A TRANSIÇÃO DO JUDAÍSMO AO CRISTIANISMO NO EVANGELHO DE JOÃO
As Distintas Características do Cristianismo no Ministério do Senhor
Bruce Anstey
A TRANSIÇÃO DO JUDAÍSMO AO CRISTIANISMO NO EVANGELHO DE JOÃO
As Distintas Características do Cristianismo no Ministério do Senhor
Bruce Anstey
Originalmente publicado por:
12048 – 59th Ave.
Surrey, BC V3X 3L3
CANADÁ
Título do original em inglês: THE TRANSITION FROM JUDAISM TO CHRISTIANITY IN JOHN’S GOSPEL
Primeira edição – setembro 2012
Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:
ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.
atendimento@verdadesvivas.com.br
Primeira edição em português – outubro 2018
E-book v.1.1
Abreviaturas utilizadas:
ARC – João Ferreira de Almeida – Corrigida e Revisada – SBB 1969
ARA – João Ferreira de Almeida – Corrigida e Atualizada – SBB 1993
TB – Tradução Brasileira - 1917
ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994
AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira - 1967
JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby
KJV – Tradução inglesa King James
Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.
A TRANSIÇÃO DO JUDAÍSMO AO CRISTIANISMO DELINEADA NO MINISTÉRIO DO SENHOR NO EVANGELHO DE JOÃO
INTRODUÇÃO
O evangelho de João apresenta o Senhor Jesus Cristo como o Filho de Deus. Embora observando vários atributos de Sua deidade, o tema do Espírito de Deus em todo o evangelho observa uma transição da dispensação da Lei para a dispensação da Graça de Deus. Assim, este evangelho apresenta o “desabrochar” do Cristianismo, antes de a nova dispensação ter, na verdade, começado. Em quase todos os capítulos, há um elemento de Cristianismo abordado, indicando que, nos caminhos de Deus, a mudança dispensacional estava chegando.
João é o único escritor do Novo Testamento que escreveu depois de a nação de Israel ter sido literalmente colocada de lado, o que ocorreu no ano 70 d.C. Ele escreveu por volta de 90 d.C., quando o Cristianismo estava totalmente estabelecido e o Estado judeu tinha sido dissolvido. Naquele tempo o judaísmo tinha desaparecido no que diz respeito à sua prática – a cidade de Jerusalém e o santuário tinham sido destruídos (Dn 9:26; Mt 22:7). O Espírito de Deus levou João a apresentar a vida e o ministério do Senhor a partir da perspectiva única de olhar para trás através da lente do Cristianismo. Ele vê certas mudanças dispensacionais no ministério do Senhor que enfatizam que uma transição do judaísmo para o Cristianismo despontava no horizonte.
À medida que os capítulos se desdobram, vários elementos do Cristianismo são observados e ilustrados pelo Espírito Santo. (Estas características descrevem o Cristianismo normal, não no que se deteriorou nas mãos dos homens). Ao mesmo tempo, as coisas que marcaram o judaísmo são vistas sendo postas à parte. Por exemplo, as festas que o Senhor frequentou em Jerusalém são chamadas de “a páscoa dos judeus” e “a festa dos judeus” (Jo 2:13, 5:1, 6:4, 7:2, etc.); elas não são vistas como as Festas de Jeová, como eram antes. Também, em João 10:34 e 15:25, o Senhor diz, “vossa lei” e “a lei deles” (JND). Era a Lei de Deus, mas por causa de sua má utilização nas mãos dos judeus, não é mais reconhecida como tal. Assim, João escreve sob a perspectiva da velha dispensação tendo sido posta de lado e não mais reconhecida por Deus. Paulo faz o mesmo em Gálatas 1:13, chamando o antes venerado serviço de Deus de **“a religião dos judeus” (**KJV). Compare Mateus 21:13 com 23:38 – a transição de **“**Minha casa” para **“**vossa casa”.
Capítulo 1
O evangelho começa por nos apresentar a Pessoa de Cristo, sobre Quem o Cristianismo é fundado. Após apresentar várias de Suas grandes glórias pessoais (vs. 1-14), o apóstolo fala de três coisas que marcam a dispensação Cristã, todas as quais resultaram de Cristo Se tornando encarnado, da redenção sendo consumada e da vinda do Espírito Santo:
- Os homens são agora aptos a conhecer e contemplar a glória do unigênito Filho de Deus (v. 14). - A disposição de Deus para com os homens em graça agora está sendo revelada pelo evangelho. “A lei”, que foi dada por Moisés, foi agora suplantada pela “graça e verdade”, que veio por Jesus Cristo (vs. 15-17). - Houve agora uma declaração completa de Deus como o Pai (v. 18).
O apóstolo João, em seguida, observa certos incidentes que ocorreram durante os dias do ministério de João Batista que indicam que uma mudança de dispensação estava chegando. Seu batismo significou que já que a antiga ordem das coisas no judaísmo havia sido corrompida, era necessário que houvesse uma dissociação moral dessa antiga ordem, da parte daqueles que tinham fé, por meio do batismo de arrependimento. Se a nação se submetesse a esse batismo e produzisse frutos de arrependimento, não seria posta de lado por Deus (vs. 19-28). É significativo que João tenha assumido uma posição “além do Jordão” para fazer seu batismo. Isto indica uma separação moral do estado de coisas no centro judaico em Jerusalém.
João Batista é visto conduzindo seus discípulos (que eram devotos da dispensação passada esperando pelas promessas do reino, como apresentadas pelos Profetas do Velho Testamento) ao Senhor Jesus como “o Cordeiro de Deus” e “o Filho de Deus,” a Quem eles seguiram daí em diante (vs. 29-34). Estes títulos do Senhor coincidem com a revelação da Sua Pessoa na presente dispensação. Estando na corrente do pensamento de Deus, João estava feliz por encaminhar seus discípulos ao Senhor (vs. 35-37). Essa troca é significativa e indica a transição à nova ordem no Cristianismo que estava chegando.
O apóstolo João então mostra que o próprio Cristo seria o novo Centro de reunião e o lugar de encontro na nova ordem. Sua presença seria conhecida, não no templo de Jerusalém, mas no humilde lugar de habitação onde os crentes iriam se reunir à Sua volta. (vs. 38-42).
Capítulo 2
Por meio de Sua relação natural com Sua mãe, o Senhor tinha uma conexão com Israel e a Lei. No casamento em Caná, quando Sua mãe Lhe fez um pedido, Ele respondeu dizendo, “Mulher, que tenho Eu contigo?” Nessa afirmação Ele indicou que Sua relação legal com Israel estava para ser dissolvida. (Compare Mateus 12:46-50.)
O Senhor fez o primeiro milagre transformando água em vinho para o povo, porque o tempo do rompimento de Seu relacionamento com Israel ainda não havia chegado. Isso indica outra característica da nova dispensação. “Vinho” na Escritura frequentemente fala de alegria (Jz 9:13; Sl 104:15). O problema na festa era que eles ficaram sem vinho. Isto fala da velha ordem falhando nas mãos dos homens. Quando o velho vinho acabou, o Senhor trouxe um novo vinho, que era melhor. Isso indica que as alegrias espirituais que estavam chegando com a nova dispensação seriam superiores às alegrias que alguém poderia experimentar na antiga dispensação.
