Bruce Anstey

A Epístola de Paulo aos COLOSSENSES

O MISTÉRIO – Cristo em Vós,
a Esperança da Glória

Bruce Anstey

A EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES

O MISTÉRIO – Cristo em Vós, a Esperança da Glória

Bruce Anstey

Originalmente publicado por:

CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING

12048 – 59th Ave.

Surrey, BC V3X 3L3

CANADÁ

Título do original em inglês: THE EPISTLE OF PAUL TO THE COLOSSIANS

THE MISTERY – Christ in You, The Hope of Glory

Primeira edição – abril 2018

Versão 1.0

Traduzido, publicado e distribuído no Brasil com autorização do autor por:

ASSOCIAÇÃO VERDADES VIVAS, uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo é divulgar o evangelho e a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo.

atendimento@verdadesvivas.com.br

Primeira edição em português – Janeiro 2019

E-book v.1.1

Abreviaturas utilizadas:

ARC – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida – SBB 1969

ARA – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada – SBB 1993

TB – Tradução Brasileira - 1917

ACF – João Ferreira de Almeida – Corrigida Fiel – SBTB 1994

AIBB – João Ferreira de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira - 1967

JND – Tradução inglesa de John Nelson Darby

KJV – Tradução inglesa King James

Todas as citações das Escrituras são da versão ARC, a não ser que outra esteja indicada.

A Epístola de Paulo aos
COLOSSENSES

INTRODUÇÃO

A Ocasião da Epístola

A circunstância que trouxe esta epístola aos colossenses foi o surgimento de uma série de falsas doutrinas emanadas da filosofia grega, do judaísmo heterodoxo e do misticismo oriental. Esses erros foram o começo do que mais tarde se tornaria conhecido como gnosticismo. O gnosticismo significa “conhecimento superior” e apropriadamente descreve o que certos instrutores falsamente professavam ter. Essas falsas doutrinas incomodavam a Igreja primitiva em várias regiões, e Colossos era um desses lugares.

Esta linha de ensino tenta explicar a existência de Deus, da criação, da origem do mal, etc., à parte da revelação divina das Escrituras, professando ser de uma revelação mais elevada do que aquela que os apóstolos tinham entregue à Igreja (Jd 3). O pior desses erros foi a negação da Deidade e da verdadeira Humanidade de Cristo. Essa blasfêmia ameaçou tirar os santos da verdade da Pessoa e da Obra de Cristo e precisou ser refutada.

Assim como na epístola aos filipenses, Paulo estava sendo proativo ao escrever esta epístola, em vez de ser reativo, como foi no caso das epístolas aos coríntios e aos gálatas. Assim, ele estava agindo preventivamente ao invés de corrigir. Os Colossenses não haviam engolido esse ensinamento, mas estavam em perigo. Paulo, portanto, os adverte do caráter desse mal e o combate insistindo na verdade da Pessoa e da Obra de Cristo.

A Aplicação Presente da Epístola

Enquanto o gnosticismo não é uma ameaça para a Igreja hoje como era nos primeiros séculos, esta epístola ainda tem um lugar necessário no cânon da Escritura. Ela tem uma aplicação presente em repreender a tendência de usar nossa imaginação para interpretar as Escrituras – como um homem tentado desta maneira disse uma vez: “Você pode frequentemente encontrar mais entre as linhas da Escritura do que nas linhas da Escritura”! Desnecessário será dizer que especular sobre a Palavra inspirada de Deus é uma coisa perigosa. Tal uso da imaginação humana em coisas divinas é como um israelita levantando um “buril” (uma ferramenta afiada para cortar) sobre o altar de Deus e esculpindo algo de sua imaginação nele. Isso era estritamente proibido (Êx 20:25). Uma vez que os princípios de interpretação não são claramente definidos quando alguém aplica sua imaginação às Escrituras dessa forma, não é difícil fazer a Palavra de Deus dizer quase tudo que quisermos! O grande perigo aqui é ir além do que Deus revelou e cair em erro. Toda essa manipulação da Palavra de Deus pode ser classificada como ensinamento místico.

A principal diferença entre o misticismo no gnosticismo e o misticismo que se move furtivamente hoje é que os gnósticos fizeram declarações e ensinamentos errôneos à parte da revelação divina da Escritura; enquanto que o misticismo que enfrentamos hoje professa usar a Palavra de Deus para apoiar suas noções e interpretações fantasiosas.

É triste dizer que o que geralmente se encontra no fundo do ensinamento místico é o orgulho espiritual, como Paulo diz nesta epístola – “inchado vãmente pelo seu entendimento carnal” (Cl 2:18 – TB). Uma pessoa assumirá essa linha de coisas porque isso o distingue como se tivesse algo que os outros não têm, no que diz respeito ao conhecimento divino. Ele pode fascinar seus amigos com seus pensamentos transcendentes, e isso ministra ao seu orgulho. Com o tempo, sua propensão para procurar indícios para o que ele imagina serem significados ocultos na Escritura inunda sua mente, e isso se torna o seu único objetivo. Uma frase da Escritura será tirada, isolada do seu contexto e interpretada para significar algo que uma pessoa, em condições normais, nunca veria se não fosse pela forma mística em que é divulgada. Quando essas ideias são apresentadas com uma fraseologia espiritual transcendental, e casada com uma vida de santidade exterior, crentes não firmados podem ser levados por ela e acreditarem que se trate de algo realmente especial. O que surge disso são certos iniciados, imaginando que têm uma “trilha interior” para a verdade mais elevada. Sem dúvida, a característica predominante no ensino místico são as expressões vagas e nebulosas pelas quais as ideias são apresentadas. Aqueles que são impressionados por elas não levarão em conta a sua imprecisão considerando ser uma verdade profunda.

Dois Grandes Perigos na Cristandade

O misticismo é um dos dois grandes perigos na profissão Cristã. Estes são: “retroceder” do que foi revelado (Hb 10:39) e “ir além” (TB) ou “ultrapassar” (ARA) o que foi revelado (2 Jo 9). A primeira é a apostasia e a segunda é misticismo. A epístola aos Hebreus trata da apostasia e a epístola aos Colossenses trata do misticismo. O remédio do apóstolo para toda essa subversão mística era dirigir os olhos dos colossenses a Cristo no céu para ajudá-los a recuperar o senso deles de união com Ele ali, o qual eles haviam perdido em alguma medida, ou corriam o risco de perder, devido a intrusão dessas noções especulativas em assuntos divinos.

O Mistério

A epístola aos colossenses certamente repreende os Cristãos de se engajar no ensinamento místico e filosófico, mas ela tem um propósito mais importante por estar em nossas Bíblias; é uma das duas únicas epístolas que revelam a verdade de “o Mistério” – a mais elevada de todas as verdades. O mistério é mencionado em Rm 16:25; 1 Co 2:7, 4:1 e 1 Tm 3:9, mas só é desvendado em Efésios e Colossenses.

Poderíamos supor que, ao usar a palavra “Mistério”, como Paulo faz aqui, ele está se referindo a algo misterioso e difícil de entender. Mas isso não é o que ele significa. Ele está falando de algo “guardado em silêncio” (Rm 16:25 – ARA) que esteve “oculto em Deus” (Ef 3:9) que não havia sido revelado aos santos “em outras gerações” (Ef 3:4-5 – ARA), mas agora se tornou conhecido por meio de revelações especiais dadas aos apóstolos – e especialmente ao apóstolo Paulo (Cl 1:26). W. Kelly disse que o Mistério “não significa algo que você não pode entender, mas o que você não poderia conhecer antes que Deus lhe dissesse … O mistério significa aquilo que foi mantido em segredo, não aquilo que não podia ser entendido, que é uma noção humana de mistério; mas um segredo não revelado – um segredo ainda não divulgado no Velho Testamento, mas revelado plenamente no Novo” (Lectures on the Epistle to the Ephesians, págs. 25, 114).

O Mistério é a joia da coroa de Deus que completa a revelação divina da verdade (Cl 1:25). Como **“**todos os tesouros da sabedoria e da ciência” são achados nele (no Mistério), não há mais nada a ser revelado! (Cl 2:2-3 – AIBB e JND). Paulo assinala esse fato para mostrar aos colossenses que eles receberam tudo o que dizia respeito à revelação da verdade. Não havia, portanto, necessidade de sair do que Deus revelara no Mistério, em busca de mais verdades – que é o que os místicos estavam encorajando os santos a fazer.

O Mistério revela o grande propósito de Deus para glorificar Seu Filho em duas esferas – nos céus e na Terra – no mundo vindouro (o Milênio), por meio de um vaso de testemunho especialmente formado, a Igreja, que é o corpo e a noiva de Cristo (Ef 1:8-10). A verdade revelada no Mistério não é a santa e gloriosa Pessoa de Cristo, nem a Sua vida de perfeita obediência como um Homem que andou neste mundo, nem a Sua morte e ressurreição ou a Sua vinda novamente para estabelecer o Seu reino no qual Ele irá reinar sobre o mundo. Essas coisas eram todas mencionadas no Velho Testamento e conhecidas por aqueles que estavam familiarizados com aquelas Escrituras. O Velho Testamento claramente predizia um Messias judaico reinando sobre toda a Terra com Israel e as nações gentias regozijando-se submissas a Ele. Mas o Mistério revela algo mais. Quando Cristo reinar, Ele terá um complemento celestial ao Seu lado – a Igreja, Seu corpo e Sua noiva. Deus usará esse vaso especialmente formado para realçar a glória de Cristo naquele dia de manifestação (Ap 21:9-22:5). Além disso, o Mistério revela que Cristo não apenas reinará sobre a Terra, mas sobre todo o universo (os céus e a Terra); tudo estará sob a administração de Cristo e da Igreja.

A Relação Entre Colossenses e Efésios

As epístolas aos Efésios e aos Colossenses têm uma grande semelhança em caráter e poderiam ser chamadas de epístolas “companheiras”. Alguém apontou que nada menos que 54 versos dos 155 versos em Efésios são semelhantes aos encontrados em Colossenses! Ambas foram escritas em Roma, enquanto o apóstolo era um prisioneiro lá, e foram enviadas na mesma ocasião (com a epístola a Filemom) pelo mesmo mensageiro – Tíquico (Ef 6:21-22). Onésimo é incluído na entrega da epístola aos Colossenses (Cl 4:7-9).

Juntamente com Filipenses, essas três chamadas epístolas da “prisão” são encontradas lado a lado em nossas Bíblias e, no que diz respeito à revelação da verdade, se complementam uma à outra. Efésios e Colossenses desenvolvem a verdade do Mistério em dois aspectos diferentes, e em Filipenses vemos um homem (Paulo) andando no benefício da verdade do Mistério. Assim, nos dá uma descrição do estado da alma que deve marcar alguém que conhece essa grande verdade. A epístola a Filemon (que era um colossense) também foi escrita ao mesmo tempo que a epístola aos Colossenses e foi levada por Onésimo para Filemon.

Colossenses é a contraparte de Efésios. Embora as duas epístolas tenham uma notável semelhança, em muitos aspectos elas se contrastam, dando o lado oposto (mas complementar) da verdade do Mistério. Por exemplo:

- Efésios desenvolve o lado futuro do Mistério. Isto é, o que será manifestado quando Cristo e a Igreja reinarem sobre o universo de acordo com o propósito eterno de Deus (Ef 1:8-10). Enquanto que Colossenses enfatiza sua manifestação presente desta grande verdade neste mundo por meio dos santos (Cl 1:27).

- Em Efésios, o crente é visto sentado em lugares celestiais com a criação abaixo dele (Ef 2:6), enquanto que em Colossenses o crente é visto na Terra tendo diante de sua alma a esperança de estar no céu (Cl 1:5). - Efésios vê os santos “em Cristo” (Ef 1:3, etc.), enquanto Colossenses enfatiza Cristo nos santos (Cl 1:27 – “Cristo em vós”). - Quanto à união de Cristo e a Igreja, Efésios se ocupa dos privilégios do “corpo” – o corpo de Cristo sendo o versículo central da epístola (Ef 4:12). Ao passo que Colossenses revela a plenitude que reside na “Cabeça” – a Cabeça sendo o versículo central da epístola (Cl 2:19). - Em Efésios, a Igreja é vista como “a plenitude [o complemento – TB] d’Ele, que enche tudo em todas as coisas (Ef 1:23), enquanto que em Colossenses, Cristo é a “plenitude” da Divindade e nossa plenitude está n’Ele (Cl 2:9). - Em Efésios, “o Espírito Santo” tem um lugar proeminente no desenvolvimento da verdade em relação ao crente, mas em Colossenses “o Espírito” é mencionado apenas uma vez (cap. 1:8). - A “herança” em Efésios, é vista como as coisas materiais desta criação (Ef 1:11, 14, 18), enquanto que a herança em Colossenses é a nossa “porção” espiritual de bênçãos em Cristo no alto (Cl 1:12 – JND). - As duas coisas características de Deus com as quais o homem foi originalmente criado (“imagem” e “semelhança” – Gn 1:26), que foram perdidas na queda, são vistas como recuperadas na raça da nova criação nessas epístolas. Efésios se ocupa da semelhança sendo recuperada (Ef 4:21-32) e Colossenses da imagem sendo corrigida (Cl 3:5-14). - Efésios não tem a partícula condicional “se”, mas Colossenses tem (Cl 1:23, etc.). - Usando a tipologia na conquista de Canaã por Israel, Efésios vê o crente estabelecido no benefício da terra, enquanto Colossenses vê o crente apenas sobre o Jordão, julgando-se em Gilgal. Portanto, ele ainda não está na posse da terra.

O Desenvolvimento da Verdade nas Epístolas de Paulo

Tem sido dito frequentemente que a mais alta verdade da Bíblia é encontrada nas epístolas aos Efésios e aos Colossenses. Há uma progressão distinta da verdade em conexão com nossa identificação com Cristo nas epístolas de Paulo. Elas são:

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A epístola aos Colossenses não apresenta Cristo como “crucificado”, como fazem as epístolas aos Romanos e aos Gálatas. Ela começa com o desenvolvimento da verdade sobre nossa identificação com Cristo como “morto”, “sepultado”, “vivificado” e “ressuscitado” com Ele. Não chega, no entanto, à altura de Efésios, onde o crente é visto “assentado” n’Ele nos lugares celestiais (Ef 2:6). Em Colossenses, o crente é visto na Terra com uma esperança depositada para ele no céu (Cl 1:5). A posição do crente em Colossenses é semelhante à do próprio Senhor depois que Ele ressuscitou dos mortos, mas ainda não havia subido ao Pai. J. N. Darby disse: “Colossenses é o homem ressuscitado ainda na Terra, o estado subjetivo, o que se refere ao céu, mas não ali, como o próprio Cristo por quarenta dias – o Jordão cruzado, mas não a posse tomada de Canaã” (Synopsis of the Books of the Bible, edição de Loizeaux, nota de rodapé em Êxodo 14, pág. 98).

Duas Visões Diferentes do Homem na Carne nas Epístolas de Paulo

A condição caída do homem é vista de duas maneiras diferentes nas epístolas de Paulo:

- Em Colossenses e Efésios, o homem é visto como morto em seus pecados (Ef 2:1-3; Cl 2:13). - Em Romanos e Gálatas, o homem é visto como vivo em seus pecados (Rm 1:32; Gl 1:4).

Além disso, em Romanos, o próprio Cristo é visto como vivo na Terra, “nasceu da descendência de Davi segundo a carne, Declarado Filho de Deus em poder” (Rm 1:3-4). Enquanto que em Colossenses e em Efésios, Cristo é visto como morto, e o poder de Deus foi aplicado a Ele ao ressuscitá-Lo dentre os mortos e colocá-Lo à Sua própria direita (Ef 1:19-21; Cl 1:18, 2:12).

O remédio para a dupla condição caída do homem é encontrado em Cristo de duas maneiras – em Sua morte e em Sua ressurreição. Na visão de Romanos sobre o homem, este é visto vivendo na Terra como um pecador culpado. Ele é tão afetado pela desordem de seus pecados e pelo domínio de sua natureza pecaminosa, que ele não tem poder para interromper o curso pecaminoso de sua vida. O modo de Deus libertá-lo de sua condição lastimável é colocá-lo na morte. Esta é a linha da verdade que é desenvolvida em Romanos. A morte de Cristo é trazida (e a identificação do crente com ela) como o remédio para essa condição. Cristo morreu e derramou Seu sangue (Rm 3:25, 4:25, 5:6-8) para tirar os pecados do crente, mas também para judicialmente colocar um fim ao pecador diante de Deus, e assim quebrar seu vínculo com aquela condição em que ele vive (Rm 6:1-11; Gl 2:20). Mas na visão de Efésios sobre o homem, este é visto como morto em delitos e pecados (Ef 2:1), e o remédio para ele é encontrado no poder de Deus que ressuscitou Cristo dos mortos, trabalhando para vivificá-lo juntamente com Cristo (Ef 2:5). Assim, ele é libertado do estado de morte espiritual no qual foi mantido. A epístola aos Colossenses na verdade tem ambos os aspectos (Cl 211-13).

A Escrita da Epístola

Paulo não foi o instrumento pelo qual a assembleia de Colossos foi formada. Muitos dos colossenses nunca tinham visto seu rosto (Cl 2:1). Assim como a assembleia em Roma, a assembleia em Colossos tinha sido estabelecida por meio dos trabalhos de outros servos do Senhor. A assembleia colossense foi provavelmente o fruto dos trabalhos de Epafras (Cl 1:7; 4:12-13) que pode ter sido salvo por meio de Paulo em algum momento anterior (At 19:10).

Não nos é dito por que Epafras estava em Roma com Paulo. Ele poderia ter ido lá para informá-lo do problema em relação ao ensino novo e falso que estava circulando na área colossense e para buscar o conselho de Paulo. Tudo o que sabemos é que Epafras de alguma forma acabou preso em Roma e foi um “companheiro de prisão” com Paulo (Fm 23). Isso explica por que Tíquico levou a carta aos colossenses, e não Epafras (Cl 4:7-8). Parece que a epístola foi escrita em resposta ao pedido de ajuda de Epafras. Uma vez que Paulo sabia que Epafras era firme na verdade, recomendava a ele e ao seu ministério pelos colossenses como algo a se prestar a atenção (Colossenses 1:7).

Assim como a epístola aos Filipenses, também não há citações do Velho Testamento nesta epístola. Paulo pode ter evitado citá-lo porque a assembleia de lá era composta principalmente de gentios convertidos e, naturalmente, eles não estariam familiarizados com essas Escrituras. Ou, pode ter sido porque havia uma forte presença judaica entre os místicos que estavam tentando ganhar terreno entre os colossenses, e eles poderiam ter interpretado tais citações como sendo a aprovação de Paulo em se guardar a lei.

