoso, porque o que é inerentemente natural ao homem não é mau, pois foi Deus que o criou. Por esta razão, não é dito do "primeiro homem" ser "crucificado" com Cristo, como é o caso do "velho homem" (Rm 6:6).

A criação do homem, segundo a primeira ordem, tem muitas características do próprio Deus, pois foi criado à Sua "imagem" e segundo Sua "semelhança" (Gn 1:26). Por exemplo, o homem tem uma personalidade definida com preferências e aversões. Ele também tem sentimentos e poderes de raciocínio, etc. Essas qualidades naturais não são más, mas fazem parte da composição do ser humano. Deus não trouxe isto a juízo, pois saiu de Sua própria mão na criação. É o mesmo com nossos corpos; eles nunca são considerados maus. (Na KJV lê-se Filipenses 3:21 como "nosso corpo vil", (N. do T.: na ARC "nosso corpo abatido") mas esta não é a melhor tradução, pois o que Deus criou não é vil – no sentido moderno da palavra. Se nossos corpos fossem vis nesse sentido, nós nunca seríamos convidados a apresentá-los a Deus como um sacrifício vivo, como afirmado em Romanos 12:1. "O corpo do pecado", mencionado em Romanos 6:6, não está falando de nossos corpos físicos, mas da totalidade do pecado como um sistema. Nós usamos a palavra "corpo" de forma semelhante em outros tópicos. Por exemplo, dizemos, "o corpo de bombeiros", ou "o corpo médico", etc.

Enquanto que não nos é dito que aquilo é natural no "primeiro homem" venha a ser julgado por Deus, toda a ordem humana foi suplantada por outra ordem humana sob Cristo a qual é superior. Esta é a força da palavra "depois" em 1 Coríntios 15:46. Por isso o primeiro homem foi posto de lado e substituído pela nova ordem humana sob Cristo. Os Cristãos são parte dessa nova raça agora (2 Co 5:17; Ef 2:10) e estão esperando para fisicamente trazer a imagem do "segundo homem", quando forem glorificados (1 Co 15:49).

O termo "primeiro homem" é frequentemente usado de forma alternada com o termo "homem velho" mas, como observamos, esses termos não são sinônimos. O apóstolo Paulo usa esses termos para definir dois aspectos diferentes da raça humana sob Adão. O "velho homem" designa o estado corrupto e caído da raça, enquanto o "primeiro homem" designa o que é natural e terreno na raça. O primeiro homem foi substituído, mas o velho homem foi julgado. (Veja: O velho homem).

PRIMOGÊNITO

Este termo é usado nas Escrituras de duas maneiras:

Para indicar aqueles que nascem primeiro em uma família – ordem de nascimento.

Para indicar aqueles que estão em primeira posição e destaque, tendo um lugar de preeminência entre outros.

Alguns exemplos das duas maneiras pelas quais o termo é usado no Antigo Testamento são:

OS FILHOS DE ISAQUE – Esaú nasceu primeiro (Gn 27:19), mas Jacó (Israel) recebeu o lugar de preeminência como "primogênito" (Êx 4:22).

OS FILHOS DE JACÓ – Rúben nasceu primeiro (Gn 46:8), mas Judá foi escolhido para ter a linhagem real (Gn 49:8; 1 Cr 5:1-2).

OS FILHOS DE JOSÉ – Manassés foi o primeiro na ordem de nascimento (Gn 41:51, 48:14), mas a Efraim foi dado o lugar de ser o primeiro como "primogênito" (Jr 31:9).

OS FILHOS DE JESSÉ – Eliabe foi o primeiro na ordem de nascimento (1 Cr 2:13-15), mas a Davi foi dado o lugar de preeminência como "primogênito" (Sl 89:27).

O SENHOR JESUS CRISTO – Ele nasceu primeiro na família de José e Maria (Mt 1:25; Lc 2:7) e Ele também é colocado em primeiro lugar e posição, em tudo aquilo que está conectado com o propósito de Deus (Rm 8:29; Cl 1:15, 18; Hb 1:6; Ap 1:5). Assim, Ele é "Primogênito" em ambos os sentidos.

Colossenses 1:15 diz que Ele é "o Primogênito de toda a criação". Sendo o Criador do universo, quando Ele veio ao mundo (Sua encarnação), não poderia ter outro lugar além do Cabeça da criação. Sendo o Primogênito de todas as Suas criaturas O distingue como tendo um lugar superior ao delas. Colossenses 1:18 indica que o Senhor é Primogênito de outra maneira. Quando Ele Se levantou "de entre os mortos" (ARA) Ele Se tornou o "Primogênito" de toda uma nova raça de homens (Rm 8:29 – "muitos irmãos"). Uma vez que eles são da mesma "espécie" que Ele é na nova criação (compare Gn 1:24), eles são perfeitamente adequados para serem Seus eternos companheiros, e assim Ele "não Se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11). Sendo "o Primogênito de entre os mortos", o Senhor Jesus é o Redentor triunfante que agora tem o direito de receber o louvor e adoração dos santos. Apocalipse 1:5 indica que o Senhor como "Primogênito" tem o título e o direito de tomar a herança (toda criatura) e reinar sobre ela, o que Ele fará em Sua Aparição (Ap 1:7).

Como "Primogênito", o Senhor tem muitos irmãos sob Ele em Sua nova criação (Rm 8:29), mas como o "Unigênito", Ele não tem irmãos conectados Consigo porque esse termo indica a essência divina, a qual nenhuma criatura pode ter ou sequer alcançará. (Veja: Unigênito.) A IGREJA DE DEUS – O termo "primogênito" também é aplicado aos Cristãos. Nos manuscritos gregos ele está no plural e é traduzido por W. Kelly como "primogênitos" para indicar isso. Isso mostra que aqueles que foram chamados pelo evangelho hoje e que, portanto, fazem parte da Igreja de Deus, foram colocados em uma posição especial e de favor entre todas as criaturas abençoadas na família de Deus (Ef 3:15). Eles têm uma posição superior na família de Deus – mesmo acima dos anjos – com bênçãos superiores que correspondem à sua posição privilegiada! Não é que eles sejam melhores do que os outros na família, mas porque Deus Se propôs mostrar "a glória da Sua graça" por meio deles (Ef 1:6). Ele tomou os mais baixos dos homens e por meio da graça colocou-os no mais alto lugar possível de bênção. (Veja: Adoção.)

PROFECIA

Existem dois tipos de profecias mencionadas no Novo Testamento:

Profecia que prediz eventos futuros e também transmite revelações de Deus aos santos (At 11:28, 21:10-11).

Profecia que diz a mente de Deus vinda da Palavra de Deus de tal maneira que resulte na "edificação, exortação e consolação" dos santos (1 Co 14:1, 3).

O primeiro deles era encontrado nos primeiros dias da Igreja, mas quando as Escrituras do Novo Testamento foram concluídas, esse aspecto da profecia não continuou. A Igreja foi edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas" (Ef 2:20, 3:5). Uma vez que o fundamento foi estabelecido, esses dois dons fundamentais não foram mais dados à Igreja por Cristo. No entanto, ainda temos seu ministério fundamental em seus escritos inspirados no Novo Testamento. O segundo tipo de profecia ainda tem a sua função hoje em dia.

PROPÓSITO & CONSELHO DE DEUS, O

J. N. Darby disse: "Propósito é a intenção da Sua vontade, e conselho é a sabedoria que Ele emprega para realizá-lo" (The Christian Friend, vol. 9 [1882], pág. 221). W. Scott disse que propósito "refere-se ao fato abençoado de que o próprio Deus, no exercício de Sua própria vontade divina e soberana, concebeu um sistema de governo e glória para ser exibido nos próximos séculos". Ele também disse que "conselho é um termo que indica a forma, os meios e o método para realizar esse propósito" (Doctrinal Summaries, pág. 46; Truth For the Last Days, vol. 2, pág. 166). G. Davison disse: "O termo �conselho eterno� nunca é mencionado nas Escrituras, mas �propósito eterno� é [Ef 3:11]… Propósito requer conselho e disso provém os caminhos de Deus. Ainda não encontrei Escritura conectando propósito com os caminhos de Deus, mas temos pelo menos duas conectando Seus caminhos com Seu conselho (At 2:23; Ef 1:11)… Propósito é o objetivo que Deus tem diante de Si; Pessoas divinas tomaram conselho quanto a como o propósito deveria ser assegurado; e os caminhos de Deus estão trazendo tudo a efeito" (Precious Things, vol. 4, pág. 221).

QUEDA

A Bíblia fala de dois tipos de afastamento de Deus – apostasia e queda. Ambos são ruins, mas a apostasia é infinitamente pior. Um crente nunca pode se apostatar, mas certamente pode reincidir em seus antigos pecados se não tiver cuidado em sua caminhada. Se um crente retrocede àquilo que um dia deixou, há remédio (confissão e arrependimento, e então ele é restaurado ao Senhor – 1 Jo 1:9), mas se alguém que é apenas um crente professo se apostata, não há remédio (Hb 6:4-6). (Veja: Apostasia)

A palavra "queda", nesse sentido, não é encontrada no Novo Testamento, mas esse triste tipo de abandono de Deus certamente é mencionado (Mc 14:30, Tg 5:19). Tem a ver com um crente tornar-se descuidado com seu coração e com a sua comunhão com Deus (Pv 14:14). Se isso não for julgado, resultará em uma caminhada incompatível com o Senhor. A obra de Cristo como Advogado traz o reincidente de volta. Sua restauração envolve arrependimento e confissão de pecados ao Pai (1 Jo 1:9). (Veja: Advocacia) É importante entender que a queda não afeta a posição do crente diante de Deus; portanto, o reincidente não perde sua salvação. Mas, como indica Provérbios 14:14, ele paga um alto preço pela sua rebeldia ao colher o que semeou (Gl 6:7-8, Pv 13:15). Se permitimos que o pecado não seja julgado em nossas vidas, haverá resultados desastrosos:

Nosso laço de comunhão com Deus será quebrado (Rm 8:13).

Adquirimos uma má consciência que resultará em falta de confiança na oração (1 Jo 5:14-15).

Perderemos energia espiritual.

Perderemos discernimento (Os 7:8-9).

Poderemos nos tornar escravos dos pecados que permitimos em nossas vidas (1 Co 6:12).

A mão disciplinadora de Deus será colocada sobre nós para nos fazer voltar (Hb 12:6). Tal disciplina pode até chegar ao ponto de alguém ser levado prematuramente à morte (Ec 7:17; 1 Co 11:31-32; Tg 5:20; 1 Jo 5:16).

Arruinamos nosso testemunho Cristão perante o mundo (Gn 19:14).

Vamos perder a recompensa que o Senhor pretendia dar-nos (1 Co 3:13-15; 2 Co 5:10; Ap 3:11).

RECONCILIAÇÃO

Refere-se à obra de Deus trazendo de volta à unidade, à paz e à comunhão, aquilo que se afastou d’Ele. Envolve tanto pessoas (crentes) como coisas (Cl 1:20-22). O fundamento para a reconciliação descansa no que Cristo realizou na cruz em Sua morte e no derramamento de Seu sangue. Isso é mencionado pelo apóstolo Pedro, que disse: "Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1 Pe 3:18). Há três coisas indicadas nesse versículo:

"Padeceu uma vez pelos pecados" – Esta é a propiciação.

"O Justo pelos injustos" – Esta é a substituição.

"Para levar-nos a Deus" – Esta é a reconciliação.

Note que Pedro coloca a propiciação e a substituição (as duas partes da expiação) antes da reconciliação. Isso nos mostra que as reivindicações da justiça divina em relação ao pecado tinham que ser resolvidas antes que Deus pudesse chegar aos homens com bênção. Isso foi feito na propiciação (Rm 3:25; Hb 2:17; 1 Jo 2:2, 4:10), que é o lado de Deus na obra de Cristo na cruz. Ele satisfez totalmente a Deus em relação a toda ruptura causada pelo pecado, e assim fez com que "todo o mundo" possa ser salvo (1 Jo 2:2). A substituição, que é o lado do crente da obra de Cristo na cruz, tem a ver com o que Cristo fez na cruz para os crentes, levando os pecados deles sobre Si mesmo e suportando o julgamento deles em lugar dos crentes (1 Pe 2:24). Como resultado da questão de o pecado ter sido resolvida na cruz, Deus é capaz de alcançar o homem e reconciliar os crentes Consigo mesmo em uma base justa.

Como mencionado, há duas coisas envolvidas na obra de reconciliação de Deus:

A reconciliação de pessoas.

A reconciliação de coisas.

  1. Reconciliação de pessoas

O caos que o pecado causou na queda do homem foi muito mais devastador do que podemos imaginar. Não só desonrou a Deus e arruinou Sua formosa criação, mas também trouxe dano para o homem e à sua posteridade – espiritualmente (em seu espírito e alma) e fisicamente (em seu corpo). Um dos tristes resultados da entrada do pecado neste mundo é que existem relações alienadas entre homens e Deus. Agora pensamentos e sentimentos errados dominam o coração do homem e a "mente" em relação a Deus (Cl 1:21). Pelo pecado, os homens, em seu estado caído, tornaram-se "aborrecedores de Deus" (Rm 1:30) e, portanto, têm grande "inimizade contra Deus" (Rm 8:7). Por isso, os homens são "estranhos e inimigos" de Deus (Cl 1:21). Esta condição de inimizade é toda do lado do homem; foi o homem que pecou e foi para longe de Deus. Na sua alienação, ele desenvolveu maus sentimentos e ódio contra Deus.

Embora o coração do homem em relação a Deus tenha sido corrompido, a disposição de Deus em relação ao homem não mudou. Ele ainda está disposto a favor de Suas criaturas, pois Ele é o Deus Imutável (Ml 3:6). Isso pode ser visto no fato de que "Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5:8). Assim, em seu estado confuso de pensamento, o homem vê Deus como um inimigo – mas Ele não é um inimigo de maneira alguma. Na verdade, Deus está buscando o bem e a bênção do homem. Uma mudança de coração é desesperadamente necessária no homem, mas não em Deus, pois Ele sempre amou o homem. Portanto, não é Deus Quem precisa ser reconciliado com o homem, mas o homem a Deus. Dizer que Deus precisa ser reconciliado, nega o Seu "amor eterno" pelo homem (Jr 31:3; Jo 3:16). Às vezes, quando as pessoas são despertadas para a necessidade de serem salvas, elas têm a ideia equivocada que, desde que pecaram e se afastaram de Deus, precisam fazer algo para atrair o coração de Deus para elas. Algumas pensam que precisam derramar lágrimas, enquanto outras pensam que precisam limpar suas vidas e se tornar religiosas. Mas, novamente, isso demonstra um mau entendimento do coração de Deus. A verdade é que o Seu coração sempre foi para com o homem e desde o dia em que o pecado entrou na criação, Deus tem buscado libertação e bênção para o homem.

Sendo assim, a Escritura não apresenta a reconciliação como a conhecemos hoje, no sentido moderno da palavra, que a vê como duas partes que foram distanciadas, aproximando-se uma da outra com certo grau de compromisso, de modo que as relações entre elas possam retomar como eram no passado. A reconciliação bíblica sempre trata o assunto como o homem sendo trazido de volta a Deus. Portanto, a Escritura não diz que somos reconciliados com Deus, mas sim "a" Deus (Rm 5:10 – KJV e JND); 2 Co 5:20 – KJV e JND; Ef 2:16 – KJV e JND; Cl 1:20). "Nós" recebemos "a reconciliação"; Deus não a recebe (Rm 5:11 – JND e ATB, Cl 1:21). (Mt 5:24 usa a palavra "reconciliado" no sentido de que duas partes se juntam, mas é uma palavra diferente no grego e não está em conexão com as bênçãos do evangelho que estamos considerando).

Existem quatro passagens principais no Novo Testamento onde a reconciliação de pessoas é considerada – cada uma vê o assunto de um aspecto diferente:

Colossenses 1:19-22 – para o agrado da Divindade.

Romanos 5:1-11 – para o gozo do crente em Deus.

Efésios 2:11-16 – considerando a unidade entre os membros do corpo de Cristo.

2 Coríntios 5:19-21 – como testemunho em relação ao mundo.

a) Reconciliação para o agrado da Divindade (Cl 1:19-22)

Esta passagem apresenta a reconciliação a partir da perspectiva de Deus; enfatiza o que ela faz para o prazer de Deus. É, portanto, o aspecto mais elevado da reconciliação, pois o que pertence a Deus sempre deve vir primeiro. Tem a ver com a Sua obra de trazer suas criaturas e Sua criação para uma posição onde Ele possa Se deliciar com elas. O Espírito de Deus usa "Ela" ("It" – JND) nessa passagem, ao se referir à "Divindade". Isso enfatiza o fato de que as três Pessoas da Divindade estão profundamente interessadas na bênção do homem e estão envolvidas na reconciliação do homem em uma feliz comunhão Consigo mesma ("Itself" – JND) no terreno da redenção.

Essa passagem mostra que a condição caída do homem é dupla: tornou-se um estranho e um inimigo de Deus (Cl 1:21). "Estranho (ou alienado)" é o que os homens são por natureza; "inimigos" é o que são pela prática. Como alienado, o homem agora está longe de Deus, moral e espiritualmente, sem relação com o seu Criador. Essa separação não foi apenas com Adão que pecou, mas é verdadeira para toda a raça sob ele (Rm 5:19a). O coração do homem está cheio de ódio e inimizade contra Deus. Essa condição existe em cada pessoa perdida na raça caída de Adão. É evidente na forma profana com que os homens usam o Seu santo nome (Salmo 139:20) e nas "obras más" que praticam (Cl 1:21). Essas coisas contribuíram para o homem se distanciar de Deus; os homens têm a sensação de ter errado, e isso os afasta daqu’Ele contra Quem agiram errado.

Em Colossenses 1, Paulo mostra que Deus, em graça, superou esta condição dupla do homem caído na grande obra da reconciliação. Isso não significa que toda pessoa no mundo esteja reconciliada agora, ou que todas serão reconciliadas, mas que uma provisão foi feita para alcançar e restaurar a cada pessoa, se elas estiverem dispostas. Ele mostra que, para que Deus realizasse a reconciliação, Cristo teve que Se tornar um Homem (v. 19) e ir à cruz para pagar o preço pelo pecado e pelos pecados (v. 20). Assim, a encarnação de Cristo trouxe Deus para o homem. Deus desceu ao homem na Pessoa do Senhor Jesus Cristo e Seu coração Se manifestou plenamente. No entanto, a encarnação em si mesma não era suficiente para efetuar a reconciliação; também exigia a obra de Cristo na cruz. Paulo indica isso ao mencionar "o sangue de Sua cruz" (v. 20) e "o corpo da Sua carne, pela morte" (v. 22). Portanto:

A encarnação trouxe Deus ao homem (v. 19).

A morte e o derramamento do sangue de Cristo trouxeram os homens (crentes) a Deus (v. 20).

Sermos perdoados nos teria satisfeito, mas não satisfaria a Deus. Lucas 15 ilustra essa grande verdade. O pai não estava satisfeito em dar ao filho pródigo o beijo de perdão – ele o vestiria com a melhor roupa, com um anel e com os sapatos no pé, para que seus olhos pudessem descansar sobre seu filho com complacência (Lc 15:20-23). Assim, aprendemos disso, que Deus trabalha para efetuar a reconciliação para que possamos ser encontrados em um estado adequado perante Ele como "santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis" aos Seus olhos, para que Ele possa encontrar o Seu prazer em nós. Assim, a reconciliação não só inclui o perdão dos pecados e a justificação, mas vai além para levar o crente para "perto" de Deus em paz (Ef 2:13). W. Kelly disse: "A reconciliação, portanto, é um termo de rico significado, e vai muito além do arrependimento ou fé, vivificação ou justificação" (Notes on the Second Epistles to the Corinthians, pág. 114). Esse é o lado de Deus nesse grande assunto.

b) Reconciliação para o gozo do crente em Deus (Rm 5:10-11)

Essa passagem apresenta a reconciliação sob a perspectiva do crente e mostra o que Deus fez para satisfazer sua condição como tendo se desviado para longe d’Ele. Como "inimigos" de Deus, os homens têm inimizade e maus sentimentos para com Deus. Seus maus sentimentos são produzidos pela sua má-consciência que os condena como pecadores. Dá-lhes uma sensação de terem feito errado, e isso os incomoda a respeito de terem que se encontrar com Deus. Assim, sua consciência trabalha para mantê-los à distância de Deus.

Apesar de tal condição prevalecer sobre a raça humana, Deus Se empreendeu em removê-la e a trazer os homens (crentes) de volta para Si. O quinto capítulo de Romanos mostra que Deus, em graça, deu o primeiro passo para a reconciliação do homem. Ele teve que fazer o primeiro avanço, porque o homem, deixado em si mesmo em sua condição caída, nunca faria um movimento em direção a Deus. Assim, Deus provou o Seu amor para com o homem, ao prover um sacrifício pelo pecado, e isso foi feito a um grande custo para Ele mesmo (Rm 5:8).

Paulo continua dizendo como Deus remove a inimizade no coração de um pecador – é por meio da "morte de Seu Filho" (v. 10). Nessa passagem, o apóstolo enfatiza o grande amor de Deus pelo homem – tão grande que Ele mesmo daria Seu próprio Filho para levar os homens de volta para Si mesmo! Note que não diz a morte "de Cristo", mas a morte de "Seu Filho". Isso enfatiza a afeição que existia em Seu relacionamento com Seu Filho. Deus tinha apenas um Filho, e Ele O amava profundamente, mas estava disposto a dá-Lo para salvar os pecadores! Portanto, o custo desse sacrifício para Deus é incalculável!

Quando este grande fato – que Deus ofereceu Seu muito amado Filho para trazer os homens de volta para Si mesmo – atinge o coração do pecador pelo poder do Espírito e seu coração é profundamente tocado. Então, conhecendo que a disposição de Deus tem sido para com ele o tempo todo (mesmo que tenha abrigado maus pensamentos para com Deus) é mais do que o seu coração possa suportar. O amor e a compaixão de Deus tanto apertam seu coração que a inimizade que uma vez habitou ali é totalmente dissipada. Todos os seus maus sentimentos e ódio são removidos de uma vez de sua alma, e "o amor de Deus é derramado" em seu coração pelo Espírito (Rm 5:5, 8). Assim, seus pensamentos para com Deus são todos mudados, e Seu Filho, que Se entregou para tornar isso possível, Se torna a Pessoa mais maravilhosa e atraente para ele.

Ao receber a Cristo como Salvador, o coração do crente, que estava uma vez cheio de pecado e pensamentos errados para com Deus, está agora cheio de paz e amor, para que ele possa se gloriar "em Deus" (v. 11). Ele já se sentiu desconfortável com o pensamento de encontrar-se com Deus, mas agora ele está confortável em Sua presença e, na verdade, se deleita em estar aí. Em relação com esse aspecto da reconciliação, J. N. Darby observou: "Sinto-me em casa com Deus. Todos os Seus sentimentos graciosos são para comigo, e eu sei disso, e meu coração é trazido de volta a Ele". Regozijar-se "em Deus" é a atitude adequada ao crente. Seu coração está afastado de si mesmo, e se exulta naquilo que possui em Deus e em Cristo.

Em Romanos 5:11, na versão inglesa King James, diz que o crente recebe "a expiação", mas isso é um erro de tradução; deve se ler "a reconciliação". Na salvação de homens e mulheres, Deus recebe a propiciação porque o pecado afrontou a Sua santidade, mas nós recebemos a reconciliação. Assim, Paulo diz: "agora temos recebido reconciliação" (v. 11 – ATB). Isto indica que é um fato consumado; não é algo que estamos esperando para receber quando o Senhor vier.

c) Reconciliação entre judeus e gentios no Corpo de Cristo (Ef 2:11-16)

Esse aspecto da reconciliação tem a ver com a desavença que tem existido na raça humana por milhares de anos entre judeus e gentios. Na grande obra de reconciliação, os homens não são apenas reconciliados a Deus, mas também uns com os outros no corpo de Cristo.