Nos versículos 13-17, o Senhor expulsou os trabalhadores corruptos do templo. Isso era uma ação simbólica indicando que Deus estava prestes a romper com a nação por meio dos Romanos (em 70 d.C.) porque ela tinha corrompido aquela ordem judaica de ministério. O Senhor então falou de Sua ressurreição (vs. 18-22). Eles poderiam “destruir” o Seu corpo pela morte, mas Ele iria ressuscitar o “templo do Seu corpo” “em três dias” (vs. 19, 21). Portanto, a nova ordem que estava para ser introduzida iria ser fundada sobre a ressurreição de Cristo.
Capítulo 3
Na conversa com Nicodemos, o Senhor introduziu o assunto de “vida eterna” como sendo a porção daqueles que O receberiam na nova dispensação. O Senhor explicou-lhe que isso seria algo mais que “nascer de novo”, que era o que os crentes israelitas tinham, e sobre o que Nicodemos deveria saber do profeta Ezequiel (vs. 9-10). Em essência, ambos tinham a ver com a possessão de vida divina, mas vida eterna é ter aquela vida em comunhão consciente com o Pai e com o Filho (Jo 17:3). A possessão desta característica especial de vida divina requeria a vinda do Filho para revelar o Pai (Jo 1:18), a redenção sendo consumada (Jo 3:14-16) e o Espírito Santo (a “fonte”) habitando no crente (Jo 4:14). Essas coisas não eram conhecidas ou possuídas por aqueles na velha dispensação. Os santos do Velho Testamento, então, não podiam ter tido vida eterna. Eram nascidos de novo e assim possuíam vida divina e estão salvos com Cristo no céu agora. Cristãos nascem de novo também – esse é o meio pelo qual entram no reino de Deus (v. 5) – mas têm algo mais na vida eterna, que é uma bênção celestial e é um dos grandes elementos que marcam a nova dispensação. Ao introduzir isso, o Senhor estava mostrando que as “coisas terrenas” iam dar lugar para as “coisas celestiais”.
Capítulo 4
O Senhor ensinou a mulher junto ao poço três coisas significativas que marcariam a mudança da velha ordem de adoração na velha dispensação para a nova ordem de adoração no Cristianismo. Isso resultaria de crentes terem a “água viva” do Espírito de Deus habitando neles (a “fonte”) como o poder para a nova adoração (vs. 10, 14). Uma fonte de água (um gêiser) tem nela energia e é uma figura do poder do Espírito no crente.
Primeiro, haveria um novo lugar de adoração que não era nem “neste monte” (Gerizim), nem em “Jerusalém”. Hebreus 8:1-2, 9:11, 23-24 e 10:19-22 indicam que o novo lugar de adoração é no santuário celestial, na presença imediata de Deus. Portanto, haveria a cessação de um centro geográfico terreno de adoração, como havia no judaísmo.
Segundo, haveria uma nova revelação em conexão com a Pessoa adorada. No judaísmo, Deus era conhecido como Jeová e Israel O adorava como tal, mas agora no Cristianismo Ele é adorado como “o Pai” de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse é um relacionamento mais próximo e mais íntimo com Deus.
Terceiro, haveria um novo caráter de adoração. A adoração no judaísmo era de uma ordem terrenal e foi auxiliada por instrumentos mecânicos de música e realizada por meio de um sistema de rituais e cerimônias. Mas a nova ordem de adoração no Cristianismo seria algo puramente espiritual. Crentes adorariam o Pai “em espírito” (espiritualmente – cap. 6:63) e de acordo com a nova revelação de “verdade” que acompanharia a nova dispensação. No Cristianismo, oferecemos “sacrifícios espirituais”, auxiliados pela presença interior do Espírito Santo (1 Pe 2:5; Fp 3:3) em contraste com as “ordenanças carnais” na ordem judaica (Hb 9:10). Isso é feito na imediata presença de Deus (Hb 10:19), que é um privilégio que Israel não tinha. Uma vez que os Cristãos adoram “em espírito e em verdade”, eles podem se sentar quietos em suas cadeiras e produzir em suas almas e espíritos verdadeira adoração a Deus o Pai pelo Espírito Santo, sem necessidade daquelas formas externas que marcam a religião terrena. Essa é a verdadeira adoração celestial.
A adoração judaica da velha dispensação apela aos sentidos humanos porque é uma aproximação a Deus por meios terrenos e sensoriais. Essa adoração é estimulada por:
- Visão – a grandeza do templo (1 Rs 10:4-5; Mc 13:1; Lc 21:5). - Odor – a queima de incenso que produzia uma atmosfera envolvente (Êx 30:34-38). - Paladar – o comer dos sacrifícios (Dt 14:26). - Audição – bela música produzida pela orquestra e acompanhamento de coral (1 Cr 25:1, 3, 6-7). - Tato – o participar nas ofertas fisicamente, dançando e levantando as mãos (2 Sm 6:13-14; 1 Rs 8:22).
É significativo que não encontramos em nenhum lugar no livro de Atos, ou em qualquer das epístolas, Cristãos adorando o Senhor usando rituais ou instrumentos musicais. Na Escritura, os únicos dois instrumentos que os Cristãos são achados usando em adoração são seus “corações” (Cl 3:16; Ef 5:19) e seus “lábios” (Hb 13:15).
Capítulo 5
Bênção na nova dispensação não seria sob o princípio das obras para merecer o favor de Deus (como era o caso sob a Lei), mas no princípio da livre graça (Rm 4:4-5). Isso é ilustrado na diferença entre a maneira pela qual a bênção era acessível àqueles no tanque de “Betesda” e a maneira como a bênção veio ao “homem que …estava enfermo” que foi curado pelo Senhor.
A cena no tanque é uma figura do sistema legal na velha dispensação (vs. 1-4). O tanque tinha “cinco alpendres” que figurativamente falam dos cinco livros de Moisés. Em certo tempo, um anjo descia e agitava a água e a pessoa que passasse pelas cinco varandas e entrasse primeiro no tanque, obtinha a bênção. As bênçãos estavam lá, mas estavam condicionadas ao ter de fazer algo para consegui-las. Ilustra o sistema baseado em obras da Lei, que dizia a todos que o procuravam para bênção: “faze isso, e viverás” (Lc 10:28). Uma pessoa tinha de guardar algo como 613 preceitos dos cinco livros de Moisés e, se os cumprisse, obteria a bênção.
Em contraste a isso, com a vinda do Filho de Deus (Sua primeira vinda), as bênçãos da graça seriam concedidas a todos que recebessem Sua Palavra, sem as obras da Lei (Rm 4:4-5, 11:6; Ef 2:9; Tt 3:5). Isso é ilustrado no homem incapacitado sendo abençoado sem ter que subir pelas cinco varandas e entrar no tanque (vs. 5-16). Por muitos anos esse homem tinha se esforçado para obter a bênção vinda do tanque e não podia consegui-la; com a vinda do Filho de Deus ele não precisava do tanque! Isso aponta para o fato de que na nova dispensação haveria uma cessação da observância da Lei. “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10:4).