A PLENITUDE QUE RESIDE EM CRISTO

Capítulos 1:1–2:3

Em vista do que estava perturbando os santos colossenses, é interessante que Paulo não comece advertindo-os sobre o falso ensino circulando em sua região e imediatamente lance uma exposição do erro. Em vez disso, neste primeiro capítulo, ele coloca a glória de Cristo diante deles para que eles possam obter uma estimativa verdadeira da grandeza de Sua Pessoa e Sua obra. Ao fazer isso, os colossenses veriam que tinham tudo o que precisariam n’Ele e, assim, não seriam tentados a se afastar seguindo as novas ideias que lhes estavam sendo apresentadas. Paulo também mostra aos colossenses que os Cristãos receberam “todos os tesouros da sabedoria e da ciência” no Mistério (cap. 2:2-3), e que eles são assim “perfeitos [completos – JND] n’Ele” (cap. 2:10). Tendo recebido toda a verdade de Deus, não havia necessidade de eles estarem procurando algo mais. Por isso, os santos colossenses precisavam entender a plenitude que reside em Cristo. Somente no segundo capítulo é que Paulo expõe o mal ensino e trabalho do inimigo. Essa ordem é instrutiva; é a maneira de Deus libertar as almas do erro. É para fundamentar os santos na verdade primeiro, e então eles serão capazes de identificar prontamente o erro quando for apresentado, e rejeitá-lo.

A Saudação

Vs. 1-2 – Ao escrever aos filipenses, Paulo não menciona seu apostolado, mas falou de Timóteo e de si mesmo como “servos [escravos]” do Senhor; enquanto aqui, escrevendo aos colossenses, ele emprega seu apostolado, afirmando que ele era um “apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus” (TB). Isso é significativo; introduz sua autoridade oficial. Devido à natureza do problema enfrentado pelos colossenses, isso era necessário. Como mencionado, havia um grave erro doutrinário concernente à Pessoa e obra de Cristo sendo pressionado sobre eles por certos mestres místicos. Paulo, portanto, usou sua autoridade apostólica para refutar o erro e insistir na verdade. As coisas eram completamente diferentes em Filipos; não havia nada lá que exigisse o uso de seu apostolado, e assim escreve para eles como “servo” do Senhor.

É de se notar que Paulo disse que ele era um apóstolo “de Cristo Jesus”. (A KJV e a ARC dizem “Jesus Cristo”, mas deve ser traduzida por “Cristo Jesus”). Quando o título do Senhor (Cristo) é colocado antes do nome de Sua Humanidade (Jesus), refere-se a Ele como tendo completado a redenção e voltado ao céu como um Homem glorificado. Assim, Paulo estava indicando que ele recebeu seu apostolado de Cristo no céu (1 Co 9:1). Pedro, por outro lado, chama a si mesmo de apóstolo “de Jesus Cristo” (1 Pe 1:1; 2 Pe 1:1). Declarar o nome da Humanidade do Senhor (Jesus) antes de Seu título (Cristo) se refere a Ele como tendo descido do céu para glorificar a Deus em Sua morte. Consequentemente, Pedro recebeu seu apostolado do Senhor quando o Senhor estava aqui na Terra (Lc 6:13-16).

Paulo acrescenta: “Pela vontade de Deus”. Isso significa que seu apostolado não era algo que ele buscava e desejava ter; era algo que o Senhor havia escolhido para ele (At 9:15). Paulo inclui “Timóteo” na saudação, não porque ele fosse o coautor da epístola, mas porque ele dava testemunho da verdade que Paulo estava prestes a dar (2 Co 13:1).

Paulo se dirigiu aos colossenses como “santos e fiéis irmãos em Cristo” (ARA). Ser “santo”, no sentido em que ele estava falando aqui, é um resultado do que os crentes são diante de Deus por serem santificados pela fé na obra consumada de Cristo na cruz (Hb 10:10-14). (“Santificado” e “santidade” provêm da mesma palavra raiz no grego.) Este aspecto da santificação tem sido chamado de “santificação posicional”, porque se refere ao crente sendo separado da massa da humanidade para um lugar santo com Cristo. “Santo” significa “santificado” ou “separado”. Todos os santos são irmãos “santificados” em virtude do que Cristo realizou na redenção, mas nem todos podem ser irmãos “fiéis”. Isso mostra que existia certo estado de alma entre os colossenses que possibilitava que eles tirassem proveito da verdade que Paulo estava prestes a dar a eles. F. B. Hole disse: “Todos os crentes podem ser justamente chamados de irmãos ‘santos’ porque todos são ‘santos’ ou ‘santificados’, isto é, ‘separados para Deus’. Mas podemos todos ser chamados de ‘irmãos fiéis’? Estamos todos avançando com fé e fidelidade? Deixe-nos levar estas perguntas ao coração, pois o crente infiel provavelmente não apreciará muito nem entenderá a verdade revelada nesta epístola” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 89).

Além disso, Paulo fala dos santos colossenses como estando “em Cristo”. Como mencionado anteriormente, “Cristo Jesus” se refere ao Senhor como um homem glorificado à destra de Deus. Ao declarar que os santos estavam “em Cristo”, Paulo estava indicando que eles permaneciam, no que diz respeito à sua posição diante de Deus, no mesmo lugar de aceitação do próprio Cristo! Isso é admirável, mas é exatamente o que a graça fez. Simplificando, estar “em Cristo” é estar no lugar de Cristo diante de Deus. É a posição de todos os Cristãos, independentemente de seu estado de alma. Os santos do Velho Testamento são abençoados por Deus no céu, mas não se diz que eles tenham essa bênção e posição. Os crentes em outras eras são “aceitos com Ele” (At 10:35 – KJV, TB), mas somente os Cristãos são considerados “agradáveis… no Amado [Aceitos (em) n’Ele – KJV]! (Ef 1:6). Esta ligação com Cristo no alto é pela habitação interior do Espírito Santo nos crentes. Assim, a posição na qual os Cristãos estão diante de Deus é uma posição especial na família de Deus (ligada à filiação – Gl 3:26) que todos os outros em sua família não têm.

Paulo então diz: “Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Assim, um suprimento fresco da graça divina do alto estava sobre os colossenses (assim como é sobre todos os Cristãos), e assim podiam contar com a ajuda de Deus em ficarem juntos contra as incursões do novo ensinamento místico que estava surgindo.

Ação de Graças de Paulo

Vs. 3-8 – Paulo começa agradecendo a Deus pelos colossenses. Ele diz: “Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sempre por vós” (v. 3). Assim, queria que soubessem que ele apreciava a obra de graça de Deus neles e que estava orando por eles.

Vs. 4-5 – Em um esforço para ajudar os colossenses a reconquistarem um senso de união com Cristo como Cabeça do corpo – senso esse que eles perderam, ou estavam em perigo de perder – Paulo começou no ponto em que eles estavam espiritualmente e trabalhou a partir daí. Esta união, felizmente, nunca pode ser perdida, mas o sentido prático dela pode ser. Quando isso ocorre, os santos deixam de olhar para Cristo para todas as suas necessidades espirituais e, assim, não retêm a cabeça na prática (cap. 2:19 – TB). Em vez disso, eles começam a procurar outras coisas que acham que lhes darão satisfação espiritual. Isso, mais ou menos, era a situação dos colossenses. Eles estavam em perigo de ter suas mentes afastadas de Cristo e da sua porção n’Ele. Eles estavam, em alguma medida, fascinando-se com as ideias filosóficas transcendentais dos místicos, e pensavam que essas coisas preencheriam suas necessidades espirituais.

Começando onde ele percebeu que os colossenses estavam espiritualmente, Paulo menciona três virtudes Cristãs que eram evidentes entre eles – “fé”, “amor” e “esperança” – e os recomenda por essas coisas. Ele tinha “ouvido” isso por meio de notícia, não tendo ido pessoalmente a Colossos. Essas virtudes devem acompanhar cada conversão e devem ser vistas na vida de todo crente como evidência de que ele é verdadeiramente salvo. Essas três coisas estão agrupadas em pelo menos dez lugares no Novo Testamento (1 Co 13:13; Gl 5:5-6; Ef 1:15-18, 4:2-5; Cl 1:4-5; 1 Ts 1:3, 5:8; Hb 6:9-12; 1 Pe 1:3-8, 21-22) e são vistas na Escritura como essenciais para o crescimento espiritual e o viver prático Cristão. Elas são as fontes que energizam a vida de um Cristão e fazem com que ele viva por coisas invisíveis e eternas, pelas quais sua fé abraçou.

A deles era “em Cristo Jesus” que está à destra de Deus no céu e o amor deles era para com “todos os santos” na Terra. Isso mostra que o amor deles, como o dos efésios (Ef 1:15), não foi estreitado em si mesmo. Eles amavam todo o povo de Deus, e isso é louvável. Devemos ter o mesmo amor por todos os Cristãos – não apenas por aqueles com quem nos encontramos no mesmo terreno de reunião. Podemos não ser capazes, por causa de boa consciência, de andar em comunhão com todos os Cristãos por conta de alguns que sustentam má doutrina (2 Jo 9-11; 2 Tm 2:16-21) e outros que estão na prática de mal moral (1 Co 5:11; 2 Tm 3:1-5), mas ainda podemos amar todos os santos de Deus e orar por eles.

Os colossenses também estavam vivendo em vista de sua esperança de estar “no céu”. Isso também era louvável. Eles foram marcados por sua firme espera pelo retorno do Senhor. Ao dizer: “Por causa da esperança”, Paulo sugere que o amor deles por todos os santos era porque sabiam que todos os santos compartilhavam a mesma esperança comum de estar juntos no céu. Essa “esperança” diante deles produziu afeições corretas para com o povo de Deus os quais estarão todos juntos um dia. Na Escritura, a esperança não é usada da mesma maneira que no vernáculo comum da linguagem de hoje. Usamos a palavra em nossos dias para nos referirmos a algo que gostaríamos de ver acontecer, mas não temos garantia de que isso acontecerá. Na Bíblia, a esperança é uma certeza adiada; tem expectativa com segurança relacionada a ela. Assim, temos a certeza de que o Senhor virá porque a Escritura nos diz que Ele virá novamente para nos receber para Si mesmo (Jo 14:2-3). Essas três virtudes mostraram que os colossenses no geral estavam em bom estado.

Vs. 6 – Além disso, visto que o evangelho primeiro veio a eles e eles o receberam em fé, ele estava “produzindo fruto e crescendo” (ARA). Isso significa que eles mesmos não apenas acreditaram nas boas novas, mas também estavam compartilhando-as com os outros, e essas pessoas estavam sendo salvas também. Este foi outro sinal de que os colossenses no geral estavam em um estado saudável.

Ao dizer que o evangelho estava “em todo o mundo”, Paulo não estava querendo dizer que cada pessoa no mundo havia ouvido o evangelho, mas que pessoas de “todas as nações que estão debaixo do céu” no mundo habitável estavam ouvindo isso (At 2:5). O uso de Paulo do artigo “as” aqui no versículo 6 indica que os colossenses tinham ouvido a mesma mensagem de graça que estava sendo pregada em outras partes do mundo. E, em cada lugar em que foi anunciada, não havia a menor indicação dada a alguém de que precisavam buscar conhecimento superior além do qual os apóstolos lhes haviam transmitido.

Duas Esferas do Conhecimento Divino

Nos próximos versos, Paulo menciona duas esferas de conhecimento divino que devem governar os santos. Ele fala de:

- Conhecer “a graça de Deus em verdade” (v. 6) e; - Crescer no “pleno conhecimento de Deus” e de “Sua vontade” (vs. 9-10 – TB).

W. Kelly disse: “Conhecer a graça de Deus em verdade não é a mesma coisa que ser enchido com o conhecimento ou pleno conhecimento de Sua vontade” (Lectures on Colossians, pág. 89). A primeira delas tem a ver com a verdade do evangelho (v. 6) e a segunda refere-se à verdade do Mistério exibida no andar dos santos (vs. 9-10). Essas coisas estão intimamente conectadas, e entender ambas é necessário para “estabelecer” o crente (Rm 16:25 – JND). Ter conhecimento do perdão dos pecados e de ser justificado pela fé não é o objetivo final do evangelho. Pelo contrário, seu objetivo é que o crente seja inteligente quanto ao propósito de Deus em conexão com a manifestação da glória de Cristo na Igreja, e isto, para que ele possa ser encontrado promovendo a glória de Cristo neste mundo. Isto é o que é desvendado no Mistério.

É significativo que Paulo considera os colossenses como tendo um entendimento da graça de Deus no evangelho, mas não como tendo o conhecimento da vontade de Deus no Mistério. O fato de ele orar que eles fossem enchidos com esse conhecimento mostra claramente que eles não estavam assim ainda. Aqui está o ponto crucial do problema com os colossenses. Eles haviam recebido e crido no evangelho, mas eram deficientes no seu entendimento do Mistério. O inimigo havia notado isso e estava trabalhando por meio de falsos mestres para seduzi-los, se possível, a pensar que precisavam buscar a uma verdade mais elevada. Se os colossenses tivessem sido estabelecidos na verdade do Mistério, eles saberiam que os clamores desses místicos eram falsos, pois pelo Mistério haviam recebido **“**todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2:3).

Os colossenses não estão sozinhos nessa deficiência. Muitos Cristãos hoje conhecem a verdade do evangelho e creram nisto, mas não estão esclarecidos quanto ao Mistério, o qual explica a verdadeira natureza e o chamado da Igreja como uma companhia especial de pessoas abençoadas que reinarão no céu com Cristo. A maioria tem a ideia dos antigos reformadores de fundir os peculiares chamados de Israel e da Igreja em um só, conhecido como “Teologia do Pacto”. Consequentemente, eles têm uma visão completamente diferente e errônea do plano de Deus para publicamente glorificar Seu Filho no mundo vindouro. As ramificações práticas dessas doutrinas “de pactos (alianças)” são tais que os Cristãos não entendem seu verdadeiro chamado e serviço ao Senhor. Como resultado, ao invés de tentar colocar a verdade do Mistério em prática como os Cristãos deveriam, eles estão se envolvendo nos assuntos políticos deste mundo e estão tentando endireitar o mundo por meio de vários programas e protestos, etc. Eles sinceramente acreditam que é seu dever envolver-se nessas causas. Este é um exemplo clássico de como nossa doutrina afeta nossa prática – seja para o mal ou para o bem.

V. 7 – O evangelho da graça de Deus alcançou os colossenses por meio de Epafras. Paulo recomenda veementemente seu ministério para os santos de Colossos, falando dele como “nosso amado conservo, que para vós é um fiel ministro de Cristo”. Epafras havia anunciado o evangelho aos colossenses e trabalhava fervorosamente em oração por eles (Cl 4:12-13). Recomendando Epafras como fez, Paulo procurou fortalecer a confiança dos colossenses nele, e assim assegurar-lhes que o que Epafras lhes havia ensinado era a verdade, e que eles precisavam continuar no que ele havia dado, sem procurar por algo novo.

V. 8 – Epafras também relatou a Paulo o genuíno “amor no Espírito” deles. O Espírito de Deus produziu neles aqueles sentimentos divinos. É significativo que o Espírito Santo seja mencionado apenas esta única vez na epístola e ainda, de passagem. Isto é bem diferente de Efésios, onde não há um capítulo sequer onde a Pessoa do Espírito Santo não seja mencionada como tendo uma parte integral na obra de Deus nas almas, revelando a verdade, etc. A razão para isto é que o Espírito está tão concentrado em glorificar a Cristo e voltar o foco dos santos colossenses para Ele, que Ele propositadamente Se mantém fora da cena (Jo 16:13-14). Além disso, devido à natureza do ensinamento que vinha dos falsos mestres, que ocupavam pessoas com coisas místicas invisíveis, insistir na obra do Espírito (que é invisível) poderia muito bem ter encorajado os colossenses em uma direção errada. O apóstolo, portanto, propositalmente não aborda a obra do Espírito nesta epístola, mas sabiamente não a destaca, e assim esperou por outro tempo para falar com eles sobre a obra do Espírito.

Oração de Paulo

Vs. 9-14 – O relato de Epafras a respeito dos colossenses não apenas levou o apóstolo à ação de graças, mas também a fervorosa oração por eles. Tendo sido informado de seu estado, o apóstolo faz saber quais desejos ele tinha para com eles, por reiterar ao escrever-lhes uma oração típica sua. Talvez não haja maior serviço que possamos fazer pelos santos de Deus do que orar por eles. Paulo é um grande exemplo disso, como podemos ver o amplo espaço que ele dá à oração em suas epístolas. Epafras é outro exemplo (Cl 4:12). Este, obviamente, não deve ser o nosso único serviço para os santos, mas é onde o nosso serviço deve começar.

Em sua oração, Paulo enfatiza a profundidade e a abrangência de seus pedidos a respeito da verdade e de sua prática, usando repetidamente superlativos como: “cheios”, “toda” e “tudo”. A oração consiste em quatro pedidos principais:

1) Que eles pudessem ser “cheios do pleno conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual” (v. 9). Assim como na epístola aos Efésios, a vontade de Deus é proeminente nesta epístola (Ef 1:1, 5, 9, 11, 5:17, 6:6; Cl 1:1, 9, 4:12). Apesar disso, um aspecto diferente da vontade de Deus está em vista nesta epístola. Em Efésios, é “o Mistério da Sua vontade” (Ef 1:9), que tem a ver com o propósito de Deus de trazer Cristo e a Igreja em manifestação na dispensação da plenitude dos tempos no mundo vindouro (Ef 1:10, 2:7). Considerando que, em Colossenses, é a prática da vontade de Deus nos santos em conexão com a verdade do Mistério, para que houvesse uma manifestação presente de Cristo e da Igreja neste mundo (Cl 1:26-27).

Neste primeiro pedido de oração, Paulo menciona três coisas relacionadas ao aprendizado e à aplicação da grande verdade do Mistério:

- “Conhecimento” – Isso tem a ver com ter uma apreensão intelectual da verdade. Desde que as Escrituras do Novo Testamento foram escritas, onde o Mistério foi revelado, este conhecimento pode ser adquirido por meio de um estudo cuidadoso das epístolas – especialmente Efésios e Colossenses. - “Sabedoria” – Isso tem a ver com a aplicação do conhecimento do Mistério na prática. Isso é amplamente adquirido por meio da oração. - “Entendimento espiritual” – Isso se refere a ter discernimento espiritual para entender a mente de Deus revelada pelo Espírito Santo. É adquirido por meio da reflexão e meditação na presença do Senhor.

