Bruce Anstey

As Coisas que Servem para a PAZ

Como Podemos Promover Unidade na Assembleia

Bruce Anstey

AS COISAS QUE SERVEM PARA A PAZ - Como Podemos Promover Unidade na Assembleia

Bruce Anstey

Originalmente publicado por:

CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING

12048 – 59th Ave.

Surrey, BC V3X 3L3

CANADÁ

Título do original em inglês: THE THINGS WHICH MAKE FOR PEACE

Primeira edição – junho 2006

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.

Primeira edição em português – março 2019

E-book v.1.0

Abreviaturas utilizadas:

ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969

ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993

TB – Tradução Brasileira – 1917

ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994

AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967

JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby

KJV – Tradução inglesa King James

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.

AS COISAS QUE SERVEM PARA A PAZ

COMO PODEMOS PROMOVER UNIDADE NA ASSEMBLEIA

(Lago Junaluska, 13 de maio de 2006)

Primeiramente vamos ler Romanos 14:19: “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros”. Agora em Efésios 4:1-4: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação [do chamado – JND] com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um só corpo”.

Eu me refiro a estes versículos como uma introdução. O que eu gostaria de falar nesta tarde é sobre “as coisas que servem para a paz”.

Nos primeiros três capítulos de Efésios, o apóstolo expôs a verdade do grande Mistério de Cristo e da Igreja. Ele falou da natureza e da unidade da Igreja como o corpo de Cristo, composta de crentes que vieram, tanto dos judeus quanto dos gentios. Como membros de Seu corpo (místico) estamos inseparavelmente unidos com Ele, a Cabeça, pela habitação do Espírito de Deus. Depois, nos últimos três capítulos da epístola, o apóstolo exorta os santos com base na verdade que ele expôs na primeira parte. O que lemos em Efésios 4 é a primeira dessas exortações. É a primeira e, talvez, a mais importante, ou seja, que deveríamos andar de um modo digno de nossa vocação ao expressarmos na prática que somos “um corpo”. Isso significa que Deus queria Seu povo andando junto em unidade visível aqui na Terra e Ele deu uma graça especial para assim fazermos (Ef 4:7).

Nós temos que “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, o que significa que temos que manter na prática aquilo que de fato é verdade. E o que de fato é verdade? É que somos um corpo! Deus quer que expressemos na prática a verdade do “um corpo”. “A unidade do Espírito” é a unidade prática a que o Espírito de Deus guiaria os santos. Alguém explicou deste modo: “É aquela que o Espírito de Deus está formando para dar expressão da verdade de um corpo”.

Não somos chamados para manter a unidade do corpo de Cristo. O próprio Deus a mantém intacta e nenhuma força ou mal pode quebrar essa unidade. Entretanto, “a unidade do Espírito” é uma coisa prática que somos responsáveis por manter. Deus mantém a unidade do corpo, e nós mantemos a unidade do Espírito. Bem irmãos, isso significa que se a paz tem que existir na assembleia, essa deve ser por meio de nossos esforços de acordo com a graça a nós dada. Deus não irá fazê-lo por nós, pois somos os responsáveis em mantê-la! E não é necessário dizer que nós, a Igreja, falhamos miseravelmente em manter essa unidade. Foi interrompida primeiramente em Atos 5:1-11 e depois outra vez em Atos 6:1-4. E, desde então, tem sido quebrada muitas vezes!

Que a paz e a unidade deveriam existir entre o povo de Deus pode ser visto no fato de que em cada epístola do Novo Testamento o escritor menciona seu desejo de que a condição de “paz” exista entre aqueles para quem ele escreveu, exceto uma, Primeira Epístola de João!

Suponho, em uma análise final, que cada um de nós é um pacificador ou um encrenqueiro na assembleia. Ou colaboramos para a condição de paz ou somos os catalizadores por detrás da ruptura da paz. Pode parecer que isso esteja sendo muito simplificado, mas meu ponto é que se não sou uma ajuda, sou provavelmente um empecilho, porque não parece que exista uma posição intermediária.

Notem que no versículo que li em Romanos 14 o apóstolo disse: “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz”. Mas, curiosamente, ele não especifica o que são essas coisas. Talvez o Espírito de Deus tenha feito assim para que nos exercitássemos sobre isso.

Gostaria de trazer diante de vocês algumas destas “coisas que servem para a paz” e assim todos poderemos nos exercitar sobre o que podemos fazer para promover paz na assembleia. Dificilmente eu estaria qualificado para falar sobre essas coisas, pois, eu mesmo certamente falhei nelas, mas elas devem ser trazidas perante nós para nosso exercício.

APEGAR-SE À HUMILDADE

Vejamos um incidente na vida e ministério do Senhor Jesus quando surgiu uma disputa entre Seus discípulos. Podemos obter algumas lições muito úteis de nosso Senhor sobre este assunto. Vamos abrir em Marcos 9:33-37: “E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas eles calaram-se, porque, pelo caminho, tinham disputado entre si qual era o maior. E Ele, assentando-Se, chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos. E, lançando mão de uma criança, pô-la no meio deles e, tomando-a nos Seus braços, disse-lhes: Qualquer que receber uma destas crianças em Meu nome a Mim Me recebe; e qualquer que a Mim Me receber recebe não a Mim, mas ao que Me enviou”.

Na segunda metade de Marcos 9, o Senhor apontou três grandes causas para a ruptura da paz entre os discípulos e, em seguida, estabeleceu um remédio para cada uma. A primeira coisa é querer ser grande.

Pouco antes disso, no Monte da Transfiguração, os discípulos foram privilegiados por ter um vislumbre do reino vindouro. Ver o Senhor em Sua glória oficial quando Ele reinaria em poder em Seu reino, deu origem a alguns pensamentos e desejos carnais entre os discípulos. Eles especularam sobre quem entre eles teria o maior lugar no reino, mas isso só criou uma disputa.

O desejo de “ser o primeiro” (Mc 9:35) tem sido a causa de muita contenda entre o povo do Senhor ao longo dos anos. Eu compreendo que ninguém nunca vai sair e dizer que quer ser grande ou proeminente entre os seus irmãos, mas suas ações, muitas vezes, irão contar a história. Querer ter supremacia sobre nossos irmãos – tendo um lugar de importância – desperta um espírito de competição, que invariavelmente resulta em ciúme e conflitos, e na ruptura da paz. No fundo está aquele sutil inimigo – orgulho. Provérbios 28:25 diz: “O altivo de ânimo levanta contendas”. E outro provérbio diz: “Da soberba só provém a contenda” (Pv 13:10).