É significativo que esse milagre foi feito no Sábado, o que os Fariseus consideraram uma violação daquele dia. Isso sugere que a graça não pode ser confinada ao sistema legal e que o Sábado não iria mais ser observado na dispensação da Graça. Cristo “até do sábado é Senhor” (Mt 12:8) e, portanto, maior que o Sábado. Ele tinha o poder para trabalhar pela bênção do homem naquele dia como fazia em todos os dias.
Capítulo 6
João registra um incidente que ocorreu no mar “de Tiberíades” (vs. 1, 23). Em outros evangelhos, esse mar é chamado “o mar da Galileia” ou “o lago de Genesaré,” mas quando os Romanos tomaram a terra dos judeus, mudaram os nomes de muitos lugares como sinal de domínio e propriedade. Por João o ter chamado de o mar de Tiberíades, ele estava reconhecendo o que Deus tinha feito em colocar Israel de lado – portanto, nesse fato aparentemente insignificante temos outro indicador da transição da velha dispensação.
O assunto neste capítulo é comida e a satisfação das almas famintas. Há o comer a Páscoa (v. 4), comer os cinco pães e dois peixes (vs. 5-14), comer o Maná (vs. 22-50) e comer da carne e beber do sangue de Cristo, o Filho do Homem (vs. 51-58). O primeiro é um tipo que foi cumprido na morte de Cristo (1 Co 5:7). O segundo é um tipo de uma das muitas coisas que o Senhor faria para o mundo no Milênio; a saber, abolir a fome (Sl 132:15, 146:7, etc.). O terceiro (o Maná) é um tipo que foi cumprido na descida do Senhor dos céus como o “o Pão vivo” (v. 51). Nessas coisas, vemos Cristo como o cumprimento dos tipos e profecias do Velho Testamento. Eles nos ensinam que quando a velha dispensação passasse e a nova dispensação chegasse, as Escrituras do Velho Testamento não seriam eliminadas; elas são a Palavra de Deus e devem ser mantidas como tal. Entretanto, aprendemos a maneira em que o Espírito de Deus lida com esses tipos do Velho Testamento de modo que não são mais para serem aplicados num sentido literal – em sacrifícios, cerimônias, rituais, etc. – mas pela importância moral e ensino típico (Rm 15:4; 1 Co 10:11). Essa é outra mudança que viria como resultado de a velha dispensação ser colocada de lado.
Capítulo 7
A maior das festas religiosas que os judeus tinham era a Festa dos Tabernáculos; era uma festa que durava oito dias inteiros. Na verdade, era o auge das festas que acontecia no sétimo mês do calendário judeu. O Senhor esperou até o “último dia, o grande dia da festa” – quando os judeus teriam tido a religião terrena em seu pico mais alto e em seu sentido mais amplo – e então clamou, “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (v. 37). Ele sabia que o coração humano não se satisfaria com mera religião – mesmo se fosse uma religião dada por Deus – se Ele fosse deixado de fora. Religião sem Cristo, na melhor das hipóteses, é religião vazia; só deixa a alma vazia e sedenta.
A chamada do Senhor naquele tempo indicava que Ele iria substituir as formas cerimoniais da religião no judaísmo com a viva relação Consigo mesmo (Cl 2:17). Ele é suficiente para encher e satisfazer o coração. Esse fato indicou que mudanças dispensacionais estavam chegando. João acrescenta (entre parênteses) que isso aconteceria quando Cristo fosse elevado e glorificado, e o Espírito Santo dado (v. 39). Estas duas grandes coisas caracterizam o Cristianismo: um Homem em glória e o Espírito Santo enviado a este mundo. Essas são verdades fundamentais da nova ordem celestial na dispensação da Graça. Cristo em glória é o Centro do novo roteiro de Deus; não é Cristo na Terra, como na velha dispensação. Cristo seria o Objeto do foco do crente; O Espírito Santo habitando nos crentes seria o poder pelo qual as novas alegrias do Cristianismo seriam possuídas e desfrutadas.
Além disso, essa nova ordem de bênção era tão grande que não podia ficar confinada a Israel; portanto, o Senhor diz: “Se alguém…”. Esta ordem celestial de bênção estaria disponível a todos – até aos gentios que viessem a crer.
Capítulo 8
O tratamento dado pelo Senhor à mulher apanhada em adultério ilustra outra característica do Cristianismo (vs. 2-11). Sob a lei um ofensor como esse morreria “sem misericórdia” sob a pena de apedrejamento (Hb 10:28), mas sob a nova dispensação do Cristianismo, havia misericórdia por meio de um “tempo” dado para arrependimento (Ap 2:21). Ao não condenar a mulher naquela ocasião o Senhor não estava indicando que Ele era indiferente ao pecado dela, mas que estava lhe dando uma oportunidade para se arrepender e para não pecar mais. Essa é outra característica da dispensação da Graça de Deus; há agora algo como a “longânime” misericórdia de Deus para com todos, para que “todos venham a arrepender-se” e sejam abençoados por meio da fé no Senhor Jesus Cristo (2 Pe 3:9; At 20:21).
Capítulo 9
Este capítulo ilustra uma progressão de luz que ocorre em todo crente que vem da relativa escuridão do judaísmo à luz superior do Cristianismo (o clarear do dia – 2 Pe 1:19). João notou essa transição em sua epístola e disse, “vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia” (1 Jo 2:8).
O Senhor anunciou que Ele era “a Luz do mundo” (v. 5), mas a escuridão espiritual que prevalecia sobre o povo era tal que não podiam vê-la. Luz natural dispersa escuridão natural, mas luz espiritual não dispersa escuridão espiritual (Jo 1:5). Isso, no entanto, expõe a incapacidade moral do homem. A condição do homem “cego de nascença” neste capítulo ilustra isso. O que o Senhor fez para ele retrata a obra de Deus nas almas permitindo-lhes ver a Cristo como Quem Ele é. Ao ver Cristo como o Filho de Deus, o homem não precisa mais do sistema judaico de aproximação a Deus em adoração. Isso é demonstrado por esse homem adorar o Senhor fora do templo (v. 38). Assim, a Escritura ensina que esse “novo e vivo caminho” no Cristianismo é “fora do arraial” do judaísmo (Hb 10:19-22, 13:13-15).
Tudo isso surgiu do Senhor cuspindo no chão e fazendo “lodo”, o que significava a grande verdade de Sua encarnação (v. 6). Cuspe saindo d’Ele próprio como Deus e misturado com “o pó da terra” (que fala de humanidade – Gn 2:7, 3:19) aponta para o Filho de Deus Se fazendo Homem – Sua encarnação. A aplicação da “saliva” nos olhos do homem cego fala do poder vivificador de Deus comunicando vida à pessoa pela qual a faculdade espiritual de entender as coisas divinas é concedida (Pv 20:16; At 26:18; Ef 4:17-18). Banhar-se no “tanque de Siloé (que significa o Enviado)” fala do crente entendendo que o Senhor Jesus é o Enviado do Pai (v. 7). Essa é uma revelação distintamente Cristã.