Alguns resumiram essas três coisas como: “C” (conhecimento) + “S” (sabedoria) = “E” (entendimento) – mas isso pode ser uma explicação excessivamente simplista de como essas coisas se interconectam umas com as outras.

O aspecto da vontade de Deus a que Paulo se refere no versículo 9 não é exatamente conhecer a mente do Senhor em assuntos práticos na vida cotidiana – ou seja, onde devemos morar, que tipo de emprego procurar, que casa ou carro comprar, etc. A oração de Paulo aqui tem a ver com os santos tendo um pleno entendimento da vontade de Deus a respeito da efetivação da verdade do Mistério. Se esses queridos santos colossenses entendessem isso, eles saberiam imediatamente que a mistura de filosofia, judaísmo e misticismo que estava sendo propagada naquela região era falsa. Assim, a maior salvaguarda contra o erro é um conhecimento íntimo da verdade. Então, quando o erro se apresenta, ele será facilmente identificado como tal e imediatamente rejeitado.

2) Para que pudessem “andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no [verdadeiro – JND] conhecimento de Deus” (v. 10). Vemos disto que o segundo pedido de oração de Paulo pelos santos foi que ao serem cheios de conhecimento, sabedoria e entendimento, eles não usariam essas três coisas para competir com os filósofos de seus dias no palco do intelectualismo, mas sim, que eles iriam “andar” agradando ao Senhor.

Isso mostra que o motivo para aprender a verdade nunca é para alguém mostrar seu conhecimento. Aprender a verdade sempre tem em vista a sua colocação em prática em nossa vida. No entanto, isso não será possível sem que primeiro saibamos qual é a Sua vontade. Muito naturalmente, então, este segundo item na oração de Paulo provém do primeiro. O ponto chave aqui é que a verdade do Mistério deve governar nossa caminhada. Andar digno é mencionado pelo menos quatro vezes nas epístolas de Paulo:

- Andar “de uma maneira digna de Deus” (1 Ts 2:12 – TB). - Andar “de uma maneira digna do Senhor” (Cl 1:10 – TB). - Andar “duma maneira digna do evangelho” (Fp 1:27 – TB). - Andar “de uma maneira digna da vocação com que fomos chamados” (Ef 4:1 – TB).

A prática da verdade é tão importante quanto aprendê-la. Assim, o conhecimento da verdade deve resultar em “frutificando em toda a boa obra”. Ao andarmos na verdade do Mistério de acordo com a vontade de Deus, cresceremos “no verdadeiro conhecimento de Deus”. Isso equivale ao “entendimento” a que Paulo se referiu no versículo 9.

3) Que eles fossem “Corroborados em toda a fortaleza [poder – JND], segundo a força da Sua glória, em toda a paciência [perseverança – ARA], e longanimidade1 com gozo”.

Poderíamos supor que orar pelos santos para serem dotados de poder divino, como Paulo faz aqui, seria em vista deles realizando obras poderosas no serviço, como as registradas nos primeiros capítulos do livro de Atos. Mas não é assim; foi para dar-lhes força para resistir à oposição e à perseguição que certamente encontrariam ao colocar em prática a verdade do Mistério. Assim, Paulo orou para que eles tivessem paciência “perseverante e longânime”, porque precisariam dela vivendo em um mundo que é oposto a Cristo.

Isso mostra que, se andarmos na plena verdade revelada de Deus e exibirmos o caráter de Cristo em nossas vidas, atrairemos o ódio do mundo. O mundo odeia a Cristo e, se exibirmos a Cristo, ele também nos odiará (Jo 15:18-20). O fortalecimento dos santos para esse tipo de oposição é, portanto, necessário. Por isso, Paulo ora para que os santos tenham “poder” de Deus, não para fazer alguma grande obra para Cristo, mas para sofrer por Cristo. Ele acrescenta que a nossa perseverança e longanimidade é para ser “com gozo”. Receber pacientemente a agressão do mundo é bom e aceitável (1 Pe 2:20), mas suportá-la com gozo é melhor. Isso faz com que o nosso rosto brilhe (1 Pe 4:14), e isso produz um poderoso testemunho para todos. Um mártir Cristão morrendo em chamas numa estaca, e fazendo isso com gozo, é uma manifestação desse tipo de força divina.

4) Que eles fossem enchidos com o espírito de ação de graças e louvor. Paulo diz: “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança [compartilhar a porção – JND] dos santos na luz**; O Qual nos tirou da potestade (poder) das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu** amor**; Em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a saber, a remissão dos pecados”** (vs. 12-14). Assim, ele orou para que os santos fossem encontrados em um espírito de gratidão pela presente **“porção”** na qual eles haviam sido trazidos pela graça. Ele menciona **“o Pai”**, que é a Fonte de todas as bênçãos; e **“o Filho do Seu amor”**, que é o Canal pelo qual a bênção chegou até nós; e um **“reino”** no qual fomos trazidos e que é governado pela **“luz”** e **“amor”** divinos. Que lugar maravilhoso para se estar! Isso certamente demanda ações de graça e louvor.

Entramos no reino pelo novo nascimento (Jo 3:5), mas o novo nascimento em si não nos torna “adequados” para essa porção abençoada em Cristo. Nós precisamos de algo mais; precisamos estar descansando por fé na obra consumada de Cristo e selados com o Espírito Santo (Ef 1:13). Isso nos leva à nossa plena posição Cristã diante de Deus (Rm 8:9). J. N. Darby disse: “Assim somos ensinados nesse versículo (12) de Colossenses 1, ‘Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz’. Um homem nascido de novo não o faz adequado; ser vivificado faz com que ele sinta a necessidade disso; há outra coisa necessária que o torna adequado à glória, e essa é a obra de Cristo em graça” (Collected Writings, vol. 21, pág. 193).

A “porção” a que Paulo se refere aqui é todo o escopo de nossas bênçãos celestiais em Cristo. É uma herança de coisas espirituais, enquanto que em Efésios 1, a herança são coisas materiais desta criação nos céus e na Terra (Ef 1:11, 14, 18). Assim, há dois aspectos para a herança Cristã no Novo Testamento. Atos 26:18, Cl 1:12 e 1 Pedro 1:4 referem-se ao lado espiritual em Cristo “no céu”. J. N. Darby falou deste aspecto da herança como sendo “sobre nossas cabeças” (nos lugares celestiais), porque essas referências veem o crente como um peregrino trilhando o caminho da fé na Terra. Em contraste com isso, o Sr. Darby falou do aspecto de Efésios como algo que se estende “sob nossos pés”. Isso porque, nessa epístola, o crente é visto como assentado em lugares celestiais em Cristo (Ef 2:6) e tudo no universo está sob ele – até mesmo os seres angélicos (Ef 1:20-21). O Sr. Darby distinguiu esses dois aspectos da seguinte forma: “A herança é a herança de todas as coisas que Cristo criou. Mas em 1 Pedro, ou em Colossenses 1, a coisa está no céu “(Notes and Jottings, pág. 101). Para ajudar a distinguir estas duas coisas, a sua tradução da Bíblia traduz o lado espiritual como “porção” e o lado material como “herança”.

Para que nos tornássemos aptos para essa grande bênção, a libertação tinha que nos alcançar. As garras de Satanás sobre as almas perdidas são referidas aqui como “o poder das trevas” (Lc 22:53; At 26:18; Ef 6:12). Mas o grande poder e graça de Deus nos “libertou” (ARA) disso e nos “transportou” para “o reino do Filho do Seu amor”. Há pelo menos dez aspectos diferentes do reino mencionados na Escritura. Nesta passagem, tem a ver com o fato de estarmos em uma esfera de privilégio na qual vivemos em comunhão com o Pai e o Filho, e desfrutamos de Suas afeições. Assim, neste reino, somos amados por Deus tanto quanto Ele ama Seu próprio Filho! (Jo 17:23)

É no Filho do Seu amor que temos a nossa “redenção”. Para que nos tornássemos aptos para este reino, um “resgate” tinha que ser pago, e isto foi feito na obra consumada de Cristo na cruz (Mt 20:28; 1 Tm 2:6). Redenção significa que o crente foi “comprado de volta” para Deus e “libertado” das consequências de seus pecados, do poder do pecado e de Satanás. Por isso, Paulo acrescenta: “a saber, a remissão (perdão) dos pecados”. Isso significa que uma liberação total do julgamento eterno de nossos pecados nos foi concedida! A expressão “pelo Seu sangue”, encontrada nas versões King James, Almeida Corrigida e Almeida Fiel tem pouca autoridade de manuscrito e, na verdade, não deveria estar no texto porque a ênfase na passagem está na Pessoa que realizou a obra, e não na grandeza da obra – que virá mais tarde no capítulo.

AS GLÓRIAS DO FILHO EM QUEM TEMOS A REDENÇÃO

Vs. 15-22 – Como mencionado anteriormente, os santos colossenses precisavam entender a plenitude que reside em Cristo. Se eles pudessem ver que tudo o que precisavam estava n’Ele, não pensariam procurar nada em qualquer outro lugar para preencher suas necessidades espirituais. Isso os livraria de dar ouvidos aos instrutores místicos que circulavam em sua região.

Tendo nos apresentado o Filho em Seu relacionamento com o Pai – sendo o Objeto do afeto de Seu Pai – Paulo agora se ocupa da glória do Filho, de modo que Ele Se tornasse o grande Objeto dos afetos de nossos corações também. Quem então é “o Filho do Seu amor” em Quem temos a redenção? Sob a direção do Espírito Santo, Paulo responde a isso com uma grande apresentação da Pessoa e obra de Cristo. Em uma tentativa de acrescentar verdade aos santos em relação a Cristo, os místicos realmente haviam diminuído Sua glória com declarações de pura blasfêmia. Paulo, por outro lado, coloca diante de nós as glórias de Cristo e magnifica a grandeza de Sua Pessoa. Isso confirma a velha máxima de que todo ministério verdadeiro que vem de Deus exaltará a Cristo.

Usando a tipologia na conquista da terra de Canaã por Israel, temos diante de nós, nesta próxima série de versículos, o antítipo da visão que Josué viu do “Príncipe do Exército do Senhor” (Js 5:13-15). Este glorioso e poderoso Capitão encontrou Josué em Jericó e anunciou que Ele havia vindo para levar os filhos de Israel à sua herança prometida em Canaã. Da mesma forma, nesta passagem nos é dado um vislumbre da gloriosa Pessoa de Cristo como aqu’Ele que conduz os santos ao conhecimento e gozo de sua porção celestial de bênção – da qual Canaã é um tipo. Com uma Pessoa tão grande diante dele, Josué “se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou”. O Capitão lhe disse: “Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo”. Da mesma forma, quando tocamos o assunto da Pessoa de Cristo, como fazemos neste capítulo, precisamos nos lembrar de que também estamos em solo sagrado, e ser cuidadosos na maneira como lidamos com esse grande assunto. Este capítulo é um dos três primeiros capítulos em nossas Bíblias que magnificam as glórias da Pessoa de Cristo – João 1, Colossenses 1 e Hebreus 1.

Paulo dirige nossa atenção para a glória de Cristo de três maneiras: em relação a Deus, em relação à criação e em relação aos crentes.

EM RELAÇÃO A DEUS (v. 15a)

A primeira coisa que Paulo declara sobre a grandeza e glória de Cristo é que Ele é “a imagem do Deus invisível”. Isso se refere à Sua glória essencial em deidade2. Na Escritura, “imagem” tem a ver com algo ou alguém representando outra pessoa (Lc 20:24). O homem, sendo criado à imagem de Deus (Gn 1:26-27) foi colocado no lugar de representante de Deus na Terra. Mas ele caiu e a imagem foi desfigurada. Embora caído, o homem ainda é à imagem de Deus (Gn 9:6; 1 Co 11:7) e, portanto, ainda responsável por representar a Deus – mas, infelizmente, ele o faz muito mal. Cristo, por outro lado, representa perfeitamente a Deus. O verdadeiro caráter de Deus foi perfeitamente trazido à manifestação em Sua vida na Terra como uma representação viva de Deus. Sendo divino, Ele é “a imagem expressa de Sua pessoa” (Hb 1:3). Isto confirma Sua deidade, pois ninguém menos que uma Pessoa divina pode revelar completamente e representar perfeitamente outra Pessoa divina.

Como Deus é “invisível”, é impossível para qualquer criatura vê-Lo. Para revelar Deus como Pai, uma Pessoa divina (Cristo) teve que descer de Deus para revelar Seu verdadeiro caráter de luz e amor. Assim, é em Cristo, o Filho de Deus, que vemos Quem é Deus. “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, Este O fez conhecer [O declarou – JND] (Jo 1:18; 14:9).

É interessante e instrutivo notar que das duas coisas que a Escritura diz sobre o homem quando ele foi criado (sendo feito à “imagem” e “semelhança” de Deus), quando se trata de Cristo, a Escritura diz que Ele é a “imagem” de Deus (2 Co 4:4), mas não diz que Ele era “semelhança de Deus”. A razão para isso é que Cristo não é como Deus – Ele é Deus (Jo 1:1). Dizer que Ele era como Deus poderia implicar que Ele não era Deus. Ele foi “feito carne” (Jo 1:14), mas Ele nunca foi feito Deus, pois Ele sempre existiu na Divindade. A Escritura diz que Cristo foi “feito semelhante aos homens” (Fp 2:7 – TB; Rm 8:3). Isto é, Ele era como o homem constitucionalmente, tendo um espírito humano (Jo 13:21), uma alma humana (Jo 12:27) e um corpo humano (Hb 10:5). Nesse sentido, Ele foi “semelhante a Seus irmãos” (Hb 2:17). No entanto, Ele não era como o homem moralmente. Ao Se tornar um Homem, Ele não tomou a carne humana pecaminosa em união Consigo mesmo. Ele era “sem pecado [pecado aparte3 – JND] (Hb 4:15). Isto significa que Ele era sem a natureza pecaminosa caída. O Senhor Jesus Cristo ainda é um Homem hoje em um estado glorificado à destra de Deus nas alturas.

EM RELAÇÃO À CRIAÇÃO (vs. 15b-17)

Quanto a todo o universo, Cristo não é nada menos que o Criador de todo ele! Paulo diz que Ele é o “Primogênito de toda a criação” e explica por que: “Porque n’Ele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele”. Assim, a criação exibe a glória criacional de Cristo (Sl 19:1-3).

Alguns têm pensado que “Primogênito de toda a criação” significa que o Senhor foi o primeiro ser criado por Deus. Mas não é assim que o termo “Primogênito” é usado na Escritura. Nela o termo não tem nada a ver com ser o primeiro em ordem de nascimento. É verdade que o Senhor foi o primeiro a nascer na família de José e Maria (Mt 1:25), mas não é isso o que esse termo significa. Pelo contrário, é usado para indicar a posição de uma pessoa acima dos outros – sendo primeiro em posição e, portanto, tendo preeminência sobre os outros (Êx 4:22; Rm 8:29; Hb 12:23). Por exemplo: Davi não foi o primeiro a nascer na família de Jessé (1 Cr 2:13-15), mas o Senhor o chamou de “primogênito” (Sl 89:27). Da mesma forma, Efraim não foi o primeiro a nascer na família de José (Gn 48:14), mas o Senhor o chamou de seu “primogênito” (Jr 31:9).

Cristo, ao entrar em Sua criação, sendo Quem Ele era (Deus “manifestado em carne” – 1 Tm 3:16) não poderia ter outro lugar além daquele de “Primogênito”. Quando esteve aqui neste mundo, o Senhor não insistiu em Seus direitos como Primogênito – o que Ele fará num dia vindouro, quando tomar posse da herança de todas as coisas criadas na Sua Aparição. Mas Ele tinha esses direitos, e aqueles com fé reconheciam isso.

Essa passagem mostra claramente que Cristo é o Criador de “todas as coisas”. Muitas outras passagens confirmam isso (Jo 1:3, 10; Ef 3:9; Hb 1:2, 10; Ap 4:11). A Bíblia diz: “No princípio criou Deus os céus e a Terra” (Gn 1:1). “Deus” (Elohim) é plural, significando que todas as três Pessoas na Divindade participaram dessa obra de criação. Da mesma forma, “Criador”, como usado em Eclesiastes 12:1, é plural. Mas quando uma Pessoa na Divindade é selecionada como o Criador, é sempre o Filho. Tal é o caso aqui em Colossenses 1.

Qualificando “todas as coisas” que o Senhor criou, Paulo diz: “visíveis e invisíveis”. Isso indica os dois grupos que compõem as coisas criadas. Não é por coincidência que Paulo menciona coisas invisíveis aqui, pois era esse lado das coisas que fascinava os colossenses. Eles precisavam saber que Cristo era o Criador de todas essas coisas invisíveis, e sendo o Criador delas significava que Ele era superior a elas. Por que, então, ficar enamorados por essas coisas quando fomos trazidos para o reino do Filho do Seu amor e temos o privilégio de ter comunhão com o próprio Criador? Não tem sentido buscar as coisas que o Criador criou em vez do próprio Criador. Entender isso serviria para impedir que os colossenses se movessem na direção de coisas místicas.

Da mesma forma, não é uma coincidência que Paulo menciona “tronos, dominações, principados ou potestades”. Estas são criaturas angélicas invisíveis em várias classes e capacidades, todas as quais foram criadas por Cristo. Os místicos estavam ensinando que os crentes deveriam adorar essas criaturas (cap. 2:18). Mas por que os Cristãos devem buscar e adorar os anjos, quando eles têm o próprio Criador para adorar?

“Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele”. Essa declaração mostra que, sendo uma Pessoa divina e eterna, Cristo existe fora do tempo. O uso do tempo presente “é” indica isso. Compare com Jo 8:58. O fato de que todas as coisas “subsistem” por Ele mostra que Ele não é apenas o Criador do universo, mas que Ele também é o Sustentador do universo. Mesmo quando Ele andava aqui como um homem humilde, a existência do universo dependia d’Ele! Isso é realmente surpreendente. O escritor de hinos afirmou este fato da seguinte forma:

Tu semblante transcendente!

Tu, Sol Criador de Vida!

Para mundos dependentes de ti –

Embora ferido e cuspido na face

The Little Flock nº 119

A glória de Cristo na criação é uma glória adquirida; Ele a adquiriu criando os céus e a Terra. Existem três preposições diferentes usadas aqui para transmitir três pensamentos diferentes quanto a Cristo e à criação:

- “N’Ele” significa que toda força criadora (poder) reside n’Ele. - “Por Ele” significa que Ele é o instrumento ativo (agente) pelo qual o poder divino age. - “Para Ele” significa que Ele é o fim divino para o qual tudo foi feito; é para o Seu prazer (Ap 4:11).