O assunto na epístola aos Efésios tem a ver com o grande plano de Deus para mostrar a glória de Seu Filho no céu e na Terra no reino milenar vindouro, por meio de um vaso de testemunho especialmente formado – a Igreja, que é o corpo e a noiva de Cristo. Neste segundo capítulo, vemos Deus salvando os pecadores dentre os judeus e os gentios e reunindo-os na Igreja. Seu desejo é que eles possam habitar juntos em uma unidade prática agora neste mundo antes que o reino milenar seja estabelecido, e assim dar testemunho do fato de que eles são um só corpo em Cristo. O problema é que tem havido uma animosidade e um preconceito de longa data entre aqueles a quem Deus escolheu para fazer parte desta companhia especial de crentes. Fazer com que os judeus e os gentios habitem juntos é, humanamente falando, impossível. Apesar disso, Paulo mostra que a grande obra de reconciliação de Deus é tal que remove esse obstáculo.

Nessa passagem, Paulo explica como isso é feito. Tanto os judeus como os gentios precisam da reconciliação – não somente a Deus, mas também uns para os outros. Os gentios estão "longe" de Deus (v. 13), mas os judeus também estão "longe de Deus" (Mt 15:8). Mas Paulo diz: "Porque Ele [Cristo] é a nossa [judeus e gentios] paz, o Qual de ambos os povos fez um" O aspecto da "paz" que Paulo menciona aqui é a paz racial. É um dos três aspectos da paz relacionados com a posição do crente em Cristo – aspectos esses que pertencem aos crentes no momento em que são salvos e selados com o Espírito (Veja: Paz). Deus estabelece essa paz racial entre aqueles que creem pela "anulação" (JND, e não "desfazimento" ou "abolição" como em algumas versões) do que deu causa à inimizade entre judeus e gentios – "a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças". A Lei de Moisés não foi abolida; ainda tem sua "aplicação" para os que estão na carne, mostrando-lhes que são pecadores (1 Tm 1:9-10). Mas para aqueles que creem, e assim fazem parte dessa nova e celestial companhia (a Igreja), ela é "anulada".

A inimizade foi anulada pelo fato de Deus tirar os judeus e gentios "para fora" de suas antigas posições "na carne" (At 15:14, 26:17), tornando-os membros do corpo de Cristo (1 Co 12:12-13). Assim, Ele removeu a distinção entre judeus e gentios. Aqueles que fazem parte dessa nova companhia não são nem judeus, nem gentios (Gl 3:28; Cl 3:11). Para eles, a parede de separação que estava no meio, foi derrubada, e Deus fez dos dois "um novo homem". O "novo homem" é Cristo (a Cabeça no céu) ligado aos membros do Seu corpo na Terra pela habitação do Espírito. Por isso, no novo homem, já não existe o judeu nem o gentio, e com eles a inimizade que já existiu desaparece!

d) Reconciliação anunciada ao mundo (2 Co 5:18-22)

Essa passagem mostra que depois que Deus reconcilia os crentes Consigo mesmo, Ele os usa como instrumentos para anunciar a verdade da reconciliação ao mundo. Isso é feito pela pregação do evangelho. Efésios 2:17 diz que o Senhor "evangelizou a paz, a vós que estáveis longe (gentios) e aos que estavam perto (judeus)". Podemos nos perguntar como o Senhor poderia estar pregando na Terra quando Ele voltou para o céu? Mas esse fato apenas ilustra a grande verdade do "novo homem". Cristo está pregando ao mundo hoje por meio dos membros de Seu corpo (Compare At 9:4).

Esses versículos em 2 Coríntios 5 mostram que Deus estava trabalhando para trazer o mundo (pessoas) de volta a Ele mesmo pelo ministério do Senhor Jesus quando Ele estava aqui na Terra. Esses versículos também mostram que essa obra foi transmitida aos apóstolos e outros trabalhadores Cristãos no tempo da ausência de Cristo. Seu ministério era "buscar e salvar o que se havia perdido" (Lc 19:10). Assim, como Paulo diz: "Deus estava em Cristo, reconciliando Consigo o mundo", e acrescenta: "Não lhes imputando os seus pecados". Isso significa que o Senhor não condenou os pecadores com os quais Ele interagiu (Jo 3:17, 8:11). No entanto, apesar de todo o amor e bondade mostrados por meio do ministério do Senhor, todos O rejeitaram, menos um remanescente de crentes – Sua missão aos pecadores pareceu em vão (Is 49:4).

Agora que Cristo foi retirado deste mundo pela morte, Paulo diz: Deus "tendo confiado a nós a palavra da reconciliação". O "nós" aqui, em primeiro lugar, se referia aos apóstolos, mas também inclui outros trabalhadores Cristãos que atualmente estão envolvidos na obra do evangelho. É chamada de "a palavra" da reconciliação porque tem a ver com a comunicação da verdade do evangelho, e fazemos isso usando palavras. Paulo disse: "somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com [a] Deus". Por isso, somos pessoas reconciliadas em um mundo não reconciliado, anunciando uma mensagem de reconciliação. A história de Mefibosete ilustra (em figura) a verdade da reconciliação (2 Sm 9).

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Há um aspecto da reconciliação de pessoas que é puramente uma coisa exterior; isso não significa que todos os que são reconciliados são salvos (Rm 11:15). Esse aspecto da reconciliação tem a ver com Deus trazendo o mundo dos gentios para um lugar de proximidade relativa Consigo mesmo, neste dia da graça. A rejeição do evangelho por Israel e o fato de que, por consequência, a nação tenha sido colocada de lado temporariamente, abriram uma tremenda oportunidade para os gentios hoje – pois que o evangelho foi enviado a todo o mundo. Assim ela tem sido chamada de reconciliação "provisional" ou "dispensacional". Como mencionado, isso não significa que o mundo inteiro tenha sido salvo e reconciliado no sentido em que já consideramos, mas que o privilégio de ser abençoado por crer no evangelho foi estendido a eles. Portanto, o mundo dos gentios é visto como estando próximo a Deus neste presente dia, enquanto Israel é deixado de lado. É uma proximidade relativa a Deus.

  1. Reconciliação de todas as coisas

A segunda parte da reconciliação tem a ver com as coisas criadas. Isso acontecerá no dia vindouro em que a Divindade irá "reconciliar todas as coisas Consigo mesma" (Cl 1:20 – JND).

Em Colossenses 1:16, Paulo diz que "todas as coisas têm sido criadas por Ele e para Ele" (JND). O grande propósito da criação é, em última instância, para Deus que a criou (Ap 4:11). No entanto, uma vez que a criação foi manchada pelo pecado, para que Deus possa ter prazer nela, deve ser libertada da "servidão da corrupção" (Rm 8:21-23). Só então poderá ser usada devidamente para o propósito para o qual Deus a criou – para ser o palco no qual exibirá a glória de Seu Filho.

Toda a criação (céu e Terra) foi afetada pelo pecado e está contaminada. Tudo deve ser trazido de volta ao seu adequado relacionamento com Deus. A criação mais baixa atualmente está sofrendo sob os efeitos do pecado e precisa ser redimida – libertada (Ef 1:14). Mesmo que a criação não tenha se afastado de Deus por sua própria vontade (Rm 8:20), ainda assim está contaminada e precisa ser purificada (Jó 15:15, 25:5). Pela virtude do sangue de Cristo, Deus pode, e vai, no dia vindouro, efetuar a purificação da criação (Hb 9:23). Ele tirará a criação material das mãos dos homens pecadores e a libertará para o uso de Deus. Na Aparição de Cristo, Deus libertará a criação de sua escravidão e então começará a reconciliar todas as coisas criadas Consigo. Essa obra não estará completa até que todo traço de pecado na criação tenha desaparecido – o que não será atingido até que o Estado Eterno comece e tudo seja feito novo.

Note que enquanto Colossenses 1:20 diz que "todas as coisas" serão reconciliadas, não diz que todas as pessoas serão reconciliadas. Isso mostra que a vontade do homem pode resistir à graça de Deus. Todos os que não crerem na "a palavra de reconciliação" terão seu fim em uma eternidade perdida. Não há reconciliação para seres infernais – o diabo e seus anjos, e homens incrédulos.

REDENÇÃO

Isso significa "comprado e libertado".e é usada no Novo Testamento aplicada a Israel e também aos Cristãos.

Em relação a Israel, historicamente a nação foi redimida ou libertada da escravidão do Egito pelo poder de Deus por meio de Moisés (Êx 6:6, 15:13, etc.). Mas a redenção completa e final de Israel de seus inimigos ainda é futura, quando o Senhor aparecer (Lc 21:28). Em um sentido exterior a redenção deles poderia ter ocorrido quando o Senhor veio pela primeira vez (Lc 1:68, 2:38). Porém, Ele foi rejeitado por Seu povo (Is 53:3; Jo 1:11). Consequentemente, a redenção de Israel como nação foi adiada para o futuro (Lc 24:21). Quando o Senhor aparecer, Ele redimirá um remanescente dos Judeus e das dez tribos, e assim os libertará de todo poder adversário e hostil que houver contra eles (Is 52:9, 13:14).

Em relação aos Cristãos, a redenção é vista de quatro maneiras:

  1. Redenção de nossas almas

É algo que ocorre de uma vez por todas quando recebemos Cristo como nosso Salvador. Somos libertados da sentença de condenação que estava sobre nós (Rm 3:24; Gl 3:13, 4:5; Ef 1:7; Cl 1:14; Tt 2:13-14; Hb 9:12; 1 Pe 1:18). Uma vez redimidos dessa maneira, nunca precisamos ser redimidos novamente.

Esse aspecto da redenção tem em vista a libertação do crente para que ele possa fazer a vontade de Deus – em adoração e em serviço. Isso é ilustrado tipicamente nas palavras do Senhor a Faraó por meio de Moisés: "Deixa ir o Meu povo, para que Me sirva" (Êx 8:1). Como regra geral, uma vez que a palavra redimir significa ser "libertado", redenção sempre é apresentada na Escritura como sendo "de" ou "apartado de" alguma coisa adversa que manteve as pessoas em servidão (Êx 15:13; Sl 25:22, 49:15, 130:8; Jr 15:21; Mq 4:10; Rm 8:23; Gl 3:13; Tt 2:14). (Na KJV, Ap 5:9 diz: "Redimiu-nos para Deus …", mas redimido não é a palavra correta, deveria ser traduzido: "Comprados para Deus". [N. do T.: como está na tradução ARC])

  1. Redenção do nosso tempo

Esse aspecto da redenção é algo que deve acontecer durante toda a nossa vida como uma questão de exercício diário. Ela tem a ver com libertação do "tempo" ("aproveitar todas as boas e favoráveis oportunidades" – nota de rodapé da tradução de J. N. Darby) e usá-lo para o Senhor. Esse aspecto da redenção é mencionado duas vezes na Escritura, cada uma tendo a ver com uma esfera diferente de atividades e serviços Cristãos.

Devemos colocar o tempo livre em nossas vidas para ser usado para promover comunhão e encorajamento dentro da comunidade Cristã (Ef 5:15-21 – "vós mesmos").

Devemos colocar o tempo livre e as oportunidades para serem usados na pregação do evangelho para aqueles que estão fora da comunidade Cristã (Cl 4:5 – "os que estão de fora").

Deus colocou esta preciosa mercadoria – o tempo – em nossas mãos. Alguns receberam mais, e outros menos. Tem sido falado que o maior desperdício de tempo é gastá-lo na satisfação de seus próprios interesses, mas o melhor uso do tempo é empregá-lo ao serviço do Mestre.

  1. Redenção de nossos corpos

Isso ocorrerá no Arrebatamento quando seremos glorificados como Cristo (Rm 8:23; 1 Co 15:51-57; Ef 4:30; Fl 3:21). Naquele momento, seremos libertados de todos os obstáculos que tocam nossos corpos físicos. Esse aspecto da redenção inclui a erradicação da nossa natureza caída do pecado.

  1. Redenção de nossa herança

Isto ocorrerá na Aparição de Cristo quando os juízos do Senhor serão derramados sobre a Terra (Ef 1:14). A herança inclui todas as coisas criadas no céu e na Terra. A herança foi "comprada [adquirida]" pela obra de Cristo na cruz (Hb 2:9 – "provasse a morte por todas as coisas" JND), mas ainda está em uma condição de escravidão aos efeitos do pecado e precisa ser redimida (Rm 8:20-22).

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Muitos confundem "comprados" com "redimidos", assumindo que são a mesma coisa – mas esses termos não são sinônimos nas Escrituras. O Sr. Kelly disse: "A palavra �comprar� não significa �redimir�, mas esses dois pensamentos foram tão confundidos nas mentes dos Cristãos de um modo geral, que a diferença foi completamente ignorada pelas duas partes que se opõem uma à outra como tem sido por 1.400 anos… O fato notável é que ambas concordam em considerar essas duas palavras como equivalentes; a ponto de não se pensar em discriminá-las; existe uma confusão habitual das duas ideias em �compra� e �redenção�" (Bible Witness and Review, vol. 2, pág. 433). A verdade é que resgatado inclui ser comprado, mas vai além do pensamento de compra para introduzir o fato de ser libertado. Comprado tem a ver com uma mudança de dono; enquanto que redimido tem a ver com uma mudança de condição. Efésios 1:14 prova que existe uma diferença entre comprado [compra] e redimido. Ele nos diz que há algo – a "possessão adquirida" - ATB (que é a herança) – que foi comprada, mas que ainda não foi redimida. O que isso poderia significar, se ambos os termos fossem sinônimos? Todos os homens e todas as coisas foram comprados por Cristo e, portanto, pertencem a Ele (Mt 13:44; Hb 2:9), mas somente aqueles que possuem a aquisição de Cristo pela fé são redimidos. Assim, os homens e mulheres perdidos neste mundo foram comprados (2 Pe 2:1), mas eles não são redimidos.

A ilustração a seguir nos ajuda a entender a diferença entre comprado e redimido. Suponha que você veja um cão enjaulado preso a um dono cruel. Muitas vezes você presencia a cena lamentável do homem cruel batendo e maltratando seu cachorro. Para libertar o cão de tal crueldade, você se aproxima do dono com uma oferta para comprar o animal. O homem aceita a oferta, declara seu preço e você paga o valor. Você compra o cachorro e a jaula e sai. Nesse ponto, o cão foi comprado; ele tem um novo dono. Houve uma mudança de propriedade, mas não houve uma mudança de condição – o cão continua preso na jaula. Mas quando você chega em casa e abre a jaula e o cachorro sai e corre, então há uma mudança de condição – o cão é liberado ou libertado! Esse é o significado da redenção; ela implica não apenas ser adquirido, mas também ser liberado. W. Scott disse: "A redenção é uma coisa muito diferente da compra [aquisição]; a primeira se refere a uma mudança de estado ou condição, enquanto a última apenas indica uma mudança de dono. Você pode comprar um escravo, mas isso não é libertação do estado de escravidão" (Handbook of the Old Testament, pág. 370). (Veja: Compra.)

REGENERAÇÃO

Essa palavra significa um novo começo na vida do crente – uma mudança moral exterior, resultante de ser salvo e selado com o Espírito Santo. Essa mudança é algo que as pessoas deveriam ver na vida de cada crente. W. Scott disse: "A lavagem da regeneração pode ser percebida pelos olhos dos homens, pois é uma mudança exterior" (Doctrinal Summaries, pág. 28).

A "lavagem da regeneração" (Tt 3:5) refere-se à limpeza moral da vida de um crente, resultante da separação de seu antigo estilo de vida que tinha antes da sua conversão, que era de acordo com a carne. Tem a ver com a passagem de uma pessoa da antiga forma de vida em que ele vivia para uma nova ordem de vida que é de acordo com o Cristianismo. Daí vem o comentário muitas vezes ouvido: "Ele limpou a sua vida e agora está num caminho reto e estreito!" Se essa mudança é um verdadeiro trabalho de Deus na vida de uma pessoa, é resultado da lavagem da regeneração. A "lavagem" envolvida na regeneração está ligada àquilo que as águas do batismo significam para o batizado. A pessoa é assim colocada em um novo lugar, limpo na Terra, na casa de Deus, onde ele deve andar em santidade como Cristão (Sl 93:5; Hb 12:14; 1 Ts 4:7; 1 Pe 1:16). Paulo enfatizou a Tito a necessidade de regeneração entre os crentes na ilha de Creta, porque havia uma clara falta de justiça prática em suas vidas (Tt 1:12).

Não obstante, os Cristãos de todas as escolas de pensamento geralmente não entendem o significado da regeneração. Eles pensam que, uma vez que a palavra "regenerar" significa reiniciar algo, está se referindo ao ser nascido de novo e, portanto, usa esses termos indistintamente. Embora o novo nascimento e a regeneração se refiram a um novo começo, são dois começos diferentes na vida de uma pessoa.

O novo nascimento (que ocorre antes na vida de uma pessoa) é um novo começo interior na alma, por receber uma nova vida de Deus. Uma evidência disso será sua visível busca por Deus.

A regeneração é um novo começo exterior da vida de um crente, consequência de ser salvo e selado com o Espírito Santo. A evidência disso será a visível ruptura de suas associações e hábitos profanos que tinha e a adoção do estilo de vida Cristão.

O Sr. Darby disse: "A regeneração não é a mesma palavra que �nascer de novo�, nem é usada dessa forma nas Escrituras" (Nota de rodapé na tradução de J. N. Darby em Tito 3:5). W. Scott disse: "O novo nascimento não é o mesmo que a regeneração, e este último termo só ocorre duas vezes no Novo Testamento (Tt 3:5 e Mt 18:28). O primeiro termo refere-se a uma obra interior; o último a uma mudança exterior" (The Young Christian, vol. 2, pág. 131). Ele também disse: "A regeneração é quase que universalmente considerada equivalente ao novo nascimento, mas não é assim na Escritura. A regeneração é um estado ou condição objetiva, enquanto o novo nascimento é a expressão de um estado interior e subjetivo" (Bible Handbook, Old Testament, pág. 372).

Novo nascimento e regeneração envolvem um banho, o qual significa lavagem ou limpeza. O "banho" envolvido no novo nascimento significa uma lavagem interior na alma pela recepção de uma nova vida limpa de Deus (Jo 13:10 – tradução de W. Kelly; 1 Co 6:11), enquanto o "banho" na regeneração significa uma lavagem exterior da vida da pessoa em um sentido prático (Tt 3:5 – nota de rodapé da tradução de J. N. Darby). O primeiro é efetuado pela "vivificação" do Espírito Santo (Jo 6:63); o último é efetuado pela "renovação" do Espírito Santo (Tt 3:5). O efeito prático da regeneração é ilustrado em um novo crente no seu batismo. Ele deixa seus pertences (seus cigarros, seu frasco de bebidas alcoólicas, revistas mundanas, etc.) na borda e entra na água. Depois de ser batizado e sair da água, ele segue o caminho com os outros Cristãos que participaram do batismo. Mas alguém fala para ele: "João, você esqueceu suas coisas". Ele responde: "Deixe-as lá, elas pertencem ao velho João". Este deve ser o efeito prático da lavagem mencionada na regeneração; há uma separação (e, portanto, uma limpeza) do estilo de vida antigo. Significa um novo começo na vida de um crente que deveria ser percebido por todos.

Para complicar ainda mais os mal-entendidos que surgem de assumir que a regeneração é o mesmo que o novo nascimento, muitos Cristãos têm a ideia de que a regeneração é uma obra milagrosa de Deus na renovação ou recriação da natureza de uma pessoa quando ele crê no evangelho. Eles pensam que é uma infusão de uma nova vida na natureza antiga de uma pessoa, tornando-a nova. Com base nessa ideia equivocada, a maioria dos teólogos reformados, e muitos pregadores evangélicos também, ensinam que os Cristãos não têm duas naturezas, mas sim uma natureza que foi regenerada! Isso faz com que o novo nascimento e a regeneração sejam nada mais do que uma reabilitação da carne. A verdade é que a velha natureza não é capaz de ser melhorada e, portanto, não pode ser reabilitada. A Escritura diz: "não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Rm 8:7). A carne simplesmente não pode ser sujeita a Deus. O Senhor ensinou isso a Nicodemos. Ele disse: "o que é nascido da carne é carne" (Jo 3:6). Ou seja, os homens podem aplicar muitas coisas à carne num esforço para melhorá-la – a influência da cultura, educação, religião, etc. – mas o resultado final é que nada muda moralmente. A carne ainda é carne. E é por isso que o Senhor lhe disse: "Necessário vos é nascer de novo". Ou seja, os homens precisam de uma vida inteiramente nova e de uma natureza separada e distinta da velha natureza que lhes foi transmitida (Jo 3:7).

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Mateus 19:28 também fala de "regeneração", mas de uma maneira ligeiramente diferente. Refere-se à nova ordem moral exterior da vida que permeará o mundo vindouro – o Milênio (Sl 72:8, Zc 14:9). Os homens naquele dia serão forçados a viver de acordo com princípios justos por medo da morte (Is 32:1; Sl 101:7-8; Zc 5:1-4).

REINO, O

Esse termo tem a ver com a esfera da autoridade do Senhor de várias maneiras em conexão com os homens na Terra. Há pelo menos dez expressões diferentes na Escritura sobre o reino retratando seus diferentes aspectos. Não é que existam dez reinos, mas sim dez aspectos ou caracteres distintivos de um único reino (Precious Things, vol. 3, pág. 227):

  1. O Reino de Deus

Esse termo, mencionado mais de 70 vezes na Escritura, tem a ver com o estado moral que Deus forma nos súditos do reino. Ou seja, quando esse termo é usado, está enfatizando a ordem moral que deve ser encontrada nos caminhos e maneiras daqueles que estão no reino. Em Romanos 14:17, o apóstolo Paulo define esse aspecto do reino não como sendo rituais e cerimônias religiosas exteriores ("comida nem bebida"), mas sim como características morais ("justiça, paz e alegria no Espírito Santo") que Deus produz em Seu povo.

Essas características são vistas na resposta que o Senhor deu aos que estavam esperando o estabelecimento do reino de Deus. As pessoas achavam que ele viria com uma aparência exterior de um poder político e bênção material. No entanto, o Senhor explicou que o reino já havia vindo e estava sendo manifestado "entre" eles, como demonstrado em Sua vida, porque Ele exemplificava perfeitamente os traços morais do reino em Seus caminhos e maneiras (Lc 17:20-21).

Uma pessoa entra no reino de Deus pelo novo nascimento (Jo 3:5). Receber uma nova vida e a natureza de Deus (por meio do novo nascimento) permite que uma pessoa viva de acordo com a ordem moral do reino. Sem isso, uma pessoa não pode exibir corretamente os traços morais do reino de Deus em sua vida, nem pode compreendê-los e apreciá-los quando exibidos em outros (Jo 3:3). Enquanto uma pessoa precisa entrar no reino, em realidade, por um novo nascimento, é possível que alguém exiba de uma forma exterior as características morais do reino de Deus sem ser um verdadeiro crente. Lucas 13:18-21 indica essa hipocrisia. Uma grande mostra exterior de fé desenvolveu-se entre os homens na ausência do Senhor, misturada com muita má doutrina. No Milênio, o reino será marcado pelas características morais apropriadas em seus súditos.

  1. O Reino dos céus

Esse é um termo encontrado apenas no evangelho de Mateus – ocorrendo 33 vezes. Refere-se ao reino que foi prometido nas Escrituras do Antigo Testamento que o Messias de Israel estabeleceria na Terra, tendo sua sede de governo nos céus (Gn 49:10; 2 Sm 7:12-13; Dn. 2:44). Não é um reino nos céus, como geralmente se pensa, mas sim um reino na Terra com a sede do seu governo nos céus (Sl 103:19). Os profetas de Israel descrevem esse reino tendo condições ideais inimagináveis. (Veja: o Milênio).