Depois de ter aberto seus olhos, houve uma progressão de luz e entendimento no homem que era cego de nascença – ele passou do mendigar (v. 8) ao adorar. (v. 38). Sua experiência retrata a transição pela qual o fiel no velho sistema legal passa ao chegar ao conhecimento e liberdade Cristãos. No início, tudo o que sabia do Senhor era que Ele era “O homem chamado Jesus”. Não conhecia Quem Ele era ou de onde Ele veio (v. 11). Então, depois de ser questionado, disse “é um Profeta” (v. 17). Depois disso, o homem viu o Senhor ser digno de ter “discípulos” (vs. 27-28). Depois, disse aos judeus que o Senhor Jesus era um homem “de Deus” (v. 33). Finalmente, viu o Senhor como “o Filho de Deus”, Quem Ele realmente era (vs. 35-38). Assim, vemos na experiência desse homem uma maravilhosa transição da escuridão para a luz. No processo, o homem sofreu perseguição dos judeus. Isso mostra que aqueles que andam na luz da nova dispensação serão perseguidos por aqueles da velha dispensação (At 13:50, 14:19, 17:5, 13; 1 Ts 2:14-16).
Capítulo 10
Este capítulo enfatiza outro aspecto da transição do judaísmo para o Cristianismo; foca no novo princípio sobre o qual Deus irá reunir Seu povo na nova dispensação.
O Senhor anunciou que Ele iria tirar Suas ovelhas (os crentes judeus) para fora do “aprisco” e trazê-los para a gloriosa liberdade de Seu “rebanho” no Cristianismo (v. 16). Um aprisco e um rebanho representam dois princípios contrastantes de reunião. Ambos mantêm as ovelhas juntas, porém de formas completamente diferentes. Um aprisco (ou curral) é uma circunferência sem um centro; um rebanho é um centro sem uma circunferência. No aprisco, as ovelhas são mantidas juntas pela cerca ao redor delas. Isso fala dos princípios restritivos do sistema legal na velha dispensação mantendo os israelitas juntos em uma posição de separação das nações à sua volta. O rebanho, não tem necessidade de uma cerca; as ovelhas têm uma atração ao Pastor no centro delas e são atraídas por Ele. Assim, elas são mantidas juntas, mas em um princípio completamente diferente. Isso retrata o princípio de Deus de reunião no Cristianismo (Mt 18:20). Cristãos nessa nova ordem se reúnem para adoração e ministério, não porque são forçados por mandamentos legais, mas porque querem estar onde Cristo está. Como os judeus naturalmente iriam se ofender com alguém entrando em seu aprisco e conduzindo alguns para fora, o Senhor afirmou que esse alguém tinha que ser qualificado para fazê-lo. Ele reconheceu que um impostor (“o ladrão e salteador”) poderia vir sem ter as qualificações ordenadas por Deus, mas Suas ovelhas os “não seguirão” porque “não conhecem a voz dos estranhos” (vs. 1, 5). Um exemplo disso são “Teudas” e “Judas” (At 5:36-37).
Não obstante, o Senhor veio pelo caminho designado por Deus, que é chamado “a porta” (v. 2). Essa porta de entrada para o aprisco, pela qual o Messias deve entrar, é esboçada pelos profetas do Velho Testamento.
- O tempo de Sua vinda a este mundo (Dn 9:26 com Sl 102:24). - O lugar de Sua entrada neste mundo (Mq 5:2). - Seu nascimento virginal (Is 7:14). - Sua anunciação (Is 40:3; Ml 3:1). - A maneira de Sua vida (Is 53:3) - O caráter de Seu ministério (Is 42:1-3). - Sua habilidade de introduzir “os poderes do mundo vindouro” e assim dar a Israel o reino (Hb 6:5; Lc 7:22; Is 33:24, 35:5-6; Sl 65:6-7, 89:9, 132:15, 146:7-8). - Sua humilde apresentação para a nação (Zc 9:9).
O Senhor veio para o aprisco judaico (o sistema judaico instituído por Deus por intermédio de Moisés) de acordo com essas especificações exatas. Não podia haver dúvida de que Ele era o Messias de Israel – o verdadeiro “Pastor das ovelhas” (Sl 23:1, 77:15, 78:67, 80:1, 95:7, 100:3; Is 40:11; Ez 34:31; Zc 11:7-9; 13:7). O Espírito de Deus (“o Porteiro” – v. 3) identificou-Se completamente com o Senhor ao “descer do céu como uma pomba” (Jo 1:32-34, 6:27; 1 Tm 3:16) e permanecendo n’Ele. Assim o Espírito deu testemunho (“abre” a porta) que o Senhor Jesus era de fato o verdadeiro Pastor de Israel (v. 3). Assim sendo, o Senhor, sendo Quem era, tinha o direito de introduzir essa mudança dispensacional.
A obra do Senhor no aprisco, ao ser rejeitado (Jo 1:11), era unir os corações das ovelhas a Ele mesmo, os chamando “pelo nome” (que fala da intimidade da comunhão), e então os tiraria “para fora” do aprisco (v. 3). Ao conduzir os Seus para fora, o Senhor estava indicando que estava a ponto de deixar aquela ordem toda e levar Suas ovelhas com Ele. Isso seria depois de Sua ressurreição. Hebreus 13:13 nos fala que Sua presente posição no Cristianismo é agora completamente “fora do arraial” do judaísmo – a Quem os crentes são exortados a ir. Então, o Senhor mencionou que usaria outros meios para tirar os Seus para fora do aprisco do judaísmo – Ele **“**tira para fora as Suas ovelhas” (v. 4). Isso implica pressão – ser empurrado para fora. O homem cego no capítulo anterior teve essa experiência. Os judeus “expulsaram-no” do aprisco; os líderes da nação “o excomungaram” (cap. 9:34 – nota marginal na KJV). De um modo ou de outro, o Senhor estava atuando e Suas ovelhas estavam sendo tiradas para fora do aprisco judaico.
Aqueles que ouviram a alegoria não entenderam o seu significado (v. 6). Isso é porque estavam ainda no aprisco judaico e há um certo grau de entorpecimento ligado a estar nesse sistema (Hb 5:11). Isso levou o Senhor a falar de uma segunda “porta”. Ele disse, “Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas” (v. 7 – TB). Ele era a porta de libertação pela qual uma pessoa é trazida para fora do aprisco judaico. Ao fazer esta afirmação, Ele estava concedendo a cada crente judeu uma autorização para deixar o judaísmo. Antes disso, nenhum judeu tinha a autoridade para deixar aquela religião dada por Deus, mas agora Deus mesmo, na Pessoa do Filho, estava abrindo a porta e concedendo libertação daquele sistema.
