Bruce Anstey

As Epístolas de Paulo aos TESSALONICENSES

O Cuidado com os Novos Convertidos e a Correção do Equívoco a Respeito dos Eventos Futuros

Bruce Anstey

AS EPÍSTOLAS DE PAULO AOS TESSALONICENSES

O Cuidado com os Novos Convertidos e a Correção do Equívoco a Respeito dos Eventos Futuros

Bruce Anstey

Originalmente publicado por:

CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING

12048 – 59th Ave.

Surrey, BC V3X 3L3

CANADÁ

Título do original em inglês: The Epistles of Paul to the Thessalonians

The Care of New Converts and the Correction of Misunderstandings Regarding Future Events

Primeira edição – outubro 2016

Versão 1.1

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.

atendimento@verdadesvivas.com.br

Primeira edição em português – Janeiro 2019

E-bookv.1.1

Abreviaturas utilizadas:

ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969

ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993

TB – Tradução Brasileira – 1917

ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994

AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967

JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby

KJV – Tradução inglesa King James

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.

A Primeira Epístola de Paulo

aos

TESSALONICENSES

O Ministério Relacionado ao

Cuidado com os Novos Convertidos

Bruce Anstey

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS

TESSALONICENSES
INTRODUÇÃO

O Objetivo da Epístola

O estabelecimento da assembleia em Tessalônica resultou dos trabalhos missionários de Paulo naquela região (At 17:1-9). (Tessalônica é cerca de 160 km de Filipos). O costume de Paulo era ficar na área onde pregou para estabelecer os novos crentes que haviam se convertido por meio do seu trabalho, mas nesta ocasião ele foi forçado a interromper sua obra e se retirou por conta das perseguições que surgiram naquela cidade contra o evangelho (At 17:10; 1 Ts 2:17). Parece que Paulo e seus cooperadores estiveram com eles por apenas “três sábados” – cerca de três semanas. Isso deixou esses novos convertidos precisando de ajuda espiritual e instrução.

Paulo tentou voltar para eles mais de uma vez, mas “Satanás o impediu” (cap. 2:18). Quando Paulo chegou a Atenas, ele enviou Timóteo de volta a Tessalônica para ministrar a eles (cap. 3:1-2). Quando Timóteo retornou, Paulo havia se mudado para Corinto e eles se encontraram lá (1 Ts 3:6; At 18:5). Ao se reencontrar com Paulo, Timóteo o informou sobre o estado espiritual e as necessidades dos tessalonicenses – indicando que ainda estavam em “falta” (cap. 3:10) quanto à fé Cristã, razão pela qual Paulo escreveu esta carta. Na época em que a escreveu (cerca de 52 d.C. [depois de Cristo]), fazia apenas alguns meses que eles haviam se convertido. Esta é a primeira epístola inspirada de Paulo.

Por isso, a assembleia tinha uma mistura de judeus e gentios que haviam crido. Atos 17:4 afirma que “alguns deles creram”. Como esta foi uma cena que ocorreu em “uma sinagoga” (At 17:1), certamente estes eram judeus. Mas então acrescenta: “e também uma grande multidão de gregos religiosos” e dos devotos gregos uma grande multidão. Esses gentios eram prosélitos da fé judaica, mas quando ouviram as boas novas de Deus pregadas por Paulo, creram no Senhor Jesus Cristo. Os crentes gentios formaram a maioria dos santos em Tessalônica. “Jasom” (At 17:6) e “Aristarco e Segundo” (At 20:4) foram alguns desses convertidos. Entretanto, por outro lado, apenas “alguns” dos judeus creram.

Um Guia para o Cuidado de Novos Convertidos

Sendo confrontados com a situação de ter que cuidar de novos convertidos, poderíamos nos perguntar que tipo de coisas deveriam ser trazidas às almas recém-nascidas para ajudá-las no caminho da fé. Acreditamos que a resposta é encontrada nesta epístola. Os comentários de Paulo aos tessalonicenses são direcionados para atender a essa necessidade e, como resultado, a epístola serve de guia para todos os que se importam com os novos crentes. W. Scott disse: “A epístola está principalmente ocupada com o desenvolvimento das primeiras e novas afeições nos santos recém-convertidos em Tessalônica” (Bible Handbook, New Testament, pág. 259).

A preocupação do apóstolo Paulo nesta carta é de que esses novos convertidos em Tessalônica continuassem seguindo o Senhor em sua recém-descoberta fé Cristã. Embora Timóteo tivesse sido enviado de volta à Tessalônica por Paulo com o propósito de ajudá-los na fé (cap. 3:2), era evidente que esse trabalho não estava completo (cap. 3:10). Paulo, portanto, não considera nada como certo ao escrever esta carta para eles. A epístola trata dos primeiros elementos que são necessários na vida Cristã, e nos oferece valiosas instruções sobre como devemos ensinar e cuidar de novos convertidos à fé. O tema de Paulo ao longo da epístola era encorajar os crentes tessalonicenses a seguir o Senhor em vista de Sua vinda novamente. As coisas que traz diante deles são as mesmas coisas que precisamos trazer diante de pessoas recém-salvas. A epístola, portanto, age como um guia para todos os que têm o cuidado de novos convertidos.

Enquanto a Igreja estiver na Terra e o evangelho da graça e glória de Deus for pregado, as pessoas serão salvas e haverá necessidade de cuidar dos novos crentes. Esta epístola, portanto, ocupa um lugar muito útil no cânon das Escrituras do Novo Testamento.

Ao olharmos para o conteúdo da epístola, não encontramos o apóstolo dando a esses novos convertidos a verdade concernente à posição do crente “em Cristo” e às grandes bênçãos que temos n’Ele, como ele faz em algumas de suas outras epístolas. Nem o encontramos revelando a verdade do “Mistério”, como ele faz em suas epístolas aos efésios e aos colossenses (Ef 1:8-10, 3:2-9, 5:32, Cl 1:25-28). Em vez disso, vemos Paulo abordando coisas que são mais elementares – coisas que os novos convertidos precisam antes de que qualquer verdadeira instrução doutrinária possa ser ministrada. Ele aborda as coisas que dizem respeito à sua caminhada prática com o Senhor. Os grandes princípios da fé são certamente necessários para “estabelecer” almas (Rm 16:25), mas antes disso o novo convertido precisa de alguma maneira ter sua vida ordenada moralmente, para que ele ande em comunhão com o Senhor, e assim esteja em um estado em que possa crescer espiritualmente. Uma vez que isso esteja em ordem na vida de uma pessoa, aquelas preciosas verdades podem ser adicionadas com proveito. Isso nos mostra que não produz muito resultado envolver o intelecto dos crentes com a verdade doutrinária quando suas vidas não estão em ordem.

Vemos esta ordem em Atos 11. Os irmãos em Jerusalém ouviram que havia alguns novos convertidos em Antioquia e, procurando ajudá-los, enviaram Barnabé – que era conhecido por ter uma linha de ministério prático e devocional – que, ao chegar lá, “exortou” a todos a que “permanecessem no Senhor” com “propósito do coração” (At 11:22-24). Então, depois de ter passado algum tempo trabalhando com eles nessa linha, Barnabé foi a Tarso para buscar Saulo (Paulo) e o levou a Antioquia, onde eles “ensinavam” aos santos a verdade (At 11:25).

Por isso, nesta epístola, Paulo se concentra nas coisas mais simples que têm a ver com a devoção do crente a Cristo e os padrões morais da vida Cristã. Ele é visto como uma “ama” e como um “pai” na fé em um papel pastoral nesta epístola (1 Ts 2:7, 11), ao invés de um mestre e um instrutor. Também é significativo que, ao procurar ser uma ajuda para esses novos convertidos, não lemos sobre Paulo lhes dar quaisquer programas de autoajuda, mas sim encorajamento básico, conselho e exortação.

O Triplo Interesse de Paulo Pelos Tessalonicenses

A preocupação de Paulo pelos tessalonicenses era tripla:

- Primeiramente, que suas vidas pessoais estivessem de acordo com a santidade de Deus, como demonstrado por ele mesmo e pelos outros que trabalharam com ele. - Em segundo lugar, que eles fossem capazes de resistir à feroz perseguição lançada contra eles pelos inimigos do evangelho. - Terceiro, que a vinda do Senhor em relação aos santos que partiram fosse mais bem entendida e que suas vidas seriam vividas em vista de sua iminência.

Nota: ao longo das duas epístolas aos tessalonicenses, o apóstolo evita censurar aqueles queridos crentes por seus mal-entendidos, mas pacientemente os instrui onde eles estavam em erro. Novos crentes tendem a ser sensíveis e facilmente ofendidos; eles precisam de muito elogio e encorajamento. E se a correção é necessária, isso deve ser feito com mansidão. A epístola, portanto, é cheia de consolo e encorajamento. Este é um modelo para nós.

A Vinda do Senhor - Duas Fases

É significativo que a vinda do Senhor seja mencionada no final de cada capítulo da primeira epístola e, assim, enfatize o tema principal da epístola. Paulo chamou a vinda do Senhor para os Seus santos (o arrebatamento) “a bendita esperança” (Tt 2:13). Esta esperança foi dada à Igreja, não apenas como uma questão de doutrina e fato, mas devido ao seu efeito prático. Não há nada tão santificante para a alma do que viver num sentido consciente da iminência de Sua vinda. Quando a proximidade dela se apodera da alma de uma pessoa, ela alterará o curso de sua vida. Ao mencionar a vinda do Senhor em cada capítulo, o apóstolo Paulo desejou manter a realidade disso diante de suas almas, porque sabia que isso produziria efeitos positivos e práticos em suas vidas.

No entanto, o inimigo procurou tirar essa verdade deles – ou pelo menos obscurecer suas mentes com ideias erradas sobre isso. Satanás certamente não quer ver esses efeitos positivos e práticos nos crentes, e ele faz horas extras para tirar a iminência da vinda do Senhor de nossa mente e nos afastar, ocupando-nos com as coisas terrenas à nossa volta. Os tessalonicenses haviam começado com essa expectativa da vinda do Senhor. Paulo menciona isso no capítulo 1:3, afirmando a “paciência da esperança”, juntamente com “obra da fé” e “trabalho do amor” como aquilo que deveria caracterizar o Cristianismo normal. Mas, de alguma forma, algo diminuíra aquela esperança brilhante diante de suas almas. Paulo alude a isso no capítulo 3:6, onde ele menciona duas coisas (“fé e amor”), mas não a esperança. Isso indica que eles perderam alguma coisa em conexão com a esperança, a qual não estava mais diante deles como estava no princípio, quando foram salvos. Por isso, Paulo procurou “completar [aperfeiçoar – JND] o que faltava” (TB) na fé deles instruindo-os mais perfeitamente quanto à esperança (1 Ts 3:10).

Duas Partes da Epístola

A epístola tem duas partes principais:

- Capítulos 1-3 – As observações e desejos pessoais de Paulo para os crentes tessalonicenses. - Capítulos 4-5 – As exortações práticas de Paulo aos crentes tessalonicenses.

A Progressão do Crescimento Espiritual na Epístola

Há uma progressão de crescimento que Paulo segue em seus comentários aos tessalonicenses:

- Capítulo 1 - Nascido de Deus e salvo. - Capítulo 2 – Carinho materno (v. 7) e cuidado paternal (v.11) - Capítulo 3 - Firmados no Senhor. - Capítulo 4 - Andando, trabalhando e esperando. - Capítulo 5 - Servindo uns aos outros.

PREOCUPAÇÕES DE PAULO

COM OS TESSALONICENSES
Capítulos 1-3

AS EVIDÊNCIAS DE UMA CONVERSÃO VERDADEIRA

Capítulo 1

Como mencionado na introdução, a epístola contém bem pouca doutrina, mas tem muitas exortações morais e práticas úteis pertinentes à vida Cristã normal. No entanto, é de se notar que Paulo não começa a epístola com essas exortações, mas afirmando suas preocupações pessoais por eles como uma recém-convertida companhia de crentes. Nos três primeiros capítulos, ele confirma seu amor para com eles e expressa seus desejos por eles de maneiras diferentes. O propósito deste longo preâmbulo era estabelecer firmemente nos corações e mentes destes novos crentes que ele verdadeiramente os amava e que estava interessado em seu bem-estar. Isso é essencial no trabalho Cristão. Se aqueles a quem procuramos ajudar, entenderem que estamos verdadeiramente interessados em seu bem-estar – e que não existe segunda intenção de nossa parte – eles estarão mais inclinados a receber o que temos a dizer. Isso significa que precisamos nos preocupar em ganhar a confiança daqueles a quem ministramos. Assim, desde o início do nosso trabalho com as pessoas, devemos ter um alto grau de transparência para que eles possam ver nossa sinceridade e entender as intenções de nosso ministério para com eles.

Ao ganhar a confiança daqueles a quem ministramos, devemos genuinamente nos esgotar a favor deles. Quando eles virem o sacrifício de nosso próprio tempo, dinheiro e energia por causa deles, estarão inclinados a acreditar que estamos sinceramente interessados neles. O apóstolo Paulo é um ótimo exemplo disso. Quando ele viveu entre os efésios por três anos, ele não cobiçava a prata, o ouro ou o vestido de ninguém, mas trabalhava com as mãos para suprir suas próprias necessidades e as dos que estavam com ele. Ele trabalhou para apoiar os fracos porque o próprio Senhor nos ensinou que é “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:33-35). Ganhar confiança geralmente leva tempo, mas ajudar pessoas em questões práticas funciona para abrir portas. Por exemplo, se tivermos as habilidades necessárias, poderemos ajudá-los a consertar algo em suas casas, etc. Paulo já tinha a confiança dos tessalonicenses, mas ele ainda reservou tempo nesses capítulos iniciais dessa epístola para alicerçar essa confiança e confirmar seu amor e cuidado por eles.

Um breve resumo das preocupações de Paulo para com esses novos convertidos nos capítulos 1 a 3 são os seguintes:

- Capítulo 1 – As evidências de sua conversão. - Capítulo 2 – A necessidade de líderes e modelos. - Capítulo 3 – A importância do ministério de “acompanhamento”.

A Saudação

Vs. 1-2 – Paulo não menciona seu apostolado em sua saudação em qualquer dessas epístolas aos tessalonicenses, como faz em muitas de suas outras epístolas. Ele não queria abordá-los de uma maneira oficial, como se estivesse dando uma comunicação autoritária de Deus, mas ao invés disso ele procurou falar com eles em um nível mais pessoal como um pastor e um conselheiro.

Ele inclui “Silvano e Timóteo” em sua saudação. Estas são formas gregas de seus nomes reais – Silas e Timóteo. Adotar esses nomes é uma evidência do fato de que quando esse grupo de obreiros Cristãos saiu ao mundo para espalhar o evangelho, era seu hábito adaptar-se o máximo possível à cultura daquelas terras estrangeiras para as quais eles iam – sem comprometer princípios de santidade, etc. Isto foi feito em um esforço para ganhá-los para o Senhor. Foi um princípio sobre o qual Paulo trabalhou em cada uma das suas jornadas missionárias. Ele disse: “E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus: para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo [mas legitimamente sujeito à Cristo – JND]), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns” (1 Co 9:20-22). Isso mostra o quão profundamente comprometidos esses trabalhadores foram para a causa de alcançar os gentios com o evangelho. Silas era um profeta (At 15:32) e Timóteo era instrutor (1 Tm 1:3, 4:6, 13).

Mencionar “Silvano e Timóteo” não significa que eles foram coautores da carta, mas que eles atestaram a veracidade dos comentários de Paulo à “igreja dos tessalonicenses”. Visto que a epístola foi dirigida a uma assembleia, todas as coisas devem ser feitas “por boca de duas ou três testemunhas” (2 Co 13:1; Jo 8:17). Portanto, era apropriado que outros nomes fossem incluídos.

A Paternidade de Deus e o Senhorio de Cristo

“Deus o Pai e o Senhor Jesus Cristo” (JND) são mencionados no início. Paulo queria que os tessalonicenses soubessem que estavam sob o cuidado atento dessas Pessoas divinas. Não só a salvação havia sido assegurada para eles por Deus Pai e pelo Senhor Jesus Cristo (1 Jo 4:14), mas eles também estavam intensamente interessados no progresso espiritual dos tessalonicenses. O apóstolo também expressou seu desejo de que “graça” e “paz” fossem dadas a eles para que isso fosse realizado.

É significativo que a paternidade de Deus e o Senhorio de Cristo sejam mencionados ao escrever a esses novos convertidos. Ocorrem várias vezes na epístola e não é por acaso. Paulo sabia que o conhecimento de Deus como nosso Pai e o reconhecimento de Jesus como nosso Senhor em um sentido prático são essenciais para o crescimento e desenvolvimento.

Conhecer Deus como nosso Pai é característica do Cristianismo (Jo 14:7-10; Rm 8:14-15; Gl 4:6) – até mesmo um bebê em Cristo conhece o Pai (1 Jo 2:13). É uma evidência de que uma pessoa tem “vida eterna” – que é uma bênção distintamente Cristã (Jo 17:3). O Velho Testamento fala de Deus como “Pai” (Isaías 63:16, 64:8; Jr 3:4), mas não da mesma maneira que os Cristãos O conhecem como Pai. Paulo desejou que esses queridos tessalonicenses aproveitassem totalmente esse novo relacionamento que agora tinham com Deus e olhassem para Ele como seu Pai para as várias necessidades que teriam no caminho da fé (Jo 16:23). A comunhão com Deus Pai é o solo fértil no qual as almas crescem em graça.

É também essencial que o Senhorio de Cristo seja reconhecido na vida de um crente para que haja progresso espiritual. Ter Jesus como nosso Salvador e tê-Lo como nosso Senhor não é o mesmo. O primeiro é crer n’Ele e no que Ele consumou na cruz para tirar nossos pecados. Somos assim salvos da pena de nossos pecados e nos tornamos aptos para o céu. O último tem a ver com o reconhecimento de Sua autoridade em nossas vidas na prática. A lógica envolvida no Senhorio de Cristo é que desde que Ele pagou um grande preço para nos redimir, realmente não somos mais de nós mesmos (1 Co 6:19-20). Agora pertencemos a Ele, e nossas vidas devem ser usadas para o Seu propósito. Sendo nosso Senhor, Ele tem o direito de dirigir nossas vidas em todas as coisas. O Senhorio está intimamente associado ao discipulado. É uma rendição que o crente faz por sua própria vontade – e ele deveria estar feliz em fazê-lo.

Muitos conhecem Jesus como seu Salvador, mas relativamente poucos O têm como seu Senhor. Podemos dizer que Ele é o nosso Senhor – e Ele certamente O é por título e por direito – mas nossas vidas tornarão evidente se Ele é nosso Senhor na prática. Ele disse: “por que Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc 6:46) No Cristianismo normal, essa entrega de nossas vidas ao Seu Senhorio deveria ocorrer no momento em que fomos salvos. As Escrituras apresentam a salvação e o Senhorio como sendo coisas que devem acompanhar a nossa recepção d’Ele em fé (At 16:31; Rm 10:9). Esse foi o caso de Saulo de Tarso – a conversão modelo (At 9:6; 1 Tm 1:16).

Este exercício sobre o Senhorio é importante porque se um crente restringir o direito do Senhor de dirigir sua própria vida depois de ser salvo – isto é, indo aonde ele quer ir e fazendo o que ele quer fazer – será um obstáculo ao seu crescimento e progresso nas coisas de Deus. É significativo, portanto, que Paulo enfatize o Senhorio de Cristo nesta epístola. Ele usa o título “Senhor” cerca de 25 vezes na primeira epístola e outras 22 vezes na segunda. De fato, o Seu título completo – “o Senhor Jesus Cristo” – é usado com mais frequência nas epístolas aos tessalonicenses do que em qualquer outro livro do Novo Testamento. Isso nos ensina que o obreiro Cristão deve enfatizar isso ao trabalhar com almas recém-salvas, porque é essencial para a vida Cristã.

V. 2 – Tendo saudado os tessalonicenses, Paulo lhes diz que ele e aqueles que trabalharam com ele estavam dando “graças” a Deus continuamente pelos santos tessalonicenses, e que eles estavam fazendo menção a eles em suas “orações”.

Os “Sinais Vitais” de Vida

Vs. 3-10 – O capítulo 1 está cheio de elogios para os crentes tessalonicenses. Todos os Cristãos precisam de encorajamento e, especialmente os novos convertidos. Um pastor, ou qualquer um que tenha o cuidado de novos convertidos em seu coração, deve manter isso em mente, e ser o mais animador possível quando o louvor é devido. Paulo, portanto, começa recomendando esses novos convertidos pelo que viu neles, que eram marcas evidentes da verdadeira conversão. Ele lista uma série de coisas que lhe deram a mais completa confiança de que foram verdadeiramente salvos.

A realidade da conversão é a primeira coisa que alguém que trabalha com novos convertidos precisa ter certeza. A grande questão que precisa ser resolvida no início de nossos trabalhos com um novo crente é: “Essa pessoa é verdadeiramente salva? Ele realmente ‘passou da morte para a vida?’” (Jo 5:24) Isso é importante porque um dos “estratagemas”1 (Ef 6:11 – tradução de W. Kelly) de maior sucesso de Satanás é introduzir os falsos crentes (aqueles que meramente professam fé em Cristo) entre aqueles que são verdadeiros crentes, numa tentativa de frustrar e corromper a obra de Deus.

Parece que sempre que há uma nova obra de Deus acontecendo, a tática de Satanás é semear “o joio no meio do trigo” (Mt 13:25). Este foi certamente o caso com os trabalhos dos apóstolos no livro de Atos. Satanás procurou interferir no trabalho de várias maneiras, usando crentes meramente professos. Havia “Simão” (At 8:13), “uma jovem, que tinha espírito de adivinhação” (At 16:16-18), e os “sete filhos de Ceva” (At 19:13-17), todos procuravam se juntar ao trabalho de alguma forma. Portanto, podemos ter certeza de que onde quer que haja uma obra de Deus acontecendo, o inimigo não estará longe. Obviamente, se um obreiro Cristão discerne que está lidando com um grupo misto de pessoas, ele precisará insistir na verdade do evangelho e na necessidade de fé pessoal em Cristo para a salvação.

Assim como há “sinais vitais” de vida que indicam que uma pessoa está viva fisicamente – batimento cardíaco, pressão sanguínea, etc. – há também “sinais vitais” que indicam que uma pessoa está viva espiritualmente. Neste primeiro capítulo, Paulo fala de vários desses sinais que ele viu nos tessalonicenses que indicavam que havia uma verdadeira obra de Deus em suas almas. Foi algo pelo qual agradeceu a Deus (v. 2). Ao fazer isso, o Espírito de Deus nos dá um esboço das coisas que devemos procurar nas almas que indicam que elas foram verdadeiramente salvas.

1)NO SENHOR JESUS

V. 3 – Paulo começa mencionando três virtudes Cristãs que ele viu nos tessalonicenses. São elas: , esperança e amor. Essas coisas, em maior ou menor proporção, estão ativas na vida de todo crente e evidenciam o fato de que ele é verdadeiramente salvo. Essas três virtudes são agrupadas em pelo menos dez lugares no Novo Testamento (1 Co 13:13; Gl 5:5-6; Ef 1:15-18, 4:2-5; Cl 1:4-5; 1 Ts 1:3, 5:8; Hb 6:9-12; 1 Pe 1:3-8, 21-22). Essas coisas não são apenas grandes provas da salvação de uma pessoa, mas também são essenciais para o crescimento espiritual e a prática da vida Cristã. Estas são as fontes que energizam a nova vida de um Cristão e fazem com que ele viva pelas coisas invisíveis e eternas as quais sua fé abraçou em Cristo. Elas também formam um sólido caráter Cristão que será expresso nas ações e caminhos do crente.

A primeira dessas três coisas é a “obra da fé**”**. Nota: Paulo não fala meramente da fé, mas da fé que se evidencia na **“obra”**. Isso é fé real. Isto é, a verdadeira fé produzirá evidências de sua existência na vida de uma pessoa. Paulo enfatiza isso porque existe a **“fé sem as obras”**, a qual Tiago diz que é **“morta”** (Tg 2:20). Paulo não estava sugerindo que as pessoas ganham sua salvação trabalhando para isso, mas sim que a fé na vida de uma pessoa comprova sua realidade pelas obras (At 9:36; Ef 2:10, etc.). Essas coisas não são feitas para que alguém se salve, mas resultam de uma pessoa que é salva.