EM RELAÇÃO AOS CRENTES (vs. 18-22)

Paulo continua a apresentar as glórias de Cristo em conexão com os crentes. O versículo 18 mostra que Deus agiu na cena da morte (em ressurreição) com o propósito de trazer os crentes a um relacionamento com a Divindade, para que pudessem desfrutar do que Ele desfrutava em Seu amado Filho. Em virtude de Sua ressurreição e ascensão no alto, Cristo Se tornou “a Cabeça do corpo” e “o Primogênito de entre os mortos” (ARA). Assim, Ele tem uma glória eclesiástica como Cabeça do corpo e a glória da preeminência em conexão com Seu lugar na raça da nova criação. Os crentes, portanto, têm uma ligação dupla com Cristo à destra de Deus.

Primeiramente, somos vistos na Escritura como “membros” do corpo de Cristo, do qual Ele é a Cabeça (Rm 12:5; 1 Co 12:12-13). Esta ligação com Ele foi feita quando Ele subiu à destra de Deus e enviou o Espírito Santo para habitar nos crentes (At 2). Em segundo lugar, somos vistos na Escritura como “irmãos” na nova raça da criação dos homens, da qual Cristo é o Primogênito (Rm 8:29; 2 Co 5:17; Gl 3:28-29, 6:15; Ef 2:10, 4:24; Cl 3:10-11; Hb 2:12-13; Ap 3:14) Essa ligação com Cristo foi estabelecida depois que Ele ressuscitou dos mortos e soprou nos discípulos dizendo: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20:22). Assim, Ele é “o Princípio” de uma raça completamente nova de homens (Ap 3:14), e como Primogênito nessa raça, Ele deve ter a “preeminência” em todas as coisas. (Cristo como Primogênito dos mortos no verso 18 não deve ser confundido com Cristo como Primogênito de toda a criação no verso 15. Estas são duas esferas diferentes de primazia. Como Primogênito de toda a criação, Ele é a Cabeça da criação natural; Como Primogênito dentre os mortos, Ele é o Cabeça da nova criação).

Esses dois elos com Cristo no alto são indicados por duas expressões nas epístolas de Paulo. Elas são:

- “O Cristo” – Isso geralmente se refere aos membros do corpo e à Cabeça sendo unidos em uma unidade (união), onde são encontradas nossas bênçãos e privilégios coletivos na adoração e no ministério, capacitados pelo Espírito Santo (1 Co 12:12-13, Ef 1:10, etc. – JND). - “Em Cristo” – Isso indica nossa ligação com Cristo como Seus irmãos na raça da nova criação (2 Co 5:17, etc.), onde estão nossas bênçãos individuais (Ef 1:3).

A Encarnação de Cristo

V. 19 – Tendo estabelecido a glória da Pessoa de Cristo como a Imagem de Deus, o Primogênito de toda a criação, o Cabeça da Igreja e o Primogênito da nova criação, Paulo volta nossa atenção para as maiores glórias de Cristo – aquelas que têm a ver com Ele Se tornando um Homem e morrendo na cruz.

Para estabelecer estas glórias, Paulo nos leva de volta à encarnação de Cristo, quando Ele tomou a Humanidade em união com a Sua Pessoa e Se tornou um Homem (João 1:14; 1 Tm 3:16). Isso era necessário, pois para que permanecesse no lugar do Homem como Emissário do pecado deles e realizar a redenção, Ele tinha que Se tornar um homem. Como homem, “toda a plenitude da Divindade teve prazer em habitar” n’Ele (JND). As três Pessoas da Divindade estavam n’Ele em vida e em propósito (Jo 1:32, 14:10), e como resultado, cada palavra e ação d’Ele “agradou” ao Pai (Mt 3:17; Jo 8:29) e foi “justificado no Espírito” (1 Tm 3:16 – ARF). Assim, a encarnação trouxe a glória moral de Cristo à vista.

Sua encarnação trouxe Deus em proximidade com o homem. Por meio dela aqu’Ele que é infinitamente alto Se tornou intimamente próximo! (1 Jo 1:1-2) A vida e ministério de Cristo na Terra, que era “cheio de graça e verdade”, deu aos homens a oportunidade de ver Quem é Deus em caráter moral (Jo 1:14). Houve uma demonstração perfeita de graça moral entre os homens, porque Cristo glorificou a Deus em tudo o que Ele disse e fez (Jo 17:4). Enquanto caminhava neste mundo, Sua glória moral brilhou em todas as direções; era algo que não podia ser escondido.

A Cruz de Cristo

V. 20a – Paulo então prossegue com outra grande glória de Cristo em conexão com Sua morte – Sua glória redentora. Essa é uma glória que o Senhor adquiriu ao ir à cruz e glorificar a Deus em relação a toda a questão do pecado. Paulo diz que Ele fez “a paz pelo sangue da Sua cruz”. A encarnação não poderia trazer nossa união com Cristo em Seu corpo, nem poderia nos tornar parte da raça da nova criação. Como mencionado anteriormente, esses elos em que somos abençoados com Cristo não puderam ser estabelecidos até que Ele ressuscitasse dos mortos e fosse elevado ao alto. Nem a encarnação de Cristo poderia trazer o homem, que se afastou de Deus, de volta a Ele. Nenhuma quantidade de glória moral manifestada na vida perfeita de Cristo poderia trazer o homem de volta. Falando reverentemente, toda a plenitude da Divindade que habita em Cristo, por maior que fosse, não poderia realizar isso. Um trabalho mais profundo era necessário, e é isso que vemos na morte de Cristo na cruz. Ele fez a paz por meio do sangue da Sua cruz, e ali estabeleceu o fundamento para a bênção chegar ao homem e para o homem ser reconciliado a Deus (1 Pedro 3:18).

É importante entender que a obra de Cristo na cruz cuidou mais do que apenas os pecados dos crentes. Ele provou a morte por “todas as coisas” (Hb 2:9 – JND). Isso significa que Sua morte na cruz pagou o preço por cada efeito que o pecado causou na criação. Por meio de Sua obra na cruz, Ele comprou “o campo” (o mundo) e tudo o que existe nele (Mt 13:38, 44). Ele agora tem o título e o direito de tudo como sendo Sua “possessão adquirida” e Ele aguarda para redimi-la (Ef 1:14 – TB). Este aspecto da obra de Cristo na cruz de provar a morte por todas as coisas é chamado de “propiciação” (Rm 3:25; Hb 2:17; 1 Jo 2:2, 4:10). Tem a ver com a vindicação da natureza santa de Deus em relação à manifestação do pecado, oferecendo uma satisfação completa às reivindicações da justiça divina por tudo isso.

Como a “paz” foi feita pelo sangue da cruz, ninguém está sendo solicitado a “fazer as pazes com Deus” (como dizem erroneamente os homens), porque já foi feita por Cristo. Os homens não podiam fazer isso, mesmo que lhes fosse pedido que fizessem! Tendo Cristo assegurado paz para todos não significa que todos sejam justificados e tenham “paz com Deus” (Rm 5:1). Para ter isto, deve-se crer em nosso Senhor Jesus Cristo e descansar pela fé em Sua obra consumada. A paz sendo feita pelo sangue da cruz significa que o preço foi pago e a obra foi aceita, e o caminho foi aberto para Deus anunciar ao mundo: “Vinde, porque tudo já está preparado” (Lc 14:17). Assim, a obra consumada de Cristo na cruz deu a Deus uma base justa para oferecer perdão e bênção a todos os que creem no evangelho.

Reconciliação - Dois Aspectos

Vs. 20b-22 – Ao colocar diante dos santos a grandeza da obra de Cristo na cruz, Paulo é guiado pelo Espírito a se concentrar no mais amplo e mais abrangente alcance de todas as obras de Deus em graça – a reconciliação. Ele explica que o propósito de Deus em fazer a paz pelo sangue da cruz era “reconciliar todas as coisas a Si mesmo [a Ela mesma (a Divindade) – JND**]”; tendo feito paz pelo sangue da Sua cruz; por Ele, digo, quer as coisas sobre a Terra, quer as nos céus. Vós, sendo outrora alienados e inimigos no vosso entendimento pelas vossas más obras, contudo agora vos reconciliou no corpo da Sua carne pela Sua morte, para vos apresentar santos e sem defeito** [**irrepreensíveis** – ARA] **e inculpáveis perante Ele [Ela]”** (TB). Reconciliação tem a ver com Deus trazendo de volta a harmonia e comunhão Consigo mesmo tudo o que se afastou d’Ele por causa do pecado. Assim, a morte de Cristo é vista aqui como a que estabeleceu as bases para uma reconciliação dupla a ser efetuada – de todas as _coisas_ na Terra e nos céus (v. 20), e de todas as _pessoas_ que creem no evangelho (v. 21).

A Reconciliação de Todas as Coisas

V. 20b – A reconciliação de “todas as coisas” é mencionada primeiro. Tem a ver com o estabelecimento de todas as coisas corretamente em relação a Deus. Toda a criação foi arruinada pelo pecado e necessita de purificação (Jó 15:15; Hb 9:23) e redenção (Ef 1:14), e ser trazida de volta a Deus para que possa ser usada para o propósito para o qual foi criada. Embora a criação esteja definitivamente arruinada pelo pecado, ela não é culpada. Ela não entrou em seu estado decaído por um ato de sua própria vontade (Rm 8:20). No entanto, está atualmente sob o “cativeiro da corrupção” (ARA) e “geme e está juntamente com dores de parto” (Rm 8:21-22). A reconciliação das coisas criadas começará quando Cristo aparecer (At 3:20-21). Um de Seus primeiros atos será remover a escravidão da corrupção que está lançada sobre a criação. Mas o trabalho de reconciliação não estará completo até que o Estado Eterno seja alcançado, quando a última mancha do pecado for totalmente removida e tudo será estabelecido em acordo com Deus (J. N. Darby, Synopsis of the Books of the Bible, Edição de Loizeaux, On Colossians, pág. 25, Notes & Jottings, pág. 110). Toda a desordem na criação terá desaparecido, e a Terra e os céus serão completamente libertos do poder do mal e dos efeitos do pecado (1 Co 15:24-28). É então que João 1:29 será cumprido – “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

É interessante notar que quando a criação está em vista, “os céus” são mencionados antes da “Terra” (v. 16), mas quando a reconciliação está em vista, a “Terra” é colocada antes dos “céus” (v. 20). Isso mostra a ordem em que foram criados (Gn 1:1, etc.) e a ordem em que serão reconciliados. Assim, a obra de reconciliação começará com coisas na Terra, e então se ampliará para alcançar as coisas nos céus. Coisas “debaixo da terra [seres infernais – JND], mencionadas em Filipenses 2:10, não estão incluídas na reconciliação e, portanto, não são mencionadas aqui. Seres “infernais” são anjos caídos e homens impenitentes sob condenação em uma eternidade perdida. Eles não eram infernais quando Deus os criou, mas se tornaram assim por rebelião. Eles serão forçados a dobrar o joelho em submissão ao senhorio de Cristo, como Filipenses 2:10 indica, mas isso não é salvação, nem reconciliação. (Reconciliação não se aplica a anjos não caídos; eles não se afastaram de Deus.)

Também deve ser notado que uma interpretação mais correta indica que a obra de reconciliação não é “a Si mesmo” (como na KJV e nas em português), mas para “a Ela mesma”, pois se refere a toda a Divindade. Isso mostra que todas as três Pessoas na Divindade estarão envolvidas em trazer tudo de volta de acordo com a mente de Deus.

A Reconciliação dos Crentes

Vs. 21-22 – Como mencionado anteriormente, a reconciliação de todas as coisas é futura; ainda está para acontecer. Enquanto isso, Deus reconcilia os homens por meio do evangelho de Sua graça.

Talvez o resultado mais triste do ingresso do pecado sejam as relações alienadas que existem entre os homens e Deus. O coração e a mente do homem possuem agora pensamentos e sentimentos errados para com Deus (v. 21). Por meio do pecado, os homens em seu estado caído tornaram-se “aborrecedores de Deus” (Rm 1:30), e assim têm grande “inimizade contra Deus” (Rm 8:7). Esta passagem em Colossenses 1 mostra que a condição caída do homem é dupla: ele se tornou um alienado e um inimigo de Deus. “Estranhos [Alienados – JND] é o que os homens são por natureza; “inimigos” é o que são pela prática. Como tal, o homem está agora longe de Deus moral e espiritualmente, não tendo qualquer relação com o seu Criador. Esse estranhamento não foi apenas com Adão que primeiro pecou, mas é verdadeiro em toda a raça sob ele (Rm 5:19a). O ódio e a inimizade para com Deus existem em todas as pessoas perdidas, em graus variados. Isso é evidente na profanidade com que os homens usam o Seu santo nome (Sl 139:20) e nas “obras más” que praticam. Essas coisas contribuíram para o afastamento do homem de Deus. Os homens têm a sensação de terem feito o que é errado, e a consciência acusadora os afasta d’Ele a Quem ofenderam.

Essa condição de inimizade está totalmente do lado do homem; é o homem que pecou e se afastou de Deus. Mesmo que o coração do homem para com Deus tenha sido corrompido, a disposição de Deus para com o homem não mudou. Ele ainda está favoravelmente disposto para com os pecadores, pois Ele é o grande Deus Imutável (Ml 3:6). Isso pode ser visto no fato de que Ele “prova o Seu amor para conoscosendo nós ainda pecadores”. E provou o Seu amor, pois “Cristo morreu por nós” (Rm 5:8). Assim, em seu estado confuso de pensamento, o homem vê Deus como um inimigo, mas Ele, definitivamente, de fato não o é, pois Deus está buscando o bem e a bênção do homem! Uma mudança de coração é desesperadamente necessária no homem, mas não em Deus, pois Ele sempre amou o homem. Portanto, não é Deus Quem precisa ser reconciliado com o homem, mas o homem a Deus. Dizer que Deus precisa ser reconciliado nega Seu “amor eterno” para o homem (Jr 31:3; Jo 3:16).

Às vezes, quando as pessoas são despertadas para a necessidade de serem salvas, elas têm a ideia equivocada de que, uma vez que pecaram e se afastaram de Deus, precisam fazer algo para trazer o coração de Deus em direção a elas. Alguns pensam que precisam derramar lágrimas; outros pensam que precisam limpar suas vidas e se tornar religiosos. Mas, novamente, isso é entender mal o coração de Deus; Seu coração sempre foi favorável ao homem.

Assim sendo, a Escritura não apresenta reconciliação como a conhecemos hoje no sentido moderno da palavra. Isto é, em relação a duas partes que foram alienadas, aproximando-se umas das outras com algum grau de compromisso, para que as relações entre elas possam recomeçar como eram antes. Reconciliação, como encontrada na Bíblia, trata o assunto como homem sendo trazido de volta a Deus. Assim, a Escritura não diz que estamos reconciliados com Deus, o que pode implicar este compromisso, mas sim que estamos reconciliados “a” Deus (Rm 5:10; 2 Co 5:20; Ef 2:16; Cl 1:20 – todos da tradução de JND). Além disso, somos nós que recebemos “a reconciliação”, não Deus (Rm 5:11). (Mt 5:24 usa a palavra “reconciliar” no sentido de que duas partes se juntam, mas é uma palavra diferente em grego e não está relacionada com as bênçãos do evangelho que estamos considerando.)

Deus em graça superou a alienação e a inimizade do homem ao cuidar da questão do pecado na morte de Cristo, e então envia Seus servos para anunciar que Ele ama o homem e que providenciou um caminho para que ele seja trazido de volta em paz. Assim, a mensagem do evangelho que os servos de Deus levam ao mundo é: “Reconcilieis a Deus” (2 Co 5:20 – JND). Isto não significa que todas as pessoas no mundo estejam agora reconciliadas, ou que todas serão reconciliadas, mas que uma provisão foi feita para alcançar e restaurar todas as pessoas, se elas vierem a Cristo.

Existem quatro lugares principais no Novo Testamento, onde a reconciliação de pessoas é considerada – cada um retrata o assunto em um aspecto diferente:

- Colossenses 1:19-22 – para o prazer da Divindade. - Romanos 5:1-11 – para o conforto e gozo do crente em Deus. - Efésios 2:11-16 – para efetuar a união entre os membros do corpo de Cristo. - 2 Coríntios 5:19-21 – como um testemunho para o mundo.

Como mencionado acima, Colossenses 1:22 apresenta a reconciliação sob a perspectiva de Deus, enfatizando o que ela realiza para o prazer de Deus. Assim, é o aspecto mais elevado da reconciliação. Ser perdoado nos satisfaria, mas não satisfaria a Deus. A parábola em Lucas 15 ilustra esse grande fato. O pai não estava satisfeito em dar ao pródigo os beijos do perdão – ele o vestiria com o melhor vestido, com um anel no dedo e com os sapatos nos pés, de modo que seus olhos pudessem repousar sobre o filho com complacência. (Lc 15:20-23) Assim, vemos a partir disso que Deus trabalha para efetuar a reconciliação a fim de que possamos ser “santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis”, “perante Ele [Ela (a Divindade) – JND] – e isso para que Ele possa encontrar Seu prazer em nós. A reconciliação vai além do perdão dos pecados e da justificação, para trazer o crente para “perto” de Deus em paz (Ef 2:13). W. Kelly disse: “Reconciliação, portanto, é um termo de significado rico, e vai muito além do arrependimento ou fé, vivificação ou justificação” (Notes on the Second Epistle to the Corinthians, pág. 114). Assim, a encarnação trouxe Deus ao homem e a reconciliação leva os homens (crentes) a Deus.

A principal diferença entre a reconciliação das coisas e das pessoas é que a reconciliação das coisas é universal; enquanto que a reconciliação de pessoas não é. Nem todos os filhos do Adão caído obtêm essa grande bênção; são somente aqueles que creem no evangelho e recebem a Cristo como seu Salvador. Outra diferença é que Deus reconcilia as coisas Consigo mesmo pelo exercício do julgamento, mas Ele reconcilia os homens pelo poder do Seu amor e graça trabalhando em seus corações para dissipar seu ódio e inimizade. Ele pega aqueles que são alienados e inimigos por causa do pecado, e os converte e reconcilia e os transforma em filhos, e eles “se gloriam [têm gozo – KJV] em Deus” (Rm 5:11) e Ele tem o Seu prazer neles!

Pai, Teu soberano amor procurou

Cativos ao pecado, distanciados de ti;

A obra que o Teu próprio Filho consumou

Nos trouxe de volta em paz e liberdade.