O Sr. C. Koehler costumava dizer que antes de ser salvo ele queria fazer algo de si mesmo no mundo. Então, quando ele foi salvo e veio entre o povo do Senhor queria fazer algo de si mesmo na assembleia. Mas ele disse que tinha que aprender que ambos os desejos estavam errados! Ele teve que aprender que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (1 Pe 5:5). Essa é uma lição que temos que aprender também!

Quando trabalhava na empresa atacadista de materiais de meu pai, havia certo indivíduo que trabalhava numa companhia concorrente que era bem conhecido por se achar importante. Seu nome era Morely Brown. Meu pai tinha cruzado com ele algumas vezes no local de trabalho de um cliente mútuo, e costumava nos contar sobre ele. Ele era uma figura grande e imponente que pensava muito em si mesmo. Eu tinha ouvido histórias sobre ele de outras pessoas também, e tinha curiosidade de conhecê-lo pessoalmente. Mas isso nunca ocorreu. De qualquer modo, basta dizer que sua reputação ia adiante dele. Um dia ouvimos dizer que a empresa para a qual trabalhava faliu. Fizemos contato com a empresa falida e acabamos comprando uma parte do inventário ao preço de 25% e 30% do valor. Num velho armazém havia apenas a pessoa que tinha sido nosso contato e o chefe do armazém que tinha estado na empresa por anos. Enquanto estávamos trabalhando, pensei que esta seria uma boa oportunidade para perguntar sobre Morely Brown. Ele disse: Morely Brown? Todos nós o odiávamos! Tínhamos um apelido para ele que usávamos secretamente. Nós o chamávamos de “O gordo e estufado Brown”! A parte triste é que Morely Brown não sabia que sua arrogante confiança e importância própria faziam dele uma pessoa desagradável. Tenho certeza de que ele ficaria surpreso ao saber que as pessoas não o apreciavam.

Agora, irmãos, pode ser possível que nos comportemos na assembleia de tal maneira que as pessoas digam às nossas costas: “Lá vai o estufado irmão, fulano de tal!” Chegamos ao salão de reuniões com um ar de importância? Não devemos usar a assembleia como um local para exaltar a nós mesmos, mas nossas ações dizem sobre nós, sem percebermos isso. Outros podem ver isso em nós, mas muitas vezes nós não podemos. Lembremo-nos de que “qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (Lc 18: 14).

O Senhor dirigiu-se aos apóstolos que desejavam “ser o primeiro”, dando-lhes uma lição objetiva sobre humildade. Primeiro, “assentando-Se”, os chamou. Tomar um lugar baixo para se dirigir aos discípulos era uma ação simbólica apontando para a necessidade de sujeição e humildade. Ele então “lançando mão de uma criança” e colocando-a em Seu colo disse-lhes para “receber” uma criança em Seu nome. Isso não é lindo? O Senhor Jesus era tão humilde que teve tempo para as crianças! Suponho que receber uma criança significa ajudar a criança de alguma forma, e isso seria uma coisa insignificante aos olhos da maioria das pessoas. Não é algo que faz uma pessoa se destacar publicamente, mas Deus vê isso e aprova tal trabalho. Nisso, o Senhor estava ensinando a Seus discípulos que eles deveriam se contentar em servir fazendo pequenas coisas que poderiam não ser notadas pelos outros.

Mas tal coisa é contrária à natureza humana. Queremos fazer as coisas para sermos notados, mas precisamos julgar nossos corações sobre isso. Queremos ir a algum país distante para distribuir folhetos, porque isso nos fará notados? Você poderá ter o seu nome no “Notes Of Interest” (publicação bimestral nos Estados Unidos entre os irmãos), mas esta não é a razão porque deveríamos servir o Senhor. Talvez sua assembleia promova alguma atividade; é interessante ver quem é voluntário para os trabalhos que os fazem ser notados! Já vimos irmãos mais novos em conferências querendo orar ou dizer alguma coisa, mas quando chega a hora da oração pelo evangelho na sala dos fundos, eles não estão lá! Não quero desencorajar nenhum de nossos irmãos mais jovens a participar das reuniões, mas pense em como isso será visto. Tal comportamento não ajuda em nada, apenas nos deixa pasmados.

Tivemos o prazer de ter o irmão Cam Wilkin e sua esposa em nossa casa recentemente. Conversamos sobre os irmãos mais velhos que nos passaram um conselho útil. Pedi-lhe que me contasse sobre os conselhos que recebeu. Ele me deu uma joia digna de nota. Ele disse que o velho irmão Millar (já com o Senhor há muito tempo) disse a ele: “Cameron, mantenha-se pequeno, aqueles que ficam grandes são removidos” – Que bom conselho foi esse!

Quando nos ocupamos com nossa importância, estamos em uma zona de perigo, pois não estamos pensando com sobriedade. Paulo disse: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12:3 – ARA). Eu simplesmente amo o versículo, “não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes”. A tradução de J. N. Darby diz, “… indo junto com os humildes” (Rm 12:16). Esse é o caminho para nós.

Estivemos lendo o evangelho de Lucas em casa e a única pessoa que encontramos (corrija-me se estiver errado) que o Senhor especificamente entrou em sua casa foi um homem de pouca estatura – Zaqueu. Isso não é significativo? O Senhor habita com aqueles que são de pouca estatura, espiritualmente falando! Isso me faz lembrar Isaías 57:15: “Pois assim diz o Altíssimo e Santo que habita a eternidade, e cujo nome é Santo: Eu habito no alto e santo lugar, e com aquele que é de espírito contrito e humilde” (JND). Estas são as duas moradas de nosso Senhor – no “alto e santo lugar” acima, e com os “humildes” e contritos aqui embaixo na Terra. Isso nos mostra que o Senhor não Se identificará com os que são grandes e poderosos. Jeremias disse a Baruque: “Buscas tu para ti mesmo coisas grandes? Não as busques” (Jr 45:5 – TB). Essa é uma boa palavra para nós.

Pedro nos exorta: “E cingi-vos todos de humildade uns para com os outros” (1 Pe 5:5 – AIBB). Se chegarmos a um impasse na assembleia onde possa haver uma disputa sobre alguma coisa, o remédio é ‘se rebaixar’ – tomar um lugar baixo. Sr. Darby disse: “A submissão é o princípio de cura da humanidade”. Ele também disse: “O orgulho é a causa da divisão e a humildade é o segredo da comunhão”.