2) AMOR PARA COM O SENHOR JESUS

V. 3b – A fé se manifesta por obras que demonstram que uma pessoa realmente tem fé – mas “amor” se manifesta em “trabalho”. Os Cristãos servem ao Senhor Jesus Cristo por amor. O trabalho deles para o Senhor é motivado por amor a Ele, não por dever legal. O amor pelo Senhor Jesus é produzido em nós pelo entendimento e meditação de Seu amor por nós – “Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19; 2 Co 5:14). Visto que os tessalonicenses eram marcados pelo “trabalho do amor**”** (ARF), era uma clara evidência de que eles realmente tinham com o Senhor Jesus um vívido relacionamento verdadeiro pela fé. Tal amor trabalhará incessantemente para agradar seu Objeto.

3) ESPERANÇA NA VINDA DO SENHOR JESUS

V. 3c – Os tessalonicenses também foram marcados por sua constante espera pela volta de Cristo. Essa é a “esperança” do Cristão. Nas Escrituras, a esperança não é usada da mesma maneira que no vernáculo comum da linguagem de hoje. Usamos a palavra em nossos dias para nos referirmos a algo que gostaríamos de ver acontecer, mas não temos garantia de que isso acontecerá. Na Bíblia, esperança é uma certeza adiada; tem expectativa com certeza relacionada a ela. Assim, temos a certeza de que o Senhor virá porque a Escritura nos diz que Ele virá novamente para nos receber a Si mesmo (Jo 14:2-3).

Paulo havia instruído os tessalonicenses quanto à vinda do Senhor, e havendo crido nisso, eles esperavam diariamente por Sua vinda novamente. Assim, a iminência da vinda do Senhor esteve intensamente diante de seus corações. A prova de isso ser uma coisa real com eles é evidenciada em sua “paciência [persistente constância – JND] da esperança**”**. Eles não tinham apenas esperança, eles tinham **“perseverança”** em sua esperança. Isso tem a ver com suportar as provações e perseguições no caminho da fé que vêm dos opositores do Cristianismo. Aqueles que não são verdadeiros não suportarão as dificuldades relacionadas com a vida Cristã e se afastarão. O Senhor deu um exemplo: **“é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende”** (Mt 13:20-21). Assim, a provação e a adversidade se manifestam onde uma pessoa realmente está em sua alma. O tempo trará isso à luz, pois é um grande testador da realidade.

O fato de esses queridos crentes terem suportado as tribulações e perseguições ligadas à sua esperança provou que eles eram verdadeiros. Eles não estavam esperando por uma melhora nas condições políticas do mundo, ou em alguma outra coisa que acontecesse entre os homens na Terra – a esperança deles era “em nosso Senhor Jesus Cristo” e ser tirados totalmente deste mundo em Sua vinda. Paulo acrescenta: “diante de nosso Deus e Pai”. Isso indica que ele podia ver que o propósito de Deus em salvá-los estava definitivamente sendo levado adiante sob o olhar atento do próprio Deus.

V. 4 – Tendo declarado estes três primeiros sinais de vida, Paulo conclui afirmando: “conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (AIBB). Essas coisas lhe deram a mais plena confiança de que eles eram verdadeiramente os eleitos de Deus.

Essas virtudes são ilustradas (tipicamente) em três dos fiéis seguidores de Davi:

- “Jônatas” exibiu “obra da fé” (1 Sm 13). - “Itai” exibiu o “trabalho do amor” (2 Sm 15:19-22). - “Mefibosete” exibiu a “paciência da esperança” (2 Sm 19:24-30).

A igreja em Éfeso foi caracterizada por ter “obras”, “trabalho” e “paciência” (Ap 2:1-7), mas não há menção de que eles tenham “fé”, “esperança” e “amor” que deveriam acompanhar essas coisas (Hb 6:9-12). Isso indica que eles estavam seguindo o caminho Cristão, fazendo todas as coisas externas que os Cristãos deveriam fazer, mas lhes faltava o ímpeto que impulsiona tal vida. Quando este é o caso, geralmente não é muito antes de a vida Cristã se tornar um dever e não um privilégio. Quando for esse o caso, haverá uma renúncia de princípios e práticas, e a decadência se instalará. É, portanto, absolutamente necessário manter nossa vida interior com o Senhor brilhando intensamente por meio da comunhão com Ele. Muitas vezes tem sido dito que não há substituto para a comunhão diária com o Senhor – a comunhão é a “corda salva-vidas” do crente. Se algo vier interromper essa comunhão (ou seja, pecado), Deus fez provisão para o crente restaurar sua comunhão por meio do julgamento próprio e confissão de seus pecados ao Pai (1 Jo 1:9). Isso é algo que definitivamente deveria ser enfatizado para novos convertidos. Sem isso, nossa vida Cristã irá rapidamente sair dos trilhos.

4) OBEDIÊNCIA À PALAVRA DE DEUS

Vs. 5-7 – Outra coisa que Paulo viu entre os crentes tessalonicenses foi sua obediência à Palavra de Deus. Este é um sinal revelador que indica se uma pessoa é verdadeira ou não. A Palavra foi pregada por Paulo e seus cooperadores no “poder” do “Espírito Santo” e com “muita certeza”, e os tessalonicenses nela creram e a receberam. Este não foi apenas um mero reconhecimento intelectual da verdade, mas uma experiência de mudança de vida para eles. Alterou o curso de suas vidas. Sua obediência foi evidenciada pelo fato de que eles se tornaram “imitadores” de Paulo e dos outros obreiros com ele – “e do Senhor” (v. 6). Pode parecer estranho que Paulo mencionasse que eles se tornaram seguidores de si mesmo e de seus cooperadores antes de mencionar que eram seguidores do Senhor. Normalmente, pensamos que seria o contrário. Mas Paulo simplesmente acrescentou a frase “e do Senhor”, para mostrar que o verdadeiro manancial de sua imitação era o próprio Senhor. Essa mudança na vida dos tessalonicenses foi tão completa que eles realmente se tornaram “exemplos [modelos – TB] do que os Cristãos deveriam ser. Os santos na Macedônia e na Acaia (norte e sul da Grécia) viram claramente a evidência de sua conversão (v. 7).

Como regra, se uma pessoa faz uma profissão de ter crido no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, mas não há disposição para alterar o curso de sua vida para seguir o Senhor em obediência à Palavra, é evidente que a vontade da pessoa não foi quebrada. Existe uma possibilidade muito real de que essa pessoa não seja verdadeiramente salva. Todo obreiro Cristão precisa estar ciente disso e proceder com cautela ao lidar com alguém que não manifesta esse “sinal vital” de vida divina. O Senhor disse: “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7:20).

5) GOZO DO ESPÍRITO SANTO

V. 6 – A obediência dos tessalonicenses à Palavra de Deus foi misturada com “gozo do Espírito Santo”. Este é outro sinal da realidade, porque a verdadeira felicidade sempre acompanha a verdadeira obediência (Pv 29:18; Jo 13:17). Embora houvesse “muita tribulação” na forma de perseguição contra eles por causa de sua obediência à fé, eles voluntariamente sofreram essas coisas por Cristo “com gozo”. A perseguição foi particularmente dos judeus incrédulos naquela região (1 Ts 2:14-15). Se alguém está disposto a sofrer por suas crenças, é evidente que ele está convencido delas e que é um verdadeiro crente.

6) DIVULGAÇÃO DO EVANGELHO

V. 8 – Os tessalonicenses não apenas creram no evangelho, mas também se tornaram mensageiros do mesmo. Paulo disse: “Porque por vós soou a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou”. Eles estavam tão convencidos daquelas coisas em que creram que queriam compartilhar as boas novas com os outros. Onde quer que eles fossem, por eles “fez-se ouvir – TB**”** o evangelho para os outros.

É interessante notar que não há menção aqui (ou em qualquer outro lugar no Novo Testamento) desses novos Cristãos sendo treinados em um seminário e ordenados antes de serem pregadores da “Palavra do Senhor”. Nem a Escritura fala de homens saindo para pregar sob o patrocínio e direção de um conselho missionário. Embora essas instituições que marcam o evangelismo de hoje tenham as melhores intenções, elas tendem a algemar o servo de Deus. (Se uma pessoa quer o apoio financeiro do conselho missionário, ele deve ir aonde o mandam e fazer o trabalho que eles lhe dão. Um conflito pode se desenvolver quando o servo sente que o Senhor está lhe dirigindo de outra maneira). A Escritura ensina que todo Cristão é um servo, e que cada servo deve olhar para o Senhor para ser guiado diretamente por Ele em sua obra pelo Espírito Santo, e nenhum homem ou instituição deve entrar no meio (At 13:1-4 “… os deixaram ir” (JND).

7) ARREPENDIMENTO E SEPARAÇÃO DO MAL

V. 9 – Tendo recebido Cristo e provado a bondade de seu relacionamento recém-encontrado com Ele, os tessalonicenses prontamente deram as costas para seu estilo de vida pré-conversão e seu envolvimento no pecado da idolatria. Paulo diz: “dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro. E esperar dos céus a Seu Filho”. Isso mostra que houve genuíno arrependimento com eles, e é outro sinal convincente de que a conversão deles a Deus era real. Isso deve acompanhar todas as conversões.

Por outro lado, se uma pessoa não abandonar seu estilo de vida pré-conversão e pecar depois de fazer uma profissão de fé em Cristo, isso mostra que não houve arrependimento verdadeiro com o indivíduo. Pode ser um sinal de que a fé da pessoa não seja verdadeira. O arrependimento não é salvação, mas não há salvação sem arrependimento. Essas duas coisas andam juntas, como Paulo indicou aos anciãos de Éfeso – “o arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21 – ARA; Lc 13:3, 5). A pregação moderna encoraja a fé em Cristo, mas geralmente não enfatiza o arrependimento. Isso ocorre porque o foco da pregação hoje visa obter tantas profissões de fé quanto possível, e arrependimento (que toca a consciência do homem e insiste em uma mudança na direção da vida de uma pessoa) é uma coisa impopular e indesejada para muitos. Assim, os pregadores modernos tendem a não enfatizar isso.

É digno de nota que Paulo não diz que lhes pediu para que se livrassem de seus ídolos; parece ser algo que eles fizeram por sua própria vontade. Sendo verdadeiramente nascidos de novo, e assim possuindo a vida divina, eles instintivamente sabiam que aquelas coisas eram inconsistentes com a adoração do “Deus vivo e verdadeiro”. Notem a ordem disso: eles se converteram para Deus dos ídolos. O gozo que eles tiveram na salvação de suas almas encheu seus corações de tal modo que desalojou qualquer desejo por um ídolo.

É altamente improvável que uma pessoa hoje nesses países esclarecidos se curve e adore uma imagem feita de madeira ou pedra, como os homens faziam nos tempos bíblicos. Mas a idolatria ainda está em todo o mundo – é apenas mais sofisticada e refinada hoje em dia. Em princípio, a idolatria é qualquer coisa que cative o interesse de alguém, a ponto de torná-lo um fervoroso devoto dela e isso passe a comandar cada vez mais sua atenção. Alguém que tenha permitido um ídolo em seu coração (Ez 14:3) geralmente será a última pessoa a perceber isso, porque um dos efeitos da idolatria é que o idólatra fica cego (Sl 115:4-8). Para um Cristão, a idolatria é qualquer coisa que venha entre nosso coração e o Senhor e dispute seu afeto. Os Cristãos precisam ter cuidado com isso. Por isso, o apóstolo João advertiu: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5:21).

V. 10 – Os tessalonicenses não só se converteram a Deus dos ídolos, mas saíram do seu caminho para “servir o Deus vivo e verdadeiro”. Eles se lançaram em propagar o evangelho e ministrar aos santos, etc. – embora fossem novos Cristãos em si mesmos! Eles tinham um novo foco e uma nova ocupação em suas vidas. Eles também tinham uma nova perspectiva e esperança – “esperar dos céus a Seu Filho”. Paulo havia ensinado a eles que o Senhor estava vindo para levá-los para o céu (o Arrebatamento), e eles viviam na iminência disso. Ele também lhes ensinou que o Senhor é nosso Libertador “da ira futura”, que é a apropriada esperança da Igreja. Por isso, eles (corretamente) aguardavam para ser tirados deste mundo no Arrebatamento antes que a ira de Deus caísse sobre ele (Rm 5:9).

Cada capítulo da epístola termina com uma referência à vinda do Senhor.

O Arrebatamento e a Revelação (Aparição) de Jesus Cristo

O capítulo 1:10 é a primeira menção da vinda do Senhor na epístola. Nenhuma epístola fala disso com mais frequência. As escrituras indicam que existem duas fases distintas para a vinda do Senhor. Se isso não for entendido, o crente certamente ficará confuso e ficará com ideias erradas sobre esse importante assunto. A principal diferença é:

- A primeira fase de Sua vinda tem a ver com o fato de o Senhor levar ao céu Seus santos em um estado glorificado. Isto envolverá ressuscitar os santos do Novo e do Velho Testamento dos mortos num estado glorificado, e transformar os santos vivos também nesse estado glorificado, e juntos então levá-los todos para o céu (Mt 25:6, 10-13; Jo 14:2-3; 1 Co 15:23, 51-56; Fp 3:20-21; 1 Ts 4:15-18; 2 Ts 2:1, 3:5; Tt 2:13a, 9:28, 10:37, 11:40; Ap 1:7, 3:10-11, 22:20). Isso tem sido chamado de Arrebatamento – uma palavra tirada do latim, que significa “ser tomado”. - A segunda fase tem a ver com o fato de o Senhor trazer do céu os santos glorificados com Ele quando aparecer para julgar o mundo com justiça e estabelecer Seu reino milenar (Mt 24:27, 30, 36-41, 25:31, 26:64; 1 Ts 3:13, 4:14; 2 Ts 1:7-10, 2:8-9; Jd 14-15; Ap 11:15, 14:14-16, 16:15, 19:10-21). Isso é chamado de “a revelação de Jesus Cristo” (2 Ts 1:7 (JND); 1 Pe 1:13) ou “o aparecimento” (2 Ts 2:8 (JND); Mt 24:30; Cl 3:4 (KJV); Tt 2:13; 2 Tm 4:1 (JND), 8 (JND); 1 Jo 3:2) (KJV).

Os santos do Velho Testamento sabiam sobre a Revelação – a Aparição (Is 30:27-28; Jd 14-15; Zc 14:5), mas eles não sabiam sobre o Arrebatamento e a glorificação dos santos – o que é uma revelação exclusiva do Novo Testamento (1 Co 15:51-56; Fp 3:20-21; 1 Ts 4:15-18). Embora o Senhor venha do céu nas duas ocasiões, o Arrebatamento e a Revelação de Jesus Cristo ocorrerão em momentos diferentes. Algumas das outras diferenças são:

- O Arrebatamento ocorrerá quando o Senhor vier por Seus santos (Jo 14:2-3); a Aparição de Cristo ocorrerá quando Ele vier com Seus santos que foram levados ao céu no Arrebatamento (1 Ts 3:13, 4:14; Jd 14; Zc 14:5). - O Arrebatamento ocorrerá antes do início do período de sete anos da tribulação (Ap 3:10), e a Aparição de Cristo ocorrerá “Logo depois da tribulação” (Mt 24:29-30 – TB). - O Arrebatamento pode acontecer a qualquer momento (Mt 25:13), mas a Aparição de Cristo não ocorrerá até pelo menos sete anos após o Arrebatamento (Cl 3:4). - No Arrebatamento, o Senhor virá secretamente, “num piscar de olhos” (1 Co 15:52 – JND); na Sua Aparição, Ele virá publicamente, “e todo olho o verá” (Ap 1:7). - No Arrebatamento, Ele virá para libertar a Igreja (1 Ts 1:10); na Sua Aparição, Ele virá libertar Israel (Sl 6:1-4). A Igreja será libertada de entrar na tribulação (Ap 3:10), enquanto os judeus irão passar por ela, mas serão libertados dela no final, quando o Senhor puser um fim na tribulação. - No Arrebatamento, Ele virá nos ares por Sua Igreja porque é Seu povo celestial (1 Ts 4:15-18); Na Sua Aparição, Ele voltará para a Terra (o Monte das Oliveiras) para Israel, porque eles são o Seu povo terreno (Zc 14:4-5). - No Arrebatamento, Ele tirará os crentes deste mundo e deixará os ímpios para trás (Jo 14:2-3); Na Sua Aparição, os ímpios serão tirados do reino dos céus para julgamento, e os crentes (aqueles que foram convertidos por meio do evangelho do reino que será pregado durante a tribulação) serão deixados para desfrutar da bênção na Terra. (Mt 13:41-43, 25:41). - No Arrebatamento, Ele virá para liberar Seus santos (a Igreja) da “ira” que virá (1 Ts 1:10); Na Sua Aparição, Ele virá para liberar a “ira” (Ap 19:15). - No Arrebatamento, o Senhor virá como “o Noivo” (Mt 25:10), mas na Aparição Ele virá como “o Filho do Homem” (Mt 24:30, 37, 39, 44, etc.). - No Arrebatamento, Ele virá como a “Estrela da Manhã”, que surge um pouco antes do amanhecer (Ap 22:16); Na Sua Aparição, Ele virá como o “Sol da Justiça”, que é o alvorecer (Ml 4:2). - No Arrebatamento, Ele virá sem sinais, porque o Cristão anda pela fé e não por vista (2 Co 5:7); na Aparição, Sua vinda será cercada por sinais, porque os judeus buscam um sinal (Lc 21:11, 25-27; 1 Co 1:22).

A Teologia Reformada vê o Arrebatamento e a Revelação (Aparição) como um mesmo evento, e este ensinamento trouxe à profissão Cristã nada além de confusão em relação a Israel e à Igreja. Esses dois eventos não poderiam acontecer ao mesmo tempo, porque há várias coisas que as Escrituras indicam que ocorrem entre eles e que tornam isso inviável. Por exemplo, quando o Senhor vier e nos chamar para fora da Terra, Ele nos levará para a “casa do Pai” e nos introduzirá formalmente àquela cena celestial (Jo 14:2-3). Logo depois disso, ocorrerá a revisão do “tribunal de Cristo” (2 Co 5:10). Depois, haverá um tempo de adoração “ao redor do trono” no céu (Ap 4-5). Então, após isso, haverá “as bodas do Cordeiro” e “a ceia” que a segue (Ap 19:6-10). E somente depois de estas coisas terem ocorrido é que o Senhor sai do céu conosco na Sua Aparição (Ap 19:11-21). Se você juntar o Arrebatamento e a Aparição e torná-los um só evento, não deixa espaço para que essas coisas aconteçam.

Outro equívoco comum que os Cristãos têm sobre a vinda do Senhor é que eles pensam que Ele vem como um “ladrão na noite” no Arrebatamento. No entanto, uma revisão cuidadosa das Escrituras mostrará que cada vez que o termo ocorre, é em conexão com a Sua Aparição (Mt 24:43-44; Lc 12:39-40; 1 Ts 5:2; 2 Pe 3:10; Ap 3:5, 16:15). No Arrebatamento, o Senhor virá para chamar a Igreja, que é Sua noiva (1 Ts 4:15-18, etc.). Ele vem nesse tempo como “o Noivo” (Mt 25:6-10) – não como um “Ladrão”. Vir como Ladrão não é maneira de alguém tomar sua noiva! Além disso, as passagens relacionadas com a vinda do Senhor como Ladrão falam de Ele executando o julgamento do mundo. Isso prova que se refere à Revelação (Aparição) e não ao Arrebatamento porque no Arrebatamento não há julgamento executado no mundo; é uma silenciosa tomada dos crentes da Terra.

Por exemplo, Mt 24:43-44 correlaciona a vinda do Senhor como um Ladrão com Ele vindo como “o Filho do Homem” – que é o modo como Ele é apresentado nas Escrituras quando age em julgamento (Dn 7:13; Jo 5:27; Ap 1:13-16). Ele nunca é mencionado como o Filho do Homem em conexão com a Igreja. Esse título nem é usado nas epístolas onde a Igreja é dirigida e instruída. (Hb 2:6 é uma citação do Velho Testamento.) 1 Tessalonicenses 5:2 afirma que a vinda de Cristo como Ladrão é quando Ele trará “repentina destruição” (cap. 5:3) sobre o mundo dos incrédulos. 2 Pedro 3:7-10 conecta Sua vinda como um Ladrão com “o dia do juízo”. Apocalipse 16:15-16 diz que quando o Senhor vier como um Ladrão, será para julgar os exércitos que se reunirão no “Armagedom”. Além disso, a parábola de Lucas 12:36-39 indica que a vinda do Senhor como Ladrão é depois que “as bodas” aconteceram! Não poderia estar se referindo ao Arrebatamento, porque então a Igreja teria perdido seu casamento!

A NECESSIDADE DE LÍDERES E DE EXEMPLOS

Capítulo 2

No capítulo 1, tivemos a necessidade de o obreiro Cristão ter certeza de que o novo convertido, a quem ele busca ajudar, é realmente um verdadeiro crente. Agora, no capítulo 2, temos a necessidade de o novo convertido ter certeza de que o obreiro Cristão que se aproxima dele é genuíno. E não apenas que o obreiro Cristão é sincero em seus motivos, mas que ele é um que conhece a verdade e pode orientá-lo na direção certa. Isso é importante porque há muitos que têm boas intenções, mas, infelizmente, estão abrigados na má doutrina e na eclesiologia não bíblica e, portanto, tendem a levar o novo convertido a uma direção errada. Há também outros pregadores na profissão Cristã que são claramente impostores que estão à caça dos novos convertidos por razões egoístas e carnais (At 20:30; Rm 16:17-18; 2 Co 2:17, 11:12-15; 2 Tm 2:16-18; 1 Jo 2:18-19, 26; 2 Jo 7-11). Obviamente, o novo crente precisa ficar longe de tais pessoas.

Como esses perigos estão presentes em quase toda parte da Cristandade, uma pergunta justa a se fazer é: “Como pode um novo crente ter certeza de que o obreiro Cristão que se interessa por ele é legítimo?” Paulo aborda essa questão neste segundo capítulo, onde o obreiro Cristão é visto dando prova de si mesmo. Ele deve mostrar claramente a partir da Palavra de Deus que ele está trazendo a verdade e também deve demonstrar claramente que tem um cuidado genuíno e preocupação com o bem daqueles que procura ajudar – e, por meio destas coisas, ganham sua confiança. Isso levará tempo. Já que até mesmo o mais novo crente tem a “unção” do Espírito pela habitação interior do Espírito (1 Jo 2:20, 27), ele terá o discernimento para saber (se estiver em comunhão) se algo que lhe esteja sendo ensinado é a verdade ou não. Sendo um bebê em Cristo, ele não será capaz de explicar a verdade porque ainda não a aprendeu, mas discernirá a verdade quando ela lhe for apresentada. Por outro lado, o erro não terá o mesmo “ressoar” da verdade em si mesmo, pelo qual saberá que isso não vem de Deus. Um novo Cristão no Cristianismo hoje, onde a casa de Deus está em ruínas (2 Tm 2:20), tem todo o direito de ser cauteloso ao receber instruções de alguém.

As observações de Paulo no capítulo 2 são calculadas para fortalecer a confiança dos tessalonicenses e dar-lhes todas as razões para estar seguros de que ele e seus companheiros de trabalho foram verdadeiramente enviados por Deus para ajudá-los. Eles definitivamente não estavam buscando os tessalonicenses por razões ocultas, e assim poderiam ser vistos com confiança como sendo genuínos líderes Cristãos e modelos de comportamento.