O Senhor então falou de uma terceira “porta”. Essa é a porta que leva à bênção e privilégio Cristãos. A entrada para essas coisas seria também por Ele. Ele disse, “Eu sou a porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (v. 9). Essas distintas bênçãos e privilégios Cristãos são:
- Salvação da alma (v. 9a). - Liberdade – entrando e saindo para adoração e ministério (v. 9b). - Comida espiritual na revelação da verdade Cristã – “pastagens” (v. 9c). - Desfrutar da abundante “vida” – vida eterna (v. 10). - Cuidado e proteção pastorais (vs. 10-15) - Unidade de judeu e gentio em “um rebanho” – comunhão (v. 16). - Segurança eterna – “nunca hão de perecer” (vs. 28-29).
Versículos 10-15 – Libertadas do confinamento do judaísmo, as ovelhas ficariam sem a proteção do aprisco, mas isso não significa que elas iriam ficar sem proteção. O “mercenário” (um pastor descuidado) deixará as ovelhas quando problemas vierem e um “lobo” (um falso profeta – Mt 7:15) dividirá e dispersará as ovelhas (At 20:29-30). Mas o Senhor prometeu que aquelas ovelhas que Ele conduz para fora do aprisco seriam cuidadas e protegidas. Como “o bom Pastor”, elas seriam colocadas sob Seu cuidado divino. Seu amor e devoção ao rebanho era tal que Ele daria a Sua vida pelas ovelhas e assim protegê-las a todo custo. A menção de pastores descuidados e falsos profetas perturbando o rebanho indica que haveria muitos maus obreiros na profissão Cristã que tentariam atacar os Cristãos. Conforme olhamos para o Cristianismo hoje, vemos muitos líderes, que foram levantados segundo a ordem dos “mercenários”, fazendo comércio com o serviço a Deus (2 Co 2:17 – “mercadejando” – TB). Vemos também muitos “falsos mestres” (2 Pe 2:1 – TB) com caráter de “lobos”. O Senhor não esconde o fato de que Suas ovelhas seriam testadas por essas pessoas no ambiente Cristão, mas no Cristianismo verdadeiro, onde Cristo está no meio de Seu rebanho, Ele as protegerá de todos esses ataques.
Versículo 16 – O Senhor tinha “outras ovelhas” que Ele iria reunir. Não há menção de essas serem tiradas para fora do aprisco, porque elas nunca estiveram nele. Esses são crentes gentios. Eles, com Suas ovelhas que tirou para fora do aprisco, seriam “um rebanho” de crentes judeus e gentios (Ef 2:13-18).
Assim, há três portas nesta passagem que indicam a mudança dispensacional:
- A porta da profecia relativa ao Messias pela qual Cristo entrou no aprisco judaico (v. 2). - A porta da libertação para fora do judaísmo pela qual Cristo tirou os Seus para fora do aprisco (v. 7). - A porta para a bênção e privilégio Cristãos onde as ovelhas de Cristo viveriam e serviriam a Deus (v. 9).
Capítulos 11-12
Nesses capítulos, temos o registro de Lázaro sendo ressuscitado dos mortos e então sentado em um círculo de comunhão com outros da mesma fé cujo objeto era o Senhor. Ele passou da esfera da morte para a esfera do “que é realmente vida” (1 Tm 6:19 – TB). Isso ilustra outro aspecto da transição do judaísmo ao Cristianismo.
A condição de morte na qual Lázaro estava é uma figura do estado da nação de Israel sob a lei, moral e espiritualmente. Todo o sistema da lei é um “ministério da morte” e um “ministério da condenação” (2 Co 3:7, 9). Todos os que estavam sob as condições legais daquele sistema, que não cumpriam seus termos, foram mortos por isso. A ressurreição de Lázaro é uma figura da obra do Senhor em trazer um remanescente de crentes para fora daquele sistema legal. Maria e Marta são uma figura das duas partes do remanescente crente daquela época. Maria tinha plena certeza de fé e aguardou na expectativa de que o Senhor viesse (v. 20). Ela fala dos Simeãos e das Anas, etc., que estavam esperando em fé pela “redenção em Jerusalém” (Lc 2:25-38). Marta expressou uma fraqueza de fé que também era vista entre muitos dos judeus crentes da época. Ela honrou o poder do Senhor, mas questionou Sua pontualidade e modos – e até O acusou de chegar atrasado (v. 21). Muitos desses crentes naquela época estavam cheios de dúvidas (Mt 28:17; Lc 24:13-33; Jo 20:24-31).
O evangelho recebido não só traz vida à alma do crente (“vida eterna”), mas também traz o crente a uma esfera de vida na comunidade dos santos. O apóstolo Paulo se refere a esse último aspecto de vida como “vida eterna” – para a qual os santos serão levados quando forem glorificados no céu (Rm 5:21, 6:22-23; 1 Tm 6:11; Tt 1:2, 3:7). Isso é ilustrado na cena em que Lázaro foi encontrado depois de o Senhor tê-lo ressuscitado dos mortos (cap. 12:1-3). Ele desfrutou de feliz comunhão no jantar com Maria, Marta e os discípulos, com o Senhor no meio deles. Ele não somente recebeu vida em sua alma, mas foi trazido para a esfera de vida entre os crentes, o que é uma figura da comunhão Cristã. (1 Jo 1:3).
Contudo, Lázaro não saiu para fora do túmulo para a cena do jantar de Betânia imediatamente. Quando veio para fora da sepultura, estava “ligado com faixas” (“as mãos,” “os pés,” e “o rosto”) e precisava ser libertado. Isso fala da escravidão dos princípios legais no judaísmo (At 15:10; Gl 4:24-25). Frequentemente, aqueles que foram salvos daquele sistema são impedidos por aqueles princípios legais que formaram suas consciências. Eles frequentemente trarão as “faixas” do judaísmo (princípios legais e práticas) com eles para o círculo Cristão de comunhão e isso pode causar perturbação entre os santos (At 10:9-16; Rm 14:1-6; Gl 2:11-14). O Senhor disse, “Desligai-o e deixai-o ir” (v. 44). Isso fala da obra que o Senhor deu a Seus servos (particularmente aos apóstolos) nos primórdios do Cristianismo. O ministério deles para aqueles que eram salvos do judaísmo era libertá-los das armadilhas daquela religião terrena. As epístolas judeu/Cristãs (Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro) são um exemplo dessa obra. Os escritores do Novo Testamento trabalharam para libertar crentes judeus das “faixas” do judaísmo e estabelecê-los na liberdade Cristã (Gl 5:1).