Lembro-me de ter ouvido falar de um homem que estava viajando em um desfiladeiro nos Andes com sua mula totalmente carregada. A estrada era extremamente estreita, o suficiente para apenas um viajante de cada vez. A estrada era esculpida na montanha com um precipício íngreme do lado. Ele seguiu em frente, uma curva após outra. Quando chegou a uma curva, o que você acha que ele viu? Outro homem com sua mula totalmente carregada olhando para ele! O que eles iam fazer? Os dois homens discutiram as possibilidades. Perguntaram um ao outro se podiam se lembrar da distância de algum lugar onde o caminho se alargava para que dois pudessem passar. Talvez eles pudessem conduzir os animais até aquele ponto. Outra ideia era descarregar os animais. Mas enquanto os homens discutiam, as duas mulas resolveram o problema. Uma ficou de joelhos e chegou o mais perto possível da montanha, então a outra deu um passo em torno dela! Veja: isso é a própria natureza ensinando você! (1 Co 11:14).

Esta é realmente a resposta para cada impasse que possamos ter na assembleia. Cada um de nós deve descer, estimando o outro superior do que a si mesmo! (Fp 2:3). É a forma como cada assembleia local deve “operar” a sua “salvação com temor e tremor” – que é o verdadeiro significado desse versículo (Fp 2:12). Somos responsáveis por operá-la, imitando o padrão de Cristo que a Si mesmo Se humilhou (Fp 2:5-8). Cada um fazendo isso, a assembleia fica a salvo das invasões do inimigo que está procurando estragar a unidade.

O problema com o orgulho é que não podemos vê-lo em nós mesmos. Assim como Morely Brown, que imaginava ser bem considerado por todos, podemos ser enganados por nossa importância própria. Havia um homem de quem o Sr. Hayhoe costumava nos contar que tinha orgulho de ser humilde! Eram os dias da Grande Depressão e aquele irmão estava criticando outro por gastar dinheiro desnecessariamente. Ele disse: “Eu não vou gastar dinheiro em roupas, eu vou me virar com as roupas que eu tenho!” Quando o irmão dobrava os braços, seu cotovelo podia ser visto através de um buraco em sua camisa. Sr. Hayhoe disse que dava para ver o orgulho saindo através do furo!

Querer ser grande é um sinal claro de que não estamos verdadeiramente vivendo na presença do Senhor, porque nenhuma carne se glorifica em Sua presença (1 Co 1:29). Na verdade, estamos deixando todo mundo saber do nosso estado real – mesmo que nós mesmos não o saibamos. Assim, o remédio para querer ser grande é entrar, de fato, na presença do Senhor e então seremos humildes. O profeta Miqueias disse: “que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6:8).

JULGAR UM ESPÍRITO CRÍTICO

Enquanto o Senhor falava sobre receber os pequeninos, João lembrou-se de um homem que eles viram, o qual, acreditavam, devia ser rejeitado. Ele disse: “Mestre, vimos um que, em Teu nome, expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue” (Mc 9:38). Sem dúvida, ao dizer isso ao Senhor, João pensava que iria receber d’Ele tapinhas nas costas e Sua aprovação quanto ao que foi dito ao homem. Mas, em vez disso, o Senhor, nessa passagem, mansamente repreendeu o seu espírito crítico e censurador, dizendo: “Não lho proibais, porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e possa logo falar mal de Mim. Porque quem não é contra nós é por nós. Porquanto qualquer que vos der a beber um copo de água em Meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão” (Mc 9:39-41). Nisso, o Senhor apontou uma segunda coisa que seguramente perturba a paz entre os santos – ser crítico com os outros.

Você pode ver como o criticismo teria naturalmente surgido nos corações dos discípulos. O que aquele homem estava fazendo era particularmente embaraçoso para os apóstolos, porque era algo que eles não podiam fazer! Um pouco antes no capítulo, um homem veio até eles e lhes pediu para expulsar um espírito maligno de seu filho, mas “não puderam” (Mc 9:18). E aqui se deparam com um homem que estava expulsando demônios – a coisa exata que não podiam fazer! Naturalmente, não gostaram e acharam culpa nele. Oh, irmãos, sejamos cuidadosos ao ter descontentamento pela excelência de outra pessoa. Encontrar defeito nos outros normalmente tem o próprio EGO por detrás! Muitas vezes, quando uma pessoa quer se colocar à frente, vai rebaixar a outros. É uma coisa comum e temos visto isso frequentemente.

Isso me lembra duma história que D. L. Moody, o famoso pregador do século 19, costumava contar sobre si mesmo. Ele e Sankey estiveram na Inglaterra em uma turnê de pregação e encontraram um jovem chamado Henry Moorhouse, que pregou e também disse que gostaria de ir para a América e pregar. Então o Sr. Moody o convidou para ir a Chicago pregar em sua igreja, pensando que o homem nunca iria. Bem, algum tempo depois, quando Moody estava de volta na América, ele recebeu um telegrama de Nova York de Henry Moorhouse, perguntando se estaria bem ele ir a Chicago para pregar. Moody relutantemente lhe disse para ir, mas disse que ele não estaria lá, pois tinha um compromisso anterior em outra cidade. Moorhouse foi e pregou sobre João 3:16 – o amor de Deus. Noite após noite ele usou a mesma passagem e teve um efeito significativo em seus ouvintes. Quando Moody voltou, perguntou à esposa como o inglês estava se saindo. Ela não sabia como responder a ele, então disse: “Bem, ele não prega do modo como você prega”. Moody disse, “Logo de cara eu não gostei dele!” Mas o Sr. Moody foi ouvi-lo pregar naquela noite e aquilo teve um efeito tão profundo sobre ele que mudou sua pregação para toda a vida. Moody sempre pregava mensagens do evangelho sobre o fogo do inferno, mas aquele homem conquistava as almas por meio do amor de Deus. Henry Moorhouse tornou-se conhecido como “o homem que abalou o homem que abalou o mundo!” No final, o Sr. Moody teve que engolir suas palavras. Eu acho que o velho ditado, “Em boca fechada não entra mosquito!” ainda é verdadeiro. Talvez não gostemos de alguém porque está fazendo algo pelo Senhor que não é exatamente como pensamos que deveria ser feito, mas isso não é bom. Não vamos ser críticos.

