A PROCURA por uma Assembleia Reunida Biblicamente
A PROCURA por uma Assembleia Reunida Biblicamente
O Perfil de uma Assembleia Bíblica
Bruce Anstey
A PROCURA POR UMA ASSEMBLEIA REUNIDA BIBLCAMENTE – O Perfil de uma Assembleia Bíblica
Bruce Anstey
Originalmente publicado por:
9-B Appledale Road
Hamer Bay (Mactier) ON P0C 1H0
CANADÁ
Título do original em inglês: THE SEARCH FOR A SCRIPTURALLY GATHERED ASSEMBLY - Profile of a Scriptural Assembly
Primeira edição em inglês – março 2010
Versão 1.2
Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:
ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.
atendimento@verdadesvivas.com.br
Primeira Edição em português – maio 2018
e-Book versão 1.4
Abreviaturas utilizadas:
ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969
ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993
TB – Tradução Brasileira – 1917
ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994
AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira – 1967
JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby
KJV – Tradução inglesa King James
Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.
APRESENTAÇÃO
O assunto do que envolve uma assembleia bíblica foi originalmente trazido pelo autor numa série de pregações em Tacoma, Washington (Janeiro de 2010). Não foi possível naquele momento ser tão completo como alguns gostariam, devido ao formato de uma pregação pública. Assim, esta publicação proporcionou ao autor a oportunidade de expandir um pouco as suas observações e, assim, tratar do assunto mais detalhadamente.
É nosso desejo sincero que os pontos abordados neste livro sejam “luz nas trevas” para todos os que estão em busca da verdade (Sl 112:4). Nossa oração é que o leitor obtenha um melhor entendimento da verdade da Igreja, e das disposições práticas de uma assembleia reunida biblicamente e que isso resulte no desejo de colocar essas coisas em prática.
Entretanto deve ser também entendido por todos, que há um custo envolvido em praticar essas verdades. Cada Cristão deve estar preparado para suportar a “reprovação” que vem junto (Hb13:13 – JND). O Senhor valoriza todo e qualquer Cristão que pagou um preço pela verdade, e Ele irá recompensá-lo adequadamente no dia que se aproxima. “Eis que venho sem demora: guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3:11).
É com profundo amor e afeição pela Igreja de Deus em geral, e um desejo de ser de ajuda para todos os verdadeiros Cristãos que o presente livro é publicado.
Março/2010
A PROCURA
por uma Assembleia Reunida Biblicamente
INTRODUÇÃO
Se um companheiro Cristão viesse a mim e dissesse que estava procurando por uma Igreja com boa base bíblica para frequentar – e estivesse genuinamente buscando a vontade de Deus na questão – o que eu diria a ele? Esta é uma pergunta investigativa. Primeiramente, penso que o elogiaria por ter tido tal exercício, porque a maioria dos Cristãos hoje, ao que parece, não está preocupada sobre onde e como Deus quer que eles estejam reunidos para adoração e ministério. Deparar-se com uma pessoa preocupada com isso é bastante raro realmente, mas é um exercício bom e saudável que todos os Cristãos deveriam ter.
Na tentativa de ajudar a pessoa que está realmente procurando a vontade de Deus sobre o assunto, eu evitaria, tanto quanto possível, menosprezar as várias denominações Cristãs e grupos na Cristandade. Isto tende a colocar as pessoas na defensiva, e pode levá-las a um estado de espírito argumentativo – e todos sabem que pouco proveito obtém-se numa discussão.
Muitos líderes Cristãos diriam a ele: “Vá à igreja da sua escolha”. Isto, eu creio, é um erro, porque faz a pessoa pensar numa linha totalmente errada. Ouvindo tal comentário ele poderia perguntar a si mesmo: “Que tipo de comunhão de igreja eu gostaria?” Ou: “Em que tipo de grupo de igreja eu estaria melhor?” Não acho correto dizer para meu amigo escolher a igreja que ele goste, porque isso faz com que a questão seja de uma escolha pessoal, e não vejo na Palavra de Deus que isso seja uma questão de nossa escolha. Deus tem um modelo simples em Sua Palavra de como ELE queria que os Cristãos se reunissem para adoração e ministério, e a escolha realmente não é deixada a nós. É a maneira de Deus para a adoração e ministério Cristãos que nosso amigo deveria estar procurando; assim, eu não poderia, em sã consciência, dizer a ele para escolher uma comunhão Cristã que simplesmente o agradasse.
Nem diria ao meu amigo, “Oh, venha conosco porque nós fazemos isso da maneira correta.” Não faria isso porque quero que ele obtenha a verdade diretamente de Deus a fim de que ele não estivesse apenas me seguindo. Se eu, ou outro qualquer, o coagisse – independentemente de quão sinceros nossos motivos possam ser – quando viesse um período de provas quanto a manter e andar na verdade de como os Cristãos deveriam se reunir para adoração e ministério, ele provavelmente desistiria, porque no fundo, era apenas eu quem o havia convencido disso. Eu não gostaria que ninguém saísse por aí dizendo, “o Bruce diz isso…” e “o Bruce acredita que…” – como se isso fosse o padrão. Mesmo se o que dissesse fosse a verdade, não creio que seria uma palavra duradoura na alma dele se ele não a obtivesse de Deus.
Os Dois Grandes Recursos do Cristão
Assim sendo, eu diria, como o apóstolo Paulo disse aos anciãos de Éfeso, “Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à Palavra da Sua graça; a Ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados” (At.20:32). Há duas coisas neste verso sobre as quais eu gostaria de chamar a atenção:
- Encomendando a pessoa “a Deus”, o que implica em ir diretamente a Ele em oração e buscando Sua vontade no assunto. - Encomendando a pessoa “à Palavra da Sua graça” o que obviamente, seria consultando as Sagradas Escrituras para luz e direção.
Oração e a Palavra de Deus, portanto, são os dois grandes recursos que temos para nos guiar e nos instruir no caminho de fé. É certo que o Senhor pode usar um instrumento humano para nos ajudar na verdade (At. 8:31), mas em última análise, precisamos obter isso d’Ele. Deus quer que tenhamos a “verdade” em nosso “íntimo” – então realmente a teremos e não iremos abandoná-la mais tarde (Sl 51:6). O Senhor nos advertiu que se não aprendermos a verdade corretamente, ela pode ser tomada de nós. Ele disse, “Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado.” (Lc 8:18). Isto mostra que aqueles que meramente conhecem a verdade de uma maneira intelectual, mas que não se apropriaram dela realmente, poderão ver a verdade sendo-lhes tirada. Portanto, encorajaria o meu amigo a obtê-la do Senhor – assim ele a teria de fato. Quando testes e provações vierem, ele vai guardar essas coisas e não se moverá delas, porque ele comprou a verdade e não a venderá. (Pv 23:23).
Disposição Para Fazer a Vontade de Deus
Outra coisa que enfatizaria ao meu amigo que está em busca da verdade é que procurar por ela é um exercício gratificante. Deus não nos desapontará se estivermos genuinamente comprometidos a fazer a Sua vontade. O Senhor disse: “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, conhecerá a respeito doutrina” (Jo 7:17). A condição colocada nessa promessa é que devemos estar dispostos a “fazer” a vontade d’Ele. Não é suficiente que quiséssemos saber a vontade de Deus; precisamos estar dispostos a fazer a Sua vontade. Em certo sentido, suponho que todos querem saber a vontade de Deus, mas fazê-la é outra coisa.
Isto significa que precisamos ter uma pré-disposição de coração para fazermos a vontade de Deus – seja ela qual for – mesmo que ela venha a colidir com nossos desejos e ideias pessoais. Este é um grande ponto a ser alcançado em nossa alma – estarmos dispostos a fazer Sua vontade, mesmo que isso machuque. O Senhor guiará uma pessoa assim à verdade. “Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o Seu caminho” (Sl 25:9).
Ter um Entendimento dos Tempos
Outra coisa que diria ao meu amigo é que precisamos ter um entendimento dos tempos. Em 1 Timóteo 4:1-2, Paulo disse, “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência”. Ele queria que Timóteo soubesse que haveria um tempo quando aqueles na profissão Cristã desviariam seus ouvidos de ouvir a verdade (2 Tm 4:3-4). Não precisamos ser gênios para saber que vivemos nesses tempos; uma olhada ao redor para as coisas na Cristandade hoje deveria nos convencer.
Meu ponto em mencionar isso ao meu amigo é que ele precisa saber que tem havido muito abandono da verdade de Deus na profissão Cristã nos dias de hoje. Como resultado, muito pouco do que ocorre na Cristandade hoje se parece com o Cristianismo que lemos na Bíblia. Portanto, seria de pouca utilidade para ele olhar para o estado presente de desordem na Cristandade para encontrar a verdade.
Isto significa que precisamos entender onde estamos na história da Igreja. Suponho que seja algo como ir a um grande shopping center. A primeira coisa que você se depara ao entrar num shopping é um balcão que contém um mapa de todas as lojas do shopping e os trajetos para mostrar a direção para encontrá-las. Na parte inferior do mapa haverá uma seta com as seguintes palavras: “VOCÊ ESTÁ AQUI”. Nestes grandes shoppings é preciso ter a orientação de onde você está antes de determinar aonde você quer ir. E é o mesmo quando se trata da confusão na casa de Deus hoje – precisamos saber onde estamos antes de poder saber aonde precisamos ir.
Com essa finalidade, Paulo disse a Timóteo: “Bem sabes isto, que os que estão na Ásia todos se apartaram de mim; entre os quais foram Figelo e Hermógenes” (2 Tm 1:15). Ele queria que Timóteo soubesse o caráter dos dias nos quais foi chamado para servir ao Senhor. Alguns Cristãos, mesmo naqueles tempos iniciais, não queriam o que Paulo ensinava – e mais especialmente quando se tratava da verdade da Igreja e suas disposições práticas para adoração e ministério. É igualmente importante conhecer os dias em que vivemos. Não estamos nos tempos do Pentecostes, ou mesmo em tempos de grande avivamento, como nos anos de 1800, quando havia um grande interesse pela verdade. Estamos vivendo nos “últimos dias” (2 Tm 3:1-8) quando tudo está de cabeça para baixo na profissão Cristã, e há muito abandono da verdade por toda a parte – tanto em princípios como em prática. Se havia Cristãos que não queriam o que Paulo ensinava naqueles dias, podemos estar certos de que há muitos mais nesses últimos dias que não querem seu ensino. Ele e o apóstolo Pedro falaram que as multidões da profissão Cristã nos últimos dias desviariam seus ouvidos da verdade (2 Tm 4:2-4; 2 Pe 2:1-1).
Separação na Casa de Deus
Eu me apressaria em dizer ao meu amigo indagador, que ele não precisaria se desesperar, por conta do grande abandono e confusão na Cristandade, porque Deus antecipou a ruína e graciosamente fez provisão para tais dias naquilo que poderia ser chamado de “epístolas de ajuda”. Essas são as “segundas” epístolas nas nossas bíblias – 2 Coríntios, 2 Tessalonicenses, 2 Timóteo, 2 João. Estas epístolas lidam com a ruína que entrou na profissão Cristã e ordenam o caminho do crente em relação a isso. Há duas coisas em particular que são proeminentes em cada uma dessas “segundas” epístolas:
- Fracasso no testemunho Cristão de uma maneira ou de outra; - A necessidade de separar-se do erro que entrou na profissão Cristã
Isto quer dizer que temos que reconhecer o distanciamento na casa de Deus do que ela é, e nos separarmos disso. Agindo assim, Deus nos dará luz para o próximo passo no caminho. Uma passagem de uma das “segundas” epístolas que eu mencionaria ao meu amigo seria 2 Timóteo 2:19-22: “todo aquele que nomeia o nome do Senhor se retire da iniquidade (injustiça). Ora, em uma grande casa não há apenas vasos de ouro e prata, mas também de madeira e barro; e alguns para honra e outros para desonra. Se, portanto, alguém tiver se purificado a si mesmo destes (vasos), em se separando a si mesmo deles, será um vaso para honra, santificado, útil ao Mestre, preparado para toda boa obra. Foge das paixões da mocidade; e persegue justiça, fé, amor, e paz com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro” (JND). Observe a ordem aqui; primeiro vem o exercício de se separar de tudo na grande casa (a profissão Cristã) que é inconsistente com o Senhor, e então nos será dada luz no caminho para encontrar “aqueles” com os quais podemos andar e ter comunhão; aqueles que “com um coração puro, invocam o Senhor”. Esta ordem é encontrada por toda a Escritura – primeiro separar-se daquilo que sabemos que é errado, e então, encontrar o caminho correto que está de acordo com a verdade (Is 1:16-17; Sl 34:14; Rm 12:9, 13:12; 1 Pe 3:11; 3 Jo 11).
Assim, encorajaria meu amigo a agir na luz que ele tem, e separar-se daquilo que vê nas igrejas e que é inconsistente com a Palavra de Deus, e o Senhor dará a ele mais luz no caminho. Abraão passou por um exercício similar quando “saiu, sem saber para onde ia” (Hb 11:8). Quando respondeu ao chamado de Deus e deu aquele passo, Deus o guiou ao lugar onde queria que ele estivesse. No entanto, ele não teria sido guiado àquele lugar se não tivesse dado o primeiro passo.
Um Retorno aos Primeiros Princípios na Palavra
Outra passagem de uma das “segundas” epístolas que eu mencionaria ao meu amigo é 2 João 6-7. Ela nos dá outro importante princípio-guia para estes dias. Diz: “E o amor é este: que andemos segundo os Seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes, que andeis nele. Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne”. O ponto aqui é que nestes dias de abandono, quando há “muitos enganadores” por toda parte, a coisa a ser feita é voltar àquilo que é “desde o princípio”. Precisamos voltar aos primeiros princípios na Palavra e tê-los como nosso guia. Seria sem esperança olhar para qualquer outro lugar.
E porque houve um grande abandono da Palavra de Deus no mundo Cristão, encorajaria meu amigo a deixar toda ideia pré-concebida que ele pudesse ter sobre o assunto e “começar do zero” na procura por uma assembleia reunida biblicamente. Não acredito que “pular de igreja em igreja” seja o caminho para uma pessoa ser conduzida neste exercício; provavelmente ela ficaria ainda mais confusa. A maneira de buscar a verdade neste assunto é indo à própria Palavra de Deus e aprendendo o que Deus diz a esse respeito. Assim, encorajaria meu amigo a procurar as Escrituras. Esta é uma procura que deve ser realizada sobre nossos joelhos e na dependência do Senhor.
## Duas Partes do Assunto de Congregar Juntos para Adoração e Ministério
Acredito que procurar por uma assembleia reunida biblicamente é um exercício duplo. Primeiro, precisamos ver o _modelo_ de assembleia local na Palavra de Deus e em segundo lugar, precisamos entender algo sobre a _obra do Espírito_ em reunir Cristãos onde a verdade da assembleia é praticada. O modelo para uma assembleia Cristã é encontrado predominantemente em 1 Coríntios, no que diz respeito a sua ordem, mas muitas epístolas no Novo Testamento, como 1 Timóteo e Hebreus também são de ajuda. Há também muitas ilustrações instrutivas no livro de Atos.
Como um meio de ajudar essa pessoa que busca a verdade neste assunto, na _Parte Um_ deste livro, vamos procurar ver nas Escrituras o modelo de Deus para Cristãos se reunirem para adoração e ministério. Na _Parte Dois_, vamos considerar a obra do Espírito em levar Cristãos exercitados ao lugar onde a verdade da assembleia é praticada.
# PARTE I - UM PERFIL DE UMA ASSEMBLEIA BÍBLICA
Como versículo introdutório sobre o modelo de uma assembleia bíblica, vamos abrir em Ezequiel 43:10: **“Tu, filho do homem, mostra a casa aos da casa de Israel, para que se envergonhem das suas iniquidades; e meçam o modelo**” (TB). Faço referência a este versículo pelo seu significado figurativo. Foi dado a Ezequiel **“o modelo”** para a casa de Deus nos capítulos precedentes (40-42) e agora ele deve dá-lo aos filhos de Israel. O propósito disso foi permitir que vissem o quão longe eles estavam da mente e do ideal de Deus, para que eles ficassem **“envergonhados** [**perplexos** – JND] **das suas iniquidades”** por desviarem-se da ordem de Deus quanto à adoração judaica. Igualmente, se virmos o simples modelo na Palavra de Deus de como os Cristãos deveriam verdadeiramente se reunir para adoração e ministério, ficaríamos surpresos de para quão longe a Cristandade em geral se afastou da ordem de Deus. Podemos bem perguntar: “De onde vieram estas coisas que tomamos por certas na Cristandade, quando não há uma sugestão sequer delas nas Escrituras”? Estamos nos referindo a nomes sectários, magníficas catedrais, o clero como distinto dos leigos, o vestuário dos ministros e os membros do coral, os campanários e as cruzes nos edifícios, os serviços de adoração pré-arranjados, as orquestras, as orações previamente escritas, as mulheres pregando nos púlpitos, o dízimo, os seminários etc. Novamente perguntamos: “De onde vieram todas essas coisas”?
Não era suficiente que Ezequiel **“mostrasse”** ao povo o modelo da casa; o Senhor queria que o próprio povo a **“medisse”**. Este é um exercício bom e saudável para cada um que procura a verdade.
Uma coisa é termos alguém para nos dizer sobre o modelo escritural para adoração Cristã na Palavra de Deus, de forma que ele seja _mostrado_ para nós. Mas também precisamos ter um conhecimento dele por nos envolver no estudo dessas coisas por nós mesmos. Dessa maneira, o medimos por nós mesmos e assim, obteremos um melhor entendimento dele. Assim teremos algo para seguir em nossa procura por uma assembleia bíblica.
## Dez Características Proeminentes
Uma pessoa pode sentir-se um pouco confusa sobre onde deve começar essa procura na Bíblia, a Palavra de Deus. Isto é compreensível. Para ajudar nossos leitores “irem direto ao assunto” nesta monumental tarefa, as páginas seguintes da _Parte Um_ apresentam _dez_ características proeminentes que marcam uma assembleia bíblica. Depois, na _Parte Dois_, mais duas outras características são dadas, apresentando a verdade de reunir, sob a perspectiva de Deus.
Número Um - Uma Assembleia Bíblica se Reunirá Somente ao Nome do Senhor Jesus Cristo
A primeira característica proeminente de uma assembleia reunida biblicamente é que ela vai estar reunida somente ao nome do Senhor Jesus Cristo. Em Mateus 18:20 o Senhor disse: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em [colocados juntos ao – JND] Meu nome**, aí estou Eu no meio deles”**. Ele disse isso aos Seus discípulos em vista da formação da Igreja no dia de Pentecostes (At 2). Mais tarde, depois da Igreja ter sido formada, lemos em 1 Coríntios 5:4, **“**Em nome **de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos** [**estando reunidos** – JND] **vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo**…**”**. Essas duas passagens indicam que a vontade de Deus para a Igreja, quando estivesse reunida para adoração, ministério e ações administrativas, é que fossem feitas somente **“em nome do nosso Senhor Jesus Cristo”**. Uma assembleia hoje reunida conforme as Escrituras observará isso e se manterá livre do sectarismo e das denominações porque todos esses nomes de “igrejas” dividem a Igreja exteriormente em grupos que negam a verdade de que ela é o “um corpo” de Cristo (Rm 12:5; 1 Co 12:12-13; Ef 4:4). Será dito mais da Igreja expressando a unidade do corpo de Cristo no capítulo nove.
Estar reunido ao nome do Senhor não quer dizer que uma assembleia Cristã deveria colocar uma placa no local das reuniões com as palavras: “O SENHOR JESUS CRISTO” e assim chamar a reunião da igreja por esse nome. Tal atitude seria utilizar o nome do Senhor como um título sectário, o que a Escritura desaprova (1 Co 1:12). Não lemos na Bíblia que a Igreja primitiva tenha adotado qualquer outro nome além do nome do Senhor, e apenas informalmente, pois eles não tinham título formal.
O Nome de Cristo é o Centro de Reunião Cristão para Adoração e Ministério
A Escritura nos diz que Deus considera tanto a Seu Filho que deu ao Seu Nome o mais alto valor. “Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na Terra, e debaixo da Terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:9-11). Sendo assim, Deus fez do nome de Cristo o CENTRO para o qual Ele reuniria os Cristãos (Mt 18:20; 1 Co 5:4).
Como já foi mencionado, a Bíblia diz que, quando os crentes se reuniam para adoração e ministério, eles o faziam simplesmente como membros do corpo de Cristo (1 Co 10:16-17). Quando os equivocados Coríntios tentaram reagrupar-se em divisões sob nomes de certos homens dotados ou líderes da Igreja, isso foi denunciado como sendo “carnal” (1 Co 1:10-13, 3:4). Tais linhas partidárias sectárias na Igreja primitiva foram condenadas – e ainda devem ser hoje.
O que os anjos, que conhecem e têm prazer no nome exaltado de Jesus, devem pensar quando veem Cristãos se reunindo para adorar na Terra adotando toda sorte de nomes denominacionais e não-denominacionais? Deus concede o mais alto valor ao nome do Seu Filho, mas nós ouvimos homens dizendo que realmente não importa que nome você leva, contanto que todos creiam no Senhor. Perguntamos: “Que autoridade vinda da Escritura têm as organizações Cristãs para nomear suas igrejas como nacionais (por exemplo, Igreja da Inglaterra), por ordenanças (por exemplo, Batista), por formas de governos de Igrejas (por exemplo, Episcopal, Presbiteriana, Congregacional), ou em nome de homens dotados (por exemplo, Martinho Lutero – Luterana, Menno Simons – Menonita)? As divisões que vemos na Cristandade hoje com seus muitos nomes bem podem ter sido formadas com boas intenções, mas elas não têm base na Escritura.
O nome de Cristo é supremo no céu. Quando chegarmos lá, não haverá uma placa colocada para os batistas e outra para os pentecostais etc. Todos esses nomes denominacionais cairão de uma vez e o nome de Cristo permanecerá supremo. Um ponto no qual muitos Cristãos erram é pensar que Deus quer que seja assim agora entre os Cristãos na Terra! Sabemos disso porque o Senhor ensinou Seus discípulos a orar “… seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no céu” (Mt 6:10). O Senhor elogiou a assembleia em Filadélfia porque ela não negou o Seu nome (Ap 3:8), e uma assembleia que age assim hoje terá também a Sua aprovação. Portanto uma assembleia em conformidade com a Escritura repudiará quaisquer outros nomes, os quais só tendem a destituir o nome incomparável de Cristo, e se reunirá somente ao nome do Senhor Jesus Cristo – Ela não terá qualquer título formal.
Cristãos, acostumados à ordem tradicional da igreja podem pensar que seja um pouco estranho para uma assembleia não ter um nome. Mas isto é bíblico. Os crentes em Antioquia eram simplesmente chamados “Cristãos” (At 11:26), que quer dizer “os de Cristo”. Eles não tomaram esse nome formalmente. Na verdade, o mundo os chamou assim. Mas tomar qualquer outro nome como um “título” eclesiástico nega “o excelente nome” (Tg 2:7 – JND).
Resumo: Uma assembleia reunida conforme a Escritura, se manterá livre de qualquer nome sectário e se reunirá simplesmente ao nome do Senhor Jesus Cristo.
# Número Dois - Uma Assembleia Bíblica se Reunirá de Acordo Com Princípios Que São Separados e Distintos do Judaísmo
A segunda característica notável que marcará uma assembleia reunida biblicamente é que ela será livre de todos os princípios e práticas judaicas na adoração e ministério. A razão para isto é que a Igreja é um novo ponto de partida nos caminhos de Deus, e sendo assim, não é uma extensão do judaísmo em uma nova forma. A Igreja é uma companhia celestial de crentes, que tem esperanças e destino celestiais – e ela também tem uma adoração de carácter celestial. Israel, por outro lado, tinha uma religião terrena ordenada por Deus (judaísmo) porque eles são um povo terreno que tem esperanças e destino terrenos. Sendo assim, a forma de Israel se aproximar de Deus em adoração no judaísmo é inteiramente diferente do novo e vivo caminho no Cristianismo (Hb 10:19-22). Misturar as duas ordens de adoração é não entender o propósito distinto de Deus para cada uma delas (Hb 13:10), e isso resulta em confusão, arruinando a ambas (Lc. 5:36-39).
A primeira menção da Igreja foi quando o Senhor anunciou aos Seus discípulos **“edificarei a Minha Igreja”** (Mt 16:18). O fato d’Ele ter dito **“edificarei”** mostra que ela não existia naquele tempo. É algo inteira e completamente _novo_ que não começou até o dia de Pentecostes, quando o Espírito de Deus desceu e uniu os crentes juntos a Cristo no céu.
Uma grande chave para entender o que é a Igreja é ver que ela não faz parte da revelação do Velho Testamento. Cristo e Sua Igreja é o grande **“Mistério”** de Deus (Ef 5:32). Um mistério, no uso bíblico da palavra, não significa algo misterioso e difícil de entender, mas algo **“oculto”** que Deus manteve escondido desde antes da fundação do mundo (Rm 16:25; Ef 3:4-6; Cl 1:26-27). O grande segredo revelado no Cristianismo é que quando o Messias de Israel (Cristo) reinasse sobre toda a obra das Suas mãos, como prometido no Velho Testamento, Ele teria um complemento ao Seu lado – a Igreja, Seu corpo e noiva. O propósito de Deus é glorificar Cristo no mundo vindouro em duas esferas (na Terra e no céu) por meio desse vaso celestial de testemunho especialmente formado – a Igreja. Hoje Deus está reunindo este material que vai compor esse vaso especial pelo chamado do evangelho. Crentes de entre os judeus e gentios estão sendo salvos e feitos parte dessa nova companhia celestial. Esse segredo é algo que não foi revelado no Velho Testamento, mas estava oculto no coração de Deus (Ef 3:9; Cl 1:26). Aqueles de outras eras não sabiam nada disso, porque não começou até o dia de Pentecostes.
Sendo assim, quando procuramos na Palavra de Deus por um modelo de assembleia bíblica, devemos buscar no Novo Testamento – e particularmente, nas epístolas. 1 Coríntios e 1 Timóteo são especialmente de ajuda. O livro de Atos também tem muitas ilustrações práticas da verdade da Igreja. Considerando então que essa verdade não está no Velho Testamento, não deveríamos procurar nele para aprender como a Igreja deveria se reunir para adoração e ministério. Este é um ponto extremamente importante; é algo que a maioria dos Cristãos interpretou mal.
Não estamos dizendo que Cristãos não deveriam ler o Velho Testamento. **“Toda a** [**cada** – JND] **Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”** (2 Tm 3:16). **“Porque tudo o que dantes foi escrito,** para **nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”** (Rm 15:4). Apesar de o Velho Testamento não ter sido escrito _a_ nós Cristãos diretamente, ele foi escrito “para” nós. Há muita instrução nele sobre caminhos morais de Deus para com o homem. Mas é de máxima importância ver que, à parte às questões morais (porque elas nunca mudam diante de Deus), a maneira como Cristãos devem ler e aplicar o Velho Testamento é pelo seu significado simbólico. As coisas que foram registradas no Velho Testamento das Escrituras são tipos e figuras para nós como Cristãos (1 Co 10:11; Hb 8:5; 9:9, 23-24, 10:1, 11:19; 1 Co 9:9-10; Gl 4:24; Rm 4:23, 5:14).
## **Judaísmo** Não **é um Modelo para a Adoração Cristã**
Infelizmente, as igrejas na Cristandade têm ignorado o ensino simples da Escritura que diz que o tabernáculo é a _figura_ do verdadeiro santuário ao qual os Cristãos agora têm acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). Em vez disso, têm usado o tabernáculo e templo do Velho Testamento como _modelos_ para suas igrejas. Eles adotaram muitas coisas no sentido literal daquela ordem judaica para seus lugares de adoração e serviços religiosos. Fazendo isto, o sentido figurativo dessas coisas foi perdido de vista.
A seguir há uma lista de algumas coisas que a igreja trouxe do judaísmo:
- O uso literal de templos e catedrais como lugares de adoração.
- Uma casta especial de homens que oficia em favor da congregação.
- O uso de instrumentos musicais para ajudar na adoração.
- O uso de corais.
- O uso de incenso para criar uma atmosfera espiritual.
- O uso de vestes religiosas pelos “ministros” e membros do coral.
- O uso literal de um altar (não de sacrifício).
- A prática do dízimo.
- A observância de dias santos e festas religiosas.
- O registro dos nomes da congregação.
É verdade que muitas dessas coisas judaicas foram de alguma forma alteradas para se adaptarem ao contexto Cristão, mas elas ainda têm os aparatos do judaísmo. Este tipo de influência judaica de princípios e práticas permeou a Igreja. Muito disso tem estado há tanto tempo presente no Cristianismo que já se tornou aceito pelas massas como sendo o ideal de Deus. A maioria acha que é bom ter esta mistura judaico-Cristã. A Teologia do Pacto (um sistema errôneo de interpretação da Bíblia que promove esta fusão do judaico com o Cristão) é predominante na Cristandade. Infelizmente, misturar essas duas diferentes ordens de aproximação a Deus, destruiu a distinção de cada uma, e o que dessa mistura resultou, não é nem judeu nem Cristão.
## Duas Ordens Contrastantes
Como mencionado antes, judaísmo e Cristianismo são ordens contrastantes de aproximação a Deus, e Ele não pretende que elas se misturem. Judaísmo é uma maneira _terrena_ de se aproximar de Deus em adoração, para um povo _terreno_, com esperanças e heranças _terrenas_ (Hb 9:1). Cristianismo, por outro lado, é uma ordem _celestial_ de adoração, para um povo _celestial_ que tem esperanças, herança e destino _celestiais_ (Hb 3:1; Co 1:5; Fp 3:20; 1 Pe 1:4). Não estamos dizendo que uma é ruim e outra é boa. Ambas são maneiras de aproximação a Deus para adoração, por Ele ordenadas. O ponto é que elas não devem ser misturadas.
As relações de Deus com Israel em caráter nacional estão suspensas neste momento (Rm 9-11). Durante este presente período da graça, Ele está visitando os gentios **“para tomar dentre eles um povo para o Seu nome”**, os quais irão compor Seu novo vaso de testemunho – a Igreja (At 15:14 – AIBB). Sendo uma nova e celestial companhia, a Igreja tem uma ordem inteiramente diferente de adoração que está de acordo com o seu chamado celestial. Ela não precisa de formas e rituais para adorar a Deus, que marcam o judaísmo.
## A Transição do Judaísmo para o Cristianismo
Vamos olhar algumas passagens que indicam a transição do judaísmo para o Cristianismo. Antes de tudo veja Lucas 5:36-39, **“E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço dum vestido novo para o coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo não condiz com o velho. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho”**. O Senhor indicou aqui que havia uma nova ordem chegando, e que não era para ser misturada com a velha, de outro modo, as duas se estragariam. O ponto principal a ser entendido nesta parábola é que a nova ordem não era uma extensão da velha ordem do judaísmo, mas uma coisa inteiramente _nova_, que requereria uma configuração inteiramente _nova_. O versículo 39 mostra que levaria algum tempo para que aqueles acostumados com a antiga ordem apreciassem a nova ordem. Sendo afetuosamente ligado a essa ordem exterior de adoração no judaísmo, que atrai os sentidos naturais, uma pessoa não a deixaria facilmente.
Em João 4:21-24 temos um pouco mais: **“Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-Me que a** **hora vem, em que** nem neste monte nem em Jerusalém **adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque** o Pai **procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem** em espírito e em verdade**”**. O Senhor menciona aqui três coisas significativas que marcariam a mudança da antiga ordem de adoração do judaísmo para a nova ordem no Cristianismo:
- Haveria um _novo lugar_ de adoração que não era **“neste monte”** (Gerizim), nem em **“Jerusalém”**. Hebreus 8:2, 9:11, 23-24 e 10:19-22 indicam que é no santuário celestial, na presença direta de Deus – embora não seja mencionado aqui. E assim, cessaria um centro geográfico terreno de adoração.
- Houve uma _nova revelação da Pessoa_ adorada. No judaísmo Deus era adorado como Jeová, mas agora no Cristianismo Ele deve ser adorado como **“o Pai”** do Senhor Jesus Cristo. Esta é uma relação mais íntima.