As Escrituras indicam que, pelo fato de os judeus terem rejeitado o seu Messias, o estabelecimento do "reino dos céus", com suas bênçãos exteriores, seria postergado (Dn 9:26; Mq 5:2-3; Zc. 11:4-14). A história atesta esse fato, pois por quase dois mil anos, desde que os judeus crucificaram seu Messias, virtualmente nada se materializou para eles com relação ao estabelecimento do reino, como prometido no Antigo Testamento.

Deus não foi frustrado por essa rejeição de Cristo; Ele planejou que, nesse meio tempo, o Senhor Jesus estabeleceria "o reino dos céus" na forma em mistério. Isso pode ser visto ao se traçar o esboço do Evangelho de Mateus. Nos capítulos 1-10, o Senhor Se apresentou à nação como seu Messias. Esses capítulos demonstram que Ele tinha todas as credenciais, bem como o poder de introduzir o reino de acordo com a descrição dada pelos profetas do Antigo Testamento. No entanto, as pessoas comuns (cap. 11) e os líderes (capítulo 12:24-45; Mc 3:22) O rejeitaram. Consequentemente, nos capítulos 12-13, com algumas ações e ensinamentos simbólicos, o Senhor indicou que cortaria Suas relações com a nação (temporariamente) e conduziria o reino com esse caráter místico. Assim, o reino dos céus passaria por uma fase mística (Mt 13:10-17) antes de ser finalmente estabelecido em uma manifestação pública quando da Aparição de Cristo, como prometido pelos profetas de Israel. Essas duas fases podem ser distinguidas como:

O reino em mistério (Mt 13:11).

O reino em manifestação (1 Jo 3:2 – JND – nota de rodapé).

A parábola em Lucas 19:11-27 indica que o Senhor recebeu o reino quando Ele ascendeu ao céu após a Sua morte e ressurreição. O "nobre" na parábola (Cristo) entrou em "terra remota" (céu) para receber um reino (v. 12). Assim, a fase em mistério do reino dos céus teve seu início naquele momento. Estando em forma de mistério neste momento presente, não parece existir um reino em andamento. Por todas as aparências exteriores, parece que Deus não está fazendo nada neste mundo. Atualmente, o reino está em uma forma em mistério porque:

Não tem um Rei visível.

Não tem um centro terreno, geográfico e administrativo.

Não possui fronteiras territoriais.

A maioria dos seus súditos professos não considera a autoridade do Rei e vive como se não houvesse Rei.

Independentemente dessas peculiaridades, a fé vê o Rei (o Senhor Jesus) no Seu trono hoje em Seu reino. Como bons súditos do reino, a fé leva o crente a viver de acordo com os princípios do reino, conforme dados no Sermão da Montanha (Mt 5-7), até o momento em que o reino passe para a fase de manifestação pública.

Uma pessoa entra no reino em sua forma de mistério ao professar conhecer o Senhor Jesus Cristo, mas o modo formal de entrada é por meio do batismo. Assim, "o reino dos céus" é a esfera da profissão Cristã. Inclui aqueles que são crentes verdadeiros e aqueles que meramente professam fé em Cristo.

De Mateus 13 a 25, o Senhor mostrou dez semelhanças do reino dos céus em sua fase de mistério. Essas semelhanças apresentam uma descrição abrangente do caráter que o reino teria no presente dia em que o Rei está ausente. O ponto dessas parábolas especiais não é conciliar a revelação Cristã da verdade (dada nas epístolas) com o que é apresentado nas semelhanças. Cada uma delas tem um ponto de destaque que o Senhor quer que entendamos, mas elas não necessariamente incorporam todas as doutrinas do Cristianismo em si mesmas. Por exemplo, Deus, e não o Senhor Jesus, é visto como o Rei nas 7ª e 9ª semelhanças. Além disso, nas 9ª e 10ª semelhanças, os crentes são vistos como convidados para o casamento e não como a noiva. A noiva em ambas as semelhanças não é o foco do ensinamento do Senhor, e, portanto, não está na figura. Portanto, é importante se concentrar no ponto de destaque que o Senhor enfatiza em cada uma delas, ao invés de tentar conciliar a doutrina Cristã com os detalhes de cada parábola.

As dez semelhanças podem ser divididas em três grupos: o primeiro grupo (da 1ª à 3ª) nos diz o que Satanás está fazendo no reino. O próximo grupo (4ª à 6ª) nos diz o que o Senhor está fazendo no reino, apesar do trabalho de Satanás. O último grupo (7ª à 10ª) nos diz o que nós deveríamos estar fazendo no reino como bons súditos.

Semelhança 1 – Satanás está introduzindo pessoas más ("joio") no reino (Mt 13:24-30, 37-43).

Semelhança 2 – Satanás está introduzindo espíritos malignos ("aves") no reino (Mt 13:31-32).

Semelhança 3 – Satanás está introduzindo más doutrinas ("fermento") no reino (Mt 13:33).

Semelhança 4 – O Senhor está assegurando indivíduos (um "tesouro") para Si mesmo (Mt 13:44).

Semelhança 5 – O Senhor está chamando a Igreja (a "pérola") a um custo elevadíssimo para Si mesmo (Mt 13:45-46).

Semelhança 6 – O Senhor está salvando almas pelo evangelho (a "rede") e colocando-os em assembleias locais ("cestos") (Mt 13:47-50).

Semelhança 7 – Devemos manter um estado de alma correto em relação ao Senhor e ter um espírito perdoador para com nossos irmãos, temendo os tratamentos governamentais de Deus em nossas vidas (Mt 18:23-35).

Semelhança 8 – Devemos servir voluntariamente na vinha do Senhor sem competição, ciúme ou queixa (Mt 20:1-16).

Semelhança 9 – Devemos anunciar o evangelho para o mundo, apesar de o Senhor ter sido rejeitado (Mt 22:1-14).

Semelhança 10 – Devemos estar esperando a iminente volta do Senhor (Mt 25:1-13).

Como mencionado, "o reino dos céus" passará para a sua fase de manifestação na Aparição de Cristo (Dn 2:31-45, 7:9-28). O reino neste aspecto será introduzido pelo poder de Deus em julgamento (Is 26:9; At 17:31). A primeira coisa que o Senhor fará será purificar o reino dos céus da mistura que existe nele há muitos séculos. Aqueles que meramente professam ser crentes e aqueles que abandonaram a fé em Deus (apóstatas) serão retirados em julgamento pelos anjos (Mt 13:40-43, 24:40-41; Ap 19:20). Muitos deles professaram sujeição ao Rei, mas não creram no evangelho da graça e da glória de Deus.

  1. O Reino do Filho do Homem

Quando o reino dos céus passa para sua plena manifestação no Milênio, Cristo reinará publicamente como "o Filho do Homem" (Mt 13:41). Haverá duas esferas no reino – uma celestial e uma terrenal. A esfera terrenal do reino é chamada o reino do Filho do Homem (Mt 13:41, 16:28, 19:28, 20:21; Lc 22:30, 23:42; 2 Tm 4:1; Hb 1:8; Ap 3:21, 20:4) e será composto do remanescente de Israel e das nações dos gentios (Zc 2:11; Ap 2:26-27, 21:24).

  1. O Reino de Seu Pai

Esse termo refere-se à esfera celestial do reino no dia do reinado público de Cristo no Milênio (Dn 7:18, 22, 27 ("os santos dos ****lugares mais altos" – JND), Mt 6:10, 13:43, 26:29; 1 Ts 2:12; Hb 12:28). Em Mateus 13:43, o Senhor usou a figura do "Sol", que é um corpo celeste, para descrever aqueles da esfera celestial do reino. Os "justos" que "resplandecerão" não são aqueles que serão deixados na Terra, depois que os anjos tiverem levado os impuros em julgamento, mas os que foram recolhidos no "celeiro", no céu (Mt 13:30).

Essa esfera celestial do reino será composta de santos do Velho Testamento ressuscitados ("os espíritos dos homens justos aperfeiçoados" – Hb 12:22-23 – JND; Mt 8:11; Lc 13:28), por aqueles que morreram abaixo da idade de responsabilidade e ressuscitaram (Mt 18:10), por aqueles que fazem parte do ressuscitado remanescente judeu martirizado (Ap 11:11-12, 14:13, 20:4), e pela Igreja – "os mortos em Cristo" que serão ressuscitados e os santos vivos que serão arrebatados (1 Ts 4:15-18; Fl 3:20-21). Estes santos celestiais reinarão com Cristo sobre a Terra no dia Milenar (Hb 12:22-23; Ap 3:21). O tempo em que os santos celestiais reinarão acabará no final do Milênio (Ap 20:4). Apocalipse 22:5 confirma isso, quando afirma: "Eles reinarão até os séculos dos séculos" (JND), isto é, reinarão até ao Estado eterno.

  1. O Reino do Filho de Seu Amor (Cl 1:13)

Esse termo descreve a única regra de vida que prevalece para aqueles que estão no reino agora, que têm a posição especial de serem "filhos" – isto é, Cristãos (Rm 8:14-15; Gl 4:5; Ef 1:5). Eles estão tão próximos de Deus quanto o próprio Filho está (Ef 1:6) e são tão amados pelo Pai como o próprio Filho é (Jo 17:23).

  1. O Reino do mundo do Nosso Senhor e do Seu Cristo (Ap 11:15)

Esse termo refere-se à autoridade do senhorio de Cristo sendo estabelecida em todo o mundo pelo poder de julgamento na Sua Aparição. Esse aspecto do reino corresponde a "o dia do Senhor", quando Ele afirma publicamente o Seu poder e autoridade universal sobre todos os homens (Is 2:10-22; Jr 46:10; Jl 1:15; Zc 2:2-3; Ml 4:5; 1 Ts 5:2; 2 Ts 2:2; 2 Pe 3:8-10).

  1. O Reino de Cristo e de Deus (Ef 5:5)

Esse aspecto do reino tem a ver com a exibição da glória de Cristo no Milênio. Ele corresponde a "o dia de Cristo", que enfatiza a manifestação de Sua glória e a manifestação das recompensas dos santos celestiais (Jo 8:56; 1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fl 1:6, 10, 2:16; 2 Ts 1:10).

  1. O Reino de nosso pai Davi (Mc 11:10)

Esse aspecto do reino vê Israel como o centro das operações de Deus na Terra.

  1. O Reino celestial (2 Tm 4:18)

Isso tem a ver com o destino dos santos celestiais.

  1. O Reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 1:11)

Esse aspecto enfatiza a longevidade do reino, que, literalmente, durará até o fim dos tempos, de forma inimitável pelo homem. "Eterno" nesse versículo não significa "que dura para sempre", mas sim que ele continua até o fim do tempo. Ou seja, o reino existirá enquanto houver tempo passando – o que será até o fim do Milênio. (A palavra "para sempre" é usada da mesma maneira em muitos lugares do Antigo Testamento). Assim, o reinado dos santos com Cristo, no governo do mundo vindouro, continuará "até os séculos dos séculos", que é até o Estado Eterno (Ap 22:5 – JND). Quando o Estado Eterno começar, não haverá mais necessidade de reinar e controlar poderes adversos que possam surgir, como acontece num reino.

G. Davison disse: "Esse título nos assegura que, uma vez que o reino tenha sido estabelecido em poder, nunca mais será sucedido por outro, pois ele durará enquanto durar o tempo. Isso não significa que o reino continuará para sempre no Estado Eterno, mas sim que ele não terá um sucessor. Os reinados são estabelecidos para manter poderes adversos em sujeição, bem como proteger seus súditos. Na verdade, um é o resultado do outro, mas, como não há poderes adversos no Estado Eterno, o reino não será necessário. Isso é claro a partir de 1 Coríntios 15:24-26" (Precious Things, vol. 1, Answers to correspondence – July/Aug).

No final do tempo, o Senhor entregará o reino ao Pai, para Se dedicar à Sua noiva (1 Co 15:24-28). Tendo recebido o reino de Deus, Ele o devolverá a Ele com uma glória aumentada. Todos os administradores na história não conseguiram manter a esfera de autoridade em que reinaram; nem Adão, nem Davi, nem Salomão, nem os monarcas gentios. Quando o Senhor receber o reino, "os inimigos" não estarão todos "aniquilados", mas quando Ele o entregar ao Pai no "fim", todos estarão em plena sujeição a Deus. Isso diferencia Cristo de todos os outros como sendo o maior Administrador de todos os tempos.

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Muitos Cristãos confundem o reino com a Igreja e, consequentemente, usam frases não bíblicas como "o reino da Igreja". No entanto, o reino não é sinônimo de Igreja pelas seguintes razões: Em primeiro lugar, o reino em mistério abrange um período de tempo maior do que o tempo da Igreja na Terra. Tem mais duração, com início dez dias antes da Igreja, quando o Senhor voltou para o céu (Lc 19:12; At 1:9-11). E também continuará em sua fase de mistério após a Igreja ser levada para o céu, até o final da septuagésima semana de Daniel, cerca de sete anos após o Arrebatamento.

Em segundo lugar, o reino é mais amplo do que a Igreja no que se refere aos seus súditos. Como já vimos, o reino no presente momento tem "joio" (meros professos) e "trigo" (verdadeiros crentes), enquanto que a Igreja é composta apenas de verdadeiros crentes. As pessoas podem se juntar a uma assim chamada denominação da igreja e estar no seu livro de membros, mas, se não forem salvas pela fé em Cristo, elas não fazem parte da Igreja de Deus.

Em terceiro lugar, Cristo é o Rei em Seu reino e nós somos Seus servos, mas a Escritura nunca fala d’Ele como o Rei da Igreja. Pelo contrário, Ele é a Cabeça da Igreja e os crentes são membros de Seu corpo (1 Co 12:12-13; Cl 1:18).

Em quarto lugar, Mateus 16:19 nos diz que a Pedro foram dadas "as chaves do reino dos céus", não as chaves da Igreja. Essas chaves são o batismo e o discipulado. Por essas duas coisas, alguém entra no reino exteriormente, mas elas não fazem de alguém parte da Igreja. A entrada na Igreja de Deus é apenas por alguém nascer de Deus e ser selado com o Espírito Santo (Jo 3:5; Ef 1:13, 4:4).

Por fim, da comunhão da Igreja devemos tirar o fermento, excomungando a pessoa ou pessoas em quem ele for encontrado (1 Co 5:11-13). No reino dos céus (em mistério), os malfeitores e o fermento não são removidos, mas lhes é permitido continuar "até a ceifa" (Mt 13:28-30).

REMANESCENTE, O

Esse termo significa "uma pequena porção do povo" ou "o resto do povo". Ele é usado de algumas maneiras diferentes na Escritura. Pode ser em conexão com a história de Israel (2 Rs 19:4, 30-31; Is 1:9; Ed 9:8; Ne 1:3), ou em conexão com os judeus (Ap 12:17) e as dez tribos de Israel no dia vindouro (Is 10:20-22, 11:11, 16). Ou, pode ser usado em referência aos crentes no testemunho Cristão hoje (Ap 2:24 – "o restante [remanescente]" – trad. W. Kelly).

Quanto a Israel no dia vindouro, Deus prometeu que Ele não abandonará a nação para sempre. A cegueira governamental que está sobre seus corações será retirada, e a bênção de Deus será derramada sobre eles quando o Senhor aparecer "trazendo curas nas Suas asas" (Ml 4:2 – ATB, Rm 11:25; 2 Co 3:14-16). Mas a Escritura não ensina que isso se aplica a todos os israelitas de nascimento. Como mencionado anteriormente, a redenção de Israel será realizada apenas em um remanescente do povo. Romanos 11:26 afirma que "todo o Israel será salvo" e abençoado de Deus, mas antes, no capítulo 9:6-8, Paulo explica que "nem todos são Israel, os que são de Israel" – JND. Assim, para ser um verdadeiro israelita, precisa ser não apenas da linhagem de Abraão, mas também ter a fé de Abraão. Muitos dos descendentes de Abraão são "semente" de Abraão, mas eles não são "filhos" de Abraão e, portanto, não são "filhos de Deus". (Compare Rm 2:28-29.) Assim, quando Paulo disse que "todo" Israel seria salvo, ele estava assumindo que o leitor acompanharia a lógica de seu discurso na epístola sobre esse ponto. O "todo" em Romanos 11:26, portanto, são todos os verdadeiros israelitas – interior e exteriormente. Isso mostra a importância do contexto na leitura da Escritura.

As Escrituras proféticas indicam que haverá duas partes no remanescente, ou talvez dois remanescentes: um de judeus (as duas tribos) e outro das dez tribos de Israel. Esses serão reunidos em um quando o Senhor aparecer e restaurar a nação, quando herdarão o reino juntos (Is 11:12-13; Ez 37:15-19, etc.). Para ter uma compreensão das relações de Deus com Israel, o estudante da profecia precisa distinguir essas duas partes da nação. As três principais diferenças são:

Os judeus (as duas tribos) retornarão à sua pátria no início da septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27) antes da Grande Tribulação (Is 18:1-4), e um remanescente se distinguirá entre eles por ter fé e temor de Deus (Is 8:16, 66:2; Sl 1:1-3). As dez tribos não voltarão para sua terra até depois que a Grande Tribulação acabar e o Rei do Norte tiver devastado a terra (Mt 24:29-31). Enquanto que a massa das dez tribos volta à sua pátria, apenas um remanescente dela terá fé verdadeira, sendo-lhe permitido entrar na terra (Ez 11:9-11, 20:34-38; Am 9:9-10).

Os judeus rejeitaram a Cristo (Jo 19:15) e receberão o anticristo (Jo 5:43), mas as dez tribos não são culpadas disso, pois não estavam na terra quando Cristo veio para os Seus e os Seus não O receberam (Jo 1:11). Nem estarão na terra quando o anticristo surgir e for recebido pelos judeus.

O remanescente dos judeus confessará o "crime de sangue" pela crucificação de Cristo e também assumirá a quebra da Lei (Sl 51:14; At 7:53), mas o remanescente das dez tribos confessará seu fracasso por abandonar a Lei e voltar-se para a idolatria (Is 26:13; Os 14:8).

Alguns sábios serão levantados entre o remanescente judeu temente a Deus, que será instruído nos caminhos de Deus e nos Seus tratos com a nação. Eles são chamados de os "Masquil" (Dn 12:3, compare também Dn 11:33). (N. do T.: Masquil é uma palavra hebraica que ocorre nos títulos de vários Salmos (32, 42, 44, 45, 52-55, 74, 78, 88, 89 e 142) e significa "instrução". Esses salmos contêm instruções ao remanescente, as quais ele entenderá. A mesma palavra no plural "Masquilim" significa "os sábios" ou "os instruídos" de Dn 11:33, 35, 12:3, 10 – Concice Bible Dictionary_)_. Esses sábios atuarão como instrutores para os outros – "**os que converterem a muitos para a justiça**" – (ATB). Sua compreensão provavelmente será tal que eles verão o Senhor Jesus Cristo, a Quem a nação crucificou, como o verdadeiro Messias de Israel, e encorajará a outros a recebê-Lo como Tal. O remanescente dos judeus finalmente fará isso quando aparecer Cristo e olhará para aqu’Ele "**a Quem traspassaram**" (Zc 12:10; Jo 19:37). Naquele tempo, eles se lamentarão em arrependimento (Zc 12:11-14), e o Senhor abrirá uma "**fonte**" para a sua purificação, por isso eles serão restaurados a Ele (Zc 13:1).

Há duas partes do fiel remanescente judeu: a porção preservada que será milagrosamente poupada dos ataques de seus perseguidores e de outros perigos, e entrará no reino de Cristo na Terra – o Milênio (Ap 12:6, 13-17, 14:1; Sl 91). E haverá também a porção martirizada do remanescente que Deus permitirá que seja morta por seu testemunho fiel durante os sete anos de tribulação (Ap 6:9-11, 11:2-12, 14:23a, 15:2-4; Is 57:1-2). Estes judeus piedosos serão ressuscitados no final da Grande Tribulação e terão uma melhor porção no céu – serão glorificados (Ap 14:13). Eles reinarão com Cristo sobre a Terra com os santos do Antigo Testamento e a Igreja, no Milênio (Ap 20:4; Dn 7:18, 22, 27).

Uma vez que existem essas diferenças de responsabilidade entre os judeus e as dez tribos, o Senhor tratará com eles de forma diferente com vista à sua restauração. O resultado será o mesmo em ambos – verdadeiro arrependimento e uma restauração completa ao Senhor, após a qual, as bênçãos do Seu Reino serão derramadas sobre eles. Eles constituirão a nação de Israel no Milênio.

A multidão incrédula dos judeus que não são verdadeiros filhos de Abraão será destruída pelo Rei do Norte e sua confederação Árabe (Sl 83:1-8, 79:1-3; Dn 2:40-42; Zc 13:8-9). A multidão das dez tribos dos israelitas que não são verdadeiros filhos de Abraão retornará à terra com a ajuda dos anjos de Deus (Mt 24:31) e com a ajuda de algumas nações gentias que temerão a Deus (Isa 14:1-2, 49:22, 60:9, 66:19-20). Eles serão levados para os "confins" da terra de Israel, onde o Senhor os "peneirará", fazendo-os "passar debaixo da vara", e assim serão "separados" aqueles que não têm fé real (Ez 11:9-12, 20:34-38). Um "décimo" deles (um remanescente) será achado verdadeiro e será trazido para "o vínculo do concerto" (Is 6:13; Ez 20:37; Jr 31:31-34). Eles subirão para a terra e juntar-se-ão ao remanescente das duas tribos (judeus) e serão "um" e "não serão mais duas nações, nem serão divididas em dois reinos" (Ez 37:14-22; Is 11:13, 49:18-23). Esse será um momento triunfante porque estiveram separados por quase três mil anos! A massa dos israelitas que serão separados dentre as dez tribos será destruída pelo próprio Senhor, quando Ele rugir de Sião para destruir a última confederação sob Gogue no julgamento do lagar (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:13-16). Duas ações são mencionadas em Apocalipse 14:19 em conexão com o julgamento de Israel. A "vinha da terra" (Israel) é primeiro "vindimada [reunida]" (de volta à terra), e então os apóstatas entre eles são "lançados" no lagar do julgamento de Deus.

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Como mencionado, a palavra "remanescente" também é usada em conexão com o testemunho Cristão (Ap 2:24 – trad. W. Kelly). Refere-se àqueles que são verdadeiros crentes em meio à massa de Cristãos meramente professos. Hoje existem milhões na profissão Cristã, mas a grande maioria destes são apenas Cristãos nominais (somente em nome).

RESGATE

Este termo significa o preço que foi pago para redimir algo ou alguém (Jó 33:24; Sl 49:7; Pv 6:35; Mt 20:28; 1 Tm 2:6). A obra consumada de Cristo na cruz foi o que pagou o preço de nossa redenção.

RESSURREIÇÃO

O homem é um ser tripartido – tendo um espírito, uma alma e um corpo. A morte física ocorre quanto o espírito e a alma se separam do corpo (Tg 2:26). A ressurreição, por outro lado, envolve a reunião da alma e do espírito com o corpo. A Escritura diz: "todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo" (1 Co 15:22). O "todos" nesta passagem refere-se a todos da raça humana – independentemente de serem salvos ou perdidos. Embora todos os mortos sejam ressuscitados, eles não serão todos ao mesmo tempo. Na verdade, há duas ressurreições: uma que envolve "os justos" e outra envolvendo "os injustos" (Jo 5:26-30; At 24:15; Ap 20:5, 12-13). A Escritura indica que essas duas ressurreições ocorrerão com cerca de mil anos de diferença. Isso é algo que os santos do Antigo Testamento não conheciam; eles só conheciam a ressurreição de uma maneira geral (Jo 11:24). O evangelho trouxe luz sobre esse assunto e agora sabemos que há duas ressurreições (2 Tm 1:10).