Nas palavras de João, podemos ver qual era realmente o problema dos discípulos. Ele disse: “(nós) vimos um que, em Teu nome, expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue”. Observe quantas vezes João usa “nós” e “nos”. Isso mostra que os apóstolos perderam de vista que o Senhor era o centro e se viam como sendo o centro das coisas! E julgaram a obra daquele homem de acordo com isso. Desnecessário será dizer que o foco deles estava totalmente errado.

Irmãos, precisamos nos proteger de um espírito partidário. É tão fácil cair nisso. Tanto nos tem sido dado – estou falando dos privilégios de sermos reunidos ao nome do Senhor – mas temos que ter cuidado para não pensar que estamos acima de outros Cristãos. É somente pela graça que o Senhor nos reuniu ao Seu nome. Não temos nada para nos orgulhar. Se formos um testemunho, seremos do fato de que a Igreja, como testemunho público do Senhor, está em ruína. Não haveria testemunho remanescente se não houvesse ruína. Isso certamente não é algo para se orgulhar!

Você encontrará nas Escrituras que sempre que o povo desviava os olhos do Senhor e se ocupavam consigo mesmos e com seus privilégios, Deus pronunciava um juízo por meio do qual esses privilégios eram tirados. Vê-se isto em 1 Samuel 4 quando os filhos de Israel estavam numa batalha contra os filisteus. Eles estavam fracos e pensaram que se eles levassem a arca para o campo de batalha iriam ganhá-la. Eles disseram: “Tragamos (nós) de Siló a arca do concerto do Senhor, e venha no meio de nós, para que nos livre da mão de nossos inimigos” (1 Sm 4:3). Observe, novamente, que era tudo “Nós”! Quando a arca chegou entre eles, gritaram com grande voz. Era uma espécie de júbilo porque tinham a arca e porque eram o povo escolhido de Deus. Não que isso não fosse verdade, mas o foco deles estava em si mesmos e não no Senhor, e Ele não Se identificaria com isso, e permitiu que a arca fosse tomada deles.

De novo, nos dias de Jeremias, o povo estava fraco, e se gloriava no fato de que pertenciam a um lugar onde a presença do Senhor estava, e onde Ele tinha colocado Seu nome, dizendo: “Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr 7:4). O Senhor disse (por meio de Jeremias) que deveriam se lembrar do que aconteceu em Siló, onde Ele estabeleceu Seu nome inicialmente. Ele tirou o Seu nome de Siló e iria tirar deles também em Jerusalém (Jr 7:12-16).

Também nos dias de Miquéias, o profeta disse: “edificando a Sião com sangue e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de vós, Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque” (Mq 3:10-12). As pessoas estavam fracas e ocupadas com Jerusalém como o centro divino onde a presença do Senhor estava, mas novamente, o Senhor prometeu tirar o centro divino deles.

E em Apocalipse 3:14-22, a assembleia em Laodicéia estava ocupada com ela mesma e com o que tinha, mas pouco sabiam que o Senhor estava prestes a vomitá-los da Sua boca! Não é um alerta para nós? O que o Senhor fará conosco hoje se estivermos ocupados com o nosso lugar no centro divino de reunião? Ele nos humilhará como Ele prometeu fazer com Seu povo Israel. “Porque então tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no Meu monte santo. Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor” (Zc 3:11-12). Talvez seja por isso que temos tais dificuldades.

O Senhor repreendeu os apóstolos por terem um espírito crítico para com aquele homem que evidentemente não era contra eles. O homem não estava andando no caminho em que o Senhor chamou os apóstolos, mas eles deveriam deixar isso com Deus. Note: o Senhor não disse a Seus discípulos para se juntarem ao homem. E eu não acredito que o Senhor queria que nós seguíssemos um caminho pelo qual outros Cristãos podem estar andando, só porque pode haver alguma bênção aparente nele. Estamos cercados de denominações religiosas que professamente dizem estar fazendo algo para o Senhor, mas Ele nos chamou para fora disso. Reunimo-nos somente em Seu nome. Devemos deixar isso com o Senhor. Isso me lembra de “Eldade” e “Medade” que permaneceram no campo e profetizaram. Josué falou a Moisés, mas Moisés disse: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito!” (Nm 11:29). Note novamente, que Moisés não disse a Josué para se juntar a eles. Ele devia deixá-los com Deus. Paulo tinha a atitude apropriada quando disse: “Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda” (Fp. 1:18).

Assim, não vamos nos concentrar em nós mesmos, e nem nos erros de outras pessoas como parece ter ocorrido com o profeta Isaías. Ele era como um homem em um quarto com seis janelas. Ele olhou por uma janela e viu o monopolista, e lamentou: “Ai!” (Is 5:8-9). Ele olhou pela outra janela e viu o bêbado, e gritou: “Ai!” (Is 5:11-12). Ele se virou e olhou pela terceira janela e viu o libertino e novamente gritou: “Ai!” (Is 5:18-19). Ele olhou pela quarta janela e viu o hipócrita, e gritou outro “Ai!” (Is 5:20). Depois olhou para a quinta janela e viu o filósofo satisfeito com sua sabedoria, e novamente gritou: “Ai!” (Is 5:21). Ele olhou para fora da sexta janela e viu os líderes e magistrados injustos, e clamou: “Ai!” novamente (Is 5:22-23). Isaías viu muitas coisas que não eram certas entre o povo de Deus, e ele lamentou com um “Ai” sobre tudo o que ele viu que estava errado.

Então no próximo capítulo (6) essas janelas se fecham e uma janela no topo de sua câmara é aberta. Através dela flui a glória de Deus e de repente Isaías vê a si mesmo à luz da santidade de Deus – como Deus o viu. Ele viu sua própria condição miserável e gritou um sétimo Ai, mas desta vez era sobre si mesmo! “Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros” (Is 6:5).

É fácil apontar as falhas de outros, mas lembre-se, “Aquele que joga lama perde chão!” Independentemente de quão verdadeira possa ser a falha, só as apontar não vai ajudar a melhorar a situação. Precisamos chegar ao sétimo Ai, por assim dizer, em nossas almas, onde veremos que fracassamos e contribuímos para o estado de fraqueza entre o povo de Deus. Precisamos ver que não somos melhores do que nossos irmãos. Só depois de Isaías colocar a mão em seu próprio coração e assumir seu próprio fracasso e parte na ruína entre o povo de Deus que o Senhor pôde usá-lo! No oitavo versículo, o Senhor o chamou para uma obra pela qual profetizaria para ajudar o povo de Deus. Ele ainda apontou os erros, mas também foi capaz de trazer os princípios da restauração, como visto no resto de suas profecias.