- Haveria um _novo caráter_ de adoração. A adoração no judaísmo era terrena e tangível, realizado por meio de um sistema de rituais e cerimônias, mas a nova ordem para aproximar-se de Deus, no Cristianismo, seria uma coisa puramente espiritual. Crentes poderiam agora adorar o Pai em **“espírito”** e de acordo com a nova revelação da **“verdade”**.
No Cristianismo oferecemos **“sacrifícios espirituais”** que contam com ajuda da presença permanente do Espírito Santo (1 Pe 2:5; Fp 3:3) em contraste às **“ordenanças carnais”** da ordem judaica (Hb 9:10). E fazemos isto na presença direta de Deus (Hb 10:19). Esta é uma bênção que Israel não teve. Como os Cristãos devem adorar **“em espírito e em verdade”**, podemos nos sentar silenciosamente em uma cadeira e aí poder ser produzido em nossa alma e espírito, verdadeiro louvor a Deus, o Pai, pelo Espírito Santo. Isto é verdadeira adoração celestial. No céu não haverá necessidade de coisas mecânicas externas na adoração a Deus, como no judaísmo. O Cristianismo não tem necessidade dessas coisas, porque podemos agora adorar a Deus pelo Espírito nesta maneira celestial (Fp 3:3 – JND).
A adoração judaica apela para os sentidos, sendo um meio terreno e sensorial de aproximação a Deus. É estimulado por:
- _Visão_ – isto é, a grandeza do templo (1 Rs 10:4-5; Mc 13:1; Lc 21:5).
- _Olfato_ – isto é, a queima de incenso que produz uma atmosfera envolvente (Êx 30:34-38).
- _Paladar_ – isto é, comer sacrifícios (Dt 14:26).
- _Audição_ – isto é, lindas músicas produzidas pela orquestra e acompanhadas pelo coral (1 Cr 25:1, 3, 6-7)
- _Tato_ – isto é, participação nas ofertas de uma forma física, isto é, dançando e levantando as mãos (2 Sm 6:13-14; 1 Rs 8:22).
É significativo não encontrarmos em nenhum lugar no livro de Atos ou nas epístolas, Cristãos adorando o Senhor usando rituais e meios mecânicos exteriores, como instrumentos musicais. Os únicos dois instrumentos que os Cristãos são encontrados usando para adoração na Escritura são o seu **“coração”** (Co 3:16; Ef 5:19) e seus **“lábios”** (Hb 13:15).
O esboço do evangelho de Mateus indica esta mesma transição dispensacional do judaísmo ao Cristianismo. Isto é visto nos atos simbólicos e no ensino do Senhor por parábolas. Este evangelho foi escrito especialmente aos judeus tendo essas coisas em vista, porque eles naturalmente teriam dificuldades com esta mudança nos caminhos de Deus. O evangelho registra a culpa dos judeus rejeitando seu Messias. O Espírito de Deus, que conhecia os caminhos de Deus desde a eternidade, previu a rejeição de Cristo pelo povo e escreveu o evangelho com uma ordem dispensacional em mente. As muitas figuras a nós apresentadas no evangelho mostram que quando o povo rejeitasse o Senhor, Deus deixaria a nação de lado por um tempo, e alcançaria os gentios e os traria à bênção na Igreja. Isto não aconteceu durante a vida do Senhor, mas o teor do evangelho indica que haveria um desvio nos caminhos de Deus para o Cristianismo.
No capítulo 4 o Senhor saiu para anunciar à nação que Ele estabeleceria **“o reino dos céus”** em poder, e traria as grandes bênçãos prometidas pelos profetas. Nos capítulos 5-7, Ele ensinou os padrões morais do reino em Seu **“Sermão da Montanha”**. Os capítulos 8-9 apresentam doze incidentes onde o Senhor demonstra **“os poderes do mundo vindouro”** (Hb 6:5), confirmando Seu poder para trazer o reino como prometido pelos profetas. No capítulo 10 o Senhor enviou os apóstolos para pregar o evangelho do reino e chamar a nação para receber seu Rei. Nos próximos dois capítulos (11-12), o Espírito de Deus dá o resultado da mensagem: ambos, João Batista e o Senhor são rejeitados pelo povo comum na Galileia (cap. 11) e pelos líderes da nação Judeia (cap. 12). Os últimos (os líderes) cometeram o pecado imperdoável de blasfêmia contra o Espírito Santo, selando a condenação da nação.
Sendo assim, o Senhor fez diversas ações simbólicas nos capítulos 12 e 13 para indicar que Sua ligação com a nação seria rompida e ela seria temporariamente colocada de lado no trato governamental de Deus. Este colocar de lado historicamente aconteceu em Atos 7 quando os líderes da nação (o Sinédrio) apedrejaram Estevão como resposta formal a respeito de terem Cristo reinando sobre eles (Lc 19:14). Isto é indicado no evangelho de Mateus pelas seguintes coisas:
Primeiro, houve dois incidentes onde o Senhor e Seus discípulos aparentemente profanaram o Sábado comendo milho e curando uma pessoa (Mt 12:1-13). Já que a nação O rejeitou, o pacto que o Senhor tinha com ela foi quebrado. Consequentemente, o Sábado, que era o selo da relação (Êx 31:12-17), já não tinha suas reivindicações. As ações do Senhor no Sábado demonstraram esse fato.
Assim, daquele momento em diante o Senhor não mais levantaria Sua voz nas ruas para pregar as boas novas do reino (Mt 12:14-21). Isto porque o reino em seu poder e glória não seria mais oferecido à nação. Daí em diante, não é mais dito de o reino estar **“próximo”**, como era o caso dos capítulos anteriores. De acordo com isso, o Senhor ordenou aos discípulos que **“não O dessem a conhecer”** daí em diante (Mt 12:16 – TB, 16:20, 17:9).
Além disso, o Senhor Se recusou a dar ao povo mais sinais do Seu Messiado (Mt 12:38-45). Ele disse que a incredulidade deles era tão profunda que, consequentemente, se manifestaria por si própria no ato de a nação receber o anticristo, e este último estado seria pior que o primeiro (uma idolatria pior do que a que antecedeu seu cativeiro babilônico).
O Senhor então passou a recusar o chamado de Sua mãe e de Seus irmãos. Isto também foi uma ação simbólica que indicou o rompimento de Seus laços naturais com a nação (Mt 12:46-50).
Finalmente o Senhor **“saiu da casa”** onde Ele esteve ensinando o povo (Mt 13:1). Isto de novo simbolizava o rompimento com a nação.
Então nos capítulos 12-16, o Senhor Se retirou da multidão do povo (caps. 12:15, 13:1, 13:53, 14:13, 15:21, 15:29, 16:4). Isto novamente é indicativo do fato de que Ele Se dissociaria da nação.
Com o Senhor sendo rejeitado **“o reino dos céus”**, como apresentado pelos profetas do Velho Testamento, seria postergado. Mas Deus nunca volta atrás em Suas promessas; portanto, o cumprimento literal da bênção do reino a Israel seria suspenso até mais tarde.
Quando a nação rejeitou o Senhor como seu Messias, Deus começou a trabalhar numa nova direção – com os gentios. Este movimento nos caminhos de Deus é novamente retratado pelas ações simbólicas do Senhor. Após sair da casa, Ele sentou-se **“junto ao mar”** (Mt 13:1). O mar na Escritura fala dos gentios (Sl 65:7; Is 17:12; Ap 17:15; At 10:6). Isto indica que Deus visitaria **“os gentios para tomar dentre eles um povo para o Seu nome**” (At 15:14 – AIBB). Ele faria isso por meio do chamado do evangelho da graça de Deus. Este novo início está registrado no livro de Atos, do capítulo 8 ao 28, e ainda está acontecendo hoje.
O novo início nos caminhos de Deus é prefigurado no ministério do Senhor no evangelho de Mateus de quatro maneiras:
- Primeiramente o Senhor indicou que haveria _uma nova maneira de trabalho divino_ – semeando a semente da Palavra de Deus no coração dos homens, e assim produzindo para Deus uma nova colheita que daria frutos (Mt 13:1-9, 18-23). Ele não procuraria mais frutos na lavoura de Deus conforme a velha ordem.
- Em segundo, o Senhor adotou _um novo método de ensinar_ – **“por parábolas”** (Mt 13:13, 34-35). Nos primeiros doze capítulos Ele não usou parábolas para ensinar o povo. Ele falou claramente com eles. Mas agora, por causa da dureza do coração dos judeus incrédulos, a verdade seria escondida deles por causa dos relacionamentos atuais de Deus. Aos apóstolos e àqueles com coração crente foram dadas as interpretações.
- Terceiro, o Senhor disse a Seus discípulos que haveria um _novo_ _significado_ para o reino dos céus. Haveria agora um lado místico para o reino (Mt 13:11). Os “[mistérios](http://definicoesdoutrinais.blogspot.com.br/2017/08/misterios-os.html?m=1)” relativos ao reino seriam explicados a eles nos capítulos seguintes.
- Quarto, haveria _novas revelações_ em conexão com a nova fase de mistério do reino, na qual certas coisas, que foram mantidas **“ocultas”** desde a fundação do mundo, seriam reveladas (Mt 13:35).
É significativo que, afastando-Se do povo publicamente, o Senhor esperou até que alcançasse a periferia mais distante da terra – **“as partes de Cesareia de Felipe”** – para apresentar a verdade da Igreja (Mt 16:13-20). Isto, novamente, aponta para o fato de que Ele queria que a Igreja fosse algo distinto de Israel. É claro então, pelo inteiro teor desses capítulos no evangelho de Mateus, que Deus pretende que a Igreja seja inteiramente separada e distinta do judaísmo.
## **O Novo e Vivo Caminho –** Dentro **do Véu e** Fora **do Arraial**
Hebreus 10:19-20 indica esse mesmo ponto. Diz: **“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário** [**Santo dos Santos** – ARA]**, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou** [**dedicou para nós** – JND]**”**. Isto mostra que o lugar Cristão de adoração está _dentro_ do véu do verdadeiro **“Santo dos Santos”** (ARA) – a presença imediata de Deus no santuário celestial (Hb 8:2, 9:8, 10:19). Podemos agora vir à presença do Senhor com **“ousadia”** com nossa adoração e ações de graças porque a obra consumada de Cristo tirou o pecado (judicialmente) de diante de Deus (Hb 9:26-28) e tirou a culpa dos pecados de nossa consciência (Hb 10:18). Assim, isso nos adequou para a presença de Deus, dando-nos uma consciência purificada que resultou em paz perfeita; e a paz perfeita dá santa ousadia para **“entrar”** no lugar santíssimo.
Há duas coisas a serem observadas neste versículo. Primeiramente a maneira Cristã de se aproximar de Deus, agora que a redenção foi realizada, é um **“novo”** caminho. Não é uma forma mudada ou alterada, mas uma maneira inteiramente _nova_. Se a maneira de Israel se aproximar de Deus em adoração fosse para ser um modelo para a adoração Cristã, então a nossa adoração não poderia ser chamada de nova. Segundo, é um caminho **“vivo”**. Isto significa que a pessoa deve ter uma vida nova para ser capaz de participar nesta nova adoração. Este não era o caso no judaísmo. Uma pessoa poderia participar e apreciar a adoração no judaísmo – a música, o sabor dos sacrifícios e os aparatos do templo, etc. – e nem mesmo ter uma nova vida! No Cristianismo a pessoa precisa nascer de novo e ser selada pelo Espírito Santo para ser um verdadeiro adorador.
Um pouco mais adiante em Hebreus 13:9-10 diz: **“Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça, e não com manjares** (**carnes** – JND)**, que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram. Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo”**. Não poderia estar mais claro que isto; Deus não quer uma mistura das duas ordens de adoração. Qualquer coisa que encorajasse a mistura é uma doutrina **“estranha”**. O Senhor quer que estejamos estabelecidos no que a **“graça”** nos trouxe no Cristianismo, e não com **“carnes”** – uma referência à ordem exterior de rituais e cerimônias no judaísmo. Ele diz, **“Temos um altar”**. Ele não está falando aqui de algo literal, mas do que um altar representa figurativamente – isto é, um sistema de aproximação a Deus. Mas observe: o escritor diz que **“os que servem ao tabernáculo”** (a ordem judaica) não deveriam ser envolvidos no uso deste altar Cristão porque Deus não quer que as duas ordens sejam misturadas.
Passemos agora aos versículos 13-16 neste mesmo capítulo (Hb 13); **“Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério** [**Sua reprovação** – JND]**. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura. Portanto, ofereçamos sempre por Ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome. E não vos esqueçais da beneficência e comunicação** [**das vossas possessões materiais** – JND]**, porque com tais sacrifícios Deus Se agrada”**. Isto é realmente a essência de toda a epístola. A dificuldade por todo o lado tem sido mostrar aos judeus convertidos que a aproximação Cristã a Deus é realmente um contraste com a maneira judaica, e que Deus deu a eles algo _melhor_ no Cristianismo. Após vários pontos serem destacados com esta finalidade, a conclusão de toda a questão é que o crente deve deixar completamente a ordem judaica porque ela foi deixada de lado no presente, e o Senhor está fora dela. Assim, o lugar Cristão de adoração é _dentro_ do véu em espírito (Hb 10:19), mas _fora_ do arraial como posição eclesiástica (Hb 13:13).
O chamado é, portanto, para **“sair do arraial”**. Este é um termo que representa o judaísmo e todos os seus princípios e práticas relacionados. Um judeu não teria dificuldade para entender o que este termo quer dizer, já que era usado no Velho Testamento em conexão com Israel. O grande ponto da epístola é que a maneira judaica de aproximação a Deus é para ser deixada para trás pela verdadeira adoração Cristã. Na verdade, é para ser deixada não importa onde for encontrada – se no judaísmo formal ou em qualquer forma Cristã semi-judaica na Cristandade. Essa é uma exortação muito aplicável para nós nos dias de hoje; fomos chamados para sair **“do arraial”** onde quer que o vejamos, quer seja numa sinagoga judaica ou nas igrejas denominacionais da Cristandade feitas pelo homem, porque o Cristianismo bíblico não é uma nova versão do judaísmo.
Os versículos 14-15 indicam que no Cristianismo não temos uma sede geográfica terrena – **“Porque não temos aqui cidade permanente”**. Esperamos a vinda de uma cidade celestial, porque somos um povo celestial com um destino celestial. Enquanto a esperamos vir, podemos oferecer nossos sacrifícios espirituais de louvor a Deus.
Novamente, não estamos dizendo que a ordem judaica de adoração é má. Como seria possível que fosse má? Ela foi estabelecida e ordenada por Deus. Quando Israel for restaurado e abençoado na sua terra num dia futuro (no Milênio), eles adorarão a Deus naquela ordem judaica (Ez 43-46). E estará correto e apropriado para eles fazerem isso. Nosso ponto aqui é que estas duas diferentes ordens de aproximação a Deus não devem ser misturadas em nenhuma adoração judaico-Cristã, a qual não seria nem judaica nem Cristã.
Resumo: Uma assembleia bíblica será livre dos aparatos do judaísmo. Ela não terá uma catedral para se reunir, ou uma orquestra com um coral etc. para ajudar a adoração. Ela se reunirá na simplicidade sem marcas de uma religião terrena organizada. Hinos serão cantados vocalmente, e aqueles que oram ou ministram a Palavra não serão de uma casta especialmente ordenada.
Número Três - Uma Assembleia Bíblica Dará ao Senhor Seu Legítimo Lugar na Condução das Reuniões Pelo Espírito Santo
Vamos de novo para Mateus 18:20, mas agora para focarmos em outra parte do versículo. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em [colocados juntos ao – JND] Meu nome, aí estou Eu no meio deles.” O ponto que queremos destacar agora é o fato de que o Senhor está “no meio” de uma assembleia reunida biblicamente. O Senhor fez uma maravilhosa promessa aqui! Ele prometeu estar realmente no meio daqueles reunidos ao Seu nome. Ele não está falando de estar lá fisicamente, mas em espírito.
Isto significa que se Ele, que é a Cabeça da Igreja, está no meio da assembleia, assim reunida pelo Espírito ao Seu nome, Ele deve ser o Único a dirigir as reuniões. Hebreus 2:12 confirma isto dizendo que o Senhor está “no meio da congregação [assembleia – JND]” – e Ele está lá para guiar o louvor do Seu povo. Seu grande Agente para guiar todo o proceder na assembleia é o Espírito Santo. Consequentemente, uma assembleia reunida biblicamente não terá um homem estabelecido em seu meio para conduzir as reuniões – isto é, um clérigo (assim chamado sacerdote, pastor ou ministro). Definir um dirigente humano para conduzir os procedimentos na assembleia – independentemente de quão piedoso e dotado ele possa ser – é uma negação de que Cristo está lá para dirigi-la pelo Espírito.
Primeira aos Coríntios 12:7-11 diz, “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil [para proveito comum – AIBB]. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. Esta passagem indica que o Espírito de Deus não somente dá dons espirituais aos membros do corpo de Cristo, mas também dirige a operação desses dons na assembleia. Se for dada liberdade ao Espírito de Deus nas reuniões da assembleia, o Senhor, pelo Espírito, conduzirá um aqui e outro ali para que apresente uma palavra de louvor ou ministério. No capítulo 14:26-40 vemos isto em ação, indicado (na versão inglesa King James) pela palavra “let”1. Esta pequena palavra é usada 12 vezes nesses poucos versículos que descrevem os procedimentos numa reunião de ministério na assembleia. É uma exortação aos santos para que permitam o Senhor conduzir pelo Espírito os vários membros do Seu corpo que estão presentes na reunião, em adoração e ministério.
A Posição de um Clérigo na Igreja Não é Encontrada na Escritura
É triste dizer, mas a maioria das organizações da igreja tem um clérigo ordenado para conduzir os serviços. Diferentes nomes são dados a esta posição criada pelo homem na igreja; ele pode ser chamado de “sacerdote”, ou “ministro”, ou “pastor”, dependendo de qual setor do mundo Cristão ele vem. Independentemente de qual escola um pastor ou ministro ordenado possa ter vindo, todo o conceito de um clérigo presidindo uma assembleia de Cristãos é uma invenção humana, e não é encontrada na Palavra de Deus. W. T. P. Wolston disse, “A ideia está na cabeça dos homens, mas não na Escritura”.
Alguns podem contestar isto e dizer: “Mas lemos sobre pastores na Bíblia”. Sim, isto é verdade, um pastor é uma pessoa a quem foi dado o dom para pastorear o rebanho de Deus. É um dos muitos dons que Cristo dá à Igreja para ajudar os membros do corpo a crescerem (Ef 4:11-13). O que contestamos é aquilo que as igrejas denominacionais denominaram “pastor”. Eles fizeram do dom de pastor algo que não é encontrado na Escritura. Tomaram um termo bíblico e o associaram a uma posição não bíblica na igreja. E o que é tão confuso a esse respeito é que a pessoa pode ocupar esta posição sem nem mesmo ter o dom de pastor! Ele pode ter o dom de um evangelista, ou de um mestre, ou algum outro dom, e ainda assim carregar o título de “pastor”. E por que nomear unicamente este dom no corpo de Cristo para esta posição?
Estabelecer um homem para conduzir as reuniões na assembleia é realmente uma negação prática da liderança de Cristo. C. H. Mackintosh disse, “Se Jesus está em nosso meio, por que pensaríamos em estabelecer um dirigente humano? Por que não permitirmos unanimemente e de todo o coração, que Ele tome o assento presidencial e nos curvemos a Ele em todas as coisas? Por que estabelecer autoridade humana sob qualquer modelo ou forma na casa de Deus? Pode ser dito pelos defensores da autoridade humana, ‘Como uma assembleia poderia funcionar sem alguma direção humana? Isso não levaria a todo tipo de confusão humana? Isto não abriria a porta para todos se intrometerem na assembleia independentemente de dom ou qualificação?’ Nossa resposta é muito simples. Jesus é Todo-Suficiente. Podemos confiar n’Ele para manter a ordem em Sua casa. Sentimo-nos muito mais seguros nas Suas graciosas e poderosas mãos do que nas mãos do mais atraente dirigente humano”.
Que triste confusão entrou na casa de Deus como resultado do estabelecimento de um clérigo em seu meio para conduzir os procedimentos da assembleia. Este arranjo humano afastou a simplicidade da ordem divina. É algo de tal maneira aceito na Cristandade que as pessoas não pensam duas vezes sobre esta posição criada pelo homem na igreja. Isto é tão difundido que pode ser visto desde a catedral de São Pedro em Roma até a menor capela evangélica. O que é mais sério a esse respeito, é que isto interfere na direção do Espírito Santo na assembleia. A noção de um clérigo é “dispensacionalmente um pecado contra o Espírito Santo” (J. N. Darby).
As palavras do Senhor enviadas às sete igrejas em Apocalipse 2-3 indicam que esta prática está na igreja há muito, muito tempo. Isto é indicado naqueles a quem o Senhor chama de “os nicolaítas” (Ap 2:6, 15). Respeitados expositores os identificam como trabalhadores malignos que minaram a ordem apostólica nas igrejas, introduzindo o sistema clero/leigo. Isto pode ser visto a partir do significado do nome que o Senhor deu a eles. “Nico” significa “governar” e “laítas” significa “o povo”, raiz de onde vem a palavra “leigo”. O que precisamos ver aqui é que esta ordem criada pelo homem é algo que o Senhor “odeia” (ARA). Percebendo que essa intrusão na ordem de Deus é algo que não é bíblico e que é odioso para o Senhor, uma assembleia reunida biblicamente certamente deve rejeitá-la.
Ordenação
A prática na Cristandade em escolher um assim chamado “pastor” é algo que também não é encontrado na Escritura. Referimo-nos ao processo pelo qual um clérigo chega para presidir numa igreja local. O procedimento usual é que o aspirante a “pastor” ou “ministro” é convidado por uma igreja em particular onde lhe é dada uma oportunidade de se provar dando alguns sermões. Se a pregação dele for aceitável à congregação, eles votarão nele para ser seu “pastor”. No entanto, não encontramos na Escritura que haja alguma assembleia local que escolha um pastor para conduzi-la! Nem mesmo um apóstolo nunca nominou um pastor para presidir numa assembleia local de Cristãos. “De onde veio essa prática?”
Ademais, não há uma pessoa na Bíblia que tenha sido ordenada por homens para pregar o evangelho ou ministrar a verdade à Igreja! Se fosse a vontade de Deus que a Igreja assim o fizesse, Ele nos teria instruído sobre isso na Sua Palavra – mas não há uma menção sequer disso. As únicas pessoas na Bíblia que foram ordenadas foram os anciãos, e eles nunca foram escolhidos por uma assembleia local, mas por um apóstolo ou por alguém delegado por um apóstolo (At 14:23; Tt 1:5). A ordenação, hoje praticada em igrejas denominacionais, envolve a imposição das mãos por aqueles que supostamente têm algum poder espiritual para conferir algo a uma pessoa. Mas é uma pretensão pensar que a ordenação vem por meio da imposição das mãos. Em cada caso onde anciãos foram ordenados na Bíblia, não é mencionado que mãos foram impostas sobre eles! W. Kelly disse, “Não tenho dúvida que o Espírito de Deus sabia da superstição que estaria ligada à história da Igreja nos últimos tempos, e assim, Ele tomou o cuidado de nunca conectar imposição de mãos com ordenação de anciãos… Minha afirmação é que, nesta questão da ordenação, a Cristandade perdeu a mente e a vontade de Deus; e é lutar em ignorância, mas não sem pecado, por uma ordem própria, o que é mera desordem”. T. MacMillian, que passou pelo processo de ordenação antes de aprender a verdade, disse, “Eles impuseram suas mãos vazias sobre minha cabeça vazia”.
Como vimos nas Escrituras citadas até agora, o papel de conduzir a adoração e o ministério na assembleia pertence ao Espírito Santo, e não a algum dirigente humano – independentemente de quão dotado e experiente ele possa ser. Se Deus confiou a obra de criar o universo ao Espírito Santo (Jó 26:13, 33:4; Sl 104:30), certamente Este seria capaz de conduzir uns poucos Cristãos reunidos em uma assembleia para adoração e ministério! O que a Escritura exige de nós é que haja fé no poder e na presença do Espírito, e isso é provado ao darmos a Ele o Seu devido direito de usar quem O apraz para falar nas reuniões. Desde o momento em que o Espírito de Deus foi enviado ao mundo, no Pentecostes, procuramos em vão por qualquer dirigente da Igreja no Novo Testamento, exceto a soberana direção do Espírito Santo. Está claro, portanto, que uma assembleia bíblica não terá um dirigente humano para conduzir as reuniões, mas permitirá o Senhor dirigir pelo Espírito.
Resumo: Uma assembleia reunida biblicamente será livre do clericalismo em todos os modelos e formas, porque não é bíblico haver um homem dirigindo a congregação. Reuniões numa assembleia bíblica serão governadas pelo Senhor, conduzindo os procedimentos pelo Espírito Santo. Vários membros do corpo de Cristo apresentarão oração, louvor ou ministério nas reuniões, sendo conduzidos pelo Espírito, sem ter um dirigente humano presidindo.
# Número Quatro - Uma Assembleia Bíblica Reconhecerá o Sacerdócio de Todos os Crentes e Permitirá Que Ajam Como Forem Conduzidos Pelo Espírito
Até agora vimos que uma assembleia reunida biblicamente será livre de sectarismo, judaísmo e clericalismo. Agora vamos olhar outra característica estreitamente ligada aos pontos anteriores – uma assembleia bíblica reconhecerá o verdadeiro sacerdócio de todos os crentes. Já que tal assembleia vai dar a Cristo Seu legítimo lugar conduzindo e guiando os procedimentos nas reuniões, também haverá liberdade para os sacerdotes agirem na assembleia, como forem guiados pelo Espírito de Deus.
Há duas esferas públicas na Igreja: a esfera do sacerdócio e a esfera do dom. Sacerdócio tem a ver com o privilégio de aproximar-se de Deus com adoração e louvor. A palavra **“sacerdote”** significa “_aquele que oferece_”. A Bíblia ensina que todos os Cristãos são sacerdotes. Em 1 Pedro 2:5 lemos **“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis** [**aceitáveis** – JND] **a Deus por Jesus Cristo”**. E em Apocalipse 1:5-6 diz, **“Àquele que nos ama, e nos libertou** [**lavou** – ARC] **dos nossos pecados pelo Seu sangue e nos fez reino, sacerdotes para Deus e Seu Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém”** (TB).
Novamente em Hebreus 10:19-22 diz, **“Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo [um] grande [Sumo] Sacerdote sobre a casa de Deus”** (ARA), **“cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa”** (ARC). O fato de que diz que o Senhor é um **“Sumo Sacerdote”** implica que há uma companhia de sacerdotes abaixo d’Ele. Ele não presidiria como um **“sumo”** sacerdote se não houvesse sacerdotes abaixo d’Ele. Igualmente uma pessoa não seria chamada de líder de uma companhia ou grupo se não houvesse aqueles a quem ele liderasse. Assim sendo, esta exortação nos encoraja a nos aproximarmos de Deus e exercermos os nossos privilégios sacerdotais.
Deus nos fala de _duas_ coisas que fizeram, dos filhos de Aarão, sacerdotes de acordo com a ordem judaica (Êx 29; Lv 8). Na ordem Cristã temos estas duas coisas como realidades. Como resultado, somos constituídos **“sacerdotes para Deus”** (Ap 1:6).
- **“Corpo lavado”** – Isto é figurativo do nosso novo nascimento (Jo 13:10).
- **“Coração purificado”** – Isto é figurativo da obra consumada de Cristo aplicada por fé ao crente, pela qual sua consciência é purificada (Hb 9:14).
Mas há algo a mais que é necessário para nos fazer agir como sacerdotes na presença de Deus. Ele também fala de:
- **“Um coração verdadeiro”** – Isto é uma referência a um coração que julgou a si mesmo (1 Co 11:28, 31). Um coração cheio de astúcia que esconde seu verdadeiro estado não é um coração honesto e verdadeiro.
- **“Inteira certeza de fé”** – Isto não está se referindo à certeza da salvação, mas à confiança que temos de nos aproximar de Deus em fé porque nos julgamos a nós mesmos.
Assim, as duas primeiras coisas nos fazem _sacerdotes_, e as duas segundas nos fazem _sacerdotais_. Uma tem a ver com o que somos posicionalmente; a outra tem a ver com o nosso estado. Uma coisa é ser um sacerdote e outra é estar num estado sacerdotal. Pode ser por isto que há ocasiões onde poucos irmãos exercitam seu sacerdócio audivelmente numa reunião – os outros podem não estar num estado sacerdotal. A resposta não é estabelecer uma casta de homens para fazer a oração e adoração pública a Deus, mas de nos julgarmos a nós mesmos a fim de que o Espírito de Deus esteja livre para nos guiar nas reuniões.
A possibilidade de os sacerdotes não estarem em estado sacerdotal é ilustrado em 2 Crônicas 29:34. Diz, **“Eram, porém, mui poucos os sacerdotes, de modo que não podiam esfolar todos os holocaustos; pelo que seus irmãos, os levitas, os ajudaram, até se acabar a obra, e até que os outros sacerdotes se santificassem, pois os levitas foram mais retos de coração, para se santificarem, do que os sacerdotes”**. Não é que não havia sacerdotes suficientes, mas que não havia sacerdotes **“santificados”** suficientes. Muitos deles não estavam num estado correto para cuidar dos sacrifícios porque não haviam se santificado.
Nas reuniões, os irmãos devem exercitar seu sacerdócio em orações públicas como porta-vozes da assembleia. Em muitas igrejas hoje esse privilégio tem sido limitado a uma classe especial de pessoas, mas esta não é a ordem bíblica. O apóstolo Paulo disse, **“Quero, pois, que os homens orem em todo lugar”** (1 Tm 2:8). As palavras **“todo lugar”**, obviamente, incluem a assembleia. E novamente, em 1 Coríntios 14:15-19, ele menciona orar publicamente na assembleia. Declarar uma tal classe e impô-la na assembleia é negar que todos os crentes são sacerdotes. Com efeito, exclui o privilégio no Cristianismo de se entrar ousadamente no **“Santo dos Santos”** (na presença imediata de Deus) e restaura o judaísmo onde os santos se aproximavam de Deus à distância, por meio de uma casta intermediária de homens.
Resumo: Uma assembleia bíblica permitirá liberdade para os sacerdotes orarem e louvarem a Deus publicamente, como forem guiados pelo Espírito.
Número Cinco - Uma Assembleia Bíblica Reconhecerá os Dons Espirituais em seu Meio e Permitirá Que Sejam Exercitados Como Forem Guiados Pelo Espírito Santo
A segunda esfera pública na assembleia é a do dom. Esta é a esfera onde o ministério é dado na forma de ensino e exortação. Sacerdócio tem a ver com coisas espirituais sendo ministradas do homem para Deus; enquanto que o exercício do dom tem a ver com coisas espirituais sendo ministradas de Deus para o homem, no caminho da verdade vinda de Sua Palavra. Uma assembleia bíblica reconhecerá os dons espirituais em seu meio e permitirá que sejam exercitados, como forem guiados pelo Espírito.
A Bíblia ensina que todos os crentes receberam um dom espiritual a eles comunicado quando foram salvos e selados com o Espírito Santo. 1 Pedro 4:10-11 diz, “cada um de vós, segundo o dom que recebeu, comunicando-o [ministrando-o – JND] uns aos outros, como bons despenseiros das várias graças de Deus. Se alguém fala, fale como oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre como da força que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a Quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém” (TB). E em Efésios 4:7 diz, “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo”. 1 Coríntios 12:7 diz, “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um**, para o que for útil”**. A distribuição dos dons é ilustrada na parábola do Senhor em Mateus 25:15. **“e a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a** cada um **segundo a sua capacidade”**. As palavras **“a cada um”**, são genéricas e assim inclui irmãos e irmãs.