E agora como filhos diante da Tua face,

Com passos gozosos, na senda que trilhamos

Que nos leva aquele lugar abençoado

Preparado para nós por Cristo nossa Cabeça.

The Little Flock nº 331

Resumo das Glórias de Cristo em Colossenses 1

- Como “a Imagem de Deus” – Sua glória essencial na Divindade. - Como “o Primogênito de toda a criação” – Sua glória criacional. - Como “a Cabeça do corpo” – Sua glória eclesiástica. - Como “o Primogênito de entre os mortos” – Sua glória de preeminência na nova criação. - Como aqu’Ele em Quem “toda a plenitude da Divindade habitou” – Sua glória moral. - Fazendo “paz pelo sangue da Sua cruz” – a Sua glória redentora. - Reconciliando “todas as coisas à Divindade” – Sua glória oficial no reino.

Um Aviso

V. 23 – Paulo então acrescenta uma advertência: Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes [não afastados – JND] da esperança do evangelho que tendes ouvido”. Ao usar a palavra “se” aqui, ele não estava insinuando que os santos de Colossos poderiam perder sua salvação se não prosseguissem firmemente, mas porque havia uma possibilidade real de que alguns entre eles fossem meros professantes. Paulo tinha razões para crer que poderia haver alguns que estavam externamente ligados à companhia Cristã em Colossos, mas não estavam vitalmente ligados a Cristo pela fé. Em outras palavras, eles estavam indo para as reuniões da assembleia em Colossos, mas não eram realmente salvos. O “vos” neste verso, portanto, abrange todos os que invocaram o nome do Senhor em Colossos, incluindo qualquer um que fosse meramente um professante da fé. Aqueles que eram verdadeiros crentes manifestariam isso continuando na fé, e aqueles que não tivessem fé mostrariam isso, abandonando a fé. Assim, essa palavra de cautela foi adicionada para verificar a mera profissão. Isso mostra que as maravilhosas bênçãos incluídas na reconciliação são condicionadas a uma pessoa ter fé verdadeira em Cristo, e que continuar no caminho da fé é a melhor maneira de provar a realidade de uma pessoa.

Na verdade, existem dois tipos de “se” na Escritura: um é um “se” de condição, e o outro é um “se” de argumento. O “se” de condição assume que existe a possibilidade de algum tipo de falha ocorrer no cumprimento das condições envolvidas em um determinado assunto. O “se” de argumento, por outro lado, tem a ver com o escritor estabelecendo certos fatos em sua apresentação, e então argumentar sobre esses fatos para estabelecer um determinado ponto. Neste caso, a palavra “se” pode ser substituída por “visto que”. (Veja os capítulos 2:20 e 3:1). Paulo estava usando o “se” de condição neste versículo 23 porque havia uma possibilidade real de alguns não crerem no evangelho, e isso seria evidente pelo fato de não continuarem na fé.

Aqueles que eram meros professantes também se manifestariam aceitando as doutrinas blasfemas apresentadas pelos falsos mestres da região. Nota: Paulo não fala deles se afastando, mas de estarem “afastados”. Isso implica a influência de outros envolvidos no afastamento desses. A “esperança do evangelho” nesta passagem é mais do que os santos sendo glorificados com Cristo no Arrebatamento. O contexto aponta para a gloriosa consumação da reconciliação sendo levada a bom termo tanto na Terra como nos céus, nos quais a Divindade encontrará a Sua plena satisfação.

Ao falar do evangelho, Paulo diz que ele foi “proclamado em toda a criação” (JND). Ele não quis dizer que todos no mundo inteiro ouviram a mensagem da graça de Deus, mas que sua esfera de operação não é menor do que cada pessoa em toda a criação.

Os Dois Ministérios de Paulo

Caps. 1:23b-2:3 – É o desejo de Deus que “toda criatura que está debaixo do céu” tenha a oportunidade de ouvir essas coisas maravilhosas e ser abençoada por elas em Cristo (1 Tm 2:4). Em vista disso, Paulo continua falando dos dois ministérios que o Senhor lhe havia dado para levar a verdade ao mundo.

Tendo já falado do “evangelho”, do qual ele diz que se tornou um ministro (v. 23b), Paulo expande isso e fala de um ministério adicional que lhe foi dado – a revelação do Mistério a respeito de Cristo e a Igreja. Ele diz: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo Seu corpo, que é a igreja [assembleia – JND]; da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos Seus santos; Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória”

Assim, Paulo teve dois ministérios: pregar “o evangelho” aos perdidos e ensinar a verdade do “Mistério” aos santos. O fato de serem mencionados juntos aqui, e em Romanos 16:25 e novamente em Efésios 3:8-9, mostra que essas duas coisas estão conectadas e devem sempre ser tratadas como tais. A verdade do evangelho deve conduzir para a verdade da Igreja. Infelizmente, muitos Cristãos não têm visto isso e focalizam seus esforços no trabalho do evangelho sem dar a devida atenção ao ensino de seus convertidos à verdade da Igreja. W. Kelly lamentou sobre isso e escreveu: “Um dos sinais e provas melancólicos de onde a Igreja está atualmente é que mesmo nos mais fervorosos filhos de Deus, há apenas um pequeno pensamento em trazer refrigério aos corações dos santos. O zelo é absorvido na simples conversão dos pecadores. A glória de Deus na Igreja nada vale… alguém diz isso não para diminuir a compaixão pelo que perece, mas para insistir nos clamores da glória e graça de Cristo nos salvos” (The Epistles to Titus and Philemon, pág. 148). Aprendemos com isso que a grande finalidade do evangelho não é meramente libertar uma pessoa da pena de seus pecados, por mais maravilhoso que isso seja. Mas é fazer com que o convertido entenda o seu lugar no corpo de Cristo (a Igreja) e, assim, funcione junto com os outros membros do corpo de acordo com o plano de Deus para exibir a glória de Seu Filho, tanto agora neste mundo como no mundo vindouro.

O Custo de Levar a Verdade aos Santos

V. 24 – Paulo então fala do que lhe custou levar a verdade aos santos. Ele havia sido bombardeado com perseguição, o que lhe causou muito sofrimento (At 9:16; 2 Co 11:23-27), e isso o levou a estar “preso” em Roma (Cl 4:3, 18). Isso mostra que Satanás não fica em silêncio e deixa o evangelho ser pregado e a verdade ensinada. Não, ele levanta oposição a isso. Podemos ter certeza de que tudo o que for introduzido neste mundo concernente a Cristo, Satanás se oporá a isso. Ele se opunha a Cristo quando estava aqui, e agora que Cristo foi para o céu e formou Seu corpo para representá-Lo aqui embaixo, Satanás se opõe a ele. Se ele não pode mais perseguir a Cristo, ele irá voltar sua energia para perseguir Seu corpo. Isso pode ser visto na pergunta que o Senhor fez a Paulo antes de ele se converter: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” (At 9:4) Essa declaração mostra que tocar nos membros do corpo de Cristo é tocar em Cristo, por causa da união que existe entre a Cabeça e o corpo. Quando Saulo foi convertido, ele se tornou o ministro-chefe dessa própria verdade e, naturalmente, suportou o peso da perseguição dirigida aos santos. Satanás mirou o vaso que havia sido especialmente levantado por Deus para revelar essa verdade.

Se sofrimento tivesse que ser suportado para trazer a verdade aos santos, então Paulo estava feliz por sofrer pela verdade. Ele disse: “Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós” (TB). Ele explica que, na realidade, foi o mesmo caráter de sofrimento que Cristo mesmo suportou em Sua vida quando em Sua obra para reconciliar o homem a Deus (2 Co 5:19). O sofrimento de Paulo cumpriu “o que falta das aflições de Cristo” (TB). Isto é, quando o Senhor terminou Seu ministério e voltou para o céu, Ele deixou para trás aqueles sofrimentos pela causa da verdade para os outros “cumprissem”. Assim, os sofrimentos de Paulo foram realmente uma extensão dos sofrimentos de Cristo. Estes, naturalmente, não eram os sofrimentos de martírio e de expiação de Cristo. Isso era um tipo completamente diferente do tipo de sofrimento que os ascéticos4 estavam defendendo. Eles estavam mortificando seus corpos “para a satisfação da carne” (cap. 2:23), enquanto Paulo estava sofrendo em seu corpo pela causa do benefício espiritual do “corpo de Cristo”.

Revendo os exercícios de Paulo como ministro, vemos que ele não apenas orou pelos santos (v. 9), e os ensinou por palavras e ações (v. 28), mas também estava preparado para sofrer por eles (v. 24). Essas três coisas devem andar juntas no ministério de cada servo. Uma questão desafiadora que podemos nos perguntar é: “Estou preparado para sofrer pelos santos?”

O Mistério

V. 25 – Paulo fala então de seu segundo ministério. Ele diz que ele também era um “ministro, segundo a dispensação de Deus que me foi concedida”, a qual, como dissemos, tem a ver com a revelação da verdade do “Mistério”. Paulo era o principal propagador do Mistério. Outros “santos apóstolos e profetas” tiveram essa grande verdade revelada a eles (Ef 3:5), mas Paulo foi especialmente comissionado pelo Senhor “para iluminar a todos com o conhecimento” do “Mistério” (Ef 3:9 – JND).

Como mencionado na Introdução, o Mistério revela o grande propósito de Deus para glorificar Seu Filho em duas esferas – nos céus e na Terra – no mundo vindouro por meio de um vaso de testemunho especialmente formado, a Igreja (Ef 1:8-9). O Velho Testamento claramente predizia um Messias judaico reinando sobre toda a Terra com Israel e as nações gentias regozijando-se submissas a Ele. Mas o Mistério revela algo mais. Quando Cristo reinar, Ele terá um complemento celestial ao Seu lado – a Igreja, Seu corpo e Sua noiva. Deus usará esse vaso especialmente formado para realçar a glória de Cristo naquele dia de manifestação (Ap 21:9-22:5). Além disso, o Mistério revela que Cristo não apenas reinará sobre a Terra, mas sobre todo o universo (os céus e a Terra); tudo estará sob a administração de Cristo e da Igreja. (“o Cristo” Ef 1:10 – JND).

Também mencionadas na Introdução estão as duas partes do Mistério, apresentadas nas epístolas aos Efésios e aos Colossenses. Efésios enfatiza o aspecto futuro quando o grande propósito de Deus concernente a Cristo e à Igreja será trazido à manifestação no mundo vindouro. Colossenses dá o aspecto presente do Mistério, que tem a ver com as características de Cristo sendo desenvolvidas na prática nos membros de Seu corpo, de modo que o mundo veria uma demonstração viva da união de Cristo e da Igreja.

Paulo diz que trazer à luz essa grande verdade seria “cumprir [completar - JND] a Palavra de Deus”. Assim, o Mistério é a culminante joia de Deus que completa a revelação divina da verdade. Tendo divulgado esse segredo, agora não resta mais verdade a ser revelada. “Todos os tesouros da sabedoria e da ciência” são encontrados no Mistério, e todos eles foram revelados aos santos (cap. 2:2-3). Completar a Palavra de Deus não significa que Paulo foi o último a escrever as Escrituras inspiradas; sabemos que ele não foi. O apóstolo João escreveu seu evangelho, suas epístolas e o livro de Apocalipse alguns anos depois. No entanto, esses escritos não revelam nenhuma nova verdade sobre a Igreja – que é o ponto de Paulo aqui. As epístolas de João não consideram a verdade da Igreja, mas sim a família de Deus. Sua Revelação (Apocalipse) de Jesus Cristo tem muitas visões e revelações relacionadas a eventos futuros, mas essas coisas são uma ampliação de assuntos já revelados no Velho Testamento. Todos esses ensinamentos proféticos não são novos assuntos da verdade.

V. 26 – Paulo então amplia o fato de que a verdade no Mistério não é uma extensão da verdade dada no Velho Testamento. Ele deixa claro que era algo que estava “guardado em silêncio durante os tempos eternos [os tempos dos séculos – JND]” (Rm 16:25; Ef 3:5) e só agora, na presente dispensação da graça, “tem sido revelado aos Seus santos” (TB). Não é algo que os santos do Velho Testamento pudessem conhecer. Era algo “oculto” (Rm 16:25) que não estava escondido no Velho Testamento (como alguns pensavam), mas algo que estava “escondido em Deus” (Ef 3:9). Existem referências à Cristo e à Igreja nos tipos do Velho Testamento, tais como: Adão e Eva (Gn 2), Isaque e Rebeca (Gn 24), Jacó e Lia (Gn 29), José e Asenate (Gn 41), etc., mas estes não ensinam a verdade da Igreja. Eles não revelam a natureza de sua união, etc. Tudo isso requer uma revelação divina, que é o que o Mistério revela. Nós não teríamos visto essas figuras no Velho Testamento se a verdade da Igreja não tivesse sido revelada no Mistério no Novo Testamento.

V. 27 – Paulo então define a operação prática da verdade do Mistério nos santos. Ele diz que é, “Cristo em vós, a esperança da glória” (ARA). Assim, o mistério revela que Deus teria pessoas aqui agora neste mundo no mesmo lugar onde Cristo foi expulso e crucificado, nas quais as características vivas de Sua Pessoa seriam vistas. Não é que Cristo habite pessoalmente naquelas que compõem esta nova companhia (como comumente se pensa), mas que as características da vida de Cristo são vistas nelas. W. Kelly disse: “É a vida de Cristo em nós em seu completo caráter ressuscitado de manifestação” (Lectures on Colossians, pág. 108). “Vós”, sendo plural, mostra que é intenção de Deus que haja neste mundo uma reprodução harmoniosa de Cristo nos santos. Ver os santos movendo-se juntos em feliz comunhão, mesmo que estejam em diversas posições sociais, níveis intelectuais, distinções raciais, etc., dá um forte testemunho sobre o que Deus está atualmente fazendo neste mundo por meio do evangelho. A “esperança” a que ele se refere aqui é a certeza adiada de estarmos com Cristo em um estado glorificado.

V. 28 - Tendo falado do Mistério em seu aspecto atual, Paulo diz: “quem anunciamos**, admoestando a todo o homem, e** ensinando **a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”**. Vimos a partir disso que o objetivo de seu duplo ministério era que as pessoas não somente teriam suas almas salvas eternamente por crerem no evangelho, mas também que seguiriam depois que fossem salvas e alcançariam a plena maturidade Cristã. **“Perfeito”**, no sentido em que Paulo usa a palavra aqui, refere-se a isso. Significa “_completamente crescido_” e pode ser traduzido como tal (1 Co 14:20; Fp 3:15). Todos os Cristãos estão **“em Cristo Jesus”** quanto à sua posição de aceitação diante de Deus em Cristo, o Homem ressurreto e glorificado. Mas ser **“perfeito em Cristo Jesus”** envolve conhecer a verdade do Mistério e procurar andar com nossos companheiros irmãos de tal maneira que haja uma demonstração viva de Cristo. Assim, Paulo não estava interessado em simplesmente fazer com que pessoas ultrapassassem a linha de salvação da alma e deixá-las ali para fazer seu próprio caminho nas coisas divinas – ele trabalhou para estabelecê-las na verdade depois que elas foram salvas. Assim, se os colossenses desejassem a perfeição Cristã, ela seria encontrada na verdade revelada no Mistério, e _não_ naquilo que os falsos mestres de sua região estavam propondo.

Observe a mudança do plural (“vós” – v. 27) para o singular (“todo homem” – v. 28). Isso porque, quando se trata de crescimento e progresso nas coisas divinas, é uma coisa individual. Não podemos crescer por outra pessoa e eles não podem crescer por nós. Por parte do crente, o progresso espiritual requer obediência, diligência e exercício de alma. Também é útil ter ajuda de instrutores com dons, como foi o caso aqui com as instruções de Paulo.

V. 29 – Em vista de apresentar a cada homem perfeito, Paulo diz: “E para isto também trabalho, combatendo segundo a Sua eficácia, que obra [atua – ARA] em mim poderosamente”. O combate se refere à guerra. Isso mostra que Paulo viu seus esforços como um conflito espiritual. Ele entendeu claramente que o diabo e seus emissários estavam trabalhando nos bastidores para resistir à propagação da verdade (2 Co 10:3-5; 1 Ts 2:18; Ef 6:11-13). No mundo vindouro, não haverá combate com esses inimigos malignos para manifestar Cristo e a Igreja, porque todos eles estarão confinados no abismo (Is 24:21-22; Ap. 20:1-2). Mas neste mundo hoje há uma indiscutível batalha espiritual em relação à reprodução coletiva das características de Cristo nos santos.
Cap. 2:1 – Paulo sabia que os santos daquela região estavam em uma condição perigosa e queria que eles soubessem de sua preocupação. Ele disse: “Porque quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia”. A menção de “Laodiceia” aqui e “Hierápolis” mais adiante na epístola (cap. 4:13). nos diz que essas assembleias vizinhas também estavam em perigo. Isso mostra que os esforços do inimigo são implacáveis. Se esses falsos mestres não conseguissem a atenção dos colossenses, eles tentariam entrar em Laodiceia ou em Hierápolis.

Vs. 2-3 – O grande desejo de Paulo por eles era “para o fim de que seus corações possam estar encorajados, estando unidos em amor, e para todas as riquezas da plena certeza do entendimento, para o pleno conhecimento do mistério de Deus. No qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (JND). Estar “unidos em amor” era uma questão de seus “corações” serem elevados ao Senhor, e ter “a plena certeza do entendimento” do Mistério era uma questão de suas mentes serem instruídas na verdade. Isso os guarneceria contra os enganos do inimigo. Se esse estado existisse entre os colossenses, seria difícil para o inimigo conseguir um espaço na assembleia. A “plena certeza” a que Paulo estava se referindo não era a garantia da salvação de suas almas; isso eles já tinham. Era que eles teriam plena certeza do fato de terem recebido **“**todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” no Mistério. Saber disso os livraria da busca da verdade em qualquer outro lugar, a não ser no Mistério. Assim, o conflito de Paulo na oração era que eles estivessem em um estado espiritual correto para se beneficiarem com a verdade.

Usando a tipologia na jornada de Israel do Egito até Canaã, “os tesouros da sabedoria e do conhecimento” de que Paulo fala aqui é o antítipo da herança prometida de Israel (porção) em Canaã. Veja Efésios 1:3.

OBSTÁCULOS PARA MANTER A VERDADE DO MISTÉRIO

Capítulo 2:4-19

Tendo falado da importância de entender o Mistério, bem como da necessidade de caminhar juntos em amor com nossos irmãos, por meio da qual a verdade do Mistério é colocada em prática, Paulo agora adverte sobre os perigos de se desviar desse objetivo. Neste segundo capítulo, ele expõe as diferentes artimanhas que o diabo usa para tirar os santos da simplicidade que está em Cristo. Ele também mostra que Cristo é a resposta para tudo o que o inimigo introduziria para enlaçar os santos.