Em outra ocasião, os filhos dos profetas clamaram: “há morte na panela”. Eles podiam ver que algo estava errado. Mas não é preciso uma pessoa espiritual para identificar isso. As coisas que estão erradas são relativamente fáceis de identificar, mas é preciso um homem de Deus como Eliseu para trazer um remédio. Ele disse: “Trazei, pois, farinha. E deitou-a na panela” (2 Rs 4:38-41). Isso mudou tudo – o problema foi resolvido. A farinha fala de Cristo. Precisamos introduzir Cristo e Seus direitos, e então as questões serão resolvidas. Quando Cristo tem Seu lugar legítimo na assembleia haverá cura e bênção. “As mil peças de prata são para ti, ó Salomão [uma figura de Cristo], e duzentas, para os guardas do seu fruto” (Ct 8:12).

Este princípio é válido para este mundo também. Hoje o mundo está cheio de violência e corrupção, mas nos é dito no Salmo 72: “Ele [Cristo] descerá como a chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Nos Seus dias florescerá o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a Lua” (Sl 72:6-7). Quando Deus trouxer Seu Primogênito ao mundo e Ele tomar Seu lugar de direito, haverá paz e bênção.

TENHA CUIDADO PARA NÃO OFENDER EM PALAVRA OU AÇÃO

O Senhor prosseguiu e disse: “E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma grande pedra de moinho e que fosse lançado no mar. E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no Reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, ser lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:42-48).

Aqui, o Senhor toca em outra coisa que perturba a paz entre Seu povo – ofender com palavras ou ações. Oh! quão cuidadosos precisamos ser em tudo que dizemos e fazemos! Às vezes pensamos que se não temos intenção de causar dano, nem temos algum mau sentimento contra uma pessoa, não tem importância se dissermos algo negativo a seu respeito ou que a diminua. Muitas vezes o faríamos em forma de brincadeira, mas ainda assim isso machucará e ainda assim isso é errado.

Se verdadeiramente vivemos na presença do Senhor, aprenderemos Sua mansidão e Sua humildade. Ele disse: “aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11:29). Humildade mantém o ego baixo e mansidão cede seu lugar aos outros. Humildade é um caráter, mas mansidão é uma conduta. Alguém que é manso tem o cuidado de não ofender. É por isso que muitas vezes tem sido dito, “mansidão não ofende, e humildade não se ofende”. Alguém pode falar imprudentemente com seus lábios e ofender, mas se estamos vivendo em comunhão com o Senhor, seremos humildes o suficiente para não nos ofendermos com tais comentários. “Grande paz têm os que amam a Tua lei, para eles não há tropeço [ofensa – KJV]” (Sl 119:165 – ARA). No entanto, isso não nos dá licença para falar com as pessoas como quisermos.

Deus deu a cada um de nós um mostrador ou um filtro em nossas mentes que devemos usar ao interagir com os outros. Antes de abrirmos a boca, precisamos pesar o que vamos dizer no santuário de Sua presença. Você vai notar que as crianças não têm esse filtro, ou pelo menos não têm o discernimento moral para usá-lo. Elas apenas dirão o que vier à mente, e muitas vezes isso pode ser embaraçoso para seus pais. Mas quando ficamos mais velhos, nosso senso de discernimento moral começa a se desenvolver e filtramos as coisas que vêm à mente antes de deixá-las sair por nossas bocas. Aparentemente, no entanto, algumas pessoas, nunca desenvolvem isso. Elas são conhecidas por abrir suas bocas e deixar voar palavras descuidadas que deixam uma trilha de ofensa por onde passam. Precisamos orar: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141:3). Provérbios 13:3 diz: “aquele que abre grandemente os seus lábios, será destruído” (AIBB). Eu observei que aqueles que têm o hábito de criticar sem pensar no que falam são os que têm menor capacidade de aceitar as críticas quando elas vêm em sua direção!

Na passagem de Marcos 9, os apóstolos podem ter pensado que estavam sendo fiéis repreendendo aquele homem que expulsava demônios, mas na realidade eles estavam ofendendo-o. Algumas pessoas pensam que podem ofender as pessoas com suas observações e rotular tal atitude como sendo fidelidade. Elas pensam que são justificadas por falar de certa maneira, porque estão a favor da justiça, mas realmente é apenas a carne agindo. Podemos estar tão ocupados com a justiça – isto é, em fazer o que é certo – que perdemos nosso foco no Senhor. Mas o Cristianismo é mais do que apenas fazer o que é certo. O princípio que governa o Cristianismo não é justiça, mas graça que reina pela [por meio da – JND] justiça (Rm 5:21), caso contrário, se entrarmos nessa disposição mental (a da justiça), o inimigo de nossas almas poderá agir para nos enganar. Em 2 Coríntios 11:14-15 nos é dito que Satanás muitas vezes age num contexto de justiça. “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça …”

Não me entendam mal; a justiça não deve ser posta de lado, mas deve ter seu próprio lugar e, se assim for, levará “paz e alegria no Espírito Santo” para a assembleia (Rm 14:17; Tg 3:18). Mas se a justiça é o nosso foco, isso levará ao legalismo e Satanás certamente trabalhará nesse contexto para nos enganar. Digo mais uma vez: a “graça” deve “reinar por meio da justiça” (JND). Quando as pessoas adotam em um padrão “demasiadamente justo” (Ec 7:16), elas se transformam em críticos de ‘poltrona’ na assembleia e acabam sendo um estorvo para si próprios. Muitas vezes, esse espírito se manifestará passando a rondar a assembleia como se fosse um policial, gritando “Ai” por tudo e por todos que não alcancem os seus padrões.

Eu conheci um irmão jovem (que não está mais entre nós) que, por ser novo na assembleia não tinha convivido muito conosco, mas já tinha tido um confronto com quase todas as pessoas na reunião. Que testemunho vergonhoso! Se bem me lembro, ele sempre foi mais justo do que o resto de nós. Ao longo dos anos muitos foram enganados dessa forma, pois pensam que estão fazendo o certo, mas estão apenas buscando problemas, embora não percebam isso, pois pensam que são melhores do que seus irmãos. Eu ouso dizer que esse é um terreno perigoso para se estar.