É importante entender que estes dons não são dons naturais que possamos ter – como dom musical ou talento artístico, ou força natural etc. – mas capacidades espirituais dadas a nós para nos habilitar a ocupar nosso lugar no corpo. Mencionamos isto porque muitos Cristãos estão confusos a esse respeito. Eles pensam que a habilidade natural de uma pessoa é seu dom espiritual no corpo de Cristo. E daí vem a ideia de que o Cristão deveria praticar esportes profissionais ou seguir carreira musical profissional como um artista, porque tem habilidades naturais. Os Cristãos hoje em dia são encorajados a buscarem desafios mundanos em função de suas habilidades naturais, mas isto apenas os envolve no mundo e anula seu testemunho Cristão. J. N. Darby disse, “É inteiramente falso o princípio que dons naturais são uma razão para usá-los. Posso ter uma surpreendente força ou velocidade para correr; com uma derrubo um homem com só um golpe e, com a outra, ganho um troféu. Música pode ser a coisa mais refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu creio ser da mais alta importância. Os Cristãos perderam sua influência moral admitindo a natureza e o mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse, você não pode misturar a carne e o Espírito”.
Ministério é o Exercício do Nosso Dom
Na Escritura, dons são “manifestações espirituais” no corpo de Cristo e são dados para edificação espiritual dos membros do corpo (1 Co 12:1, 14:1). Ministério é simplesmente o exercício do dom de uma pessoa (1 Pe 4:10-11). Algumas pessoas dizem terem sido “chamadas ao ministério”. Sabemos o que querem dizer; eles se sentem levados a buscar a ocupação de um clérigo, e se matriculam em um seminário para serem treinados para aquela posição numa igreja denominacional. Mas no sentido bíblico da palavra, todos fomos “chamados ao ministério”. Já que todos temos um dom, todos deveríamos ministrar de uma maneira ou de outra.
É triste dizer, muitos Cristãos hoje em dia foram levados a crer que o pregador é o único no seu grupo da igreja que tem um dom espiritual. Portanto, eles nem sequer consideraram qual possa ser o seu dom. Porém, no Cristianismo normal, cada membro do corpo de Cristo tem algo a fazer. Não há zangãos na colmeia de Deus. O Senhor disse, “a cada um o seu trabalho” (Mc 13:34 – TB). Ele gostaria que todos nos exercitássemos sobre o que deveríamos estar fazendo por Ele. De nossa parte é necessário:
1) Descobrir nosso dom. Isto se tornará evidente por meio da devoção ao Senhor. J. N. Darby disse, “Se houvesse mais devoção, haveria mais dons entre nós”. Ele não quis dizer que dons espirituais são dados como resultado da devoção de uma pessoa ao Senhor, mas que se houvesse mais devoção em nossa vida, nosso dom espiritual se tornaria evidente.
2) Diligência em aprender a verdade. Isto também é importante porque temos que ter alguma substância espiritual para comunicar aos outros quando estivermos exercitando nosso dom. Uma pessoa pode ter o dom de doutor, mas se ele não foi instruído na verdade, não será de muita ajuda.
3) Desenvolvimento do nosso dom. Temos que ter fé para ir em frente e exercitar nosso dom nas oportunidades dadas a nós, de forma que ele se desenvolva e nossa efetividade no serviço cresça.
4) Dependência do Senhor no exercício do nosso dom. O exercício do nosso dom precisa ser realizado sob o senhorio de Cristo e sob Sua orientação e direção – para aonde ir, o que fazer e o que dizer.
Paulo disse a Timóteo, “Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1:6). Isto mostra que precisamos ser despertados em relação ao uso do nosso dom. Arquipo foi advertido por não estar cumprindo seu ministério (Cl 4:17). Se formos jovens não deveríamos estar demasiadamente ocupados em descobrir qual é nosso dom, mas simplesmente procurar fazer o que vem às nossas mãos. No tempo certo, ficará evidente qual é nosso dom. Podemos ir ao Senhor com a simples oração de Saulo de Tarso, “Senhor, que queres que faça?” (At 9:6, 22:10). Há muito a ser feito em Sua vinha e Ele tem algo para cada um de nós fazer. A Escritura diz, “dediquemo-nos ao nosso ministério [ocupemo-nos no serviço – JND]” (Rm 12:7 – TB). Os Levitas – os servos no tabernáculo – tinham de ir a Aarão, o sumo sacerdote e ele indicaria a cada homem “seu serviço” e “sua carga” (Nm 4:19 - TB). Igualmente, se formos ao Senhor, nosso Sumo Sacerdote, Ele nos dará nossa “obra” e nossa “carga” (Gl 6:4-5).
É também importante entender que nem todos os dons são para ministério da Palavra. Alguns dons não são nem mesmo para serem exercitados em público. Romanos 12:4-8 indica isto: “Pois assim como temos muitos membros em um só corpo, e todos os membros não têm a mesma função; assim nós, sendo muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. Tendo dons diferentes segundo a graça que nos foi dada: se é profecia, profetizemos segundo a proporção da nossa fé; se é ministério, dediquemo-nos ao nosso ministério; ou o que ensina, dedique-se ao seu ensino; ou o que exorta, à sua exortação; o que reparte, faça-o com simplicidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria” (TB). Há sete dons listados aqui, mas os últimos três são de natureza privada, e não têm nada a ver com ministrar a Palavra publicamente, e, além disso, não devem ser exercitados nas reuniões da assembleia.
O Livre Exercício dos Dons na Assembleia
Também é importante ver que todos os dons não residem em uma pessoa. A Escritura diz, “Pois a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; a outro a palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro fé, no mesmo Espírito; a outro…” (1 Co 12:8-10 - TB). Um homem pode ter mais de um dom, mas fica claro, a partir desta passagem, que não possuirá todos os dons. Além disso, a assembleia precisará da participação de todos os que tenham o dom para ministrar a Palavra se for para se obter o benefício dos dons em seu meio. Infelizmente o sistema clerical está espalhado por toda a Cristandade. Referimo-nos ao estabelecimento de um homem para conduzir o ministério da Palavra na assembleia – isto é, um sacerdote, um pastor ou um ministro. Isso impede o livre exercício dos dons, liderados pelo Espírito. A ideia de “ministério de um só homem” não é encontrada na Bíblia. Como salientamos, todos os irmãos que têm o dom de ministrar a Palavra deveriam ter liberdade na assembleia para exercitar seu dom conforme o Espírito os conduzisse.
Nem há qualquer menção nas Escrituras de uma pessoa precisando ir a um seminário para ser treinada antes que possa usar seu dom na assembleia. A própria passagem que citamos em 1 Pedro 4:10-11 indica isso. Diz, “cada um de vós, segundo o dom que recebeu, comunicando-o [ministrando-o – JND] uns aos outros” (TB). Não diz, “se alguém tem um dom, que vá a um seminário, e então ministre…”. Simplesmente diz se ele tem um dom, “assim ministre” esse dom. Isto mostra que a possessão de um dom espiritual para ministério da Palavra é a autorização para a pessoa usá-lo.
Novamente, diz: “Se alguém fala, fale como oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre como da força que Deus dá” (1 Pe 4:11). Repare novamente que não há menção de ele ir a uma escola e então ser-lhe permitido falar na assembleia. A simples ordem na Escritura é, “Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co 14:26). Se tem “doutrina [ensino – TB]” etc., faça-se tudo para a edificação da assembleia. Esta é a ordem de Deus para ministério na Igreja. É assim que a Igreja foi ensinada e edificada nos seus primeiros dias, e esse é nosso modelo para ministério hoje em dia.
A ordem de Deus para ministério, logicamente, deve ser feita sob o controle e direção do Espírito Santo. Se não estivermos sujeitos ao Espírito, poderemos facilmente tornar as reuniões em algo livre-para-todos. Isto estava acontecendo em Corinto e precisou ser corrigido (Co 14:26). O apóstolo indica que se a pessoa persistentemente age na carne, na esfera do ministério, a assembleia tem o recurso de exercitar julgamento sobre essa pessoa. (1 Co 14:29). Será dito mais a esse respeito mais adiante. O ponto a ser entendido aqui é que a resposta a uma ação carnal no ministério público não é estabelecer um sistema que evite que as pessoas falem a não ser que elas tenham sido aprovadas pelo sistema – isto é o sistema clérigo-leigo. Na assembleia onde há a dependência do Espírito Santo e liberdade para Sua ação, Ele vai convocar e energizar os dons espirituais que lá estão, e eles agirão no ensino e exortação para a edificação de todos. A assembleia não precisa de eloquência; ela precisa de edificação. “Cinco palavras” guiadas pelo Espírito Santo podem ser usadas na assembleia para proveito duradouro, mais do que uma grande demonstração de eloquência (1 Co 14:19).
Como não temos mais apóstolos na Igreja, os principais dons para ministrar a Palavra hoje em dia são: evangelistas, pastores, doutores e profetas (Ef 4:11; At 13:1). Vemos esses quatro dons em ação em Atos 11:19-30.
Um Evangelista
“E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns varões chíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor” (At 11:19-21). Evangelistas são os mensageiros das boas novas – o evangelho. É improvável que todas essas pessoas espalhadas por esta perseguição fossem evangelistas, mas todas ajudaram a espalhar o evangelho. Isto mostra que todos podemos “fazer a obra de um evangelista”, mesmo que não tenhamos o dom de evangelista (2 Tm 4:5).
Aqueles que têm o dom específico de pregar e compartilhar o evangelho sairão com a Palavra conforme dirigidos pelo Senhor (Mc 16:15; At 8:5). A esfera do serviço do evangelista é predominantemente o mundo. Ele deve ser como um compasso, tendo um pé firmemente estabelecido na assembleia e outro alcançando as almas perdidas no mundo. Todo o seu trabalho deve ser feito tendo a assembleia em vista. Paulo indica isto dizendo: “a saber, que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3:6 – TB). Vemos disso que a verdade do evangelho e a verdade da assembleia estão inseparavelmente ligadas. O material do qual a Igreja, o corpo de Cristo, é composto, é obtido “por meio do evangelho”. Deus pretende que quando uma pessoa é salva, ela seja encontrada, a partir daí, funcionando no corpo como Deus a posicionou.
As “pedras grandes” que foram trazidas com o propósito de construir o templo (1 Rs 5) não eram apenas cortadas do lugar onde eram encontradas; elas eram trazidas ao local do templo e eram assentadas na casa (1 Rs 6). Tirar as pedras da escavação não era um fim em si mesmo. Igualmente a pedras vivas que compõem a casa de Deus hoje foram salvas com o propósito de funcionarem na assembleia para Sua glória. O evangelista deve trabalhar com isso em vista. Querer que almas se salvem sem as ver funcionando em seu lugar no corpo é estar aquém do propósito de Deus para elas.
É claro que este trabalho de um evangelista deve ser feito em comunhão com o Senhor Jesus – “o Senhor da seara” (Mt 9:38). Isso deve ser feito por amor a Cristo e por amor pelas almas. O velho ditado – “O que vem do coração vai para o coração” – é certamente necessário nesse trabalho. Quando almas são salvas, um evangelista conduzido pelo Espírito não dirá aos seus convertidos para irem à igreja de sua escolha, como é frequentemente feito. Em vez disso, ele lhes mostrará que, tendo crido no Senhor Jesus, e consequentemente tendo sido selados com o Espírito Santo, eles já estão na Igreja. E o que eles precisam é continuar “perseverando na doutrina dos apóstolos**, e** na comunhão**, e** no partir do pão**, e** nas orações**”** (At. 2:42). Isto foi o que a Igreja primitiva fez. As _quatro_ coisas mencionadas neste versículo são o que poderia ser chamado de “as quatro âncoras da vida da assembleia”. Se uma ou mais delas faltarem em nossa vida Cristã, iremos de encontro às rochas e naufragaremos (At 27:29; 1 Tm 1:19).
Um Pastor
Sendo guiado para uma assembleia no terreno bíblico, o novo convertido precisará de ajuda espiritual em questões morais e práticas de sua vida. Para ajudá-lo nisto, Deus deu outro dom à Igreja – o pastor. Isto é ilustrado na próxima série de versículos em Atos 11. “E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia. O qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração; Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11:22-24). Enquanto Barnabé é também chamado de apóstolo (At 14:14) é evidente que ele tinha o dom de pastorear o povo de Deus. Seu trabalho em Antioquia ilustra isto.
O encargo do pastor é ajudar os membros do corpo de Cristo no seu andar com o Senhor. Ele, de coração, cuida particularmente dos recém-nascidos em Cristo, e procurará que nenhum se extravie. E se alguns se extraviar, ele irá atrás deles para recuperá-los. Este é um dom muito necessário hoje em dia quando há tanto fracasso na Igreja.
O pastor terá um coração compreensivo e administrará conforto ao rebanho em tempos de tristeza e aflição. Ele sentirá as provas e problemas pelos quais o povo de Deus está passando e carregará suas tristezas em seu coração e oferecerá conselho e encorajamento. Ele talvez tenha de corrigir alguém que fez algo errado, mas ele o fará fiel e amorosamente (Pv. 27:6).
O trabalho de um pastor é predominantemente de caráter particular, mas ele pode e irá ensinar e aplicar a verdade às almas em reuniões públicas. Isto é visto em Barnabé ajudando Saulo no ensino dos santos na assembleia de Antioquia (At 11:26). Este dom exige a maior sabedoria para ser exercido em relação a todos os outros dons. Se um pastor não é cuidadoso, e perde sua comunhão com o Senhor, ele pode atrair os santos após si ao invés de levá-los a Cristo (At 20:30). Esse é um perigo sempre presente entre os pastores. É essencial então, que ele seja encontrado em comunhão com o Senhor o tempo todo (Jo 15:4).
Um Doutor
Nos dois próximos versículos em Atos 11 vemos o dom de doutor em exercício. “E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia. E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados Cristãos” (At 11:25-26). O trabalho do doutor é ajudar os santos a entender a verdade de Deus que, quando entendida apropriadamente, ocupa a alma com Cristo.
O doutor é alguém que aprecia a verdade e ama ajudar os outros a apreciá-la também. Uma vez que Cristo é o centro e o tema de toda a Escritura, o maior desejo do doutor é ajudar os santos a melhor conhecer a Deus e os Seus caminhos. Um doutor guiado pelo Espírito exaltará a Cristo e revelará as glórias e obras da Sua Pessoa. Ele trabalhará para “manejar bem a Palavra da verdade” (2 Tm 2:15), apontando as várias distinções e nuances de significado, que ajudará os crentes a terem um melhor entendimento da revelação de Deus. Uma marca que distingue um doutor é que ele será capaz de dizer a mesma coisa em meia dúzia de diferentes formas até que o ouvinte capte o determinado conceito que ele está tentando apresentar. Ele tem a habilidade natural de explicar claramente seus pensamentos e, um dom espiritual vindo do Senhor que complementa suas habilidades. Estas duas coisas podem ser vistas na parábola dos talentos. O homem deu “talentos” (figurativo de um dom espiritual) a cada homem “segundo a sua capacidade” (Mt 25:15). Veja também 1 Pedro 4:10-11. Se ele usa o seu dom e sua habilidade corretamente e na dependência do Senhor, muita verdade será ensinada aos santos.
Um doutor pode também ser chamado para identificar ensinamentos errôneos, se eles surgirem na assembleia. Ele irá, se necessário, expor as falsas e más doutrinas a fim de salvaguardar o rebanho. Este é um aspecto triste do seu trabalho, mas é necessário quando a verdade está sendo atacada (Gl 2:4-5).
Antes que um doutor possa ser realmente eficaz, primeiro a verdade tem que ser ensinada a ele próprio. Isso tomará tempo e diligência em estudos privados “que tem seguido” nas várias linhas da verdade na Escritura (1 Tm 4:6). Ensinar requer não somente aprender a verdade, mas também saber como apresentá-la clara e ordenadamente, de maneira que os santos possam recebê-la e ter proveito dela. Vemos isso na exortação de Paulo a Timóteo: “Conserva o modelo [um esboço2 – JND] das sãs palavras que de mim tens ouvido” (2 Tm 1:13). Isto não foi uma exortação a Timóteo para aprender a verdade da doutrina de Paulo, porque Timóteo já havia feito isto (2 Tm 3:10), mas para ter a verdade de Deus de uma maneira ordenada com o propósito de guardá-la (2 Tm 1:14) e disseminá-la (2 Tm 2:2). Isto nos mostra que o doutor não deve apenas conhecer a verdade, ele precisa tê-la de uma forma esquematizada para assim poder “delinear sistematicamente” seus vários princípios para outros (nota de rodapé de 2 Timóteo 1:13 da tradução de J. N. Darby). Por este motivo apenas, este dom requer mais tempo de preparação que outros dons, para que alcance a sua máxima eficiência.
Doutores, pastores e profetas vão trabalhar juntos proveitosamente na assembleia, quando dirigidos pelo Espírito. Isto é visto no fato já mencionado – ambos, Barnabé e Saulo ensinaram a assembleia de Antioquia. O doutor apresentará a verdade e os profetas e pastores darão a aplicação prática daquelas verdades nas várias situações da vida. A harmonia dos dons, trabalhando em direção a um objetivo comum, é visto em Efésios 4:11-14: “Ele deu uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, outros como pastores e mestres [doutores], tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o trabalho do ministério, para a edificação do corpo de Cristo até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito [maduro – JND], à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos meninos, jogados de um para outro lado e levados ao redor por todos os ventos de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação [sistematização – JND] do erro” (TB). Observe o quão próximos pastores e doutores estão ligados nesta passagem, indicado pela ausência das palavras “e outros” entre os dois dons. Isto pode ser porque um homem pode ter o dom de pastor e de doutor, mas usualmente eles são vistos como dons separados (1 Co 12:28).
O objetivo dos dons é ajudar os membros do corpo a crescerem ao ponto onde eles possam participar na “obra do ministério”. Se os dons forem efetivos, os santos serão edificados na santíssima fé (Jd 20), e eles, por sua vez, poderão contribuir no ministério. O ministério de todos os pastores e doutores deve ter isso em “vista”. Em certo sentido, eles “trabalham sem um emprego”, e assim, podem mudar para outros lugares onde há necessidade de ensino e pastoreio.
Um Profeta
Na última parte de Atos 11, vemos profetas em ação. “E naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia. E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César. E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judeia. O que eles com efeito fizeram enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e de Saulo” (vs. 27-30). Há dois aspectos do uso deste dom: predizer e comunicar. Vemos Ágabo agindo na primeira capacidade – predizendo certos eventos que em pouco tempo ocorreriam. Este aspecto de profecia não é mais visto na Igreja hoje em dia – apesar de haver alguns que simulam ter esta habilidade. O outro aspecto da profecia – comunicar a mente de Deus para o momento – é encorajado na assembleia local (1 Co 14:1). Este é um ministério muito necessário. O triplo objetivo deste tipo de ministério de profecia é:
- “Edificação” – edificando os santos na santíssima fé (Jd. 20). Se os santos são deficientes em algum ponto da doutrina na fé Cristã, este tipo ministério vai atender esta necessidade. Isto é para nosso entendimento. - “Exortação” – despertando os santos em algum aspecto da prática Cristã. Se os santos estão deficientes em alguma área prática da vida, isto atenderá esta necessidade (Ag 1:13-14). Isto é para nossa consciência. - “Consolação” – animando os santos. Este é ministério que encoraja os santos a continuarem no caminho da fé. Isto é para o nosso coração (Rt 2:13 – JND).
Um profeta, neste sentido, trabalha para aperfeiçoar o estado dos santos, e assim a comunhão deles com o Senhor se aprofunda. Seu ministério trata com o coração e a consciência do povo de Deus, e eventualmente, pode comunicar coisas que eles não queiram ouvir (At 21:10-14).
Resumo: Uma assembleia bíblica reconhecerá os dons espirituais em seu meio e permitirá que sejam exercitados, como forem guiados pelo Espírito Santo. Na assembleia onde há a dependência do Espírito Santo e liberdade para Sua ação, Ele vai convocar e energizar os dons espirituais que lá estão, e eles agirão no ensino e exortação para a edificação de todos.
# Número Seis - Uma Assembleia Bíblica Reconhecerá os Distintos Papéis de Irmãos e Irmãs na Casa de Deus
Outra característica notável que identificará uma assembleia reunida biblicamente é que os papéis estabelecidos na Palavra de Deus para os irmãos e as irmãs serão colocados em prática.
Apesar de isso ser hoje uma prática comum na Igreja, a Escritura não indica que exista um papel único que atenda a todos na casa de Deus quanto aos homens e às mulheres. Em 1 Timóteo 2:8-16 vemos que no Cristianismo os irmãos e as irmãs têm papéis distintos e complementares. Ali é dito: **“Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda. Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras. A mulher aprenda em silêncio com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido** [**homem** – JND]**, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação”**.
A epístola de Paulo a Timóteo vê a Igreja como a **“casa de Deus”** (1 Tm 3:15). Esse aspecto da Igreja considera os santos em sua responsabilidade pública perante o mundo, como testemunhas de Deus como um Deus Salvador (1 Tm 1:1, 2:3). Como vasos de testemunho de Deus, os Cristãos devem exibir o verdadeiro caráter de Deus perante o mundo. Portanto santidade e ordem devem ser visíveis na vida deles. O mundo deveria poder observar a casa de Deus e conhecer a Deus. O grande propósito da epístola, portanto, é instruir a ordem adequada à casa de Deus.
Essa ordem é para ser vista não unicamente quando os santos estão juntos nas reuniões, mas em todo o tempo, seja em casa, no trabalho, ou quando reunidos juntos para adoração e ministério. Isso porque somos constituídos a casa de Deus, e como tal, a somos o tempo todo (Hb 3:6, 1 Pe 2:5). Em 1 Timóteo 2:11-12 fala que as irmãs devem permanecer em **“silêncio”** na casa de Deus, mas deveria ter sido traduzido “quietude”. Se fosse silêncio, então Paulo estaria nos dizendo que as irmãs não deveriam falar em lugar nenhum, porque estamos na casa de Deus o tempo todo!
Um estudo cuidadoso das Escrituras indicará que o homem tem a responsabilidade pública do testemunho verbal na casa de Deus, e a mulher de dar o suporte a esse testemunho por sua postura e comportamento. Por isso, toda ação pública na casa de Deus deve ser exercida pelos irmãos.
Quanto à esfera do sacerdócio, as irmãs não são orientadas a exercerem o seu sacerdócio (de forma audível) publicamente, como são os irmãos. Paulo diz: **“Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar”** (1 Tm 2:8) – **“em todo o lugar”** incluiria a esfera pública. É significativo que isso não seja dito com relação às mulheres; elas devem orar, mas não fala que elas devem fazê-lo **“em todo o lugar”**. A passagem em 1 Coríntios 11 indica que as irmãs devem orar e profetizar (v. 5), mas isso é feito fora das reuniões da assembleia. Isto é indicado pelo fato de as instruções para conduta, **“quando vos ajunteis em assembleia”** (v. 18 – JND) começarem nessa epístola a partir do versículo 17 do capítulo 11 e continuarem até o fim do capítulo 14. O versículo 17 marca o início de uma nova seção da epístola que trata sobre questões relacionadas aos santos quando estão em assembleia. Irmãs são mencionadas **“orando e profetizando”** _antes_ de o apóstolo falar da esfera da assembleia.
Com relação à esfera de ministério da Palavra na assembleia, 1 Coríntios 14:29 diz: **“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”**. Note que o texto não diz “**E falem duas ou três profetizas**...**”** (P.ex.: 2 Cr 34:22; Ap 2:20). E então, nos versículos 34 e 35, Paulo diz definitivamente: **“as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.**” A palavra **“caladas”** aqui é diferente da palavra **“em silêncio”** usada em 1 Timóteo 2:11-12, e está adequadamente traduzida como silêncio. A esfera da qual Paulo está falando em 1 Coríntios 14 é a da reunião pública da assembleia e não sobre a conduta geral na casa de Deus, como em 1 Timóteo.
Parece que o apóstolo previa que pessoas iriam querer desafiar isto, então ele acrescenta **“Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”** (v. 37). Além disso, no início da carta, Paulo disse que todas as instruções na epístola eram para **“**... **todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo**...**”** (1 Co 1:2). Assim, essas coisas foram escritas para todas as assembleias Cristãs, não apenas para a assembleia em Corinto.
Quanto à esfera da administração da assembleia, a Escritura diz: **“Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto”** (At 15:6). Não há menção de irmãs e jovens nestas reuniões. 1 Timóteo 3:2 confirma isso, afirmando que um bispo era para ser **“marido de uma mulher”**, da mesma forma, um diácono (1 Tim 3:11-12). Uma vez que apenas um homem poderia ser um **“marido”**, é claro que este trabalho de responsabilidade administrativa na assembleia não é para ser exercido por irmãs.
## O Ministério das Irmãs
Embora as irmãs não devam estar envolvidas em ações públicas e assuntos administrativos na casa de Deus, muito há que possam fazer. O serviço das mulheres é importante e de grande valor. As coisas que são destinadas a elas, para serem feitas na casa de Deus, são principalmente aquelas que os irmãos não poderiam fazer. Elas podem ajudar em situações que seriam inapropriadas para um irmão.
Em primeiro lugar, a Escritura diz: **“Quero, pois, que as que são moças se casem, gerem filhos, governem a casa”** (1 Tm 5:14). Criar uma família para a glória de Deus é um trabalho nobre. Ana é um exemplo do exercício de uma irmã envolvida na criação de um filho piedoso (1 Sm 1-2). Nota: Paulo diz que elas **“governem a casa”**, e não o marido.
Tito 2:3-5, diz: **“As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas** [**àquelas que dão testemunho das coisas sagradas** – JND]**, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem** [**do que é correto** – JND]**; para que** ensinem as mulheres novas **a serem prudentes, a amarem** [**se apegarem a** – JND] **seus maridos, a amarem** [**se apegarem a** – JND] **seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a Palavra de Deus não seja blasfemada”**. Este é outro importante trabalho que as irmãs podem fazer e que os irmãos não seriam capazes de fazer com eficiência e propriedade.
Se uma irmã não é casada, ou sem idade suficiente para ensinar as irmãs mais novas, ela ainda pode estar **“no serviço** [**ministério**] **da igreja”** (Rm 16:1 – TB). Há muitas coisas relacionadas com a vida na assembleia que a irmã pode fazer e que pode ser de verdadeira ajuda para os santos, por exemplo, ajudando as mães que estão sobrecarregadas com as crianças pequenas; ajudando as irmãs mais velhas que não podem se locomover com facilidade, etc. Estas são boas obras. Febe foi conhecida por ser de **“ajuda para muitos”** (JND). Talvez ela tivesse o dom de **“socorro** [**ajuda**]**”** (1 Co 12:28).
Filipe tinha quatro filhas que profetizavam (At 21:8-9). Isso mostra que há uma necessidade de irmãs – até mesmo irmãs mais jovens – ministrarem ajuda e conforto da Palavra para os outros. Mas perceba, elas não ensinam os irmãos. Isto é visto no fato de que quando Paulo precisou de uma palavra ser dita a ele, Deus não usou uma das filhas de Filipe para falar a ele, embora Paulo estivesse exatamente ali, na casa de Filipe. Ele trouxe um irmão que era um profeta para falar com ele (At 21:10-14). Isto está de acordo com 1 Timóteo 2:11-12.
Priscila e Áquila são um casal modelo em relação aos papéis dos irmãos e irmãs na casa de Deus. Eles são mencionados seis vezes nas Escrituras. Três vezes Áquila é mencionado primeiro, e três vezes Priscila é colocada em primeiro lugar. É significativo e instrutivo que Áquila seja mencionado primeiro quando tinha a ver com a responsabilidade pública de ensino (At 18:2, 24-28; 1 Co 16:19.). Quando tinha a ver com as responsabilidades domésticas, Priscila é mencionada primeiro (At 18:18; Rm 16:3-4; 2 Tm 4:19.). Há muito que aprender com isso. Por exemplo, ao ensinar a Apolo **“mais precisamente o caminho de Deus”**, Priscila deixou seu marido assumir a liderança neste trabalho (At 18:24-28). Assim, ela estava em sua própria posição de acordo com a devida ordem da casa de Deus. Outro ponto que vale a pena considerar é que cada vez que eles são mencionados nas Escrituras são sempre vistos juntos; eles trabalhavam em equipe no serviço para o Senhor. Isso é louvável. Veja também 1 Coríntios 9:5.
## Cobertura para a Cabeça
A passagem em 1 Coríntios 11, já citada, indica que as irmãs, numa assembleia reunida conforme a Escritura, também cobrirão a cabeça quando questões divinas e tópicos da Escritura estiverem em discussão. E isso não deverá ser assim apenas nas reuniões da assembleia, mas a qualquer momento quando as Escrituras são abertas, pois, como já mencionado, instruções quanto ao seu uso são encontradas no mesmo capítulo _antes_ de ser mencionado o que é específico para reuniões da assembleia.
O ato de manter as cabeças dos irmãos descobertas e de cobrir as cabeças das irmãs é uma demonstração prática dos princípios envolvidos na confissão do Cristianismo. O apóstolo diz: **“Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”** (1 Co 11:3). Sendo assim, os homens devem descobrir as suas cabeças quando estão envolvidos em atividades espirituais, ou seja, **“oração ou profecia”**. Ao fazerem isso, eles estão reconhecendo que toda a glória pertence a Cristo, **“porque é a imagem e glória de Deus”** (v. 7). Este ato glorifica a Cristo e deve ser feito com isso em vista.
Da mesma forma, a mulher no Cristianismo representa a glória do homem. Ele diz: **“mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”** (1 Co 11:7-10). O cabelo da mulher representa a glória natural do primeiro homem. Sendo este o caso, o cabelo da mulher deve ser coberto quando ela está envolvida em atividade espiritual. Quando as irmãs usam uma cobertura para a cabeça, elas estão anunciando o fato de que elas não reconhecem o primeiro homem como tendo qualquer lugar no Cristianismo (Fp 3:3; Cl 2:11-12). Isso não tem nada a ver com os maridos e esposas. O artigo _“o”_ ou _“a”_ antes de “homem” e “mulher” na passagem (que constam na versão King James, e nas em português) não está no texto original grego, porque ele está se referindo a homens e mulheres de forma genérica. A confissão envolvida no ato de cobrir a cabeça de uma mulher deve ser vista como um privilégio, não como um dever. Quando a irmã entende o princípio envolvido, ela deve estar feliz em ter um sinal sobre sua cabeça.
Para esclarecer um ponto de mal-entendidos, é bom salientar que há duas palavras diferentes usadas para o **“véu”** em 1 Coríntios 11. O Espírito de Deus propositadamente usa duas palavras diferentes no idioma original para distingui-las. A palavra em grego para **“véu”**, nos versículos 4-6, é _“katakalupo”_. Ela indica uma cobertura artificial, como um chapéu, um lenço ou uma mantilha. Mas uma palavra completamente diferente para **“véu”** é usada no versículo 15 — _“peribolaiou”_. Isso se refere ao cabelo da mulher que Deus lhe deu para cobrir a sua cabeça. O cabelo da mulher é um véu (ou cobertura) que aumenta a sua beleza natural. Contudo, o ponto do apóstolo nesta passagem é que, já que a cabeça da mulher representa a glória do homem, sua cobertura natural de cabelo é para ser coberta com uma cobertura artificial. Como mencionado, este ato significa uma confissão prática que nós, como Cristãos, não reconhecemos nem damos lugar ao primeiro homem nas coisas divinas.
Resumo: A assembleia reunida em conformidade com a Escritura irá reconhecer e guardar os diferentes papéis dos irmãos e irmãs, mesmo que isso não seja popular na Cristandade.
Número Sete - Uma Assembleia Bíblica Terá Aqueles Que Agem em Cuidado Responsável em Seu Meio
Em uma assembleia reunida biblicamente haverá liberdade para vários irmãos exercitarem seus dons e sacerdócio, mas não devemos pensar que na assembleia não há governo. A Escritura indica que existem certas regras (liderança administrativa) na Igreja. Na assembleia reunida biblicamente haverá aqueles que tomarão a liderança administrativa para assegurar que a santidade e a ordem sejam mantidas, porém isso não será de uma maneira formal.