As circunstâncias que levaram Paulo a fazer os seguintes comentários à autenticidade de seu caráter e dos princípios envolvidos em seu serviço para o Senhor, foram porque os inimigos do evangelho estavam decididos a destruir o trabalho que ele havia iniciado em Tessalônica. A estratégia deles era difamar o caráter do principal operador dessa obra. Assim, eles fizeram de Paulo o objeto de suas acusações. Essa oposição ao evangelho aparentemente havia sido relatada a Paulo por Timóteo quando ele retornou de Tessalônica (cap. 3:6). O ataque, obviamente, pretendia abalar a confiança desses novos convertidos em Tessalônica e fazer surgir perguntas entre eles concernentes a Paulo. Neste segundo capítulo, ele refuta isso, e o que se segue é uma longa defesa de seu caráter e ministério. Ao fazê-lo, ele nos dá uma imagem apurada do que um genuíno servo do Senhor deveria ser – tanto em palavras quanto em ações. O Espírito de Deus o usa para colocar diante de nós o que um novo convertido deve ver naqueles que buscam pastoreá-lo no caminho da fé.

Paulo passa a dar um esboço de suas ações desde sua primeira “entrada” entre eles.

O PODER DO SEU MINISTÉRIO

V. 1 – Ele diz: “Porque vós mesmos, irmãos, bem sabeis que a nossa entrada para convosco não foi vã”. Isto é, a missão de Paulo e sua companhia de alcançar os tessalonicenses com o evangelho não foi um fracasso. O poder de Deus era evidente em seu ministério e a prova disso era que os tessalonicenses haviam sido salvos por ele! Mudanças radicais profundas aconteceram em suas vidas por meio da pregação de Paulo, e assim, elas eram a evidência viva de seu poder. Se alguém perguntasse sobre seu ministério, eles, melhor que ninguém, poderiam testemunhar sua realidade e eficácia. Esta foi uma prova convincente de que ele e seus companheiros haviam sido enviados e aprovados por Deus.

O PREÇO QUE PAULO PAGOU PARA LEVAR O EVANGELHO AOS TESSALONICENSES

V. 2 – Paulo relembra-os da intensa perseguição que veio contra ele e seus companheiros de trabalho quando estavam “em Filipos” – o que incluía ser espancado e aprisionado. Assim, sua missão de alcançar os tessalonicenses era extremamente perigosa. Suas vidas estavam em perigo constante (At 15:26), mas isso não os deteve. Eles lutaram contra vários perigos para levar o evangelho à Tessalônica.

Arriscar-se dessa maneira definitivamente não é sinal de um falso ministro com segundas intenções. Todos os falsos geralmente procuram por algo mais cômodo e fácil. Se Paulo e seus obreiros não tivessem sido enviados por Deus nesta missão, certamente teriam encontrado outro lugar para pregar. O fato de que isso não os deteve é uma evidência clara de que eles não foram motivados por desejos carnais ou ganhos mundanos; e assim, a missão deles era verdadeiramente de Deus.

A PUREZA DE SEUS MOTIVOS

Vs. 3-6 – Paulo continua falando sobre a maneira pela qual ele e seus companheiros se aproximaram dos tessalonicenses. Ele lista sete coisas negativas que eles evitaram em seu ministério:

- “Não provém de erro” (v. 3a – TB) – Em primeiro lugar, a mensagem deles era a verdade de Deus; não foi algum mito ou fábula fabricado por homens espertos. Isso mostra que eles prestaram atenção à exatidão doutrinária. - “Nem com imundícia” (v. 3b) – O ministério deles não tinha desejos impuros ligados a ele. - “Nem com fraudulência” (v. 3c) – Eles não tinham um plano engenhoso para atrair os tessalonicenses após si, e criar, assim, seguidores pessoais. - “Não como para agradar aos homens” (v. 4) – Paulo viu a si mesmo como um mordomo “aprovado de Deus” e “confiado” por Deus para levar a mensagem do evangelho ao mundo (1 Co 9:17). Tendo tal responsabilidade, ele não se atreveu em procurar segundas intenções em seus trabalhos. Ele sabia que ele servia sob o olhar atento de “Deus que prova os … corações” de todos os homens, e qualquer motivo falso seria detectado por Sua onisciência (1 Sm 2:3), e ele seria repreendido por isso. - Não com “palavras lisonjeiras [de bajulação – ARA] (v. 5a) – Sua pregação entre os tessalonicenses não usou elogios para obter resultados. Não se destinava a ministrar ao ego do homem para conquistá-los por meios carnais. O evangelho que Paulo pregou não é o tipo de mensagem que o homem na carne inventaria porque não faz nada do homem. Crer e receber o evangelho requer humilhar-se em arrependimento; é tudo menos elogioso. - “Nem houve um pretexto de avareza [ganância – ARA] (v. 5b) – Eles não pregaram com o objetivo de ganhar algo deles para si mesmos – isto é, dinheiro. Paulo foi tão sincero sobre isso que ele clamou a “Deus” por “Testemunha” da integridade de seu coração neste assunto. Assim, eles se abstiveram de tomar qualquer apoio financeiro deles, embora como “apóstolos de Cristo” eles estivessem perfeitamente autorizados a isso (1 Co 9:12; 1Tm 5:18). - Não buscando “glória dos homens” (v. 6) – Eles estavam tão longe de querer “glória dos homens” que se abstiveram de qualquer coisa que tivesse esse traço de caráter. Não buscaram fama nem fortuna dos tessalonicenses.

Assim, Paulo e seus companheiros de trabalho cuidadosamente evitaram princípios carnais e mundanos em seu serviço. Deus não teria abençoado seu trabalho se seus motivos tivessem sido corruptos.

SEU AMOR GENUÍNO E CUIDADO COM OS SANTOS

Vs. 7-8 – Como outra prova da autenticidade deles, Paulo fala de seu amor pelos tessalonicenses. Isso ficou evidente na medida em que eles se dedicavam aos seus cuidados e eram “brandos [gentis – JND] com eles como “a ama que cria seus filhos”. Cheios de “tanta afeição” ansiavam por esses jovens convertidos. Isso foi mostrado no fato de que eles não somente transmitiram a verdade do “evangelho de Deus” a eles para que pudessem ser salvos, mas também lhes deram “suas próprias vidas” porque esses santos eram “muito queridos [amados – ARA] para eles. Isso tinha a ver com o cuidado e a atenção que deram aos tessalonicenses depois de estes serem salvos.

A INTEGRIDADE DE SUA CONDUTA

Vs. 9-10 – Paulo pede que eles se lembrem como ele e seus companheiros de trabalho se conduziram entre eles. Trabalhavam “noite e dia” com suas próprias mãos (Paulo tinha um negócio de fabricação de tendas – At 18:3) para se sustentarem de modo que não fossem “pesados” financeiramente a eles. Os tessalonicenses eram testemunhas de “quão santa, e justa, e irrepreensivelmente” suas vidas foram entre eles. Isso mostra que o que somos fala mais alto do que qualquer coisa que dizemos. O ministro Cristão deve ter o cuidado de se comportar adequadamente em todos os negócios que tem com os homens.

O CARÁTER DO SEU MINISTÉRIO

Vs. 11-12 – Paulo não apenas cuidou deles “afetuosamente” como uma mãe (vs. 7-8), mas ele também “como um pai a seus próprios filhos, como exortamos cada um de vós e confortamos e testemunhamos” (JND). Esse lado de seu ministério tinha a ver com o treinamento, instrução e orientação desses novos convertidos em seus primeiros passos no caminho Cristão. É significativo que ele diga “cada um de vós”. Isso mostra que uma grande parte do ministério para novos crentes deve ser feita individualmente. Um assunto dirigido a uma companhia de Cristãos reunidos juntamente é bom (At 20:7), mas as pessoas são todas diferentes e precisam de atenção individual para suas necessidades específicas. O ministério de Paulo como pai era tudo em vista de fazer com que seus convertidos andassem “dignamente para com Deus”. Eles precisavam perceber que tinham sido “chamados” por Deus para um propósito muito elevado – serem vasos nos quais a glória de Cristo será exibida no “reino”.

SUA APRESENTAÇÃO DA MENSAGEM

V. 13 – Paulo estava agradecido que quando os tessalonicenses ouviram sua pregação, eles puderam ver que não eram meramente as palavras de sabedoria humana, mas que era uma mensagem que vinha de Deus – e, portanto, foi recebida como “a Palavra de Deus”. Isso resultou, em parte, da forma de apresentação que os servos do Senhor usavam em suas pregações e, em parte, por causa da fé dos tessalonicenses. Paulo e aqueles que trabalharam com ele mantiveram-se fora da cena para que os ouvintes vissem a Cristo e não aos pregadores. Este é um princípio importante no ministério. De acordo com isso, Paulo disse aos coríntios: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus” (2 Co 4:5). Se os missionários estivessem interessados em tirar vantagem da situação para si mesmos, isso teria se manifestado na maneira de sua apresentação. Aqueles que têm motivos impuros em seu serviço, geralmente, o tornam conhecido no modo como ministram, muitas vezes sem o perceber. Não fazer nada de si era um sinal claro de que esses missionários não tinham tais projetos. Paulo não estava se parabenizando por fazer um bom trabalho na pregação, mas sim mostrando sua integridade ao apresentar a verdade. Como resultado, a Palavra de Deus operou nos tessalonicenses “eficazmente” (ARA) e eles se tornaram “imitadores das igrejas de Deus na Judéia” (v. 14a – TB). Esta foi outra prova de que os missionários eram genuínos e que haviam sido enviados por Deus.

SEU MINISTÉRIO INSPIROU CORAGEM NAQUELES QUE O RECEBERAM

Vs. 14-16 – Além disso, o ministério de Paulo e seus companheiros era tal que inspirou coragem nos tessalonicenses, a ponto de estarem dispostos a sofrer por aquilo em que acreditavam. E, desta maneira, eles se tornaram “imitadores das igrejas de Deus na Judéia”, que estavam sofrendo da mesma forma por sua fé em Cristo. Ao afirmar isso, Paulo estava indicando que a perseguição é a porção comum de todos no Cristianismo. Não foi dirigida apenas para os portadores da mensagem (v. 2), mas também para os que crescem nela (v. 14). Essa perseguição veio principalmente dos judeus incrédulos. Eles não receberam a verdade, e fizeram tudo o que podiam para impedir que outros a recebessem. Paulo diz que o grande pecado desses opositores foi que eles “mataram o Senhor Jesus e os Seus próprios profetas, e nos têm perseguido”. E como Ismael (que é um tipo de Israel segundo a carne), eles são “contrários a todos os homens” (Gn 16:12).

Paulo disse que os judeus incrédulos estavam enchendo “a medida de seus pecados” resistindo à verdade, e a ira de Deus “caiu sobre eles até ao fim”. Essa era uma referência à cegueira governamental que varreu a nação em resposta à oração do Senhor na cruz (Sl 69:23; Mt 13:14-15; At 13:11; Rm 11:10, 25; 2 Co 3:14-16). Um julgamento adicional de Deus viria sobre eles em 70 d.C. na destruição literal da cidade de Jerusalém e do povo (Sl 69:24-25; Mt 22:7).

SATANÁS ESTAVA TRABALHANDO PARA IMPEDI-LOS

Vs. 17-18 – Paulo diz: “Nós, irmãos, tendo sido privados de vós e separados por um breve momento em pessoa, não em coração…” (A palavra “privado” é literalmente “órfão de” no grego, conforme nota de rodapé da Tradução JND)2 Esta é uma referência a Paulo e Silas sendo expulsos de Tessalônica (At 17:10). Ele explica aqui que a ausência deles havia sido maior do que a prevista, mas assegurou-lhes que seu insucesso em voltar à Tessalônica não se devia à falta de amor por eles. De fato, ele tentou “uma vez e outra vez” retornar a Tessalônica, mas “Satanás o impediu”. Isso é significativo na linha de pensamentos de Paulo neste capítulo. Ele traz isso como mais uma prova de que ele e seus companheiros foram verdadeiramente enviados por Deus. Se eles estivessem realmente fazendo o trabalho de Satanás, do qual eles eram acusados, Satanás não os teria impedido. Satanás os teria ajudado a voltar à Tessalônica para enganar ainda mais os tessalonicenses! Mas como Satanás estava tentando impedir Paulo, isto deveria ter sido um sinal claro para os tessalonicenses de que Paulo estava fazendo a obra de Deus, porque Satanás é sempre contra o que Deus está fazendo.

O DIVINO RESULTADO DO SEU MINISTÉRIO – RECOMPENSA NO CÉU

Vs. 19-20 – Paulo não foi desencorajado pelo trabalho do inimigo. Apesar das oposições de Satanás, sua “esperança”, “gozo” e “coroa de glória [regozijo – KJV] era ver seus convertidos “diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda”. Ele ansiava por encontrar seus convertidos e amigos na vinda do Senhor (Arrebatamento). A coroa de regozijo é apenas uma das várias coroas que serão dadas aos crentes no tribunal de Cristo por várias razões e serviços.

- Uma coroa “de ouro” (Ap 4:4) – Esta é uma coroa que todo filho de Deus receberá por crer no evangelho. - Uma coroa “da vida” (Tg 1:12; Ap 2:10) – Esta é a coroa dos mártires. - Uma coroa “de regozijo” (1 Ts 2:19 – KJV) – Esta é a coroa do ganhador de almas. - Uma coroa “de justiça” (2 Tm 4:8) – Esta coroa é dada àqueles que seguem fielmente em meio à injustiça nas ruínas da profissão Cristã. - Uma coroa “de glória” (1 Pe 5:4) – Esta é a coroa do pastor. - Uma coroa “incorruptível” é para aqueles que mantêm seus corpos sob sujeição (1 Co 9:25). - A coroa do “vencedor” é para aqueles que na fidelidade se elevam acima das circunstâncias adversas em que foram colocados (Ap 3:11).

Assim, a obra do Senhor, feita à maneira do Senhor, sob a orientação do Senhor, será recompensada por Ele naquele dia. Paulo estava confiante de que este era o objetivo final para o qual ele estava seguindo em relação ao seu serviço. Ansiava por ver os crentes tessalonicenses e, se não na Terra, no céu. Nossos convertidos e as lições espirituais que aprendemos na escola de Deus são realmente as únicas coisas que podemos levar para o céu conosco! Tudo o mais que é material “se guardam para o fogo” (2 Pe 3:7).

Algumas pessoas estranhamente acham que não nos reconheceremos quando formos glorificados, mas se isso fosse verdade, as palavras de Paulo aqui seriam sem sentido. Todos os santos se conhecerão naquele dia (1 Co 13:12), assim como os discípulos reconheceram Moisés e Elias no monte da transfiguração (Lc 9:30).

A NECESSIDADE DE TRABALHO DE ACOMPANHAMENTO

Capítulo 3

Neste capítulo, Paulo aborda outra coisa que é importante no trabalho com os novos convertidos – a necessidade de acompanhá-los com o ensino e a exortação a respeito da revelação Cristã da verdade e da prática Cristã (andar). Isso mostra que os novos crentes precisam de atenção diligente depois de serem salvos. Com isto em mente, era costume de Paulo e seus cooperadores terem alguns dos obreiros ficando para trás com os novos crentes, ou retornar a eles mais tarde para ajudá-los dessa maneira. Alguns exemplos do livro dos Atos são:

- LISTRA, ICÔNIO e ANTIOQUIA (na Pisídia) – Paulo e Barnabé retornaram para estabelecer os novos crentes na fé (At 14:21-23). - SÍRIA e CILÍCIA – Paulo e Silas voltaram para fortalecer os novos convertidos naquelas áreas (At 15:40-41). - FILIPOS – Lucas ficou para trás para fortalecer e encorajar os novos convertidos. Isso é indicado pela conjugação do verbo na terceira pessoa do plural “(eles) chegaram” e não “(nós) chegamos” (At 17:1). Lucas escreveu o livro dos Atos; quando ele acompanhava Paulo, ele dizia “nós”, e quando não o acompanhava, ele dizia “eles”. (Lucas juntou-se ao grupo missionário em Trôade e foi com eles para a Macedônia e à cidade de Filipos – At 16:10). - TESSALÔNICA – Ninguém ficou para trás a princípio porque a perseguição era tão intensa (At 17:10), mas depois Timóteo foi enviado de volta de Atenas para estabelecer e encorajá-los (1 Ts 3:1-2). - BEREIA – Silas e Timóteo permaneceram ali para ajudá-los na fé (At 17:14) e depois seguiram para Atenas, ao chamado de Paulo (At 17:15). (Sabemos que eles chegaram a Atenas porque Timóteo foi enviado de Atenas de volta a Tessalônica por Paulo e Silas – 1 Ts 3:2). - ATENAS – Como Silas não é mencionado acompanhando Paulo de Atenas a Corinto (At 18:1), entendemos que ele permaneceu em Atenas e pastoreou os poucos que haviam crido naquela cidade (At 17:34), e depois entrou na Macedônia. (Silas e Timóteo então foram juntos a Corinto para se unir a Paulo – At 18:5; 2 Co 11:9). - CORINTO – Silas e Timóteo ficaram para trás em Corinto quando Paulo partiu com Áquila e Priscila (At 18:18). Apolo também foi lá mais tarde (At 18:27-28). - ÉFESO – Áquila e Priscila foram deixados em Éfeso quando Paulo foi a Jerusalém (At 18:19-28). Mais tarde, Paulo rogou que Timóteo permanecesse lá quando ele fosse à Macedônia (1 Tm 1:3).

O Propósito do Trabalho de Acompanhamento

Vs. 1-5 – Tendo essa preocupação por seus convertidos em Tessalônica, Paulo e Silas (**“**nós enviamos”) acharam bom enviar Timóteo de volta a Tessalônica, desde Atenas, para “estabelecer” (KJV) e “encorajar” (JND) a eles.

- Estabelecer os santos (v. 2a) é fundamentá-los na doutrina do “evangelho” de Paulo e “na revelação do Mistério” (Rm 16:25). - Encorajar os santos (v. 2b) é aquecer seus corações e encorajá-los em questões práticas da vida Cristã.

A primeira coisa é doutrinal e a segunda é prática. Essas coisas sempre andam juntas nas Escrituras. De fato, toda doutrina na Escritura do Novo Testamento deveria ter um efeito prático na vida Cristã. Elas podem ser consideradas separadamente com o objetivo do aprendizado, mas no final, elas não podem ser separadas uma da outra, caso contrário o crente se tornará instável.

Uma carta, como esta epístola, seria uma grande ajuda para os tessalonicenses, mas eles realmente precisavam de alguém para estar com eles face a face para ministrar a eles. O envio de Timóteo aos tessalonicenses, de fato, mostra que não há nada que possa substituir visitas pessoais entre os santos. Para enviar uma carta, fazer um telefonema, dar um livro de ministério ou uma gravação de áudio, tudo é bom e útil, mas os novos convertidos precisam do tipo presencial de contato pessoal. Assim, há algumas coisas que realmente só podem ser satisfeitas com a visitação pessoal (1 Co 11:34b).

Podemos nos perguntar: “Quais são exatamente os princípios do evangelho de Paulo e o Mistério que Timóteo teria ensinado aos tessalonicenses em vista de estabelecê-los?” A seguir, uma lista de algumas das coisas que ele poderia ter trazido diante deles para esse fim:

A VERDADE RELATIVA ÀS PESSOAS DA DIVINDADE

(Teologia3)

- Trindade – as Pessoas da Divindade – o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 3:16-17). - A Pessoa de Cristo – Sua deidade, Sua Filiação eterna, Sua encarnação e Sua humanidade sem pecado (2 Jo 9). - Cristo o Primogênito (Rm 8:29) e o Unigênito (Jo 3:16). - Os aspectos propiciatórios e substitutivos da obra de Cristo na expiação (Rm 3:25, 4:25). - A ressurreição e ascensão de Cristo em glória (1 Co 15:12-20; At 1:9-11). - Cristo nosso Sumo Sacerdote e Advogado (Hb 2:17; 1 Jo 2:1).

A VERDADE RELATIVA À SALVAÇÃO E SUAS BÊNÇÃOS RELACIONADAS

(Soteriologia4)

- A justiça de Deus (Rm 3:21-26). - A vivificação e o selo do Espírito (Ef 1:13, 2:1). - A diferença entre novo nascimento e salvação (Jo 3:3-8, 14-17). - A diferença entre comprado e resgatado [redimido – JND] (1 Co 6:20; 1 Pe 1:18-19). - Os vários aspectos do perdão – judicial ou eterno (Ef 1:7); governamental (Mt 18:26-35); restaurativo (1 Jo 1:9); administrativo (2 Co 2:10) e perdão fraternal (Ef 4:32). - Justificação pela fé e justificação da vida (Rm 5:1, 18). - Reconciliação – de pessoas e coisas (Cl 1:20-21). - Regeneração (Tt 3:5). - A filiação dos crentes (Gl 4:1-7). - O verdadeiro caráter da vida eterna (Jo 17:3). - A aceitação do crente “em Cristo” (Rm 8:1) e a formação de Cristo nos santos – “Cristo em vós” (Rm 8:10; Cl 1:27). - A segurança eterna do crente (Jo 10:27-28; Rm 8:31-39). - Os vários aspectos da santificação (1 Co 6:11; 1 Ts 4:4-7; 1 Co 7:14). - A posição e o estado dos crentes (Rm 5:2; Fp 2:20). - As duas naturezas no crente (Rm 7:14-24). - A diferença entre pecados e pecado (Rm 3:25; 6:2). - O “velho homem” e o “novo homem” (Ef 4:22-24). - Os dois estados: “na carne” e “no Espírito” (Rm 8:9). - A habitação do Espírito (selo, penhor e unção) e o encher do Espírito (1 Ts 4:8; Ef 5:18; 2 Co 1:21-22). - Libertação (Rm 8:2). - Perfeição Cristã (Hb 10:14; Cl 1:28; Hb 11:40). - A nova raça de criação em que “semelhança” e “imagem” são restauradas (Tg 3:9; Cl 3:10). - Glorificação – envolvendo imortalidade e incorruptibilidade (1 Co 15:51-57). - Batismo (Rm 6:3-4; Gl 3:27). - Os mistérios do reino dos céus (Mt 13-25). - Julgamento eterno – o sofrimento dos perdidos no hades e no inferno (Mt 11:23, 10:28).

**A VERDADE RELATIVA À DOUTRINA E PRÁTICA DA IGREJA

**(Eclesiologia5)

- A formação da Igreja como o corpo e a noiva de Cristo por meio do batismo do Espírito Santo (1 Co 12:12-13; Ap 21:9). - O chamado celestial, caráter e destino da Igreja (At 10:11-16). - O verdadeiro fundamento sobre o qual os Cristãos estão reunidos, dando expressão prática à verdade do um só corpo (Mt 18:20; Ef. 4:4). - A verdade da simplicidade original da Ceia do Senhor na Mesa do Senhor (1 Co 10:16-17, 11:20-26). - A unidade do Espírito (Ef 4:3). - A liberdade do Espírito liderando na oração, louvor e ministério quando os santos estão reunidos em assembleia (1 Co 12:1-11). - O sacerdócio de todos os crentes (1 Pe 2:5). - A distinção entre dom e ofício na Igreja (Ef 4:11; 1 Tm 3:1-14). - Os dois aspectos da casa de Deus (1 Tm 3:15; 2 Tm 2:19-20). - Ofícios administrativos na casa de Deus (1 Tm 3:1-14). - Julgamento e disciplina da assembleia (1 Co 5:1-13).

**VERDADE RELATIVA A EVENTOS FUTUROS

**(Escatologia6)

- O propósito de Deus encabeçar todas as coisas em Cristo em duas esferas (no céu e na Terra) em um dia vindouro – o Milênio (Ef 1:10). - Os modos dispensacionais de Deus com Israel, a Igreja e os santos do reino milenar (Rm 9-11). - O tempo dos gentios (Lc 21:24). - A diferença entre os “últimos dias” da Igreja e de Israel (Hb 1:2; 2 Tm 3:1). - A diferença entre a Igreja e o reino (Mt 16:18-19). - O “evangelho do reino” como sendo distinto do “evangelho da graça de Deus” Mt 4:23; At 20:24). - O alcance e a ordem dos eventos proféticos no “princípio das dores”, na “grande tribulação” (ARA) e na “indignação” (Mt 24:8, 21). - A vinda do Senhor para Seus santos (o Arrebatamento) antes do período da tribulação (1 Ts 4:15-18) e depois com os santos (a Aparição) no final da grande tribulação (1 Ts 3:13, 5:1-4). - O Tribunal de Cristo (2 Co 5:10). - As duas ressurreições (Jo 5:29). - A herança de todas as coisas (Ef 1:11, 18). - O Milênio (Ap 20:4). - O Estado Eterno (Ap 21:1-8). - Os vários aspectos do Reino (Mt 13:11). - O “dia do Senhor” (1 Ts 5:2), o “dia de Cristo” (Fp 1:6) e o “dia de Deus” (2 Pe 3:12).