Houve milhares que tropeçaram na pedra da justiça. Tivemos um irmão que deixou a assembleia por Deus! Em sua mente, ele tinha que sair, caso contrário, pensava estar desapontando o Senhor! Ele acreditava que era a única coisa certa a fazer; mas estava certo? Claro que não! Estar ocupado com a justiça pode se tornar um engano. Pensem em todos aqueles que partiram por causa das divisões nos últimos 150 anos. Eles fizeram o que fizeram porque pensavam que estavam sendo fiéis e ao lado de Deus. Eu lhes digo: se o Senhor não for o nosso foco e tivermos apenas a justiça diante de nós, em vez de ter a Ele, poderemos ser enganados pelo inimigo. Precisamos ter cuidado com isso, irmãos.

Como remédio para a ofensa o Senhor estabeleceu um princípio universal que pode ser aplicado a santos ou pecadores. Ele disse: “Se a tua mão te ofender, corta-a”. Ele disse o mesmo para o nosso “pé” e para o nosso “olho”. É claro que estava falando figurativamente. A questão é que tudo o que estamos fazendo com nossa “mão” ou “pé” ou “olho” que esteja ofendendo as pessoas e estragando nosso testemunho, por mais prezados que esses membros possam ser, devemos desistir deles. Em outras palavras, devemos praticar o julgamento próprio.

Para concluir as orientações acima, o Senhor tratou o estado de alma de Seus discípulos (vs. 49-50), o que se fez necessário para a implementação dessas coisas em suas vidas. Ele disse: “Tende sal em vós mesmos e paz, uns com os outros” (Mc 9:50). O sal nas Escrituras é uma figura da energia da devoção pessoal ao Senhor. Se houver real devoção de coração ao Senhor em nós, estaremos em um estado correto de alma, desejando somente Sua glória. Consequentemente, não seremos uma fonte de problemas entre nossos irmãos. Isso significa que alcançar uma condição de paz entre os irmãos começa por nós mesmos! Precisamos desenhar um círculo ao redor de nós mesmos e começar por aí. Se mantivermos nossa devoção ao Senhor (tendo “sal” em nós mesmos), estaremos em paz conosco e em paz com nossos irmãos. Um homem que não está em paz consigo mesmo não estará propenso a ter paz com os outros. Então seremos como Aser, que mergulhou seu pé em óleo e agradou a seus irmãos (Dt 33:24). O óleo é um tipo do Espírito Santo, e nossos pés falam do nosso andar. Essa é uma figura de alguém andando no Espírito. Se estamos fazendo isso, vamos manter o passo com nossos irmãos, como os homens de Zebulom que puderam “manter o posto” (1 Cr 12:33 – JND). Então seremos pacificadores e não perturbadores.

“Salgado com fogo” (Mc 9:49a) é uma referência à vida do crente como um sacrifício misturado com o julgamento próprio. “Fogo” é uma figura de julgamento. “Salgado com sal” (v. 49b) é uma referência à vida do crente como um sacrifício oferecido com uma garantia de inalterável devoção a Deus, uma aliança, por assim dizer, que não podemos voltar atrás. (Compare Nm 18:19).

RECONHECER E SE SUBMETER “AOS QUE PRESIDEM ENTRE VÓS” ADMINISTRATIVAMENTE

Agora vamos ver mais algumas coisas que irão promover a paz na assembleia. Vamos ler 1 Tessalonicenses 5:12-13: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, e que presidem sobre [entre – JND] vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós”. Aqueles que nós “reconhecemos” nesse contexto não são irmãos dotados que vão ministrar a Palavra, mas líderes na assembleia local. São os supervisores. Sob condições normais, seriam irmãos mais velhos que se “dedicaram” ao cuidado do rebanho nas assembleias locais (1 Co 16:15-16). Nos é dito aqui para dar-lhes honra e nos submeter a eles (1 Co 16:15-16; Hb 13:17). Esse é outro segredo para termos paz na assembleia.

Muitos problemas que têm a ver com a falta de paz em uma assembleia podem ser rastreados até chegar a irmãos mais jovens que não se submetem a seus irmãos mais velhos. Os mais novos que se envolvem nos assuntos administrativos da assembleia podem, às vezes, interromper a paz. Eles podem ter boas intenções, mas talvez não tenham os princípios, a sabedoria e a experiência necessários para um caso particular que surge diante dos irmãos. Se eles assumirem uma posição de divergência com seus irmãos mais velhos, isso causará tumulto na assembleia.

Um irmão mais velho me disse uma vez que aqueles que são, talvez, os mais difíceis de lidar são aqueles a quem chamou de “anciãos adolescentes”. Quando ele disse isso, eu perguntei a ele o que queria dizer. Ele explicou que eram aqueles que tinham cerca de 40 anos. Eles têm suas famílias, e talvez estejam razoavelmente bem em suas vidas, e podem começar a pensar que podem aplicar sua experiência nos assuntos administrativos da assembleia, e isso, geralmente significa problemas. Eles podem, por autoconfiança, querer desafiar seus irmãos mais velhos em assuntos onde eles deveriam ser antes aconselhados a ficar quietos (Sl 131:1). A resposta de Deus para isso é que se deve dar o devido respeito aos irmãos mais velhos, e seguir a liderança deles na assembleia, e assim, haverá paz.

Pode ser que a assembleia tenha que “remover” (1 Co 5:13 – JND) uma pessoa que seja fonte de “conflito” e “discórdia”. A Escritura diz: “Lança fora ao escarnecedor, e se irá a contenda; e cessará a questão e a vergonha” (Pv 22:10, 6:19). Em tal caso, o melhor é submeter-se à liderança dos irmãos mais velhos no assunto e não se deixar enredar e defender a pessoa. Muitas vezes, ele estará empunhando a bandeira da justiça, mas não se deixe enganar por esse manto de malícia. Um espírito partidário só dividirá a assembleia.