A maneira usual de o Senhor guiar uma assembleia local em suas responsabilidades administrativas é por meio dos que “tomam a liderança” (1 Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17 – JND). Essa frase na versão King James da Bíblia e na versão de João Ferreira de Almeida foi traduzida como “aqueles que presidem sobre vós”, mas não é precisa, nos levando a pensar que exista uma casta especial de homens que esteja “sobre” o rebanho – o clérigo. É evidente que essas versões da bíblia estiveram nas mãos de clérigos que de alguma forma influenciaram os tradutores. O uso da palavra “bispo” é outro exemplo. Ela deveria ter sido traduzida como “supervisor” ou “supervisão”.
Tomar “a liderança” nessa função não significa liderar no ensino ou na pregação pública, mas nas questões administrativas da assembleia. Confundir essas duas coisas é entender de forma equivocada a diferença entre dom e ofício, que são duas esferas distintas na casa de Deus. Alguns daqueles que “tomam a liderança” podem não ensinar publicamente, mas é muito bom e útil quando podem fazê-lo (1 Tm 5:17). Estes homens devem conhecer os princípios da Palavra de Deus e serem capazes de expô-los para que a assembleia entenda o curso da ação que Deus gostaria que fosse tomado em algum assunto particular (Tt 1:9). Estes homens não se nomeiam a si mesmos para o desempenho deste papel, nem mesmo são constituídos pela assembleia – como é frequente na igreja atualmente – mas eles são levantados pelo Espírito Santo para este trabalho (At 20:28). A assembleia irá reconhecê-los pelo seu cuidado devotado aos santos, pelo seu conhecimento dos princípios das Escrituras e pela demonstração de seu bom discernimento.
Há três palavras usadas nas epístolas para descrever estes líderes responsáveis na assembleia local.
- Primeiramente, “anciãos” (Presbuteroi). Essa palavra se refere àqueles avançados em idade – implicando maturidade e experiência. No entanto, nem todos os homens mais velhos da assembleia necessariamente atuam no papel de líderes (1 Tm 5:1; Tt 2:1-2). - Em segundo lugar, “bispos” ou supervisores (Episkopoi). Essa palavra se refere ao trabalho que eles fazem – pastoreando o rebanho (At 20:28; 1 Pe 5:2), cuidando das almas (Hb 13:17) e admoestando (1 Ts 5:12). - Em terceiro lugar, “guias” ou líderes (Hegoumenos). Isto se refere à capacidade espiritual que possuem para liderar e guiar os santos.
Os pontos acima mencionados não se referem a três diferentes posições na assembleia, mas sim a três aspectos de um trabalho que esses homens fazem. Isto pode ser visto pela maneira como o Espírito de Deus usa os termos alternadamente – compare Atos 20:17 com 20:28 e Tito 1:5 com 1:7. No livro de Apocalipse os que possuem esta função são chamados de “estrelas” e de “anjo da igreja [local]” (Ap 1 a 3). Como “estrelas” eles devem ser testemunhas da verdade de Deus (dos princípios de Sua Palavra) como portadores de luz na assembleia local, trazendo luz sobre os vários assuntos enfrentados pela assembleia. Isso é ilustrado em Atos 15. Após ouvir sobre os problemas que estavam atribulando a assembleia, Pedro e Tiago trouxeram luz espiritual à questão. Tiago aplicou um princípio da Palavra de Deus e julgou da forma como ele acreditava que o Senhor desejaria que eles fizessem (vs. 15 a 21). Como “o anjo da igreja”, eles agem como mensageiros que levam a mente do Senhor à assembleia na resolução do problema. Isso também é ilustrado nos versículos 23 a 29.
Como já foi dito, não há nomeação oficial de anciãos/bispos/guias para este trabalho hoje, como houve na Igreja primitiva (At 14:23; Tt 1:5), porque não há apóstolos (ou pessoas delegadas pelos apóstolos) na Terra para ordená-los. Isso não significa que o trabalho de supervisão não possa continuar. O Espírito de Deus continua levantando homens piedosos para exercerem a supervisão nas assembleias reunidas biblicamente (At 20:28). Esses certamente seriam aqueles que um apóstolo ordenaria se vivesse em nossos dias.
Na carta de despedida de Paulo aos anciãos de Éfeso, ele fornece uma descrição do caráter e trabalho de um ancião/bispo/guia, usando a si mesmo como exemplo (At 20:17-35). Primeiramente ele destaca o que os mesmos devem ser:
- Coerentes (v. 18); - Humildes (v. 19); - Compassivos (v. 19); - Perseverantes (v. 19); - Fiéis (v. 20); - Comprometidos (vs. 21-24); - Enérgicos (ou decididos) (vs. 24-27).
Na sequência ele destaca o que eles devem fazer:
- Pastorear o rebanho (v. 28); isto envolveria ser um modelo aos santos (1 Pe 5:3), ensinando-os (1 Tm 3:2; Tt 1:9), guiando-os e aconselhando-os etc. (Hb 13:17); - Vigiar contra duas ameaças: lobos adentrando e homens atraindo discípulos após si (vs. 29-31); - Utilizar os recursos dados por Deus para esse trabalho – oração e a Palavra de Deus (v. 32); - Exercer o ministério de dar (vs. 33-35).
A Manutenção da Santidade e da Ordem
O propósito do governo na Igreja é manter a santidade e a ordem na casa de Deus. Isso tem a ver, principalmente, com duas coisas:
- O cuidado com o que adentra a assembleia. Isso envolve princípios de recepção. - O cuidado com o que (ou quem) está na assembleia. Isso envolve disciplina na Igreja, caso necessário.
Princípios de Recepção
Importar-se com a glória de Deus, com relação ao que trazemos à comunhão, é algo que praticamente não existe na Cristandade hoje. Mesmo assim, a Bíblia ensina que a assembleia deve ter o cuidado em não trazer alguém à comunhão que possa estar envolvido com o mal, seja esse mal moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local é responsável por julgar o mal em seu meio, tirando de comunhão os que o praticam (1 Co 5:12), então é natural que ela deva ser cuidadosa com o que ou quem ela introduz em seu meio.
Tem sido corretamente dito que a assembleia local não deve possuir uma comunhão aberta e nem deve ter uma comunhão fechada, mas sim, uma comunhão vigiada. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todos os membros do corpo de Cristo a quem a disciplina bíblica não impeça. Se, por um lado, todo Cristão possui o direito de estar à mesa do Senhor, por outro nem todo Cristão possui necessariamente o privilégio de estar nela, pois este privilégio pode ser perdido por seu envolvimento com alguma forma de mal.
Quem Decide Quem Deveria Estar em Comunhão?
É importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. A Palavra de Deus decide. A razão é que a mesa não é dos irmãos; ela é “a mesa do Senhor” (1 Co 10:21). As preferências pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com recepção. A Palavra de Deus decide tudo. Se não existir um motivo bíblico para recusara a alguém a comunhão à mesa do Senhor, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já tiver sido batizado, for são na fé e piedoso em seu andar, não existe motivo para ser rejeitado. O nível de conhecimento da Escritura não é um critério neste sentido. Ainda que seja um crente limitado em seu conhecimento, a Escritura diz: “Mas acolhei o que é fraco na sua fé, não para discutir as suas dúvidas” (Rm 14:1 – TB).
Todavia, nem sempre se pode determinar de imediato se alguém é são na fé e piedoso em seu andar. Quanto maior a confusão no lugar de onde a pessoa tiver saído, seja do meio Cristão ou do mundo, maior a dificuldade de se determinar essas coisas. Se for este o caso, a sabedoria indicará que a assembleia deveria pedir à pessoa que tem o desejo de estar em comunhão que aguarde. Isto não significa que a assembleia esteja afirmando que tal pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia até ser o caso, porém os irmãos simplesmente não sabem, e devem esperar até que estejam convencidos de não ser este o caso, pois eles são, em última análise, os responsáveis diante de Deus pelas pessoas que são recebidas em comunhão. A Escritura ensina: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios” (1 Tm 5:22). Este versículo fala da comunhão pessoal com alguém numa base individual, mas o princípio é amplo o suficiente para guiar os santos na comunhão coletiva da assembleia à mesa do Senhor. Alguém maduro e piedoso não se sentirá ofendido com isso, pois certamente nenhum Cristão piedoso iria querer que a assembleia violasse um princípio bíblico. Na verdade, todo esse cuidado deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma comunhão de Cristãos onde existe a preocupação com a glória do Senhor e a pureza da assembleia.
Os Testemunhos Pessoais Não Seriam Suficientes?
Outro importante princípio sobre o qual a assembleia, funcionando de maneira bíblica, vai agir é que não fará coisa alguma pela boca de uma testemunha. Tudo o que se refere à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio: “Por boca de duas ou três testemunhas, toda questão será decidida” (2 Co 13:1 – ARA). Confira também o que diz em João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base no testemunho delas mesmas. As pessoas naturalmente costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como a própria Escritura afirma: “Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos” (Pv 16:2). E: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória” (Jo 7:18). Por isso pode ser preciso pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão que aguarde até que outros da assembleia a conheçam melhor, e então a assembleia pode recebê-la com base no testemunho de outros.
Este é um princípio que encontramos por toda a Escritura. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a este princípio quando Se apresentou aos judeus como seu Messias. Ele disse; “Se Eu testifico de Mim mesmo, o Meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31). Em seguida Ele continuou apresentando quatro outros testemunhos que comprovavam Quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar dos vários testemunhos que testificavam d’Ele como sendo o Messias, o Senhor advertiu aos judeus de que chegaria um tempo quando a nação receberia um falso messias (o anticristo) sem testemunhos. Ele disse: “Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5:43). Assim o Senhor reprovou a prática de se receber alguém com base em seu próprio testemunho apenas.
Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a Igreja primitiva tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo, ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, porém foi rejeitado. Apesar de ser verdade tudo o que ele deva ter dito aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal, mesmo assim ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, testificando de sua fé e caráter, de modo que havia o testemunho de dois homens, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo “andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo” (At 9:28).
O Teste da Profissão da Pessoa
Outro princípio para se receber alguém é que existe a necessidade de se colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém diz ser Cristão, é preciso que prove isso deixando de lado todo pecado conhecido. Em 2 Timóteo 2:19 diz que “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”. Veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1. Se essa pessoa não se apartar da iniquidade, ele não é verdadeiro em sua confissão de fé. Isto é ainda mais importante em uma época de ruína e abandono do testemunho Cristão, quando abundam doutrinas e práticas perniciosas de todos os tipos.
Se uma pessoa sustenta má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois se o fizer ficará em comunhão com o mau ensino. (Compare 2 Jo 9-11). Não falamos aqui das diferenças que as pessoas possam ter a respeito de assuntos como o batismo, por exemplo, mas de coisas que digam respeito aos fundamentos da fé Cristã. A Escritura diz: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15:5-7). Se alguém que professasse má doutrina fosse recebido, como se poderia dizer que a assembleia estaria concorde e “a uma boca” glorificando a Deus? Os irmãos na assembleia estariam dizendo uma coisa e essa pessoa dizendo outra. O resultado seria confusão. O apóstolo Paulo disse aos Coríntios: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Co 1:10).
Associações Eclesiásticas
Paciência e discernimento são precisos para identificar o mal eclesiástico em alguém. Existe uma diferença entre alguém estar associado ao erro clerical por ignorância e uma pessoa ativamente envolvida e promovendo tal erro. Um crente que desconhece a ordem bíblica para a adoração e o ministério Cristão pode vir à assembleia e querer partir o pão à mesa do Senhor vindo de uma denominação criada por homens e onde seja adotada uma ordem clerical. Ainda que essa pessoa esteja associada ao erro eclesiástico, ela não está, nesse ponto, no mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por sua piedade no andar e professar sã doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tenha se desligado formalmente de sua associação com aquela denominação.
A grande questão é: “quando uma associação inconsciente com o erro eclesiástico se torna um mal eclesiástico?” Cremos que a resposta é quando a vontade da pessoa está envolvida nisso. Para detectar essa vontade é preciso que a assembleia tenha um discernimento sacerdotal. Em casos assim a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer a Sua mente a respeito do assunto. Em condições normais os irmãos deveriam permitir que essa pessoa partisse o pão, esperando e confiando que Deus estaria trabalhando em seu coração e que ela, após ter participado da ceia do Senhor, iria abandonar aquele terreno em que tinha estado antes, e continuar com aqueles reunidos ao nome do Senhor.
Esse princípio é visto na passagem em 2 Crônicas 30 e 31. Ezequias chamou o povo de Judá e os das dez tribos dispersas para virem ao divino centro em Jerusalém e participarem da Páscoa. Ele não insistiu que eles destruíssem seus ídolos antes de virem. Depois de que vieram e apreciaram a Páscoa em Jerusalém, eles voltaram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelos homens na Cristandade sejam comparáveis à idolatria. Estamos falando apenas do princípio de uma pessoa se desconectando de um erro religioso anterior). O que é interessante notar neste caso é que Ezequias não lhes falou para agirem assim! Aquilo foi uma resposta vinda do coração deles pelo simples fato de terem estado na presença do Senhor em Jerusalém. Todavia, se alguém deseja continuar indo a ambos os lugares regularmente, isto não deveria ser permitido. Como assinalou J. N. Darby, “Pontos de vista eclesiásticos diferentes não representam razão suficiente para colocar fora uma alma. Mas se alguém deseja estar entre os irmãos um dia e no próximo entre as seitas, eu não deveria permitir isso, e não deveria receber tal pessoa, pois, ao invés de usar da liberdade que pertence a ela para apreciar a comunhão espiritual entre os filhos de Deus, ela avança na pretensão de mudar a ordem da casa de Deus e perpetuar a divisão dos Cristãos”. Fica claro que uma pessoa assim não estaria sendo honesta com nenhuma das posições. Darby também afirmou que a degradação e a corrupção aumentam cada vez mais no testemunho Cristão, ficando cada vez mais difícil colocar em prática este princípio. À medida que os dias se tornarem mais sombrios será necessário um discernimento cada vez maior. Em nossos dias esse princípio raramente tem acontecido.
O Visitante Ocasional
W. Potter disse: “Eu não me sinto feliz tendo que pensar que às vezes a mesa do Senhor se torna, por assim dizer, uma conveniência. Por exemplo, alguns entre nós têm parentes que os visitam. Eles são membros de alguma denominação, mas vêm com seus parentes à reunião e desejam participar conosco da ceia ‘simplesmente como Cristãos’. A mim me parece que uma consciência correta e íntegra os levaria às suas igrejas. Eles simplesmente vêm pela ocasião da visita, porque eles não se importam em se separarem dos amigos por um momento. Nesse ponto eu não estou feliz”.
“Parece-me que, em tais casos, a nossa responsabilidade não é a de recusar a participação deles, mas de colocá-los a par da razão pela qual estamos reunidos; que a nossa posição é um protesto prático contra a falta de base bíblica das denominações, e que eles, ao participarem conosco no ato da ceia naquele momento, identificam-se conosco nessa posição, que é de protesto contra aquilo que eles estão conectados e defendem confessadamente. Estariam eles dispostos, mesmo que por um momento, a se identificarem conosco? Onde as almas estão exercitadas, é outra questão, e parece-me que alguém se sentiria realmente muito à vontade em sentar-se à mesa com eles”.
“Não é o exercício da alma o que importa? Assim nenhuma regra pode ser estabelecida. Certamente não viria do Senhor a exigência de que uma alma piedosa e exercitada, conectada com qualquer uma das, por assim dizer, denominações tradicionais, cortasse seus laços com a sua igreja, antes que permitíssemos que participasse conosco à mesa. Parece-me que fazer isso é negar praticamente o terreno sobre o qual estamos reunidos”.
“Em relação às reuniões que se professam estar reunidas ao nome do Senhor, eu acredito tratarem-se totalmente de outra questão. Eles professam estar reunidos ao Seu nome, e devem saber porque estão separados de nós e nós deles. Se alguns deles têm o desejo de participar da mesa conosco, as suas razões para isso devem ser examinadas e medidas tomadas de acordo com o que for encontrado. Há sempre mais conhecimento entre eles, com relação à verdade divina, do que com os santos nas denominações, e creio que, de modo geral, eles não são tão ignorantes das causas das divisões entre nós, como alguns deles, às vezes, fazem-nos pensar”.
Em Israel havia “porteiros” e “guardadores da entrada” que cuidavam dos portões e guardavam as portas da casa de Deus (1 Cr 9:17-27). O dever deles era deixar entrar os que deveriam estar dentro e recusar a admissão dos que deveriam ser mantidos fora. Da mesma forma hoje, em uma assembleia nos moldes bíblicos, haverá este tipo de cuidado.
Outra figura no Velho Testamento demonstra esse cuidado no recebimento. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino na Terra onde o Senhor colocou Seu nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia ao seu redor grande perigo por conta dos inimigos. Consequentemente, eles não abriam as portas para permitir que as pessoas adentrassem à cidade até que “o Sol aquecesse” [literalmente “meio-dia”] (Ne 7:1-3.). Eles se certificavam de que não havia nenhum vestígio de “escuridão” ao redor antes de receberem as pessoas na cidade. Até aquele momento, os que queriam entrar tinham que esperar. Enquanto a escuridão na Cristandade aumenta nestes últimos dias, cuidado deste tipo é necessário no recebimento.
Disciplina na Igreja
Uma assembleia bíblica também exercerá disciplina quando necessário. Se os anciãos que cuidam do rebanho virem uma pessoa com um mau comportamento, de alguma forma, eles vão agir para corrigi-la (Hb 13:17). Isto será feito para a glória do Senhor, mas também em amor para com o indivíduo que está se extraviando. Eles vão se sentir responsáveis por agir a este respeito, porque sabem que a Palavra de Deus diz: “Livra os que estão destinados à morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: Eis que o não sabemos: porventura aqu’Ele que pondera os corações não o considerará? e aqu’Ele que atenta para a tua alma não o saberá? não pagará Ele ao homem conforme a sua obra?” (Pv 24:11-12). Como vigias sobre o muro, eles são responsáveis por “tocar a trombeta” para soar um alerta quando veem algum perigo. Ao fazê-lo, eles livram a própria alma deles, porque Deus os considera responsáveis (Ez 33:1-6; Hb 13:17).
Existem três principais áreas de preocupação em que um indivíduo pode se tornar falho. Em cada caso, os que cuidam do rebanho e são responsáveis por manter a santidade e a ordem na casa de Deus vão tentar lidar com o problema antes que ele fique fora de controle. Se eles puderem corrigir o curso que uma pessoa está percorrendo antes que atinja um ponto em que a assembleia deverá colocá-la fora da comunhão, terão feito um bom trabalho e terão livrado essa pessoa de muita dificuldade e sofrimento em sua vida (Tg 5:19-20). Isso pode ser feito por qualquer um que se preocupe com a pessoa, mas os anciãos/supervisores são os principais responsáveis por este trabalho. Por conseguinte, eles vão tomar certas ações preliminares para com a pessoa no erro, dependendo do rumo no qual a pessoa toma. Isso mostra que a maior parte de toda a disciplina da Igreja deve ser exercida para com uma pessoa que ainda está em comunhão.
Os cenários seguintes dão o procedimento geral. Isso é reconhecidamente difícil de delinear porque essas coisas não podem ser organizadas como se estivéssemos consultando um manual ou um livro; cada caso deve ser tratado em seu próprio mérito, e não existem dois casos idênticos. A Escritura pressupõe que aqueles que fazem este trabalho são pessoas espirituais que irão lidar com esses casos com discernimento “espiritual” (Gl 6:1; 1 Co 2:15).
Uma Pessoa Mundana - (falha em seu andar).
Isso pode incluir muitas desordens morais nas quais uma pessoa poderia estar envolvida (1 Co 5:11 etc.).
- Aqueles que se importam com o rebanho vão tentar “restaurar” a pessoa surpreendida em alguma falta, com espírito de mansidão, indo a ela com a Palavra de Deus (Gl 6:1; Jo 13:14). Eles procurarão alcançar o coração e a consciência da pessoa de uma forma gentil e carinhosa, num esforço de convertê-la do curso em que possa se encontrar. - Se isso não alcançar a pessoa, o próximo passo será o de “admoestar” a pessoa em uma repreensão privada (1 Ts 5:14). Isso seria mais firme e direto. - Se a pessoa persiste em seu curso, mas não está em um pecado em particular que exija a excomunhão, aqueles que assumem a liderança na assembleia podem encorajar os santos a se “afastarem” da pessoa para que sua consciência seja tocada, assim, ela poderá julgar-se a si mesma (2 Ts 3:6-15). - Se um pecado em particular se torna manifesto e exige a excomunhão, a assembleia deve então agir executando um julgamento de desligamento para “tirar” essa pessoa que está entre eles. (Mt 18:18-20; 1 Co 5:11-13). - Uma Pessoa Heterodoxa - (falha em sua doutrina).
Esta seria uma situação em que uma pessoa adota doutrinas errôneas consideradas heterodoxas3 [de opinião contrária] (1 Tm 4:1; 2 Jo 9).
- Os responsáveis na assembleia tentarão corrigir o indivíduo de seu erro e “adverti-lo” a não ensinar outra doutrina que não seja a ortodoxa4 [de opinião igual] (1 Tm 1:3). - Se a pessoa insiste em ensinar suas ideias errôneas na assembleia, a assembleia é responsável por “julgar” os seus ensinamentos e chamá-la a ficar em silêncio nas reuniões (1 Co 14:29). Isso poderia ser chamado de “a disciplina do silêncio”. - Se as doutrinas da pessoa são de natureza blasfemas, tocando a Pessoa e a obra de Cristo, a assembleia deverá tirá-la de comunhão. O apóstolo Paulo fez isso com Himeneu e Alexandre, entregando-os a Satanás, para que “aprendam [sejam ensinados por disciplina – JND] a não blasfemar” (1 Tm 1:20). A assembleia não pode entregar alguém diretamente a Satanás como um apóstolo podia fazer, mas pode colocá-la fora de sua comunhão, onde Deus julga. - Se os santos entram em contato com tal pessoa na profissão Cristã em geral, eles devem se “afastar” dos tais que têm ensinamentos errôneos e que pervertem a fé dos santos (2 Tm 2:16-19).
Uma Pessoa Que Causa Divisão (herege em seu espírito).
Esta é uma pessoa que cria uma partição na assembleia, tendo um espírito partidário em alguma causa. Este é mais do que um mal eclesiástico e, geralmente, é o mais difícil de detectar-se entre todos os males. J. N. Darby disse: “Impiedade eclesiástica é sempre a pior”. Uma vez que isso é prejudicial para a saúde da assembleia, deve ser tratado.
- Os irmãos devem identificar e “evitar” aqueles que provocam divisões e escândalos na reunião (Rm 16:17-18). Nota: Isso não quer dizer: “note os que seguem em divisões”, mas aqueles que “causam” divisões. Isto significa que devemos distinguir entre os líderes e os liderados quando um espírito de partidarismo surge na assembleia. - Aqueles que levantam questões que dividem os santos muitas vezes fazem isso liderando uma rebelião contra os que tomam a liderança na assembleia. Ao que peca por trazer acusações infundadas contra um ancião, a assembleia deve “repreendê-lo na presença de todos” (1 Tm 5:19-20). A repreensão pública está ordenada para quando alguém divide os santos em posições partidárias (Gl 2:12-14). - Se a pessoa continua a propagar suas discussões e a dividir o rebanho, a assembleia tem motivos para excomungá-la. Semear a discórdia entre os irmãos é uma “abominação” ao Senhor (Pv 6:16-19), e algo que é abominável ao Senhor não deve estar em comunhão à Sua mesa. Por conseguinte, a pessoa deve ser colocada fora de comunhão. - Se alguém da assembleia se encontrar com um líder de uma divisão que foi colocado fora de comunhão ou que tenha saído com o seu grupo, os irmãos devem “admoestá-lo” mais uma vez (Tt 3:10). Se ele tiver qualquer outro encontro com esse líder, os irmãos devem “evitá-lo”, porque ele está pervertido (Tito 3:10).
Três Razões Para Excomunhão
Existem três razões principais porque a assembleia precisa colocar fora pessoas más.
1) A Glória do Senhor
A assembleia deve ter cuidado de não permitir que o nome do Senhor seja associado com o mal diante do mundo. Quando os coríntios agiram para a glória do Senhor e colocaram para fora a pessoa imoral que estava no meio deles, o apóstolo Paulo escreveu os elogiando e dizendo: “Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio” (2 Co 7:11). Eles agiram com zelo veemente e desagravo em prol da glória do Senhor.
2) A Santidade na Assembleia Deve Ser Mantida
Há duas razões para isso. Em primeiro lugar, a assembleia é lugar da habitação de Deus (Ef 2:22). Ela deve ser mantida como um lugar adequado para a Sua santa presença. O Senhor habita no meio do Seu povo reunido ao Seu nome (Mt 18:20) e, portanto, a assembleia deve manter o mal fora do seu meio para que continue a ser um lugar adequado para Sua presença. “A santidade convém à Tua casa, Senhor, para sempre” é um princípio que é verdadeiro em cada dispensação (Sl 93:5). “O que usa de engano não ficará dentro da Minha casa” (Sl 101:7; 1 Co 3:17; Nm 5:1-4). A segunda razão é o caráter de fermento do pecado. A Escritura ensina que a associação com o mal contamina. O apóstolo Paulo disse: “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa” (1 Co 5:6-8; Gl 5:9-12). Se a assembleia não afastar o mal de seu meio, não demorará muito para que outros sejam afetados por esse mal, porque “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33).
3) A Correção e Restauração do Ofensor
A ação da assembleia de colocar alguém fora da comunhão também deve ter em vista o bem da pessoa que erra. Ela é posta para fora da convivência, e não devemos nos socializar com ela, para que possa ser contristada para arrependimento e restaurada para o Senhor. “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:11). Isto se refere à nem mesmo fazer uma simples refeição com a pessoa. Quando a pessoa estiver arrependida e tiver julgado o seu pecado, a assembleia irá recebê-la de volta à comunhão. O apóstolo Paulo disse: “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor” (2 Co 2:6-8). Esta é uma ação administrativa de desligamento da assembleia (Mt 18:18).
A Atitude Apropriada da Assembleia na Excomunhão
A assembleia deveria sempre tratar a questão como se o pecado fosse dela. A sua atitude em tirar alguém de comunhão deve ser de lamento, reconhecendo que eles falharam em não conseguir alcançar a pessoa quando esta estava caminhando rumo ao pecado. Isto é o que os coríntios não fizeram. Paulo lhes disse: “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação” (1 Co 5:2). Cada um na assembleia deveria buscar em seu coração perguntando a si mesmo, “O que eu poderia ter feito para evitar a queda dessa pessoa?” Precisamos ver que temos parte nisso, em não termos pastoreado a pessoa adequadamente, ou não termos orado por essa pessoa o suficiente etc. É sobre isso que se refere o comer a oferta pelo pecado (Lv 6:26).
Resumo: Uma assembleia reunida biblicamente terá aqueles que irão assumir a liderança administrativa para garantir que a santidade e a ordem sejam mantidas.
# Número Oito - Uma Assembleia Bíblica Terá Uma Variedade de Reuniões Como na Igreja Primitiva
A exortação na Escritura é de não abandonarmos **“a nossa congregação”** (Hb 10:25). Procurando no livro de Atos e nas epístolas, vemos que a Igreja primitiva **“perseverava”** em se ajuntar numa variedade de reuniões (At 2:42). Uma assembleia baseada na Escritura hoje, sob condições normais, terá um menu repleto de reuniões também. Essas reuniões se enquadram em _duas_ categorias:
- **Reuniões da assembleia**
- **Encontros da assembleia**
_“_Reuniões da Assembleia_”_ são reuniões onde o Senhor está no meio, no sentido coletivo (Mt 18:20), conduzindo e guiando os procedimentos pelo Espírito Santo – podendo ser em adoração, oração, ministério ou para as decisões administrativas necessárias. Nessas reuniões nada é pré-arranjado quanto a quem vai fazer o quê; tudo é deixado ao Senhor para dirigir no espírito de santa espontaneidade.
_“_Encontros da Assembleia_”,_ por outro lado, são ocasiões onde os santos se ajuntam para ministério, comunhão e encorajamento, onde a responsabilidade é dada a um irmão, que tenha algum dom para pregar ou ministrar a Palavra, para conduzir a reunião. Ele é responsável para com o Senhor e a assembleia para pregar e ensinar de acordo com as Escrituras e usar o tempo para proveito espiritual e encorajamento dos santos assim reunidos. Não é que essas reuniões sejam menos importantes, mas o caráter delas é totalmente diferente.
## Reuniões da Assembleia
### Partimento do Pão
Esta reunião é referida como sendo a principal reunião da assembleia. Também é chamada de **“A ceia do Senhor”** (1 Co 11:20).
- nos evangelhos a ceia foi _instituída_ (Lc 22:19-20)
- em Atos foi _celebrada_ (At 2:42, 20:6-7)
- na epístola aos Coríntios foi _exposta_ (1 Co 10:16-17, 11:23-26)
O _propósito_ da ceia do Senhor é simplesmente nos lembrar d’Ele em Sua morte como Ele pediu – **“fazei isso em memória de Mim”** (Lc 22:19). Não vamos à ceia do Senhor para relembrarmos dos nossos pecados; vamos para nos lembrarmos d’Ele. Isto não é um mandamento, mas adquire a força de um mandamento num coração que O ama. A afeição por Cristo fará com que o crente responda a esse pedido. O partimento do pão não é chamado de reunião de adoração, mas a recordação dos sofrimentos do Senhor na Sua morte não pode, senão, invocar adoração do coração dos santos reunidos para participar da ceia. Quando o Senhor a instituiu, eles fizeram _três_ coisas:
- agradeceram (Mt 26:26-27)
- fizeram referência às Escrituras (Sl 113-118 – Mt 26:30)[5](#calibre_link-15 "5").
- cantaram um hino (Mt 26:30)
Disto aprendemos que ler passagens pertinentes nas Escrituras, cantar hinos e dar graças têm seu lugar no partimento do pão.
Aprendemos de Atos 20:6-7 e 1 Coríntios 16:2 que era hábito dos discípulos na Igreja primitiva se reunirem no primeiro dia da semana para **“partir o pão”** e fazer a **“coleta”**. Hebreus 13:15-16 conecta o sacrifício de louvor com o sacrifício das nossas possessões materiais e assim sugere à mente espiritual que eles devem ser feitos juntos na ceia como parte da adoração.
Cristãos se reunindo no **“primeiro dia da semana”** não era algo feito apenas em Corinto e Trôade; era o que **“os discípulos”** do Senhor faziam universalmente. Isto indica o tempo específico _quando_ a Igreja deveria partir o pão. Nota: isto não era feito no primeiro dia do Senhor de todo mês, ou a cada trimestre – como é prática em muitos círculos Cristãos hoje em dia – mas era um costume semanal no dia da ressurreição. Eles não se reuniam para se encontrar com o apóstolo Paulo ou para ouvir um sermão, mas para partir o pão.
A _maneira_ como a ceia deve ser comida é em um estado de havermos feito julgamento próprio. O apóstolo Paulo disse, **“Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice”** (1 Co 11:28). Então a ceia é para ser comida de uma maneira santa e reverente. Ele avisa que se comermos sem julgar a nós mesmos, poderemos incorrer no julgamento governamental do Senhor em nossa vida – citando exemplos como enfermidades e até morte (1 Co 11:27-34). Se participar da ceia do Senhor dependesse do nosso merecimento pessoal, ninguém na Terra poderia participar dos emblemas, porque ninguém é digno em si mesmo. Só somos dignos por causa do que Cristo fez na Sua obra consumada na cruz. Ele nos adequou à presença de Deus por aquilo que Ele realizou na redenção.
Como em toda reunião da assembleia, o Senhor está no meio para guiar os procedimentos pelo Espírito. Uma assembleia reunida em conformidade com a Escritura não terá um ancião ou homem designado para conduzir o serviço. Reunindo-se e esperando pelo Senhor, Ele guiará um irmão aqui e outro irmão ali para oferecer gratidão e louvor como porta-voz da assembleia. Tudo será conduzido espontaneamente, conforme o Espírito dirige.