A primeira ressurreição, referindo-se aos justos, é mencionada como a ressurreição "de entre os mortos" na tradução de J. N. Darby. Assim, ela é seletiva; os justos que morreram serão selecionados de entre os mortos injustos e serão ressuscitados. Essa ressurreição foi ensinada pela primeira vez pelo Senhor Jesus Cristo (Mt 17:9) e depois pelos apóstolos (Rm 6:4; 1 Co 15:20; Ef 1:20; Fl 3:11, Cl 1:18, etc.). A primeira ressurreição tem três fases:

"Cristo, as primícias" (1 Co 15:23a). Isso aconteceu quando o Senhor ressuscitou de entre os mortos (Mt 28:1-6). O caráter de Sua ressurreição é uma amostra daquilo que acontecerá também com os justos. Por isso, Ele é "as primícias" dessa ressurreição.

"Os que são de Cristo, na Sua vinda" (1 Co 15:23b). Isso se refere aos santos do Antigo e do Novo Testamento que serão ressuscitados no Arrebatamento (1 Ts 4:15-18; Hb 11:40).

Os judeus e gentios fiéis que morrerem durante a septuagésima semana de Daniel serão ressuscitados no final da Grande Tribulação, completando assim a primeira ressurreição (Ap 14:13).

Os Cristãos geralmente falam da ressurreição e da imortalidade quando os santos receberem corpos "novos", mas isso não é biblicamente correto. As Escrituras não dizem que os santos receberão corpos "novos", mas sim que seus corpos serão "transformados" (Jó 14:14; 1 Co 15:51-52; Fl 3:21). Os próprios corpos nos quais os santos viveram serão ressuscitados, mas em uma condição completamente diferente – glorificados (Lc 14:14; Jo 5:28-29; 1 Co 15:51-55; 1 Ts 4:15-16, etc.). 1 Coríntios 15:42-44 afirma isso claramente, ao dizer que o mesmo corpo que é "semeado" na terra, no enterro, ressuscitará novamente. Observe o uso da palavra "o corpo" na passagem, referindo-se à semeadura e à ressurreição. Se os santos recebessem "novos" corpos quando o Senhor viesse, então não haveria necessidade de o Senhor ressuscitar os corpos dos santos nos quais eles já viveram. Se tomarmos essa ideia equivocada e avançarmos para a conclusão lógica, ela realmente negará a ressurreição. Para evitar uma ideia como essa, a Escritura é cuidadosa em nunca dizer que receberemos corpos "novos".

A Escritura registra dez casos de pessoas ressuscitadas dentre os mortos, mas estas não fazem parte da primeira ressurreição (1 Rs 17:21-22; 2 Rs 4:32-37, 13:20-21; Mt 9:24-25, 27:52-53; Lc 7:14-15; Jo 11:43-44; At 9:40-41, 14:19-20, 20:9-11). Todos esses morreram novamente. A primeira ressurreição é uma ressurreição a um estado de glorificação; aqueles assim ressuscitados nunca morrerão de novo.

A segunda ressurreição – dos injustos – ocorrerá no final do Milênio (Ap 20:5, 11-15). Os mortos ímpios serão ressuscitados naquele momento e julgados diante do Grande Trono Branco e depois lhes será atribuída uma eternidade perdida no lago de fogo.

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A Escritura indica pelo menos doze razões pelas quais Deus ressuscitou o Senhor Jesus de entre os mortos:

Para cumprir as Escrituras (1 Co 15:3-4).

Para provar que o Senhor Jesus é o Filho de Deus (Rm 1:4).

Para colocar um selo de aprovação na obra consumada do Senhor na cruz (1 Pe 1:21).

Para que o Senhor fosse estabelecido como um objeto da fé para a salvação (Rm 10:9).

Para a nossa justificação (Rm 4:25).

Para que o Senhor fosse a Cabeça da raça da nova criação (Cl 1:18).

Para que o Senhor pudesse realizar Sua intercessão como Sumo Sacerdote (Rm 8:34; Hb 7:25).

Para que pudéssemos produzir fruto para Deus em nossas vidas (Rm 7:4).

Para que o Senhor fosse o Primogênito dos que dormem (1 Co 15:20).

Para fortalecer a fé de Seus discípulos para testemunhar por Ele (At 2:32-36).

Para demonstrar o poder de Deus ao estabelecer o reino de acordo com as promessas do Antigo Testamento (Ef 1:19-20).

Para dar certeza a todos os homens a respeito do julgamento vindouro (At 17:31).

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A ressurreição também é usada em um sentido nacional. Israel terá uma ressurreição nacional dentre os mortos (Is 26:19; Ez 37:1-14; Dn 12:2; Os 6:2; Rm 11:15). A nação de Israel se tornou inexistente por cerca de dois mil anos, mas quando o Senhor vier (Sua Aparição) e restaurar a nação, haverá uma reaparição pública da nação. Na verdade, ela se tornará a principal nação da Terra durante o período do Milênio.

O retorno de cerca de cinco milhões de judeus para sua terra natal desde 1948 não é essa ressurreição nacional. Mas sim "a figueira" produzindo "folhas", mas sem nenhum fruto para Deus (Mt 24:32). Os judeus na sua terra hoje não receberam Jesus Cristo como seu Messias, e, portanto, há apenas uma profissão exterior de vida espiritual entre eles, da qual falam as folhas da figueira. Não haverá fruto para Deus em Israel até que eles recebam Cristo como seu Messias (Gn 49:22; Os 14:8). Quando o fizerem, Ele os restaurará, e então haverá essa ressurreição nacional da qual a Escritura fala.

RESTAURAÇÃO DE TODAS AS COISAS, A

Essa expressão é encontrada em Atos 3:21 e se refere a todas as coisas que os profetas de Israel haviam profetizado a respeito da bênção da nação sob seu Messias no mundo vindouro. Isso coincide com a declaração do Senhor sobre a vinda de Elias e restauração de "todas as coisas" (Mt 17:11).

A afirmação, "a restauração de todas as coisas", foi usada erroneamente para apoiar a falsa doutrina do universalismo – a salvação final de todas as criaturas de Deus, para que ninguém acabe no inferno. No entanto, Pedro qualificou sua observação sobre a restituição de todas as coisas, acrescentando: "de que Deus falou por boca dos seus santos profetas". Assim, "todas as coisas" às quais ele se referia eram aquelas coisas que os profetas de Israel tinham profetizado – a saber, a restauração da nação e a suas bênçãos sob o seu Messias.

REUNIDO AO NOME DO SENHOR

Esta expressão está baseada em Mateus 18:20 e 1 Coríntios 5:4. Refere-se à obra do Espírito de reunir os Cristãos na Terra em torno do Senhor Jesus Cristo, sobre o verdadeiro terreno da Igreja de Deus. A presença do Senhor no meio deles sanciona aquele terreno, no qual eles estão reunidos, como sendo o lugar designado por Ele onde os Cristãos devem se reunir para adoração e ministério. Sua presença também autoriza suas ações administrativas de ligar e desligar, as quais eles podem tomar em matéria de disciplina, etc. No entanto, a presença do Senhor no meio dos assim reunidos não sanciona o seu estado que, por vezes, pode ser baixo.

Muitos Cristãos pensam que Mateus 18:20 está simplesmente afirmando o fato de que sempre e onde quer que os Cristãos se reúnam por qualquer razão ou propósito, social ou religioso, que eles têm a presença do Senhor com eles. Embora seja verdade que o Senhor está "com" os Cristãos onde quer que estejam e para qualquer propósito que eles se reúnam (Mt 28:20; Hb 13:5), isso não é o que o Senhor estava ensinando em Mateus 18:20 quando disse que Ele estaria "no meio". Isso é confundir o Senhor estar "com" os crentes e estar "no meio" dos crentes reunidos ao Seu nome. Estas são duas coisas diferentes.

Os três pontos seguintes nos ajudarão a entender o que significa estar reunido para o nome do Senhor:

Em primeiro lugar, o PROPÓSITO de Deus em reunir os Cristãos ao nome do Senhor é para que haja uma demonstração viva da unidade do corpo de Cristo na Terra (Rm 12:4-5; 1 Co 10:17, 12:12; Ef 1:22-23, 5:30). Ele deseja que exista uma expressão visível da unidade do corpo resultante dos crentes andando juntos eclesiasticamente – isto é, na doutrina e prática da Igreja (Ef 4:1-4). Deus chamou todos os Cristãos a uma comunhão universal (mundial) onde Ele os teria todos juntos agindo assim de forma prática (1 Co 1:9), onde a uniformidade e a unidade seriam vistas, entre aqueles assim reunidos, de várias maneiras:

Na função e na ordem da assembleia (1 Cr. 1:2, 4:17, 7:17, 11:16, 14:33-34, 16:1).

No ato de partir o pão (1 Co 10:17).

Em assuntos de comunhão entre as assembleias, cartas de recomendação, etc. (At 18:24-28; Rm 16:1; 2 Co 3:1-3).

Em assuntos de disciplina de assembleia (1 Co 5:12-13; 2 Co 2:6-11).

Na formação de reuniões em novas áreas (1 Ts 2:14; At 8:4-24).

A unidade prática do corpo de Cristo é aludida em Mateus 18:20 na palavra "reunidos". (A unidade prática entre os Cristãos também é mencionada em João 10:16, 11:51-52, 17:11, 21, mas no contexto da unidade da família de Deus). O Senhor não revelou a verdade de o um corpo em Seu ministério terrenal, porque os discípulos ainda não tinham o Espírito e não seriam capazes de se apropriar dessa verdade (Jo 14:25-26, 16:12). Mas Ele indicou que haveria um novo tipo de unidade que surgiria quando a Igreja fosse formada. Assim, o Senhor mostrou a semente dessa verdade em Seu ministério, mas deixou-a para ser ensinada pelos apóstolos quando recebessem o Espírito.

É triste dizer que a Igreja em grande parte não compreendeu o propósito de Deus em reunir. Ou por boas intenções ou por vontade própria, ela se tornou dividida no seu funcionamento prático, e agora está fragmentada em mais de mil seitas e comunidades independentes (denominacionais e não-denominacionais). Assim, a Igreja hoje testifica ao mundo seu estado dividido – tanto na doutrina como na prática. Não é preciso dizer que isso não é o que o Senhor pretende.

Em segundo lugar, para realizar esse objetivo no testemunho Cristão, Deus tem um LUGAR designado onde iria reunir Cristãos para expressar a verdade do um corpo. Não é uma localização literal, geográfica na Terra, como no Judaísmo (Jerusalém), mas um terreno espiritual de princípios bíblicos sobre os quais Ele teria Cristãos reunidos para manifestar essa unidade. Isso é indicado pelas palavras "onde" e "", em Mateus 18:20.

Hebreus 13:13 nos diz que este lugar de reunião é "fora do arraial". O "arraial" é uma palavra que o Espírito de Deus usa para indicar o Judaísmo e todos os seus princípios e práticas relacionados a ele. Assim, essa comunhão à qual os Cristãos são chamados é livre daquela ordem judaica de coisas. Os Cristãos de um modo geral (por centenas de anos) também perderam esse ponto e trouxeram muitas coisas ligadas ao culto judaico aos lugares onde adoram. Eles ignoraram o ensinamento claro da Escritura que diz que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário ao qual agora temos acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24, 10:19-22). Em vez disso, eles o usaram como um padrão para suas organizações, e incorporaram muitas coisas da adoração do Velho Testamento em um sentido literal, tais como: o uso de templos (catedrais), uma casta de homens ordenados para oficiar em nome do resto da congregação, uma orquestra, um coro, o uso de vestes especiais, a prática do dízimo, observância da Lei, etc. No mundo Cristão hoje há uma proliferação de comunhões Cristãs que são repletas de coisas tomadas da ordem judaica. Qualquer pessoa que busque o lugar da escolha do Senhor (e que deseje estar verdadeiramente reunida ao Seu nome) terá que desviar seu olhar de todos esses lugares na Cristandade, porque eles têm as armadilhas do Judaísmo em seus cultos de adoração, e a comunhão, para a qual O Espírito está conduzindo os Cristãos, está fora de tudo isso. (Veja: O Arraial.) O objetivo de Deus é ter os Cristãos juntos em um só terreno de reunião, em um único centro divinamente reconhecido (Cristo no meio), mesmo que eles possam viver em muitos locais diferentes na Terra. Isso une os Cristãos de forma prática e manifesta um testemunho singular diante do mundo de que eles são "um corpo". Na verdade, esta é a primeira responsabilidade coletiva que os Cristãos têm de andar de uma maneira digna da vocação com que foram chamados (Ef 4:1-4). Portanto, a presença do Senhor no meio (neste sentido coletivo de assembleia) só poderia haver onde Deus reúne os Cristãos ao nome do Senhor. Se o Senhor reconhecesse com a Sua presença em seu meio, todos os grupos de crentes que se reúnem para adoração e ministério em seus diferentes lugares, então Ele estaria sancionando as muitas divisões no testemunho da Igreja. Seria sancionar a própria coisa que Ele condena! Portanto, o Senhor não poderia estar (neste sentido) em todo lugar onde os Cristãos se reúnem. W. Potter disse: "Suponha que o Senhor concedesse Sua presença às diferentes denominações, o que Ele estaria fazendo? Ele estaria sancionando aquilo que é contrário a Ele. Ele não pode fazer isso" (Gathering Up The Fragments, pág. 87). Ele também disse: "Você quer dizer que o Senhor não está no meio de outros no mesmo sentido? Decididamente, Ele não está" (Gatherings Up The Fragments, pág. 90).

Isso pode parecer restrito e exclusivo, mas realmente não deveria nos surpreender, porque a própria natureza do Cristianismo é exclusiva. Existe apenas uma maneira de sermos salvos (At 4:12), e apenas um caminho para o Pai (Jo 14:6), etc. – e há apenas uma maneira pela qual Deus quis que os Cristãos se reunissem para a adoração e ministério. Toda a revelação Cristã da verdade é exclusiva, e não podemos pedir desculpas pela verdade. Ela é o que é.

Em terceiro lugar, apesar de os Cristãos estarem espalhados por todo o mundo, Deus tem o PODER para reuni-los dessa maneira. Ele faz isso por meio da obra do Reunidor divino, o Espírito Santo. O Espírito de Deus leva os crentes exercitados ao lugar de Sua escolha. A Quem mais poderia o Senhor confiar o ajuntamento de Seu povo ao Seu nome, senão ao Espírito de Deus? Os homens mais bem-intencionados têm procurado reunir o povo do Senhor, mas, desconhecendo a verdade da reunião, formaram comunidades cristãs de sua própria invenção. Tendo estabelecido essas várias comunidades Cristãs, eles incentivam os crentes a "ir à igreja de sua escolha", como se fosse uma questão de preferência pessoal. O resultado é que os Cristãos foram absorvidos em várias comunidades Cristãs criadas pelo homem que são independentes umas das outras, ao invés de estarem unidos em uma comunhão universal. Essa não pode ser a obra do Espírito Santo, porque Ele nunca conduz ao contrário da Palavra de Deus.

Se o Espírito Santo levasse os Cristãos a se unir para adoração e ministério em suas muitas comunidades independentes, então Ele seria o Autor das divisões na Cristandade! Ele, então, poderia ser responsabilizado pelo estado dividido do testemunho Cristão! Certamente nenhum Cristão sóbrio acusaria o Espírito de Deus por criar o triste e dividido estado do testemunho da Igreja. H. Smith disse: "O Espírito Santo está reunindo todas as comunidades divididas e independentes que procuram apropriar-se dessa promessa [Mt. 18:20]? Tal suposição envolve necessariamente colocar a responsabilidade pelas divisões e independências deploráveis e desonrosas a Cristo sobre o Espírito Santo. Essa multiplicidade de centros vista na igreja professante é devida à obra do "Espírito da Verdade" que veio para glorificar a Cristo? Longe esteja esse pensamento!" (Gathered Together, pág. 3).

Embora o Espírito Santo não seja diretamente mencionado em Mateus 18:20, é claro que Ele é o Reunidor divino. Isso é visto nas palavras, "estão congregados" (ATB). O Senhor não disse, "Onde dois ou três se ajuntam" ou "se reúnem", como algumas traduções modernas apresentam. "Estão congregados" está na voz passiva, e isso aponta para o fato de que houve um poder de reunião, fora das próprias pessoas, que foi envolvido na reunião delas nesse terreno. Isso mostra que o terreno divino de reunião não é uma associação voluntária de crentes. H. Smith disse: "Para usar uma ilustração simples, eu vejo um cesto de frutas sobre a mesa. Como elas chegaram lá? Estavam reunidas; elas não chegaram lá por seus próprios esforços. No grego, a palavra traduzida como "reunidos" é "sunago", que literalmente significa "conduzidos juntos", e poderia ser traduzida, "são guiados juntos" – tudo isso então sugere um Reunidor" (Gathered Together, pág. 2). A Concordância de Strong afirma que a palavra "sunago" (#4863) significa "conduzidos juntos" ou "coletados". O Dicionário Expositório de Vine do Novo Testamento afirma que "sunago" significa "reunir ou ajuntar" (pág. 482).

Lucas 22:7-10 vê o assunto da reunião e a obra do Espírito Santo como o Reunidor divino de uma perspectiva diferente. Como Mateus 18:20, a passagem em Lucas também tem o "onde" e o "" (versículos 9, 12), mas Lucas considera o lado da responsabilidade do homem, enquanto Mateus considera o lado da soberania de Deus. Lucas mostra que os Cristãos precisam ser exercitados a respeito de estar no lugar que o Senhor escolheu.

Em Lucas 22, o Espírito de Deus é visto na figura de "um homem" com "um cântaro de água", levando os crentes exercitados ao lugar que o Senhor escolheu. Muitas vezes, nas Escrituras, o Espírito de Deus é visto como um homem anônimo que trabalha nos bastidores. Isso porque não é o objetivo do Espírito de Deus chamar a atenção para Si mesmo. No Cristianismo, Ele trabalha nos bastidores guiando os crentes exercitados à verdade (Jo 16:13-14), e é também a razão pela qual Ele não é diretamente mencionado em Mateus 18:20. A "água", que o homem carregava, significa a Palavra de Deus (Ef 5:26). Isso indica, então, que o Espírito de Deus usa os princípios da Palavra de Deus para conduzir os crentes ao lugar que o Senhor escolheu.

Lucas 22, portanto, concentra-se no que é exigido de nós para sermos guiado pelo Espírito para o lugar. Precisamos ter um sincero desejo de saber onde está o lugar de Sua escolha. Isso é ilustrado quando Pedro e João perguntam ao Senhor: "Onde queres que a preparemos?" (v. 9). Também precisa haver energia da fé para agir e assim procurar ser conduzido pelo Espírito para o lugar (Gn 24:27). Isso é ilustrado nas palavras, "E indo eles…" (v. 13). Há também o exercício de subir as escadas da separação para o "cenáculo" (v. 12). Isso indica a necessidade de se separar de toda conexão com o mundo – tanto secular quanto religioso (2 Tm 2:19-22). Finalmente, tendo sido direcionado para o lugar de Sua escolha, precisa haver o exercício de fazer "os preparativos" (v. 12). Isso se refere a estar em um estado espiritual correto de alma que seria adequado à Sua presença. Nós preparamos nossas almas por meio do julgamento próprio (1 Co 11:28).

SACERDÓCIO DE CRISTO, O

Essa é uma das duas funções que compõem o presente trabalho do Senhor nas alturas para o Seu povo – Seu sacerdócio e Sua advocacia. Ambos têm a ver com a intercessão (Rm 8:34), mas de diferentes maneiras:

Sua intercessão como Sacerdote tem a ver com a manutenção de Seu povo no caminho da fé para que eles não falhem (Hb 7:25).

Sua intercessão como Advogado entra em operação se e quando eles falham no caminho da fé e precisam ser restaurados (Lc 22:32; 1 Jo 2:1-2).

Quanto ao sacerdócio do Senhor, Ele intercede para nos ajudar no caminho. O efeito de Sua obra de intercessão é que somos mantidos no caminho certo e, portanto, somos salvos dos perigos espirituais no caminho (Hb 7:25). Como nosso Sumo Sacerdote, Se simpatiza com nossas fraquezas e debilidades, mas não com os nossos pecados (Hb 2:17-18, 4:14-16).

Muitos têm se perguntado por que alguns do povo do Senhor falham quando têm o Senhor intercedendo por eles para que não falhassem? Eles ficam perplexos porque nosso fracasso no caminho certamente não poderia ser devido a uma falha em Sua obra sumo sacerdotal. R. F. Kingscote escreveu ao Sr. Darby perguntando-lhe sobre isso e ele respondeu: "Intercessão é um termo geral, usado até mesmo do Espírito Santo em nós (Rm 8); mas o sacerdócio (em Hebreus) é com Deus, para misericórdia e graça para ajudar em tempo de necessidade: advocacia é com o Pai para restaurar a comunhão quando pecamos. Você não tem o sacerdócio por pecados em Hebreus porque o adorador, uma vez purificado, não tem mais consciência de pecados. Isso responde suas três primeiras perguntas, só não o final da terceira; �Por que falhamos?� É porque faz parte do governo de Deus em nos ter responsavelmente exercitados, embora não sem graça suficiente para nós e o poder aperfeiçoado na fraqueza. Mas se esquecemos nossa fraqueza e dependência, também esquecemos a graça e estamos a caminho de uma queda. Veja o caso de Pedro, o Senhor não pediu que ele não fosse peneirado; Ele queria isso. O mal não está na queda, por mais dolorosa que seja, mas no estado que ele se manifesta. Deus pode permiti-lo para que possamos aprender isso" (Letters, vol. 2, pág. 274).

Assim, se o nosso estado é fraco e não estamos ouvindo a voz do Senhor a esse respeito, Ele pode nos permitir aprender dependência através de um fracasso humilhante. Assim, em certas ocasiões, Ele pode deixar de interceder em Sua forma habitual. No caso de Pedro, o Senhor não orou para que ele não caísse, mas quando ele caísse, para que sua fé não desfalecesse (Lc 22:32). Sua intercessão levou à restauração de Pedro. Assim, para ganhar com a intercessão sacerdotal do Senhor, devemos ser responsavelmente exercitados a "por Ele" nos achegar "a Deus" (Hb 7:25), o que implica expressar dependência em oração. Se habitualmente negligenciarmos isso, não podemos esperar ser mantidos.

SACERDÓCIO DOS CRENTES, O

três esferas de privilégio e responsabilidade que os Cristãos têm na casa de Deus – sacerdócio, dom e ofício.

Quanto ao sacerdócio dos crentes, o livro de Apocalipse nos ensina que todos os Cristãos são "sacerdotes para Deus", e que foram feitos assim pela obra consumada de Cristo na cruz (Ap 1:6, 5:10). O apóstolo Pedro confirma isso, ao dizer que somos um "sacerdócio santo" que tem o privilégio de "oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo" (1 Pe 2:5, 9). Considerando que todos somos sacerdotes, a epístola aos Hebreus exorta os Cristãos como um todo a aproximar-se de Deus dentro do véu (no santo dos santos) e a dedicar-se a algo que apenas os sacerdotes podem fazer (Hb 10:19-22). Tal exortação não foi dada a nenhum outro senão àqueles que são sacerdotes. Além disso, o fato de que essa epístola diz que o Senhor é "um Sumo Sacerdote" implica que há uma casta de sacerdotes abaixo d’Ele.

Uma vez que a Escritura ensina que todos os Cristãos são sacerdotes e que todos os irmãos têm o mesmo privilégio de exercer seu sacerdócio publicamente na assembleia, em reuniões para adoração e oração, precisamos apenas esperar no Espírito de Deus para conduzir as orações e louvores dos santos. Se permitirmos que Ele conduza a assembleia, em Seu legítimo lugar, Ele guiará um e outro irmão para expressar audivelmente a adoração e louvor como a boca da assembleia. Claro que o exercício das funções sacerdotais não se limita à assembleia, mas também pode ser exercido em particular, em qualquer lugar e a qualquer momento.

SALVAÇÃO

Esse é talvez o termo mais abrangente de todos do Novo Testamento, com uma grande variedade de significados e aplicações. Tem a ver com todo tipo de libertação de perigos e dos julgamentos que poderia haver para o crente, desde sua justificação à sua glorificação. Uma vez que existem muitos aspectos e aplicações diferentes para a salvação, é igualmente verdade para um crente dizer: "Eu fui salvo, estou sendo salvo e eu serei salvo".