EXERCITE DOMÍNIO PRÓPRIO NO MINISTÉRIO DA PALAVRA

Vejamos outra coisa que ajudará a promover a paz na assembleia. 1 Coríntios 14:26-33 diz: “Que farei, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um tem salmo, tem ensino, tem revelação, tem língua, tem interpretação; que tudo se faça para edificação. Se alguém falar em língua, não falem senão dois ou, quando muito, três, e cada um por sua vez; haja um que interprete; mas se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo e com Deus. Falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem; se for dada alguma revelação a outrem que estiver sentado, cale-se o primeiro. Pois todos, um após outro, podeis profetizar, para que todos aprendam e todos sejam exortados [encorajados – JND]. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas, porque Deus não é Deus [Autor – KJV] de confusão, mas de paz. Como em todas as igrejas dos santos”.

O último versículo indica que Deus deseja que haja “paz” nas reuniões da assembleia, pois Ele é o “Autor” da paz. Essa passagem nos dá três coisas que regularão o exercício dos dons na assembleia e, se forem seguidos, haverá paz.

O apóstolo censurou os coríntios por causa da confusão que existia em suas reuniões. Ele mencionou que cada um deles parecia ter algo a dizer, fosse o assunto ligado ou não com o que os outros estavam falando. Todo mundo queria falar, e isso levou à confusão. Parafraseando o versículo 26, o apóstolo estava dizendo: “Como pode ser, irmãos, que suas reuniões sejam algo ‘livre-para-todos’?” Estive em reuniões que foram assim. Os irmãos, por assim dizer, tropeçavam entre si. E muitas vezes o que era dito não tinha ligação com o que os outros estavam dizendo – parecia desarticulado e confuso. Se esse tipo de coisa caracterizar nossas reuniões, como poderemos esperar que os santos que estão ouvindo entendam e se beneficiem com isso? Paulo diz-lhes: “Isso não deveria ser assim”. Mesmo que possa haver diversos irmãos participando, a reunião deve fluir suavemente.

O apóstolo segue falando do remédio para essa confusão. Primeiro há a necessidade de dar lugar à liderança do Espírito. Ele não se refere ao Espírito diretamente, mas por implicação, dizendo: “Faça-se”, “haja”, “esteja”, “fale”, etc. Ao conjugar os verbos com sujeito indeterminado ele faz uma referência à direção do Espírito na assembleia e à nossa permissão para que Ele guie e conduza. Temos que “deixá-Lo” conduzir e entender que podemos impedir a obra do Espírito na assembleia. Na verdade, sempre que temos um sujeito indeterminado nas exortações do Novo Testamento, faz-se referência à nossa responsabilidade de nos afastarmos do caminho e de não impedir que o Espírito e a nova vida em nós façam as coisas que naturalmente desejam fazer. Por exemplo, “Permaneça a caridade fraternal” (Hb 13:1). O Espírito de Deus e a nova natureza no crente querem fazer exatamente isso, mas temos que nos certificar de que não estamos impedindo que isso aconteça. Se deixarmos que o Espírito de Deus guie o ministério, haverá “paz” na assembleia.

Uma segunda coisa que regulará o ministério na assembleia é vista no versículo 32. “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”. Isso significa que aqueles que participam das reuniões devem estar sujeitos aos seus próprios espíritos. Em outras palavras, devemos exercitar domínio próprio. O “espírito” do profeta aqui não é o Espírito Santo, mas o nosso espírito humano – a parte inteligente e consciente de Deus em nosso ser. Haverá momentos na reunião em que um pouco de bom senso ou inteligência diria para você recuar, esperar e exercer domínio próprio.

Tenho visto irmãos ficarem com tanta comichão para falar que dificilmente conseguem ficar sentados em suas cadeiras! Parece que pensam que o que têm para dizer é tão importante que precisa ser dito a qualquer custo. E isso nos leva de volta ao nosso primeiro ponto que é o de ficarmos ocupados com nossa importância própria. Diz em Levítico 21 que o homem que tinha “sarna” estava desqualificado para ministrar no santuário! Fala de alguém que não pode controlar seu espírito. Invariavelmente, tais pessoas perturbam a paz da assembleia.

Isso me lembra dum homem há anos que estava se afogando no Lago Michigan. Ele estava afundando pela conhecida “terceira vez”, quando clamou ao Senhor em desespero, tendo sido salvo, não apenas do afogamento, mas também salvo de uma eternidade perdida, por meio da fé em Cristo. Ele era realmente convertido e passou a se reunir com os irmãos na assembleia de Chicago. Recém-salvo, estava cheio de zelo e ânsia de aprender a verdade e frequentemente fazia perguntas na reunião e falava coisas que muitas vezes estavam fora do contexto. Chegou ao ponto em que suas interrupções estavam sendo perturbadoras. Podemos dizer que ele estava “com sarna” para falar. Um dia, quando o irmão se levantou, o Sr. Potter (o que mais ministrava naquela assembleia) virou-se na cadeira e disse: “Irmão, acho que você precisa de mais uma afundada no lago!” O problema era que o irmão não estava exercendo domínio próprio sobre seu espírito. Se aprendermos a controlar nosso espírito no ministério, haverá “paz” na assembleia.

Uma terceira coisa que regula o ministério é: “falem dois ou três profetas, e os outros julguem” (v. 29). O julgamento aqui refere-se a um julgamento administrativo da assembleia para “silenciar” uma pessoa, pelo qual sua boca é calada. A assembleia deve fazer isso se uma pessoa não estiver sujeita à liderança do Espírito e não controlar seu próprio espírito. Mostra que a assembleia tem um recurso se alguém perder o controle e participar de uma forma carnal e sem proveito.

Já ouvi falar de pessoas que usam o ministério para atirar flechas uns nos outros! Irmãos, isso é apenas a carne. Não é ministério dirigido pelo Espírito. Na realidade, é uma maneira disfarçada de brigar, só que não estamos enganando ninguém. Mesmo as pessoas mais jovens podem dizer o que está acontecendo. Este tipo de coisa deve ser interrompido e o versículo acima nos diz que a assembleia tem a autoridade para fazê-lo.

DESARME A MALÍCIA COM ATOS DE BONDADE

Vamos ler agora Romanos 12:18-21: “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; Eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. Essa exortação é ampla o bastante para ser aplicada tanto aos santos quanto aos pecadores. Podemos nos exercitar nisso com incrédulos que não gostam de nós, assim como com aqueles entre nossos irmãos que talvez não gostem de nós. O ponto aqui é que podemos promover a paz com os outros (pacificamente), desarmando sua maldade com atos de bondade. Tais atos farão a pessoa ter vergonha de sua hostilidade e os conduzirá a mudar os pensamentos dela sobre você.