Outro aspecto da verdade, além da característica central da recordação estabelecida na ceia do Senhor, é que **“o pão que partimos”** representa o corpo místico de Cristo (Rm 12:4-5; 1 Co 12:12-13; Ef 1:22-23; Cl 1:18). 1 Coríntios 11:23-26 se refere ao corpo _pessoal_ do Senhor no qual Ele realizou a redenção na cruz. Ao comermos o pão na ceia neste aspecto, temos comunhão com Ele naquilo que realizou em Seu corpo para a glória de Deus. Mas 1 Coríntios 10:15-17 se refere ao Seu corpo _místico_ composto por muitos membros (1 Co 12:12-13). Participando do pão neste aspecto expressamos **“comunhão”** uns com os outros como membros daquele **“um corpo”**.
Como o ato de partir o pão expressa que somos **“membros uns dos outros”** (Ef 4:25) em um corpo, somente aqueles que são comprovadamente membros do corpo de Cristo deveriam participar do pão. Portanto, a reunião para partimento do pão numa assembleia baseada na Escritura não terá uma comunhão aberta, nem uma comunhão fechada, mas em vez disso, uma comunhão _vigiada_ no que se refere a quem pode participar, como mencionado anteriormente. Uma assembleia baseada na Escritura vai receber à mesa do Senhor somente aqueles que são piedosos no caminhar e sãos na doutrina.
### Reunião de Oração
Nesta reunião a assembleia local comparece diante do **“trono da graça”** (Hb 4:16), num sentido coletivo – numa oração unida. Podemos orar particularmente em casa e recebermos respostas a essas orações, se pedirmos de acordo com a vontade de Deus, mas não há nada como as orações feitas na reunião de oração. É uma reunião absolutamente vital para a Igreja expressar sua dependência e suas necessidades ao Senhor desta maneira. Uma assembleia que não tenha uma reunião regular de oração não poderá esperar prosperar espiritualmente. Portanto, o tempo estabelecido para oração coletiva é vital e essencial para todas as assembleias. Das numerosas referências do livro de Atos podemos ver que a Igreja primitiva tinha esse tipo de reunião e a Igreja de hoje também deveria tê-la (At 2:42, 4:23-33, 12:12-17, 13:3 etc.).
A reunião de oração é o momento quando as necessidades e fraquezas são expressadas, e onde as respostas aos pedidos são esperadas. Não é o momento para longas e desconexas orações, ou pior ainda, ensinar aos santos enquanto estão de joelhos. O que caracterizou as reuniões de oração nas Escrituras foi a precisão. Eles geralmente tinham algum pedido específico ou necessidade que traziam ao Senhor em oração, e estavam completamente concordes naquilo que pediam, orando **“unânimes”**. Somos encorajados a nos aproximarmos com **“confiança ao trono da graça”** e fazer nossas **“petições”** (Hb 4:16; Fp 4:6). Nestas reuniões os irmãos que oram audivelmente agem como porta-vozes de todos os que estão presentes naquela ocasião. Eles levam as preocupações daqueles na assembleia à Cabeça da Igreja. Não há necessidade de haver um líder que ore (Ne 11:17) porque o Espírito Santo preside nesta reunião e Ele guiará os irmãos para audivelmente expressarem as preocupações da assembleia ao Senhor.
A reunião de oração pode ser considerada “a reunião termômetro”, porque a temperatura ou estado geral daqueles numa assembleia em particular pode frequentemente ser discernido pelo interesse e comparecimento deles a esta reunião. O “tom” desta reunião é a manifestação da condição espiritual da assembleia como um todo.
### Reunião Aberta
Esta é a reunião para o ministério da Palavra de Deus (1 Co 14:26-33). Como o Senhor está no meio e dirigindo esta reunião da assembleia pelo Espírito, Ele conduzirá dois ou três irmãos a ministrarem algo das Escrituras que será de proveito para a assembleia. As Escrituras dizem **“falem dois ou três profetas, e os outros julguem”** (1 Co 14:29). Aqueles que atuam como profetas nesta reunião devem falar para **“edificação, exortação e consolação”** dos demais (1 Co 14:3).
Uma vez que a reunião é aberta à condução do Espírito para usar qualquer um **“como Lhe apraz”** (1 Co 12:11 – TB), alguns têm confundido esta reunião como se fosse um momento para a carne ter a liberdade nas coisas divinas e então ocupam o tempo sem proveito. Este foi o problema em Corinto. Eles abusaram desta reunião e a tornaram em algo “aberto-para-todos” (1 Co 14:26). Parece que todos tinham algo que queriam “mostrar e dizer”, não importando se iria edificar ou não a assembleia. Eram tão ansiosos para falar que acabavam tropeçando uns nos outros. Alguns queriam usar seu dom de línguas, mas eles não tinham intérprete para trazer o que foi dito numa linguagem comum àqueles na assembleia. O resultado era que ninguém tinha proveito disso.
Isso precisava ser ajustado. Foi o que o apóstolo fez escrevendo a eles. Ele mostra que o ministério nas reuniões é para ser feito de maneira ordenada. **“Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro”** (v. 30). Em outras palavras, era para eles não interromperem um ao outro, mas esperar até que o primeiro que falava tivesse terminado antes do próximo irmão falar. Todas as coisas eram para serem feitas decentemente e em ordem (v. 40). Ele nos diz que se uma pessoa persiste em falar com pouco ou nenhum proveito, a assembleia tem o recurso de poder **“julgar”** o ministério daquela pessoa e silenciá-la (v. 29).
Nesta passagem (1 Co 14) o apóstolo afirma três coisas que são para regular o ministério nas reuniões da assembleia:
- Devemos dar lugar à direção do Espírito, que está implícito na palavra “permita que”[6](#calibre_link-16 "6") – 8 vezes (vs. 26-30).
- Os profetas devem ter controle próprio sobre seu **“espírito”** (v. 32).
- A assembleia deve exercitar julgamento administrativo de silêncio sobre aqueles que não estão sujeitos à direção do Espírito, e aqueles que não controlam seu próprio espírito (v. 29).
### Reunião Para Ações de Disciplina
Num mundo perfeito não haveria necessidade desta reunião, mas enquanto a Igreja estiver na Terra, e tivermos a carne em nós, haverá manifestações de pecado nos santos, se eles negligenciarem julgarem a si mesmos. Consequentemente, haverá necessidade de ações disciplinares pela assembleia sobre aqueles que não controlam os impulsos da carne em sua vida.
Quando uma assembleia toma uma decisão requerida para silenciar um irmão, ou tirar alguém de comunhão (Mt 18:18-20), isto deve ser feito em assembleia quando os santos **“estão reunidos”** e o Senhor está no meio (1 Co 5:4). Esta ação deve ser contra qualquer forma de pecado de que uma pessoa seja acusada. Esta ação não é feita por um grupo de irmãos ou anciãos, à parte da assembleia, mas pela assembleia quando está reunida (At 15:22). Uma reunião para uma ação disciplinar ocorre normalmente junto à reunião do partimento do pão porque o partimento do pão é onde a unidade do corpo e a comunhão à mesa do Senhor são expressas. Uma vez que a pessoa é **“colocada fora”** do meio da comunhão dos santos à mesa do Senhor, é apropriado que isso seja junto à reunião do partimento do pão (1 Co 5:12-13).
Olhando para essas reuniões da assembleia que a Escritura apresenta e então para a comunhão denominacional na Cristandade, vemos que a Igreja hoje nem mesmo tem essas reuniões nos seus serviços – pelo menos com algum tipo de regularidade. A maioria das reuniões que vemos hoje é o que é chamado de “culto familiar” onde as pessoas se reúnem para ouvir um sermão e louvar o Senhor. Se a ceia do Senhor é mantida, ela é usualmente feita uma vez por mês ou uma vez a cada três meses – e é parcamente reconhecível em relação ao que lemos nas Escrituras. Por exemplo, o pão inteiro, que é o emblema do corpo de Cristo, é usualmente substituído por hóstias. Também, se reuniões de oração são feitas no meio da semana, há um líder de oração indicado. Reuniões abertas são desconhecidas, bem como reuniões para ações disciplinarias e excomunhão.
Encontros da Assembleia
As reuniões nesta segunda categoria têm um caráter diferente daquelas as quais chamamos de “reuniões da assembleia”. A principal diferença é que estas reuniões são realizadas por irmãos responsáveis dotados, em vez de ser sob a direta e espontânea direção do Espírito. Isto não quer dizer que o Espírito de Deus não seja necessário ou que não se dependa d’Ele nestas reuniões; aqueles que falam deveriam estar “cheios do Espírito” (Ef 5:18) e serem “guiados pelo Espírito” (Rm 8:14).
Reunião de Leitura
O essencial para uma reunião de leitura da Bíblia é mencionado em 1 Timóteo 4:13, onde diz: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá”. O “ler” que Paulo fala aqui não é a leitura pessoal e privada da Escritura ou ministério, mas a leitura pública das Escrituras quando os santos estão reunidos (margem da tradução de J. N. Darby). Este era o costume da Igreja primitiva de se reunir para ouvir a leitura das Escrituras. Era uma prática dos judeus nas sinagogas (At 13:15) que foi transportada (corretamente) ao Cristianismo. O fato de Paulo ter incluído “exortação” e “ensino” em 1 Timóteo 4:13 indica que após as Escrituras terem sido lidas em voz alta, havia a oportunidade para qualquer um que tivesse o dom da exortação ou de exposição da verdade, fazer comentários para a ajuda espiritual e entendimento dos santos. Isto é essencialmente o que é uma reunião de leitura da Bíblia. As Escrituras que eles liam eram as do Velho Testamento, mas conforme o tempo passava e as epístolas eram escritas, estas também foram incluídas nessas leituras.
Isto era feito na Igreja primitiva porque a maioria naquele tempo não tinha uma cópia das Escrituras. Era uma forma de todos ouvirem a Palavra de Deus e obterem algum ministério útil. Também, alguns antigamente eram iletrados e não podiam ler mesmo que tivessem uma cópia das Escrituras. Além disso, essas ocasiões promoviam comunhão. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão” (At 2:42). A reunião de leitura da Bíblia é ainda um maravilhoso meio de aprender a verdade.
Paulo encorajava Timóteo a participar dessas reuniões de leitura e aproveitar a oportunidade para exercitar seu dom em exortação e ensino. Ele disse que definitivamente Timóteo tinha o dom para isso, e não deveria negligenciar seu uso. Paulo também o lembrou de que ele tinha o suporte dos irmãos mais velhos (“o presbitério”) que haviam reconhecido seu dom e haviam dado a ele a destra de comunhão no uso do dom (v. 14). Não deveríamos encorajar alguém nesse caminho se ele não tiver o dom para ministrar a Palavra. A pessoa pode embaraçar-se a si mesma e haverá pouco proveito espiritual para os santos. Embora a reunião deva ser usada por aqueles que podem ensinar, se não existir alguém presente com um dom específico para o ensino, os santos ainda podem ser alimentados. Se vários irmãos na reunião expressarem o que eles entendem em conexão com a passagem, em dependência do Senhor, Ele vai dar algo aos santos, porque Deus sempre abençoa a leitura da Sua Palavra (Ap 1:3).
Como a reunião de leitura hoje em dia é realizada segundo o caráter de uma “reunião da assembleia”, alguns têm pensado que ela pudesse estar incluída na primeira categoria – e talvez ela devesse – mas os irmãos dos anos 1800 a realizavam como um tempo para exposição pelos irmãos dotados, onde perguntas e respostas ocupavam grande parte da reunião.
Pregação Para Crentes
Um exemplo desta reunião é encontrado em Atos 20:7. Diz: “Paulo, que havia de sair no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o seu discurso até a meia-noite” (AIBB). Quando a ocasião surge, e há um irmão presente que tenha dom em ministrar a Palavra de Deus, a assembleia pode tirar proveito da oportunidade e pedir a ele por uma pregação. Ele vai escolher um tema que o Senhor tenha colocado em seu coração que seja de ajuda aos santos no entendimento da verdade que de uma vez para sempre foi entregue aos santos (2 Pe 1:12; Jd 3 – AIBB). Ou então a reunião pode assumir o caráter de exortação e encorajamento. Se o irmão estiver naquela área por algum tempo, e os santos desejarem isso, ele pode fazer uma série de pregações num determinado assunto.
Pregação do Evangelho
Esta é uma reunião que normalmente não é realizada sob a responsabilidade da assembleia, embora possa ter alguma coisa a ver com ela se a reunião ocorrer no local que pertença à assembleia. Também relacionaríamos a Escola Dominical com esse tipo de reunião.
O propósito da reunião de pregação do evangelho é muito obvio – é pregar o evangelho. No livro de Atos vemos o apóstolo Paulo pregando o evangelho aos perdidos; na epístola aos Romanos ele fala anunciando-o aos crentes (Rm 1:15). Por isso, há lugar para os dois nas Escrituras. Podemos nos perguntar por que anunciar o evangelho aos crentes? Mas é importante, como ajuda aos santos, para se estabelecerem na verdade do evangelho e nas bênçãos relacionadas a ele. Quando o evangelho é anunciado aos santos, ele tem um caráter mais expositivo do que rogatório. Este era o propósito de Paulo ao escrever aos Romanos. Uma reunião de evangelho pode ocorrer em quase todos os lugares.
- Em Atos 10:23-24 foi numa casa. - Em Atos 13:14-43 foi numa sinagoga. - Em Atos 16:25-34 foi numa prisão. - Em Atos 17:22-34 foi ao ar livre.
Reunião Para Relatar um Trabalho Missionário
Um exemplo dessa reunião é encontrado em Atos 14:27. “E, quando chegaram e reuniram a igreja, relataram quão grandes coisas Deus fizera por eles, e como abrira aos gentios a porta da fé”. Estas reuniões dão aos santos a oportunidade para ouvirem o que o Senhor tem feito em campos estrangeiros. Não é para os obreiros se exaltarem pelo que estão fazendo para o Senhor (2 Rs 10:16), mas para apresentarem o que Deus está fazendo, salvando almas e as reunindo ao nome do Senhor Jesus Cristo.
Um irmão que trabalha numa terra estrangeira pode passar por um lugar, e a assembleia pode ter a oportunidade de ouvi-lo relatando sobre o trabalho naquele lugar. Ele pode expor um mapa ou mostrar algumas fotos do trabalho naquele lugar em particular onde ele e outros têm estado servindo. O propósito principal desta reunião é encorajar os santos locais a orarem pelo trabalho em vários lugares. Ouvir isso dessa maneira possibilita aos santos orarem mais inteligentemente. Isto também dá a eles a oportunidade prática de terem comunhão com o trabalho de maneira financeira. O resultado dessa reunião é que “… davam grande alegria a todos os irmãos” (At 15:3).
Reunião de Cuidado
Esta reunião é de caráter diferente de todas as outras reuniões. As reuniões mencionadas anteriormente são para a assembleia como um todo, mas esta reunião não. É uma reunião privativa para os anciãos e irmãos responsáveis relativamente aos cuidados administrativos da assembleia (Gl 2:2 – “particularmente [privativamente – JND]”).
Atos 15:6, 20:18 e 21:18 indicam que é totalmente aceitável irmãos responsáveis se reunirem separadamente da assembleia para tratarem questões administrativas. Essas referências não são exatamente modelos para reuniões de cuidado; aquelas reuniões foram concílios apostólicos que incluíam irmãos de diferentes localidades. Mesmo assim, tais referências dão os princípios para tais reuniões. Uma reunião de cuidado, como sabemos, é exclusivamente para irmãos locais.
Não é uma reunião “dos irmãos” como alguns costumam chamar, mas uma reunião de “cuidado” porque esta reunião não é necessariamente para todos os irmãos numa assembleia local. A Escritura diz: “Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto” (At 15:6). Não são mencionados irmãos jovens, novos convertidos ou irmãs. Aqueles que não estão estáveis na fé poderiam facilmente tropeçar quando vissem “guerras nos portões” (Êx 13:17-18; Jz 5:8). Além disso, os jovens na fé não tiveram sua consciência suficientemente esclarecida quanto aos princípios da Escritura para serem capazes de formar um julgamento espiritual acurado e, portanto, não seriam necessários nesse tipo de reunião. Conforme eles forem amadurecendo poderão participar e aprender como as coisas devem ser manejadas, observando os irmãos mais velhos e experientes.
Enquanto os irmãos, na reunião de cuidado, podem chegar a um caminho a seguir em conformidade com a Escritura que a assembleia deva tomar em relação ao um assunto que possa estar enfrentando, eles não fazem nada separadamente da assembleia (At 15:22).
Reunião de Comunhão (Festa de Amor)
Esta é uma reunião cujo objetivo é a comunhão. Judas fala dela como “vossas festas de amor” (Jd 12 – ARF). Pedro também faz alusão a ela (2 Pe 2:13). É um tempo para os santos estarem juntos para refeição em comum para promover a comunhão.
A Igreja primitiva considerava importante a comunhão e “perseveravam” nela (At 2:42). A comunhão fortalece nossa ligação em Cristo e nos encoraja no caminho de fé. Notemos que comunhão Cristã é comunhão em relação ao que temos em comum como Cristãos – Cristo. Algumas vezes nos reunimos para esportes e recreação sem referência ao Senhor, e imaginamos que isso seja comunhão Cristã. Isto é realmente comunhão natural feita com Cristãos, e não há nada de errado com isso, mas a essência da comunhão Cristã é ter comunhão sobre as coisas Cristãs.
Os Coríntios fundiram esta reunião com a ceia do Senhor e a tornaram em algo que era uma desonra ao Senhor (1 Co 11:20-22). Eles também estavam comendo em suas festas de amor fazendo distinções de classes sociais, o que não era para ser feito na comunhão do povo do Senhor. Então, o apóstolo corrigiu essa desordem em suas observações.
Resumo: Sob condições normais uma assembleia baseada na Escritura terá uma variedade de reuniões que vão ao encontro das necessidades dos irmãos na assembleia local. Note que não há menção na Escritura de reuniões de cura, reuniões de línguas ou reuniões de testemunhos. Estas reuniões são encontradas na Igreja hoje em dia, e possam até ser atraentes, mas elas não são encontradas na Palavra de Deus, e, portanto, não serão encontradas numa assembleia baseada na Escritura.
# Número Nove - Uma Assembleia Bíblica se Reunirá no Terreno de o “Um Corpo” e Praticará Esta Verdade Com Outras Assembleias Que Estão Similarmente Reunidas
Na procura por uma assembleia bíblica, também precisamos ver que uma assembleia que se reúne de acordo com a Palavra de Deus não é uma “ilha” sozinha no mar da profissão Cristã. Não há na Escritura algo como uma assembleia local sendo independente – funcionando autonomamente. Uma assembleia bíblica estará reunida no terreno de o **“um corpo”** de Cristo, e praticará esta verdade com outras assembleias que estão similarmente reunidas nesse terreno (1 Co 12:12-27; Ef 4:1-4).
É triste dizer, mas a Igreja se afastou muito disto. Em vez de reunir-se no terreno de o **“um corpo”**, se reúne em várias linhas de divisões de acordo com:
- _Distinções nacionais_ – isto é, a igreja da Inglaterra, a igreja da Escócia, Holandesa Reformada, etc.
- _Certas ordenanças e doutrinas_ – isto é, Batista, Anabatista etc.
- _Formas de direção da igreja_ – isto é, Episcopal (dirigida por meio de um sistema de bispos), Presbiteriana (dirigida por um sistema de anciãos e ministros), Congregacionalista (dirigida por meio de voto da congregação), etc.
- _Um homem dotado_ – isto é, Luther (Luterana), Menno Simons (Menonita), John Wesley (Metodista) etc.
Esses partidos sectários tornam a comunhão da Igreja algo _mais amplo_ ou _mais restrito_ do que a Escritura indica. Por exemplo, as igrejas nacionais aceitam em sua comunhão todos os que são de uma determinada nação, independentemente de serem salvos ou não. Uma pessoa é Cristianizada (batizada) no nascimento e se torna parte dessa organização da igreja. Mas a Bíblia indica que a Igreja é composta somente por crentes verdadeiros, e **“a mesa do Senhor”** (símbolo do verdadeiro terreno de comunhão Cristã onde a autoridade do Senhor é reconhecida) é somente para membros do corpo de Cristo (1 Co 10:16-17). Os bebês e os crentes meramente professos (não nascidos de Deus) não têm um lugar nesta comunhão. Por outro lado, as igrejas evangélicas limitam a comunhão da igreja a algo menor do que os membros do corpo de Cristo. Não é suficiente a pessoa ser um Cristão; ele deve ser um membro desta particular organização de igreja. Isso é sectarismo. Se alguém deseja fazer parte das funções dessa sua igreja, ele deve se juntar oficialmente a sua comunhão, mas ao fazê-lo, ele se separa de outros Cristãos em comunhão com outras igrejas. Porque se uma pessoa escolhe se tornar batista, então ele não pode ser presbiteriano. Sua comunhão e atividades na igreja estão restritas aos batistas. Assim, o terreno de tal comunhão é menor do que o corpo de Cristo. Ambos esses princípios de reunião não estão de acordo com a verdade de o **“um corpo”**.
A maioria dos Cristãos vai concordar com a verdade de o **“um corpo”**, mas, infelizmente eles veem isso meramente como uma doutrina teológica que não tem ramificações práticas na vida de Cristãos em sua eclesiologia. Isto, no entanto, é um erro. A Escritura indica que Deus deseja que a verdade de o **“um corpo”** seja praticada na maneira na qual os Cristãos se reúnem para adoração, ministério, comunhão e intercomunhão com outras assembleias reunidas da mesma forma. Uma assembleia reunida biblicamente, portanto, procurará expressar a unidade do corpo de Cristo de maneira prática.
## O Desejo de Deus Por Uma Unidade Visível Entre Seu Povo
Sabemos da Palavra de Deus que Ele deseja **“reunir em um os filhos de Deus que estavam dispersos”**, assim haveria **“um rebanho”** e **“um Pastor”** (Jo 11:51-52 – JND; 10:16). Antes de ir para a cruz, o Senhor orou por isso dizendo: **“Pai santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam** um**, assim como Nós”**. E novamente, **“Para que todos sejam** um**, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam** um **em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste”** (Jo. 17:11, 21). Enquanto esses versículos no evangelho de João não falam diretamente da verdade da unidade do corpo de Cristo, mas sim da unidade na família, eles mostram que o desejo de Deus para Seu povo é que fossem encontrados juntos em unidade visível na Terra.
Vamos voltar novamente àquele versículo em Mateus 18:20, ao qual já olhamos muitas vezes, mas desta vez para focar numa parte diferente do versículo. **“Pois onde dois ou três** estão congregados **em** [**colocados juntos ao** – JND] **Meu nome, ali estou Eu no meio deles”** (Mt 18:20 – TB). O ponto que enfatizamos agora é que o Senhor deseja que Seu povo não apenas esteja **“reunido”** onde Ele estivesse no meio, mas que estivessem **“reunidos juntamente”**. Ele desejou que todos os que o Espírito de Deus reunisse para o Seu nome, onde quer que estivessem na Terra, estivessem **“juntos”**. Ele não queria dizer que todos deveriam estar juntamente reunidos em um único lugar geográfico (como era no judaísmo – em Jerusalém), mas que eles atuassem juntos nas várias localidades, onde o Espírito os tivesse reunido, para dar uma expressão universal ao fato de que são um. Seu desejo é que houvesse uma comunhão universal dos santos na Terra – para a qual todos os Cristãos são chamados (1 Co 1:9).
Agora alguém pode pensar que estamos vendo mais nesta palavra **“juntamente”** do que se pretendeu, e é verdade que se tivéssemos apenas este versículo (Mt 18:20) sobre o tema de reunir-se, alguém poderia ter motivo para dizê-lo. Mas quando vamos para o livro de Atos e para as epístolas, e interpretamos a Escritura à luz de todo o teor da revelação Cristã, podemos ver que o Senhor estava indicando a verdade da unidade da Igreja. É apenas aludido aqui em Mateus 18 porque os discípulos ainda não tinham o Espírito, e eles não seriam capazes de receber isto (Jo 14:25-26, 16:12). O Senhor fez isto em várias ocasiões em Seu ministério, dando apenas a semente de uma verdade e deixando-a para ser desenvolvida por meio dos apóstolos, quando o Espírito viesse.
Aprendemos de João 10:16 que o Senhor não quis que Seu povo fosse encontrado em vários rebanhos independentes, mas que houvesse **“um rebanho”**, independentemente de onde eles pudessem ser encontrados sobre a Terra. Haveria muitas reuniões, mas apenas um rebanho – uma comunhão universal dos santos na Terra. Não era pensamento de Deus que a comunhão fosse algo meramente local, limitado a um único grupo de crentes numa cidade ou vila. Como o evangelho alcançou outras terras e muitos se converteram, haveria naturalmente muitas reuniões espalhadas pela Terra, mas o Senhor queria que ainda assim eles fossem um em comunhão e testemunho.
### Caminhar Como é Digno de Nossa Vocação é Expressar Praticamente que Somos “Um Corpo”
Especialmente as epístolas aos Efésios e Colossenses revelam a verdade do **“grande Mistério”** de Cristo e a Igreja, que é Seu corpo. A primeira exortação prática na epístola aos Efésios é que andassem **“como é digno da vocação”** com a qual eles foram chamados (Ef 4:1). E podemos perguntar como os membros do corpo fazem para **“andar como é digno da vocação”**? Alguns podem dizer que eles devem fazê-lo vivendo corretamente, como bons cidadãos na comunidade, mas esse não é o ponto dessa passagem da Escritura. Cristãos obviamente deveriam estar preocupados em andar em retidão diante do mundo, mas o contexto dessa passagem indica que a exortação **“andar como é digno”** da vocação é em vista da revelação do Mistério de Cristo e de Sua Igreja – o corpo, o qual Paulo apresentou no capítulo 3. Enquanto ordena aos santos que andem dignos de sua vocação, ele acrescenta **“Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo”** (Ef 4:2-5). Fica claro, portanto, que a Igreja deve andar digna da vocação do seu chamado, colocando em prática a verdade de que é **“um corpo”**.
Não somos chamados a manter a unidade do corpo, mas sim, **“a unidade do Espírito”**. Não há exortação na Escritura para os Cristãos manterem a unidade do corpo porque isto é algo vital que Deus mesmo mantém. Isto é o que Ele formou no Pentecostes, unindo os membros do corpo junto a Cristo, a Cabeça no céu, por meio da habitação do Espírito – corpo esse do qual agora somos parte por meio do selo do Espírito (Ef 1:13). Nenhum poder ou inimigo pode quebrar a unidade do corpo; ela é tão forte quanto nosso vínculo em Cristo na salvação. **“A unidade do Espírito”**, no entanto, é uma unidade prática entre os crentes, a qual somos responsáveis por manter, e é nosso privilégio fazê-lo. O que é então a unidade do Espírito? F. G. Patterson disse, _“Manter a unidade do Espírito é se esforçar em manter na prática o que existe de fato”_. E o que existe de fato? A passagem segue e nos diz: **“há um só corpo”**. Outra pessoa disse que a unidade do Espírito é _“aquilo que o Espírito está formando para dar uma verdadeira expressão à verdade do um corpo”._ Concluímos, portanto, que os Cristãos devem andar dignos da vocação do seu chamado colocando em prática a verdade de que eles são **“um corpo”**. Esta é a primeira grande responsabilidade coletiva da Igreja. E é a mente de Deus que esta unidade seja expressada universalmente – independentemente de onde esteja o corpo na Terra. Esta unidade não poderia ser meramente algo local porque o corpo não está numa localidade.
Para ajudar os membros do corpo de Cristo a andarem juntos em unidade prática, Efésios 4 nos diz que Cristo, a Cabeça do corpo que subiu ao céu, fez provisão completa aos membros para tal fim (Ef 4:7-16). Ele deu **“dons”** à Igreja com o propósito de ajudar os santos a entender seus privilégios e responsabilidades no corpo, para que eles andassem dignos da vocação a que foram chamados.
## O “Um Corpo” Na Prática
Vemos na Escritura várias maneiras pelas quais o corpo de Cristo deve manifestar sua unidade. Isto pode ser visto nas seguintes coisas:
### O Partimento do Pão
A maneira mais simples pela qual os crentes podem expressar que eles são parte do **“um corpo”** é participando do **“único pão”** no partimento do pão. Ao partimos o pão na ceia do Senhor estamos confessando o fato de que somos membros do **“um corpo”**. Paulo disse, **“O pão que** [nós] **partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Pois** nós**, que somos muitos, somos um só pão, um só corpo; porque todos [nós] participamos do único pão”** (1 Co 10:16-17 – TB). Talvez haja um pão sendo comido em muitas assembleias onde quer que os santos sejam encontrados reunidos na Terra, mas a Escritura vê todas as assembleias participando do **“único pão”**. Paulo disse, **“nós”** – incluindo-se a si mesmo com os Coríntios, mesmo eles estando em diferentes localidades. Isto mostra que o ato de partir o pão é a confissão do fato universal de que todos os santos fazem parte desse **“um corpo”**.
### A Ordem da Assembleia
Quando olhamos mais atentamente a epístola aos Coríntios, vemos esta verdade funcionando nas circunstâncias práticas da vida da assembleia. Vemos que Paulo procurou manter a uniformidade na doutrina e prática em todas as assembleias em todo o mundo (1 Co 1:2, 4:17, 7:17, 11:16, 14:33-34, 16:1). Sua grande preocupação era que todas as assembleias andassem juntas, e assim tivessem um testemunho único diante do mundo. Quando vemos a Igreja primitiva encontramos esta unidade na prática.
- Havia um padrão comum de doutrina e prática para todas as assembleias. Paulo pôde dizer: **“**… **como por toda a parte ensino em cada igreja”** (1 Co 4:17).
- Havia um padrão comum de conduta, independentemente da cultura. Paulo pôde dizer: **“É o que ordeno em todas as igrejas”** (1 Co 7:17).
- Havia uma maneira comum em reconhecer o senhorio nas orações ou profecias, expressada pelo uso de cobertura na cabeça. A esse respeito Paulo pôde dizer, **“nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”**. Eles não tinham tal pensamento ou costume de que as pessoas fariam de outra forma (1 Co 11:16).
- Havia uma ordem para ministério nas assembleias. O Espírito de Deus estava lá, em seu meio, usando os dons que estavam presentes em cada assembleia local para a edificação de todos. Ao delinear aquela ordem, Paulo disse: **“como em todas as igrejas dos santos”** (1 Co 14:33).
- Havia uma maneira comum para o uso dos fundos acumulados em suas coletas – os interesses de Cristo e Seu corpo. Paulo disse novamente: **“**... **o mesmo que ordenei às igrejas”** (1 Co 16:1). Andando juntos em uma comunhão, eles reconheciam as necessidades uns dos outros e procuravam atendê-las de forma universal (1 Co 16:3; Rm 15:25-26).
### A Formação de Novas Reuniões
No caso de novos convertidos e na formação de novas reuniões no terreno único de comunhão, vemos que quando o Espírito de Deus começava uma obra em alguns, Ele era cuidadoso em ligá-los a outros no mesmo terreno para que **“a unidade do Espírito”** fosse mantida. É dito sobre os crentes de Tessalônica, **“Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo”** (1 Ts 2:14). Não era que as assembleias na Judeia fossem mais importantes e que as outras assembleias deveriam segui-las. Era simplesmente que o Espírito havia começado Sua obra de reunir almas ao nome do Senhor Jesus primeiramente na Judeia, e como outros foram salvos, esses eram ligados em comunhão prática com o que o Espírito de Deus já havia iniciado.
No livro de Atos vemos várias assembleias locais andando juntas na prática para expressar a verdade que elas são um corpo. Isto é visto em Atos 8:4-24. Muitos em Samaria vieram a crer no Senhor Jesus por meio da pregação de Filipe, contudo o Espírito de Deus não os reconheceu como estando no terreno da assembleia até que tivessem recebido o Espírito e tivessem comunhão prática com aqueles que Ele já havia reunido ao nome do Senhor Jesus em Jerusalém. Buscando manter **“a unidade do Espírito”**, dois representantes desceram de Jerusalém e impuseram as mãos naqueles em Samaria (uma expressão prática de comunhão – Gl 2:9), e por esse meio o Espírito de Deus identificou-Se com eles. C. H. Brown disse: “Deus não permitiu aos Samaritanos que obtivessem reconhecimento oficial como pertencentes à Igreja (assembleia) até que o obtiveram desses emissários que desceram de Jerusalém”. Grande cuidado foi tomado pelo Espírito de Deus para ligar esses crentes **“juntos”** com aqueles em Jerusalém, para que houvesse _uma_ expressão prática do **“um corpo”** na Terra, mesmo que esta verdade ainda não tivesse sido revelada.