A confusão surgiu de Cristãos que não distinguiram esses aspectos da salvação e das ideias errôneas que daí resultaram. Na mente de muitos, toda a menção à salvação na Escritura faz referência ao aspecto eterno da salvação do castigo que nossos pecados merecem. No entanto, W. Kelly salientou que esse aspecto geralmente não é o que está em vista na maioria das passagens que falam da salvação (Lectures on Philippians, pág. 43). O estudante da Bíblia, portanto, deve discernir a qual aspecto da salvação se refere a passagem que ele está lendo. Geralmente o contexto indicará isso. Existem três categorias principais de salvação:

Salvação eterna.

Salvação presente.

Salvação final.

  1. Salvação eterna (Hb 5:9)

É pregada aos pecadores pelo evangelho, pelo qual eles creem no Senhor Jesus Cristo e são salvos do castigo eterno de seus pecados (At 4:12, 16:30-31; Rm 10:1, 9-10, 13; 1 Co 1:18, 7:16, 15:1-2; Ef 1:13; 1 Tm 2:4; 2 Tm 2:10; Tg 1:21; 1 Pe 1:9). Às vezes é referida como a salvação de nossas almas e tem a ver com o crente encontrar a paz no descanso da fé na obra consumada de Cristo, quando então é selado com o Espírito Santo. Esta salvação eterna nunca pode ser perdida. (Veja: A Segurança Eterna do Crente.) Os Cristãos tendem a usar prematuramente o termo "salvo" em conexão com a salvação eterna, quando se referem a pessoas que mostram sinais de vida divina. O Sr. Kelly disse: "Na verdade, eu acho que é uma grande falha da atualidade fazer da �salvação� uma palavra muito comum e usual. Você encontrará muitos evangélicos constantemente dizendo que quando um homem se converte ele é salvo, no entanto provavelmente seria bastante prematuro dizer tal coisa… é impossível dizer que toda pessoa convertida é salva, porque ela pode ainda estar com dúvidas e temores – isto é, sua consciência pode estar como que sob a lei. �Salvo� liberta a pessoa de toda a sensação de condenação, levando-a a Deus conscientemente livre em Cristo, não apenas diante de Deus com sincero desejo de ser piedoso. Uma pessoa não é convertida até que seja conscientemente trazida diante de Deus, mas então [sendo apenas convertida], pode se sentir a mais miserável de todas nessa situação desesperadora. As Escrituras nos permitem chamar essa pessoa de �salva�? Certamente não" (Lectures Introductory to the Study of the Minor Prophets, págs. 375-376).

Cornélio é um exemplo de uma pessoa nesse estado. Antes de Pedro entrar em contato com ele, era evidentemente nascido de Deus, e, portanto, recebeu vida divina. Ele era um homem temente a Deus e devoto, um homem cujas orações foram ouvidas diante de Deus (At 10:2-4). O Senhor mostrou a Pedro em uma visão que Cornélio tinha sido purificado (At 10:15, 28). Mas nesse momento, ele claramente não era salvo! Sabemos isso porque Pedro foi enviado para lhe dizer "palavras" pelas quais ele e toda a sua casa poderiam ser "salvos" (At 11:14). Essa pessoa está segura quanto ao seu destino eterno, porque ela tem vida (pela vivificação), mas ela não está salva, no sentido que Paulo emprega, até que descanse pela fé na obra consumada de Cristo.

  1. Salvação presente

Esse aspecto da salvação tem a ver com a libertação das circunstâncias adversas da vida pelas quais passamos. Como há muitos perigos no caminho da fé, os crentes precisam desse tipo de salvação prática.

Existem muitas maneiras diferentes pelas quais os crentes são salvos nesse sentido prático:

a) Salvo pelo batismo

O julgamento governamental de Deus está sobre o mundo incrédulo dos judeus e dos gentios por terem abandonado-O, e atualmente está sentindo as consequências disso (Gl 6:7).

Quanto à geração dos judeus que foram responsáveis pela morte de Cristo (At 3:14-15; 1 Ts 2:14-15), nos primórdios da história da Igreja (At 2-7), Deus estava prestes a responder à oração do Senhor na cruz e fazer com que a cegueira governamental envolvesse a nação culpada (Sl 69:22-23; At 28:25-27; Rm 11:25; 2 Co 3:14-15). Esse julgamento não só resultaria em cegueira, mas também na destruição da nação pelos romanos (Sl 69:24-26; Mt 22:7; Lc 21:5-24). Enquanto isso, outra oração do Senhor na cruz, pedindo perdão governamental, foi respondida em relação aos que creram n’Ele (Lc 23:34). Assim, a misericórdia de Deus estava sendo estendida à nação por certo tempo antes do julgamento de Deus cair sobre eles. Aqueles que do povo corressem para Cristo buscado refúgio (Hb 6:18-20) e fossem batizados (At 2:38-40, 22:16), poderiam evitar esse julgamento governamental de cegueira. O batismo formalmente os desassociaria daquele terreno culpado sobre o qual a nação se encontrava e os colocaria no terreno Cristão, onde o visível favor de Deus repousava. Assim, o apóstolo Pedro poderia dizer: "o batismo agora nos salva" (1 Pe 3:21 – ATB). Pedro qualificou sua observação para que ninguém a entendesse mal, acrescentando: "não a purificação da imundícia da carne, mas a questão a respeito de uma boa consciência para com Deus". De acordo com isso, no dia de Pentecostes, ele pregou à nação culpada dos judeus: "Salvai-vos desta geração perversa" (At 2:40). Ele explicou que eles poderiam receber essa salvação, arrependendo-se e sendo batizados em nome de Jesus Cristo (At 2:38). Isso mostra que a salvação a que ele se referia era algo governamental, bem como eterno, e libertaria aqueles que criam no julgamento que havia sido pronunciado sobre a nação. (Veja: O Governo de Deus.) Quanto aos gentios que também estão sob o julgamento governamental de Deus por viverem longe de Deus moral e espiritualmente (Êx 34:7b), também precisam ser batizados e, assim, se desvincularem do terreno pagão sobre o qual eles estavam vivendo. Em relação aos gentios, o Senhor disse: "Quem crer e for batizado será salvo" (Mc 16:15-16). Crer daria à pessoa a salvação da alma e ser batizado lhe daria a salvação governamental. O batismo desassociaria os crentes gentios da posição anterior e os colocaria no terreno Cristão (At 10:47-48).

b) Salvo pelo poder da vida de Cristo no alto (Rm 5:10 – JND)

Isso tem que ver com ser salvo no caminho da fé, em um sentido prático, dos perigos espirituais armados exteriormente contra nós pelo inimigo (Satanás) e interiormente pelas más obras da natureza do pecado. Andar num mundo que se opõe a Deus e a Seus princípios é como andar por um campo minado. Há perigos espirituais em todos os lugares e muito para atrair e excitar nossa natureza pecaminosa (a carne). Deus conhece plenamente isso e está envolvido em nos salvar desses perigos de forma prática.

Para efetuar essa salvação prática, o Senhor subiu às alturas para realizar três coisas para este fim – assim, somos "salvos por Sua vida".

Em primeiro lugar, o Senhor subiu ao alto para enviar o Espírito (At 2:33) e assim nos dá o poder da vida em ressurreição, que, quando assim vivida, neutraliza a atividade interior da carne (Rm 8:2).

Em segundo lugar, Ele subiu ao alto para ser o Objeto para o coração do crente em uma esfera completamente fora do mundo e da carne (Jo 17:19). Na medida em que nos ocupamos com Ele e Suas coisas onde Ele está, o mundo, a carne e o diabo perdem seu poder de influência em nossas vidas (1 Jo 5:4-5).

Em terceiro lugar, Ele subiu ao alto para interceder por nós, em nosso caminho no deserto, como nosso Sumo Sacerdote. O efeito da Sua intercessão é que somos "salvos completamente" de perigos e armadilhas espirituais que foram colocadas no caminho pelo inimigo de nossa alma. Para obter o benefício da intercessão de Cristo, precisamos "nos achegar a Deus por Ele", que se refere a expressar nossa dependência de Deus na oração (Hb 7:25 – ATB).

c) Salvo pelo cuidado providencial de Deus (Mt 8:25, 14:30, 24:13; 1 Tm 2:15, 4:10, 6:13)

Há também muitos perigos físicos e riscos que todos os homens na Terra enfrentam diariamente. Esses podem ser acidentes, problemas de todos os tipos, doenças, má vontade e ataques de quem se opõe a nós, etc. Muitas vezes, nem percebemos os perigos que nos rodeiam, mas as misericórdias de Deus são tais que Ele trabalha nos bastidores (providencialmente) para nos salvar dessas coisas. Em condições normais, esse aspecto da salvação ou preservação diária é experimentado por todas as criaturas de Deus, não apenas pelos Cristãos. A Escritura diz: "temos posto a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador [Preservador] de todos os homens, especialmente dos que creem" (1 Tm 4:10 – ATB; Sl 145:15-19; At 14:17).

Podemos nos perguntar por que alguns sofrem acidentes e problemas quando Deus está trabalhando para preservar suas criaturas do perigo? Essas coisas acontecem aos pecadores de vez em quando, porque Deus está tentando chamar sua atenção e fazer com que eles se tornem para Cristo. Isso também acontece com os crentes por estarem na escola de Deus, e Deus usa esses problemas para lhes ensinar lições morais (Sl 119:65-72). Seus caminhos são perfeitos; Ele não comete erros nas coisas que permite (Sl 18:30; Rm 8:28). Mas em condições normais, Ele preserva misericordiosamente todos os homens e "especialmente os que creem" - ATB.

Em 1 Timóteo 2:15, Paulo indica que, se os Cristãos continuarem no caminho da fé em "amor e santidade", eles podem ter uma confiança adicional ao saber que o cuidado preservador de Deus será experimentado em suas vidas. Paulo menciona isso em conexão com "Salvar-se-á**, porém, dando à luz filhos**", mas o cuidado providencial de Deus será experimentado por Seu povo em muitos diferentes caminhos e não apenas no momento de dar à luz filhos, se eles continuarem fielmente no caminho.

Mateus 24:13 indica que, na Grande Tribulação, o fiel remanescente judeu sofrerá dificuldades e tentações inacreditáveis. O Senhor disse que "aquele que perseverar até ao fim será salvo". Isso refere-se a suas vidas sendo poupadas do martírio, e assim eles serão preservados vivos nesses tempos difíceis "até ao fim" desse período. Todos esses celebrarão sua "salvação" em louvor ao Cordeiro no reino milenar (Ap 7:9-12). Alguns do remanescente crente serão martirizados e, portanto, não serão salvos nesse sentido. Suas almas irão para o céu (Ap 6:9-11, 15:2-4) para esperar a ressurreição de seus corpos mais tarde (Ap 14:13, 20:4).

d) Salvo pela sã doutrina (1 Tm 4:16; Tg 1:21)

O apóstolo Paulo anunciou a Timóteo que havia uma grande apostasia iminente que aconteceria na profissão Cristã "nos últimos tempos" (1 Tm 4:1). Como resultado, muitas doutrinas errôneas iriam permear a profissão Cristã e afastariam as massas para longe da verdade. Enquanto um verdadeiro crente não pode se apostatar, ele pode ser afetado pela corrente da apostasia, e assim começar a abandonar certos princípios e práticas que já sustentou. Paulo disse a Timóteo como ele poderia ser preservado deste escorregão. Ele disse: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás**, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem**" (1 Tm 4:16). Assim, a verdade doutrinal nos preservará de cair em erro, se ela for mantida em comunhão com Deus (Sl 40:11).

e) Salvo vestindo o capacete da salvação (Ef 6:17; 1 Ts 5:8)

Isso tem a ver com a proteção de nossos pensamentos (v. 17a). Satanás está constantemente tentando afastar os Cristãos de seguirem o Senhor. Uma de suas maneiras mais eficaz é colocar sementes do mal em nossas mentes. Ele não conhece nossos pensamentos (ele não é onisciente), mas ele pode trazer certas coisas diante de nós que são calculadas para produzir uma resposta em nossos corações que por fim afastará nossos pensamentos de Cristo. Quando outras coisas, além de Cristo, ocupam nossas mentes e quando não estamos desfrutando da nossa porção em Cristo, estaremos num estado onde poderemos facilmente nos afastar do caminho da fé. No entanto, quando mantemos nossos pensamentos fixados em Cristo e em Seus interesses, estamos nesse sentido vestindo "o capacete da salvação", e isso funcionará como uma libertação prática dessa linha de ataque. Mas note que temos que colocar o capacete; Deus não o coloca em nós. Isso mostra que Deus quer que sejamos exercitados de forma responsável sobre essa salvação prática. H. E. Hayhoe costumava dizer: "Cuidado com o que você pensa e que isso possa ser Cristo" (Sl 94:19; Is 26:3; Lc 12:29; Fl 4:7; Cl 3:1).

f) Salvo pelo exercício do julgamento próprio (1 Pe 4:17-18)

O apóstolo Pedro falou dos julgamentos governamentais de Deus em relação aos que estão em Sua casa. Isso inclui crentes verdadeiros e os que simplesmente professam ser crentes. Ele menciona que há muitas dificuldades no caminho pelo qual um crente precisa ser "salvo". Isso se refere aos julgamentos governamentais de Deus com o Seu povo caso não sejam cuidadosos em sua caminhada (1 Pe 1:17, 3:12). Tendo em vista o caráter judaico da epístola em sua aplicação, a nota de rodapé da Tradução de J. N. Darby afirma: "Salvo aqui na Terra pelas provas e julgamentos que especialmente afligem o Cristão judeu".

O apóstolo Paulo menciona essa mesma necessidade de julgamento próprio em 1 Coríntios 11:28-32. Ele afirma que "se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados" por Deus dessa maneira. Ele também menciona que alguns dos coríntios, evidentemente, não estavam praticando o julgamento próprio e estavam sendo "repreendidos [disciplinados] pelo Senhor" como consequência – ao ponto que alguns deles estarem "doentes" e muitos já "dormiam" na morte (1 Jo 5:16).

Tiago menciona essa mesma ação governamental de Deus (Tg 5:19-20). Ele afirma que, se um crente não for cuidadoso em sua caminhada e se afastar dela de alguma maneira, e persistir nesse curso, Deus poderá tratar com ele de maneira governamental podendo até levá-lo à morte. Isso não significa que perderia sua salvação eterna, mas que ele perderia o privilégio de viver neste mundo como testemunho para Cristo. Como isso não é o que Deus deseja, Tiago nos diz que os irmãos daquele que está andando errado devem buscá-lo para sua restauração antes que as coisas alcancem esse ponto (Gl 6:1). Se um irmão ou uma irmã puder alcançar a pessoa rebelde e ela for restaurada, Tiago diz que aquele que faz esse bom trabalho pode "salvar uma alma da morte (prematura)" (Ec 7:17).

Isso também se aplica a uma assembleia local em um sentido coletivo (2 Co 7:10). Se uma assembleia negligencia julgar o mal no meio dela, incorrerá no julgamento governamental de Deus (1 Co 11:30). Paulo diz que "a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação". Assim, a assembleia se salva do julgamento governamental de Deus ao lidar com o mal em seu meio e excomungar os envolvidos no mal.

g) A Assembleia é salva mantendo sua unidade prática (Fp 2:12)

O inimigo de nossas almas deseja destruir a paz na assembleia local, semeando a discórdia no seu meio. Ele provoca "contenda", fazendo com que certos indivíduos busquem "vanglória" (Fp 2:3). Muitas assembleias foram despedaçadas como resultado.

Paulo ensinou em Filipenses 2 que, se a unidade feliz for mantida na assembleia, o inimigo será frustrado. Ele explica que isso é feito por cada um tendo "humildade" e considerando "os outros superiores a si mesmo" (vs. 2-4). Paulo também ensinou que, para produzir essa humildade, é necessário ter nossas mentes fixas em Cristo, que é o modelo da humildade (vs. 5-11). Se cada um adotasse a mente humilde de Cristo e imitasse Sua humildade, a assembleia seria salva dos desígnios de Satanás para destruir a unidade. Assim, eles deveriam coletivamente operar a sua própria "salvação", cada um tomando o lugar mais baixo (vs. 12-14). Paulo disse que quando a unidade é mantida em uma assembleia, resulta em um testemunho brilhante na comunidade (vs. 15-16, Jo 13:35). Assim, Paulo estava falando de uma salvação prática e diária em conexão com conflitos internos dentro da assembleia. Sua menção de salvação aqui não tem nada a ver com a salvação eterna da alma.

As notas de uma reunião de leitura sobre Filipenses 2:12 em um periódico mensal nos dizem: "Esse verso foi muitas vezes mal interpretado como se dissesse, trabalhe para a salvação, enquanto o que ele diz é �opere�. Penso que o verso se refere às dificuldades que estavam presentes na assembleia em Filipos e não algo individual. Foi chamada a atenção que o verbo está no plural, e quando ele diz �vossa�, Paulo aparentemente tem em mente as dificuldades na assembleia local… A salvação referida nessa passagem não é a salvação da alma, que é obtida pela fé em nosso Senhor Jesus Cristo, mas é a salvação diária em relação às muitas dificuldades que nos assolam em nosso caminho. Isso se torna mais óbvio, à medida que avançamos nessa epístola, que a desunião os marcava, e era disso que precisavam ser salvos. Parece sugerir que o caminho da salvação das dificuldades era o partido que contendia se rebaixar em relação ao seu ego" (Precious Things, vol. 5, págs. 263-264).

A. M. S. Gooding disse: "�operai a vossa salvação com temor e tremor�. Salvação do quê? Salvação das contendas" (The 13 Judges, pág. 95).

S. Maxwell disse: "na verdade o apóstolo está dizendo aqui: estou ciente de seus problemas internos e eu lhes dei um exemplo a seguir (2:5-7), agora opere vossa própria salvação como uma assembleia. A palavra claramente indica que eles precisavam ser salvos daquilo que, no final, seria destrutivo para o testemunho, se eles não agissem para acabar com suas contendas" (Philippians, pág. 210).

W. Potter disse: "�Operai a vossa salvação�… [isto é] em conexão com as dificuldades da assembleia… esse é o claro significado de �operai a vossa salvação com temor e tremor�".

h) Israel será salvo temporalmente recebendo Cristo como seu Messias (Hb 2:3-5)

A "grande salvação" a que o escritor de Hebreus se refere nesta passagem não é a salvação eterna da alma, como normalmente se pensa, mas a libertação temporal do jugo romano que estava sobre a nação. Naquela época os judeus estavam cativos aos romanos que governavam sobre eles em sua própria terra, e eles precisavam muito desta salvação. O Senhor Jesus foi enviado por Deus para efetuar essa libertação como a "salvação poderosa" de Deus para a nação (Lc 1:68-71). Assim, veio anunciando esse aspecto da salvação, pregando "libertação aos cativos" (Lc 4:18-19). À Sua entrada em Jerusalém, o povo clamou "Hosana" (Mt 21:15), que significa: "Salve agora"! Mas os líderes levaram o povo a rejeitá-Lo, e a promessa dessa grande salvação foi, portanto, adiada. Se os judeus tivessem recebido Cristo, Ele os salvaria de seus inimigos e os libertaria da escravidão, e a nação teria evitado sua destruição no ano 70 d.C.

O escritor diz que essa grande salvação foi primeiro "anunciada pelo Senhor". Ele foi por toda a terra de Israel pregando "o evangelho do reino" que anunciava essa libertação exterior para a nação (Mt 4:23; Mc 4:14). O escritor também diz que a promessa dessa salvação temporal foi "confirmada" ao povo pelos apóstolos (Hb 2:3; At 3:19-21) e também pelo "testemunho" de Deus mesmo nos milagres que acompanharam a pregação desse evangelho (Hb 2:4; At 3:6-10, etc.). Assim, a nação provou "a boa Palavra de Deus e as obras de poder da era vindoura" (Hb 6:5 – JND) e teria tido as bênçãos do reino como prometidas pelos seus profetas, se tivessem recebido a Cristo.

"A grande salvação" em Hebreus 2:3 não poderia estar se referindo à salvação da alma anunciada no "evangelho da graça de Deus" (At 20:24; 1 Pe 1:9), porque diz que esta salvação foi anunciada pela primeira vez pelo Senhor quando Ele estava aqui na Terra. Mas Ele não pregou esse evangelho. Isso não aconteceu até que Israel rejeitou formalmente a Cristo, enviando um homem (Estevão) a Deus com a mensagem: "Não queremos que Este reine sobre nós" (Lc 19:14; At 7:54-60), só então o evangelho da graça de Deus foi estendido ao mundo (At 13:46-48, 15:14, 20:24, 28:28). Como mencionado, o evangelho que o Senhor pregou foi o do reino (Mt 4:23; Mc 4:14). Essa mensagem apresentou-O como o Rei e o Messias de Israel que viria à nação no seu tempo de necessidade para salvá-los dos seus inimigos, e então Ele estabeleceria o reino no poder e glória como prometido nos escritos dos profetas do Antigo Testamento (Sl 95-96). (Veja: O Evangelho.) H. Smith disse: "Na sua interpretação estrita [Hebreus 2:3], a salvação da qual o escritor fala não é o evangelho da graça de Deus, como apresentado hoje, nem contempla a indiferença de um pecador quanto ao Evangelho. No entanto, uma aplicação nesse sentido certamente pode ser feita, pois é verdade que não pode haver escapatória no final para quem negligencia o Evangelho. Aqui está a salvação que foi pregada pelo Senhor aos judeus, pela qual um caminho de escape foi aberto ao remanescente crente, julgamento esse que estava a ponto de cair sobre a nação. Essa salvação foi depois pregada por Pedro e os outros apóstolos nos primeiros capítulos dos Atos, quando eles disseram: �Salvai-vos desta geração perversa�. Esse testemunho foi confirmado por Deus �por sinais, e milagres, e várias maravilhas�. Esse Evangelho do Reino será novamente pregado após a Igreja ter sido completada" (The Epistle to the Hebrews, págs. 12-13).

Em relação a Hebreus 2:3, J. N. Darby disse: "É a pregação de uma grande salvação, feita pelo próprio Senhor quando estava na Terra; não o evangelho pregado e a Igreja unida após a morte de Cristo. Esse testemunho, consequentemente, continua no Milênio sem falar da Igreja, fato a ser notado não apenas nesses versículos, mas em toda a epístola" (Collected Writings, vol. 28, pág. 4).

  1. Salvação final (Rm 5:9, 13:11; Fl 3:20-21; Hb 9:28; 1 Pe 1:5)

Esse aspecto da salvação tem que ver com os nossos corpos sendo feitos perfeitos pelo poder de Deus em glorificação. Isso ocorrerá quando o Senhor vier por nós no Arrebatamento. Os santos falecidos serão ressuscitados em "incorruptibilidade" e os santos vivos terão seus corpos transformados em um estado de "imortalidade" (Rm 8:11; 1 Co 15:53-55).

Esse aspecto final da salvação também inclui ser salvo da "ira vindoura", por ser tirado deste mundo no Arrebatamento, para que não passemos pela Grande Tribulação (Rm 5:9; 1 Ts 1:10; Ap 3:10). F. B. Hole disse: "O dia da ira está chegando. Duas vezes antes, na epístola [aos Romanos], isso foi notificado (Rm 1:18, 2:5). Seremos salvos daquele dia por Cristo. Por outras Escrituras, sabemos que Ele nos salvará, tirando-nos da cena de ira antes que ela seja derramada" (Paul’s Epistles, vol. 1, pág. 15).