Entre esses eventos sobre Lázaro sendo ressuscitado e estar no jantar, Caifás o sumo sacerdote, profetizou (sem saber) “que Jesus devia morrer pela nação” (vs. 47-54). Ele tinha intenções perversas e egoístas no que disse ao conselho (o Sinédrio). Parafraseando, ele disse, “Se isto persistir (isto é, pessoas se juntando ao Senhor Jesus) haverá uma revolução na nação, e os Romanos virão e matarão a todos nós”. Ele sugeriu que deveriam matar Cristo e espalhar Seus seguidores, colocando um fim a esse novo movimento e assim salvar a nação de ser destruída. Argumentou que seria melhor que “um homem morra pelo povo” do que “toda a nação” morrer. Assim, Caifás não tinha remorso em assassinar um homem inocente se isso preservasse o lugar da nação na terra. Mas Deus predominou sobre o que foi dito e ele profetizou, sem o saber, exatamente do que iria acontecer na morte de Cristo. O Senhor não somente morreria pela nação, mas também iria “reunir em um os filhos de Deus que andavam dispersos” (JND). Isso aponta para a presente obra de Deus nesta dispensação Cristã de ajuntar crentes gentios ao rebanho de Deus com crentes judeus (Jo 10:16).
Tendo sido libertado das faixas do judaísmo, Lázaro foi encontrado em comunhão com suas irmãs e os apóstolos no jantar onde o Senhor estava no meio (cap. 12:1-3). Essa é uma cena que retrata uma comunhão e adoração Cristãs. Vemos Maria exercendo a liberdade que marca a adoração Cristã. Ela não tinha autoridade oficial para agir como sacerdotisa (como era requerido na religião judaica), mesmo assim ela livremente se aproximou do Senhor com o “unguento de nardo puro” – que fala de adoração. É triste dizer mas aqueles que, como Maria, agem em liberdade de Espírito na adoração Cristã, seriam criticados por aqueles cujas mentes foram moldadas pela ordem judaica (cap. 12:4-8). Além disso, os principais sacerdotes deliberaram que poderiam matar Lázaro depois de ele ter sido ressuscitado dos mortos (cap. 12:10). Isso mostra que haveria perseguição contra aqueles que fossem libertados dos laços do judaísmo e andassem na liberdade do Cristianismo.
Capítulo 13
A hora de o Senhor retornar para o Pai havia chegado. Antes de partir, o Senhor indicou (simbolicamente) que Ele ia deixar Seu ministério messiânico terrestre para com Israel e levar adiante um novo ministério celestial (a advocacia de Cristo) pela qual eles iriam manter em comunhão com Ele, mesmo durante Sua ausência (1 Jo 2:1-2). Este novo ministério celestial que o Senhor estava prestes a empreender significa outra transição da antiga dispensação para a nova.
Primeiro, o Senhor Se levantou “da ceia” onde estavam comendo juntos e tirou Seu manto (v. 4a). Essa era uma ação simbólica indicando que Ele estava prestes a romper Suas associações externas com eles no reino como o Messias de Israel.
Segundo, Ele “cingiu-se” com “uma toalha” (v. 4b). Isso indica que nesse novo lugar no alto para onde o Senhor estava indo, Ele tomaria a posição de servo onde trabalharia para manter Seu povo em comunhão Consigo mesmo.
Terceiro, Ele deitou “água na bacia” e começou a “lavar os pés aos discípulos” (v. 5). Isso fala de usar a “água da Palavra” em aplicação ao andar do crente. A remoção da impureza dos nossos pés aponta para a obra do Senhor como nosso Advogado junto ao Pai em nos exercitar para nos julgarmos em vista da santidade de Deus (1 Jo 1:9), pela qual somos capacitados a andar em comunhão com Ele. (Jo 14:21, 23).
Os resultados do serviço do Senhor de lavar os pés são quádruplos:
- Nós apreciamos Seu amor em comunhão com Ele – “parte comigo” (vs. 8-11). - Nós queremos trazer outros para desfrutar do Seu amor – “lavar os pés uns aos outros” (vs. 12-17). - Nós discernimos Sua mente (percepção espiritual) – “vo-lo digo, antes que aconteça” – (vs. 18-30). - Nós prestamos um poderoso testemunho ao mundo – “Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos” (vs. 31-35).
Capítulo 14
O Senhor anunciou aos Seus discípulos no capítulo anterior que Ele iria deixá-los e retornar para o Pai (cap. 13:33-36). Eles estavam naturalmente preocupados com isso porque estavam esperando que Ele estabelecesse o reino em poder como o Messias de Israel – mas isso perturbou todos os planos e esperanças deles. Uma vez que o Senhor foi rejeitado, Ele não estabeleceria o reino naquele tempo, mas Ele iria trazer uma ordem completamente nova de coisas em uma nova dispensação. Para confortar seus corações, o Senhor colocou perante os discípulos nada menos do que doze coisas que eles ganhariam na nova dispensação que eram superiores às que tinham na antiga dispensação. Todas essas coisas iriam resultar do Senhor indo para o Pai no alto e enviando o Espírito Santo. Essas são as duas características distintas do Cristianismo (Jo 7:39). Sabendo que receberiam algo melhor, teriam conforto em seus atribulados corações. Os doze ganhos espirituais são:
- Iriam conhecê-Lo de uma nova maneira (relação) como a Cabeça glorificada da nova criação no céu, em vez de tê-Lo como o Messias de Israel na Terra (v. 1). - Teriam um lugar preparado para habitarem na casa do Pai no céu (vs. 2-3). Cada judeu piedoso buscou por um lugar no reino na Terra, mas esse era superior ao melhor lugar que alguém pudesse ter na Terra. - Conheceriam o Pai pela vida eterna (vs. 4-11; 17:3). O Senhor Jesus é “o caminho” para o Pai, “a verdade” do Pai e “a vida” que nos leva à relação com o Pai. Mas isso exigiu que Ele realizasse a redenção (Jo 3:14-15) e retornasse ao céu para enviar o Espírito Santo (Jo 4:14). - Fariam maiores obras no serviço do que o próprio Senhor fez (v. 12; At 2:41, 5:15-16, 19:12). - Teriam um novo poder em oração ao usar Seu “nome” (vs. 13-14). - Teriam a presença e o poder do Espírito com eles em duas maneiras: “convosco” e “em vós” (vs. 16-17). - Gozariam da presença do Senhor no meio deles coletivamente (v. 18). Ele viria a eles (em espírito) quando estivessem reunidos juntos e assim O teriam no meio deles de uma maneira especial (Mt 18:20; Jo 20:19). - Viveriam pelo auxílio de Sua intercessão sumo sacerdotal (v. 19; Rm 5:10; Hb 7:25). - Teriam uma nova posição de aceitação diante de Deus n’Ele (v. 20 – “vós em Mim”) e Seu caráter formado neles pelo Espírito aqui embaixo (v. 20 – “Eu em vós”). - Gozariam comunhão com Ele e o Pai de uma maneira mais íntima (vs. 21-24). - Teriam uma completa revelação da verdade pela vinda do Espírito (vs. 25-26). Quando Ele estava com eles, lhes ensinou coisas concernentes ao reino na Terra (“tenho vos dito isto”), mas o Espírito lhes revelaria “todas as coisas”, que é a revelação Cristã. - Iriam ter Sua paz consigo quando enfrentassem oposição e perseguição (v. 27).