A VERDADE PRÁTICA

Algumas das coisas que Timóteo pode ter tocado ao procurar “encorajar” os tessalonicenses em sua caminhada prática são:

- O que envolve andar por fé (2 Co 5:7). - Comunhão (At 2:42; 1 Co 1:9). - Discipulado (Lc 14:25-33; Jo 8:31). - Dedicação e Consagração (Rm 12:1-8). - As virtudes Cristãs da fé, esperança e amor (1 Ts 1:3). - Moralidade (1 Co 6:12-20; 1 Ts 4:1-7). - Casamento e responsabilidades familiares (1 Co 7). - Julgamento próprio (1 Co 11:27-32). - A escola de Deus e suas disciplinas (Hb 12:5-11).

Essas listas abrangem muitas doutrinas e práticas Cristãs básicas, mas não são de forma alguma exaustivas. São tópicos que todo crente precisa entender e ser estabelecido e encorajado neles. As pessoas nestes dias têm uma vantagem distinta sobre os santos naqueles primeiros dias antes que as Escrituras do Novo Testamento fossem escritas. No entanto, embora as epístolas ainda não tivessem sido escritas, Timóteo aprendeu essas coisas sentando-se aos pés de Paulo (2 Tm 3:10, 14). Isso fez dele um homem útil para ajudar a estabelecer os tessalonicenses (1 Tm 4:16; 2 Tm 2:2).

Ensino e Trabalho Pastoral

Para que uma pessoa se firme e estabeleça outras pessoas nos princípios da doutrina e prática Cristãs, ele mesmo deve estar fundamentado nelas. Como mencionado, Timóteo foi bem capaz para este trabalho, pois Paulo disse dele: “tens seguido a minha doutrina [estás completamente familiarizado com meu ensino – JND], modo de viver” (2 Tm 3:10). Ele tinha um dom para ensinar (1 Tm 1:3, 4:6, 13) e para pastorear (Fp 2:19-21). Portanto, Paulo o chama de “ministro de Deus” (v. 2). Ao fazer isso, ele deu sua recomendação apostólica de Timóteo aos tessalonicenses. Isso lhes daria confiança e asseguraria que o que ele lhes ensinara era de Deus.

O objetivo prático deste ministério duplo de estabelecer e encorajar os santos foi com a visão para que “ninguém seja abalado” (v. 3 – AIBB). Ao afirmar isso, Paulo agora os lembra de que estavam em uma batalha espiritual com um inimigo muito perverso – o diabo, a quem ele chama de “o tentador” (v. 5). Satanás estava procurando abalar a confiança deles no Senhor por meio das “tribulações” de perseguição dirigidas a eles. Foram projetadas para demovê-los ou afastá-los de seguirem ao Senhor.

Em um parêntese nos versos 3b-4, Paulo lembra-lhes de que tinham visto pessoalmente a ferocidade do que aconteceu com ele e Silas quando estavam com eles (At 17), e que era normal para o Cristianismo “padecer tribulações” (AIBB) desse tipo. Assim, eles precisavam estar preparados para isso. Todo novo convertido precisa entender que o Cristianismo não é popular. Todo o sistema mundial e aqueles que são parte dele são opostos a Deus e a Cristo. Tomar a posição Cristã significa que certamente haverá reprovação e perseguição daqueles que odeiam a Cristo (Jo 15:19). Infelizmente, ao ouvir uma apresentação defeituosa do evangelho, muitos hoje têm a ideia de que, ao serem salvos, nunca mais terão outro problema em suas vidas. Como Maria Madalena, Eles confundem o Senhor com “o Jardineiro” (Jo 20:15 – ARA). Isto é, eles pensam que Ele vai ornamentar suas vidas em um lindo leito de rosas, e nunca mais ficarão doentes, ou terão problemas financeiros, e que tudo o que empreenderem na vida será um sucesso, etc. Entretanto, a Escritura não ensina isso. A verdade é que o Senhor pode não necessariamente nos tirar de nossos problemas, entretanto Ele nos ajudará neles. Portanto, o novo convertido precisa estar preparado para a adversidade, pois é o Cristianismo normal. É importante que eles entendam isso para que não fiquem desiludidos quando surgirem problemas e oposições.

Aperfeiçoando o Que Estava Faltando

Vs. 6-7 – Timóteo retornou a Paulo e seus companheiros de trabalho com “boas novas” de que o estado espiritual dos tessalonicenses era bom. Quando ele disse ao apóstolo sobre sua “fé” e “caridade [amor]” e sobre seu grande desejo de ver os missionários novamente, Paulo e os que estavam com ele foram “consolados”, pois também eles estavam sendo fustigados com “angústia e tribulação” (JND) vindas dos ataques de Satanás. A notícia de que os tessalonicenses estavam suportando essas coisas por causa de Cristo era algo para agradecer ao Senhor. Isso mostra que a continuidade no caminho evidencia a realidade da fé de alguém.

É notável a ausência da esperança aqui. Ela é o terceiro item do trio de virtudes Cristãs mencionado no capítulo 1:3 – fé, amor e esperança. Como essas três coisas normalmente andam juntas em relação ao estado Cristão, é evidente, pela ausência de esperança, que havia alguma fraqueza com os tessalonicenses a esse respeito. Pelo que Paulo menciona no capítulo 4:13-14, entendemos que eles tinham um equívoco em relação aos santos que haviam falecido. Aparentemente, eles pensaram que todos esses não seriam parte do reino de Cristo quando Ele reinasse. Além disso, de 2 Tessalonicenses 2, aprendemos que eles tinham alguns equívocos em conexão com “o dia do Senhor”, resultante de maus ensinamentos que haviam se infiltrado entre eles e que haviam perturbado sua esperança.

Vs. 8-9 – Paulo prossegue dizendo aos tessalonicenses que ele e seus companheiros de trabalho não descansariam até que atingissem um ponto em seu desenvolvimento espiritual, onde pudessem “estar firmes no Senhor”. Essa era uma preocupação particular de Paulo (Cl 1:28), e deve ser uma preocupação de todo obreiro Cristão ocupado com novos convertidos. Até que os jovens convertidos cheguem “à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito [maduro – JND], à medida da estatura completa de Cristo [da plenitude de o Cristo – JND] eles permanecerão como “crianças [bebês – JND] e em constante perigo de serem “levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4:13-14). É, portanto, imperativo que todos esses se estabeleçam na fé o mais rápido possível.

Mesmo assim, Paulo deu “graças” pelo que viu em seu progresso espiritual, e continuou a orar “dia e noite” por eles e por uma oportunidade de estar com eles face a face e “aperfeiçoar” (JND) o que estava “faltando” em sua “fé”. Isso provavelmente teria a ver com aquelas coisas que eles haviam entendido mal a respeito da esperança (v. 10). Até aquele momento, Paulo esperava que esta epístola ministrasse a essa necessidade. Ele encomendou o tempo desta visita ao “próprio Deus” (AIBB), que abriria o caminho em Seu tempo oportuno (v. 11).

Vs. 12-13 – Enquanto isso, o desejo e oração de Paulo era que o Senhor os fizesse “crescer [exceder – JND] e abundar em amor uns para com os outros e para com todos” (AIBB) os homens. Isso mostra que ele tinha um grande interesse em seu crescimento espiritual – que não é apenas ter um entendimento intelectual da verdade, mas também ter as afeições do coração movidas de acordo com a verdade, que se evidencia em tendo “amor uns para com os outros”. Assim, o crescimento espiritual não é meramente termos abraçado a verdade, mas que a verdade nos abraçou!

O objetivo final de Paulo era que Deus “estabelecesse [confirmasse – ARA] (KJV) seus corações “irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos”. Em outras palavras, ele queria vê-los andando pelos perigos e armadilhas do caminho da fé e serem preservados em santidade até o fim de sua jornada terrestre, de modo que eles fossem manifestados em plena glória do reino quando Cristo vier. O aspecto da vinda do Senhor ao qual ele está se referindo aqui é a Aparição de Cristo, quando “vier para ser glorificado nos Seus santos e ser admirado em todos os que creram” (2 Ts 1:10).

Neste terceiro capítulo, vemos que o grande desejo de Paulo pelos tessalonicenses era que eles crescessem espiritualmente no Senhor e, no final, fossem aprovados por Deus e, finalmente, expostos na glória do reino com Cristo. Isso tem sido o tema fundamental do capítulo. A maturidade Cristã tem sido seu objetivo. Assim, o trabalho de acompanhamento entre novos convertidos envolve:

- Estabelecê-los por meio de sã doutrina. - Encorajá-los por meio de interação pessoal. - Orando por eles em relação ao seu crescimento espiritual.

EXORTAÇÕES DE PAULO

AOS TESSALONICENSES
Capítulos 4-5

As exortações práticas começam nesta seção da epístola. Essas exortações se dividem em duas categorias:

- Capítulos 4:1-5:11 – Exortações sobre nossa vida pessoal em vista da vinda do Senhor. - Capítulo 5:12-28 – Exortações sobre nossa vida coletiva em assembleia em vista da vinda do Senhor.

Cap. 4:1 – Paulo começa suas exortações com: “Irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus”. Isso indica que as coisas que ele estava prestes a exortá-los estavam relacionadas com o reconhecimento pelo crente do Senhorio de Cristo. Isto é, o reconhecimento de Seu Senhorio como autoridade em suas vidas. Os tessalonicenses já haviam “recebido” essas exortações práticas quando Paulo estava com eles, mas ele sentiu que era necessário enfatizá-las novamente aqui e acrescentou: “Assim como vós também andais” (JND), elogiando-os por terem colocado essas exortações em prática em suas vidas. Essas coisas diziam respeito a como eles deveriam “andar” para “agradar a Deus”. O resultado seria que eles continuariam “progredindo cada vez mais” no crescimento espiritual.

COISAS PRÁTICAS QUE DEVEM CARACTERIZAR OS CRISTÃOS ENQUANTO ESPERAM PELA VINDA DO SENHOR

Capítulos 4:2-5:11

Nesta seção da epístola, Paulo descreve quatro grandes coisas que devem caracterizar a vida prática dos Cristãos que estão aguardando a vinda do Senhor. Essas coisas devem ser vistas como normais para a vida Cristã:

- Santidade para com Deus (cap. 4:2-8). - Amor de uns para com outros (cap. 4:9-10). - Honestidade para com os que estão de fora (cap. 4:11-12). - Vigilância em vista da vinda do Senhor (caps. 4:13-5:11).

Santidade para com Deus

Vs. 2-8 – Paulo começa lembrando-os dos “preceitos” (TB) morais que ele lhes dera quando estava com eles, porque era “a vontade de Deus” que eles caminhassem na “santificação” prática (vs. 2-3). Santificação significa “tornar consagrado por ser separado”. Em conexão com os Cristãos, ela é usada de três maneiras:

1) Santificação Absoluta ou Posicional

Esta é uma obra de Deus feita no crente por meio de novo nascimento (1 Co 6:11; 2 Ts 2:13; 1 Pe 1:2) e para o crente por meio de ser justificado pela fé em Cristo (At 20:32, 26:18; Rm 1:1; 1 Co 1:2, 30; Hb 10:10, 14, 13:12; Ap 22:11) pelo qual ele é separado da massa da humanidade para bênção eterna. Esta é uma coisa feita de uma vez por todas e é verdadeira para todo crente, independentemente do estado em que sua vida prática possa estar.

2) Santificação Progressiva ou Prática

Isto tem a ver com o crente aperfeiçoando a santidade em sua vida na prática (Jo 17:17; Rm 6:19; 2 Co 7:1; 1 Ts 4:4-7, 5:23; Ef 5:26-27 e Hb 12:14). Este aspecto da santificação deve ser um exercício contínuo e diário na vida do crente. Envolve julgar a si mesmo, e se separar em pensamento e ação, de tudo o que é inconsistente com a santidade de Deus. É o aspecto que Paulo está se referindo aqui em 1 Tessalonicenses 4.

3) Santificação Relativa ou Provisória

Isto tem a ver com uma pessoa estar em um lugar limpo na Terra por meio de sua associação com o que é limpo, sem necessariamente ter uma obra interior de fé em sua alma.

No caso de um casamento em que um dos parceiros é salvo e o outro não, o incrédulo é “santificado” nesse sentido relativo por sua associação com o parceiro crente que é santo (1 Co 7:14). Isso não significa que o incrédulo seja assim salvo, mas que ele esteja em um lugar de santo privilégio.

No caso daqueles associados com Abraão, Romanos 11:16 afirma que eles estão em um lugar de santidade relativa (santificação). O ponto que o apóstolo Paulo está trazendo nesta passagem é que se a “raiz” da nação de Israel (Abraão) foi colocada em um lugar santo de privilégio em relação a Deus, então os “ramos” (descendentes de Abraão) estão naquele lugar “santo” também (Dt 7:6, 14:2; 1 Rs 8:53; Am 3:3).

O apóstolo também se refere a uma pessoa que se purifica da confusão que entrou na casa de Deus (Cristandade), “em separando-se” (JND) dela, e sendo assim “santificado” nesse sentido relativo (2 Tm 2:19).

Esse aspecto da santificação também é visto em Hebreus 10:29. Os judeus que professavam fé em Cristo naquele dia tinham, assim, tomado o terreno Cristão e, portanto, tinham sido “santificados” em um sentido relativo pelo sangue de Cristo. Mas alguns deles nem sequer nasceram de Deus.

Vs. 3b-8 – A principal coisa que Paulo tinha em mente aqui, em conexão com a santificação prática, era o pecado de “fornicação”. Este termo abrange um amplo espectro de comportamento imoral, dos quais todos devem se abster na vida Cristã. Em 1 Coríntios 5 está em conexão com o incesto; neste capítulo tem a ver com o adultério, e na epístola de Judas está em conexão com a homossexualidade. Paulo insiste que cada um entre eles deve “possuir [manter ou preservar] o seu vaso em santificação e honra”. O “vaso” ao qual ele está se referindo é nosso corpo físico. Como o casamento envolve a união física de “os dois” se tornando “uma só carne”, algumas traduções sugerem que “vaso” pode ser traduzido como “esposa”. De fato, a palavra “vaso” é usada para esposa em 1 Pedro 3:7.

O casamento no Cristianismo deve ser mantido em “honra” (Hb 13:4), algo que não foi feito no paganismo. Uma vez que estes tessalonicenses tinham sido salvos desse estilo de vida pagão, eles precisavam entender que a intenção de Deus no casamento Cristão não é ao longo das linhas da “paixão de concupiscência [desejos apaixonados – JND]. Assim, lhes é dito “que ninguém transgrida e defraude nisto a seu irmão” (TB) – ou seja, não era para eles serem achados em adultério.

Paulo passa a mencionar três grandes razões pelas quais devemos nos abster do mal moral:

- O julgamento governamental do Senhor será sobre todos os que nisto participarem (v. 6). Ele é “o Vingador de todas estas coisas” (Pv 6:29). - Deus tem uma reivindicação sobre nós por meio da redenção para que sejamos santos. Ele “não nos chamou para a imundícia, mas para a santificação”. A pessoa que “desconsidera seu irmão” (JND) ao se aventurar em adultério “desconsidera, não o homem, mas Deus” (vs. 7-8a). - O corpo do crente é “o templo do Espírito Santo” e, portanto, deve ser dedicado ao serviço do Senhor e não às práticas imorais (1 Co 6:19). Deus nos “deu o Seu Espírito Santo” e este divino Hóspede dentro de nós será entristecido por tal atividade (Ef 4:30). Perderemos os benefícios práticos de Sua presença – como nos dar o presente gozo de nossas bênçãos em Cristo e discernimento prático (v. 8b).

Amor de Uns Para Com os Outros

Vs. 9-10 – Paulo prossegue e diz: “No tocante ao amor fraternal…” (ARA). O fluxo prático do amor fraternal entre os santos é normal ao Cristianismo e uma marca de uma assembleia saudável (Jo 13:34-35; Hb 13:1). Eles haviam sido “instruídos por Deus em amar uns aos outros”. Isso se refere à nova vida do crente que responde normalmente e de acordo com sua natureza. O apóstolo João disse que esta é uma das características da nova vida e natureza: “todo o que ama ao que o gerou, ama também ao que d’Ele tem sido gerado” (1 Jo 5:1 – TB).

Ele os recomenda que permitam que seu amor se expresse entre os outros santos na Macedônia (Filipos, etc.) e os encoraja a que “abundeis cada vez mais” nesta virtude. Isso acontecerá naturalmente, mas o problema muitas vezes é que impedimos o fluxo do amor divino inerente às nossas novas naturezas. Daí vem a exortação necessária: “Permaneça o amor fraternal” (Hb 13:1).

Honestidade Para Com Aqueles que Estão de Fora

Vs. 11-12 – Paulo passa a falar da necessidade de estar bem empregado e ocupado com coisas retas, para que o mundo veja que somos pessoas honestas.

Paulo lhes havia ensinado a grande verdade da vinda do Senhor (o Arrebatamento), e eles viveram corretamente na iminência dela. Mas alguns deles pensaram erroneamente que se o Senhor estava para vir – e poderia ser naquele mesmo dia – por que se preocupar com o trabalho? O amor fraternal que estava em ação entre os santos em Tessalônica cuidava dos que tinham necessidades, e essas pessoas podem ter presumido que esse mesmo amor também cuidaria delas. Esses convertidos eram predominantemente gregos, e os filósofos gregos daquela época desprezavam o trabalho manual. Então, quando a ideia de estarem “não trabalhando” (2 Ts 3:11) surgiu entre os tessalonicenses, alguns que haviam sido salvos daquela persuasão filosófica, naturalmente tinham esse pensamento. Eles podem ter desculpado sua ociosidade com o pensamento de que era fé da parte deles não trabalhar, porque mostrava (em suas mentes) que estavam realmente vivendo na iminência da vinda do Senhor. Mas este não foi um bom testemunho para o mundo.

Entendendo que esta situação existia entre eles, Paulo os exorta a que “procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos”, para que eles andassem “honestamente para com os que estão de fora”. Mesmo aqueles do mundo desprezam um homem que não trabalha para sustentar sua família. Longe esteja que tal coisa seja encontrada entre os Cristãos (1 Tm 5:8). Assim, eles deveriam trabalhar com as próprias mãos e seguir quietos com o Senhor. Paulo nos instrui que devemos orar para esse fim (1 Tm 2:1-2). Ele acrescenta: “como já vo-lo temos mandado”, lembrando aos crentes tessalonicenses que ele já os havia exortado nesse sentido quando estava com eles. Quando os Cristãos negligenciam isso, o mundo será rápido em encontrar falhas. Para evitar isso, devemos procurar “as coisas honestas, perante todos os homens” (Rm 12:17).

Na segunda epístola, Paulo lhes disse que, se houvesse um indivíduo que persistisse em não trabalhar, eles deveriam “se apartar” dele e não tê-lo em sua companhia “para que se envergonhe” (2 Ts 3:6-16). Isso mostra que Paulo viu essa ociosidade como uma desordem séria e algo que estava prejudicando o testemunho Cristão.

Vigilância em Vista da Vinda do Senhor

Caps. 4:13–5:11 – Paulo então corrige o equívoco que os tessalonicenses tinham em relação a seus entes queridos que haviam morrido recentemente. De alguma forma – provavelmente por maus ensinamentos os quais 2 Tessalonicenses 2:2-3 sugere – eles tinham adquirido a ideia de que seus irmãos que haviam “adormecido” iriam perder o Arrebatamento e a parte do reino que Cristo estabeleceria quando Ele aparecesse. Isso causou muita dor e “tristeza” entre eles. Isso mostra como a má doutrina (desinformação) pode afetar nosso gozo. Essas pobres almas estavam tristes com algo que nem sequer era verdade!

V. 13 – Paulo reconhece a coisa toda como uma questão simples de ignorância, e diz: “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem”. Não havia necessidade para eles estarem tristes “como os demais que não têm esperança”, pois certamente veriam seus irmãos novamente. A morte não é uma despedida final dos irmãos. Paulo não diz que não devemos nos entristecer quando a morte leva um crente querido, mas que não é necessário que haja o desespero que os incrédulos experimentam.

É interessante que esse estado de “dormir” é algo que acontece “por intermédio de Jesus” (JND). Isso significa que a morte deles, embora possa parecer prematura para os santos que permanecem vivos, não é um acidente. De fato, o Senhor Jesus é Aquele que a induz – Ele os coloca para dormir! Apenas o nome de Sua humanidade – “Jesus” – é usado aqui (sem Seus títulos) para enfatizar Sua empatia, pois Ele também andou neste mundo como um Homem e sabe o que é passar pela morte. Os espíritos e almas desencarnados deles estão presentes com Ele enquanto estão no estado separado ou intermediário, e assim eles não poderiam estar em melhores mãos (2 Co 5:8; Fp 1:23). Seus corpos estão na sepultura esperando a ressurreição.

É bom lembrarmos de que quando a Bíblia fala de crentes dormindo, ela se refere a seus corpos físicos, não a seus espíritos e almas (Mt 27:52). O sono nunca é aplicado a incrédulos que morreram. “O sono da alma” é uma falsa doutrina que supõe que os espíritos e almas dos mortos não são conscientes. No entanto, as Escrituras dizem que os crentes que morrem vão imediatamente para o “paraíso” (Lc 23:43) e estão “com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1:23 – ARA). Como isso poderia significar estar inconsciente? Alguém que dorme inconsciente não pode experimentar o gozo do paraíso. Se ele está inconsciente, ele não saberia distinguir um bom estado de um mau! Nem ele poderia experimentar comunhão com Cristo! Paulo disse: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1:21). Ele viveu e serviu desfrutando de comunhão com Cristo. Se ele morresse, e se isso significasse que ele iria ficar inconsciente, ele perderia a bem-aventurança de sua doce comunhão com Cristo! Como a morte poderia ser um “ganho” para ele?

V. 14 – Paulo então diz: “Porque, se (já que) cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em [por intermédio de – JND] Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele”. Isto é, tão certo como Jesus morreu e ressuscitou novamente, assim também aqueles que estão dormindo serão ressuscitados, pois ambos são da mesma ordem de ressurreição. As escrituras dizem: “Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo na Sua vinda” (1 Co 15:23). Assim, a base da esperança de ressurreição do crente é fundada no fato da ressurreição de Cristo (1 Co 6:14). Sua ressurreição é a promessa e a prova da ressurreição do crente! Os instrutores bíblicos chamam isso de “a primeira ressurreição”. Na verdade, existem três fases para a primeira ressurreição:

- “Cristo, as primícias” (1 Co 15:23a). - “Os que são de Cristo na Sua vinda” – o Arrebatamento. Isso se refere tanto aos santos do Velho como do Novo Testamento (1 Co 15:23b). - Os fiéis que morrem durante a septuagésima semana da profecia de Daniel (Dn 9:27). Isto ocorrerá imediatamente antes da Aparição de Cristo (Ap 14:13, 20:4).