Quando o apóstolo Paulo encontrou um grupo de crentes em Éfeso (At 19:1-6) que não tinha conhecimento de outros com os quais Deus havia trabalhado, ele percebeu que o Espírito de Deus não os tinha reconhecido como estando no terreno divino da assembleia. Eles não foram reconhecidos como estando no terreno de o **“um corpo”** até que tivessem o Espírito e comunhão prática (a imposição das mãos) com aqueles a quem o Espírito já havia reunido. Em referência a este grupo de crentes C. H. Brown também disse: “Eles precisavam de algo. Eles tinham que ser trazidos à mesma unidade que já existia. Eles não poderiam ser reconhecidos enquanto ocupassem um terreno diferente dos demais. Paulo não poderia dizer, ‘Pessoal, vocês não estão no mesmo terreno que o pessoal em Antioquia, ou Jerusalém, mas vocês têm muita verdade e eu simplesmente continuarei com vocês’. Oh não. Ele vai perceber que eles foram trazidos ao mesmo terreno como os demais. Eles foram trazidos para a mesma coisa que foi formada antes mesmo de ouvirem falar dela”. Novamente vemos nisto o cuidado e sabedoria de Deus em manter **“a unidade do Espírito”** a fim de que houvesse _uma_ expressão prática da verdade de o **“um corpo”**.
É digno de se notar que os crentes em Samaria (Atos 8), Antioquia (Atos 11) e Éfeso (Atos 19) não foram chamados de **“assembleia”** até _depois_ de serem ligados **“juntos”** em comunhão prática com os apóstolos e os irmãos já reunidos no terreno da assembleia. Antes disso eram meramente chamados de crentes ou discípulos, em uma certa localidade. Depois de eles serem trazidos à comunhão com os apóstolos e os irmãos no terreno da assembleia, os encontramos sendo chamados de **“a assembleia”** em tal e tal lugar (At 9:31, 11:26, 20:17).
Além disso, onde quer que a Escritura fale da igreja em um lugar (cidade ou vila), nunca fala dela como igrejas (no plural) de tal e tal lugar, mas simplesmente **“a igreja** (no singular) **de Deus que está em Corinto”** etc. Mesmo que houvesse muitos grupos reunidos em determinada cidade, como em Corinto, eles eram sempre referidos como sendo uma assembleia (1 Co 1:2 etc.). Isto porque a Igreja, em qualquer localidade, é para ser visivelmente uma em testemunho. A Escritura fala, no entanto, de **“igrejas”** quando se refere a províncias, porque uma província é composta de muitas cidades ou localidades (Gl 1:2, 22; Ap 1:11)
### Questões de Comunhão Entre Assembleias
Vemos o **“um corpo”** na prática em assuntos administrativos concernentes à comunhão entre assembleias. A Igreja na Escritura usava **“cartas de recomendação”** (At 18:24-28; Rm 16:1; 2 Co 3:1-3). Essas cartas eram escritas de uma assembleia local à outra, recomendando uma pessoa ou pessoas à comunhão prática da assembleia para qual estavam indo. Esta carta não era para pedir aos irmãos daquela localidade para recebê-la ou recebê-las à comunhão; a carta anunciava que a pessoa já estava em comunhão, e que a assembleia, para a qual a pessoa estava indo, a recebesse como tal. Isto porque uma vez estando a pessoa em comunhão em uma localidade, ela está em comunhão com os santos que estão naquele terreno universalmente. Uma vez que todos os assuntos administrativos que têm a ver com a assembleia devem ser feitos **“por boca de duas ou três testemunhas”** (2 Co 13:1), dois ou três irmãos da assembleia local de onde a pessoa vem, deveriam assinar a carta.
### Questões de Disciplina na Assembleia
O **“um corpo”** na prática é visto também em assuntos entre assembleias relativos à disciplina e excomunhão. Mesmo que possa haver muitos quilômetros entre assembleias, elas são vistas como todas estando em um terreno e em uma comunhão; e assim reconhecem atos administrativos de ligar e desligar umas das outras. Esses ocorrem em várias reuniões locais como ações feitas em nome do Senhor, mas são acatados por todas as assembleias no terreno do um corpo. A competência de cada assembleia local para agir em nome do corpo, como um todo, vem do fato de que o Senhor está no seu meio sancionando seus atos (Mt 18:18-20).
Em 1 Coríntios 12:27, Paulo indica que a assembleia em Corinto era a representante local do corpo em sua totalidade. Isto seria verdade para todas as assembleias locais, quer fosse Corinto, Éfeso etc. Isto indica que suas ações afetariam administrativamente a totalidade dos santos. Infelizmente a versão inglesa King James (e a Almeida Revista e Corrigida e a Fiel também) diz, **“Ora, vós sois** o **corpo de Cristo”**. Isto é um engano e pode fazer alguém pensar que o corpo de Cristo estava apenas em Corinto – como se fossem os únicos no corpo, ou que cada assembleia local fosse o corpo de Cristo. O corpo de Cristo, obviamente, abrange todos os Cristãos na face da Terra. Deveria dizer: **“Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros”** (AIBB). Isto transmite mais precisamente a ideia. Observe que ele não diz, “nós”, mas **“vós”**. Ele estava falando da assembleia local em Corinto. Certamente eles não eram o corpo completo, mas eram _do_ corpo de Cristo – isso é, uma parte do todo. Hamilton Smith ilustra este ponto nos pedindo que imaginemos que um general, se dirigindo a uma companhia local de soldados, dissesse: “Lembrem-se, homens, vocês são Guardas Coldstream” (tropa de elite da rainha da Inglaterra). Ele não diria “Vocês são os Guardas Coldstream”, porque eles não formavam o regimento inteiro. A ausência do artigo “o”, na correta tradução do versículo acima, transmite a verdadeira ideia de que os Coríntios eram a expressão local do corpo de Cristo na totalidade. Isto os fez competentes para agirem em nome do corpo, como um todo, em assuntos administrativos.
Se uma assembleia local tiver de tomar uma decisão de ligar colocando alguém fora de comunhão, o corpo inteiro age em comunhão com aquela assembleia local e reconhece a ação, para que, a pessoa **“colocada fora”** seja considerada como **“fora”** em outras reuniões também – não somente na localidade onde reside. Vemos isso em 1 Coríntios 5:13, onde a assembleia local em Corinto tinha que colocar para fora do seu meio aquela pessoa iníqua. Mas 2 Coríntios 2:6 nos diz que a **“repreensão”** ou **“censura”** feita pela assembleia Coríntia foi **“feita pelos muitos”** (JND). O “muitos” aqui refere-se ao corpo como um todo – o conjunto dos santos universalmente (nota de rodapé da tradução de J. N. Darby). Portanto o ofensor é levado a sentir a repreensão mais do que apenas por sua assembleia local. Não estamos dizendo que o homem em questão foi realmente a outras localidades e sentiu a repreensão deles, mas a realização daquela ação é expressada universalmente pelo corpo como um todo. Se uma pessoa teve que ser colocada fora de comunhão numa localidade específica, ele foi considerado como fora de comunhão em todos os lugares na Terra, porque o que é feito em nome do Senhor numa assembleia local, afeta o todo na prática.
Mateus 18:18 confirma isto. O Senhor disse: **“tudo o que ligardes na Terra**...**”**. Ele não especificou onde na Terra porque as ações da assembleia não estão restritas a nenhuma localidade. Embora uma decisão possa ser tomada numa determinada localidade, ela é feita em nome do corpo como um todo e está ligada em toda a Terra. Não há na Escritura algo como tomar uma decisão de ligação que se aplique apenas a uma certa localidade. Neste versículo, o Senhor está simplesmente dizendo que se uma assembleia toma uma decisão em Seu nome, Ele a reconhecerá. Se o céu a reconhece, então toda a Terra deveria reconhecê-la também. Todos no terreno da Igreja de Deus devem reconhecer aquela ação e acatá-la. Fazendo isso, a assembleia, como um todo, expressa a verdade de ser **“um corpo”**.
Da mesma forma, quando ocorre o encerramento da ação de ligação, a assembleia local, onde a ação foi feita, suspende a censura e (administrativamente) perdoa a pessoa arrependida, e o corpo inteiro acompanha, expressando também aquele perdão. Isto é corroborado nas observações de Paulo em 2 Coríntios 2:7-11. Enquanto Paulo tinha autoridade para agir apostolicamente nessa questão, se fosse necessário, ele preferiu esperar até que a assembleia local em Corinto agisse, para manter assim a **“unidade do Espírito”**. Ele disse, **“E a quem** [vós] **perdoardes alguma coisa, também eu”**.
Paulo vai adiante para dizer, **“para que** [nós] **não sejamos vencidos por Satanás”** (2 Co 2:10). Ele não disse “para que _vós_ não sejais...” – os quais seriam os Coríntios: ele disse **“nós”**. Isto indica os santos como um todo em **“um corpo”**. Paulo sabia que Satanás estava procurando dividir as assembleias em seu testemunho universal de o um corpo, e esta delicada questão entre assembleias era onde ele trabalharia. No entanto, Paulo – representando amplamente os santos – indica como temos de agir nessas questões de desligar um julgamento da assembleia. Apesar de que ele (e talvez outros) saber que o homem estava arrependido e deveria ser restaurado à comunhão, mesmo assim não foi adiante da assembleia local em Corinto e agiu independente nesta questão – já que, sendo um apóstolo, ele tinha autoridade para fazê-lo. Em vez disto, esperou que primeiro os Coríntios agissem na questão; e então ele e o resto dos santos de todos os lugares, os seguiriam. Aprendemos por este exemplo que não devemos agir independentemente, mas de comum acordo com a assembleia local que promove a ação.
Vemos um exemplo disto em Atos 15, quando problemas surgem entre os santos em Antioquia por conta de mestres judaizantes de Jerusalém perturbando os santos com sua doutrina, misturando lei e graça. Novamente, aprendemos algumas valiosas lições de como Deus gostaria que lidássemos com problemas entre assembleias. A primeira coisa que encontramos é que eles determinaram levar o problema àqueles em Jerusalém. Ora podemos pensar que a razão porque eles levaram o assunto à Jerusalém foi porque era o centro de Deus para lidar com problemas da assembleia, como se fosse um lugar central na Terra (uma sede) ao qual as assembleias devessem levar seus problemas. Mas a assembleia em Antioquia não foi a Jerusalém porque eles não se sentiram qualificados para lidar com o problema. Se isto fosse um simples caso onde eles quisessem julgamento apostólico na questão, eles poderiam ter apelado aos apóstolos Paulo e Barnabé que estavam lá com eles em Antioquia. Quem a não ser o apóstolo Paulo era mais qualificado para lidar com essas questões a respeito da lei e graça? Enquanto é verdade que eles valorizavam o discernimento dos apóstolos e líderes em Jerusalém e desejavam seu julgamento na questão, havia uma razão mais profunda do porquê eles a levaram para lá; foi **“Procurando guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”** (Ef 4:3 – TB). O fato é que os mestres judaizantes que estavam perturbando os santos em Antioquia tinham vindo de Jerusalém (v. 24). Assim, para não quebrar a unidade prática entre as duas assembleias, os irmãos de Antioquia não lidariam com o problema de forma independente, mas em vez disso, levariam o problema à sua fonte. Isto mostra que a Escritura não sustenta a ideia de assembleias agindo autonomamente.
Isto nos ensina que, se alguns de determinada assembleia local visitam outra assembleia e cometem lá um erro, de modo requeira ação corretiva ou disciplinar, essa assembleia não deve agir de forma independente tomando uma ação restritiva. Eles devem trazem isso à assembleia local de onde o causador do problema veio, para que eles possam lidar com isto. Então **“a unidade do Espírito”** seria mantida no vínculo da paz.
É digno de nota que quando eles foram para Jerusalém com essa questão, e pararam em várias assembleias no caminho, eles não preocuparam aquelas reuniões espalhando o problema entre eles. Apenas falaram de coisas que causariam **“grande alegria”** entre os santos, apesar de eles estarem, sem dúvida, profundamente pesarosos com aquela questão que atacava o núcleo da posição Cristã em graça. Isto nos ensina a importância de não espalhar desnecessariamente os problemas da assembleia local. Nosso adversário, o diabo, poderia se apossar disso e usá-lo para causar problemas entre os santos.
Resumo: Uma assembleia bíblica não é autônoma, mas funciona em comunhão com todas as outras assembleias no verdadeiro terreno da Igreja, porque se encontra no terreno de o “um corpo”. Andando juntos em unidade prática, e assim expressando a verdade de o “um corpo”, o mundo deveria ver várias reuniões de Cristãos no mundo como “a carta de Cristo” (2 Co 3:3). Note que a palavra “carta” está no singular; não são “cartas”, como muitas pessoas citam incorretamente. Isto aponta para a unidade que deve existir no testemunho da Igreja.
Hoje em dia, por conta da irremediável ruína que entrou na Cristandade, não é possível praticar a verdade de o **“um corpo”** com a Igreja toda. A maioria dos membros do corpo de Cristo sequer conhece a ordem de Deus para os Cristãos se reunirem juntos para adoração e ministério no terreno de o um corpo. Eles estão bem felizes em permanecer em seus vários grupos de igreja denominacionais e não denominacionais, na condição dividida da Cristandade. Portanto, é simplesmente impossível praticar a verdade de o um corpo com _toda_ a Igreja hoje.
Quando uma pessoa entende isto pela primeira vez, pode ser devastador. Podemos estar inclinados a levantar nossas mãos em sinal de frustração e desistir. Mas não é necessário nos desesperar. Deus antecipou completamente o estado de ruína que se desenvolveria na Igreja e fez provisão para esses dias de fracasso, para que os crentes que estão exercitados sobre esta verdade sejam capazes de praticá-la. No décimo e último ponto do nosso perfil de assembleia reunida biblicamente aprenderemos que a verdade do um corpo _pode_ hoje em dia ser praticada, embora apenas em um testemunho remanescente.
# Número Dez - Uma Assembleia Bíblica, Em um Dia de Ruína no Testemunho Cristão, Manterá as Características de um Remanescente
Muitos dos escritores do Novo Testamento falam da ruína do testemunho Cristão nos últimos dias. Quando existe tal estado de desordem sem esperança, não podemos ter a expectativa de ver toda a Igreja de Deus praticando a verdade. Mas isto não quer dizer que aqueles que desejam praticá-la não possam fazê-lo; toda a verdade de Deus pode ainda ser praticada em sua totalidade hoje em dia. Deus previu este dia e fez provisão para aqueles que são exercitados no que pode ser chamado de “um testemunho remanescente”.
## O Princípio do Testemunho Remanescente
A ideia de um **“remanescente”** na Escritura surge quando a grande parte do povo de Deus se corrompeu. Um grande princípio no qual Deus age, quando falha o testemunho daquilo que Ele colocou nas mãos dos homens, é que Ele reduz seu tamanho, força, glória, e número, e o conduz, daí por diante, em forma de um remanescente. Após separar um remanescente para Si mesmo, o Senhor deixa a multidão ir pelo seu próprio caminho seguindo seus princípios e práticas corrompidas. Isto não quer dizer que Ele deixe de amar aqueles que estão conectados com várias práticas não bíblicas, mas que Ele não mais Se identifica com eles no sentido coletivo. Se Ele fosse Se identificar com o estado corrompido da multidão, pareceria diante do mundo como se Ele fosse conivente com o estado caído do Seu povo. Em vez disso, Ele recorre ao Seu poder soberano e graça para manter um testemunho remanescente da verdade, e com ele trabalha. Deus agiu sobre o princípio do testemunho remanescente com Israel no passado, quando o povo se entregou à idolatria. Ele fará isto novamente com o remanescente judeu, num dia futuro, quando a multidão da nação receber o anticristo. E Ele está fazendo isto hoje no testemunho Cristão quando a multidão abandonou a verdade.
A palavra **“remanescente”** significa _uma parte que resta do todo_. O remanescente no Cristianismo é realmente todos os crentes verdadeiros no meio da multidão de professantes sem vida, mas por conta da ruína, não podemos esperar que todos eles sejam envolvidos num testemunho remanescente.
### O Remanescente em Israel
No caso de Israel, o grande desejo do Senhor era que todos os filhos de Israel estivessem juntos em um lugar para oferecer seus sacrifícios e adoração. Ele colocou lá **“Seu Nome”** e **“Sua habitação”**, e disse ao Seu povo, **“e ali vireis”** (Dt 12:1-16, 16:16). O lugar, sabemos, era Jerusalém (1 Rs 8:1, 29, 9:3, 11:32, 14:21, 15:4; 2 Rs 21:4, 7; Sl 132:13-14). Este era o grande desejo do Senhor para todos os filhos de Israel a quem Ele havia resgatado do Egito.
À medida que sua história se desenrola na Terra, vemos que os filhos de Israel abandonaram o Senhor e adoraram os deuses das nações pagãs. Isso é verdadeiro tanto para o rei quanto para o povo (1 Rs 11:9-11, 33). Assim, a nação se corrompeu e fracassou em manter um testemunho fiel do único Deus verdadeiro diante do mundo. Como consequência, o Senhor afastou muitos do Seu povo (a massa) de estarem conectados com Seu testemunho em Jerusalém. Ele fez com que dez das tribos de Israel fossem levadas (1 Rs 11:29-36). Quando o rei Roboão tentou recuperá-las, o Senhor interveio por meio de um profeta e disse-lhe que desistisse, porque vinha **“do Senhor”** que as dez tribos fossem levadas (1 Rs 12:15, 24). Foi uma ação governamental de Deus.
Como Israel se entregou à adoração dos deuses dos pagãos, o Senhor não poderia mais associar-Se com eles no poder e glória como fizera durante o reinado de Davi e Salomão. As nações em torno de Israel teriam recebido um falso testemunho de Jeová. Os caminhos do Senhor foram tais que Ele manteria Seu testemunho em Israel dali em diante por um **“resto** (remanescente)**”** (1 Rs 12:23). Ele fez **“uma tribo”** permanecer e ser **“a luz”** diante d’Ele (1 Rs 11:13, 29-36, 12:20).
O povo sob o líder rebelde (Jeroboão) foi levado à divisão. Subir à Jerusalém (o centro de Deus para sacrifício e adoração) teve o efeito de unir as tribos de Israel (1 Rs 12:27). Jeroboão estabeleceu outros lugares de adoração por invenção própria, para que o povo se reunisse após ele em divisão (1 Rs 12:25-33). Assim, ele solidificou a divisão em Israel, que permaneceu por toda a sua história. Isto foi **“um grande pecado”** (2 Rs 17:21), e não será curado até depois da vinda do Senhor – Sua Aparição (Ez 37:15-28; Is 11:13).
Desse tempo em diante, Deus escolheu ter apenas um testemunho remanescente em Israel. Naquele momento **“Lo-Ami”** (que significa “_não Meu povo_”) foi escrito sobre as dez tribos (Os 1:9). Assim, Ele publicamente Se dissociou deles quando partiram de Jerusalém. Ao longo da história das dez tribos encontramos que Deus não Se identificaria publicamente com a posição deles. Em mais de uma ocasião somos relembrados do solene fato de que **“o Senhor não é com Israel** [**as** **dez tribos**]**”** (2 Cr 25:7). Ele não Se identificaria com eles, porque fazendo isto, estaria sendo conivente com a posição deles de separação (2 Cr 13:12; 2 Rs 17:20-21). Enquanto o Senhor não Se identificou publicamente com a posição dividida deles, ainda assim agiu em misericórdia em seu meio com profetas e manifestações do Seu poder em graça. Profetas como Elias procuraram chamá-los para que retornassem ao Senhor em Jerusalém, e alguns retornaram (2 Cr 11:13-17, 30:11). O Senhor ainda os amava e cuidava deles, mas não podia Se identificar publicamente com a posição dividida deles.
### O Remanescente de Judeus na Grande Tribulação
Quando olhamos nas Escrituras proféticas vemos que o Senhor tratará com os judeus exatamente neste mesmo princípio. Na grande tribulação, a multidão da nação firmará um concerto com a besta e aceitará a idolatria que ela e o anticristo vão introduzir. Como resultado, a nação será completamente corrompida (Ap 13:11-18; Mt 12:43-45). Quando a multidão dos judeus estiver submergida na idolatria, o Senhor não Se identificará abertamente com eles na aliança perversa deles (Is 18:4). A razão será a mesma – para não dar uma impressão errada ao mundo. Ele vai separar um remanescente (Is 66:2) e concederá à multidão a idolatria que eles desejam (Sl 106:15). Durante esse tempo, Deus manterá um testemunho remanescente em meio à grande apostasia. **“E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos. Liga o testemunho, sela a lei entre os Meus discípulos”** (Is 8:11-18, 10:21-22, 11:11; Jl 2:32, 3:1-2; Mq 4:7; Sf 3:13). Apesar de parecer que o Senhor desistiu do Seu povo professante, Ele tratará com o remanescente e executará Seus propósitos para com a nação em relação ao reino.
### O Testemunho Remanescente na Profissão Cristã
A palavra **“remanescente”** não é encontrada somente no Velho Testamento, como alguns imaginaram; é encontrada também no Novo Testamento em conexão com o testemunho Cristão (Ap 2:24).
Apocalipse 2 e 3 nos dá um traçado da história profética da Igreja desde seus primeiros dias, logo após os apóstolos, até seus últimos dias. Seguindo as coisas como são retratadas nessas cartas às sete igrejas, vemos uma curva descendente no testemunho Cristão, até que finalmente, o ponto sem volta é atingido, e, dali em diante, o Senhor age sob o princípio do testemunho remanescente.
Em Éfeso, aprendemos que **“o anjo da igreja”** (os líderes responsáveis) julgou corretamente tudo o que era inconsistente com o Senhor. Diz que eles não podiam **“sofrer** [**ou suportar**] **os maus”**. Mas tristemente, o coração deles não estava com o Senhor nisto (Ap 2:2-4).
Em Esmirna, qualquer declive estava temporariamente suspenso pelas grandes perseguições que vieram sobre a Igreja. A severidade da prova trouxe-os de volta ao Senhor.
Em Pérgamo, quando os tempos da grande perseguição terminaram, **“o anjo da igreja”**, começa a tolerar alguns que seguem **“a doutrina de Balaão”**, que é mundanismo e idolatria. O anjo também tolerou os que tinham **“a doutrina dos Nicolaítas”**, que é o clericalismo (Veja: [Ordenação](#calibre_link-18) no capítulo 3). O anjo não foi acusado de seguir essas doutrinas, mas o Senhor encontrou falta neles porque não denunciaram o mal, como fez o anjo em Éfeso.
Em Tiatira, uma condição pior prevaleceu. **“O anjo da igreja”** permitiu que a mesma má doutrina e prática que foi _sustentada_ por alguns em Pérgamo fosse agora _ensinada!_ (compare Ap 2:14 com 2:20). O que começou com alguns sustentando má doutrina terminou com muitos ensinando má doutrina. Isto mostra que se o tolerar o mal não é julgado, isso levará a que ele seja propagado. Em Tiatira, o ensino desse mal se desenvolveu num sistema de coisas chamado de **“Jezabel”**, o que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média, esse sistema iníquo tinha um controle tão tirânico sobre toda a Igreja que, com sua força e organização, controlou o anjo! Aqueles que tinham o lugar de responsabilidade falharam em lidar com isso quando podiam, e agora se tornou num monstro que os controlava! (compare At 27:14-15). O **“euro-aquilão”** – um grande vento Mediterrâneo – arrebatou o navio [a nau], e os marinheiros não podiam fazer nada, senão **“deixando** ela **ir”** (JND). A figura de **“Jezabel”** é apropriadamente usada aqui porque essa mulher não só levou a idolatria para Israel formalmente, mas ela também controlou e manipulou seu marido, o rei Acabe.
Sendo assim o estado público da Igreja, onde não restou poder algum para tratar com o mal, o Senhor separou um remanescente dizendo, **“Mas Eu vos digo a vós, e aos restantes** [**remanescentes**]...**”** (Ap 2:24) e a partir de então deixou a multidão ir. Aqui temos a palavra **“remanescente”** usada em conexão com o testemunho Cristão. A partir desse momento, o Senhor trabalharia com um remanescente que ouviria o que o Espírito diz às igrejas. É significativo que Ele não colocou sobre eles **“a carga** [**encargo**]**”** de pôr em ordem a confusão no testemunho Cristão numa tentativa de trazê-lo de volta ao que foi uma vez. Em vez disso, Ele dirigiu o foco deles em direção à Sua vinda dizendo **“retende-o até que Eu venha”** (Ap 2:25).
Daquele ponto em diante uma mudança marcante é vista nos caminhos do Senhor com a Igreja. Até este ponto, a voz do Espírito era para toda a Igreja. **“O que o Espírito diz às igrejas”** _precedia_ a promessa ao que vencer nas três primeiras igrejas. Nas três primeiras igrejas a recompensa ao que vencer foi definida diante de toda a Igreja, porque o Senhor ainda estava tratando com ela, em sua totalidade, para trazê-la, se possível, de volta ao ponto de partida. Mas deste ponto para frente a ordem é inversa. O chamado para **“ouvir o que o Espírito diz às igrejas”** _segue_ a promessa ao que vencer. Esta é a ordem nas quatro últimas igrejas. Isto quer dizer que o que o Espírito tem a dizer não mais é dado à multidão, porque não se espera que a multidão ouça; somente um remanescente vai ouvir e responder. O que Paulo predisse a Timóteo de que as massas **“não suportariam a sã doutrina”** (TB), aconteceu (2 Tm 4:2-4) e, portanto, o Espírito não mais está falando ao corpo, como um todo, sobre a verdade da Igreja.
Comentando esta mudança, J. N. Darby disse que o corpo, como um todo, é “deixado de lado” deste ponto em diante porque a massa pública na profissão Cristã é tratada como sendo incapaz de ouvir e se arrepender. W. Kelly disse, “O Senhor desde então coloca a promessa (ao que vencer) antes, e isto porque é vão esperar que a Igreja, como um todo, receba isto... apenas um remanescente vence, e a promessa é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado”. Como resultado, todo o pensamento de recuperar a Igreja como um todo é abandonado porque ela atingiu um ponto onde não há recuperação. Tendo isso em mente, o Espírito de Deus não está falando necessariamente a cada pessoa na Cristandade, hoje em dia, a respeito da verdade da reunião. Ele está deixando a maioria seguir seu próprio caminho com suas afiliações eclesiásticas.
Trabalhando com um testemunho remanescente desde aquele tempo, o Senhor restaurou a verdade que se perdeu por meio do descuido da Igreja nos séculos passados. No entanto, Ele não achou oportuno restaurar toda a verdade ao mesmo tempo. O remanescente referido em Apocalipse 2:24-29 são os Valdenses, e outros como eles que se separaram do mal de **“Jezabel”** nos tempos Medievais. Foi dito a eles: **“guarda o que tens”** da pequena verdade que tinham. Algum tempo depois, levando à Reforma, o Senhor permitiu a recuperação de um pouco mais da verdade – como a supremacia da Bíblia e a fé em Cristo apenas para a salvação. Mas aquele movimento do Espírito foi impedido pelos Reformadores que recorreram a certos governos nacionais para ajuda contra as perseguições da Igreja de Roma. Isto foi equivalente a se utilizar da carne e do mundo por ajuda em vez de confiar no Senhor (Jr 17:5; Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação de grandes igrejas nacionais na Cristandade, e a morte do protestantismo começou, como retratada na igreja de Sardes (Ap. 3:1-6).
Não foi até o início dos anos 1800 que o Senhor permitiu uma total recuperação da verdade. Isto aconteceu quando os homens se afastaram de toda organização formal feita pelo homem na Igreja. Isto é retratado na carta do Senhor à igreja de Filadélfia (Ap 3:7-13). Naquele tempo, Deus estabeleceu um testemunho coletivo da verdade de o um corpo. Antes disso, o remanescente havia sido composto por indivíduos que procuraram seguir fielmente em separação da corrupção da Igreja de Roma. Estamos agora em dias onde cada um faz o que parece reto aos seus olhos (Jz 21:25), e a maioria é complacente em seu fraco estado. Isto é retratado na igreja de Laodiceia (Ap 3:14-22).
A questão para vermos aqui é que o testemunho Cristão alcançou um ponto irremediável de ruína, e isto exigiu uma mudança nos caminhos do Senhor para com ele. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar o estado público da Igreja como um todo e está trabalhando agora em um testemunho remanescente. Aqueles reunidos ao nome do Senhor não são exatamente um remanescente. Corretamente falando, todos os verdadeiros crentes, dentre a massa de meros professos na Cristandade, são o remanescente, mas, eclesiasticamente, aqueles reunidos ao nome do Senhor ocupam uma _posição_ de remanescente no testemunho, e estão onde o remanescente (todos os crentes verdadeiros) deveria estar, reunido ao nome do Senhor.
Assim como em Israel, para manter hoje um testemunho remanescente da verdade de o um corpo, o Senhor não precisa de todo Cristão no mundo reunido ao Seu nome, apesar de que isso é o Seu _desejo_ para eles (1 Tm 2:4). Como mencionado, o exato significado da palavra **“remanescente”** implica que nem todos estão lá. Em divina prerrogativa e graça, Deus está tomando um aqui e outro ali, e Ele os está reunindo ao nome do Senhor, para que este testemunho remanescente possa continuar.
### Segunda a Timóteo 2:19-22
A palavra **“remanescente”** não é usada em 2 Timóteo 2:19-22, mas esta passagem contém este princípio. Ela se concentra nos exercícios que precisamos ter para sermos levados a uma posição de remanescente em dias de desordem do testemunho Cristão. Paulo apresentou o caminho a Timóteo e a nós. Ele disse: **“qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas** [**desses** (vasos)**,** em se separando deles – JND]**, será vaso para honra, santificado e idôneo** [**útil** – JND] **para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”** (2 Tm 2:19-22).
Muitas vezes tem sido dito que esta passagem é a carta para o crente em um dia de ruína e fracasso. A condição arruinada da profissão Cristã é comparada a **“uma grande casa”**. A casa é vista em desordem e caracterizada pela mistura de coisas nela – algumas honrosas outras desonrosas. Os vasos de **“ouro e prata”** falam dos verdadeiros crentes, os vasos de **“pau e barro”** dos falsos professantes. Eles são vistos todos juntos misturados. Uma vez que a associação com o mal corrompe (1 Co 15:33; 1 Tm 5:22; Ag 2:10-14; Dt 7:1-4; Js 23:11-13; 1 Rs 11:1-8 etc.), os vasos de ouro e prata são vistos como corrompidos por sua associação com os vasos de pau e barro. A contaminação pode decorrer da associação tanto com as próprias pessoas, quanto com seus princípios e práticas errôneos – quer seja doutrinal, moral ou eclesiástico.
Quando o apóstolo se refere aos vasos **“para honra”** e **“para desonra”**, parece que ele está indicando o _estado_ dos vasos. Enquanto todos os que são meros professantes na casa são certamente vasos para desonra, nem todos os verdadeiros Cristãos podem estar igualmente em honra. Se crentes não estão indo bem com o Senhor podem também ser classificados como vasos para desonra. Mesmo sendo poucos, são os vasos para a honra que são santificados.