Quatro Perigos Espirituais

Paulo se concentra em quatro principais perigos espirituais que afastam a pessoa da verdade do Mistério, se ele não for cuidadoso. Esses são:

- Palavras persuasivas de eloquência (vs. 4-7). - Racionalismo filosófico (vs. 8-15). - Ritualismo judaico (vs. 16-17). - Misticismo oriental (vs. 18-19).

Mesmo que esses erros variem e sejam diferentes em natureza, eles se referem à mesma classe de mestres que estavam corrompendo os santos com suas doutrinas falsificadas. H. Smith disse: “Será notado que nenhum desses males são as coisas grosseiras do mundo, mas sim coisas que atrairiam o intelecto e o lado religioso da natureza do homem e, portanto, são coisas que são uma armadilha especial para o Cristão” (The Epistles to the Colossians, pág. 30). Essa série de armadilhas espirituais serve para nos lembrar de que não devemos subestimar o poder e o engano do diabo. Novamente, usando a tipologia na conquista de Canaã por Israel, se o capítulo 1:15-22 dá uma visão do Capitão do exército do Senhor, e capítulo 2:2-3 corresponde à herança de Canaã, então o capítulo 2:4-19, que estamos agora considerando, nos daria uma visão dos inimigos na terra. Os cananeus correspondem aos vários tipos de maldade espiritual que o crente encontra “nos lugares celestiais” (o reino da atividade espiritual – Ef 6:12).

Olhando para estas quatro coisas, vemos que toda a intenção do inimigo de nossas almas poderia ser resumida na frase: “E não segundo Cristo” (v. 8). Verdadeiramente, o lema do diabo é: “Qualquer coisa menos Cristo”. É significativo que Paulo comece cada um destes quatro avisos com: “para que ninguém” ou “Ninguém (vs. 4, 8, 16, 18). Isso mostra que o diabo não usa só os seus anjos e os elementos do mundo, mas também os homens para fazer o seu trabalho maligno. Também é significativo que, enquanto ele usa esses agentes, ele não pode usar qualquer coisa que é “segundo Cristo”; essas coisas não se encaixam em seu programa maligno (v. 8).

Cada uma dessas quatro coisas que o inimigo introduziria por meio de homens astutos é seguida por um antídoto apropriado, que, se ele fosse observado, preservaria os santos dessas seduções. Como já mencionado, a resposta para todas essas intrusões é saber o que temos em Cristo e andar n’Ele. Essa é nossa grande salvaguarda.

1) Palavras Persuasivas de Eloquência (vs. 4-7)

A primeira coisa que marcou esses falsos mestres foi um grande espetáculo da eloquência humana. Paulo diz: “E digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas”. A eloquência é a arte de usar a linguagem para agitar as emoções. Os gregos ficaram particularmente impressionados com isso (At 12:21-22). A eloquência em si não é necessariamente má (At 18:24). O perigo está em usá-la com um objetivo para promover pontos de vista errôneos e propósitos heréticos para atrair pessoas após si mesmo. Paulo advertiu os Romanos sobre este perigo, afirmando que com “suaves palavras e lisonjas” os homens com segundas intenções “enganam os corações dos símplices [desavisados – JND] (Rm 16:18). Almas não firmadas são muitas vezes influenciadas por fraseologia transcendental que parece espiritual, achando que eloquência é espiritualidade. Um exemplo disso são os cultos atuais na profissão Cristã. Suas doutrinas malignas são geralmente envolvidas em um belo exterior de palavras lisonjeiras. Aqueles que ensinam esse tipo de “erro sistematizado” (Ef 4:14 – JND) frequentemente terão um comportamento atraente, e isso também pode ser enganador. “Himeneu” (“canção de casamento”) e “Fileto” (“amado”) são exemplos disso (2 Tm 2:17). O significado de seus nomes sugere que esses homens tinham personalidades doces e amáveis – mas, na verdade, eles estavam derrubando a fé dos santos com suas doutrinas errôneas! H. E. Hayhoe disse apropriadamente: “Cuidado com homens amáveis; ame homens fiéis”.

V. 5 – Paulo se regozijou ao saber que os colossenses continuavam na verdade. Ele disse que isso era evidente ao estar “vendo” sua “ordem” e a “firmeza” de sua “fé em Cristo”. Esse fato prova que os colossenses não haviam engolido as doutrinas falsas que lhes estavam sendo apresentadas. No entanto, eles estavam em perigo, e isso era uma preocupação para Paulo.

O remédio

Vs. 6-7 – Como mencionado, com cada laço que o inimigo colocaria no caminho para fazer o crente tropeçar, Paulo dá um antídoto apropriado que satisfaria essa sedução em particular. Seu remédio para o discurso persuasivo daqueles que os afastaria após essas estranhas doutrinas era: “Como, portanto, recebestes o Cristo, Jesus o Senhor, assim n’Ele andai, arraigados, e edificados n’Ele, e assegurados na fé, tal como fostes instruídos, abundando nisso com ações de graças” (JND). Isto é, deviam permanecer com as coisas que eles sabiam e tinham sido “ensinados” e deviam “andar” nelas. “Como” eles haviam começado, assim deveriam continuar. Em vez de procurar por uma nova verdade, eles deveriam estar “arraigados e edificados” na verdade que receberam e ser “assegurados” dela. “Arraigados” está no tempo verbal passado, mas “edificados” está no o tempo verbal presente. Assim, Paulo quer que sejam edificados no que já lhes foi dado. Eles não deveriam deixar ninguém os atrair, independentemente de quão persuasivo fosse seu discurso. (Veja Gl 1:8-9.) Eles precisavam entender que haviam recebido todos os tesouros da verdade no Mistério; não havia maior verdade para dar. É o suficiente para preencher e satisfazer nossos corações e mentes, e causar em nós muitas “ações de graças”.

2) Racionalismo Filosófico (v. 8-15)

A segunda coisa perigosa que marcou esses falsos mestres foi o racionalismo filosófico. Isto é, o uso do raciocínio humano nas coisas divinas. Filosofia significa “o amor do conhecimento”. Não é errado querer conhecimento; Paulo orou pelos santos para esse fim no capítulo 1:9. O perigo é procurá-lo fora das revelações que Deus deu pelos apóstolos e profetas do Novo Testamento. Isso é exatamente o que esses falsos mestres estavam fazendo. Eles tentaram adicionar filosofia ao evangelho, mas foi apenas o trabalho da mente humana nas coisas de Deus. Como resultado, eles se desviaram da verdade com muita má doutrina. Sendo assim, Paulo advertiu os colossenses: “Cuidai que não haja ninguém que vos faça de vós [que vos leve como – JND] presa sua meio da sua filosofia e vão engano, segundo a tradição [ensino – JND] dos homens, segundo os rudimentos [elementos – JND] do mundo, e não segundo Cristo” (TB). Paulo destaca aqui o triste efeito deste ensinamento que finalmente leva os crentes para longe de Cristo.

Paulo expõe essa linha filosófica de ensino como sendo “vão engano” porque ministrava ao orgulho do homem. Como emana da mente dos homens, todo esse raciocínio humano nunca leva em conta o fim do homem na carne sob o juízo de Deus na cruz, como fazia o evangelho que Paulo pregava (Rm 6:6, 8:3). Essa linha humana de ensino faz do homem na carne ser algo. Vê algum bem no homem e procura cultivar esse bem e, assim, ministra enganosamente alimentando a vaidade do homem. É por isso que é chamado vão engano.

Aos Cristãos procurarem conhecimento dos assuntos da vida nos filósofos gregos não convertidos mostra claramente que eles não entendem que “o homem natural não compreende [aceita – TB] as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Simplificando: os filósofos do mundo não podem dar a verdade ao Cristão porque eles não a têm! O melhor que eles podem oferecer é apenas mero raciocínio humano. Eles podem ter grandes pretensões de ter um conhecimento espiritual mais elevado, mas na realidade Paulo diz que são apenas os “rudimentos [elementos] do mundo”. “Os gregos buscam sabedoria” (1 Co 1:22), mas é “a sabedoria deste mundo” (1 Co 2:6). Além disso, grande parte de sua sabedoria mundana está cheia de incertezas. Cada nova geração de filósofos geralmente contradiz a geração anterior, de modo que aquele que busca o conhecimento não tem esperança real para descansar sua alma. Se nos aprofundarmos na filosofia e na sabedoria dos homens, em breve seremos preenchidos com esse tipo de coisa e Cristo será deixado de fora.

Vs. 9-10 – Pelo contrário, em Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. O argumento de Paulo ao afirmar isso é mostrar que em Cristo no alto há tudo o que podemos precisar ou desejar. Se quisermos “sabedoria”, a temos n’Ele (1 Co 1:30) e no Mistério (Cl 2:3). Não há, portanto, necessidade de recorrer a filósofos mundanos para iluminação. Assim, Paulo diz que os crentes são “perfeitos [completos – JND] n’Ele”. Quanto à nossa posição diante de Deus e à nossa porção em Cristo, simplesmente não há nada que possa ser acrescentado a elas. (O capítulo 1:19 refere-se à plenitude da Divindade habitando em Cristo como um Homem na Terra durante Sua vida e ministério, enquanto aqui, no capítulo 2:9, refere-se a Ele como um Homem glorificado no alto.)

Além disso, se alguém pensasse que os seres angélicos eram realmente algo especial e objetos a serem admirados (como esses mestres defendiam), eles precisavam entender que Cristo é o Criador de todos esses seres (Sl 104:4). e, como tal, Ele é “o Cabeça de todo principado e poder [autoridade – JND]. Este fato prova que Ele é incomparavelmente superior a eles. Na realidade, a posição dessas criaturas angélicas diante de Deus é na verdade inferior à dos Cristãos! Como filhos de Deus na nova ordem da criação, estamos em uma posição muito mais elevada que os anjos. Estando assentados juntamente “nos lugares celestiais em Cristo Jesus”, estamos muito “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1:21; 2:6). Eles são realmente nossos servos, ordenados por Deus para nos ajudar nas várias situações da vida (Hb 1:14). Não somos considerados completos nesses seres; nossa plenitude está em Cristo. Além disso, como membros do corpo de Cristo, temos uma união especial com Ele como a Cabeça, pela habitação do Espírito Santo – mas essas criaturas não têm essa união. (Nota: o versículo 10 se refere a anjos eleitos em suas diferentes capacidades, enquanto o versículo 15 se refere a diferentes categorias de anjos caídos.)

O Remédio

Vs. 11-15 – O remédio para todo o racionamento e especulação humanos nas coisas de Deus é entender o significado da morte e ressurreição de Cristo. Paulo traz isto aqui, dizendo: “no qual também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados com Ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados [com Ele – JND] pela fé no poder [na obra – JND] de Deus, que O ressuscitou dentre os mortos” (AIBB). Como essas ideias filosóficas são errôneas e depreciativas para com a Pessoa e a obra de Cristo, é claro que elas emanam do homem na carne – isto é, toda aquela ordem de vida que segue a natureza pecaminosa caída no homem. Assim sendo, Paulo declara que na morte de Cristo (a qual ele se refere como “a circuncisão de Cristo”), Deus condenou o homem na carne (que ele chama de “o corpo da carne”), e como tal, Ele o deixou de lado como inútil. Assim, tudo o que tem a ver com o homem na carne – desde seus pecados mais imundos aos seus raciocínios filosóficos do assim chamado conhecimento superior – foi julgado por Deus na morte de Cristo. Assim, Sua morte marcou o fim judicial do homem na carne diante de Deus (Rm 6:6; 8:3). A versão King James e a Almeida Fiel acrescentaram as palavras “dos pecados” no versículo 11, mas sem suficiente autoridade de manuscrito e, portanto, não deveria estar no texto. O assunto no verso não são as ações da carne, mas a carne como um sistema maligno no homem caído que controla seus movimentos. O ponto aqui é que a morte do Senhor não apenas cuidou do fruto da natureza pecaminosa caída (os pecados do crente), mas também condenou a própria raiz que produzia esses pecados e tirou tudo isso de diante de Deus.

Além disso, os Cristãos, por meio de sua identificação com a morte de Cristo, foram “circuncidados com a circuncisão não feita por mãos”, e assim, diante de Deus, foram cortados judicialmente de toda conexão que tinham com a carne. O crente também é visto como estando “sepultado” com Cristo, como demonstrado na ordenança do “batismo”. Além disso, o crente também é visto como estando “ressuscitado com Ele”. Assim, somos identificados com toda uma nova ordem de vida em Cristo.

Como mencionado acima, Paulo usa as palavras “circuncisão” e “corpo” em um sentido simbólico nesta passagem. Quanto ao uso da palavra “corpo” nesta passagem, descreve todo o sistema de vida segundo a carne. Similarmente, poderíamos dizer: “O corpo do conhecimento científico”, ou “o corpo do conhecimento médico”, etc. J. A. Trench explicou como: “‘O corpo do pecado’ – isto é, todo o seu sistema e força, como dizemos, o corpo de um rio … É todo o sistema e a totalidade dele” (Truth for Believers, vol. 2, págs. 77, 83). J. N. Darby disse: “Ele [Paulo] toma a totalidade e o sistema do pecado no homem como um corpo que é anulado pela morte” (Synopsis of the Books of the Bible em Romanos 6). E. Dennett disse algo semelhante: “Pode ser bom dizer que ‘o corpo do pecado’ é a totalidade do pecado em sua energia dominante” (The Christian Friend, vol. 23, pág. 182). Assim, Paulo não está falando do corpo humano aqui.

A conclusão prática da morte e ressurreição de Cristo, como aplicada aos crentes, é que os Cristãos (caracteristicamente) estão encerrados com relação à carne. Seu “batismo” significa isso (vs. 12). Eles, portanto, rejeitam tudo que tem a ver com a carne e agora vivem para Deus como totalmente desconectados daquela velha ordem de vida. Aplicando isto à situação que os colossenses estavam enfrentando, eles deveriam rejeitar todo o esquema de ensino racionalista que estava sendo apresentado pelos falsos mestres, porque era da carne – e tudo que tem a ver com a carne deve sair da vida do crente.

Vs. 13-15 – Paulo passa para o que foi realizado em nós e para nós por meio da morte e ressurreição de Cristo. Ele diz: “E vós, estando mortos em ofensas e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou junto com Ele, havendo nos perdoado todas as ofensas; havendo apagado o manuscrito de ordenanças que permanecia diante de nós, o qual era contrário a nós, Ele também o tirou do caminho, tendo-o pregado na cruz; havendo despojado principados e autoridades, Ele fez uma demonstração deles publicamente, levando-os em triunfo por ela” (JND). Como mencionado, o crente foi “vivificado junto” com Cristo em uma nova esfera de vida onde ele vive para Deus. (Veja também Ef 2:5). O versículo 13a refere-se aos crentes gentios. Isso é indicado pelas palavras “vós” e “vossa”, pois os colossenses eram uma companhia de gentios convertidos; enquanto que o versículo 14 se refere aos crentes judeus. Isto é indicado pela palavra “nós”. Paulo estava falando com seus compatriotas, e assim ele se inclui. (Isso não é incomum nos escritos de Paulo. Compare Ef 1:12-13, 2:1-3, 17, etc.)

Paulo se concentra em três coisas particulares que resultaram da morte e ressurreição de Cristo:

A) No que diz respeito aos crentes, a obra de Cristo na cruz lançou as bases para o seu perdão eterno. Assim, Paulo diz: **“**havendo nos perdoado todas as ofensas”. (O “nos” aqui se refere tanto aos judeus quanto aos gentios.) O conhecimento desse grande fato purifica a consciência da culpa e dá gozo ao crente. Ele menciona isso para mostrar que nesta nova esfera de vida com Cristo ressuscitado, a questão dos pecados do crente nunca surgirá – foi eternamente resolvida.

B) No que diz respeito às ordenanças legais no judaísmo a que Israel estava vinculado, Paulo diz: “havendo apagado o manuscrito de ordenanças que permanecia diante de nós” O “nós” aqui se refere aos crentes judeus, pois o manuscrito de ordenanças nunca foi para os gentios. Eles nunca se colocam sob as obrigações legais do Velho Pacto. Nos dias de Moisés, Israel colocou seu “manuscrito” (sua assinatura, por assim dizer) nas obrigações da lei, declarando: “Todas as palavras que o Senhor tem falado faremos” (Êx 24:3). Moisés ratificou seu compromisso com aquela aliança legal com o sangue de um sacrifício, e assim eles estavam ligados a ela (Hb 9:18-21). A história registra tristemente que eles falharam em guardar a lei em todos os aspectos (At 7:53). Por isso, essas ordenanças “permaneciam” contra eles em um sentido acusatório.

No entanto, na obra consumada de Cristo na cruz, Ele não só suportou a maldição da lei transgredida (Is 53:8b; Gl 3:13; Sl 88), mas Sua morte anulou as obrigações legais da lei sob as quais Israel se colocara. Isso não significa que a lei tenha sido removida; ainda tem sua aplicação a Israel em nível nacional e aos pecadores incrédulos (1 Tm 1:8-10). A lei não está morta e extinta; é o crente que está morto e extinto – por meio de sua identificação com a morte de Cristo (Rm 6:2-8). O crente no Senhor Jesus Cristo está “morto para a lei” (Rm 7:4-6), e a lei não tem aplicação a um homem morto (Rm 7:1). Assim, todo o sistema legal foi anulado para cada judeu que acredita em Cristo. A morte de Cristo a “tirou do caminho” (a obrigação, não a lei). Paulo, sendo um crente judeu, usa a palavra “nós” aqui para indicar do que ele e seus compatriotas foram libertados. Ele acrescenta: “Pregando-o na cruz”. Isso se refere à acusação que permanecia contra os judeus por falharem em guardar a lei. Foi cancelada e a declaração desse fato foi exposta publicamente. É uma alusão ao costume romano de cravar na cruz onde um criminoso morre, a declaração do seu crime, indicando a todos a natureza da ofensa dessa pessoa. (Veja Jo 19:19-22.)