Quatro Coisas que nos Dão Conforto em Relação ao Estado dos Crentes que Partiram

O conforto em relação aos nossos entes queridos que já faleceram não virá por escutarmos as opiniões de pessoas sinceras, nem de sentimentos que possamos ter em relação ao estado deles. Conforto só pode vir do entendimento e por acreditarmos nos fatos em relação àqueles que partiram, e esses fatos só podem ser encontrados na Palavra de Deus. O evangelho trouxe à luz essas coisas referentes à “vida e incorruptibilidade” (2 Tm 1:10 – JND) e, quando elas são entendidas, nos dão paz e conforto. Os quatro fatos a seguir ajudam nesse sentido:

- O estado da morte é temporário – Isso significa que nossos entes queridos que morreram não estarão mortos e desaparecerão para sempre. Eles ressuscitarão quando o Senhor vier no Arrebatamento (1 Ts 4:15-16; 1 Co 15:23, 51-56). Já que a vinda do Senhor é iminente, a ressurreição dos mortos pode ser hoje! - A condição dos crentes que partiram é a da bem-aventurança – Enquanto os espíritos e almas dos crentes que morreram estão no estado intermediário, aguardando a vinda do Senhor, eles estão “com o Senhor” (2 Co 5:8) “no paraíso” (Lc 23:43) e em um estado que é “muito melhor” (Fp 1:23). Isso significa que eles estão com a melhor Pessoa possível e estão muito mais felizes do que jamais poderiam estar na Terra. Isso nos dá conforto, sabendo que tudo está bem com eles. - A morte deles não foi um acidente – Deus não comete erros no que Ele permite que aconteça ao Seu povo, porque “o caminho de Deus é perfeito” (Sl 18:30). Embora possamos não entender por que Ele permitiu que a morte levasse um de nossos entes queridos, Ele explicará tudo isso no dia vindouro e fará todo o sentido. - Haverá uma grande reunião dos santos – No Arrebatamento, os santos falecidos e os santos vivos serão todos tomados juntos, e nunca mais seremos separados novamente (1 Ts 4:17). Isso também é um grande conforto.

UM PARÊNTESE:

A Vinda do Senhor - o ARREBATAMENTO

Vs. 15-18 – O aspecto da vinda do Senhor de que Paulo tem falado no versículo 14 é a Revelação ou a Aparição de Jesus Cristo. Quando o Senhor aparece e julga o mundo com justiça, “Deus trará com Ele aqueles que adormeceram” (JND). Mas para que eles venham com o Senhor do céu, os santos que dormem terão de ressuscitar dos mortos antes de Sua Aparição. Portanto, num parêntese (vs. 15-18), Paulo explica como e quando isso acontecerá.

V. 15 – Ele nos diz que o que ele estava prestes a dizer é algo que ele havia recebido “pela Palavra do Senhor”. Ao mencionar “a Palavra”, Paulo não quis dizer que a obteve da Palavra escrita de Deus – isto é, o Velho Testamento. Ele também não estava dizendo que recebeu do Novo Testamento, pois ainda não havia sido escrito. Ele quis dizer que foi uma comunicação especial ou revelação que lhe foi dada pelo Senhor. Assim, não foi algo que se baseou em especulações ou conjecturas teológicas – veio do próprio Senhor! Com base nisso, ele garante aos tessalonicenses que “nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem”. Assim, todos os santos (vivos e mortos) irão para o céu juntos, em um estado glorificado.

V. 16 – Paulo passa a nos dizer quando esta transferência para o céu acontecerá. Ele diz: “porque o próprio Senhor, com um grito de reunião, com voz de arcanjo e com trombeta de Deus, descerá do céu – JND , e Ele nos chamará todos juntamente. Esta é a “bem-aventurada esperança” do crente (Tt 2:13). É o que os instrutores bíblicos chamam de Arrebatamento. (A palavra “Arrebatamento” é encontrada na Bíblia Vulgata em latim, de onde se originou a palavra “tomados” que aparece nas Bíblias em inglês.) Paulo fala de três coisas aqui:

- O “grito de reunião” – é para ressuscitar os santos do Novo Testamento. - A “voz de arcanjo” – é para ressuscitar os santos do Velho Testamento. - A “trombeta de Deus” – é para chamar os santos que estão vivos e ainda na Terra.

O “grito” desperta “os mortos em Cristo”. São Cristãos que morreram ao longo dos anos desde o dia de Pentecostes, quando a Igreja começou. Sabemos que são Cristãos porque se diz que estão “em Cristo”. Todos os crentes desde o início dos tempos têm um relacionamento abençoado com o Senhor, mas somente os Cristãos estão nessa posição diante de Deus. “Em Cristo” literalmente significa estar “no lugar de Cristo diante de Deus”. Para que isso seja assim, Cristo teve que ascender à mão direita de Deus como um Homem glorificado e enviar o Espírito Santo, pelo Qual os crentes são ligados a Ele naquele lugar à direita de Deus. Assim, estar “em Cristo” é um termo exclusivamente Cristão que indica a ligação do crente a Ele como a Cabeça da nova raça da criação. Não se diz que os santos do Velho Testamento tenham essa conexão com Cristo, embora suas almas e espíritos estejam a salvo com Ele no céu.

Tendo morrido na fé, as almas e os espíritos desses queridos crentes tessalonicenses foram para o céu para estar com Cristo enquanto seus corpos dormem no sepulcro. Todos esses poderiam ser chamados de “a porção adormecida” da Igreja. É digno de nota que, embora a morte tenha reivindicado seus corpos, eles ainda são referidos como estando “em Cristo”. Isso mostra que a morte não mudou uma única coisa sequer no que diz respeito à sua posição diante de Deus. Na vinda do Senhor, esses Cristãos terão seus corpos saindo de seus túmulos em um estado glorificado (1 Co 15:23, 51-56; Fp 3:20-21). Isso é parte da segunda fase da primeira ressurreição mencionada anteriormente.

Ao mesmo tempo, o Senhor Se fará ouvir “com a voz do arcanjo”. A KJV (e a ARA e AIBB também) deduz que o arcanjo Miguel virá com o Senhor e proferirá sua voz, mas deve ser traduzido “com voz de arcanjo”. Isso indica que será a própria voz do Senhor no caráter do arcanjo. Tem a ver com o Senhor chamando os santos do Velho Testamento de seus túmulos. Ele havia frequentemente aparecido ao Seu antigo povo como “o Anjo do Senhor”, e agora neste momento Ele os chamará de suas sepulturas com a mesma voz com a qual estão familiarizados. Eles vão se levantar de seus túmulos ao mesmo tempo em que os “mortos em Cristo” se levantam. Mesmo que estas sejam diferentes classes de pessoas justas, tanto os mortos em Cristo quanto os santos do Velho Testamento participarão da segunda fase da primeira ressurreição ao mesmo tempo.

Hebreus 11:40 confirma isso, afirmando que os santos do Velho Testamento serão “aperfeiçoados” ao mesmo tempo em que os santos do Novo Testamento são aperfeiçoados. Eles são referidos como homens “justos aperfeiçoados” (Hb 12:23). Além disso, em conexão com a ressurreição, 1 Coríntios 15:23 diz: “Cristo as primícias, depois os que são de Cristo**, na Sua vinda”**. Aqueles que **“são de Cristo”** são _todos_ os santos de Deus desde o princípio dos tempos que morreram, não apenas a Igreja. Além disso, no livro do Apocalipse, os 24 anciãos (que representam os santos do Novo e do Velho Testamento) são vistos no céu _antes_ que os julgamentos da tribulação ocorram (Ap 4-5). Os santos do Velho Testamento, portanto, devem ter sido ressuscitados algum tempo antes do período da tribulação.

As citações seguintes de expositores respeitados ensinam isto: “O alarido do Senhor é para a Igreja, a voz do arcanjo é para Israel, e a trombeta de Deus para os homens [crentes] em geral” (Scripture Truth, vol. 30, pág. 60). L. M. Grant disse: “‘Com a voz do arcanjo’ é adicionada aqui. Apenas Miguel é referido nas Escrituras como o arcanjo (Jd 9). Se há outros, não podemos dizer. Já que Miguel é chamado de príncipe de Israel (Dn 10:21), e a dispensação da lei foi ordenada por anjos nas mãos de um mediador (Gl 3:19), tem sido sugerido que voz do arcanjo pode ter alguma conexão com a ressurreição dos santos do Velho Testamento na vinda do Senhor” (First and Second Thessalonians, pág. 29). H. A. Ironside disse: “O arcanjo no Velho Testamento está conectado com o povo judeu de uma maneira muito especial. ‘E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo’ (Dn 12:1). Quando o Senhor Jesus vier em cumprimento dessas palavras, não somente os santos desta época, mas também os santos de todas as eras passadas serão incluídos. Assim, a voz de Miguel, o arcanjo, será ouvida ao mesmo tempo em que o Senhor dá o grito de despertar” (Addresses on Thessalonians, pág. 50). W. Macdonald disse: “A voz de Miguel, o arcanjo, é comumente entendida como sendo uma ordem para os santos do Velho Testamento, visto que ele é tão intimamente associado com Israel (Dn 12:1; Jd 9; Ap 12:7)” (Believers Bible Commentary, pág. 2.038). Paulo apenas alude à ressurreição dos santos do Velho Testamento aqui no versículo 16, porque seus pensamentos e foco nesta passagem estavam nos crentes tessalonicenses que estavam tristes por seus irmãos (companheiros Cristãos) que haviam morrido.

A “trombeta de Deus” assinala a captura dos santos que estarão “vivos, os que formos deixados até a vinda do Senhor” (TB). Estes serão “arrebatados [tomados juntos – JND] com aqueles que são ressuscitados dentre os mortos (v. 17). Esta é a última trombeta mencionada em 1 Co 15:52. Não é, no entanto, “a grande trombeta” em Isaías 27:13 – JND, Mateus 24:31 e Apocalipse 11:15, que tem a ver com a restauração de Israel após a Aparição de Cristo. Paulo então dá as encorajadoras palavras: “e assim estaremos sempre com o Senhor” (v. 17b).

O MOMENTO para o Qual Todos os Outros Momentos são Feitos

Tudo isto acontecerá “Num momento, num abrir e fechar de olhos [num piscar de olhos – JND] (1 Co 15:52). H. E. Hayhoe costumava dizer: “Este é o MOMENTO para o qual todos os outros momentos foram feitos”. Será a primeira vez que a Igreja, que é a noiva de Cristo, verá seu glorificado Noivo celestial! Atualmente, os santos falecidos estão “com Cristo” no céu (Fp 1:23; 2 Co 5:8), mas eles não têm seus corpos para participar do que seus espíritos e suas almas estão desfrutando. Mas quando este momento chegar, seremos instantaneamente glorificados como Cristo (Fp 3:20-21), e O veremos face a face! Uma figura disso no Velho Testamento é vista em Isaac (uma figura de Cristo) erguendo os olhos e Rebeca (uma figura da Igreja) também erguendo os olhos, e eles se encontram pela primeira vez. Quando isso aconteceu, Rebeca “lançou-se do camelo” – uma figura do Arrebatamento (Gn 24:63-64).

E vamos ver Tua face

E Tua voz celestial escutar,

Bem conhecida por nós na graça presente?

Nossos corações podem bem se alegrar.

Contigo em alvas vestes,

Senhor Jesus, vamos andar;

E sem manchas naquela luz celeste

De todos os Teus sofrimentos falar.

(L.F. nº 270)

A Esperança Cristã Normal – Ser Chamado para o Céu Sem Ver a Morte

Em toda esta passagem a respeito da vinda do Senhor (o Arrebatamento), Paulo se incluiu nesta grande esperança, ao dizer “nós”. Ele fala da perspectiva de esta ser a postura normal do Cristão, que é ser chamado para o céu sem ver a morte (Rm 8:11; 2 Co 5:2; Fp 3:20-21; 2 Ts 2:1). Sendo um vaso especial e um apóstolo, foi revelado a Paulo no final de sua vida que ele seria chamado para o céu pela morte; assim ele não estaria entre o número dos santos vivos que não veriam a morte (2 Tm 4:6-8). Ele estava disposto a isso (2 Co 5:8) e até mesmo desejou, se fosse a vontade de Deus para ele (Fp 1:23; 3:10-11). Ao apóstolo Pedro foi falada a mesma coisa (2 Pe 1:14). Mas essas exceções de modo algum negam o fato de que a esperança Cristã normal é esperar ser chamado para o céu sem ver a morte.

Nota: a ressurreição dos santos em um estado glorificado não ocorre no céu, mas aqui na Terra onde eles viveram e morreram (1 Co 15:51-56). Haverá uma demonstração do absoluto triunfo no próprio campo de batalha em que os santos lutaram “o bom combate [conflito – JND] da fé” (1 Tm 6:12 – ARA). Esses santos testificaram aqui, lutaram aqui e perderam suas vidas em conflito aqui, e agora eles terão vitória com Cristo naquele mesmo campo de batalha! Paulo diz: “Então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória” (1 Co 15:54, 57; 2 Co 5:4).

O Senhor então ostentará em desfile os santos glorificados através “do ar” – o próprio reino onde o diabo, “o príncipe das potestades do ar” (Ef 2:2), teve acesso e fez o seu trabalho maligno. O Senhor fará, então, uma aberta manifestação da vitória diante de nossos inimigos espirituais. Assim, o mesmo poder de Deus que triunfou na ressurreição de Cristo dos mortos como “as primícias” da primeira ressurreição (Sl 18:6-19; 1 Co 15:23) será exercido em Sua vinda para a ressurreição dos santos (1 Co 6:14; 2 Co 4:14; Ef 1:19-20). A “vitória” será alardeada na fortaleza de Satanás, e ele e seus anjos não serão capazes de resistir, pois são inimigos derrotados! (1 Co 15:57). Dessa maneira, os santos deixarão essa cena triunfantemente!

V. 18 – Paulo conclui suas observações entre parênteses dizendo: **“então encoraje um ao outro com estas palavras” (**JND). Assim, ele queria que os tessalonicenses divulgassem a palavra entre eles sobre essa grande verdade e confortassem qualquer um que tivesse ideias incorretas sobre seus entes queridos que houvessem morrido.

Alguns Resultados Maravilhosos que Aguardam os Santos no ARREBATAMENTO

- Estaremos com Cristo para sempre (Jo 14:2-3). - Seremos feitos como Cristo – moral e fisicamente (Fp 3:20-21; 1 Jo 3:2). - Estaremos reunidos aos nossos entes queridos que morreram na fé (1 Ts 4:17). - Seremos para sempre libertados dos perigos físicos e espirituais e problemas da Terra (Jd 21). - Receberemos as recompensas de nossos trabalhos neste tempo de ausência de Cristo (Mt 25:19-23; Lc 19:15-19; Hb 10:35-37; Ap 22:12).

Nenhum Homem Sabe o Dia, Nem a Hora, do Arrebatamento ou da Aparição de Cristo

O Senhor afirmou claramente que nenhum homem sabe quando Ele virá no Arrebatamento (Mt 25:13 – ARA), nem quando Ele aparecerá para julgar o mundo com justiça (Mt 24:36). É, portanto, inútil tentar estabelecer datas para qualquer um desses eventos.

Mateus 24:36 é quase universalmente usado entre os Cristãos para ensinar que ninguém sabe quando o arrebatamento ocorrerá. No entanto, este verso não está se referindo ao Arrebatamento (que acontece antes do período da tribulação), mas à Aparição de Cristo (que acontece após a tribulação – Mt 24:29-30). O verso correto a ser usado para estabelecer este ponto relativo ao Arrebatamento é Mateus 25:13. Nota: as últimas palavras deste versículo “em que o Filho do Homem virá” (na KJV, ARC e ARF) não devem estar no texto, como indicado por sua ausência na Tradução de J. N. Darby. O assunto em Mateus 25:1-13 é a vinda do Senhor como o Noivo. Não é a Sua vinda como o Filho do Homem. Sua vinda como o Filho do Homem está sempre em conexão com Sua vinda para julgar o mundo em justiça, que é Sua Aparição.

O Dia do Senhor

Capítulo 5:1-3 – Ao fechar o parêntese, Paulo retorna às suas observações sobre a Revelação ou a Aparição de Cristo da qual ele havia falado no capítulo 4:14.

Ele menciona “os tempos e as estações” que têm a ver com os tratos de Deus com a Terra, e assim, isso nos leva à esfera dos eventos proféticos que ocorrem depois que a Igreja foi chamada para o céu. Paulo agora vai falar do julgamento que cairá sobre os incrédulos que serão deixados para trás após o Arrebatamento. Isso é indicado por uma mudança marcante em seu uso de pronomes – de “nós” (Cristãos) no capítulo 4:15-18 para “eles” e “lhes” (incrédulos) no capítulo 5:1-3. É claro a partir disso que ele está agora se referindo a um grupo diferente de pessoas.

Paulo diz que “não há necessidade” (ARA) de ele escrever aos tessalonicenses com grandes detalhes sobre aquele tempo vindouro, porque ele os havia instruído sobre isso quando estava com eles (2 Ts 2:5). Timóteo também pode ter tocado nessas coisas quando os visitou (1 Ts 3:1-2). Consequentemente, eles sabiam “perfeitamente” que “o dia do Senhor” viria como “ladrão de noite” sobre o mundo incrédulo.

“O dia do Senhor” é um termo usado tanto no Novo quanto no Velho Testamento para indicar o tempo em que o Senhor intervirá sobre o mundo em julgamento, em que Sua autoridade será estabelecida publicamente na Terra (1 Ts 5:2, 4; 2 Ts 2:2-3 – TB; Lc 21:34). (“O dia do Senhor” aqui não é “o dia do Senhor”, o primeiro dia da semana – Ap 1:107). Esse dia começará na Aparição de Cristo e continuará durante todo o Milênio (2 Pe 3:8-10), e assim durará 1.000 anos. Deus “tem determinado” esse “dia” quando Cristo “com justiça há de julgar o mundo com justiça” (At 17:31).

“O dia do Senhor” não deve ser confundido com “o dia de Cristo”. Esses termos referem-se ao mesmo período de tempo (o Milênio), mas de maneiras diferentes:

- “O dia do Senhor” tem a ver com o exercício do julgamento de Cristo na Terra, pelo qual o mundo será subjugado sob a autoridade do Seu Senhorio (2 Ts 1:7-9). - “O dia de Cristo” (1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fp 1:6, 10, 2:16, etc.) tem a ver com a demonstração celestial da glória de Cristo por meio da Igreja (2 Ts 1:10).

Paulo diz que o dia do Senhor pegará os homens do mundo desprevenidos. Cairá sobre eles quando pensarem que têm “paz e segurança”. Essa falsa sensação de segurança que as pessoas no Ocidente terão resultará da presença militar da federação de dez nações na Europa ocidental (a besta) sob seu líder político (o “chifre pequeno” – Dn 7:8, 20-21, 24-25 – ARF). “Repentina destruição” cairá sobre eles na Aparição de Cristo “como as dores de parto àquela que está grávida”. Os que estiverem na Terra naquele tempo “de modo nenhum escaparão” do julgamento (2 Ts 1:7-9).

Aqueles no período da tribulação vindoura, que são instruídos na Palavra de Deus, podem entender que o dia do Senhor será assinalado por quatro coisas, e assim saberão que aquele dia está próximo “já perto”. São elas:

- A “apostasia” da Cristandade para adorar a besta e sua imagem (2 Ts 2:3). - A revelação do “homem do pecado” (o anticristo) (2 Ts 2:3). - A remoção da restrição à desordem (2 Ts 2:6-7). - O ataque do rei do norte (o assírio) contra os judeus que serão reunidos em sua terra natal no final da Grande Tribulação (Jl 1:15, 2:1-11).

Sobriedade em Relação ao Iminente Retorno do Senhor

Capítulo 5:4-11 – Paulo assegura aos santos que “aquele dia” de julgamento não os “surpreenderia”. Para indicar isso, ele muda os pronomes novamente. Ele usou “eles” e “lhes” no verso 3, mas agora ele diz: “Mas vós**, irmãos …”** e **“não** somos **da noite …”** e **“não** durmamos **…”** etc. Ao mudar da terceira pessoa do plural para a segunda e primeira pessoa do plural, é evidente que Paulo está agora retornando a falar com a companhia Cristã novamente. A razão pela qual **“aquele dia”** de julgamento não surpreenderá os Cristãos, é que teremos sido levados da Terra no Arrebatamento, aproximadamente sete anos _antes_ desse tempo. Ele acaba de explicar isso no parêntese no capítulo 4:15-18. Como mencionado em nossos comentários no capítulo 1:10, cada vez que a vinda do Senhor é mencionada como um **“ladrão de noite”**, está se referindo à Aparição de Cristo, _não_ ao Arrebatamento (Mt 24:43-44; Lc 12:39-40; 1 Ts 5:2; 2 Pe 3:10; Ap 3:5, 16:15). Como já mencionado, no Arrebatamento, o Senhor vem para chamar a Igreja, que é Sua noiva. Ele vem nesse tempo como **“o Noivo”** (Mt 25:6-10), não como um **“Ladrão”**.

Além disso, as passagens que têm a ver com a vinda do Senhor como Ladrão estão sempre em conexão com Ele executando o julgamento sobre o mundo. Isso acontece na Aparição. Não há julgamento executado sobre o mundo no Arrebatamento; é uma tomada silenciosa dos crentes da Terra. Os santos ouvirão o “alarido”, a “voz” e a “trombeta” (cap. 4:16), mas o mundo não ouvirá nada. É verdade que o Arrebatamento selará a desgraça daqueles que rejeitaram o evangelho da graça de Deus, mas o julgamento deles de serem lançados no lago de fogo não ocorre de fato até mais tarde, quando o Senhor aparece como Ladrão.

Paulo fala daqueles do mundo como estando envolvidos em “trevas” morais e espirituais (v. 4). Em contraste, ele lembra aos crentes tessalonicenses que eles são “filhos da luz e filhos do dia” (v. 5). Assim, ele usa “trevas” e “luz” e “dia” e “noite” como figuras para descrever aqueles que são crentes e aqueles que não são. Isso não é incomum nos escritos de Paulo (Rm 13:12-13; Ef 5:8-14). Visto que o julgamento recai apenas sobre aqueles que são parte integrante das trevas deste mundo, mas não sobre aqueles que são da luz, é claro que os crentes no Senhor Jesus Cristo estão isentos dos julgamentos relacionados com o dia do Senhor. De fato, eles virão com o Senhor quando Ele voltar para executar o julgamento naquele dia (1 Ts 3:13; 4:14; Jd 14; Zc 14:5, etc.).

Vs. 6-8 – Na série seguinte de versículos, Paulo faz algumas exortações práticas baseadas no fato de que os tessalonicenses eram “da luz” e “do dia”, e não “da noite, nem das trevas”. Essas coisas aplicam-se a nós hoje tanto quanto se aplicavam aos tessalonicenses em seus dias. Ele diz: “Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios” (v. 6). Paulo usa o “dormir” aqui como uma figura para descrever a indiferença espiritual. Ele diz que é necessário que haja vigilância e sobriedade de nossa parte para que não caiamos em um estado de descuido semelhante. O ponto dele é que, embora o mundo esteja espiritualmente adormecido, não deveríamos estar assim. A observação a que Paulo se refere aqui não é exatamente a vigilância pela vinda do Senhor – embora certamente devêssemos fazer isso (Lc 12:36-38). Mas sim estar vigiando contra os perigos espirituais das trevas, que podem ter seu efeito negativo sobre nós. O ponto na exortação é que se não formos cuidadosos, poderemos ser arrastados pelos rudimentos das trevas deste mundo pelo qual passamos. O Senhor orou para que os santos fossem preservados nesse caminho (Jo 17:15-17). Mantemos nossa vigilância espiritual pelo julgamento próprio e por andar próximos do Senhor por meio da constante comunhão com Ele. O único lugar “seguro” para nós é estar perto do Senhor (Dt 33:12).

Paulo diz: “Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam, embebedam-se de noite” (v. 7). Ele fala do sono aqui literalmente, mas prossegue fazendo uma aplicação prática dele. Seu ponto é que, assim como o “dormir” no reino natural está associado à “noite”, é o mesmo no reino espiritual. O dormir espiritual da indiferença está associado àqueles que não conhecem o Senhor e vivem em trevas espirituais. Sendo quem somos (“filhos da luz e filhos do dia”), precisamos ser consistentes com o reino ao qual pertencemos e estar espiritualmente despertos.

Para nos proteger contra o estado de torpor espiritual nos dominando, Paulo menciona nosso recurso. Ele diz: “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e da caridade [do amor], e tendo por capacete a esperança da salvação” (v. 8). Assim, enquanto o mundo é caracterizado por dormir nas trevas da ignorância de Deus, devemos estar vivendo em vista da “esperança” de nossa “salvação” final. Isto é, para estar com e como o Senhor no estado glorificado. – que ocorrerá no Arrebatamento. Até lá, há duas peças da armadura que devemos colocar que nos impedirão de afundar em um estado de descuido:

- A “couraça [peitoral] da fé” guarda as afeições de nossos corações. - O “capacete da salvação” guarda nossos pensamentos.