O ponto não é ser meramente vaso **“para honra”**, mas ser um **“santificado”** vaso “para honra”. Isto envolve purificar-se da mistura por meio da separação. Estes versículos claramente ensinam que não é possível ser um vaso santificado se permanecemos em comunhão com a corrupção da casa. A simples associação com má doutrina e prática é suficiente para nos contaminar, mesmo que pessoalmente não sustentemos ou pratiquemos o mal. Portanto, o grande exercício para o crente que deseja ser fiel é **“apartar-se”** da injustiça e da iniquidade separando-se da mistura na casa. Assim, ele se torna um vaso **“santificado”** para honra. É a separação que deve ser praticada _na_ casa de Deus. O crente não é chamado a deixar a casa, porque isso significaria abandonar completamente a profissão Cristã, mas se separar da sua desordem. (compare Provérbios 25:24). Nem é chamado a **“purificar”** a casa de tudo que desonra o Senhor, mas sim **“purificar-se”** da mistura na casa.
### “Se Purificar Destes” e “Seguir Com Aqueles”
O exercício é duplo: primeiro _dissociar_, e em seguida _associar_. Isto é indicado nas palavras, **“se purificar destes”** (v. 21 – JND), e **“segue**... **com aqueles”** (v. 22 – TB). Os crentes devem se separar da mistura na casa, e seguir **“com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro”** (TB). Esta ordem é consistente em toda a Escritura (Is 1:16-17; Rm 12:9, 13:12; Sl 34:14; 3 Jo 11). Estudiosos dizem que **“purificar destes”**, está no _genitivo plural_ no grego, e seu significado é abrangente em aplicação podendo incluir pessoas, princípios e coisas – isto é, todo o estado misturado de coisas na casa. Significa dizer que o crente fiel deve se dissociar de tudo o que for contrário à verdade de Deus, de tudo aquilo que nega o que a verdadeira Igreja é sob Cristo, a Cabeça, e daqueles que negam o verdadeiro lugar do Espírito Santo como Guia. Fazendo isto, o crente se torna um **“santificado”** vaso **“para honra”**.
Isto quer dizer que temos que nos separar de alguns crentes verdadeiros que não estão preocupados com sua associação com o erro e com a confusão. Se verdadeiros crentes estão contentes em seguir em comunhão com a confusão, não temos escolha senão nos separarmos deles também. Isto é algo doloroso e um teste real da nossa disposição em agir sob os princípios da Escritura. Uma vez que estamos nos separando de verdadeiros crentes, deveríamos senti-lo profundamente. Não obstante, o chamado do Senhor tem precedência sobre o amor aos irmãos. Na verdade, a prova do nosso amor pelos nossos irmãos será vista na nossa obediência a Deus. **“Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos”** (1 Jo 5:2). Contudo, estejamos atentos contra a atitude de pensar que somos melhores ou mais espirituais do que aqueles de quem nos separamos. O espírito adequado ao nos purificarmos da mistura dos vasos na casa envolve julgamento próprio e não justiça própria.
Quando o crente faz isto, então o Senhor o guiará para comunhão **“com aqueles”**, onde ele poderá praticar toda a verdade de Deus – tal como a verdade de o um corpo na prática – embora isto seja em um remanescente. Observe também que o exercício de dissociação é imposto primeiramente em nós. O caminho para associar-se **“com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”** não será encontrado até que tenhamos agido na luz que temos quando nos separamos daquilo que sabemos, pelas Escrituras, ser inconsistente com a casa. É somente então que o Senhor nos dará mais luz.
Associando-se **“com aqueles”** mostra que a resposta à confusão sem esperança na casa não é o isolamento. Podemos ser tentados a erguer nossas mãos em frustração e nos resignar a seguir apenas como indivíduos, mas a _separação_ não deveria levar ao _isolamento_. O versículo 22 mostra que o Senhor proverá alguns com quem poderemos andar e praticar a verdade. Não será com todos os membros do corpo, mas haverá alguns – um testemunho remanescente. Se uma pessoa estiver verdadeiramente exercitada, cremos que o Senhor a guiará no caminho. Observe também que não diz: “Segue... os que”, o que seria meramente seguir homens. Mas diz: **“Segue**... com **aqueles”**, o que implica que eles também estão seguindo e que temos de nos juntar **“com aqueles”** seguindo o Senhor e os princípios da Sua Palavra.
### Cristãos Biblicamente Reunidos ao Nome do Senhor Não São o Remanescente de Deus no Cristianismo
Nós _não_ devemos supor que os Cristãos reunidos biblicamente ao nome do Senhor são o remanescente de Deus hoje em dia. Corretamente falando, _todos_ os crentes verdadeiros no meio da multidão de meros professos na Cristandade são o remanescente de Deus. Aqueles reunidos biblicamente simplesmente ocupam a _posição_ de remanescente em testemunho, e estão onde todo o remanescente (todos os crentes verdadeiros) deveria estar, reunido ao nome do Senhor. Então, este é o testemunho de reunião conforme a Escritura e deveria conter as marcas de um testemunho remanescente.
## As Características Gerais de um Remanescente
Em condições normais e se o estado for bom, as características daqueles reunidos numa assembleia bíblica, em um dia de ruína, serão as mesmas do remanescente do livro de Esdras. Algumas dessas características são:
### Eles Sentiram e Confessaram o Fracasso Coletivo do Povo de Deus – Daniel 9:3-19; Esdras 9-10:1
Os exercícios do remanescente que voltou à Jerusalém, no livro de Esdras, começaram com a oração e humilhação de Daniel. Deuteronômio 30:1-6 e 1 Reis 8:46-50 afirmam que quando o povo de Deus falhasse e seus inimigos os tivessem levados cativos, e eles orassem em verdadeiro arrependimento, Deus proveria libertação e um retorno à sua terra. Daniel orou essa oração e Deus manteve Sua promessa. Ele soberanamente promoveu um retorno de um remanescente dos judeus (Esdras 1).
Igualmente, aqueles em assembleias reunidas biblicamente reconhecerão sua parte na confusão triste e desonrosa a Deus que existe na profissão Cristã. Eles confessarão que falharam juntamente com todo o povo de Deus e que contribuíram para a ruína e o fracasso comum na Cristandade. Eles não se colocarão acima, como sendo melhores do que outros Cristãos, mas serão marcados por verdadeira humilhação (Is 66.2).
### Eles se Libertaram da Confusão na Babilônia, se Separando Dela – Esdras 2:1-60
Judeus de todas as esferas da vida foram exercitados para retornar a Jerusalém – sacerdotes, levitas, cantores, servos etc. Eles **“saíram”** da Babilônia e se separaram dela. Ninguém os coagiu a fazer isto; foi um exercício pessoal da parte do povo. Provavelmente foi algo emocional e doloroso, porque significava para muitos uma despedida dos seus irmãos que escolheram permanecer na Babilônia.
Igualmente, aqueles que foram reunidos biblicamente ao nome do Senhor terão passado pelos mesmos exercícios, e se separado da confusão da grande casa da profissão Cristã – da qual Babilônia é uma figura (2 Tm 2:19-22). Eles não deixaram a casa da profissão Cristã, mas procuraram retornar aos primeiros princípios na Palavra de Deus de como se reunir.
### Eles Não Alegaram Ter Poderes Que Foram Perdidos Nos Fracassos Anteriores – Esdras 2:61-63
Os judeus que retornaram a Jerusalém sabiam que eram apenas um remanescente do povo de Deus, e, portanto, não tiveram a pretensão de ter os poderes que a nação uma vez teve nos seus primeiros dias. Eles não tinham a nuvem de glória (Shekinah, em hebraico – Êx 13:21-22; 2 Cr 5:13-14; Ez 8:4), nem o **“Urim e Turim”** (Êx 28:30; Ed 2:63). Esses símbolos de poder já haviam desaparecido e isso os lançou em direção ao Senhor por ajuda.
Igualmente, aqueles reunidos ao nome do Senhor não alegam ter milagres e sinais apostólicos, nem poder de ordenação, como a Igreja uma vez teve em seus primeiros dias. Nem fingem ter grandes dons; na melhor das hipóteses eles têm **“pouca força”** (Ap 3:8). Eles reconhecem que estão em um **“dia das coisas pequenas”** (Zc 4:10).
### Eles Espontaneamente Deram Suas Possessões à Causa Para Apoiar o Testemunho Remanescente – Esdras 2:64-70
A realidade da fé do povo no livro de Esdras foi provada pela sua disposição de **“voluntariamente”** dar suas possessões em suporte ao testemunho na forma monetária. Cada um **“deu conforme as suas posses”**.
Igualmente, aqueles em assembleias reunidas biblicamente deveriam dar suas possessões que trarão suporte à causa de Cristo e ao testemunho remanescente com o qual estão identificados (Compare 2 Co 8:11-12).
### Eles Procuraram Agir em Unidade Prática em Todos os Assuntos – Esdras 3
O remanescente em Esdras agiu unido **“como um só homem”** em tudo o que faziam (v. 1), não somente em sua adoração, mas também em seu serviço para o Senhor e sua comunhão prática de um com outro.
- Eles se ajuntaram **“como um só homem”** (v. 1)
- Eles trabalharam **“como um só homem”** (v. 9)
- Eles cantavam **“juntos”** (v. 11)
Igualmente aqueles que estão conectados com o testemunho remanescente hoje deveriam ser marcados pela procura em guardar **“a unidade do Espírito no vínculo da paz”** (Ef 4:3 – ARA). Isto pode ser feito em muita fraqueza, mas é seu objetivo e desejo.
### Eles Seguiram a Palavra de Deus em Tudo o Que Faziam – Esdras 3
O remanescente em Esdras era cuidadoso em seguir a Palavra de Deus em tudo que faziam em adoração e serviço. Muitas vezes diz, **“Como está escrito”** (Ed 3:2, 4).
Da mesma forma, o testemunho remanescente no Cristianismo deveria ser marcado pelo cuidadoso seguir da Palavra de Deus em todas as coisas que tivessem a ver com adoração e serviço. Podemos nem sempre ter um versículo específico para tudo, mas deveríamos ter um princípio bíblico para nos guiar.
### Eles Experimentaram Oposição por Conta do Terreno que Escolheram em Separação da Corrupção na Terra – Esdras 4
O remanescente em Esdras tinha **“adversários”**. Eram pessoas na terra que eram contrárias à posição que os judeus fiéis tomaram em Jerusalém em separação da mistura de princípios religiosos que estavam sendo praticada ao redor deles.
Da mesma forma, aqueles que se reúnem ao nome do Senhor Jesus **“fora do arraial”** vão experimentar **“vitupério** [**reprovação** – JND]**”**; isto provém de ser identificado com tal testemunho (Hb 13:13; Ap 3:9). A objeção mais forte à reunião sob princípios bíblicos para adoração e ministério, normalmente vem daqueles que professam conhecer o Senhor.
### Eles Tinham um Ministério Profético Forte em seu Meio – Esdras 5
Deus levantou profetas no meio do remanescente no tempo de Esdras para fortalecer e encorajar o povo a continuar no trabalho que estavam fazendo para o Senhor. Eles foram muito usados pelo Senhor. **“Ageu”** pregou sobre o estado moral do povo, para que a vida deles fosse encontrada como agradando o Senhor. **“Zacarias”** tornou o coração do povo para o futuro – para a vinda do Senhor quando o reino seria estabelecido em poder e glória.
Igualmente, o Senhor usará homens para ministrar a Palavra de Deus para fortalecer e edificar aqueles naquela posição de remanescente no Cristianismo hoje em dia. Estes podem ser irmãos locais (1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17), ou aqueles que os visitam, de outras assembleias (At 14:21-22; 1 Co 16:10-12).
### Eles Não Pretendiam Ser Todo o Povo de Deus, Mas Admitiram que Eram Meramente um Remanescente – Esdras 6:16-22
O remanescente em Esdras seguiu em frente humildemente em sua adoração e serviço. Eles não pretendiam ser todo o Israel, mas ofereceram uma oferta pelo pecado pelas doze tribos de Israel. Fazendo isto, eles confessaram sua parte no fracasso da nação. É significante, entretanto, que eles comeram a Páscoa _apenas_ com aqueles que se separaram da contaminação na Terra.
Igualmente, os reunidos ao nome do Senhor hoje não pretendem ser a Igreja de Deus em sua totalidade, nem pensam que são o remanescente de Deus hoje. Eles reconhecem que são poucos, e voluntariamente confessam sua parte no fracasso público da Igreja. Entretanto, apenas comem a ceia do Senhor (o antítipo da Páscoa) com aqueles que se separaram da contaminação – moral, espiritual e eclesiástica.
Estas são algumas características proeminentes que marcam a assembleia reunida biblicamente. No entanto, será assim apenas quando o estado do povo for bom e estiverem andando com o Senhor. É possível estar numa posição correta (eclesiasticamente), mas numa condição errada (espiritualmente). O livro de Malaquias ilustra isto. Os judeus daqueles dias retornaram ao centro de Deus (Jerusalém), mas estavam claramente em um estado inadequado de alma. Portanto, assumindo que as assembleias reunidas ao nome do Senhor estão em um estado razoavelmente bom, essas características vistas no remanescente em Esdras serão vistas nelas também.
PARTE II - A OBRA DO ESPÍRITO EM REUNIR CRISTÃOS PARA ADORAÇÃO E MINISTÉRIO
Como mencionado no início do livro, o assunto da procura por uma assembleia baseada na Bíblia tem duas partes. Primeiramente precisamos ver o modelo de uma assembleia local na Palavra de Deus, assim saberemos o que estamos procurando. Procuramos fazer isto na Parte Um. Mas há o outro lado – a obra do Espírito reunindo Cristãos ao lugar onde a verdade da assembleia é praticada e o Senhor está no meio. Na Parte Dois consideraremos este lado do assunto.
A coisa boa que podemos dizer ao que sinceramente procura é que, apesar de toda a confusão no testemunho Cristão, Deus está ao seu lado. Ele tem um divino Reunidor que levará pessoas exercitadas através da emaranhada confusão na Cristandade ao lugar onde o Senhor está no meio. João 16:13 diz: “Mas, quando vier aqu’Ele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade”. Ao dizer “toda a verdade” o Senhor estava incluindo a verdade da Igreja (eclesiologia7). Então, esta é uma promessa que pode ser hoje reivindicada por toda pessoa que deseja ser guiada nesta questão.
É importante entender esse lado da obra de Deus em reunir Cristãos. Mencionamos isto porque um grupo de Cristãos poderia resolver seguir cada um desses dez pontos dados como modelo de assembleia bíblica, na Parte Um, e isso poderia ser uma mera imitação. O Espírito de Deus deve ser o Autor de tal obra.
Número Onze - Deus Tem um Centro de Reunião na Terra Para os Cristãos
Olhando as coisas por esse lado, um grande ponto a ser percebido é que Deus tem um centro de reunião na Terra no Cristianismo. As Escrituras indicam que Ele tem um lugar – um terreno eclesiástico – onde Ele teria os Cristãos reunidos para adoração e ministério. Este centro de reunião é Cristo mesmo.
A Promessa de um Lugar de Reunião no Cristianismo
Mateus 18:20, ao qual já nos referimos diversas vezes, indica isto. Diz, “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em [colocados juntos ao – JND] Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. “Onde” neste versículo indica que há um lugar de reunião de divina indicação onde Deus está reunindo Cristãos ao nome do Senhor. Como mencionado, esse lugar de reunião no Cristianismo não é um centro geográfico literal, mas um terreno espiritual envolvendo princípios bíblicos que têm a ver com a forma como os Cristãos se reúnem para adoração e ministério. Aqueles nesse terreno não estão reunidos aos princípios, mas ao nome de uma Pessoa – o Senhor Jesus Cristo – que está no meio deles.
Este centro de reunião é um lugar da escolha do Senhor, onde colocou Seu nome e onde Ele reúne crentes. Nota: este versículo não diz “onde quer” – como alguns Cristãos leriam (como na versão Phillips Modern English). “Onde quer” faz dele um lugar de nossa escolha, mas “onde” – que é o que a Escritura diz – faz dele um lugar de Sua escolha. É por isso que frequentemente é chamado de “o lugar de Sua escolha”. Muitos pensam que Mateus 18:20 está dizendo simplesmente que sempre e onde quer que Cristãos se reúnam – seja em uma cafeteria local, ou para algum propósito recreativo etc. – eles têm a presença coletiva do Senhor com eles. Ora, é verdade que, quando os Cristãos se reúnem para qualquer propósito que tenham em mente, a presença do Senhor está com eles como indivíduos, porque Ele disse, “e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28:20). E “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Mas não é disso que Mateus 18:20 está falando. Há diferença na Escritura entre a presença do Senhor com Seu povo como indivíduos, e a presença do Senhor com uma companhia de crentes coletivamente, reunidos em assembleia para adoração, ministério e para executar ações administrativas de ligar e desligar. Esta última (ligar e desligar) é a que Mateus 18 está se referindo.
Contexto é tudo na interpretação da Bíblia. Se olharmos em Mateus 18, veremos nos versículos que levam ao versículo 20 que o Senhor estava falando “da assembleia” (JND) em sua capacidade administrativa de ligar e desligar. O capítulo tem a ver com a autoridade que a assembleia local tem para tais ações, porque o próprio Senhor está no meio. O Senhor está no meio sancionando o terreno sobre o qual eles se encontram como reunidos ao Seu nome, e, consequentemente, sancionando também suas ações administrativas. Tendo dito isto, nos apressamos em dizer que a presença do Senhor no meio daqueles a quem Ele reuniu não sanciona seu estado – porque esse pode ser baixo – mas sim o terreno sobre o qual se reúnem. Esta é uma nota importante.
O Cenáculo
Lucas 22:7-10 estabelece este mesmo ponto; havia um lugar “onde” o Senhor queria que os Seus se encontrassem com Ele – no “cenáculo”. Ele estava prestes a instituir a ceia do Senhor – o partimento do pão (Lc 22:19-20; 1 Co 10:16-17, 11:23-26) – e Ele desejava que Seus discípulos o fizessem no lugar de Sua escolha. Havia muitos locais em Jerusalém naquela noite em que se guardavam a festa, mas havia apenas um único lugar onde o Senhor estava presente – o lugar que Ele escolheu para Seus discípulos O encontrarem. Igualmente, a Cristandade está em desordem, e como resultado, há muitos lugares onde Cristãos se encontram hoje em dia, mas o Senhor não está em todos os lugares, neste sentido coletivo, para sancionar o terreno no qual eles se encontram. Se Ele estivesse, estaria sancionando o estado dividido do testemunho público da Igreja. Será dito mais sobre isto à medida que avançamos.
Filadélfia
As cartas do Senhor às sete igrejas na Ásia confirmam o mesmo ponto (Ap 2 e 3). Se voltarmos às observações do Senhor àquelas igrejas, poderemos ver que há um terreno eclesiástico – um testemunho coletivo na Terra – o qual Ele aprova. Não podemos senão pensar que é aí onde o Senhor queria que estivéssemos, e aonde o Espírito de Deus conduziria crentes exercitados.
Como mencionado antes, essas cartas apresentam a história profética da Igreja. Cada assembleia, consecutivamente considerada, representa estágios através dos quais toda a Igreja passaria na história. É significativo que a vinda do Senhor é mencionada em cada uma das quatro últimas igrejas, mas não é encontrada nas três primeiras. Isso indica que o que existiu historicamente nos três primeiros períodos saiu de cena, mas o que é apresentado nas quatro últimas igrejas continua até que o Senhor venha. As quatro últimas igrejas são: Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia. Elas apresentam quatro condições existentes hoje no testemunho público da Igreja.
A assembleia de “Tiatira” representa o poderoso sistema que se levantou na Igreja por volta de 580 d.C. conhecido como catolicismo (Ap 2:18-29). Ele retrata o período em que esse sistema eclesiástico governou a Igreja e o mundo (na Europa). A palavra Tiatira significa “sacrifício contínuo” e se refere à missa católica. “Jezabel” representa o ensino perverso do catolicismo. Ela chamava a si mesma de “uma profetisa” e assumiu um papel na Igreja que Deus nunca deu a ela. Ela começou a “ensinar e seduzir” seus súditos com suas doutrinas e práticas malignas. O sistema católico criou seus dogmas e os forçou na profissão Cristã e no mundo.
Uma vez que a vinda do Senhor é mencionada em Suas observações à Tiatira (Ap 2:25), entendemos que aquilo que esta igreja representa continuará até que Ele venha – o Arrebatamento. Na verdade, continuará depois do Arrebatamento até a metade do período de sete anos de tribulação – sob a figura do Mistério, a grande Babilônia (Ap 17). Este grande sistema eclesiástico é facilmente identificado no mundo hoje.
A assembleia em “Sardes” representa o protestantismo, que começou em 1529 d.C. (Ap 3:1-6). A palavra “Sardes” quer dizer “aqueles que escapam” e representa o que aconteceu naquela época. Assim como Jeú no passado foi usado para quebrar a influência que Jezabel tinha sobre o reino de Israel (2 Rs 9-10), Deus levantou os reformadores e os usou para quebrar o poder do catolicismo. Isso permitiu que muitos santos escapassem de suas garras. As duas coisas principais que os reformadores insistiram foram a supremacia da Bíblia sobre a Igreja e a salvação apenas por fé.
É significativo que o Senhor disse a esta assembleia, “não achei as tuas obras perfeitas [completas – TB]”. O que começou no poder do Espírito tornou-se algo frio, formal, numa ortodoxia8 morta. Os reformadores se voltaram ao Estado por proteção contra a perseguição da igreja de Roma e estabeleceram as grandes igrejas nacionais no protestantismo que existem até hoje. A assembleia em Sardes representa a condição das coisas na Cristandade depois que o impulso da Reforma passou. Descreve no que os reformadores caíram – protestantismo. É triste dizer, os reformadores saíram do catolicismo, mas, infelizmente, o catolicismo não saiu inteiramente deles. Assim, as igrejas protestantes têm muito dos princípios e práticas católicas.
Novamente, a vinda do Senhor é mencionada em Sardes. É na verdade a Sua Aparição, que ocorre depois da grande tribulação (Ap 3:3). Isto quer dizer que o protestantismo continuará até o Arrebatamento, e além dele. A religião do Cristianismo, no que se refere às práticas exteriores da Igreja, será destruída no meio da semana profética, mas os professantes sem vida conectados a ela permanecerão para serem julgados na Aparição de Cristo. Como em Tiatira, o que Sardes representa no mundo Cristão é também facilmente identificável hoje nas grandes igrejas nacionais protestantes e igrejas dissidentes que surgiram a partir delas.
A assembleia em “Filadélfia” representa o movimento na Igreja que começou em 1827 d.C. (Ap 3:7-13). “Filadélfia” quer dizer “amor fraternal” e significa o estado feliz de um testemunho remanescente de crentes que foram exercitados a retornar aos primeiros princípios em relação à ordem e prática da assembleia.
Em cada uma das igrejas anteriores, o Senhor Se descreveu de acordo com uma das características as quais João viu no capítulo 1. Mas ao dirigir-Se a essa igreja Ele Se apresenta de modo inteiramente novo; isto significa um novo início. Até agora, havia um remanescente de crentes fiéis que caminhavam sozinhos como indivíduos (Ap 2:24-25, 3:4), mas nesse momento, o Senhor trouxe à existência um testemunho remanescente em sentido coletivo.
O Senhor Se apresenta a esta igreja de três maneiras. Ao apreendê-Lo nesses carácteres, três grandes coisas resultaram naquele momento. Em primeiro lugar, o Senhor disse, “o que é Santo, o que é Verdadeiro”. Cristãos exercitados viram o Senhor em Seu verdadeiro caráter e entenderam que para ter comunhão com Ele, santidade e verdade eram exigidas deles. Isto os levou por vários exercícios em relação à separação do mal, e resultou em quebrar todos os jugos desiguais – seculares e eclesiásticos (2 Tm 2:19-22).
Em segundo lugar, o Senhor Se apresenta como tendo “a chave de Davi”. Esta é uma referência às profecias do Velho Testamento concernentes ao Messias de Israel (Is 22:22). São profecias conectadas com as promessas feitas a Davi em relação a Cristo, que sairia de sua descendência para reinar em Seu reino. Naquele tempo, o Senhor abriu aos santos o entendimento de assuntos proféticos. Daí resultou um despertar geral e interesse pela profecia na profissão Cristã. Ao aprender assuntos proféticos, eles descobriram que a Igreja não tinha parte nas bênçãos terrenais futuras de Israel, mas tinha suas próprias bênçãos distintas e celestiais. A eles foi dado conhecer a verdadeira natureza e o chamado da Igreja, bem como seus arranjos práticos para a adoração e ministério enquanto estivessem na Terra. A completa revelação da verdade Cristã que uma vez foi dada aos santos (Jd 3) foi recuperada naquele tempo – incluindo a verdade da vinda do Senhor (o Arrebatamento).
Em terceiro lugar, o Senhor Se apresenta a esta igreja como “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre”. Isto aponta para o fato de que o que aconteceu naquele tempo foi um movimento da soberania de Deus que nenhum homem ou o diabo poderia parar. Apreender isto deu a todos aqueles ligados a este testemunho a coragem de se reunirem para a adoração e ministério de acordo com a simplicidade das Escrituras, e não havia nenhum homem que pudesse impedi-lo (compare Atos 28:31).
É significativo que esta igreja é marcada por ter “pouca força”. Eles tinham o mesmo poder espiritual que a Igreja primitiva tinha (At 4:33), mas era em “pouca” porção. Então, este despertar não foi um movimento de larga escala no mundo. Não tinha um grande status no mundo, tal como tinha a igreja católica e as igrejas do protestantismo. O guardar a Sua “Palavra” também marca esta igreja. Historicamente, aqueles conectados a este movimento eram conhecidos por serem estudantes das Escrituras (At 17:11). Esta igreja é também conhecida por não negar Seu “nome”. Eles abandonaram todos os nomes denominacionais e títulos e estavam felizes de se reunirem simples e somente ao Seu nome (Mt 18:20).
Eles são recomendados por guardarem a Palavra da Sua “paciência”, a qual é um aspecto da verdade que tem a ver com a esperança da vinda do Senhor (v. 10). Guardando-a (não apenas a conhecendo) os fez estrangeiros celestiais neste mundo. Então, como peregrinos, não se envolvem em assuntos políticos do mundo. O Senhor prometeu a esta igreja que Ele viria “sem demora” (v. 11). Isto se refere à iminência da Sua vinda, a qual estava particularmente diante deles.
O Senhor avisou aos filadelfienses do perigo de não guardarem o que lhes foi dado e consequentemente perderem a “coroa” (v. 11). Um perigo sempre presente ao filadelfiense é renunciar a verdade que Deus lhe deu. Ora, isto foi exatamente o que aconteceu com alguns que estavam conectados a este movimento. Eles abriram mão de porções e partes da verdade recuperada neste período e foram afastados e dispersos em divisões entre irmãos e nas igrejas denominacionais.
É significativo que Filadélfia é a única das quatro igrejas que vai até o final e que o Senhor não encontra nada para julgar. Diferentemente das outras igrejas, não há uma palavra de condenação dada a eles. Eles não são chamados a se “arrependerem”, como foi o caso com as outras igrejas, porque já estavam em um estado de arrependimento. Eles sentiram o estado partido e arruinado da Igreja como um todo e confessaram sua parte em seu fracasso público (compare Daniel 9; Esdras 9; Neemias 9). Está claro, portanto, que esse é um testemunho coletivo que o Senhor aprova. É óbvio que esta é a posição eclesiástica onde o Senhor quer que estejamos.
Uma vez que o Senhor menciona Sua vinda para aqueles em Filadélfia, sabemos que o que esta igreja representa continua até o Arrebatamento. Podemos nos regozijar que exista alguma posição eclesiástica na Cristandade hoje em dia que encontra aprovação do Senhor. No entanto, já que este testemunho carrega um caráter de remanescente, não é fácil identificá-lo na Cristandade, como são Tiatira e Sardes. Isso pode exigir algum exercício e alguma busca para encontrá-lo.
A assembleia em “Laodiceia” representa a condição da Igreja que brotou a partir do que teve lugar em Filadélfia (Ap 3:14-22). Isto se iniciou no final da segunda metade do século 19. O que é descrito em Laodiceia corresponde ao testemunho da Igreja em seus últimos dias. “Laodiceia” significa “os direitos do povo” e indica as ideias democráticas modernas que influenciaram a Igreja nestes últimos dias. A formação de igrejas independentes, que escolhem seus anciãos e nomeiam seus pastores, caracteriza esse último período. O resultado é que muitas igrejas ditas “evangélicas” surgiram na Cristandade.
Laodiceia descreve uma parte no testemunho Cristão que é caracterizado pela grandeza autossuficiente que se imagina dotada de riquezas espirituais e poder, mas na realidade é “um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. Em vez de o Senhor avaliar o estado da assembleia em Laodiceia, como fez nas igrejas anteriores, os laodicenses O colocaram para fora da sua porta e assumiram Seu lugar e avaliaram sua própria condição como sendo ricos e bons! Isto é realmente inacreditável. O estado daqueles em Laodiceia era “morno” e tão repugnante ao Senhor que Ele anunciou que estava prestes a “vomitá-los” de Sua boca. Isto ocorrerá em Sua vinda – o Arrebatamento.
Laodiceianismo é ter a luz e verdade de Filadélfia, mas sem o seu poder no nosso caminhar. É a retenção da verdade recuperada nos tempos de Filadélfia (ou de suas partes) nominal ou intelectualmente, mas sem ter qualquer influência moral sobre a vida da pessoa. Por exemplo, a maioria dos Cristãos evangélicos acredita na verdade da vinda do Senhor (o Arrebatamento) a qualquer momento, mas com muitos, isto tem pouco ou nenhum efeito prático na vida pessoal deles. Como resultado, em vez de fazer a Igreja mais peregrina em caráter, ela se tornou mais mundana do que nunca.
Esta igreja é marcada por uma indiferença grosseira aos apelos de Cristo. É o retrato de uma igreja sem Cristo, que colocou o Senhor da glória fora de sua porta. É difícil de acreditar que eles tiveram a audácia de excomungar a Cabeça da Igreja – pelo menos na prática! Tal é a lamentável condição que marca a Cristandade moderna nestes últimos dias. Esta é a figura solene com a qual se encerra o capítulo 3, e com isso, a história da Igreja na Terra.
Olhando atentamente o que essas quatro igrejas representam, vemos que há apenas _um_ testemunho coletivo dentre os quatro que o Senhor aprova. Se Ele tivesse que escolher colocar Seu nome em algum lugar na Terra, e lá estivesse reunindo Cristãos (Mt 18:20), teria que ser Filadélfia. Não podemos pensar que o Espírito de Deus conduziria pessoas a qualquer lugar senão àquele que tem a aprovação do Senhor. O exercício pessoal de cada Cristão deveria ser o de estar identificado com o que Filadélfia representa, embora possa ser mantido em muita fraqueza.
As últimas duas igrejas descrevem partes eclesiásticas na Cristandade, mas também descrevem dois estados espirituais na Igreja. É possível, portanto, estar conectado à _posição_ eclesiástica de Filadélfia, mas estar no _estado_ de Laodiceia. O livro de Malaquias ilustra este ponto. O povo naquela época estava na _posição correta_ (em Jerusalém), mas em _uma condição errada_ (espiritualmente). Portanto, no momento em que pensamos que somos Filadélfia, provamos que somos Laodiceia. Verdadeiros Filadelfienses não estão ocupados consigo mesmo e seu testemunho; eles estão ocupados com o Senhor e tentando agradá-Lo.
## **O** Único **Centro de Reunião no Velho Testamento é uma Figura do** Único **Centro de Reunião no Cristianismo**
A verdade de Deus de ter um único centro divino de reunião pode ser esquadrinhada no Velho Testamento. Não podemos pensar que o centro divino de reunião no Velho Testamento não tenha equivalência no Novo Testamento. De fato, Seu centro no Velho Testamento é, na verdade, uma figura do Seu centro de reunião no Cristianismo.