Capítulo 15
Neste capítulo, o Senhor fala de Si mesmo como “a videira verdadeira”. Na velha dispensação, Israel era a vinha (vide) de Jeová (Sl 80:8-11; Is 5:1-2), mas eles falharam em produzir fruto para Deus (Jr 2:21; Os 10:1). Agora haveria um novo sistema frutífero no Senhor que produziria “muito fruto” para Deus (v. 8). Essa mudança marca outra característica da transição da velha dispensação para a nova.
É o desejo de Deus que, mesmo que o Senhor estivesse ausente de Seus discípulos na nova dispensação, Ele ainda seria visto neles e por eles. Como ramos ligados à Vinha, Deus os teria dando “fruto” em Sua ausência, o que é a reprodução das características morais de Cristo em seus caminhos e andar. Assim, eram para ser caracterizados por:
- As graças morais de Cristo. Deus teria crentes no Cristianismo para manifestar a mansidão, a humildade, a bondade, a paciência, etc. de Cristo perante o mundo (vs. 1-8). O Senhor mencionou três coisas que são essenciais para ajudar a produção desses frutos em crentes: o limpar de Seu Pai (v. 2), a Palavra que Ele deu a eles (v. 3) e eles permanecendo n’Ele – que é a proximidade prática e habitual do coração para Ele por meio da comunhão (v. 4). - O amor de Cristo (vs. 9-10). Eles continuariam em Seu “amor” e assim seriam conhecidos com uma companhia que viveu desfrutando do Seu amor. - O gozo de Cristo (vs. 11-12). Ele queria que Seu “gozo” permanecesse neles. As mesmas coisas que faziam d’Ele um Homem feliz fariam deles (e de nós) felizes discípulos.
- A amizade de Cristo (vs. 13-17). Ele queria que eles manifestassem perante o mundo que eram Seus “amigos”. O Senhor provou Sua amizade por: dar a Sua vida por eles (v. 13), lhes revelando os conselhos secretos de Seu Pai (v. 15), prometendo conceder seus pedidos de oração (v. 16). Devemos provar nossa amizade com Ele por: obediência (v. 14), dar frutos (v. 16) e amar uns aos outros (v. 17). - O vitupério de Cristo (vs. 18-27). Eles seriam odiados pelo mundo como Ele foi odiado e assim compartilhariam Seu vitupério e sofrimentos; alguns deles sofreriam até o martírio (cap. 16:1-4).
Capítulo 16
Outra coisa que marcaria a nova dispensação era a presença do Espírito Santo na Terra. A presença do Espírito na Terra provava que a velha dispensação tinha sido colocada de lado e a nova tinha começado. Nos tempos do Velho Testamento, o Espírito de Deus trabalhou na Terra de Seu lugar de residência no céu. Ele não habitou na Terra até que a redenção fosse consumada e o Cristianismo tivesse começado (Atos 2:1-4; Ef 2:22). A presença do Espírito na Terra demonstra esse fato diante do mundo de três maneiras:
- “do pecado” – O Espírito de Deus estando aqui na Terra prova a culpa do pecado do mundo de rejeitar Cristo. Para que o Espírito estivesse aqui, Cristo tinha que sair (por meio da cruz) e ir ao Pai para enviar o Espírito. - “da justiça” – O fato de o Espírito estar aqui neste mundo prova que Deus em justiça recebeu o Senhor Jesus nas alturas; Ele tinha que tomar aquele lugar antes que pudesse enviar o Espírito para cá (At 2:32-33). - “do juízo” O fato de o Espírito de Deus estar aqui neste mundo é uma prova de que o mundo e seu príncipe (Satanás) foram julgados e estão aguardando a execução de seu juízo.
Capítulo 17
A última coisa que o Senhor fez em conexão com os discípulos antes de voltar ao Pai foi orar por eles. Essa oração ilustra o presente serviço sumo sacerdotal de Cristo que Ele desenvolveria por eles à mão direita de Deus na nova dispensação. Assim, haveria um novo Sumo Sacerdote ministrando no santuário celestial – o Filho de Deus. Essa é outra característica do Cristianismo que não era conhecida no judaísmo.
Duas coisas estão especialmente diante de Seu coração – a glória de Seu Pai e o cuidado para com Seus discípulos. A oração ilustra a atual intercessão que o Senhor Jesus está realizando no alto em glória. Na oração, Ele não menciona uma palavra sobre os fracassos e falhas do Seus, embora tivessem muitos. Nem pede riquezas para eles, nem honras, nem influência ou progresso no mundo; Ele só tem diante de Si o bem espiritual e as bênçãos deles.
O Senhor faz sete pedidos específicos:
- Que o Pai fosse glorificado no Filho (vs. 1-8). - Que os discípulos fossem guardados em unidade de pensamento, alvo e propósito (vs. 9-11). - Que Seu gozo fosse completo neles (v. 13 – TB). - Que eles fossem guardados do mal (vs. 14-16). - Que eles fossem santificados pela fé e assim fossem úteis no serviço (vs. 17-19). - Que todos que cressem fossem um em testemunho para que o mundo soubesse que Ele é o Enviado do Pai (vs. 20-23). - Que eles pudessem estar com Ele para que pudessem contemplar Sua glória (v. 24).
Capítulos 18-19
Estes dois capítulos apresentam a derradeira transição do judaísmo ao Cristianismo. O sacrifício perfeito de Cristo como o Cordeiro de Deus é visto como o cumprimento de todos os sacrifícios do Velho Testamento no sistema judaico. Com esse cumprimento, não haveria mais a necessidade daqueles sacrifícios judaicos continuarem. Assim, todo aquele sistema sacrificial seria consequentemente colocado de lado (Hb 10:1-18). Não há mais necessidade de uma “oferta pelo pecado” segundo a velha ordem sob a Lei (Hb 10:18).
Capítulo 20
Este capítulo nos dá o registro da marcante característica do Cristianismo – a ressurreição de Cristo. Ela permanece como a vitória final de Deus sobre o pecado e a morte e marca o início de toda uma nova ordem de coisas nos caminhos de Deus. João afirma que ele “viu” três grandes coisas. Essas coisas colocam o fundamento de toda a nossa bênção Cristã e privilégios:
- A visão de um Salvador morto (cap. 19:35). - A visão de um túmulo aberto (cap. 20:8). - A visão do Senhor vivo no meio de Seu povo (cap. 20:20).
Na primeira visão, João testemunha o sangue da expiação sendo derramado – o terreno para os homens serem abençoados por Deus por meio da fé (1 Jo 1:7).
Na segunda visão, João testemunha o selo de aprovação de Deus na obra completa de Cristo na ressurreição do Senhor. Ele afirma que “o lenço que tinha estado sobre a Sua cabeça não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte” (v. 7). Isso é significativo e nos dá uma alusão do que estava para vir na dispensação do Mistério (Cristianismo). O novo vaso de testemunho que Deus iria formar (a Igreja), sob a figura do corpo de Cristo, seria marcado pela separação física entre a Cabeça e os membros de Seu corpo, ainda que estivessem intimamente conectados pelo Espírito de Deus. Atos e as epístolas atestam o fato de que Cristo – a Cabeça – estaria no céu enquanto que os membros de Seu corpo estariam na Terra, durante esse presente Dia da Graça (At 9:4; 1 Co 12:12-13).