Nossos corações e mentes são duas áreas vulneráveis onde o inimigo faz seus pontos de ataque. Nota: somos responsáveis por vestir essas peças de armadura; não é algo que Deus faz por nós. Assim, Ele quer que participemos desta libertação prática. Isso significa que é preciso haver exercício e energia espirituais envolvidos no uso dessa proteção. Vestir “a couraça da fé” é ter cuidado para não permitir que nossas afeições busquem coisas terrenas e mundanas, porque no processo podemos nos envolver nessas coisas que nos causarão dormência nas coisas divinas (Pv 4:23). Vestir o “capacete” se refere a não apenas ter nossos pensamentos focados em coisas certas que dizem respeito a Cristo e Seus interesses (Fp 4:7; 1 Pe 1:13), mas por estarmos ocupados com a esperança da salvação que será trazida para nós na vinda do Senhor. A tendência é permitir que nossos corações e mentes corram atrás de coisas estranhas que diminuem nossa vigilância espiritual.

Vs. 9-11 – E a razão pela qual Paulo encoraja tal foco é “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com Ele”. Esse aspecto final da “salvação” a que Paulo se refere aqui (como no versículo 8) ocorre quando o Senhor vem – no Arrebatamento (Rm 13:11; Fp 3:20-21; Hb 9:28; 1 Pe 1:5). Ele diz que esta salvação nos aguarda, independentemente de o crente estar vivendo (“acordado”) no momento da vinda do Senhor ou ter morrido (“dormindo”). Como ele explicou no capítulo 4, ambos se levantarão para encontrar o Senhor nos ares. Paulo encerra suas observações sobre esse assunto declarando novamente: “exortai-vos [encorajai-vos – JND] uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis”.

Paulo usou o verbo “dormir” nos versículos 6-10 de três maneiras diferentes:

- O dormir da indiferença (v. 6). - O dormir natural para a reanimação do corpo (v. 7). - O dormir em conexão com o estado separado ou intermediário de um crente (v. 10).

COISAS PRÁTICAS QUE DEVEM CARACTERIZAR UMA ASSEMBLEIA CRISTÃ ESPERANDO PELA VINDA DO SENHOR

Capítulo 5:12-28

Até agora, nas exortações de Paulo, ele se dirigiu aos santos tessalonicenses como crentes individuais. Agora, nesta seção final da epístola, ele os exorta coletivamente como uma companhia de crentes (uma assembleia) que está aguardando a vinda do Senhor (o Arrebatamento). Assim, essas exortações são dirigidas para a assembleia como um todo e descrevem como uma assembleia saudável deve ser caracterizada.

Vs. 12-13a – A primeira dessas exortações tem a ver com reconhecer e respeitar aqueles que estão no lugar de liderança na assembleia. Paulo diz: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem [tomam a iniciativa – JND] sobre vós no Senhor, e vos admoestam, e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra”. Isso nos ensina que aqueles que compõem uma assembleia local devem estimar respeitosamente os anciãos/presbíteros naquela assembleia por causa do lugar que eles têm e do trabalho que eles fazem. O “trabalho” e a “obra” a que Paulo se refere aqui são uma coisa local, pois a responsabilidade na liderança é puramente uma função local na casa de Deus. Assim, os anciãos em uma assembleia não agem como tais em outras assembleias.

A ARA diz: esses homens que “presidem sobre vós no Senhor”, mas uma tradução melhor diz: “Que tomam a liderança entre vós” (JND). “Sobre vós” implica que eles têm uma posição na qual eles presidem oficialmente os santos de uma forma autoritária, mas é exatamente contra isso que Pedro nos adverte (1 Pe 5:3). Antes, os anciãos/presbíteros devem mover-se “entre” os santos em mansidão e humildade, procurando guiá-los e ajudá-los em suas dificuldades particulares e, assim, “pastorear a assembleia” (At 20:28 – JND).

É digno de nota que quando a função de anciãos/presbíteros está em vista nas Escrituras, eles são mencionados no plural (“eles”), mas quando suas qualificações morais estão em vista, elas são mencionadas no singular (1 Tim. 3:1 – “Se alguém …”). Isso mostra que o governo de uma assembleia local não deve estar nas mãos de um homem. Deus pretende que eles funcionem como um grupo de homens e, assim, examinem-se mutuamente e encontrem equilíbrio, se necessário. Isso daria à assembleia uma maior imunidade contra um ancião/presbítero que se levantasse e assumisse o poder. Diótrefes é um exemplo de um presbítero que não era controlado pelos outros, e infelizmente deu errado (3 Jo 9).

Com relação àqueles que agem neste ofício na casa de Deus, a Escritura nos diz para “conhecê-los” (1 Co 16:15), “estimá-los” (1 Ts 5:13), “honrá-los” (1 Tm 5:17), “imitar” a fé deles (Hb 13:7), “obedecer-lhes” (Hb 13:17), “sujeitar-se” a eles (Hb 13:17), e “saudar” a eles (Hb 13:24). Mas isso não nos diz para ordená-los, simplesmente porque as assembleias não têm poder para ordenar anciãos/presbíteros. Em todos os casos nas Escrituras onde as assembleias haviam ordenado presbíteros, eles foram ordenados para a assembleia por apóstolos ou delegados de um apóstolo. Apesar disso, praticamente toda assembleia Cristã hoje tenta nomear e ordenar seus anciãos!

Há sabedoria em Deus não dar às assembleias o poder de ordenar seus anciãos. Se uma assembleia possuísse tais poderes, poderia ser tentada a nomear homens que fossem inclinados aos seus interesses. Para se resguardar desse perigo, Deus levanta esses homens pelo Espírito Santo (At 20:28), e eles serão conhecidos por suas qualificações morais e pelo trabalho que fazem. Nos primeiros dias da Igreja, os apóstolos, ou seus delegados, reconheceram esta obra de Deus em certos homens e os ordenaram para este ofício (At 14:23; Tt 1:5). O Espírito de Deus ainda está levantando homens hoje para continuar o trabalho de liderança nas assembleias locais. Estes não podem ser ordenados oficialmente a esse trabalho, porque hoje não há nenhum apóstolo na Terra para fazer isso. No entanto, Deus teria assembleias locais para reconhecer esses homens por suas qualificações morais (1 Tm 3:1-7; Tt 1:6-9) e pelo trabalho que fazem (1 Ts 5:13; 1 Tm 5:17-18), e permitir-lhes “apascentar o rebanho” de Deus, “tendo cuidado dele” (1 Pe 5:2).

Aqueles a quem Paulo está se referindo aqui em 1 Tessalonicenses 5:12-13 não foram oficialmente ordenados por um apóstolo. Paulo e Silas foram expulsos de Tessalônica depois de estarem lá apenas três sábados, e assim não havia tempo suficiente para os novos convertidos daquela cidade amadurecerem espiritualmente para que fossem designados para tal trabalho. Ordenar um bebê em Cristo para este lugar seria colocar um “neófito [novato] em perigo espiritual, pelo qual ele poderia cair na “condenação do diabo”, que é a “soberba [orgulho – JND] (1 Tm 3:6; Pv 16:18). Mas agora, no momento da escrita desta epístola, alguns tinham manifestado maturidade espiritual e o Espírito Santo os havia levantado para esse trabalho.

O ponto na exortação de Paulo aqui é que a assembleia deve reconhecê-los e tê-los “em grande estima e amor” e apoiá-los em seu trabalho. Essa é uma exortação necessária para todas as assembleias, pois há uma tendência dos santos tratarem os cuidados pessoais que os presbíteros possam mostrar para com os santos como uma invasão em suas vidas e tornarem-se ressentidos com isso. Pode-se perguntar: “Como é que uma assembleia deveria ‘conhecer’ esses homens se eles não foram nomeados?” A resposta é simples; eles serão visíveis porque “se têm dedicado ao ministério dos santos” (1 Co 16:15). Devemos conhecê-los pelo trabalho que fazem.

V. 13b – Paulo então diz: “Tende paz entre vós”. Não é por acaso que esta exortação segue sua palavra de respeitar aqueles que tomam a iniciativa. A paz geralmente reside em uma assembleia que aceita, ao invés de resistir e desafiar, seus anciãos. As revoltas contra os líderes na assembleia foram a principal fonte da ruptura da paz e da unidade em toda a história da Igreja.

V. 14 – Quatro exortações seguem nesse versículo que parecem ser dirigidas aos anciãos em particular. Paulo diz: “Admoesteis os desordeiros [desordenados – JND]. A casa de Deus é um lugar de ordem e pessoas desordenadas não devem ser encontradas lá fazendo como lhes agrada. Portanto, todos esses devem ser corrigidos. Nota: ele não diz à assembleia para excomungá-los, mas sim para “admoestá-los” e, assim, restaurá-los a um andar ordenado (Gl 6:1). Esta exortação se aplicaria particularmente aos “intrometidos” (ARA) que estavam andando “desordenadamente” entre os santos em Tessalônica (2 Ts 3:6-15), mas também pode aplicar-se a todos os que andam desordenadamente.

Paulo então diz: “Consoleis os de pouco ânimo”. Isso se refere àqueles que estão desencorajados. Confortar o abatido é uma obra importante porque um Cristão desanimado corre o risco de ser vítima do inimigo e ser levado embora (1 Pe 5:7-8).

Paulo acrescenta: “Sustenteis os fracos”. Ele provavelmente está se referindo àqueles que eram fracos na fé – isto é, deficientes em seu entendimento da liberdade da graça (Rm 14:1; Gl 5:1). Ele pode estar se referindo àqueles que haviam se convertido do judaísmo e que tinham certos costumes em relação a comidas e festas.

Por fim, eles deveriam ser “pacientes para com todos”. Isso significa que precisamos ter graça especial para aqueles que nos irritam e não permitir que nossos espíritos sejam provocados de maneira carnal por tais pessoas.

V. 15 – Paulo então adverte contra a retaliação quando fomos injustiçados. “Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos”. A retaliação entre os irmãos certamente destruirá a paz na assembleia. A maneira correta de lidar com ofensas pessoais e erros entre irmãos é ensinada pelo Senhor em Mateus 18:15-17. O remédio para toda a animosidade mostrada a nós é retornar bondade a quem nos faz mal (Rm 12:18-21). Isso deve ser feito entre nossos irmãos Cristãos, assim como aqueles do mundo (Lc 6:27-29). A retaliação contra os incrédulos certamente prestará um mau testemunho perante o mundo.

V. 16 – Em seguida, Paulo diz: “Regozijai-vos sempre”. Podemos pensar que isso não é humanamente possível porque há ocasiões em que simplesmente não podemos evitar o sofrimento. Somos até instruídos a entrar na “casa onde há luto” e “chorar com os que choram” (Ec 7:2; Rm 12:15b). Contudo, Paulo não está falando dessas exceções, mas sim do sentido geral de nossas vidas – daquilo que deveria nos caracterizar normalmente como Cristãos.

V. 17 – Paulo então diz: “Orai sem cessar”. Similarmente, em Ef 6:18, ele diz que devemos estar “orando em todo o tempo” (Compare também Lc 18:1). Podemos nos perguntar o que ele quis dizer com isso quando sabia que os santos tinham responsabilidades diárias para atender. Eles simplesmente não tinham tempo para ficar de joelhos o dia inteiro – até mesmo o próprio Senhor “cessou” de orar! (Lc 11:1 – JND) No entanto, Paulo não estava se referindo a tempos fixos de oração privada (Mt 6:6; Ef 1:16 etc.), mas à atitude instantânea de oração em que os Cristãos devem viver enquanto atendem suas responsabilidades diárias. Devemos viver, andar e manter nossa existência em comunhão contínua com o Senhor, e isto deve tomar a forma do espírito de oração. Isso pode ser visto em Neemias. Como ele trabalhava para o rei da Pérsia, o rei lhe fez uma pergunta, mas ele não teve tempo para se retirar para orar, então ele orou de onde estava fazendo uma pequena e rápida oração ao Senhor, e então respondeu ao rei (Neemias 2:4-5).

V. 18 – Paulo então diz: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”. Isso mostra que precisamos ter um espírito de submissão e gratidão por tudo o que acontece em nossas vidas. É fácil agradecer ao Senhor quando coisas boas e agradáveis acontecem em nossas vidas, mas quando as coisas negativas e tentadoras surgem em nosso caminho, precisaremos de graça especial para receber essas coisas de Suas mãos. O próprio Senhor é nosso grande exemplo nisso. Quando Ele veio para os Seus, eles não O receberam (Jo 1:11). Ele aceitou com um espírito de submissão, dizendo: “Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da Terra… Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado” (Mt 11:25-26 – ARA). Só seremos capazes de fazer isso crendo que Deus está sobre todas as circunstâncias em nossas vidas, e que Ele somente permitirá que nos toquem as coisas que são absolutamente necessárias (Lm 3:37; Mt 28:18; Ef 1:22; Cl 1:17). A fé que crê que Ele é verdadeiramente um bom Deus (Sl 73:1), e que Ele está apenas interessado em nosso bem e bênção (Jó 23:14; 2 Co 4:17) se submeterá ao que Ele permitir, e até agradecerá a Ele por isso – mesmo que seja algo que nos decepcione.

V. 19 – Em seguida, Paulo diz: “Não extingais o Espírito”. Deus quer nos usar como canais pelos quais o Seu Espírito trabalharia para a bênção dos outros. O Senhor disse: “Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios d'água viva correrão do seu ventre. E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que n’Ele cressem” (Jo 7:38-39). Deus deseja trabalhar por nosso intermédio pelo Espírito, e devemos deixar o Espírito ter essa liberdade. Não devemos impedi-Lo nisto. Se fizermos isso, estamos extinguindo o Espírito. É como uma mangueira de jardim que tem água correndo por ela. Se alguém pegasse a mangueira e a dobrasse, o fluxo de água seria interrompido, ou pelo menos seria muito diminuído. Da mesma forma, o Espírito de Deus pode querer nos levar a fazer algo para o Senhor, mas nossas vontades podem se opor a isso, e assim nos recusamos a seguir Seus pedidos. Ao resistir dessa maneira, extinguimos o Espírito. O contexto dessa exortação pode estar na assembleia, mas a extinção do Espírito também pode ocorrer fora da assembleia no curso da vida diária.

Extinguir o Espírito é ilustrado nas Escrituras na história do servo de Abraão (Gn 24). Ele é uma figura do Espírito Santo que foi enviado a este mundo para obter uma noiva para Cristo (de quem Isaque é uma figura) Tendo assegurado a ela para Isaque pela dádiva de presentes etc., o servo de Abraão se levantou para levá-la a Isaac, mas sua mãe e seu irmão interferiram e queriam detê-lo “por um ano inteiro” antes de deixá-lo ir com ela (Gn 24:55 – KJV margem). Esta é uma ilustração de se extinguir o Espírito. O servo então respondeu: “Não me detenhais [impeçais – JND], pois o Senhor tem prosperado o meu caminho; deixai-me partir, para que eu volte a meu senhor” (Gn 24:56). O Espírito está da mesma forma dizendo para nós: “Não Me impeçais”.

Entristecer o Espírito Santo é um pouco diferente (Ef 4:30). Tem a ver conosco sairmos a fazer algo que o Espírito não nos levou a fazer, por meio do qual Ele é entristecido por nossas ações. É o pecado que entristece o Espírito. Quando um crente peca, o Hóspede divino dentro de nós sente isso e nos exercita a julga esse pecado. Colocando de uma forma simples:

- Extinguir o Espírito é não fazer algo que Ele está nos levando a fazer, - Entristecer o Espírito é fazer algo que Ele não nos levou a fazer.

V. 20 – Em seguida, Paulo diz: “Não desprezeis as profecias”. Novamente, o contexto indicaria o ambiente de assembleia onde as profecias são geralmente dadas, mas também poderia se referir a um irmão ou uma irmã profetizando fora da assembleia também. Esta exortação é necessária hoje tanto quanto sempre foi, porque tendemos a “considerar profecias levianamente” (JND) e criar uma antipatia pela pessoa que profetiza de uma maneira que toca nossas consciências. Se a pessoa ministra no Espírito, e nós a desconsideramos, estamos nos tornando surdos para o que Deus possa nos estar dizendo. O malvado rei Acabe é um exemplo. Ele disse do profeta Mica: “eu o odeio, porque nunca profetiza de mim o que é bom, senão sempre o mal” (2 Cr 18:7). Ele considerou o ministério profético de Mica como mal porque o repreendeu. Naturalmente, gostamos de profetas que nos falam “coisas aprazíveis” (Is 30:10), mas há ocasiões em que é necessária uma “palavra de exortação” para nossas consciências (Hb 13:22). Não nos ressintamos com isso; Deus pode estar usando isso para nos corrigir de algo que seja necessário. Profecias é uma maneira ordenada de Deus de Se comunicar conosco.

V. 21 – Então Paulo acrescenta: “mas prove todas as coisas; abrace o correto” (JND). O fato de ele colocar uma conjunção, “mas” no texto aqui indica que ele estava conectando o verso anterior (v. 20) com esta afirmação. Isso mostra que profecia precisa ser testada se vem de Deus ou não. Essa é uma precaução necessária – especialmente nestes últimos dias, quando a profissão Cristã tem muitos “falsos mestres [instrutores – JND] (2 Pe 2:1) e “obreiros fraudulentos” (2 Co 11:13). O ponto aqui é que pode ser que nem toda profecia seja de Deus e venha de Deus. O crente não deve ser ingênuo e acreditar em tudo que ouve, mas deve “provar” essas coisas pelo grande padrão da própria Palavra de Deus (Is 8:20). A questão é: a profecia coincide com as Escrituras? Se isso não acontecer, então devemos colocá-la de lado. Se, por outro lado, é de acordo com a Palavra, devemos “abraçar”.

Contudo, se não conhecermos as Escrituras como deveríamos (talvez porque somos novos na fé), podemos contar com a “unção do Santo” (1 Jo 2:20-26). Isso se refere à presença do Espírito de Deus em nós, nos fazendo discernir a verdade quando ela nos é apresentada e, ao contrário, nos fazendo discernir o erro. Mas isso exige permanecer n’Ele por meio da comunhão.

V. 22 – Deus desejava que os santos tessalonicenses se mantivessem afastados de todo tipo de mal – para sua preservação pessoal e pelo testemunho. Por isso, Paulo diz: “abstende-vos de toda forma de mal” (ARA). Isso pode exigir discernimento espiritual, porque às vezes “o mal [a maldade – JND] pode se manifestar de formas sutis.

Vs. 23-24 – W. Kelly indica que esses versículos são a essência da oração do apóstolo para os tessalonicenses. Ele diz: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a [na – JND] vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é O que vos chama, O qual também o fará”. No capítulo 3:10, Paulo disse aos tessalonicenses que ele orava regularmente por eles pela sua perfeição e entendimento espirituais; agora nestes versículos, ele diz a eles que também está orando por sua preservação. O assunto aqui, como no capítulo 4:3, é santificação prática ou progressiva. A ordem em que ele fala das três partes da nossa humanidade é significativa e nos dá a chave de como somos preservados. Ele diz: “Espírito, e alma e corpo

- Nossos espíritos são nossa parte inteligente e consciente de Deus (racional) de nossos seres (Jó 32:8; Pv 20:27). - Nossas almas são a sede de nossos apetites, emoções e desejos (Gn 27:4, 34:3; Dt 12:20; Mc 12:30; 1 Pe 2:11). - Nossos corpos são a parte física de nosso ser (Gn 2:7).

Assim, a maneira pela qual seremos guardados do mal é sempre ter nossos espíritos em posição de assumir a liderança em todos os assuntos e decisões da vida. Se deixarmos que as emoções de nossa alma nos dirijam a tomar essas decisões, em breve seremos desviados, pois as afeições e emoções do nosso coração podem ser enganosas (Jr 17:9) e inconstantes (2 Sm 13:15). Portanto, não devemos ser guiados pelo que sentimos ser bom ou pelo que nossos corações cobiçam. Devemos comprar, comer, ir a lugares e fazer coisas que a parte inteligente de nosso ser acredita estar de acordo com a vontade de Deus. Isso é determinado pelos princípios da Palavra de Deus. Quando essas escolhas são boas e corretas e de acordo com a Palavra de Deus, podemos, então, envolver nossas almas e corpos. Aqui está o caminho da nossa preservação. Os homens do mundo invertem essa ordem e dizem: “corpo, alma e espírito”. Eles vivem predominantemente para o que agrada o corpo e a alma e negligenciam o espírito – e resulta em todo tipo de pecado.

V. 25 – Paulo então solicita as orações dos santos a respeito de sua obra e serviço ao Senhor. Isso mostra que a oração diante do trono da graça é recíproca. É um privilégio orar pelos santos.

Vs. 26-28 – Paulo encerra a carta com suas saudações habituais, desejando que “a graça de nosso Senhor Jesus Cristo” estivesse com eles.


A Segunda Epístola de Paulo aos

TESSALONICENSES

O Perigo da Má Escatologia

(Eventos Futuros)

Bruce Anstey

  

# SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS  
TESSALONICENSES  
INTRODUÇÃO

## O Objetivo da Epístola

Na primeira epístola, Paulo corrigiu o erro que havia surgido entre os tessalonicenses em relação aos santos que haviam morrido ou adormecido (1 Ts 4:14-18). Nesta segunda epístola, Paulo corrige o erro que eles tinham em relação aos santos vivos (2 Ts 2:1-8).

Deus sabia que, com o passar dos anos, os Cristãos se tornariam confusos com relação a essas coisas e incluiu essa epístola no cânon das Escrituras para corrigir essas falsas noções. Parece que esta epístola é necessária hoje mais do que nunca, pois muitos Cristãos têm a ideia de que a Igreja passará pelo período de sete anos da tribulação que virá sobre este mundo (Dn 9:27, 12:1; Ap 3:10). A maioria dessas ideias erradas vem da não distinção entre as duas fases da vinda do Senhor – o Arrebatamento e a Revelação (Aparição) de Cristo – que Paulo cuidadosamente as distingue em ambas as epístolas aos tessalonicenses. (Veja: O Arrebatamento e a Revelação [Aparição] de Jesus Cristo)

Um esboço simples desta segunda epístola é:

-   Capítulo 1 – _Conforto_ para os santos que estavam passando por perseguições e tribulações resultantes de serem identificados com o nome de Cristo.
-   Capítulo 2 – _Correção_ para os santos a respeito do falso ensino escatológico que receberam sobre a ordem dos eventos que cercam a Aparição de Cristo.
-   Capítulo 3 – _Aconselhamento_ sobre como tratar os problemas práticos que resultam do mau ensino escatológico mencionado no capítulo 2.

# CONFORTO  
PARA OS SANTOS QUE ESTAVAM SENDO PERSEGUIDOS  
Capítulo 1

Vs. 1-2 – Como na primeira epístola, Paulo inclui Silvano e Timóteo em sua saudação inicial **“à igreja** [**assembleia** – JND] **dos tessalonicenses”**. E, como na primeira epístola, **“graça”** e **“paz”** são enviadas de **“Deus nosso Pai”** e do **“Senhor Jesus Cristo”**. Assim, a Paternidade de Deus e o Senhorio de Cristo são novamente enfatizados. Isso porque Paulo entendia que conhecer a Deus como nosso Pai e Jesus Cristo como nosso Senhor é essencial para o crescimento e a maturidade Cristã. O Senhorio de Cristo é particularmente enfatizado nesta segunda epístola. O título **“Senhor”** é usado mais de vinte vezes em três pequenos capítulos.