SANGUE DE CRISTO, O

O sangue de Cristo permanece como um sinal da obra de expiação feita para a glória de Deus e para a bênção do homem (Jo 19:34). A Escritura fala do sangue de Cristo sendo "derramado" para os crentes, que é a provisão de Deus para eles serem salvos (Mt 26:28; Mc 14:24; Lc 22:20). A Escritura também fala do sangue de Cristo sendo "aspergido" nos corações dos crentes, o que se refere à apropriação pela fé da obra consumada de Cristo na cruz (Hb 10:22, 12:24; 1 Pe 1:2).

O Novo Testamento fala de pelo menos doze coisas que o sangue de Cristo faz:

Faz expiação – propiciação (Rm 3:25) e substituição (Mt 26:28).

Compra todas as coisas e pessoas (At 20:28; Ap 5:9).

Efetua redenção (Rm 3:24; 1 Pe 1:18-19).

Concede perdão (Ef 1:7).

Produz uma consciência purificada (Hb 9:14, 10:2).

ousadia para entrar na presença de Deus (Hb 10:19).

Efetua a justificação (Rm 5:9).

Faz a paz (Cl 1:20).

Nos aproxima de Deus – reconciliação (Ef 2:13).

Nos santifica (Hb 10:29, 13:12).

Nos lava ou nos purifica (1 Jo 1:7; Ap 1:5, 7:14).

Dá o direito à vitória final sobre Satanás (Ap 12:11).

SANTIFICAÇÃO

Esse termo significa "tornar santo por ser separado". Pode ser aplicado a:

Pessoas (Êx 13:2; Jo 10:36; 1 Co 7:14).

Lugares (Êx 19:23, 29:43).

Coisas (Gn 2:3; Êx 40:10-11; 1 Tm 4:5).

Em relação às pessoas, existem três aspectos principais no Novo Testamento, que são:

  1. Santificação absoluta ou posicional

Esse aspecto é o resultado de uma obra de Deus feita no crente por meio do novo nascimento (1 Co 6:11; 2 Ts 2:13; 1 Pe 1:2) e para o crente por torná-lo justificado pela fé em Cristo (At 20:32, 26:18; Rm 1:1; 1 Co 1:2, 30; Hb 10:10, 14, 13:12; Ap 22:11). Como resultado, o crente, que estava entre a massa de pessoas não salvas que se dirigem para uma eternidade perdida, foi separado para uma nova posição diante de Deus. Esse aspecto da santificação é algo feito uma única vez na vida de um crente. Todo Cristão foi santificado nesse sentido posicional, independentemente do estado em que sua vida prática possa estar.

  1. Santificação progressiva ou prática

Esse aspecto é resultado de o crente ser exercitado sobre seu estado moral e espiritual e, pela graça de Deus, buscando aperfeiçoar a santidade em sua vida de forma prática. Veja Jo 17:17; Rm 6:19; 2 Co 7:1; 1 Ts 4:4-7, 5:23; Ef 5:26-27; Hb 12:14. Esse aspecto da santificação é um exercício diário contínuo na vida do crente.

  1. Santificação relativa ou provisória

Esse aspecto tem a ver com pessoas sendo colocadas em um lugar limpo na Terra por meio da separação, sem necessariamente ter um trabalho interior de fé em sua alma.

No caso de um casamento onde um dos cônjuges é salvo e o outro não, o incrédulo é "santificado" em um sentido relativo pela sua associação com o cônjuge que é santificado (1 Co 7:14). Isso não significa que o incrédulo seja salvo dessa forma, mas que ele está em um lugar de um santo privilégio.

No caso daqueles associados com Abraão, Romanos 11:16 afirma que estão em um lugar de santidade relativa. O ponto que o apóstolo estabelece nesse versículo é que se a "raiz" da nação de Israel (Abraão) tinha sido estabelecida em um lugar santo de privilégio em relação a Deus, então os "ramos" (descendentes de Abraão) estão nesse lugar "santo" também (Dt 7:6, 14:2; 1 Rs 8:53; Am 3:3). Ele não está falando do que é vital por meio do novo nascimento, mas de estar em um lugar de favor e privilégio exteriores.

O apóstolo Paulo também se refere a alguém se purificando da confusão que entrou na casa de Deus (Cristandade), "separando-se" dela (da confusão) e, assim, sendo "santificado" nesse sentido relativo (2 Tm 2:19).

A santificação relativa também é vista em Hebreus 10:29. Os judeus que professaram fé em Cristo, naqueles dias, haviam entrado em terreno Cristão e, portanto, tinham sido "santificados", em um sentido relativo, pelo sangue de Cristo. Falando novamente, estar nesse lugar santificado não significa necessariamente que eles eram salvos. O escritor da epístola os adverte que se eles abandonassem essa posição e voltassem para o Judaísmo, eles seriam apóstatas, e haveria julgamento esperando por eles (Hb 10:30-31).

O próprio Senhor também foi "santificado" nesse sentido relativo. Ele foi separado para vir para o mundo com o propósito de cumprir a vontade de Deus (Jo 10:36). Ele também Se separou para deixar este mundo e voltar para o Pai (Jo 17:19).

Uma pessoa também pode se separar para fazer o mal (Is 66:17).

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J. N. Darby advertiu sobre o perigo de enfatizar excessivamente o lado prático da santificação, afirmando que poderia ser entendido por alguns que uma pessoa pode tornar-se aceitável a Deus em seu estado natural, limpando sua vida. Ele disse que, se a separação principal das pessoas diante de Deus, pela santificação absoluta, não for realizada, a santificação torna-se um mero ajuste gradual do homem em seu estado natural para sua aceitação diante de Deus – o que, claro, não pode ser feito (Collected Writings, vol. 10, pág. 78). Não obstante, é exatamente isso que aconteceu na história da Igreja. Muitas almas ignorantes, ao longo dos anos, tentaram melhorar pela observação de leis e do ascetismo na esperança de tornarem-se aceitáveis diante de Deus. Tal ideia não vê a carne como irremediavelmente má e essencialmente ignora a necessidade de um novo nascimento. Portanto, é preciso haver equilíbrio no ministério Cristão ao apresentar a verdade da santificação e, portanto, proteger-se de suposições errôneas, como a que o Sr. Darby mencionou. Na verdade, a Escritura realmente se refere à santificação em seu sentido posicional com mais frequência do que os sentidos práticos e relativos.

SANTOS & PECADORES

Um "santo" é "alguém separado" ou "alguém santificado". Todos os que conhecem o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador são santificados (posicionalmente) e, portanto, são santos.

Romanos 1:7, em algumas versões, diz: "Chamados para serem santos", mas as palavras "para serem" estão em itálico, indicando que não estão no texto grego e foram adicionados pelos tradutores para ajudar a leitura da passagem. Infelizmente, isso muda o significado e faz da santidade um objetivo a ser alcançado em algum momento no futuro. (Este é um erro católico romano. Eles ensinam que se uma pessoa se mantém fiel a esse sistema, depois que deixa este mundo pela morte, pode ser promovida para a posição especial de ser santo). O texto deve simplesmente ser lido "chamados santos". Isso significa que uma pessoa se torna um santo obedecendo à chamada do evangelho. Não é algo que esperamos ser, mas algo que a Palavra de Deus diz que somos pela graça de Deus. Não há uma Escritura sequer que nos diga para tentar alcançar a santidade, mas há Escrituras que nos dizem que todos os crentes são santos, mesmo enquanto ainda vivem neste mundo. No entanto, algumas pessoas pensam que é um sinal de humildade se recusar a já se chamar a si mesmos santos, mas não é orgulho nem presunção acreditar na Palavra de Deus. Na verdade, um crente que se recusa a se chamar santo está, de fato, negando a verdade das Escrituras.

Um "pecador" na Escritura é uma pessoa que não é salva. No entanto, quando alguém é justificado, é libertado de todas as acusações do pecado por ser trazido para uma nova posição diante de Deus, na qual Deus já não o vê na posição de pecador, mas sim como um santo. Portanto, crentes falarem de si mesmos como "pobres pecadores" está abaixo da dignidade de sua posição perante Deus e isso, realmente nega a verdade do que somos como filhos de Deus. Em certo sentido, diminui o valor da obra de Cristo que nos salvou e nos colocou nessa nova posição de favor como "santificados em Cristo Jesus" (1 Co 1:2). Não estamos dizendo que os Cristãos não deveriam usar o termo "pecadores" em relação a si mesmos, mas que devemos dizer que já fomos pecadores.

W. Kelly disse: "Algumas pessoas falam de �um pecador crente�, ou falam de adoração oferecida a Deus por �pobres pecadores�. Muitos hinos, de fato, nunca colocam a alma para além desta condição. Mas o que se entende por �pecador� na Palavra de Deus é uma alma completamente sem paz, uma alma que pode talvez sentir a sua necessidade de Cristo, sendo vivificada pelo Espírito, mas sem o conhecimento da redenção. Não é honesto negar o que os santos são à vista de Deus" (Lectures on the Epistle to the Galatians, pág. 47).

O Sr. Kelly também disse: "Existe entre muitas pessoas evangélicas um mau hábito de falar sobre �pecadores salvos�. Para mim, não é apenas inexato, mas enganoso e perigoso. A Escritura não reconhece algo como um "pecador salvo". Podemos nos alegrar por um �pecador salvo� se conhecemos a misericórdia em nossas almas, mas se nós consentirmos com a frase – um �pecador salvo�, o efeito moral disso é que, embora já salvo, ele ainda é livre para pecar… É perfeitamente verdade que, quando Deus começa a tratar com alguém, certamente começa com ele sendo um pecador, mas Ele nunca termina aí. Não conheço nenhuma parte da Palavra de Deus em que um crente, a não ser talvez em um estado de transição, seja chamado de �pecador�…. É evidente que ser um santo e pecador ao mesmo tempo é simplesmente uma clara contradição. Em suma, a Sagrada Escritura não sanciona tal combinação, e quanto mais cedo nos livrarmos de tais frases, que não merecem um nome melhor do que uma hipocrisia religiosa, será melhor para todos" (Lectures Introductory to the New Testament, págs. 213-214).

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Há uma exceção em Tiago 5:19-20, onde ele chama um crente que falha de "pecador", mas não no sentido de sua posição, como Paulo e Pedro usam o termo. Tiago está falando sobre o que caracteriza um crente que persiste em seguir um curso de pecado em sua vida.

SÉCULO

Um termo que se refere a uma época ou período de tempo cujo curso já aconteceu, ou está acontecendo, ou ainda acontecerá na Terra. Esses períodos são referidos como "tempos dos séculos" (2 Tm 1:9; Tt 1:2).

O Senhor falou de dois séculos em especial em Seu ministério aqui na Terra: "o presente século" e "o século futuro" (Mt 12:32). O "presente século" é o período mosaico, que começou no monte Sinai com a entrega da Lei, e estava em curso no momento na primeira vinda do Senhor. Quando Ele foi rejeitado e expulso deste mundo, este "século" recebeu um novo carácter e agora é chamado de o "presente século mau" (Gl 1:4). Isso se refere aos "príncipes deste mundo" que cometeram o maior de todos os pecados – a crucificação do Senhor da glória (1 Cr 2:6,8). O "século futuro" é o Milênio, o reinado público de mil anos de Cristo, que ainda está por vir nos caminhos de Deus (Mc 10:30; Ef 1:21; Hb 2:5, 6:5; Ap 20:4). Houve "outros séculos" antes do período mosaico, que já terminaram o seu curso, como Paulo indica em Efésios 3:5 – tais como: o período antediluviano, o período patriarcal, etc.

Alguns têm pensado que o presente chamamento de Deus pelo evangelho interrompeu o período mosaico e que ele não vai recomeçar até algum dia futuro, mas isso não é verdade. O período mosaico ainda está tendo seu curso na Terra hoje. A vinda do Espírito Santo e a introdução do Cristianismo não fez com que ele acabasse como também não iniciou um novo período. Entretanto, embora o período mosaico não esteja suspenso, o vínculo formal de Deus com Israel, como nação, está suspenso. Aqueles que creem no evangelho pregado hoje são chamados de entre os judeus e de entre os gentios para fazerem parte da Igreja de Deus. Eles são livrados "do presente século mau" e, posicionalmente, não fazem mais parte dele (Gl 1:4). A Igreja, portanto, não tem nenhuma ligação com a Terra e os períodos de tempo. Por isso, falar deste tempo presente, quando o evangelho da graça de Deus está sendo pregado no mundo, como o “período da Igreja” não é doutrinariamente correto. Os Cristãos ainda devem andar neste presente século mau, mas, posicionalmente, eles não fazem parte dele. E é triste dizer mas alguns Cristãos hoje estão deixando sua firmeza em seguir a Cristo e estão amando o "presente século" e, como resultado, estão se estabelecendo no mundo. Demas é um exemplo (2 Tm 4:10).

Este presente século está sob o controle de Satanás, que é o seu deus e príncipe (2 Co 4:4; Ef 2:2), e está avançando em direção ao julgamento. Sabemos pelas Escrituras proféticas que há pelo menos mais sete anos restantes, que terão seu início depois que a Igreja for chamada para o céu no Arrebatamento. Esses sete anos correspondem à septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27). Este século irá se encerrar na Aparição de Cristo, que é chamado, "o fim do mundo" (Mt 13:39-40, 49, 24:3, 28:20). Naquele tempo o Senhor trará "o século futuro" – o Milênio (Mt 12:32; Mc 10:30; Ef 1:21; Hb 2:5, 6:5). Quando o Milênio tiver transcorrido o seu curso de mil anos, o Estado Eterno começará (Ap 21:1-8). A Escritura chama isso de "os séculos dos séculos" (Gl 1:5; Ef 2:7, 3:21; 1 Tm 1:17; 1 Pe 5:11; Ap 5:13, 22:5). Tecnicamente falando, não é na verdade um período, porque os períodos têm a ver com o tempo, e não há tempo na eternidade.

SEGURANÇA ETERNA DO CRENTE, A

A expressão exata "segurança eterna" não é encontrada na Bíblia, mas a verdade que ela transmite certamente está lá. Refere-se ao fato de que uma pessoa verdadeiramente salva, por meio da fé em Cristo, não pode perder sua salvação e sua aceitação em Cristo diante de Deus. Os seguintes versículos ensinam isso: Lc 15:3-6; Jo 6:37-40, 10:28-29, 14:16; Rm 6:23 com 11:29; Rm 8:30-39; 1 Co 1:7-8, 3:13-17, 5:5; Ef 1:13 com 4:30; Fl 1:6; 1 Tm 4:1; Hb 10:14, 13:5; 1 Pe 1:5; 1 Jo 2:1.

Se um crente perdesse sua salvação e acabasse no inferno, Deus daria prova de ser mentiroso, porque a Sua Palavra diz que as ovelhas de Cristo "nunca hão de perecer" (Jo 10:28-29); Cristo teria que acabar no inferno com o crente, porque Ele prometeu: "Não te deixarei, nem te desampararei" (Hb 13:5); e o Espírito Santo também teria que ir para o inferno, porque a Escritura diz que Ele habitará e estará com os crentes "para sempre" (Jo 14:16). Tudo isso, é claro, é absurdo e totalmente impossível.

Há algumas passagens da Escritura que parecem ensinar que um crente poderia perder sua salvação, mas um olhar mais atento a essas passagens mostra que elas não estão falando de crentes verdadeiros no Senhor Jesus Cristo, mas sim de crentes meramente professantes que apostatam da fé Cristã. Algumas dessas passagens são: Mt 7:21-23, 12:43-45, 13:5-6, 20-21, 24:13, 25:26-30; Mc 3:28-30; Lc 22:31-32; Jo 15:2-6; Rm 11:22; 1 Co 9:27, 15:2; Hb 6:4-6, 10:26-29, 12:14; 2 Pe 2:1, 20-21. A dificuldade que as pessoas têm com essas passagens – que as levam a uma conclusão errada – é que elas não sabem a diferença entre queda e apostasia. Ambas se referem a uma pessoa se afastar de Deus, mas uma – a apostasia – é infinitamente pior do que a outra. Um verdadeiro crente pode cair e deixar de andar com o Senhor, mas ele não vai se apostatar. Apenas crentes professos podem apostatar, que é abandonar a confissão de fé que eles fizeram uma vez. Se eles fizerem isso, estão condenados, mesmo que ainda estejam vivos neste mundo! Eles não podem ser renovados ao arrependimento e trazidos à salvação pela fé em Cristo (Hb 6:4-6, 10:26).

A chave para entender estas passagens que parecem ensinar que um crente poderia perder sua salvação é ver que elas estão se referindo à apostasia, e não à queda. Elas têm a ver com crentes meramente professantes, não crentes verdadeiros. Pode-se perguntar: "Por que essas advertências a respeito de apostasia são apresentadas nos livros da Bíblia que foram escritas aos crentes quando ela não tem aplicação para eles?" A resposta é que os escritores do Novo Testamento, divinamente inspirados, em muitas ocasiões, falaram para uma multidão mista de crentes verdadeiros e crentes meramente professantes. Assim, suas observações incluíam advertências para aqueles que transitavam entre os verdadeiros crentes e que estavam meramente professando fé em Cristo. Tais observações destinavam-se às consciências dessas pessoas. Eles tinham a intenção de despertá-los para sua necessidade de serem salvos, e avisá-los de que, se desviassem da fé que professavam, estariam perdidos para sempre! (Veja: Apostasia e Queda.)

SELADO COM O ESPÍRITO SANTO

Esse termo refere-se ao Espírito Santo habitando em uma pessoa quando esta crê "no evangelho da sua salvação" (Ef 1:13, 4:30; 2 Co 1:22). Ela entende que foi assinalada como sendo de Cristo e, como resultado, tem um entendimento consciente de que a salvação de sua alma está eternamente segura.

O selo do Espírito não tem tanto a ver com os outros sabendo que somos de Cristo, mas sim conhecermos nossa segurança n�Ele. H. P. Barker disse: "A ideia principal relacionada com o selo nas Escrituras é a da segurança. Algo é selado para torná-lo seguro para o seu dono" (The Holy Spirit Here Today, pág. 33). O "penhor do Espírito" (2 Co 1:22, 5:5; Ef 1:14) e a "unção do Santo" (1 Jo 2:20, 27) também se referem à presença permanente do Espírito, mas têm a ver com diferentes funções do Espírito no crente. (Veja: Penhor do Espírito e Unção.)

Para muitos Cristãos não é claro quando o selo do Espírito acontece na vida de uma alma com Deus. A maioria pensa que uma pessoa recebe o Espírito Santo ("ungido", "selado" e dado como "penhor" – 2 Co 1:21-22) quando nasce de novo (vivificado). No entanto, não é isso o que as Escrituras ensinam. Uma pessoa vivificada ou nascida de novo não será ungida, selada ou terá o penhor do Espírito até que ela descanse na obra consumada de Cristo. Vivificação e selo são duas ações distintas do Espírito que não ocorrem ao mesmo tempo na vida de uma pessoa com Deus. Uma pessoa pode ser vivificada (nascida de novo) pelo Espírito e pela Palavra sem que ela tenha conhecimento consciente do evangelho da graça de Deus (Jo 3:3-8). Mas ser selada, ungida e ter o penhor do Espírito exige que ela compreenda a verdade do evangelho em relação à obra consumada de Cristo na cruz e que descanse pela fé nessa obra para a salvação de sua alma.

Essas duas ações do Espírito Santo não devem ser confundidas. Nós somos "nascidos do Espírito" (Jo 3:8) e, assim, recebemos uma vida divina, e então nos tornamos crianças de Deus. Mas não é até que sejamos "selados com o Espírito Santo" (Ef 1:13), ao crermos no Senhor Jesus Cristo e na sua obra consumada, que nos tornamos filhos de Deus (Rm 8:14-15; Gl. 4:6-7). Filiação refere-se a ter um lugar privilegiado na família de Deus. (Veja: Adoção.) Ao receber o Espírito Santo, a consciência do crente é purificada (Hb 9:14) e ele é feito parte do corpo de Cristo (Ef 2:16-18). (Veja: Novo Nascimento, Libertação e Salvação.)

Quanto à diferença entre vivificação e selo, J. N. Darby disse: "A habitação do Espírito Santo é uma coisa muito diferente do poder vivificante do Espírito. Os santos do Antigo Testamento estavam sujeitos a este poder vivificante do Espírito, mas a habitação do Espírito Santo não poderia existir até que Jesus fosse glorificado… Exemplos dados em Atos onde havia um intervalo de tempo, nos tornam sensíveis quanto à distinção entre os dois" (Collected Writings, vol. 26, pág. 8). A. P. Cecil disse: "Creio que as Escrituras claramente ensinam não apenas a distinção entre o novo nascimento e o selo do Espírito, mas também um intervalo de tempo entre as duas coisas. Pode ser longo ou curto; mas o intervalo de tempo está lá, da mesma forma que quando um homem constrói sua casa e depois passa a habitar nela" (Helps by the Way, vol. 3, NS, pág. 175). F. G. Patterson disse: "Essas duas ações do Espírito Santo nunca são, até onde eu sei, síncronas – elas não acontecem no mesmo momento" (Scriptures Queries and Answers, Words of Truth, vol. 3, pág. 184).

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João 6:27 afirma que o Senhor Jesus foi "selado" com o Espírito Santo. Essa é uma referência ao que ocorreu em Seu batismo (Jo 1:29-33). Ele, é claro, não precisava de limpeza antes que o Espírito pudesse repousar sobre Ele, assim como Aarão (um tipo de Cristo) não precisava ser esparzido com sangue – como seus filhos precisavam, que são um tipo de Igreja – antes que ele fosse ungido com o óleo, que é um tipo do Espírito Santo (Lv 8:12).

SENHORIO DE CRISTO, O

Este não é um termo usado na Escritura, mas a verdade que ele transmite é definitivamente encontrada na Palavra de Deus. O Senhorio de Cristo é mencionado em muitos lugares no Novo Testamento pela frase "no Senhor" (Rm 16:2, 11-13, 19; 1 Co 7:22, 39, 9:1-2, 11:11, 15:58; 2 Co 10:17; Ef 2:21, 4:1, 17, 5:8, 6:1, 10, 21; Fl 2:19, 24, 29, 3:1, 4:1-2, 4, 10; Cl 4:7, etc.). O senhorio tem a ver com o crente reconhecendo a autoridade de Cristo em sua vida de uma maneira prática.

Nas epístolas de Paulo, "no Senhor" é diferente de "em Cristo" – outra expressão que ele costuma usar. "Em Cristo" refere-se à posição do crente perante Deus no lugar de aceitação de Cristo (Ef 1:6; 1 Jo 4:17). É uma posição estabelecida eternamente na qual todos os Cristãos estão. (Veja: Em Cristo.) "No Senhor", por outro lado, tem a ver com o crente reconhecendo a autoridade do Senhor em questões práticas de sua vida. Por isso, todos os Cristãos estão "em Cristo", mas pode ser que nem todos os Cristãos estejam vivendo "no Senhor" – isto é, reconhecendo Seu Senhorio e autoridade sobre eles.

Reconhecer o Senhorio de Cristo em nossas vidas significa que não devemos simplesmente sair e fazer qualquer coisa que queiramos fazer, mas conhecer, pelos princípios na Palavra de Deus, o que o Senhor gostaria que fizéssemos. Por isso, o Senhorio implica fazer o que Ele quer que façamos em questões de consciência (Rm 14:5-9), comunhão (Rm 16:2, 19; Fl 2:29), companheirismo e casamento (1 Co 7:39), os papéis dos homens e das mulheres na assembleia (1 Co 11:11), caminhando de forma a expressar a verdade de que a Igreja é o corpo de Cristo (Ef 4:1-4), obediência das crianças (Ef 6:1), planos de viagens (Fp 2:24), serviço (Rm 15:58, 16:11-13; Ef 6:21; Cl 4:7), etc. Viver de maneira prática sob o Senhorio de Cristo é o segredo de uma vida Cristã feliz e frutífera.