C) Em relação aos nossos inimigos espirituais – Paulo diz: “havendo despojado principados e autoridades”. Isto se refere aos seres angélicos caídos (que se alinharam contra Cristo) sendo completa e absolutamente derrotados. Eles tentaram desviar o Senhor de fazer a vontade do Pai de Ele ir à cruz e beber o cálice do juízo. Ele venceu as forças do mal pela simples obediência (Jo 18:11, 19:17). Cristo agora está em total supremacia sobre esses inimigos espirituais, tendo obtido uma vitória aberta sobre eles na cruz (Cl 2:15) e na sepultura (Hb 2:14). Embora derrotados, esses agentes malignos de Satanás ainda não estão no abismo, e atualmente se opõem aos santos que vivem em comunhão com Deus na nova esfera de vida na qual foram introduzidos por terem sido vivificados juntamente com Cristo. Esses inimigos se opõem à liberdade dos santos e ao gozo de sua porção em Cristo nos lugares celestiais. Mas como o Senhor subjugou o poder deles, uma provisão completa foi feita para nós na “armadura de Deus” para que possamos viver em comunhão ininterrupta com Deus (Ef 6:10-18).

3) Ritualismo Judaico (vs. 16-17)

O terceiro perigo que ameaçou o progresso espiritual dos colossenses é o ritualismo judaico. Paulo diz: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras [vindouras – JND], mas o corpo é de Cristo”. Esses versículos indicam que esses falsos mestres provavelmente eram de origem judaica, mas se tornaram heterodoxos em suas doutrinas. Visto que os Cristãos judeus foram removidos das obrigações legais com as quais estavam vinculados por estarem “mortos com Cristo” (Rm 6:8, 7:4), eles não deveriam permitir que alguém os colocasse novamente sob aquelas ordenanças legais. A morte de Cristo acabou com todas as conexões com esse sistema legal para eles. Paulo usa a palavra “julgue” aqui em conexão com aqueles que encontrariam falhas em santos que entenderam sua liberdade em Cristo. Assim, os colossenses não deveriam deixar que as críticas daqueles que não estavam livres do judaísmo os dissuadissem (Gl 5:1).

Ao mencionar “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua nova” e os “sábados”, Paulo estava indicando que essa libertação não era meramente da lei dos dez mandamentos, mas também das leis cerimoniais, estatutos e rituais que compõem o judaísmo como um sistema. Essas coisas eram “sombras das coisas futuras” em Cristo. Nos tempos do Velho Testamento, a luz de Deus estava brilhando sobre Ele, e todas aquelas formas e cerimônias na ordem levítica de aproximação a Deus eram apenas sombras projetadas por Ele. Mas agora, desde que Cristo veio, esses tipos e sombras deram lugar à substância real. Paulo indica isso acrescentando: “Mas o corpo é de Cristo”. Ao afirmar isso, ele não está se referindo ao corpo físico de Cristo, nem está se referindo ao corpo místico de Cristo, do qual os crentes são membros. Em vez disso, ele está usando a palavra “corpo” para indicar que Cristo é a substância que projeta essas sombras. F. B. Hole disse: “Mas o corpo – isto é, a substância – é de Cristo” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 103).

Aliás, a palavra “corpo” é usada de seis maneiras diferentes nesta epístola:

- Como o corpo místico de Cristo (cap. 1:18, 24, 2:19, 3:15). - Como o corpo físico do Senhor (cap. 1:22). - Como o corpo glorificado do Senhor (cap. 2:10). - Como todo o sistema da carne como uma entidade que Deus julgou (cap. 2:11). - Como a substância de Cristo nos tempos do Velho Testamento, lançando uma sombra das boas coisas que estavam por vir (cap. 2:17). - Como os corpos dos santos (cap. 2:23).

Uma vez que esses tipos e sombras deram lugar à substância real em Cristo, o sistema judaico com suas formas e rituais serviu ao seu propósito de apontar para Cristo. Ensinar que os Cristãos devem se aproximar de Deus por meio de formas e rituais externos, como no judaísmo, é negar a verdade que veio à luz na morte e ressurreição de Cristo. Isso é algo que os Cristãos interpretaram mal por séculos. Em vez de ver as coisas no judaísmo como sendo cumpridas em Cristo, e não necessárias no culto Cristão, a maioria dos grupos Cristãos estabeleceu seu culto ao longo de linhas judaicas e misturaram os princípios e práticas do judaísmo com os do Cristianismo. O resultado é algo híbrido de ambos, coisa que Deus nunca pretendeu para a adoração Cristã.

As igrejas da Cristandade perderam o ensinamento claro da Escritura que mostra que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário ao qual os Cristãos agora têm acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). Em vez disso, eles usaram o tabernáculo e o templo do Velho Testamento como padrão para suas igrejas. Eles têm emprestado muitas coisas em um sentido literal da ordem judaica para seus locais de adoração e serviços religiosos. Isto pode ser visto no uso de templos literais e catedrais para locais de adoração, tendo uma casta especial de homens que oficiam em nome da congregação (o clero), o uso de instrumentos musicais para ajudar na adoração, o uso de um coral, as vestes especiais dos “ministros” e membros do coral, a prática do dízimo, a observância dos dias santos e festas religiosas, etc. É verdade que muitas dessas coisas judaicas foram alteradas um pouco para se encaixar em um contexto Cristão, mas elas ainda têm os ornamentos do judaísmo. Uma vez que essa mistura de princípios e práticas judaicas e Cristãs permeou o testemunho Cristão e existe há tanto tempo, tornou-se aceito pelas massas como o ideal de Deus. É defendido e sustentado tenazmente por Cristãos sinceros (mas enganados). No entanto, misturar essas duas ordens distintas destruiu a particularidade de cada uma delas, e o que resultou da mistura não é nem judeu e nem Cristão.

O Remédio

O remédio de Paulo nos versos 16-17 era que os colossenses não deveriam deixar ninguém os convencer de que precisavam acrescentar a ordem judaica de se aproximar de Deus à sua adoração Cristã. Independentemente de qual forma o judaísmo possa estar embrulhado – seja o judaísmo pleno nas sinagogas ou a mistura semi-judaica encontrada nas igrejas da Cristandade – isso não tem lugar no Cristianismo. Abraçar-se a essa ordem externa de aproximação a Deus tende a “entorpecer” as sensibilidades espirituais Cristãs, impedindo seu crescimento e progresso. O resultado disso é que o crente permanece um “bebê”. Esse foi o caso daqueles a quem a epístola aos Hebreus foi escrita (Hb 5:11-14).

4) Misticismo Oriental (vs. 18-19)

A quarta coisa que marcou esses falsos mestres foi o misticismo. Definimos o misticismo neste contexto como ensinamentos que supostamente têm significados ocultos e secretos, que quando entendidos, levam uma pessoa (supostamente) a um conhecimento e uma espiritualidade mais elevados. Essa linha de coisas visava confundir os santos com ideias novas e fantasiosas que tinham aparência de ser algo realmente espiritual. Mas, na verdade, isso fez com que os santos olhassem para longe de Cristo por suas necessidades espirituais e impediram seu progresso espiritual. Paulo, portanto, advertiu os colossenses: “Que ninguém fraudulentamente vos prive de vosso prêmio, fazendo sua própria vontade em humildade e culto a anjos, entrando em coisas que não viu, inchado vãmente pela mente de sua carne, e não retendo a Cabeça, de Quem todo o corpo, ministrado e unido pelas juntas e ligamentos, aumenta com o aumento de Deus” (JND). Paulo estava particularmente se referindo nestes versículos à pretensão de se ter um conhecimento espiritual mais alto do que aquele que os apóstolos tinham entregado aos santos. Uma vez que toda a verdade já havia sido exposta na revelação do Mistério (v. 3), as alegações desses instrutores eram falsas.

Para ajudar os colossenses a ver esses instrutores como eles eram realmente, Paulo expôs a maneira pela qual eles trabalhavam para conquistar a atenção das pessoas. Eles usaram um manto de “humildade” que deu a impressão de que eles eram verdadeiros servos de Deus. Humildade é uma virtude Cristã que deve marcar todos os crentes. O inimigo sabe disso e faz com que seus obreiros façam uma bela demonstração disso – mas com esses homens isso era apenas uma farsa. É triste dizer que a falsa humildade funciona como um encanto entre os Cristãos em geral. Quando as ideias dos falsos mestres são apresentadas com uma fraseologia espiritual transcendental, e atreladas com o que parece ser uma vida de santidade e humildade, os crentes não firmados são muitas vezes levados por elas.

A falsa humildade desses místicos envolvia a veneração de “anjos”. Mas ao se envolverem nessa prática, eles se expuseram. Como essas criaturas não caídas não pecam, e fazem apenas a vontade de Deus, a mente de Deus nesta questão é conhecida pela recusa deles de serem adorados (Ap 22:8-9). Assim, esses místicos estavam fazendo algo que Deus claramente não aprova. Eles estavam se intrometendo (esquadrinhando) em coisas invisíveis sobre as quais nada sabiam, e suas ideias eram mera imaginação e especulação. Além disso, “sua própria vontade em humildade e culto a anjos” é uma completa negação da ordem da nova criação que resultou da morte e ressurreição de Cristo. Como mencionado anteriormente, há agora uma nova raça de homens sob Sua liderança que está em uma posição que é superior à dos anjos. Por isso, no Cristianismo, os homens não são mais seres inferiores. É, portanto, completamente fora de ordem para os Cristãos estar fazendo reverência a essas criaturas inferiores. Se os anjos são inferiores aos Cristãos, por que os Cristãos os cultuariam?

Sem dúvida, a marca característica do ensino místico são as expressões vagas e nebulosas com as quais as ideias são apresentadas. Aqueles que estão impressionados com tal ensinamento geralmente descartam sua imprecisão alegando ser uma verdade profunda. Mas Paulo disse que suas novas ideias realmente vieram da sua “mente carnal” estando “inchados”. Assim, por trás de sua demonstração de humildade estava o orgulho espiritual! Como afirmado na Introdução, uma pessoa será atraída para essa linha de coisas porque ele pode se distinguir como tendo conhecimento em coisas divinas que os outros não têm. Ele pode fascinar seus amigos com seus pensamentos transcendentais e isso ministra ao seu orgulho.

V. 19 – É triste dizer que o resultado desta fachada de pseudo-espiritualidade é que os santos se distraem com novidades e cessam de “reter a Cabeça”. Isto é, eles deixam de olhar para Cristo, sua Cabeça, por direção, orientação e alimentação espiritual, passando a ocupar-se com coisas que, na verdade, os afastam d’Ele. Toda a verdadeira direção e sustento espiritual vem de Cristo, e devemos olhar para Ele por isso, mas nós os recebemos por meio das “juntas e ligamentos” (TB) do corpo, que são os membros que Ele usa para ministrar a verdade a nós (Ef 4:16). A comida espiritual não vem dos membros do corpo, mas do Senhor pelos membros do corpo. Ao suprir nossas necessidades espirituais deste modo, os membros são necessariamente interdependentes uns dos outros. O resultado deste ministério é que os santos estão “unidos” (TB) praticamente em amor e são edificados juntos “com o crescimento de Deus” (TB). O objetivo de todo ministério é que houvesse um crescimento nos santos que é de acordo com Deus. Nós não queremos um crescimento meramente na doutrina e conhecimento, por mais importante que seja, mas um aumento que é de Deus. Este é o verdadeiro desenvolvimento espiritual.

O remédio

A palavra simples e direta de Paulo para os colossenses era não permitir que alguém os persuadisse nessa direção mística, porque os privaria de seu “prêmio” (TB) por fielmente manter a verdade. Se os colossenses fossem enganados por esta linha mística de ensino, e entrassem nisso, seu desenvolvimento espiritual seria impedido. A conclusão de Paulo, portanto, era que, uma vez que não era de Deus e só os atrapalharia, e eles não deveriam permitir “que ninguém” os persuadisse a aceitar essa linha de coisas. Eles tinham tudo o que precisavam para reter firmemente a Cabeça.

IDENTIFICAÇÃO DO CRENTE COM A MORTE E RESSURREIÇÃO DE CRISTO

Colossenses 2:20–3:11

Chegamos agora à parte prática da epístola na qual estão as exortações baseadas na verdade de que, como crentes, estamos mortos e ressuscitados com Cristo. A aplicação prática dessa grande verdade não apenas livra os crentes dos quatro perigos mencionados no capítulo 2, mas também leva ao estabelecimento de Cristo caracteristicamente nos santos, que corresponde ao aspecto do Mistério nesta epístola – “Cristo em vós, a esperança da glória” (cap. 1:27).

Usando novamente a tipologia na jornada de Israel para Canaã, a verdade que está diante de nós nesta passagem corresponde à travessia do rio Jordão por Israel (Js 3-4). O rio Jordão é um tipo da morte de Cristo. A entrada de Israel no leito do rio corresponde à morte do crente com Cristo e a saída de Israel do leito do rio para a terra de Canaã corresponde ao crente sendo ressuscitado com Cristo. Naquela época, os filhos de Israel tiraram 12 pedras do leito do rio e as colocaram na banda de Canaã para um memorial. Isto tipifica o crente sendo ressuscitado e assentado nos lugares celestiais em Cristo (Ef 2:6).

O Efeito Prático de Estar Morto Com Cristo

Cap. 2:20-23 – Paulo fala primeiro das ramificações práticas do crente estando morto com Cristo. Ele diz: “Se (visto que) morrestes com Cristo aos rudimentos do mundo, porque, como se vivendo no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies, nem proves, nem toques (as quais coisas são todas para destruição pelo uso), conforme os mandamentos e doutrinas dos homens? Elas têm sem dúvida certa aparência de sabedoria em culto voluntário e humildade e severidade para com o corpo; mas não têm valor algum e só servem para satisfazer a carne” (TB). O argumento de Paulo aqui é que, uma vez que os santos morreram “com Cristo” para “os rudimentos [elementos – JND] do mundo”, por que se sujeitariam a várias ordenanças de religião mundana que foram inventadas por homens ou emprestadas do judaísmo? O crente não está apenas morto para as coisas mais grosseiras da carne, mas também para a religião mundana. Os Cristãos, em geral, não entenderam isso e incorporaram erroneamente muitas ordenanças e rituais carnais em seus cultos da igreja. W. Kelly disse: “O grande erro da Cristandade sempre foi voltar às ordenanças” (Lectures on Colossians, pág. 136). (O Cristianismo bíblico tem apenas duas ordenanças: o batismo e a ceia do Senhor. O batismo é realizado uma vez na vida de uma pessoa e o partir do pão na Ceia do Senhor deve ser feito semanalmente – At 20:7).

O fato de esses falsos mestres terem encorajado os santos a se engajarem nas ordenanças carnais da religião terrena provou que eles estavam promovendo algo que não fazia parte do verdadeiro Cristianismo bíblico. Para ajudar os colossenses a ver isso mais claramente, Paulo expôs a loucura de buscar a realização espiritual por meio de ordenanças carnais e práticas ascéticas (punir o corpo na tentativa de impedi-lo de obedecer às concupiscências da carne). Ele dá um exemplo das regras e regulamentos que acompanham muitas dessas ordenanças – “Não manuseies, nem proves, nem toques”. Estas são imposições humanas, que ele chama de “os mandamentos e doutrinas dos homens”, pelas quais pessoas religiosas mal orientadas procuram em vão controlar a carne e alcançar uma vida espiritual mais elevada. Religião feita de confiar em ordenanças e rituais externos pode ter um apelo para um homem “vivendo no mundo”, mas é totalmente inconsistente com o crente que aceita a verdade de que ele morreu com Cristo. A identificação com a morte de Cristo o separou de tudo isso. Em um parêntese, Paulo explica que essas coisas não eram espirituais, mas carnais, e “hão de perecer pelo uso” (v. 22a – AIBB).

Como mencionado anteriormente, o asceticismo nega ao corpo certas coisas (comida, sono, conforto natural, etc.) para purificar o espírito humano e controlar a concupiscência, mas na realidade só gratifica a carne com o sentimento de ter agido naquilo que acha ser louvável. A orgulhosa natureza caída ganha certa satisfação em tentar manter o corpo controlado; uma pessoa pode se orgulhar do que sofreu. Em outro parêntese (na JND), Paulo explica isso, afirmando que essas coisas têm “certa aparência de sabedoria em culto voluntário e humildade e severidade para com o corpo” (v. 23 – TB). Depois de fechar o parêntese, ele diz que toda essa prática é apenas “para a satisfação da carne”. Apesar desse ar de pseudo-espiritualidade, milhares de monges provaram que essas coisas não controlam os prazeres da carne. Eles passaram fome, espancaram seus corpos e fizeram muitas promessas sinceras a Deus, etc., mas nenhuma quantidade de força de vontade e sofrimento físico mudou a mente carnal do homem. O Senhor ensinou isso a Nicodemos, dizendo: “O que é nascido da carne é carne” (Jo 3:6). Ou seja, a carne não muda no homem, independentemente de quantos mecanismos forem usados para alterar suas propensões. Depois de todas essas tentativas de reformar a carne terem sido feitas, permanece a mesma velha carne que sempre foi.

No capítulo 2:20-23, Paulo não descreve um homem que está se esforçando para se tornar morto. Isso é algo que não é ensinado na Escritura, mas lamentavelmente buscado por muitos crentes bem-intencionados. Eles dirão: “Temos que morrer para nós mesmos, para que Cristo possa viver em nós”. A verdade é que o Cristão está “morto com Cristo” (v. 20). Ele também está “morto para o pecado” (Rm 6:2) e “morto para a lei” (Rm 7:4). Tudo isso é resultado de sua identificação com a morte de Cristo. Portanto, o que é necessário não é um esforço de alguém para atingir a morte com Cristo por meio de práticas ascéticas, mas ter o poder do Espírito para agir sobre o fato de que morremos com ele. Isto é retomado em detalhes em Romanos 6-8.

O Efeito Prático de Ser Ressuscitado Com Cristo

Capítulo 3:1-4 – A contrapartida da identificação do crente com a morte de Cristo é a identificação do crente com a ressurreição de Cristo. Paulo aborda isso em seguida. No capítulo 2, ele mostrou que o efeito prático de nossa morte com Cristo nos desconecta do mundo, da sabedoria e da religião humanas. Ele agora mostra que o efeito prático de nossa identificação com a ressurreição de Cristo é nos associar com o mundo de Deus acima e com tudo o que está lá. Por isso, o capítulo 2:20-23 apresenta o lado negativo dessa grande verdade e o capítulo 3:1-4 dá o lado positivo. A grande diferença entre os dois é que, do lado positivo, temos um objeto diante de nós – Cristo.