V. 3 – Paulo viu progresso espiritual entre os santos tessalonicenses e agradeceu a Deus por isso. Sua **“fé”** estava crescendo excessivamente, e seu **“amor”** uns pelos outros estava florescendo. Contudo, como foi o caso em seus comentários na primeira epístola (cap. 3:6), ele não menciona esperança. A esperança é o terceiro item no trio de virtudes que andam juntas na vida Cristã normal. Notável por sua ausência aqui, é evidente que **“a bem-aventurada esperança”** (Tt 2:13) foi adulterada em suas mentes, e é por isso que Paulo não os elogiou por mantê-la como a tinham mantido no passado (1 Ts 1:3). Aprendemos no capítulo 2 que os maus ensinamentos referentes ao **“dia do Senhor”** haviam se infiltrado em seu meio e haviam perturbado sua esperança. Uma das principais razões para a escrita desta segunda epístola foi endireitar esse equívoco.

V. 4 – Paulo louva os crentes tessalonicenses por continuarem no caminho da fé apesar das **“perseguições e tribulações”** que estavam enfrentando. Isso provou a realidade de sua fé – e Paulo se regozijou em ver isso. Essas coisas os aborreceram porque lhes foi dito (erroneamente) que suas provações eram sinais de que a Igreja estava passando pelos julgamentos associados ao dia do Senhor. Essas perseguições, no entanto, não eram as provações da grande tribulação, mas eram sofrimentos conectados ao Cristianismo normal. Os Cristãos estão passando por um mundo que odeia a Cristo, e aqueles que levam Seu nome naturalmente sofrerão perseguição por causa disso (Jo 15:18-20, 16:33).

Vs. 5-6 – Paulo lhes assegura que o sofrimento deles nas mãos de homens maus que rejeitaram o evangelho foi uma **“Prova clara do justo juízo de Deus”** que está vindo sobre este mundo. Seu sofrimento era uma prova de que todos os incrédulos seriam julgados. É uma coisa justa de se fazer; um Deus que não julga o mal não é um Deus justo. Assim, Deus é justificado na execução de Seu julgamento. Naquele dia, Ele equilibrará as balanças da justiça. Para os santos tessalonicenses que estavam sofrendo perseguição dos homens incrédulos do mundo, isso significava que as coisas se inverteriam; o juízo será dispensado àqueles que rejeitaram a graça de Deus e infligiram sofrimento aos santos.

Paulo diz a eles que o sofrimento deles por Cristo também mostrou que eles foram **“havidos por dignos do reino de Deus”**, pois é um privilégio dado aos santos sofrer por amor a Ele (Fp 1:29). Por isso, acrescenta: **“pelo qual também padeceis”** É como se ele dissesse: “Sua resistência firme na perseguição mostra que você é verdadeiramente parte dessa companhia que irá compartilhar a glória do reino de Cristo”. É, portanto, **“justo”** que Deus **“dê em paga tribulação”** na forma de juízo sobre os que rejeitam o evangelho.

## Dois Lados da Aparição de Cristo

Vs. 7-10 – Esses versos indicam que há dois lados da Aparição de Cristo, que são:

-   A _execução do Seu julgamento_ sobre os ímpios (vs. 7-9).
-   A _exibição de Sua glória_ nos santos diante do mundo (v. 10).

O _primeiro_ lado da Sua Aparição introduz o **“dia do Senhor”** (1 Ts 5:2; 2 Pe 3:10), que tem a ver com a autoridade de Seu Senhorio sendo estabelecida na Terra por meio de julgamento (Ap 10:1-2). O _segundo_ lado de Sua Aparição introduz o **“dia de Cristo”** (1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fp 1:6, 10, 2:16) quando Ele será visto manifestado em glória no Seu reino.

### A Execução do Julgamento

V. 7 – Paulo diz: **“E a vós, que sois atribulados, descanso** [**repouso** – JND] **conosco”** Deviam esperar até **“a revelação do Senhor Jesus”** (JND) (a Aparição) quando Ele intervirá para colocar este mundo em ordem. Naquele tempo, Deus **“com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou”** (At 17:31). Enquanto isso, os Cristãos não têm sido chamados a consertar os erros e injustiças do mundo envolvendo-se em seus assuntos. Estamos apenas passando pelo mundo **“como peregrinos e forasteiros”** em nosso caminho para o céu (1 Pe 2:11), e, portanto, devemos **“deixar o caco se esforçar com os cacos da Terra”** (Is 45:9 – JND). Nossa responsabilidade neste mundo é testemunhar por Cristo por meio da pregação do evangelho com a visão de que alguns pela graça de Deus possam ser salvos. O mundo será consertado **“quando os Teus juízos”** estiverem **“na Terra”**, que começarão na Aparição de Cristo (Is 26:9); não será consertado pela influência de Cristãos piedosos e sua pregação do evangelho.

Paulo então descreve o julgamento que será executado na Aparição de Cristo. O Senhor sairá do céu **“com os anjos do Seu poder”** e com **“labaredas de fogo”** para Se vingar dos pecadores deste mundo. Ele traz Seus anjos com Ele para _duas_ obras distintas: uma é executar o julgamento sobre os pecadores no reino dos céus, lançando-os diretamente no inferno (o lago de fogo) sem ver a morte (Mt 13:38-42, 24:37-41), e a outra é para a bênção das dez tribos de Israel, reunindo-as de volta à sua terra natal (Mt 24:31).

Paulo fala de _duas_ classes gerais de incrédulos que serão julgados:

-   Aqueles **“que não conhecem a Deus”** – Estes são gentios que viveram na ignorância de Deus, o Salvador, nunca tendo ouvido o evangelho da Sua graça (1 Ts 4:5), mas que rejeitaram a luz que Ele lhes deu d’Ele mesmo por meio da criação (Sl 19:1-6; Rm 1:20).
-   Aqueles **“que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo”** – Estas são pessoas esclarecidas que ouviram o evangelho e conhecem o caminho da salvação, mas o rejeitaram (1 Pe 4:17; 2 Pe 2:20-21).

Esses pecadores serão punidos com **“eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder”** por meio dos juízos que começam na Aparição de Cristo. Paulo não entra em detalhes aqui sobre como e quando essas duas classes de pecadores serão tratadas, o que um cuidadoso estudo da profecia revelará. Basta dizer que a Aparição de Cristo inicia **“o julgamento dos vivos”** (At 10:42; 2 Tm 4:1; 1 Pe 4:5). Este é um termo abrangente que inclui _três_ julgamentos distintos de pessoas vivas:

-   O Juízo da _Ceifa_ (Mt 13:37-43; Ap 14:14-16; Is 24:1-23).
-   O Juízo do _Lagar_ (vindima) (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:9-17).
-   O Julgamento em _Sessão_ (Mt 25:31-46).

Alguns pensam que **“a destruição eterna”** (2 Ts 1:9; Fp 3:19; Mt 7:13; 2 Pe 2:1, 12, 3:16, etc.) significa que os incrédulos serão consumidos pelo fogo do julgamento de Deus e deixarão de existir. Essa falsa doutrina é chamada de Aniquilacionismo[8](#calibre_link-31 "8"). A Palavra de Deus indica que a destruição eterna _não_ tem a ver com a perda do ser de alguém, mas com a perda do seu bem-estar eterno sob o julgamento de Deus.

Há duas passagens em Jó que indicam que os incrédulos ainda existem depois de terem morrido. Esses versos dizem que **“sua alma nele lamenta”** (Jó 14:22) e **“dá gritos”** (Jó 30:24 – TB) mesmo _depois_ de terem sido destruídos na morte.

Apocalipse 19:20 nos diz que a besta e o falso profeta foram ambos lançados vivos no lago de fogo. Então, no capítulo 20, nos é dito que depois do diabo liderar uma breve rebelião contra o Senhor no final do Milênio, ele será tomado e lançado no lago de fogo; e então diz: **“onde estão a besta e o falso profeta”** (Ap 20:10). A besta e o falso profeta ainda estão sofrendo no lago de fogo após o reinado de mil anos de Cristo! Eles não deixaram de existir.

Apocalipse 14:10-11 diz que os adoradores da besta serão **“atormentados com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E o fumo do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite”**. E novamente, Apocalipse 20:10 diz que os que estão em uma eternidade perdida **“de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre”**. O tormento é uma condição que exige que uma pessoa viva para suportá-lo. Você não pode atormentar o que não existe.

Em Marcos 9:48, o Senhor disse: **“O seu bicho não morre”**. Isso também indica que os tormentos de uma consciência culpada não morrerão nos perdidos sob o castigo eterno.

Além disso, várias passagens da Escritura nos dizem que o fogo do julgamento de Deus **“nunca se apaga”** (Mt 3:12; Mc 9:43, 45; Lc 3:17). Que necessidade haveria para que continuasse para sempre se aqueles que são lançados nele fossem imediatamente aniquilados pelo fogo? Alguns nos dizem que a morte em si é o julgamento. Mas as Escrituras dizem: **“aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso** (da morte) **o juízo”** (Hb 9:27).

Mesmo na linguagem comum, **“destruição”** não significa a cessação da existência. Por exemplo, se pegássemos um machado e cortássemos uma bela mesa de madeira em pedaços, poderíamos ser acusados de destruir a mesa. No entanto, haveria tanto material em uma pilha inútil no chão quanto existia naquela linda mesa. Destruída simplesmente significa que a mesa não pode mais ser usada para o propósito para o qual foi feita – mas o material do qual foi construída ainda existe. É o mesmo com a destruição dos seres humanos. O homem foi feito para a glória de Deus (Is 43:21; Ap 4:11); se ele for para a destruição eterna, ele não poderá mais ser ajustado por meio da salvação para o propósito para o qual ele foi criado.

### A Exibição da Glória de Cristo com os Santos

V. 10 – Como mencionado, o segundo aspecto da Aparição de Cristo tem a ver com a demonstração de Sua glória com os santos. O Senhor não somente trará Seus anjos poderosos com Ele quando Ele vier (v. 7), mas também trará Seus **“santos”** (Zc 14:5; 1 Ts 3:13, 4:14; Jd 14; Ap 19:14). Naquele tempo, Ele será **“glorificado** nos **Seus santos e para ser admirado** em **todos os que tiverem crido”** (AIBB). Os santos naquele dia vindouro de manifestação brilharão à Sua semelhança e os homens e anjos olharão para eles com admiração e louvarão a glória da graça de Deus (Ef 1:6, 12). Essa exibição, naturalmente, incluirá os santos tessalonicenses. Paulo, portanto, acrescenta em um parêntese: **“(porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)”** (v. 10). Assim, Deus usará os santos para trazer glória a Cristo (Jo 17:22-23).

É triste dizer que, nestes dias de fraqueza e fracasso entre os Cristãos, muitas vezes é o contrário. O mundo olha para nós e encontra justificativa (assim eles pensam) por não crerem no evangelho. Como os judeus que fizeram o nome de Deus ser blasfemado entre os gentios por seu mau comportamento (Rm 2:24), a Igreja fez com que muitos neste mundo se afastassem de receber a Cristo. Mas no dia que Paulo está falando aqui, será exatamente o oposto; muitos se reunirão ao Senhor quando virem o que Sua graça operou na Igreja (Ef 1:6, 12) e com Israel (Sl 47:9; Is 60:1-22; Zc 2:10-11, 8:22-23).

## A Oração de Paulo pelos Santos Tessalonicenses

Vs. 11-12 – Paulo então diz aos tessalonicenses a essência de suas orações por eles. Seu principal encargo era que, uma vez que eles seriam usados para glorificar a Cristo em um dia vindouro, deveriam ser exercitados sobre glorificar a Ele agora enquanto ainda estavam aqui na Terra. Podemos ver nesta oração que ele entendeu que todo crescimento no povo de Deus que resulta em testemunho de Cristo é realmente produzido por Sua graça operando em seus corações. Por isso, ele ora para que Deus tenha prazer e **“considere”** (JND) a eles **“dignos do chamado”** (JND) de sofrer por Cristo, e que Ele **“e cumpra todo o desejo da Sua bondade”** por uma **“obra da fé com poder”** neles. E, como resultado, eles se comportariam corretamente sob a perseguição para que **“o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja glorificado”** (TB). Isso, Paulo reconhece, só poderia ser efetuado pela **“graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”**. Todo louvor, portanto, deve ir para aqu’Ele que chamou os Cristãos para esse testemunho.  

# CORREÇÃO  
SOBRE FALSO ENSINO ESCATOLÓGICO  
Capítulo 2

Paulo agora se compromete a corrigir o equívoco que havia surgido entre os tessalonicenses a respeito do **“dia do Senhor”**. Foi dito a eles que a perseguição que eles estavam sofrendo era parte dos juízos do dia do Senhor que os Cristãos devem passar antes que o Senhor venha. Muitos Cristãos hoje têm ideias semelhantes e, portanto, fariam bem em prestar atenção às instruções de Paulo neste capítulo.

Vs. 1-2 – Para enfrentar este erro, Paulo diz: **“Quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com Ele, nós vos rogamos, irmãos, que não vos movais facilmente do vosso modo de pensar, nem tão pouco vos perturbeis, nem por espírito, nem por palavra, nem por epístola como enviada de nós, como se o dia do Senhor estivesse já perto** [**está presente** – JND]**”**. Poderia ser perguntado: “Que aspecto da vinda do Senhor Paulo está se referindo aqui – o Arrebatamento ou a Aparição?” Como tem a ver com os santos sendo reunidos para o Senhor, é, portanto, inequivocamente o Arrebatamento. Por isso, Paulo rogou a eles que não dessem ouvidos ao erro que circulava entre eles com base no que ele havia ensinado na primeira epístola sobre o Arrebatamento, pois este ocorre antes do dia do Senhor (1 Ts 5:1-3). Como então poderiam ser encontrados na Terra quando o julgamento deles é realizado? Como isso não poderia acontecer, não havia necessidade de se incomodar com essa falsa doutrina.

Podemos nos perguntar por que Paulo traria o Arrebatamento aqui quando o assunto em discussão nos capítulos 1-2 é a Aparição de Cristo. É verdade que Paulo tem falado dos santos precisando esperar pela Aparição de Cristo, quando Deus intervirá para consertar este mundo. No entanto, saber que o julgamento será executado em malfeitores na Aparição de Cristo dificilmente ministra conforto aos santos. Paulo, portanto, traz o Arrebatamento como um meio de confortar seus corações e mentes perturbados. Se eles pudessem apreender o fato de que seriam arrebatados para estar com o Senhor no céu, e assim seriam libertados da ira vindoura (1 Ts 1:10), seus medos desapareceriam.

Embora aqueles que estavam propondo essa doutrina parecessem ter sido verificados quanto ao que estavam ensinando, os tessalonicenses deviam descartá-la completamente, porque Paulo os havia ensinado de outra forma. Ele menciona _três_ métodos principais que os falsos mestres estavam usando para convencer os santos de sua doutrina errônea:

-   **“Por espírito”** – Eles professaram ter recebido o ensinamento por uma revelação espiritual de Deus. Eles podem muito bem tê-lo recebido por um espírito (1 Tm 4:1; 1 Jo 4:1), mas não era o Espírito Santo e, portanto, Paulo usa um “e” minúsculo para identificar essa falsa fonte.
-   **“Por palavra”** – Eles professaram ter obtido isso de ministério oral de irmãos que também estavam ensinando a mesma coisa, e assim, era algo que era comumente ensinado entre os santos.
-   **“Por epístola como enviada por nós”** (TB) – Aparentemente eles até chegaram a ponto de forjar uma carta que afirmavam ter sido escrita por Paulo, declarando essas ideias errôneas.

Como uma palavra prática de cautela, precisamos entender que o que aconteceu com os tessalonicenses também poderia acontecer conosco. Ou seja, absorver o mau ensino inconscientemente. Isso nos mostra que os Cristãos precisam ser cuidadosos em receber coisas de fontes não qualificadas, e especialmente neste dia de ruína no testemunho Cristão, quando há muitos ensinamentos errados (1 Tm 4:1). Há uma infinidade de ministérios Cristãos sendo apresentados hoje por vários meios: rádio, televisão, vídeo, literatura, internet, etc. Professores talentosos na Cristandade estão competindo por nossa atenção por esses meios, mas, infelizmente, muitos deles não são claros quanto à verdade e, portanto, não são confiáveis – embora possam alegar que receberam o ensinamento do Senhor. Onde muitos Cristãos são enganados é o pensamento errôneo de que desde que um homem é dotado, ele é, portanto, bem fundamentado na verdade. No entanto, dom e conhecimento da verdade são duas coisas diferentes. Paulo disse aos tessalonicenses: **“Ninguém de maneira alguma vos engane”**. Eles não deveriam se deixar enganar por ninguém, independentemente de quão talentoso e persuasivo a pessoa possa ser. Esta é uma exortação necessária para nós hoje.

## A Igreja não Passará pela Tribulação

Esses falsos mestres afirmavam **“que o dia do Senhor estava presente”** (JND). (A KJV, ARC, ARF dizem “o dia de Cristo”, mas é uma tradução incorreta.). Os tessalonicenses não temiam que o Senhor tivesse vindo, mas que eles iriam passar por certos julgamentos do Senhor _antes_ que Ele viesse. Aparentemente foram ensinados que havia certas coisas que tinham que acontecer antes do Arrebatamento. A verdade é que, enquanto as Escrituras indicam que há certos eventos que acontecerão antes da Aparição de Cristo, não há sinais ou eventos que precisem ocorrer antes do Arrebatamento. Um compositor de hinos colocou corretamente quando disse:

“Nenhum sinal a ser procurado; a Estrela está no céu.

(L.F. nº 168)

A ideia de que a Igreja deve passar por um período de julgamento na Terra antes da vinda do Senhor (o Arrebatamento) é predominante na Cristandade hoje. Muitos ensinam que **“o dia do Senhor”** é o tempo imediato que segue ao Arrebatamento – ou seja, o período da tribulação. No entanto, 1 Tessalonicenses 5:2 e 2 Pedro 3:10 afirmam claramente que ela começa quando o Senhor vem **“como um Ladrão de noite”**, que é a Sua Aparição. Essa confusão resultou, em grande parte, de não distinguir as duas fases da vinda do Senhor – o Arrebatamento e a Aparição. Por exemplo, se uma pessoa pensava que **“a vinda do Filho do Homem”** era o Arrebatamento (como muitos fazem), ele concluiria naturalmente, de Mateus 24:29-30 e Marcos 13:24-26, que o Arrebatamento ocorre **“depois da tribulação”**. Como resultado, muitos acreditam que a Igreja passará por esse tempo terrível. No entanto, a vinda do Filho do Homem é sempre a Aparição de Cristo (Mt 4:27, 30, 37, 39, 44, etc.).

Por Paulo mencionar **“vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele”** (o Arrebatamento) _antes_ de falar do **“dia do Senhor”** está claro que ele entendeu que a Igreja seria arrebatada para o céu _antes_ daquele dia de julgamento.

Há _oito_ passagens principais nas Escrituras que falam diretamente do período da tribulação (Mt 24:3-29; Mc 13:4-24; Ap 3:10, 7:14-17; Dt 4:30-31; Jr 14:8, 30:4-7; Dn 12:1). Pensaríamos que se a Igreja passasse pela tribulação, pelo menos uma dessas passagens falaria disso, mas _não há uma referência_ à Igreja passando por esse tempo terrível! Este fato, por si só, deve ser suficiente para convencer qualquer espírito disposto de que a Igreja _não_ estará no período da tribulação nem passará por ele.

Por ter um esboço simples do livro de Apocalipse, aprendemos que a Igreja não estará na Terra quando os julgamentos da tribulação forem derramados. Existem _três_ divisões no livro de Apocalipse, dadas no capítulo 1:19:

-   **“As coisas que tens visto”** – referindo-se ao que o apóstolo João viu no capítulo 1.
-   **“As coisas que são”** – referindo-se aos capítulos 2 e 3, que contêm os discursos do Senhor às sete igrejas, que são uma história moral da igreja professa na Terra, desde o tempo dos apóstolos até seus últimos dias.
-   **“As coisas que depois destas hão de acontecer”** – referindo-se aos capítulos 4 a 22, em que as aflições da tribulação são descritas. Esta terceira divisão é chamada **“depois destas coisas”** (Ap 4:1) porque lida com coisas que acontecerão _depois_ que a Igreja terminar sua história na Terra.

É instrutivo ver que depois dos capítulos 2 e 3, uma porta no céu se abre e João é chamado: **“Sobe aqui”** (Ap 4:1). Esta é uma pequena figura da Igreja sendo chamada para o céu depois de ter terminado o seu curso na Terra, pela vinda do Senhor (o Arrebatamento). Então, do capítulo 4 até o final do livro, onde os julgamentos da tribulação são descritos, a Igreja não é vista na Terra novamente. Isso mostra que a Igreja não passará pela tribulação.

Quando falsas doutrinas são elaboradas de maneira prática, muitas vezes elas não fazem sentido. Este mesmo ponto sobre a Igreja e a tribulação é um exemplo. Se todos os santos são levados pelo Senhor ao céu depois da tribulação (como muitos ensinam), então quem será deixado para povoar a Terra milenar? Com os ímpios enviados para o castigo eterno, a Terra ficaria despovoada! (Os santos arrebatados para estar com o Senhor nos ares não voltam a viver na Terra; eles reinarão _sobre_ ela com Cristo nos **“lugares altíssimos”** Dn 7:18 – JND, 22, 27; 2 Co 5:1).

## **Três Coisas que Devem Acontecer** Antes **do Dia do Senhor**

Vs. 3-12 – Tendo identificado as fontes das falsas noções referentes ao **“dia do Senhor”**, Paulo prossegue corrigindo os equívocos dos tessalonicenses. Ele mostra que esse dia não poderia ser o **“presente”** porque certas coisas devem acontecer _antes_ que esse dia venha – e essas coisas claramente não aconteceram. Ele toca em _três_ coisas em particular – mas não em sua ordem cronológica:

Em _primeiro_ lugar, deve haver **“a apostasia”** da Cristandade. Isto se refere à falsa igreja (os professos sem fé que serão deixados para trás na Terra na época do Arrebatamento) abandonando a fé Cristã e voltando-se para adorar a besta e sua imagem – **“a abominação da desolação”** (Ap 13:11-18; Mt 24:15). Isso ocorrerá no meio da septuagésima semana de Daniel (Dn 9:27; 12:11). A apostasia já começou na profissão Cristã (1 Tm 4:1 – **“apostatarão alguns da fé”**), mas no dia vindouro, chegará ao seu ponto culminante na adoração generalizada da besta.

Em _segundo_ lugar, **“o homem do pecado”**, **“o filho da perdição”** (o “**anticristo**” – 1 Jo 2:18) deve ser revelado. A maioria dos Cristãos pensa que esse homem é a **“besta”** romana que governará o Império Romano (Ap 13:1-8) – também conhecido como **“a ponta** [**o chifre**] **pequeno”** (Dn 7:8, 20-21, 24-25) e **“o príncipe”** (Dn 9:26-27). No entanto, estes são dois homens diferentes: a besta romana é um homem gentio, enquanto o anticristo é um judeu (Dn 11:37). O anticristo é a segunda **“besta”** em Apocalipse 13:11-21, que se levantará na terra de Israel e será recebido por eles como seu messias (Jo 5:43). Esta besta é descrita como tendo **“dois chifres”** denotando seus dois ofícios: como o **“rei”** dos judeus (Is 8:21, 30:33, 57:9; Dn 11:36) e como o líder espiritual dos judeus **“O falso profeta”** (Ap 16:13, 19:20, 20:10). O anticristo será um representante direto de Satanás na Terra e será usado por Satanás para levar a apostasia ao extremo na adoração da besta. De fato, Ele imporá a adoração à besta e à sua imagem (Ap 13:15).

V. 4 – Paulo então nos diz que esse homem se deixará levar pela sua própria importância e não ficará satisfeito em ser o rei e o profeta dos judeus. Ele buscará a adoração de seus súditos, **“apresentando-se como Deus”**! (AIBB) Ele se sentará no **“templo”** em Jerusalém como um objeto de adoração. Isso mostra que haverá um templo literal em uso naquele tempo; a imagem da besta romana será colocada ali (Mt 24:15), e esse homem ímpio também se assentará ali. (Esse templo acabará sendo destruído pelos exércitos do rei do norte – Sl 74:3-7).