Na terceira visão, João viu o Senhor no meio dos Seus em um novo lugar de reunião para crentes – “cenáculo [sala superior]”. O templo em Jerusalém era o lugar apontado por Deus onde todos na economia judaica deveriam se reunir e adorar a Jeová (Dt 12:11, 16:16-17). Entretanto, pouco antes da morte do Senhor Ele “saiu” do templo, indicando que Ele estava rompendo Sua ligação com toda aquela ordem de coisas no judaísmo e com aquele lugar de adoração (Mt 23:38-24:1). Daí em diante, Ele não seria encontrado lá. Quando o Senhor ressuscitou dentre os mortos, Ele fez Sua presença conhecida num lugar de reunião completamente novo – “a sala superior”. Esse novo lugar de reunião simboliza o novo terreno de reunião no Cristianismo (Lc 22:12; At 1:13, 9:39, 20:8). Algumas coisas que caracterizaram “a sala superior” foram:
- Os discípulos se encontravam lá no “primeiro dia da semana” (v. 19a). É significativo que a ressurreição do Senhor e a Sua aparição no meio dos Seus (em consecutivos dois primeiros dias da semana) indica que essa nova direção de Deus no Cristianismo não estava conectada com o dia comemorativo da velha dispensação – o Sábado (Êx 20:8, 31:12-17). Isso sugere que o Sábado não seria observado na nova ordem do Cristianismo (Cl 2:16-17). - Eles se encontraram em um novo lugar de reunião em separação dos judeus e da ordem judaica de coisas que eram opostas aos princípios e práticas Cristãos – as portas estavam “cerradas” para eles (v. 19b; Hb 13:10). Assim, estavam “fora do arraial” do judaísmo em posição, princípio e prática (Hb 13:13). - O Senhor fez conhecida Sua presença “no meio” deles (v. 19c; Mt 18:20). - “Paz” e alegria (encorajamento) eram desfrutadas por aqueles que estavam lá (vs. 19-21). - A presença do “Espírito Santo” foi conhecida de uma maneira diferente (v. 22; Fp 3:3). - O Senhor investiu os discípulos com poder para administrativamente “perdoar” e “reter” pecados (v. 23; Mt 18:18-19; 1 Co 5:4).
Essas coisas caracterizam o Cristianismo. Assim, este capítulo nos dá outra transição – do templo para a sala superior.
Maria foi a primeira a ver o Senhor em ressurreição (vs. 11-18). Entretanto, ela não podia “tocar” n’Ele naquele estado, pois Ele ainda não tinha subido para Seu Pai (v. 17 – “Disse-lhe Jesus: Não Me toques**; porque ainda não** subi **ao Pai”** – TB). Isso significa que enquanto os discípulos tinham **“conhecido Cristo segundo a carne”** como o Messias de Israel, eles, **“contudo”** não iriam conhecê-Lo desse modo (2 Co 5:16). Eles O conheceriam de um modo inteiramente novo – como Cabeça da raça da **“nova criação”** (Rm 8:29; Gl 6:15; 2 Co 5:17; Ap 3:14) – em um novo lugar de reunião. As novas conexões Cristãs deles com Deus o Pai em Cristo ressurreto são indicadas pela Sua declaração a Maria **“Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”** (v. 17). Aqueles da velha dispensação não conheciam Deus como Pai desse modo.
Capítulo 21
Este capítulo ilustra o chamado e o comissionamento do Senhor no serviço Cristão. Há uma diferença marcante nisso em relação à velha ordem do sistema legal do judaísmo. Na velha dispensação os servos eram os levitas. Eram nascidos nessa família e apontados para seu serviço, tivessem ou não um exercício sobre isso. Mas no Cristianismo, os servos de Deus não mais viriam de certa linhagem familiar, mas pelo chamado do Senhor. O Senhor chama e envia a quem Ele quer; Ele os capacita para aquele trabalho por meio de suas experiências na escola de Deus. Isso é ilustrado pelo Senhor comissionando Pedro (que tinha falhado anteriormente) para o trabalho de pastorear as ovelhas do Senhor (vs. 15-19). João, também, tinha um trabalho a fazer (vs. 20-25).
Um Sumário da Transição em Cada Capítulo
- Cap. 1 – De discípulos de João para discípulos do Senhor. - Cap. 2 – Do velho vinho para o novo. - Cap. 3 – Do novo nascimento para a vida eterna – das coisas terrenas para as coisas celestiais. - Cap. 4 – Da adoração a Jeová no santuário terreno em Jerusalém para a adoração ao Pai em espírito e em verdade no santuário celestial. - Cap. 5 – Do princípio das obras para bênção ao princípio da livre graça em Cristo. - Cap. 6 – Do significado e aplicação literais ao significado e aplicação simbólicos das Escrituras do Velho Testamento. - Cap. 7 – Do formalismo da religião exterior à satisfação interior da Pessoa de Cristo. - Cap. 8 – De nenhuma misericórdia sob a Lei para um tempo para arrependimento no Dia da Graça. - Cap. 9 – Das trevas para a luz. - Cap. 10 – Do aprisco para o rebanho. - Caps. 11-12 – Da esfera da morte para a esfera de vida. - Cap. 13 – Do ministério terreno de Cristo para o ministério celestial de Cristo como um Advogado junto ao Pai. - Cap. 14 – De Cristo como o Messias do sistema terreno para Cristo a Cabeça da nova ordem celestial. - Cap. 15 – De Israel – a velha vinha – para Cristo, a Videira verdadeira. - Cap. 16 – A presença do Espírito no mundo prova que a velha dispensação foi colocada à parte. - Cap. 17 – O sumo sacerdócio de Cristo substituindo o sumo sacerdócio de Aarão. - Caps. 18-19 – Dos sacrifícios de animais na economia judaica para o único verdadeiro sacrifício do Cordeiro de Deus. - Cap. 20 – De Cristo, o Messias de Israel para Cristo, a Cabeça da raça da nova criação e do templo para o cenáculo – a sala superior. - Cap. 21 – Dos servos levíticos sob ordens mosaicas para servos Cristãos sob a direção de Cristo, “Senhor da seara” (Mt 9:38; João 4:35-38).
CONTRACAPA
João é o único escritor do Novo Testamento que escreveu depois de a nação de Israel ter sido literalmente colocada de lado, o que ocorreu no ano 70 d.C. Ele escreveu por volta de 90 d.C., quando o Cristianismo estava totalmente estabelecido e o Estado judeu tinha sido dissolvido. Naquele tempo o judaísmo tinha desaparecido no que diz respeito à sua prática – a cidade de Jerusalém e o santuário tinham sido destruídos (Dn 9:26; Mt 22:7). O Espírito de Deus levou João a apresentar a vida e o ministério do Senhor a partir da perspectiva única de olhar para trás através da lente do Cristianismo. Ele vê certas mudanças dispensacionais no ministério do Senhor que enfatizam que uma transição do judaísmo para o Cristianismo despontava no horizonte.