SEPARAÇÃO

Refere-se à convicção do Cristão em manter-se afastado do mundo – tanto no sentido religioso quanto no secular. Seguem algumas razões pelas quais Deus insiste na separação na vida de um Cristão:

Em primeiro lugar, a separação é necessária porque a associação com o mundo resultará na diminuição do afeto do crente por Cristo e Seu povo. Resumindo, trará frieza à sua alma. Em 2 Coríntios 6:12-18, o apóstolo Paulo explica que nossos "afetos" tornar-se-ão "estreitados" (limitados) se negligenciarmos caminhar em separação do mundo. Esse efeito triste é visto na vida de Efraim, que "com os povos se mistura" (Os 7:8). O resultado foi que ele se tornou "como uma pomba enganada, sem entendimento" (Os 7:11). Sua associação com o mundo levou seu coração para longe do Senhor.

Em segundo lugar, a associação com o mundo estraga o apetite do crente pela Palavra de Deus. Vemos isso ilustrado na história de Israel no deserto. Deus lhes deu o "maná" por comida (Êx 16). O Novo Testamento nos diz que o maná é um tipo de Cristo – o alimento espiritual para o crente (Jo 6:31-58). No entanto, houve um tempo em sua jornada pelo deserto quando eles se cansaram do maná, e isso era a razão de estarem desejando os alimentos do Egito – um tipo do mundo (Nm 11:4-6). Assim, os crentes que desejam os prazeres mundanos e os entretenimentos acabarão estragando o seu apetite pela Palavra de Deus.

Em terceiro lugar, a associação com o mundo dessensibiliza os padrões morais do crente. O Cristão que se associa com as pessoas mundanas será influenciado por elas. Ele começará a pensar e agir como elas, e os valores mundanos e padrões morais delas se tornarão seus. A Palavra de Deus diz: "Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33). Os padrões morais de Ló caíram ao nível dos homens de Sodoma (Gn 19). Isso é visto no fato alarmante de que ele ofereceu suas filhas aos homens da cidade.

Em quarto lugar, a associação com o mundo dificulta o crescimento espiritual do crente. Mais uma vez, isso é visto na vida de Efraim que se misturou entre os gentios. O resultado foi que ele era como um "bolo que não foi virado" (Os 7:8). Ou seja, Efraim era como uma panqueca meio-cozida – sendo apenas meio-desenvolvido.

Em quinto lugar, a associação com o mundo faz com que o Cristão perca sua energia espiritual em sua vida pessoal. Josué advertiu o povo em seu tempo que, se eles se estabelecessem entre os ímpios cananeus, perderiam o poder de resistir a eles (Js 23:12-13). Eles não poderiam mais ficar de pé diante de seus inimigos. Mais uma vez, com Efraim, diz: "Estrangeiros lhe devoraram a força" (Os 7:9). Sansão é outra ilustração disso. Por sua associação com a jovem filisteia mundana (Dalila), "retirou-se dele a sua força" (Jz 16:19).

Em sexto lugar, a associação com o mundo fará com que o crente perca seu discernimento espiritual. Mais uma vez, o exemplo de Efraim ilustra isso. Diz: "Estrangeiros lhe têm devorado a força, e ele não o sabe; cabelos brancos se lhe espalham pela cabeça, e ele não o sabe" (Os 7:9 – ATB). Tendo se associado ao mundo, tornou-se insensível ao seu estado pessoal. Havia decadência espiritual, e ele não sabia disso! Aconteceu o mesmo com Sansão. Ele não parecia saber que também havia perdido sua força. "Porque ele não sabia que já o SENHOR se tinha retirado dele" (Jz 16:20). Os laodicenses também estavam desprovidos de discernimento quanto ao seu verdadeiro estado e imaginavam que estavam certos e bem, mas seu estado era realmente desagradável para o Senhor (Ap 3:14-22).

Em sétimo lugar, a associação com o mundo acabará por afastar completamente o crente de seguir o Senhor! Os filhos de Israel são um exemplo. Eles não deveriam se misturar com as nações na terra de Canaã, as quais não conheciam o Senhor, porque aquelas pessoas iriam afastá-los do Senhor (Dt 7:1-4). Eles não observaram esse aviso e foi exatamente o que aconteceu.

E, finalmente, a associação com o mundo destrói o testemunho pessoal do crente. Ló é um exemplo. Ao viver em Sodoma (um tipo desse mundo em sua corrupção moral) ele perdeu seu poder de testemunho. Quando foi chamar seus genros para saírem daquela cidade que estava sob julgamento, suas palavras lhes pareceram "como quem estava zombando" (Gn 19:14 – ATB). Eles não o levaram a sério porque sua vida contava outra história. Os Cristãos geralmente não se mantiveram separados do mundo e, como resultado, um testemunho deficiente tem sido dado perante todo o mundo. É uma maravilha que alguém se volte para o Senhor e seja salvo. Gandhi, da Índia, disse que, se (o Cristianismo) não fosse só para os Cristãos, ele teria se tornado um!

SOFRIMENTOS DE CRISTO, OS

O apóstolo Pedro nos diz que as Escrituras do Antigo Testamento têm dois grandes temas em relação a Cristo – "os sofrimentos que haviam de vir a Cristo, e as glórias que os seguiriam" (1 Pe 1:11 – ATB). Olhando mais de perto para os sofrimentos de Cristo, as Escrituras indicam que existem pelo menos cinco tipos diferentes:

  1. Seus sofrimentos intrínsecos

O Senhor Jesus sofreu porque era um Homem santo. Sendo "Deus manifestado em carne" (1 Tm 3:16), toda a essência ou constituição da Pessoa de nosso Senhor Jesus era da mais infinita santidade. O anjo que falou a Maria, antes de Sua encarnação, disse: "o Santo**, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus**" (Lc 1:35). Após a Sua morte e ressurreição, os apóstolos oraram a Deus, dizendo: "**Teu Santo Servo Jesus, ao Qual ungiste**" (At 4:27).

Quando o Senhor condescendeu a entrar neste mundo, entrou em uma cena cheia de pecado e impureza. O mundo inteiro foi poluído pelo pecado, moral, espiritual e fisicamente. Era uma cena totalmente estranha à Sua santa natureza. Por isso, sendo o Homem santo que Ele era, sofreu por estar em tal ambiente de corrupção. Embora tenha entrado em contato com o pecado e os pecadores, Ele nunca foi pessoalmente contaminado por eles – Ele permaneceu "imaculado" (Hb 7:25). Se Ló "enfadou, [afligiu]" a sua alma justa pelo que viu e ouviu em Sodoma quando estava tão distante de Deus moralmente (2 Pe 2:7-8), o que o Senhor deve ter sofrido quando passou por um mundo como este!

  1. Seus sofrimentos por empatia

Além de sofrer por estar na constante presença do pecado, o Senhor Jesus também sofreu por causa de Seu profundo amor pelas pessoas. Ele Se preocupava com empatia com qualquer pessoa que estivesse sofrendo sob o fruto do pecado no mundo. Isso é evidente de várias maneiras:

a) O Senhor sofreu em relação ao que o pecado tinha feito às Suas criaturas fisicamente (em seus corpos). Quando viu pessoas afligidas com alguma doença ou enfermidade, Seu coração estava com elas em sua aflição. Em perfeita empatia, sentiu em Sua própria alma as dores de Suas criaturas e sofreu com elas (Is 53:4; Mt 8:17). Um exemplo disto foi na cura do homem surdo e mudo (Mc 7:31-37). Diz que o Senhor "suspirou" – indicando que Ele sentiu o sofrimento que aquele homem estava passando em sua aflição – e então Ele abriu os ouvidos do homem e soltou sua língua. J. N. Darby observou que o Senhor nunca curou uma pessoa doente sem antes sentir o peso dessa doença como fruto do pecado. Por isso, não foi fácil para Ele esticar a Sua mão e dizer ao leproso: "Sê limpo" (Mc 1:41), porque cada vez que Ele curava uma pessoa, Ele levava o fardo dessa tristeza em Sua própria alma. Assim, foi corretamente dito que "Ele levou em Seu espírito o que Ele tirou pelo Seu poder".

b) O Senhor também sofreu por causa do que o pecado havia feito na vida das pessoas emocionalmente. Embora alguns possam não ter sido atingidos pessoalmente com doenças, mesmo assim os efeitos dessas coisas naqueles a quem conheciam e amaram, produziram tristeza e sofrimento neles. O Senhor teve empatia com todos eles. Um exemplo disso é o caso de Maria e Marta, quando seu irmão havia morrido (Jo 11). A doença e a morte não as haviam tocado, mas estavam com grande tristeza por essa causa (vs. 31-33a). Em empatia com elas em sua prova, o Senhor "moveu-Se muito em espírito, e perturbou-Se." (v. 33b). Ele sentiu profundamente a situação delas e "chorou" no túmulo de Lázaro (v. 35).

c) O Senhor também sofreu em conexão com as tristezas do remanescente judeu num futuro dia. Não só sentiu as dores daqueles que estavam ao seu redor, mas também sentiu as dores daqueles que sofrerão por sua fidelidade na futura Grande Tribulação. No momento da última ceia, quando Satanás entrou em Judas, "o filho da perdição", os pensamentos do Senhor foram projetados para o futuro quando o remanescente judeu sofreria por causa da justiça sob a perseguição do futuro "filho da perdição" – o anticristo (2 Ts 2:3-4; Mt 5:10-12; Sl 69:6-11). Naquele dia de trevas, o anticristo levará a nação à apostasia e perseguirá o remanescente judeu por sua fé e obediência (Mt 24:21-22; Sl 10). Em empatia divina, o Senhor entrou na sua sorte e sentiu no Seu coração as dores de rejeição que eles passarão naquele dia (Jo 13:18-21).

d) O Senhor também sofreu com empatia em relação ao castigo do remanescente judeu no dia vindouro. Como parte da nação que é culpada da morte de Cristo – o Messias de Israel – o remanescente experimentará o fruto do seu pecado nacional sob os tratamentos governamentais de Deus. Fazendo parte da nação culpada, necessariamente eles devem ser castigados, mas, no castigo que Ele derrama sobre eles, Ele sente isso juntamente com eles com empatia! (Is 63:9). Tendo em Si mesmo substituído o lugar de Israel diante de Deus (Is 49:1-5), sentiu o pecado de Israel à luz da santidade de Deus, embora Ele mesmo nunca estivesse sob o governo de Deus.

  1. Seus sofrimentos antecipativos

A cruz e o seu sofrimento estiveram sempre perante o nosso Senhor. Por toda a sua senda, Ele os teve diante de Si. Ele podia dizer: "Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo: e como Me angustio até que venha a cumprir-se!" (Lc 12:50). Várias vezes o Senhor levou Seus discípulos a parte e disse-lhes que "convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia" (Mt 16:21, 17:22-23, 20:17-19). Ele falou de Si mesmo como "o grão de trigo" que cairia na terra e morreria (Jo 12:24). Isso levou-O a dizer: "Agora a Minha alma está perturbada; e que direi Eu? Pai, salva-Me desta hora; mas para isto vim a esta hora" (Jo 12:27). Ele antecipou a cruz e seus sofrimentos, e isso O perturbou profundamente.

Quando chegou ao Getsêmani, o tentador veio com todo seu poder em um esforço para aterrorizá-Lo. Satanás pressionou em Sua alma o que significaria ser rejeitado dos homens e abandonado de Deus. Ele poderia dizer: "torrentes de perdição [Belial] Me amedrontaram" (Sl 18:4 – ATB). "Belial" é uma referência a Satanás (2 Co 6:15). No Salmo 102 ("o Salmo do Getsêmani"), vemos o Senhor antecipando o sofrimento na mão de Deus pelo pecado. Sendo a Pessoa onisciente que Ele era, Ele antecipou os sofrimentos da cruz completamente, como nenhuma criatura poderia. O resultado foi que Ele caiu em Seu rosto "em agonia [conflito]" e clamou a Deus: "Pai, se queres, passa de Mim este cálix" (Lc 22:42; Mt 26:39). O Senhor poderia ter exercido Seu poder divino e expulsado o demônio, mas permaneceu no lugar de um Homem obediente e dependente, e "orava mais intensamente" (Lc 22:44).

  1. Seus sofrimentos de martírio

O Senhor sofreu como um Mártir justo nas mãos dos homens de duas maneiras – no Seu espírito e no Seu corpo (fisicamente):

a) Como resultado do testemunho santo do Senhor neste mundo, Ele sofreu reprovação em Sua alma e espírito. O amor que fez com que Ele ministrasse aos homens aquilo que vinha do celeiro da graça de Deus Lhe trouxe mais tristeza e sofrimento, pois desencadeou o ódio e a maldade nos homens. Quanto mais Ele amava, mais Ele era odiado (Sl 109:5).

Ele sentiu a rejeição dos homens e sofreu em Seu espírito e foi afligido com o que o pecado tinha feito em seus corações, endurecendo-os com incredulidade (Mc 3:2-5, 8:12). Ele também sentiu profundamente a traição de Judas (Jo 13:21; Sl 41:9, 55:12-14) e a deserção de Seus únicos seguidores (Jo 16:32) – particularmente a negação de Pedro (Lc 22:61). Ele também sentiu em Sua alma o engano, os insultos e o escárnio que Lhe foram lançados sobre Si na Sua provação e crucificação (Mt 26:57-68, 27:27-44; Sl 22:6-8). Ele também sentiu a violação da decência humana quando os soldados O despiram e O colocaram na cruz (Sl 22:17-18). E além de tudo isso, Ele levou em Seu espírito a vergonha pela deturpação de Quem Ele representava. O povo O considerou como "aflito, ferido de Deus, e oprimido". Eles O viram como morrendo justamente sob o julgamento governamental de Deus por ousar dizer que Ele era o Messias. Eles O viram como um impostor, mas não perceberam que Ele era realmente o Messias que estava morrendo pelos pecados deles (Is 53:4-5)!

b) Como resultado do testemunho santo do Senhor neste mundo, Ele também sofreu fisicamente nas mãos de homens ímpios. Em fidelidade e em amor, Ele testemunhou da maldade do homem, e isso O levou a um sofrimento notório (Sl 40:9-10). Ele sofreu contusões dos golpes de uma vara e das palmas das mãos dos homens (Mq 5:1-2; Mt 26:67, 27:30); ferimentos dos açoites (Is 50:6; Mt 27:26); penetrações da coroa de espinhos (Mt 27:29-30); e perfurações dos cravos nas Suas mãos e pés (Sl22:16; Mt 27:35). Finalmente, Ele foi "pelas mãos dos injustos", "crucificado e morto" (At 2:23, 3:13-15, 5:30, 7:52-53, 13:27-29).

  1. Seus sofrimentos expiatórios

Finalmente, e o maior de todos, o Senhor sofreu como o divino Portador de pecado. Todos os outros tipos de sofrimento que o Senhor sentiu não podiam tirar os pecados. Isso só poderia ser feito por meio de Seus sofrimentos expiatórios que Ele suportou nas últimas três horas na cruz (Mt 27:45-46; Mc 15:33-34; Lc 23:44-45). Seus sofrimentos de martírio foi o que Ele sofreu nas mãos de homens ímpios (Sl 69), mas seus sofrimentos expiatórios foi o que Ele sofreu na mão de Deus (Sl 22).

Para fazer expiação por pecado e pecados, o Senhor suportou e exauriu o justo juízo de Deus. A Bíblia indica que Seu grande sacrifício resolveu toda a questão do pecado diante de Deus (Hb 1:3, 9:26, 10:12). Quando o Senhor fez expiação por nossas almas, Ele foi "abandonado" por Deus (Sl 22:1). Sendo "feito pecado" na cruz (2 Co 5:21), Deus, que é santo e "de olhos puros demais para contemplar o mal" (Hc 1:13 – ATB), não poderia ter comunhão com Ele. Naquele momento, a comunhão foi quebrada entre essas duas Pessoas divinas. Mas, mesmo quando o Senhor Jesus foi abandonado por Deus, Ele ainda era o objeto da complacência (satisfação) de Seu Pai, porque Ele estava fazendo a vontade de Deus, e isso era agradável a Ele (Is 53:10).

Há duas partes na obra de Cristo na expiação na cruz: a primeira é o lado de Deus, que é chamado de "propiciação" (Rm 3:25; Hb 2:17; 1 Jo 2:2, 4:10). A propiciação realizou para Deus a solução completa para a questão do surgimento do pecado na criação e pelos pecados dos crentes. Assim, a obra consumada de Cristo na cruz atendeu à exigência da natureza santa de Deus, e assim, por ela, as reivindicações da justiça divina foram satisfeitas (Sl 85:10). A segunda parte da obra expiatória de Cristo é para o homem – atendendo à necessidade da culpa do crente. Isso é chamado de "substituição". Para tirar os seus pecados e culpa, o crente precisa entender que o Senhor tomou o seu lugar na cruz diante de Deus e suportou "Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2:24). O grande resultado de descansar na fé na obra substitutiva de Cristo é que nossa consciência é "purificada" (Hb 9:14, 10:2, 17, 22).

A Bíblia diz: "O trabalho da Sua alma Ele verá, e ficará satisfeito" (Is 53:11). O fruto dos sofrimentos expiatórios de Cristo são muitos para que possam ser enumerados aqui. Toda bênção que Israel, a Igreja e os santos no dia do reino milenar desfrutarão será o resultado dessa obra consumada. (Veja: Expiação)

SONO

Esta palavra é usada no Novo Testamento de três maneiras:

  1. Sono físico

Isso tem a ver com uma pessoa tendo o seu descanso de noite (Mt 8:24, 13:25, 26:40; At 12:6, 20:9, 1 Ts 5:7, etc.).

  1. O sono da morte

Isso tem a ver com o espírito e a alma de um crente sendo separados de seu corpo por meio da morte (Mt 9:24, 27:52; Jo 11:11; At 7:60, 13:36 1 Co 11:30, 15:6, 51; 1 Ts 4:14, 5:10, etc.). Esse tipo de sono pertence ao corpo do crente (Mt 27:52), não ao seu espírito e alma que "vivem para Ele" após a morte (Lc 20:38 – ATB). O corpo é adormecido na morte "em Jesus" (1 Ts 4:14). Isto é, Ele induz os Seus amados à morte quando Ele os chama para Si. Isso nos mostra que a morte para o crente não ocorre por acidente.

Há pelo menos três razões pelas quais um crente adormece na morte:

O seu trabalho pelo Senhor está terminado (At 13:36; 2 Tm 4:6-7; 2 Pe 1:14).

Sua morte é para a glória de Deus – pelo martírio (Jo 11:4, 21:18-19; Fl 1:20).

Ele é tirado da Terra pela morte sob a mão disciplinadora do Senhor (At 5:1-11; 1 Co 11:30; 1 Jo 5:16).

  1. Sono espiritual

Refere-se a um estado de apatia espiritual ao qual um crente pode chegar por causa da influência do mundo (Mc 13:36; Rm 13:11; 1 Ts 5:6; Ef 5:14, etc.).

TEMPOS DO REFRIGÉRIO, OS

Esse termo refere-se às felizes condições que serão encontradas durante o Milênio quando a vida na Terra será ordenada de acordo com a mente de Deus, sob o reinado de Cristo (At 3:19).

TEMPOS DOS GENTIOS, OS

Essa expressão refere-se ao período de tempo (atualmente em curso) quando a sede do governo de Deus na Terra – que estava uma vez com a casa de Davi em Israel (1 Cr 29:23) – foi transferida para os gentios por causa do fracasso de Israel. Começou quando Nabucodonosor derrotou o Faraó Neco em 606 a.C. a partir de quando os babilônios se tornaram os líderes incontestáveis do mundo habitável (2 Rs 24:1-4; Jr 46:2; Dn 2:37, 5:18-19). A supremacia dos gentios continuou através dos reinados dos Medos e Persas, do Império Grego e do Império Romano (Dn 2:31-5, 7:1-27). O Senhor disse que Jerusalém seria "pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Lc 21:24). Isso não significa que Jerusalém seria literalmente nivelada a escombros até que "os tempos dos gentios" acabem, mas que seria subjugada sob o pé dos gentios até aquele momento.

O que leva "os tempos dos gentios" ao seu fim é a vinda de Cristo como o Filho do Homem para julgar o mundo – Sua Aparição (Lc 21:25-28; Dn 2:35, 44). Naquele tempo, o Senhor julgará as nações dos gentios e libertará Israel desse jugo. Quando a nação de Israel for restaurada, "o trono do Senhor" será transferido de volta para a casa de Davi em Jerusalém (Jr 3:17) e Israel governará as nações dos gentios de acordo com o propósito original de Deus para eles (Dt 28:13; Sl 47:2-3; Jr 51:19-20; Mq 5:7-9).

TERRA PROFÉTICA, A

Essa expressão não é encontrada na Escritura, mas o que ela transmite certamente é. Os instrutores bíblicos utilizam-na para indicar uma esfera específica na Terra, onde muito da profecia será cumprida, particularmente em conexão com a besta romana.

Na verdade, existem três esferas na Terra onde a profecia será cumprida. Esses são círculos concêntricos, cada um com uma abrangência mais ampla, e cada um tem diferentes graus de luz de Deus e, portanto, estão num nível diferente de responsabilidade para com Deus. Essas esferas são:

A "terra" [land] – A porção da terra que foi prometida a Abraão e seus descendentes – a herança total de Israel, cobrindo cerca de 770 mil quilômetros quadrados de terra. (A versão King James traduz equivocadamente isso como a "terra" [Earth] em muitos lugares e, portanto, o estudante das profecias precisará consultar uma tradução mais crítica, como a de J. N. Darby, em Is 26:18, 28:22; Mt 24:30, etc.). Esse é o círculo menor.

A "terra" [Earth] – A porção de terra onde, no passado, o antigo Império Romano exerceu sua autoridade, e onde o Império Romano revivido, sob o domínio da besta, também terá seu território no futuro. Inclui "a terra", mas também engloba a Ásia Menor e Europa Ocidental. Alguns acreditam que, pelo fato de a América ter sido amplamente povoada por povos que saíram da Europa (Dn 2:43), os Estados Unidos e o Canadá poderiam fazer parte dessa esfera. Essa área é referida pelos instrutores bíblicos como "a terra profética", ou "a terra romana", ou "a terra profética ocidental". Ela é mencionada 14 vezes em Apocalipse 8-9, pela expressão "a terça parte". "A quarta parte da terra" é uma parte restrita da terra profética – a Europa Ocidental (Ap 6:8).

O "mundo" [world] – Essa é uma esfera mais ampla ainda, cobrindo todo o globo, considerando também as nações periféricas.

Os três desses termos aparecem ocasionalmente em uma passagem da Escritura – Is 18:2-3, 24:1-6, 26:9-10, 18-19.

ÚLTIMOS DIAS, OS

Essa expressão é usada no Novo Testamento para descrever dois tratamentos completamente diferentes de Deus para com os homens. Estudantes da Bíblia que não compreendam os caminhos dispensacionais de Deus com Israel e com a Igreja estarão em um dilema quando forem interpretar o significado de "os últimos dias". Por exemplo, as Escrituras indicam que Deus visitou Seu povo terrenal Israel nos "últimos dias" na Pessoa de Seu Filho (Hb 1:2), e nesses "últimos tempos" Cristo morreu e ressuscitou dentre os mortos (1 Pe 1:20-21). A Escritura também indica que Israel será atacado pelo Rei do Norte (Dn 8:19, 23, 11:40-43) e será restaurado e trazido a um relacionamento com o Senhor nos "últimos dias" (Dn 12:1-4; Is 2:2-4; Mq 4:1-2). Algumas dessas coisas aconteceram há dois mil anos e algumas delas ainda estão por acontecer. A pergunta óbvia é: "Como essas coisas podem acontecer todas nos últimos dias?"

Muitos têm apresentado todos os tipos de ideias na tentativa de explicar isso. No entanto, quando entendemos que o chamado da Igreja pelo evangelho é uma coisa interposta, algo entre parênteses nos caminhos de Deus com Israel, o problema é resolvido. Retirando o tempo da jornada da Igreja na Terra para fora da questão (que tem quase dois mil anos), vemos que os tratos de Deus com Israel vão direto desde a época da morte e ressurreição do Senhor até a septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27), que são os últimos sete anos da história deles antes de Cristo aparecer, restaurar Israel e estabelecer Seu reino milenar. Nesse sentido, a morte de Cristo e os eventos proféticos relativos ao ataque a Israel e a restauração final da nação são realmente todos nos últimos dias de Israel.