V. 5 – Paulo então pede aos tessalonicenses que **“lembrassem”** de que ele lhes ensinara essas coisas quando estava com eles. Como ele esteve lá por apenas três sábados, eles definitivamente ainda eram bebês em Cristo naquela época, mas ele não considerava a profecia um assunto muito profundo para eles. Alguns têm a ideia de que os novos convertidos não devem se ocupar com assuntos proféticos, mas é claro que Paulo não se sentia assim.

Vs. 6-7 – Uma _terceira_ coisa que ele menciona que ocorrerá antes do **“dia do Senhor”** é a remoção da restrição contra a **“injustiça** [**ilegalidade** – JND]**”** – particularmente no reino da besta. Esta restrição está sendo exercida hoje na Terra por meio de dois detentores:

-   **“**Aquilo **que o detém”** (v. 6).
-   **“**Aqu’Ele **que agora o detém”** (v. 7).

**“**Aquilo **que o detém”** refere-se ao princípio da lei e ordem no governo humano que Deus colocou na mão do homem para exercer após o dilúvio para conter o mal (Gn 9:5-6; Ec 5:8; Rm 13:1-7). J. N. Darby disse: “**‘Aquilo que o detém”**, portanto, é o poder de Deus agindo no governo aqui abaixo, conforme autorizado por Ele. O mais grosseiro abuso de poder ainda tem esse último caráter. Cristo poderia dizer a Pilatos: **‘Nenhum poder terias contra Mim, se de cima te não fosse dado.’** Por mais perverso que fosse, seu poder é possuído como vindo de Deus” (_Synopsis of the Books of the Bible_, em 2 Tessalonicenses 2). O Sr. Darby também disse: “**‘**Aquilo **que o detém’** no grego significa uma coisa. O que é isso? Deus não nos disse o que é, e isto, sem dúvida, porque a coisa que restringiu antes não é a mesma que restringe agora. Então, em certo sentido, era o Império Romano, como pensavam os pais, que viam no poder do Império Romano um obstáculo à revelação do homem do pecado, e assim oravam pela prosperidade daquele império. Atualmente, o obstáculo é a existência dos governos estabelecidos por Deus no mundo” (_Collected Writings_, vol. 27, págs. 302-303).

**“**Aqu’Ele **que agora o detém”** refere-se ao Espírito Santo residente na Terra na Igreja agindo para conter o mal em várias esferas. O apóstolo Paulo diz que o Espírito Se empenhará nesta obra **“até que do meio seja tirado** [**até que Se vá** – JND]**”**. Assim, está chegando o tempo em que o Espírito Santo não mais residirá na Terra. Como o Espírito habitará na Igreja **“para sempre”** (Jo 14:16), quando a Igreja for chamada para fora da Terra pelo Senhor no Arrebatamento, o Espírito também sairá da Terra naquele momento. E. Dennett disse: “O que Paulo ensina em 2 Tessalonicenses 2 é que a coisa que restringe a manifestação desse monstro de iniquidade no momento presente é a presença do Espírito Santo na Terra na Igreja” (_Christ as the Morning Star and the Sun of Righteousness_, pág. 46). A saída do Espírito da Terra não significa que Ele deixará de trabalhar na Terra. Ele continuará a trabalhar aqui, mas será do céu, como fez nos tempos do Velho Testamento.

Paulo disse que o **“mistério da iniquidade** [**desordem** – JND] **já opera”**. É chamado de **“mistério”** porque tem a ver com o funcionamento secreto do espírito de desobediência no mundo, opondo-se à vontade de Deus em todas as coisas, divinas e seculares, pela influência do diabo. Como um segredo desvendado, sabemos agora que há um fim na operação da iniquidade nos juízos do Senhor executados em Sua Aparição (v. 8). A repressão da iniquidade pelos governos das nações do Ocidente tem sido corroída desde os dias dos apóstolos. É por isso que Paulo disse que **“já opera”**. Como resultado, a iniquidade está aumentando, e continuará a fazê-lo até o dia vindouro em que a lei e a ordem se romperão completamente quando **“ele”** (o anticristo) for **“revelado a seu tempo”**. (TB). Da mesma forma, o segundo Detentor (o Espírito Santo) não está restringindo o mal como Ele já uma vez fez, porque Ele está Se tornando cada vez mais entristecido com aqueles na casa de Deus onde Ele habita (2 Tm 3:13). Mas quando o Espírito Santo é **“tirado do caminho”** (KJV) no Arrebatamento, o mal irá inundar em um ritmo acelerado.

Há, na verdade, uma _quarta_ coisa que acontecerá pouco antes do **“dia do Senhor”**, que Paulo não menciona. É o ataque dos assírios, o rei do norte (Dn 11:40-43). Quando seus exércitos entrarem e devastarem a terra de Israel, será um sinal de que o dia do Senhor está **“perto”** – isto é, prestes a acontecer (Joel 1:15, 2:1). O Senhor aparecerá do céu em julgamento, cerca de 18 dias após o ataque. Isso é calculado a partir do fim dos 1.260 dias (Ap 11:3, 12:6), que é o período da Grande Tribulação, até os 1.278 dias, que é o fim dos últimos 3 anos e meio da septuagésima semana de Daniel – quando o Senhor aparece do céu (Dn 9:27).

Como nenhuma dessas coisas aconteceu, está claro que a Igreja naquele dia não poderia estar passando pelos julgamentos relacionados com **“o dia do Senhor”**.

Vs. 8-9 – Paulo se apressa em nos dizer que, embora **“o iníquo** [**o sem lei** – JND]**”** (o anticristo) seja revelado naqueles dias depois que o Espírito de Deus for removido, seu domínio será curto. Ele durará apenas durante a segunda metade da semana profética (3 anos e meio), quando o Senhor o **“desfará** [**consumirá** – JND] **pelo assopro da Sua boca”** e **“o esplendor da Sua vinda”**. Ele será lançado vivo no lago de fogo (inferno) junto com a besta romana (Ap 19:20; Is 30:33).

V. 9 nos diz que a energia de Satanás impulsionará este ímpio em sua obra de enganar as massas no Ocidente com seus **“sinais e prodígios de mentira”**. Ele será a personificação do mal satânico.

Vs. 10-12 – Uma classe especial de pecadores será levada por seus enganos – aqueles que **“não receberam o amor da verdade para se salvarem”**. Paulo já os identificou como **“os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo”** (cap. 1:8). Essas pessoas conhecem o evangelho da graça de Deus, mas não fazem uso dele. Ser um povo iluminado os torna muito responsáveis, pois Deus responsabiliza os homens conforme o grau de luz que lhes foi dado (Lc 12:47-48). Com estas pessoas: **“melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado”** (2 Pe 2:21).

Como uma retribuição divina por rejeitar “**o amor da verdade”** no evangelho, essas pessoas que **“não creem”** serão entregues para crer na **“mentira”** do anticristo. Isto é por terem se afastado da fé Cristã e adorar a besta e sua imagem, que é apostasia. Deus enviou o evangelho a essas pessoas, mas elas não o receberam. Então, em retribuição, **“Deus lhes enviará a operação do erro”** por meio do trabalho do anticristo, e eles aceitarão sua **“mentira”**. Apocalipse 9:1-11 fala da obra maligna do anticristo na terra de Israel, enganando a massa dos judeus não selados e fazendo com que eles abandonassem o judaísmo indo após o culto da besta. Aqui nesta passagem, sua obra maligna está em conexão com enganar a massa apóstata na Cristandade.

## Suas Ações de Graças

Vs. 13-14 – Paulo se volta para agradecer a Deus porque os santos tessalonicenses não eram daqueles que rejeitaram o evangelho e, portanto, não seriam surpreendidos pelos enganos do anticristo e, consequentemente, pelos julgamentos do dia do Senhor. Ele diz: **“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”**. Ao dar graças a Deus por isso, é claro que Paulo desejava que eles pudessem ver sua salvação do lado da soberania de Deus. Na eternidade passada, Ele os havia **“elegido”** para **“salvação”**. Assim, era uma coisa certa e completa, no que diz respeito ao propósito de Deus, antes mesmo de Ele lançar os alicerces do mundo! Isto, diz Paulo, foi efetuado por meio de uma operação especial do Espírito Santo chamada **“santificação do Espírito”**. Isso tem a ver com o trabalho inicial do Espírito em uma pessoa de transmitir vida divina a ele, por meio da qual ela é posicionada à parte da massa da humanidade como sendo um dos filhos de Deus (1 Pe 1:2; Ef 2:5; Cl 2:13). O resultado desta ação soberana do Espírito será visto na pessoa em sua **“fé da verdade”** do evangelho, pela qual ela é salva. (A **“santificação do Espírito”**  _não_ se refere à obra progressiva do Espírito na vida dos crentes, pela qual eles aperfeiçoam a santidade em seu andar e caminhos.)

Mas isso não é tudo, pois Paulo continua falando da esperança do evangelho em que eles haviam crido, que é **“a obtenção da glória de nosso Senhor Jesus Cristo”**. Isso tem a ver com aspecto final de nossa salvação o qual ainda não temos, mas é tão seguro quanto à salvação de nossas almas. Refere-se a sermos glorificados como Cristo está glorificado. Isso acontece quando Ele vem no Arrebatamento (Rm 5:9, 13:11; Fp 3:20-21; Hb 9:28; 1 Pe 1:5).

Vemos nisso que Deus havia **“começado uma boa obra”** nos tessalonicenses, e Ele a **“completaria”** naquele dia vindouro com sua glorificação (Fp 1:6). Assim, a possibilidade dos julgamentos do **“dia do Senhor”** os alcançarem nunca está em questão quando é vista pelo lado de Deus. Vendo isso da perspectiva de Deus, com certeza confortaria os tessalonicenses e lhes daria paz quanto aos juízos vindouros.

## Sua Exortação

V. 15 – Com base nas coisas mencionadas acima, a exortação de Paulo aos tessalonicenses era dupla:

-   **“Ficar firmes”**.
-   **“Reter”**.

Ficar firme parece estar mais conectado com a verdade doutrinária que eles aprenderam com relação aos fundamentos do Cristianismo. Eles deveriam ter cuidado para não abrir mão de nenhum ponto dela (Pv 23:23). O perigo sempre presente para o Cristão é desistir da verdade que Deus lhe deu. Os Filadelfienses foram exortados: **“Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”** (Ap 3:11). Da mesma forma, Timóteo foi exortado: **“Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o bom depósito confiado”** (2 Tm 1:14 – JND). No entanto, é triste dizer, foi exatamente isso que aconteceu na história da Igreja. Somos, portanto, especialmente gratos pela recuperação da verdade no século XIX.

Reter tem mais a ver com continuar nas **“instruções”** (JND) práticas relativas a seus caminhos e maneiras. Essas instruções chegaram até eles por meio do ministério oral (**“por palavra”**) e de uma carta escrita pelo apóstolo (**“nossa epístola”** – uma referência à primeira epístola). Como não há apóstolos na Terra hoje para nos ensinar essas coisas pessoalmente, temos que obtê-las unicamente por meio das epístolas de Paulo que foram preservadas para nós pela misericórdia de Deus.

Os tessalonicenses em geral estavam indo bem; eles só precisavam continuar naquelas coisas, e não voltar atrás. A palavra **“retroceder”** não estava no vocabulário do apóstolo. Tornar atrás não era visto como uma opção e ele queria incutir essa mentalidade nos tessalonicenses.

## Sua Oração

Vs. 16-17 - Paulo então reitera o conteúdo de suas orações por eles. Essencialmente, foi assim: uma vez que Deus lhes havia dado amor, consolação, esperança e graça para iniciá-los no caminho Cristão, Paulo orou para que eles tivessem a força de Deus para seguir nesse caminho e se tornarem Cristãos estabelecidos. Isso envolveria não apenas conhecer a verdade e estar apto a ensiná-la aos outros em **“palavra”**, mas também demonstrá-la em suas vidas em **“obra”**. A KJV, ARC e ARF traduzem **“palavra e obra”**, mas deve ser traduzida: **“obra e palavra”**. Isso mostra que as pessoas devem ver a evidência da verdade em nossas vidas antes de falarmos dela com nossas bocas. Podemos nos condenar aos olhos dos outros quando eles veem inconsistência em nossas vidas em conexão com a verdade que ensinamos.  

# CONSELHO  
SOBRE AQUELES QUE ANDAM DESORDENAMENTE  
Capítulo 3

No capítulo 2, Paulo corrigiu o erro escatológico (eventos do tempo do fim) que havia surgido entre os tessalonicenses. Agora, no capítulo 3, ele corrige os problemas práticos que surgiram desse ensino defeituoso. O fato de uma coisa levar a outra enfatiza o velho ditado: “A má doutrina leva à má prática”. Estejamos cientes: o que doutrinariamente abraçamos e cremos, importa.

Neste capítulo, vemos que Satanás (**“o maligno”** – v. 3) estava trabalhando de maneiras diferentes para frustrar a obra de Deus. Isso não surpreende, pois ele sempre tenta se **“opor”** à obra do Senhor (Zc 3:1). Nos versículos 1-2, o vemos tentando impedir o evangelho de se pregado. Nos versículos 3-5, vemos que ele trabalha para impedir que os crentes se estabeleçam na fé e sigam as coisas que Paulo lhes ensinou. Nos versículos 6-16, vemos que faz com que alguns andem desordenadamente, e isto traz uma marca de desonra contra o testemunho Cristão. No capítulo 2, Paulo falou do **“mistério da iniquidade** [**desordem** – JND]**”**, culminando no homem do pecado, que é uma coisa futura. No capítulo 3, ele fala disso já em operação enquanto a Igreja ainda está na Terra – **“já opera”** (cap. 2:7).

Vs. 1-5 – Com as forças do mal contra o testemunho Cristão, Paulo pede as orações dos tessalonicenses a respeito da obra em que ele e seus cooperadores estavam empenhados de pregar o evangelho. Vemos a partir disso que não há vergonha para irmãos mais velhos e mais experientes que solicitam as orações de irmãos mais jovens. Alguns têm a ideia errônea de que o Senhor responderá mais prontamente à oração de um Cristão maduro do que um novo convertido – supondo que os Cristãos mais velhos tenham mais influência com Deus. A verdade é que Deus responde as orações de acordo com a disposição de Seu próprio coração, e se novos Cristãos orarem de acordo com a vontade de Deus, será respondido (1 Jo 5:14). O santo mais avançado deve ser grato pelas orações do mais jovem e humilde crente. O pedido de Paulo foi triplo:

-   Que a Palavra do Senhor tivesse **“livre curso [fluir]”**. Isto é, que a mensagem do evangelho não fosse impedida de fluir.
-   Que a Palavra do Senhor fosse **“glorificada”**. Isto é, que trabalhasse triunfantemente nas almas para sua bênção, e Deus obtivesse a glória por isso.
-   Que os mensageiros portadores da Palavra fossem **“livres”** das conspirações de **“homens perversos e maus”** (AIBB) que não têm fé. (Da história relatada em Atos 17, os tessalonicenses bem sabiam dos perigos deste serviço, tendo visto a perseguição em primeira mão).

Vs. 3-4 – Paulo estava confiante de que, apesar da oposição, **“o Senhor é fiel”** e Ele **“confirmaria** [**estabeleceria –** JND]**”** (TB) os santos tessalonicenses e os guardaria dos desígnios do **“maligno”**. Ele acreditava que as coisas que tinha ensinado a eles dariam frutos ao serem praticadas.

V. 5 – Paulo desejava que o Senhor direcionasse seus corações no **“amor de Deus, e na paciência de o Cristo”** (JND). Essa é a postura correta do Cristão enquanto ele aguarda a vinda do Senhor (o Arrebatamento). Devemos ser encontrados desfrutando do amor de Deus enquanto esperamos pelo Senhor. A KJV diz: **“na paciente espera** por **Cristo”**, mas o versículo deve realmente ser lido **“a paciência** do **Cristo”**. É verdade que devemos esperar que Cristo venha (Lc 12:36), mas o pensamento que Paulo está transmitindo aqui é que devemos ter o mesmo _caráter_ de espera paciente que o próprio Cristo tem enquanto Ele está assentado nas alturas à direita de Deus. Devemos esperar com o mesmo tipo de paciência que Ele tem. Chegará o momento em que o Pai dará ao Senhor Jesus a palavra para vir e nos levar, e Ele Se levantará imediatamente e dará o **“alarido”** para nos levar à casa do Pai (Jo 14:2-3; 1 Ts 4:15-17).

O comentário de Paulo aqui é algo muito necessário para nós, porque podemos nos tornar impacientes enquanto esperamos a vinda do Senhor. Podemos ficar cansados do caminho e irritados sob o estresse da vida Cristã. Podemos nos tornar como o servo infiel que disse: **“Meu senhor, tarda em vir** – AIBB**”** e **“começar a espancar**” nossos **“conservos, e a comer e a beber com os bêbados”** (Mt 24:48-49). Assim, entramos em conflito com nossos irmãos e nossos princípios de separação do mundo desmoronam.

V. 6 – As ideias errôneas a respeito da vinda do Senhor e do dia do Senhor já haviam dado fruto entre os tessalonicenses. Isso fez com que alguns andassem **“desordenadamente”**. Isso mostra que **“as más conversações corrompem bons costumes”** (1 Co 15:33). Como acreditavam que aquele dia havia chegado, pensaram que não haveria necessidade de continuar trabalhando em seus empregos regulares e, assim, pararam de trabalhar. Tendo feito isso, eles esperavam que os outros os apoiassem. Deixou-os com muito tempo livre em suas mãos e em sua ociosidade eles andavam **“intrometendo-se na vida alheia”** (AIBB) entre os santos.

Esta certamente não era a **“tradição** [**instrução** – JND]**”** que eles tinham recebido de Paulo. Na primeira epístola, ele lhes ensinara: **“procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos”**. Ele também explicou que, se não se mostrassem pessoas conscienciosas e diligentes, prestaria um testemunho negativo **“para com os que estão de fora”** (1 Ts 4:11-12). Essa situação que havia se desenvolvido entre os santos tessalonicenses era, portanto, algo que precisava ser corrigido.

Paulo continua a dizer-lhes como isso deve ser feito. Todos esses intrometidos deveriam sentir o descontentamento do Senhor para que se julgassem e corrigissem seus caminhos. Isso não deveria ser feito excomungando-os, como é o caso do homem imoral em 1 Coríntios 5. Esses “aproveitadores” não deveriam ser impedidos de participar da Ceia do Senhor, mas seriam retirados em assuntos de comunhão prática. J. N. Darby disse que eles deveriam ser tratados “friamente” e, assim, perceberem que estavam fora de sintonia com seus irmãos e com o ensinamento do apóstolo.

Vs. 7-10 – Paulo então aponta para o exemplo que ele e seus cooperadores lhes deram quando estavam em Tessalônica e ele os encorajou a **“imitar”** esse exemplo. Eles não **“comeram de graça o pão de homem algum”**. Eles trabalharam para se sustentar para que não fossem pesados aos tessalonicenses. Ele acrescenta: **“Não porque não tivéssemos autoridade** [**direito** – TB]**”**, mas para se tornarem um exemplo para os tessalonicenses seguirem. Seu lema era: **“se alguém não quiser trabalhar, não coma também”**.

Vs. 11-12 – Agora, diante de tal claro ensinamento, Paulo diz: **“Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes intrometendo-se na vida alheia** [**nos negócios alheios** – TB]**”** (AIBB).

Paulo então dá uma palavra pessoal para todos esses: **“A esses tais, porém mandamos** [**determinamos** – ARA]**, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão”**.

Vs. 14-15 – Tendo abordado os intrometidos, ele prossegue para falar à assembleia sobre sua conduta em relação aos tais. Ele diz: **“Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai** [**marcai** – JND] **o tal, e não vos mistureis** [**não mantenha companhia** – JND] **com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão”**. Isso deveria ser feito em nível individual; não era uma ação corporativa da assembleia.

## A Saudação de Encerramento

V. 16 – Paulo encerra a epístola deixando os tessalonicenses saberem que seu desejo era que **“paz”** reinasse entre eles. Ao afirmar isso, podemos ver que ele temia que a ação disciplinar em relação aos intrometidos que ele impunha aos tessalonicenses pudesse levar a uma ruptura na comunhão. Ele desejava que o Senhor estivesse **“com”** eles para resolver esse problema entre eles.

Vs. 17-18 – Paulo menciona assinar a epístola, que ele diz ser seu hábito em **“todas as epístolas”** que ele escreveu. Sua maneira normal de escrever era comunicar a mensagem a alguém que a escreveria e depois a assinaria, provando assim sua genuinidade. Ele menciona isso porque, aparentemente, houve uma carta de Paulo circulando entre eles que havia sido forjada com o seu nome nela (cap. 2:2). Ela não teria sua assinatura real e, portanto, não seria autêntica.

**“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo”** foi ordenada a todos eles.

# CONTRACAPA

O estabelecimento da assembleia em Tessalônica resultou dos trabalhos missionários de Paulo naquela região. Seu costume era ficar na área onde pregou para estabelecer os novos crentes que haviam se convertido por meio do seu trabalho, mas nesta ocasião ele foi forçado a interromper sua obra e se retirou por conta das perseguições que surgiram naquela cidade contra o evangelho. Parece que Paulo e seus cooperadores estiveram com eles por apenas três sábados – cerca de três semanas. Isso deixou esses novos convertidos precisando de ajuda espiritual e instrução.

Sendo confrontados com a situação de ter que cuidar de novos convertidos, poderíamos nos perguntar que tipo de coisas deveriam ser trazidas às almas recém-nascidas para ajudá-las no caminho da fé. Acreditamos que a resposta é encontrada nestas epístolas. Elas tratam dos assuntos mais básicos da vida Cristã e nos fornecem valiosas instruções de como cuidar de novos convertidos Assim, elas servem de guia para todos os que se importam com os novos crentes.

Enquanto a Igreja estiver na Terra e o evangelho da graça e glória de Deus for pregado, as pessoas serão salvas e haverá necessidade de cuidar dos novos crentes. Esta epístola, portanto, ocupa um lugar muito útil no cânon das Escrituras do Novo Testamento.

# Notas

[[←1](#calibre_link-33 "1")]

N. do T.: “_Strategema”_ no grego, significando manobra, tática ou ardil utilizados numa guerra com o intuito de enganar, sabotar ou confundir, e assim subjugar o oponente ou inimigo.

[[←2](#calibre_link-6 "2")]

N. do T.: Aporphanizo: Literalmente “órfão de”. Essa palavra única foi traduzida como “privado... e separado” para expressar a reiteração enfática da preposição grega “apo”.

[[←3](#calibre_link-21 "3")]

N. do T.: A teologia é o estudo de Deus. A palavra é formada a partir de dois termos gregos Theos, que significa “Deus” e logos, que significa “palavra” ou “estudo”.

[[←4](#calibre_link-13 "4")]

N. do T.: A soteriologia é o estudo da salvação humana. A palavra é formada a partir de dois termos gregos soterios, que significa “salvação” e logos, que significa “palavra” ou “estudo”.

[[←5](#calibre_link-8 "5")]

N. do T.: A eclesiologia é o estudo da doutrina Cristã. A palavra é formada a partir de dois termos gregos ekklesia, que significa “assembleia” e logos, que significa “palavra” ou “estudo”.

[[←6](#calibre_link-1 "6")]

N. do T.: A escatologia é o estudo do destino final do homem e do mundo. A palavra é formada a partir de dois termos gregos éskhatos, que significa “extremo” ou “último” e logos, que significa “palavra” ou “estudo”.

[[←7](#calibre_link-35 "7")]

N. do T.: Em Apocalipse 1:10 a palavra grega é _kuriakos,_ que aparece 2 vezes apenas na Escritura, e significa “pertencente ao Senhor”. Em latim é _dominica_, significando “dominical”. Assim, o “dia do Senhor” aqui refere-se ao “dia dominical” – o domingo. A outra utilização dessa palavra é em 1 Coríntios 11:20, referindo-se à “ceia dominical”.

[[←8](#calibre_link-19 "8")]

N. do T.: Aniquilacionismo é uma doutrina não bíblica que diz que os incrédulos serão aniquilados após a morte de seus corpos físicos, e que não irão viver uma eternidade de sofrimento no lago de fogo, mas serão “extinguidos” após a morte.
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