### Abraão em uma das Montanhas de Moriá
A verdade de um centro divino de reunião é vista pela primeira vez em Gênesis 22. Deus tinha um **“lugar”** específico onde Ele queria que Abraão oferecesse seu filho Isaque em holocausto. É significativo que não era em qualquer lugar em Moriá, mas em **“**uma **das montanhas”** para a qual Deus o dirigiria (v. 2). Ele não disse a Abraão, “vá a uma montanha de sua escolha...”. Não era uma questão de Abraão escolher o lugar, mas de Deus o escolher. Foi o mesmo lugar que o Senhor escolheu para que Seu povo se reunisse para adoração na terra de Canaã, muitos anos depois (Dt 12:5-7; 2 Cr 6:6; Sl 132:13). Jerusalém foi construída lá, e o templo foi erigido nesse local (2 Cr 3:1, 5:13-14). Era o próprio lugar onde o Filho de Deus Se tornaria a oferta pelo pecado e consumaria a redenção por meio de Sua obra na cruz (Lc 9:31; Mt 20:18-19). Parece que Deus tinha Seus olhos naquele lugar desde o momento que lançou os fundamentos da Terra. O lugar que Deus escolheu (Jerusalém) é o tipo do Seu lugar de reunião no Cristianismo.
O fato de que Deus disse a Abraão, **“que Eu te direi**...**”**, indica que haveria a necessidade de condução divina para encontrar **“o lugar”**. Observe também que havia a necessidade de _ver_ o lugar de longe (v. 4), o que implica apreender a verdade de um único centro de reunião. E então havia a necessidade de _ir para_ lá (v. 9); isto implica os exercícios do coração em relação a ser levado ao lugar. Abraão tinha os olhos para ver o lugar e a força para procurar e encontrá-lo. Deus deseja que tenhamos os dois. Isto significa que ser levado ao lugar designado por Deus não é mero exercício intelectual.
Indo para esse lugar para **“adorar”**, Abraão deixou o **“moço”** para trás com o **“jumento”**. Isto nos diz que a energia da natureza (o moço) deve ser colocada no lugar da carne (os jumentos). Essas coisas precisam estar fora do caminho quando buscamos ser guiados pelo Senhor. Preferências pessoais e gostos e aversões naturais não têm nada a ver com isto. Isto também nos diz que indo **“ao lugar”**, podemos ter que deixar amigos e conhecidos para trás, os quais não veem o que vemos no lugar.
Quantas montanhas havia lá na **“terra de Moriá”**? Não sabemos, mas sabemos que Deus tinha **“uma”** e apenas _uma_ em mente para qual Abraão deveria ir. Havia apenas _uma_ montanha que tinha **“um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas, num mato”** – uma figura de Cristo (v. 13). Se Abraão tivesse ido a qualquer outra montanha em Moriá, ele não teria visto essa visão maravilhosa. Quando Abraão chegou lá, **“levantou Abraão os seus olhos”** e viu o carneiro (v. 13). Se ele não tivesse feito isto, teria perdido esta cena, mesmo estando no lugar. Isto nos diz que é possível estar onde o Senhor está no meio, mas perder o Objeto ao qual o Espírito de Deus focaria a atenção de nosso coração – Cristo no meio.
### O Centro de Reunião é uma Pessoa
A próxima referência de Deus tendo um centro de reunião na Escritura é encontrada em Gênesis 49:10. **“O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos”**. **“Siló”** é uma referência a Cristo. Significa “_pacificador_” ou “_homem de paz_” e refere-se a Ele que é o **“Príncipe da Paz”** (Is 9:6).
Esta profecia indica que **“Judá”** (os judeus) manteria seu lugar na terra **“até”** que Cristo viesse, e após isso o **“cetro”** se afastaria deles. Isto aconteceu quando Tito e os Romanos conquistaram a terra e espalharam os judeus (70 d.C.). A profecia vai adiante e diz que após isso **“Siló”** se tornaria o Centro de reunião de todas as nações. Isto vai acontecer no Milênio (Zc 2:11; Sl 47:9). A palavra **“povos”** (plural), que se refere às nações gentias sendo reunidas a Ele.
O grande ponto a ser entendido nesta profecia é que o centro de reunião de Deus não é apenas um lugar geográfico na Terra; é também uma Pessoa – o próprio Senhor. Assim, nestas duas primeiras referências ao centro de reunião de Deus nas Escrituras, aprendemos que Ele tem um _LUGAR_ que escolheu para reunir Seu povo para adoração (Gn 22), e há uma _PESSOA_ divina que está lá, no meio – o Senhor (Gn 49).
### O Único Lugar Anunciado em Deuteronômio 12
Quando os filhos de Israel entraram na terra de Canaã para habitarem lá, o Senhor disse a eles que Ele tinha escolhido um lugar para trazerem suas ofertas e adoração. Ele apontou o lugar para Davi fazendo descer fogo do céu naquele local (1 Cr 21:22; 22:1). O lugar era Jerusalém (2 Cr 3:1, 6:6).
É significativo que as características que marcaram o lugar designado por Deus, no Velho Testamento, são as mesmas, em princípio, do lugar de escolha do Senhor no Cristianismo. Algumas dessas correspondentes características são:
- Jerusalém era o lugar que o Senhor tinha **“escolhido”** para Israel se reunir – não foi o povo que o escolheu (Dt 12:5; 2 Cr 6:6). Igualmente, o terreno que o Senhor escolheu no Cristianismo para Cristãos se reunirem não é em qualquer lugar que escolham se reunir, mas **“onde”** Ele escolheu (Mt 18:20; Lc 22:7-10).
- Jerusalém era o lugar onde o Senhor colocou Seu nome (Dt 12:5, 11). Igualmente, o Senhor colocou Seu nome como o centro de reunião hoje – **“onde estiverem dois ou três reunidos em** [**colocados juntos ao** – JND] **Meu nome”** (Mt 18:20).
- Jerusalém era o lugar onde a presença do Senhor seria conhecida – era **“Sua habitação”** (Dt 12:5). Igualmente, a presença do Senhor sanciona o terreno sobre o qual Cristãos são reunidos pelo Espírito, e Ele está ali, **“no meio”**.
- Jerusalém era o lugar onde os Israelitas deveriam oferecer seus sacrifícios a Deus, e não em qualquer outro lugar (Dt 12:6, 11-14; Lv 17:1-9). Igualmente, Cristãos devem se reunir para partir o pão e adoração apenas no lugar da escolha do Senhor.
- Jerusalém era o lugar onde os Israelitas deveriam ter feliz comunhão com seus irmãos (Dt 12:7, 12, 18; 14:26). Igualmente, o centro de reunião hoje é um lugar não apenas para adoração e ministério, mas também comunhão (At 2:42).
- Jerusalém era o lugar onde Israel realizava suas festas anuais (Dt 16:2, 6, 11, 15, 16). Igualmente, todas as reuniões da assembleia devem ser realizadas no mesmo terreno de reunião.
- Jerusalém era o lugar onde decisões administrativas de ligar e desligar eram tomadas (Dt 17:8-13). Igualmente, aqueles no centro de reunião no Cristianismo têm autoridade para agir em nome do Senhor ao tomarem decisões de ligar e desligar.
- Jerusalém era o lugar onde os Israelitas levavam seus dízimos. Esses eram presentes ao Senhor (Dt 26). Igualmente, as **“coletas”** dos santos são para ser feitas no primeiro dia da semana e incluída na adoração oferecida ao Senhor (1 Co 16:1-2; Hb 13:15-16).
- Jerusalém era o lugar onde Israel tinha que se reunir para ouvir e aprender a verdade da Palavra de Deus (Dt 31:11-13). Igualmente, o Senhor queria ter os crentes para estarem juntos para aprenderem **“a doutrina dos apóstolos”** no lugar de Sua escolha (At 2:42).
- Jerusalém era o lugar onde oração era feita (1 Rs 8:28-29). Igualmente, no Cristianismo temos reunião de oração no lugar de Sua escolha (At. 2:42; 4:23-31).
É significativo que essas características que marcaram o lugar designado por Deus no Velho Testamento são as mesmas, em princípio, que marcam o lugar designado pelo Senhor no Cristianismo (Mt 18:20). Também é notável que em todas as muitas referências em Deuteronômio a este **“lugar”**, não há menção de _onde_ era. À medida que a história de Israel se desenrola nas páginas da Palavra de Deus, aprendemos que era em Jerusalém (Sl 132:13; 1 Rs 11:13, 32, 36, 14:21, 15:4; 2 Cr 6:6 etc.). O lugar não é mencionado em Deuteronômio porque o Senhor queria que o Seu povo se exercitasse em buscá-lo _quando_ entrassem na terra (**“buscareis”** – Dt 12:5). Isso sugere que transitar pela verdade antes de estarmos preparados para nela caminharmos, tende a tornar-se apenas um exercício intelectual, e o Senhor não quer isso.
### Siló e Jerusalém
Quando os filhos de Israel entraram na terra de Canaã, Deus permitiu que eles fizessem da cidade de **“Siló”** o seu centro (Js 18:1). Este foi um lugar escolhido pelo povo; a Escritura não diz que o Senhor escolheu Siló (1 Rs 8:16). A referência em Gênesis 49:10 pode tê-los feito pensar que o centro deveria ser na cidade de Siló. No entanto, Jacó estava falando de uma Pessoa – não uma localidade na Terra.
O Senhor suportou e permitiu que tivessem Siló (a cidade) como seu centro. Isto foi dado provisoriamente a eles para mostrar o estado do povo – similarmente ao Senhor permitindo o povo escolher o rei Saul. Israel precisava aprender algumas lições a respeito dessas coisas e de si mesmos, e Deus usou Siló para fazer isso. Quando o centro deles estava naquele lugar, tudo deu errado, e eles falharam de todas as formas. Consequentemente Deus permitiu que a arca fosse levada pelos seus inimigos (1 Sm 4:10-11). O Senhor abandonou Siló, que estava na **“tribo de Efraim”** (Jr 7:12; Sl 78:60, 67), e então, quando Davi entrou em cena, Ele escolheu **“a tribo de Judá”** e o **“monte Sião”** (Sl 78:68-69).
Isto aconteceu como resultado de certos exercícios pelos quais Davi passou a respeito do lugar de escolha do Senhor (Sl 132). Deus indicou isso para ele, fazendo descer **“fogo”** do céu no ponto exato em que ele ofereceu o holocausto. Isto era um sinal de que o Senhor aceitou sua oferta, e por isso ele discerniu que este era o lugar onde a casa de Deus deveria ser construída (1 Cr 21:26-27; 22:1). Quando Davi trouxe a arca àquele lugar e seu filho (Salomão) construiu lá o templo, Deus novamente identificou aquele ponto como sendo o lugar de Sua escolha fazendo descer **“fogo”** do céu pela segunda vez (2 Cr 7:1), e a nuvem de glória Shekinah, que significava que a presença do Senhor, pousou ali (2 Cr 5:13-14). Era a autorização do Senhor sobre o lugar o qual Ele tinha escolhido para reunir Seu povo para sacrifícios e adoração.
### A Revolta Contra o Único Centro em Jerusalém
Não muito tempo após Deus estabelecer Jerusalém como o lugar de Sua escolha, houve um ataque à verdade de _um_ centro de reunião em Israel. Como mencionado antes, o inimigo veio e levou dez das doze tribos para longe do centro sob a revolta de Jeroboão (1 Rs 11 e 12). Havia faltas em ambos os lados, mas não justificavam a divisão. Isto nos mostra que o inimigo tinha uma particular aversão a esta verdade, e isto não é diferente hoje.
Para solidificar a divisão, Jeroboão estabeleceu dois centros falsos: um perto de Jerusalém (em Betel) e outro longe de Jerusalém (em Dã). Ele ordenou uma festa nesses falsos centros **“como”** aquela que acontecia em Jerusalém para dar-lhe uma aparência de verdadeira ordem de Deus (1 Rs 12:33). Isto foi feito para tranquilizar a consciência daqueles que adoravam nesses novos centros. Mas foi algo que **“ele tinha imaginado no seu coração”** (1 Rs 12:33).
O povo podia comer a Páscoa em Betel ou em Dã, e chamar isso de Páscoa, e isso deve ter se parecido com a Páscoa em Jerusalém. Aqueles que a celebravam naqueles falsos centros podem ter sinceramente crido que era a Páscoa. Eles podem até ter zombado da verdade de haver um centro em Israel, ao dizer que aqueles em Jerusalém eram orgulhosos e arrogantes, e estavam fazendo altas reivindicações. Mas a verdade da questão é que permanecia apenas _um_ centro em Israel que o Senhor o reconhecia com a Sua presença – Jerusalém.
### O Tempo de Ezequias
Mesmo bem depois na história de Israel, nos dias de Ezequias, quando havia muitas falhas da parte do povo, Deus ainda reconhecia Jerusalém como Seu _único_ centro de reunião. As coisas não haviam mudado mesmo sendo muitos anos mais tarde. Isto mostra que o passar do tempo não altera os princípios de Deus para a reunião.
Quando Ezequias e aqueles que com ele estavam em Jerusalém celebraram a Páscoa, mandaram mensageiros pelas tribos de Israel, lembrando-os de que Deus queria que celebrassem a festa em Jerusalém, mas a maioria deles rejeitou celebrá-la (2 Cr 30). Mas isto não mudou a verdade de _um_ centro. No entanto, alguns de poucas tribos **“se humilharam, e vieram a Jerusalém”** (v. 11). Isto mostra que o ponto de abandono é o ponto de restauração e que humilhar-se a si mesmo é necessário para fazer esta jornada moral ao centro de reunião.
### O Único Centro de Reunião Durante o Milênio
Num dia vindouro, quando Israel for restaurado e trazido de volta para a sua terra, o próprio Senhor será o centro de reunião em Jerusalém. **“a Ele se congregarão os povos”** (Gn 49:10; Sl 50:5, 99:1-2; Ez 43:5, 48:35; Sf 3:5, etc.). Durante o Milênio será o centro terreno de Deus para Seu povo terreno.
### A Mesa do Senhor
**“A mesa do Senhor”** (1 Co 10:21) é um termo simbólico que significa o terreno de comunhão sobre o qual Deus reuniria os membros do corpo de Cristo para adoração e ministério. Uma mesa na Escritura simboliza comunhão; neste caso comunhão para a qual todos os Cristãos são chamados (1 Co 1:9), onde a autoridade do Senhor é reconhecida e reverenciada. Por isto é chamada de a mesa **“do Senhor”**. Não é idêntica à **“ceia do Senhor”** (1 Co 11:20), embora muitas vezes sejam confundidas. Os Cristãos usam os dois termos indiferentemente – não percebendo que são duas coisas diferentes. A ceia do Senhor é uma ordenação _literal_ na qual os Cristãos participam do partimento do pão, enquanto que a mesa do Senhor indica o terreno de princípios _espirituais_ nos quais o Senhor reúne Cristãos ao Seu nome, onde Sua autoridade é reconhecida em seu meio.
Não é correto, portanto, dizer que vamos à mesa do Senhor no dia do Senhor. Se fomos recebidos à comunhão à mesa do Senhor, estamos nela 7 dias por semana, 24 horas por dia. Em condições normais, chegamos à mesa do Senhor uma vez, mas participamos da ceia do Senhor numa hora específica no dia do Senhor. Portanto, tampouco seria correto dizer que “o irmão Fulano se levantou à mesa do Senhor para dar graças...” Sabemos o que quer dizer, mas seria mais correto dizer que ele se levantou na ceia do Senhor para dar graças pelos símbolos. A mesa do Senhor _não_ é uma mesa literal que os irmãos colocam no meio de uma sala sobre a qual os emblemas do partimento do pão são colocados. Nem devíamos pensar que a mesa do Senhor é uma coisa mística no céu em que estão todos os Cristãos. Mas é simbólica do verdadeiro terreno de reunião na Terra, onde o Senhor reúne os crentes. Todos os Cristãos deveriam estar à mesa do Senhor, mas por causa da confusão e grande dispersão de crentes na Cristandade, relativamente poucos estão ali.
Quando alguém é recebido em comunhão, é recebido **“à mesa do Senhor”** onde ele tem o privilégio de tomar **“a ceia do Senhor”**. Se uma pessoa é **“excluída”** sob um ato administrativo de julgamento pela assembleia (1 Co 5:13), ele é colocado fora da mesa do Senhor, não apenas fora da ceia do Senhor. Assim, ele é colocado fora da comunhão dos santos reunidos ao nome do Senhor como um todo, o que incluiria o privilégio de partir o pão. Alguns pensam que o comer, mencionado em 1 Coríntios 5:11 (**“com o tal nem ainda comais”**) refere-se a comer a ceia do Senhor. Daí eles concluem que não devemos partir o pão com uma pessoa que tenha sido afastada, mas que podemos ter comunhão com ele de outra maneira. Isto é essencialmente afastar uma pessoa da ceia do Senhor, mas não da mesa do Senhor e não é o que Escritura ensina. A Escritura diz que o afastar deve ser **“dentre vós”** – o que é mais amplo que comunhão na ceia. O comer a que o apóstolo se refere é qualquer tipo de comer – seja no partimento do pão ou em uma simples refeição em nossa casa. A tradução de J. N. Darby diz, **“não vos mistureis com ele; com o tal nem ainda comais”** – o que é um símbolo de comunhão social.
A Escritura é clara que há _uma_ mesa do Senhor – não há menção do Senhor tendo muitas “mesas”. Os santos reunidos ao nome do Senhor, à mesa do Senhor, podem partir o pão em muitos lugares pelo mundo, mas é _uma_ mesa – um terreno de comunhão. O Senhor só possui um terreno de comunhão ao qual os Cristãos estão reunidos neste mundo.
Revisando estas Escrituras, teríamos de concluir que a presença do Senhor (no sentido coletivo, do qual estivemos falando) poderia estar em apenas um lugar da Cristandade. E se isto é verdade, Ele não poderia estar em todos os lugares onde Cristãos se reúnem – apesar de os Cristãos poderem ter uma boa intenção em sua reunião. É bem simples; se o Senhor Se fizesse presente (como em Mateus 18:20) nos muitos lugares onde Cristãos se reúnem, Ele seria conivente com aquelas falsas posições. Se o Espírito de Deus tivesse dirigido Cristãos a formarem várias comunhões separadas umas das outras, então Ele seria o Autor de divisões que desonrariam a Deus na Cristandade! Isso não pode ser. O respeitado instrutor bíblico, Sr. W. Potter, disse: “Suponha que o Senhor Se fizesse presente agora nas diferentes denominações, o que Ele estaria fazendo? Estaria sancionando aquilo que é contrário a Ele mesmo. Ele não pode fazer isso”. Ele também disse: “Você quer dizer que o Senhor não está no meio de nenhum outro no mesmo sentido? Decididamente, Ele não está”.
Número Doze - Há um Divino Reunidor Que Guia Cristãos Exercitados ao Centro
Mateus 18:20, Lucas 22:7-20 e Apocalipse 3:7-13 nos mostraram que Deus tem um lugar – um terreno eclesiológico de princípios de reunião no qual Ele queria que os Cristãos se reunissem para adoração, ministério e comunhão. O apóstolo Paulo o chamou de “a mesa do Senhor” (1 Co 10:21). Este termo, como mencionamos antes, simboliza a comunhão (o que uma mesa representa) que o Senhor formou, e para à qual Ele chamou todos os Cristãos (1 Co 1:9), onde Sua autoridade é reconhecida e reverenciada em questões administrativas (Mt 18:18-19; 1 Co 5:4). Estas mesmas três passagens (Mt 18:20; Lc 22:7-20 e Ap 3:7-13) também indicam que há um divino Reunidor (o Espírito Santo) que conduz crentes exercitados ao lugar de Sua escolha. Isto deveria ser um grande encorajamento para toda pessoa que está buscando encontrar o lugar onde o Senhor está no meio. Se formos verdadeiros e honestos em buscar os caminhos de Deus, o Espírito de Deus nos guiará ao Centro divino – Cristo no meio. Vamos ver isto nessas três passagens seguintes.
Mateus 18:20
Vamos voltar novamente a Mateus 18:20 e focar em outra parte do versículo: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em [colocados juntos ao – JND] Meu nome…”. O Espírito não é diretamente mencionado nesta passagem, mas está claro, a partir destas palavras, que Ele é o poder por detrás dos crentes sendo reunidos ao nome do Senhor. O Senhor não disse, “onde dois ou três se reunirem”, ou “se encontrem juntos”, como algumas traduções modernas apresentam. “Estiverem reunidos” é voz passiva no original grego9 e isto aponta para o fato de que há um poder fora das próprias pessoas que está envolvido em reuni-las naquele terreno. Isto mostra que o terreno divino de reunião não é uma associação voluntária de crentes. É verdade que deve haver exercício pessoal e energia, da parte daqueles que estão reunidos pelo Espírito, para serem encontrados no lugar onde Cristo está no meio, mas em última análise, Ele é Quem reúne.
Hamilton Smith disse: “Usando uma ilustração simples, vejo um cesto de frutas sobre a mesa. Como elas chegaram lá? Elas foram reunidas juntas; não chegaram lá por seus próprios esforços. A palavra (traduzida para o inglês como) ‘gathered together’ (que numa tradução livre poderia ser ‘ajuntados em grupo’) em grego é ‘sunago’ que literalmente quer dizer ‘conduzir juntos’, e poderia ser traduzida como ‘são guiados juntos’ – todas sugerem um Reunidor”.
J. N. Darby disse: “Ele [Cristo] é o único Centro de reunião. Os homens podem fazer associações entre si, tendo muitas coisas como seu objeto ou alvo, mas a comunhão dos santos não pode ser conhecida a não ser que cada linha convirja para o Centro vivo. O Espírito Santo não reúne santos em redor de meros pontos de vista, por mais verdadeiros que sejam sobre o que a Igreja é, sobre o que tem sido, ou sobre o que possa ser na Terra, mas Ele sempre os reúne em torno dessa bendita Pessoa, que é A mesma ontem, hoje e para sempre. ‘Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em [ao] Meu nome, aí estou Eu no meio deles’”.
Lucas 22:7-10
Lucas 22:7-10 sustenta o fato de que há um divino Reunidor. Diz, “Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar”. O Espírito de Deus é visto aqui na figura de “um homem” levando um cântaro de água. Muitas vezes na Escritura o Espírito de Deus é visto como um homem anônimo trabalhando atrás das cenas. Isto porque não é objetivo do Espírito de Deus chamar atenção sobre Si mesmo (Jo 16:13-14), e esta é a razão pela qual Ele não é mencionado diretamente em Mateus 18:20. Ele não toma lugar de proeminência no Cristianismo, mas trabalha atrás dos bastidores, guiando almas exercitadas àquele terreno bíblico onde Cristo está no meio daqueles assim reunidos. Neste caso, Ele conduziu os discípulos ao lugar de escolha do Senhor onde poderiam estar com Ele para a ceia. “Água” na Escritura frequentemente significa a Palavra de Deus (Ef 5:26; Jo 15:3). Assim, aprendemos que o Espírito de Deus usa os princípios da Palavra de Deus para guiar crentes ao lugar da escolha do Senhor.
Mateus 18:20 enfatiza o trabalho soberano de Deus em sermos reunidos pelo Espírito, mas em Lucas 22:8-12 concentra-se mais no que é exigido de nós para sermos guiados pelo Espírito para o lugar.
- Primeiro, precisamos ter um desejo sincero de saber onde é o lugar da Sua escolha. Isto é ilustrado com Pedro e João inquirindo ao Senhor, “Onde (Tu) queres que a preparemos?” - Segundo, é necessária a energia de fé para entrar na cidade e ser exercitado sobre ser levado ao lugar. Isto é ilustrado nas palavras, “E, indo eles…” (v. 13). - Terceiro, há o exercício de subir as escadas de separação para o “cenáculo” (v. 12). Isto implica em deixar para trás toda conexão com o mundo – tanto secular como religiosa. - Quarto, tendo sido dirigido ao local da Sua escolha, há o exercício de “preparar” (v. 12). Isto se refere necessidade de estarmos em um estado espiritual de alma adequado à Sua presença. Preparamos nossa alma por meio do julgamento próprio (1 Co. 11:28).
Apocalipse 2 e 3
Estes dois capítulos também indicam o trabalho do Espírito de Deus nos guiando no caminho em relação à verdade da Igreja, sendo visto nas palavras, “o que Espírito diz às igrejas” – mencionadas sete vezes nesses capítulos (caps. 2:7, 2:11, 2:17, 2:29, 3:6, 3:13, 3:22). O Espírito de Deus está falando na profissão Cristã, e estará na Terra fazendo isto até que o Senhor venha. Nossa responsabilidade é “ouvir” Sua voz e seguir Suas instruções. Se formos sensíveis à Sua direção, Ele nos levará a um entendimento da Igreja. O Espírito do Senhor guiará um Cristão que ora.
A quem mais o Senhor poderia confiar o reunir o Seu povo ao Seu nome, senão ao Espírito de Deus! Os homens mais bem-intencionados procuraram reunir o povo do Senhor e fizeram disso uma confusão completa. Sendo ignorantes quanto à verdade do reunir conforme as Escrituras, os desviaram para seitas e grupos denominacionais e os encorajaram a ir “à igreja de sua escolha”. O resultado é que Cristãos foram dispersos em milhares de direções. Isto certamente não é obra do Espírito Santo.
Deus Usa Instrumentos Humanos
O Espírito pode usar um instrumento humano nesta obra de guiar crentes no caminho da verdade. Ele pode permitir que alguém, que conhece a verdade do reunir, passe esta verdade para uma pessoa que está procurando o lugar, e assim instruí-lo “mais precisamente no caminho de Deus” (At 18:24-26). A este respeito, queremos ser instrumentos prontos nas mãos do Senhor, “preparado para toda a boa obra” (2 Tm 2:21, 24-26).
Toda a verdade é para toda a Igreja. Temos de fazê-la disponível para cada um que a procura. Deveríamos estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Mas precisamos ser cuidadosos neste trabalho. Não devemos tentar fazer a obra do Espírito Santo em reunir Cristãos ao nome do Senhor. W. T. P. Wolston advertiu, “Não empurre com um forcado10 seus convertidos para dentro da assembleia”. Precisamos estar em comunhão com o Senhor quanto ao quando e como expormos a alguém a verdade do reunir. Ao indiscriminadamente espalhar a verdade da assembleia a todos quantos encontramos, poderemos, inadvertidamente, dar “aos cães as coisas santas” e deitar “pérolas” aos “porcos” (Mt 7:6). Um “porco” na Escritura é frequentemente usado para descrever um falso professante. Uma “pérola” na Escritura se refere à assembleia (Mt 13:45-46). E esta verdade é propriedade exclusiva da Igreja. A verdade concernente à assembleia deve ser disseminada cuidadosamente.
Uma razão por que deveríamos ser cuidadosos nesta questão é que pode ser possível forçar a verdade em pessoas que não estão prontas para ela. Às vezes, podemos estar tão ansiosos para mostrar às pessoas a verdade da assembleia que isto se transforma em uma discussão. Precisamos dar a elas tempo para que a considerem, e orar para que o Senhor as guie. J. N. Darby disse que nunca tentou coagir alguém, que não tivesse fé ou convicção para isso, a seguir o caminho que ele estava seguindo (estando reunido ao nome do Senhor). Que possamos ser guiados pelo Senhor neste serviço.
O Centro de Reunião de Deus na Terra Hoje
Então, há um centro divino de reunião para Cristãos na Terra? Sim, a Escritura ensina que há. Onde está ele então? Ora, isso é para cada Cristão procurar e encontrar. O Senhor disse “buscai, e achareis” (Lc 11:9). Deus quer que sejamos exercitados sobre isso e procuremos o Senhor para orientação, assim como Pedro e João fizeram quando perguntaram ao Senhor “onde” que Ele queria que eles estivessem (Lc 22:9). “A glória de Deus é encobrir o negócio; mas a glória dos reis é tudo investigar” (Pv 25:2). A resposta para a pergunta: “Quem tem a mesa do Senhor?” é – o Senhor! É a Sua mesa, e Ele está guiando à ela os crentes exercitados.
Tendo completado o modelo de uma assembleia reunida biblicamente, nosso desejo é colocá-lo nas mãos daqueles que estão verdadeiramente exercitados sobre estas coisas, e que o Senhor os guie ao lugar de Sua escolha, para que conheçam a alegria da Sua presença no meio daqueles a quem Ele reuniu ao Seu nome.
# CONTRACAPA
Se um companheiro Cristão viesse a mim e dissesse que estava procurando por uma Igreja com boa base bíblica para frequentar – e estivesse genuinamente buscando a vontade de Deus na questão – o que eu diria a ele?
Uma vez que houve muito abandono da ordem de Deus na adoração e ministério da Igreja, seria de pouca utilidade direcionar nosso amigo que está à procura, para a profissão Cristã, no estado em que essa está hoje. Muito pouco do que se passa como Cristianismo nos dias de hoje se parece com o Cristianismo de que lemos na Bíblia. Se ele “pulasse” de igreja em igreja, ficaria ainda mais confuso.
O lugar para procurar pela verdade neste assunto, primeiro e mais importante, é na Palavra de Deus. Precisamos ver o padrão de Deus para a Igreja nas Escrituras; assim saberemos o que procurar. Portanto, encorajaria toda pessoa que está à procura, a deixar toda ideia pré-concebida que pudesse ter sobre o assunto e “começar do zero” – e deixar a Escritura, e somente essa – ensinar como a Igreja deve se reunir para ministério e adoração. Eu o exortaria a fazer esta procura sobre seus joelhos em dependente oração ao Senhor (Sl 25:9).
Para ajudar aquele que sinceramente busca “ir direto ao ponto” nesta procura, este livro mostra dez características proeminentes de uma assembleia bíblica.
# Notas
[[←1](#calibre_link-8 "1")]
N. do T.: Na versão em português o verbo “let” [permitir ou deixar acontecer] está subentendido no verbo fazer – **“faça-se”**
[[←2](#calibre_link-45 "2")]
N. do T.: A nota de rodapé da tradução de J. N. Darby desse versículo diz que o significado da palavra _“hupotuposis”_ no grego é “uma exposição sistemática, de forma resumida, de qualquer forma de doutrina, um esboço”
[[←3](#calibre_link-34 "3")]
N. do T.: Heterodoxo provém da palavra grega “_hetero_” que significa “diferente” e “_doxa_” que significa “fé”. É o que se opõe aos padrões, normas, regras ou à uma doutrina pré-estabelecida. É o que está em desconformidade com a doutrina tida como verdadeira.
[[←4](#calibre_link-21 "4")]
N. do T.: Ortodoxo provém da palavra grega _“orthos”_ que significa “reto” e _“doxa”_ que significa “fé”. É o que está em conformidade com a doutrina tida como verdadeira.
[[←5](#calibre_link-10 "5")]
N. do T.: Na versão inglesa King James a nota na margem indica que “cantavam salmos”
[[←6](#calibre_link-47 "6")]
N. do T.: Nas versões inglesas KJV e JND é incluída a palavra “let” (permita). A seguir há uma sugestão de onde ela se encontraria, numa versão livre dos versículos de 1 Coríntios 14:26-30: “Que farei, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um tem salmo, tem ensino, tem revelação, tem língua, tem interpretação; [_permita_] que tudo se faça para edificação. Se alguém falar em língua, [_permita que_] não falem senão dois ou, quando muito, três, e cada um por sua vez; [_permita que_] haja um que interprete; mas se não houver intérprete, [_permita que_] esteja calado na igreja, e [_permita que_] fale consigo e com Deus. [_Permita que_] falem os profetas, dois ou três, e [_permita que_] os outros julguem; se for dada alguma revelação a outrem que estiver sentado, [_permita que_] cale-se o primeiro.”
[[←7](#calibre_link-36 "7")]
N. do T.: A eclesiologia é o estudo da doutrina Cristã. A palavra é formada a partir de dois termos gregos _ekklesia_, que significa “assembleia” e _logos_, que significa “palavra” ou “estudo”.
[[←8](#calibre_link-23 "8")]
N. do T.: Ortodoxo provém da palavra grega _“orthos”_ que significa “reto” e _“doxa”_ que significa “fé”. É o que está em conformidade com a doutrina tida como verdadeira.
[[←9](#calibre_link-12 "9")]
N. do T.: Se em português estivesse traduzido na voz passiva seria: _“Porque, onde_ forem _dois ou três_ reunidos _em meu nome...”_
[[←10](#calibre_link-49 "10")]
N. do T.: O _forcado_ ou _forquilha_ é um instrumento utilizado na agricultura e na jardinagem, constituído por um cabo longo de madeira, com de dois a quatro dentes compridos na ponta, geralmente de metal, assemelhando-se a um grande garfo.