Entre a morte de Cristo e a restauração de Israel (o intervalo atual), Deus tem dirigido Sua atenção para chamar a Igreja pelo evangelho de Sua graça (At 15:14). A Igreja permanecerá na Terra numa posição de testemunho até que o Senhor venha levá-la para casa no céu no Arrebatamento. Ela também tem seus "últimos dias" de testemunho na Terra. Os apóstolos Paulo, Pedro e João, e Judas, o irmão do Senhor, todos falam disso (1 Tm 4:1; 2 Tm 3:1; 2 Pe 3:3; 1 Jo 2:18; Jd 18). Estamos nestes últimos dias agora, mas não estamos no tempo dos últimos dias de Israel. Esses dois distintos tratamentos de Deus não devem ser confundidos.

UNÇÃO DO ESPÍRITO, A

Esse é um aspecto da habitação do Espírito Santo que enfatiza a obra do Espírito no crente para dar-lhe o poder de discernimento em conexão com a verdade e o erro (1 Jo 2:20, 27). Se o crente andar em Espírito, em comunhão com o Senhor, ele terá o poder de discernir o que é verdade e o que é erro quando se depara com ambos (1 Jo 4:6). O apóstolo João disse: "A unção que d�Ele recebestes, permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a Sua unção vos ensina em todas as coisas, e ela é verdadeira e não mentirosa, e como ela vos ensinou, permaneceis n�Ele" (1 Jo 2:27). Alguns têm usado este versículo para recusar o ensino de mestres dotados, porque têm o Espírito Santo e pensam que isso é tudo o que precisam. Consequentemente, não lerão nenhum livro de ministério, etc. Mas isso não é o que este versículo está dizendo. O apóstolo João não está dizendo que todos os crentes instintivamente conhecem a verdade porque têm o Espírito. Se isso fosse verdade, por que Deus daria "mestres" à Igreja? (1 Co 12:28; Ef 4:11) O verso simplesmente significa que, quando a verdade ou o erro nos são apresentados, não precisamos de alguém para nos dizer o que é o quê. Se estivermos em comunhão e, portanto, "permanecendo n�Ele", a "unção" do Espírito em nós nos dará a saber se algo é a verdade ou não.

UNIDADE DO ESPÍRITO, A

Essa expressão tem a ver com a unidade prática que deve existir entre os membros do corpo de Cristo (Ef 4:3-4). É uma unidade de comunhão que o Espírito de Deus está formando na Terra para expressar a verdade do "um só corpo" (Ef 4:4). F. G. Patterson disse que manter a unidade do Espírito é "esforçar-se para manter em prática aquilo que existe de fato". Assim, Deus queria ter os membros do corpo de Cristo andando juntos eclesiástica e praticamente, para que o mundo visse uma demonstração da unidade que existe no corpo de Cristo – independentemente de onde os membros do corpo estivessem localizados na Terra.

"A unidade do Espírito" não é meramente uma exortação para ter unidade na comunhão da igreja em certa localidade; é mais do que isso. Esta unidade tem em vista o único corpo – como o versículo seguinte (Ef 4:4) afirma: "há um só corpo". Como o corpo de Cristo não está em nenhuma localidade na Terra, é claro que isso está se referindo a uma unidade de crentes em todo o mundo. Assim, Deus quer que os Cristãos andem juntos universalmente em comunhão, dando expressão ao fato de que eles são um só corpo, mesmo que os membros estejam em muitos lugares na Terra. O ato de partir o pão é uma confissão prática desta verdade (1 Co 10:16-17), mas a Igreja também deve manifestar a unidade do corpo em questões práticas de comunhão e disciplina. Deus quer que isso seja realizado em uma escala mundial – onde quer que os membros do corpo estejam situados na Terra. Isso exclui a ideia de que as assembleias locais sejam autônomas. As epístolas aos coríntios enfatizam esse lado da verdade.

Muitos confundem a unidade do Espírito (Ef 4:3) com a união do corpo e da Cabeça (1 Co 12:12-13; Ef 2:15). Devemos manter o primeiro, mas Deus mantém o último pela habitação do Espírito. A unidade do Espírito pode ser interrompida e quebrada. Mas a união nunca pode ser quebrada. Nos primeiros dias da Igreja, essa unidade foi guardada. Os santos "estavam todos concordemente" (At 2:1 – ARF, 4:32), mas é triste dizer que não permaneceu assim por muito tempo. C. H. Brown disse: "Evidentemente, a unidade do Espírito deve ter sido quebrada em algum momento, resultando dois grupos que se separaram um do outro. A unidade do Espírito deve ter sido quebrada, e de fato foi" (The Ground of Gathering, pág. 28). C. H. Mackintosh disse: "Quebrar a unidade do Espírito seria o caso se sustentássemos que havia muitos corpos" (The Church, pág. 9). J. N. Darby disse: "Ananias e Safira foram os primeiros a quebrá-la (At 5); depois disso, você encontra os helenistas murmurando contra os hebreus (At 6)". A União, por outro lado, permanece intacta universalmente, independentemente de os membros do corpo de Cristo caminharem juntos na unidade prática ou não. União, portanto, não é o mesmo que a unidade. Para enfatizar a diferença entre elas, tem sido dito que se amarrássemos dois gatos pelas caudas, teríamos união, mas não teríamos unidade.

É um fato triste que a Igreja não tenha mantido a unidade do Espírito e, como resultado, ela se tenha dividido em testemunho. Hoje, existem milhares de partidos, seitas e comunhões – cada um com seus próprios princípios de governo, todos independentes uns dos outros. Embora isso seja verdade, os Cristãos ainda podem manter a unidade do Espírito hoje, mas isso só pode se cumprir em um testemunho remanescente. A unidade do Espírito encontra seu centro em Cristo e guardá-la envolve estar em harmonia com a mente do Espírito que conduz os Cristãos a esse objetivo prático. Os membros do corpo não devem apenas reconhecer a autoridade de Cristo em todas as coisas, mas também devem caminhar em santidade e verdade, porque o Espírito de Deus, que reúne Cristãos de acordo com a verdade de Deus, é "o Espírito de santidade" e "o Espírito" da verdade" (Rm 1:4; Jo 14:17). Isso envolve, necessariamente, separação de tudo, seja doutrina ou prática, que esteja inconsistente com Sua Pessoa.

UNIGÊNITO

Esse é um termo afetivo que um filho único tem nas afeições de seu pai (Lc 8:42; Jo 1:14, 3:16, 18; 1 Jo 4:9) ou mãe (Lc 7:12). Gerado, no sentido em que a palavra é usada nesse termo, não se refere ao início congênito de sua pessoa – seu nascimento. Uma prova clara disso é que o Senhor era "o Filho unigênito" antes que Ele nascesse neste mundo (Jo 3:16). A ênfase no termo é no "único", e não no "gerado". Cristo é o único e o unigênito Filho do Pai. Numa tradução livre, poderíamos ler: "o afetuosamente amado".

Portanto, quando o termo "Unigênito" é aplicado ao Senhor Jesus, está se referindo ao Seu sempre existente relacionamento com Deus, o Pai, como Seu muito amado Filho. Isso denota o prazer do Pai n’Ele. João 1:14 fala da glória que os homens contemplaram no Senhor quando O viram vivendo no gozo do amor de Seu Pai. João disse, num parêntese, que é semelhante ao que uma criança unigênita tem com seu pai, tendo a total e indivisa atenção e afeto de seu pai. (É por isso que "unigênito do pai" não é escrito em maiúscula no texto, pois se refere ao relacionamento humano de um pai com seu filho e o Espírito de Deus está usando isso para ilustrar a afeição que o Pai tem para com o Filho.). Assim, o Senhor foi o objeto da atenção e deleite indivisos de Seu Pai (Mt 3:17), pois sempre habitou "no seio do Pai" como "o Filho unigênito" (Jo 1:18; Pv 8:30) e "o Filho do Seu amor" (Cl 1:13).

(N. do T.: J. N. Darby traduz João 1:14 como "E o Verbo Se tornou carne, e habitou entre nós [e temos contemplado Sua glória, uma glória como de um unigênito com um pai], cheio de graça e verdade")

VELHO HOMEM, O

Essa expressão é encontrada em Romanos 6:6, Efésios 4:22 e Colossenses 3:9. Como o "novo homem", esse também é um termo abstrato que descreve o estado corrupto da raça caída de Adão – seu caráter moral depravado. O "velho homem" não é Adão em pessoa, mas é aquilo que caracteriza a raça caída de Adão. É a encarnação de cada uma das horríveis características que marca a raça. Para ver corretamente o velho homem, precisamos olhar para a raça como um todo, pois é improvável que uma pessoa seja marcada por todas as horríveis características que caracterizam esse estado corrupto. Por exemplo, uma pessoa na raça caída pode ser caracterizada por ser irritada e enganadora, mas ela pode não ser imoral. Outra pessoa pode ser conhecida por não perder o seu controle, nem por enganar, mas ser terrivelmente imoral. No entanto, tomando a raça como um todo, vemos então todas as terríveis características que compõem o velho homem.

Romanos 6:6 e 8:3 afirmam que Deus julgou o "velho homem" na cruz de Cristo. E Efésios 4:22 e Colossenses 3:9 nos dizem que é algo do qual o crente se "despojou" ao receber Cristo como seu Salvador. Como parte da posição Cristã, por nossa profissão, temos confessadamente nos despojado de tudo o que tem a ver com esse estado corrupto. Tal despojamento é mencionado no Grego no tempo verbal aorista – isso é, algo acontecido uma vez para sempre. Portanto, como Cristãos, confessamos que não estamos mais associados ao "velho homem". Infelizmente, versão King James (N. do T.: assim como as versões brasileiras) traduz Efésios 4:22-24 como uma exortação, tornando o despojamento do velho homem algo que devemos fazer em nossas vidas como uma coisa diária. Mas na realidade, o despojamento do velho homem é algo que o crente faz de uma vez por todas quando ele toma sua posição com Cristo. A passagem deveria ser lida como: "Tendo-se despojado**, quanto ao trato passado, do velho homem** …" (JND).

O "velho homem" é frequentemente usado como sinônimo da velha natureza (a carne) no crente. Esse é um mal-entendido generalizado entre os Cristãos. Eles dirão coisas como: "O velho homem em nós deseja coisas pecaminosas". Ou "nosso velho homem quer fazer este ou aquele mal…". No entanto, essas afirmações confundem o velho homem com a carne. As Escrituras não usam o termo dessa maneira. O Sr. Darby observou: "O velho homem repetidamente está sendo usado incorretamente para a carne" (Food for the Flock, vol. 2, pág. 228). Uma diferença é que nunca é dito de o homem velho estar em nós, enquanto a carne certamente está. F. G. Patterson disse: "Também não acho que as Escrituras nos permitam dizer que temos o velho homem em nós – enquanto ensina mais plenamente que temos a carne em nós" (A Chosen Vessel, pág. 51). Por isso, não é correto falar do velho homem como sendo algo que vive em nós com apetites, desejos e emoções, assim como é com a carne. H. C. B. G. disse: "Eu sei o que significa um Cristão que perde o temperamento e diz: �é o velho homem�. Ainda assim a expressão está errada. Se ele dissesse que era �a carne�, teria sido mais correto" (Food for the Flock, vol. 2, pág. 287). Se o velho homem fosse a carne, então Efésios 4:22-23 estaria nos dizendo que precisamos nos despir da carne! No entanto, não existe uma exortação na Escritura para nos despirmos da carne. É algo que não acontecerá até que morramos, ou quando o Senhor voltar.

Assim, o "velho homem" foi julgado na cruz e foi despido pelo crente ao receber Cristo como seu Salvador. Embora não haja exortação na Escritura para nos despirmos do velho homem, há uma exortação para "nos despirmos" das coisas que podem estar em nossas vidas que caracterizam o velho homem (Cl 3:8-9). Também não há uma exortação na Escritura para os Cristãos "considerarem o velho homem morto", como as pessoas costumam dizer. Essa ideia equivocada supõe que seja algo maligno vivendo em nós (isto é, a carne). A Escritura diz que devemos considerar-nos "como mortos para o pecado" (Rm 6:11). Outros falam do velho homem como sendo morto. Este é um outro mal-entendido. Mais uma vez, sugere que era algo que uma vez viveu no crente, mas que morreu.

Sete coisas, o "velho homem" não é:

Não é Adão em pessoa.

Não é a carne no crente.

Não é nossa antiga posição diante de Deus.

Não é sinônimo do primeiro homem.

Não é algo que precisa ser morto ou que morreu.

Não é algo de que o crente se despoja diariamente.

Não é algo que enterramos no batismo.

VIDA ETERNA

Nos evangelhos sinóticos (N. do T.: Mateus, Marcos e Lucas), o termo refere-se a ter vida divina de Deus na Terra no reino milenar de Cristo (Mt 19:16, 29, 25:46; Mc 10:17, 30; Lc 10:25, 18:18, 30, etc.). Isso foi prometido no Velho Testamento (Sl 133:3; Dn 12:2) e terá cumprimento no remanescente de Israel (Ap 7:1-8) e nos crentes das nações gentias (Ap 7:9-10) num dia vindouro.

Mas no evangelho de João e nas epístolas do Novo Testamento, vida eterna tem um significado totalmente diferente. Ela é apresentada como algo celestial. Neste aspecto Cristão, vida eterna tem a ver com a possessão da vida divina de acordo com a relação que os Cristãos têm com o Pai e o Filho. O Senhor a definiu como: "E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste" (Jo 17:3). Essa é uma bênção Cristã distinta, possuída "em Cristo" (Rm 6:23; 2 Tm 1:1). F. G. Patterson disse: "A vida eterna é o termo Cristão para aquilo que temos em Cristo; por ela somos trazidos à comunhão com o Pai e o Filho e, portanto, temos uma natureza adequada ao céu" (Scripture Notes and Queries, pág. 112).

A vida eterna, nesse sentido Cristão, é chamada assim porque se refere a uma qualidade especial da vida divina na qual eternamente o Pai e o Filho têm desfrutado juntos em comunhão com o Espírito Santo. Antes da vinda de Cristo ao mundo, esse aspecto da vida divina era desconhecido pelos homens – estava "com o Pai" nos céus (1 Jo 1:2). Mas agora foi dada aos Cristãos (Jo 3:16; 1 Jo 5:13, etc.) pela qual são capazes de desfrutar da comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Jo 1:3).

Ao contrário do que muitos Cristãos pensam, a "vida eterna" não é uma descrição da duração da vida divina, mas sim uma descrição do caráter e da qualidade da vida divina. Portanto, "vida eterna" não significa "vida que dura para sempre". Como toda a vida humana dura para sempre – independentemente de a pessoa ser salva ou não – o termo certamente deve significar mais do que uma vida de duração interminável. H. Nunnerley disse: "Muita má compreensão surgiu sobre a vida eterna, limitando o seu significado à duração sem fim da sua existência e à eterna segurança daqueles que possuem essa vida" (Scripture Truth, vol.1, pág. 155). A. C. Brown disse que a vida eterna "não significa meramente que temos vida que dura para sempre. Também não se refere particularmente ao nosso primeiro encontro com o Salvador, como salientado por alguns evangelistas" (Eternal Life, pág. 4). H. M. Hooke comentou: "Poucos de nós se esforçam em sentar e pensar o que é a vida eterna. Lembro-me de ter perguntado a uma irmã anciã se ela gostaria de me dizer o que era a vida eterna. �Oh, sim!�, Ela disse, �perpetuidade da existência�. �Então, eu disse, você não tem nada a mais do que o diabo tem – pois ele tem a perpetuidade de existência!�. Eu acredito que o que ela disse é um entendimento comum. Mesmo os perdidos têm perpetuidade de existência, pois eles passarão a eternidade no lago de fogo, mas eles não têm a vida eterna" (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 230).

Muitos confundem a vida eterna com o novo nascimento, mas esses termos não são sinônimos. Ambos têm a ver com possuir vida divina, mas a vida eterna é ter a vida divina em seu sentido mais pleno, o que exigiu a vinda do Filho de Deus. O Senhor disse: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância" (Jo 10:10). Antes de Sua vinda ao mundo, as pessoas não conheciam esse caráter da vida divina. Não é que existem dois tipos diferentes de vida divina. A vida dada no novo nascimento e vida eterna são a mesma vida em essência. É a própria vida de Cristo – de fato, Ele é chamado "A Vida Eterna" (1 Jo 1:2). A diferença é que nascer de novo é ter a vida divina em embrião, por assim dizer, enquanto que a vida eterna é ter essa vida em sua plenitude. O mesmo poderia ser dito da vida em uma semente de maçã em oposição à vida em uma macieira adulta. Ambas têm a mesma vida, mas uma não a desenvolveu.

A posse da vida eterna, em seu sentido Cristão, envolve quatro coisas:

1) CONHECER A DEUS COMO PAI (Jo 17:3). Isso exigiu a vinda de Cristo ao mundo para revelar o Pai (Jo 1:18, 14:6-11).

J. N. Darby disse: "A revelação do nome do Pai traz consigo a vida eterna" (Notes and Jottings, pág. 102). H. Nunnerley disse: "A vida eterna é uma vida de comunhão, de participação nas relações divinas, um conhecimento prático do Pai e do Seu Enviado" (Scripture Truth, vol. 1, pág. 197). ("Pai" é usado algumas vezes no Velho Testamento em referência a Deus, mas está indicando Seu cuidado para com Seu povo como um pai guia e cuida de sua família, não é usado como um nome de Deus revelando Sua Pessoa como tal, como é revelado no Novo Testamento. Alguns exemplos são: Is 63:16, 64:8; Jr 3:4)

2) CRER EM CRISTO O FILHO DE DEUS (Jo 3:16, 36, 5:24, 6:47; Rm 6:23, etc.).

3) CONHECER A OBRA CONSUMADA DE CRISTO NA CRUZ (Jo 3:14-15).

4) SER HABITADO PELO ESPÍRITO SANTO (Jo 4:14), que traz o crente em um relacionamento com o Pai e com o Filho. F. G. Patterson disse: "Nós temos a vida eterna em Cristo – Cristo vive em nós, e esta vida eterna nos leva à comunhão com o Pai e o Filho, o que não poderia acontecer até que o Pai fosse revelado n’Ele e o Espírito Santo ser dado, pelo Qual nós a apreciamos" (Words of Truth, vol. 3, pág. 178). A. C. Brown disse: "A vida eterna refere-se à vida de Deus desfrutada em comunhão com o Pai e o Filho por meio do Espírito Santo que habita em nós" (Eternal Life, pág. 4).

Assim, enquanto os santos do Antigo Testamento eram sem dúvida nascidos de novo (e assim tinham a vida divina), eles não poderiam ter tido vida eterna, simplesmente porque o Senhor Jesus ainda não tinha vindo para revelar o Pai, nem tinha sido revelado como o Filho de Deus, nem tinha consumado a redenção, nem havia subido ao alto para enviar o Espírito Santo. H. M. Hooke disse: "Fiquei muito impressionado ao examinar as Escrituras do Antigo Testamento e não encontrar uma única passagem mencionando um santo do Antigo Testamento que tivesse a vida eterna; ela não era conhecida" (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 230). Perguntaram para J. N. Darby: "Não tinham, os santos do Antigo Testamento, vida eterna?". Ele respondeu "Com relação aos santos do Antigo Testamento, a vida eterna não fazia parte da revelação do Antigo Testamento, mesmo supondo ainda que os santos do Antigo Testamento a tiveram" (Notes and Jottings, pág. 351) Ele também disse: "O conhecimento de Deus, mesmo do Pai e do Filho, o Espírito de filiação, a consciência de estar em Cristo e Cristo em nós, a comunhão com o Pai e o Filho, nada disto os santos do Antigo Testamento possuíam" (Collected Writings, vol. 10, pág. 26). F. G. Patterson disse: "Não se pode dizer que eles [os santos do Antigo Testamento] tiveram vida eterna. Ela só foi trazida à luz por meio do evangelho (2 Tm 1:10; Tt 1:2, etc.)" (Scriptures Notes and Queries, pág. 66).

Ensinar que os santos do Antigo Testamento tinham a vida eterna obscurece a distinção entre os dois Testamentos e as bênçãos e privilégios que distinguem a Igreja de Israel. É um erro da Teologia do Pacto, que vê Israel e a Igreja como um só povo com bênçãos iguais.

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Há dois aspectos da vida eterna em seu sentido Cristão. Ele não se refere apenas ao caráter da vida divina no crente como uma possessão presente (Jo 3:15-16, 36), mas também se refere a uma esfera de vida na qual o crente deve viver em comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Tm 6:12, 19). Usamos a palavra "vida" de forma semelhante ao descrever uma esfera na qual uma pessoa habita – por exemplo: "Vida no campo", "vida na cidade", etc. Neste sentido, a vida eterna é um ambiente de vida em que tudo é luz e amor, e onde a comunhão com o Pai e o Filho é tudo. Em virtude de o Espírito habitar em nós, podemos viver nessa esfera agora enquanto estamos aqui na Terra (Jo 4:14; 1 Jo 5:11-13). Assim, alguém adequadamente disse que a vida eterna é "uma condição de coisas fora deste mundo", na qual o crente vive pelo Espírito.

O apóstolo Paulo refere-se a esse aspecto da vida eterna como algo em que entraremos no futuro, quando formos recebidos no céu em nosso estado glorificado (Rm 2:7, 5:21, 6:22, 23; Gl 6:8; 1 Tm 1:16, 6:12, 19; Tt 1:2, 3:7). Isso não significa que não podemos desfrutar dessa vida agora. Podemos certamente apreciá-la agora pelo Espírito, mas então estaremos naquela vida em sua plenitude. Por outro lado, o apóstolo João fala da vida eterna no crente como uma possessão presente (Jo 3:15, etc.), embora também a mencione em seu sentido futuro (Jo 4:36, 12:25).

VIVIFICAÇÃO

Esta palavra significa "ser trazido à vida". Pode ser aplicado à alma (Jo 5:21, 6:63; Ef 2:1, 5; Cl 2:13) e também ao corpo humano (Rm 4:17, 8:11; 1 Tm 6:13), e até ao corpo do Senhor (1 Pe 3:18).

Quanto à alma, Deus trabalha sobre os eleitos em poder soberano para trazer pessoas espiritualmente mortas para a vida, transmitindo-lhes uma vida divina (Ef 2:1, 5a). Como resultado, quando uma pessoa é assim despertada, recebe as faculdades espirituais pelas quais é capaz de ouvir e entender as comunicações espirituais de Deus – ou seja, o Evangelho. Ao crer no evangelho e descansar por fé na obra consumada de Cristo, a alma "vivificada" é "salva" (Ef 2:5b, 8). Assim, a vivificação refere-se à mesma ação do Espírito como sendo "nascido de novo", mas visto de uma perspectiva diferente:

O novo nascimento vê a condição do homem como tendo uma natureza corrompida e, portanto, precisa de uma nova vida e uma nova natureza, que Deus transmite por Seu poder soberano.

Vivificação vê a condição do homem sob a perspectiva de estar morto e, assim, precisando de uma nova vida de Deus, que a vivificação transmite.

Sem que Deus trabalhe soberanamente desta maneira nas almas, ninguém creria no evangelho, porque antes de serem vivificados, os homens são espiritualmente inconscientes (sendo mortos) e, portanto, não têm capacidade de ouvir e responder ao chamado de Deus. (Veja: Novo Nascimento e Livre Arbítrio.) Quanto aos nossos corpos, Romanos 8:11 afirma que o corpo do crente será vivificado, e assim glorificado pelo Espírito Santo. Não nos diz quando isso acontecerá, mas sabemos por outras passagens que isso ocorrerá no Arrebatamento (1 Co 15:51-56; Fl 3:21).

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