O fato de haver animosidade em um Cristão contra o outro, mostra que há algo seriamente errado. Certamente não é uma condição que Deus deseja entre Seu povo. A primeira coisa que o apóstolo diz na passagem é que não devemos pagar o mal com o mal. A ordem é “dai lugar à ira” – a ira de Deus, não a nossa. Devemos deixá-la com o Senhor que tratará com essa pessoa por Seus meios governamentais. Não é nossa esfera e nem nossa responsabilidade castigá-las, embora possamos achar que mereçam.

Você pode dizer, ‘“qual é a minha responsabilidade então? O que posso fazer a respeito?” Bem, o apóstolo está dizendo aqui que podemos fazer alguma coisa. Podemos tentar desarmar a maldade das pessoas, retribuindo com atos de bondade, para que sejam atingidas em suas consciências e se envergonhem da animosidade. No entanto, retribuir a animosidade de uma pessoa da mesma forma é deixar que o mal nos vença e isso nos fará descer ao nível dos meios maldosos dessa pessoa. J. N. Darby disse: “Se o meu mau humor colocar você de mau humor, você foi vencido com o mal”. Portanto, cabe a nós não deixar que isso nos aconteça! George W. Carver disse: “Eu nunca vou deixar outra pessoa arruinar a minha vida, fazendo-me odiá-la!”

Às vezes, uma pessoa guarda rancor contra outra, se afasta dela, e dá como desculpa que está procurando exercitar essa pessoa quanto ao seu erro. Isso pode parecer espiritual e piedoso, mas na realidade é apenas maldade. Dizer, “eu posso perdoar, mas não posso esquecer” é somente outra maneira de dizer: “eu não perdoarei!” Não enganamos ninguém quando falamos dessa maneira – mostra que temos um espírito implacável, e isso é tão claro quanto o dia! Podemos enterrar a machadinha, mas ainda segurar seu cabo! Somos advertidos de que, se prosseguirmos com esse tipo de coisa, uma “raiz de amargura” se manifestará na assembleia, e assim muitos serão “contaminados” (Hb 12:15). Isso também acontece quando as pessoas se envolvem em disputas pessoais e linhas são traçadas e lados são tomados o que resulta em divisão na assembleia. Isso é vergonhoso, mas acontece.

Mas alguém pode dizer: “E quanto à Lucas 17:3?” “Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe”. Diz que não devemos perdoar uma pessoa até que ela se desculpe. Com base nessa Escritura podemos nos sentir justificados e continuar com um rancor ou uma disputa contra alguém que nos ofendeu até que ele, arrependido, nos peça desculpas. O problema desta ideia é que isolamos um versículo e não estamos olhando para o assunto do perdão fraterno em sua totalidade, como a Escritura o apresenta. Lembre-se, uma das grandes máximas que têm a ver com a interpretação da Bíblia é que devemos interpretar as Escrituras à luz de todas as outras Escrituras.

Precisamos da luz de outras Escrituras sobre o assunto de perdão para compreender corretamente este verso. Somos informados em Mateus 18:35 que devemos “perdoar” em nossos “corações” todos os que nos ofendem. Não há nenhuma condição imposta nessa passagem dizendo que deve haver arrependimento e confissão do erro para que possamos perdoar. Isso significa que devemos ter um espírito de perdão para com os que nos magoam, mesmo que condições de hostilidade ainda existam neles. E isso não está contradizendo Lucas 17. Lucas supõe que chegará um tempo em que a pessoa reconhecerá o seu erro e então poderemos administrar esse perdão a ela formalmente. Nós já a perdoamos em nossos corações, mas então podemos fazê-lo com nossas bocas. Wayne Coleman, certa vez colocou desta forma: “Mantemos um reservatório de perdão em nossos corações para com essa pessoa, e quando ela se arrepende e assume o seu erro, abrimos as comportas e expressamos o nosso perdão formalmente”.

Assim, se alguém nos ofende, devemos ter nossos corações livres de rancor, mantendo um espírito de perdão para com ele. O Senhor nos adverte que, se não fizermos isso, seremos entregues aos “atormentadores” (Mt 18:34). Isso não está falando de juízo eterno, como alguns pensam, porque o Senhor sugere que há uma possibilidade de sair desse tormento, dizendo: “até que ele pagasse tudo”. Todos sabemos que não haverá libertação daquele juízo – ele será eterno! Fala antes de sermos entregues ao nosso próprio espírito implacável, o qual se torna o nosso atormentador. Cada vez que vemos, ou mesmo pensamos na pessoa contra quem guardamos rancor, somos atormentados com sentimentos maldosos. Trata-se de uma ação governamental de Deus, ensinando-nos em Sua escola que não é proveitoso ter um espírito imperdoável para com alguém.

Enquanto isso, conforme Deus trabalha no coração do ofensor para trazê-lo ao arrependimento, devemos mostrar-lhe um amor genuíno, expresso em atos de bondade. Isso tocará sua consciência, por meio da qual se envergonhará de sua maldade, e se julgará a si mesmo. Vemos que não só precisamos ter um espírito de perdão, mas também devemos ter um espírito benevolente para com aqueles que mostram animosidade em relação a nós. Agindo assim, estaremos fazendo a nossa parte para promover a “paz” na assembleia.

H E. Hayhoe disse que houve um tempo em que alguns de seus irmãos locais não gostavam dele. Ele chegou mesmo a ouvi-los falando dele entre si. Então ele foi para seus irmãos mais velhos e pediu-lhes conselho. Eles disseram: “Permaneça com o Senhor, e eles mudarão de ideia!” E isso foi exatamente o que aconteceu!

UM RESUMO DAS COISAS QUE PODEMOS FAZER PARA AJUDAR A PROMOVER A PAZ E A UNIDADE ENTRE O POVO DO SENHOR

Falei sobre diversas coisas que podemos fazer que “servem para a paz” na assembleia. Eis um resumo do que foi dito:

  1. Comprometer-se em humildade.

  2. Julgar nosso espírito crítico.

  3. Ter cuidado para não ofender em palavra ou ação.

  4. Reconhecer e se submeter aos que presidem entre nós administrativamente.

  5. Exercer domínio próprio no ministério da Palavra.

  6. Desarmar a maldade com atos de bondade.

Que Deus nos dê a graça de procurar “a paz da cidade” (Jr 29:7) fazendo essas coisas. “Quão bom e quão agradável é que os irmãos vivam em unidade!” (Sl 133:1 – JND).

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