Paulo diz: “Se (visto que), ressuscitastes com Cristo [o Cristo – JND], buscai as coisas que são de cima, onde Cristo [o Cristo – JND] está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra. Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo [o Cristo – JND] em Deus”. Visto que é verdade que estamos identificados com Cristo em Sua ressurreição, devemos buscar as coisas que estão em Cristo nas alturas. Pode ser perguntado: “O que exatamente são ‘as coisas que são de cima’”? São as nossas bênçãos celestiais e privilégios que foram assegurados para nós pela morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Em Cristo ressuscitado, fomos introduzidos em uma esfera de coisas totalmente nova que veio à existência por meio do Seu Ser glorificado e assentado à destra de Deus. Essas coisas não existiam enquanto Cristo estava na Terra.

F. B. Hole explicou o que significa “pensai nas coisas que são de cima”. Ele disse: “Colocamos nossas mentes nas coisas do alto, não repousando em poltronas e entregando-nos a sonhos e imaginações místicas quanto às coisas que podem estar no céu, mas colocando nossa mente supremamente sobre Cristo e buscando em todas as coisas a promoção dos interesses do céu. O embaixador britânico em Paris coloca sua mente nas coisas britânicas buscando pelos interesses britânicos nas circunstâncias francesas, e não permanecendo sentado para tentar relembrar como é o cenário britânico” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 105-106). Assim, o Cristão cuja mente está fixada nas coisas celestiais está ocupado na Terra perseguindo os interesses celestiais de Cristo. Essas coisas seriam: pregando o evangelho, aprendendo e ensinando a verdade, pastoreando o povo de Deus, etc. A pessoa que está envolvida nisso tem colocado sua mente nas coisas de cima, porque esses interesses estão centrados em Cristo acima e têm seu objetivo final em Cristo acima.

É verdade que temos que suprir nossas necessidades temporais por meio de ocupação secular, mas não precisamos colocar nossas afeições nessas responsabilidades terrenas. O perigo para nós é sermos absorvidos pelas coisas terrenas. Daí vem a admoestação de Paulo para colocar nossa mente nas coisas de cima, e “não nas que são da Terra”. Ele acrescenta: “porque já estais mortos”. Ao dizer isso, Paulo não estava ensinando que o Cristão está morto para a natureza – isto é, para as coisas naturais desta criação. O crente está morto para o pecado e para o mundo, mas quando se trata de coisas naturais, Deus “abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” (1 Tm 6:17). Portanto, são coisas carnais e mundanas na Terra para as quais o crente está morto, não coisas naturais.

Paulo então diz aos colossenses que eles não devem esperar que o mundo entenda sua busca pelas coisas celestiais, porque a vida do Cristão está “escondida com Cristo em Deus” (v. 3). De quem é esta vida escondida? Está escondida dos homens do mundo. Os homens deste mundo não entendem os Cristãos, no que diz respeito às nossas fontes e motivos internos. Eles não conseguem entender por que vivemos da maneira como vivemos e as coisas pelas quais vivemos – não faz sentido para eles. O homem incrédulo do mundo vive e se move e tem todos os seus pensamentos sobre as coisas temporais desta Terra; ele acha que todos deveriam fazer o que ele faz. Quando ele vê um Cristão “marchando ao ritmo de um tambor diferente”, é um total enigma para ele.

Ter uma vida oculta com Cristo no sentido em que Paulo fala aqui não significa que nos escondemos do mundo literalmente. Ficar enclausurados em nossas moradias e, como monges, vivermos uma vida isolada seria contraproducente para nosso testemunho Cristão. Pelo contrário, o povo de Deus deve ser “a luz do mundo” e como “uma cidade edificada sobre um monte” que “não se pode esconder” e, portanto, deve ser um testemunho claro e brilhante perante o mundo (Mt 5:14). O principal direcionamento desta epístola aos colossenses é fazer com que os santos se movam juntos na Terra de tal maneira que haja uma manifestação diante do mundo da verdade do Mistério, que é: “Cristo em vós, a esperança da glória” (cap. 1:27).

Paulo conclui dizendo: “Quando Cristo que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória” (v. 4). Ele traz isto para mostrar que há um dia se aproximando quando Cristo e a Igreja serão manifestados diante do mundo inteiro (2 Ts 1:10), e nesse momento será revelado diante de todos o que a fé levou os crentes a fazer no dia de hoje. A revelação daquele dia explicará para o que temos vivido no dia de hoje (Jo 17:23). Da mesma forma, Paulo tinha apenas dois dias diante dele em sua vida e serviço: “dia de hoje” (At 20:26) e “aquele dia” (2 Tm 1:12, 18, 4:8). Ele viveu sua vida neste presente dia da graça em vista do dia da manifestação – e também devemos faze o mesmo.

Uma Mudança de Caráter

Vs. 5-17 – Ser introduzido na vida acima com Cristo exige que nossa velha vida, que uma vez vivemos em nossos dias antes da conversão, vá embora. A razão é simples: as duas não podem continuar juntas na vida de um Cristão. Assim, o que se segue neste terceiro capítulo é o exercício de despir-se do caráter da velha vida e vestir-se do caráter da nova, de modo que o objetivo divino de ter uma reprodução de Cristo manifestada nos santos seria alcançado (cap. 1:27).

O Velho Homem

Assim, nesta próxima série de versículos, Paulo faz uma aplicação prática referente a essa mudança de caráter baseada no “velho homem” (v. 9) e no “novo homem” (v. 10). Este é um assunto que não é bem entendido. Esses dois termos não se referem à carne e à nova natureza, como normalmente se pensa, mas são expressões abstratas que indicam o estado corrupto da raça caída de Adão e a nova ordem moral na raça da nova criação sob Cristo. O velho homem não se refere a Adão pessoalmente, mas ao que é característico da raça caída da qual ele é a cabeça. É a corporificação de cada característica horrenda e pecaminosa que marca aquela raça. Para se enxergar o velho homem adequadamente, devemos olhar para a raça como um todo, pois é improvável que qualquer pessoa seja marcada por todos os aspectos que caracterizam esse estado corrupto. Por exemplo, uma pessoa pode ser caracterizada por ser colérica e enganadora, mas pode não ser imoral. Outra pessoa pode não ser conhecida por perder a paciência, nem por ser trapaceira, mas é terrivelmente imoral. No entanto, considerando a raça como um todo, vemos uma personificação de todas as horrorosas características que compõem o velho homem.

Esse estado corrupto foi condenado por Deus na cruz (Rm 6:6, 8:3) e é algo que é deixado de lado pelo crente quando ele é salvo. Ele pode não estar consciente de o ter feito à época, mas ao tomar a posição Cristã, o crente, por sua profissão de fé, dissocia-se daquele estado corrupto, pois aquilo não faz parte do que constitui um Cristão. Portanto, como Cristãos, não estamos mais associados a esse antigo estado corrupto. Este despir-se é afirmado no tempo verbal aoristo5 no grego, que se refere a ter feito isso de uma vez por todas. A versão King James e as em português equivocadamente apresentam Efésios 4:22 como uma exortação, fazendo do despir-se do velho homem algo que devamos fazer em nossas vidas diariamente. Mas a passagem deveria dizer: “havendo se despido conforme o comportamento anterior, do velho homem (JND) Isso mostra que o despir-se do velho homem é algo que já foi feito na vida do crente e que as exortações seguintes dirigidas a ele na passagem são baseadas nesse fato.

Como mencionado, o “homem velho” é frequentemente confundido com a velha natureza (a carne). Este é um equívoco generalizado entre os Cristãos. Eles dirão coisas como: “O velho homem em nós deseja coisas que são pecaminosas”. Ou: “Nosso velho homem quer fazer esta ou aquela coisa má”. Essas afirmações estão confundindo o velho homem com a carne. A Escritura não usa o termo dessa maneira. J. N. Darby observou: “O velho homem está habitualmente sendo usado para a carne incorretamente” (Food for the Flock, vol. 2, pág. 286). Uma diferença é que o velho homem nunca é dito estar em nós, enquanto a carne certamente é. F. G. Patterson disse: “Nem eu acho que a Escritura nos permitirá dizer que temos o velho homem em nós – enquanto ensina da maneira mais plena que temos a carne em nós” (A Chosen Vessel, pág. 51). Portanto, não é correto se referir ao velho homem como algo que vive em nós com apetites, desejos e emoções, assim como a carne. H. C. B. G. disse: “Eu sei o que significa um Cristão que perde a paciência e diz que é ‘o velho homem’, mas a expressão está errada. Se ele dissesse que era ‘a carne’, ele teria sido mais correto” (Food for the Flock, vol. 2, pág. 287). Além disso, se o velho homem fosse a carne, então Efésios 4:22-23 (na KJV e nas versões em português) estaria nos dizendo que precisamos nos despir da carne! Isso é algo que nenhum Cristão pode fazer enquanto vive neste mundo. Isso não vai acontecer até que morramos ou quando o Senhor vier.

Portanto, não há exortações na Escritura para se despir do velho homem. Há, no entanto, exortações para se despir das coisas que caracterizam o velho homem. Assim, Paulo diz: “Mortificai [Colocai na morte – JND], pois, os vossos membros que estão sobre a Terra: a fornicação, a imundícia, a paixão [vil], a má concupiscência e a avareza, que é idolatria” (v. 5 – TB). Essas mais grosseiras manifestações da carne eram comuns no mundo pagão, mas não têm lugar na vida Cristã. O fato de que há uma exortação desse tipo para os crentes mostra que quando uma pessoa é convertida, sua antiga natureza pecaminosa não é erradicada.

Os Cristãos não são chamados a “mortificar” seus corpos, mas antes a mortificar “as obras” da carne que se manifestam em seus corpos (Rm 8:13). Ao usar a palavra “mortificar [colocar na morte – JND], vemos a necessidade de lidar com esses pecados severamente. F. B. Hole disse: “Colocar à morte é uma expressão forte e enérgica. Nossa tendência é negociar com essas coisas, e às vezes até brincar com elas e fazer provisões para elas. Nossa segurança, no entanto, está numa ação de forma implacável. Com espada à mão, por assim dizer, devemos nos encontrar com elas sem qualquer ideia de mostrar-lhe misericórdia. Antes, deveríamos encontrá-las da mesma maneira de Samuel ao despedaçar Agague perante o Senhor” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 106). Usando novamente o ensinamento típico na jornada de Israel à Canaã, o que é descrito aqui em Colossenses 3, corresponde a Gilgal – o lugar onde Israel cortou sua carne pela circuncisão (Js 5). Isso tipifica o exercício do crente de cortar as manifestações da carne por meio do julgamento próprio.

Note também que Paulo não estava falando de mortificar os “membros” de nossos corpos literalmente – o desmembramento de nossas mãos, pés, etc. Ele estava usando a palavra de maneira figurativa para descrever o exercício de julgar a carne e mantê-la no lugar de morte para que essas coisas corruptas não se manifestassem em nossos membros. Mortificar nossos membros não é feito com resoluções, jejuns, privando o corpo de confortos naturais, etc. Nunca nos é dito para nos crucificarmos ou lutarmos contra a carne para mantê-la na linha – essas coisas levam à derrota. Nós devemos colocar estas coisas na morte assim que sejam concebidas (Tg 1:15).

Entre esses horríveis distúrbios morais, Paulo menciona “avareza, que é idolatria”. A avareza é permitir que o desejo por algo tenha um lugar indevido em nossos corações que desloca Deus, e qualquer coisa que desloque Deus em nossas afeições é um ídolo.

Vs. 6-7 – Os homens acham que podem cometer esses pecados e escapar do julgamento de Deus, mas Paulo diz que “vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência”, que sentem prazer nesses pecados. Este julgamento é governamental (enquanto vivem neste mundo) e eterno (quando saem deste mundo).

Vs. 8-9 – Mas há outras coisas, além daquelas mencionadas no versículo 5, que são do velho homem e que também devemos nos despir delas. Paulo diz: “Mas agora despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência [blasfêmia – JND], das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos”. Outra vez, “despojar” está no tempo verbal aoristo do grego. Nós uma vez vivemos envolvidos nessas coisas como uma roupa vestida sobre nós. Quando os homens olhavam para nós, era isso que eles viam – uma “roupa manchada da carne” (Jd 23). Ao sermos salvos, isso não deve ser visto nunca mais. Assim, a roupa antiga deve ser despida, e essa é a essência da exortação de Paulo aqui. Vamos repetir: o exercício não é despir o velho homem – isso já foi feito – mas despir o caráter pecaminoso do velho homem.

O Novo Homem

Vs. 10-15 – Tendo declarado o lado negativo das coisas, Paulo continua a dar o lado positivo em conexão com o novo homem. Ele diz: “tendo colocado o novo (homem), renovado para o pleno conhecimento de acordo com a imagem daqu’Ele que o criou, onde não há grego e judeu, circuncisão e incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; mas Cristo é tudo e em todos” (JND). Assim como o despir do velho homem, o vestir do novo homem é uma coisa que foi feita quando uma pessoa assumiu a posição Cristã. As exortações práticas que se seguem nos versículos 12-15 baseiam-se neste fato.

O “novo homem”, como o velho homem, é um termo abstrato. Indica a perfeição moral na raça da nova criação sob Cristo. Enquanto o velho homem é caracterizado por ser “corrupto” e “enganoso”, o novo homem é caracterizado por “justiça” e “santidade” (Ef 4:22-24). O novo homem foi visto pela primeira vez “em Jesus” (Ef 4:21). Isto é, os homens viram pela primeira vez essa perfeição moral quando o Senhor Jesus andou aqui neste mundo. (“Jesus” é o nome de Sua Humanidade.) Assim como o velho homem não é Adão pessoalmente, o novo homem não é Cristo pessoalmente. G. Davison disse: “O novo homem não é Cristo pessoalmente, mas é Cristo caracteristicamente” (Precious Things, vol. 3, pág. 260). Como mencionado anteriormente, o novo homem é frequentemente confundido com a nova vida e a nova natureza no crente. As pessoas dirão erroneamente: “O novo homem em nós precisa se alimentar de Cristo”. Ou: “Nosso novo homem precisa de um Objeto – Cristo”. Seria mais correto dizer que a nova vida em nós precisa se alimentar de Cristo.

V. 11 - Paulo menciona quatro coisas que marcam a antiga ordem de criação que não fazem parte da nova ordem de criação:

- “grego e judeu” – sem distinções nacionais. - “circuncisão e incircuncisão” – sem distinções religiosas. - “bárbaro, cita” – sem distinção intelectual. - “servo nem livre” – sem distinções sociais.

Assim, as distinções de raça, religião, cultura e classe são todas superadas na nova posição do crente em Cristo, a Cabeça da nova criação. Acrescentando, “Cristo é todas as coisas e em todos” (JND), Paulo estava indicando que tudo na nova ordem de vida em Cristo toma o caráter d’Ele, pois Ele é a Cabeça da nova raça (Ap 3:14). Ele é “tudo e em todas as coisas” (Cl 3:11 – TB).

Cristo Visto no Crente

Vs. 12-15 – Passando à aplicação prática disso, Paulo diz: “Revesti-vos pois [Vesti pois – JND], como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade. Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro: assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade [acrescentai o amor – JND], que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos”. Isso mostra que, desde que nos vestimos do novo homem, nossa vida deve manifestar isso praticamente. Assim, outra veste, por assim dizer, é para ser vestida a qual manifesta o caráter do novo homem. Essa mudança de caráter é ilustrada tipicamente em Elias e Eliseu. Elias é um tipo do Cristo que foi elevado ao céu e Eliseu é um tipo do crente. Os filhos dos profetas disseram sobre Eliseu: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (2 Rs 2:15). Ele havia rasgado suas próprias vestes e colocado as vestes de Elias, e ao fazê-lo, não teve mais uso para o manto velho, por isso foi deixado de lado.

“Santos e amados” é o que os santos são diante de Deus. Paulo então lista dez características morais do novo homem, que é como os santos devem ser vistos diante do mundo. Essas coisas são as características morais de Cristo. Quando elas são vistas nos santos enquanto se movem juntos, coletivamente, a verdade de “Cristo em vós, a esperança da glória” será exibida diante do mundo (cap. 1:27):

- “Compaixão” (Mt 14:14; Mc 1:41). - “Bondade” (Ef 4:32). - “Humildade” (Mt 11:29). - “Mansidão” (Mt 11:29). - “Longanimidade” (Hb 12:3). - “Paciência” (Mt 26:63; Jo 19:9). - “Perdão” (Lc 23:34). - “Amor” (Jo 13:1). - “Paz” (Jo 14:27). - “Gratidão” (Mt 11:25).

Em meio a todos esses traços maravilhosos de Cristo, Paulo diz: “E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade [acrescentai o amor – JND], que é o vínculo da perfeição” (v. 14). Este é o cinto, por assim dizer, que mantém a nova vestimenta no lugar.

Nós podemos ver porque essa passagem tem sido frequentemente chamada de “o Vestiário do Cristão”. Ela tem a ver com mudança de caráter. Como mencionado, é o antítipo de Israel circuncidando-se em Gilgal. Ao fazê-lo, o Senhor tirou “o opróbrio do Egito” de sobre eles (Js 5:9). Da mesma forma, quando uma pessoa vem a Cristo pela primeira vez, ele carrega as marcas de sua vida no mundo, das quais o Egito é um tipo. Mas, ao passar pelo exercício deste capítulo de despir aquela roupa velha e vestir a nova, ele não é mais marcado pelas coisas de sua antiga vida. A vergonha e a reprovação acabaram porque houve uma mudança de caráter.

Como o novo homem é conformado segundo “a imagem daqu’Ele que o criou”, sendo parte da raça da nova criação, somos plenamente capazes de representar a Deus neste mundo.

O Poder Espiritual Para Agir de Acordo com a Verdade

Vs. 16-17 – Paulo nos exortou a vestir as características morais do novo homem, mas a questão é: “Como?” Ele continua abordando isso a seguir. Alguns dirão que devemos cultivar as graças Cristãs fazendo um esforço para agir como Cristo em todas as situações da vida. No entanto, Paulo não indica que essas coisas são colocadas por qualquer esforço consciente do crente. Antes, ele diz: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração E, (tudo) quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai”. Ele fala de duas coisas aqui: a necessidade de nos enchermos com as coisas de Cristo pelas várias maneiras que Paulo estabelece, e estarmos engajados com as coisas da vida que podem ser feitas para a glória de Cristo. Quando estamos ocupados com essas coisas, as características morais de Cristo serão formadas em nós pelo Espírito com bastante naturalidade (2 Co 3:18). Da mesma forma, uma árvore produz frutos como resultado natural do sistema radicular absorvendo água e nutrientes do solo. É verdade que devemos nos exercitar “na piedade” (1 Tm 4:7 – TB), mas isso é feito agindo sobre o próprio princípio que Paulo aborda aqui – estando cheio das coisas de Cristo. A atual produção de “fruto” se dá em nós pelo Espírito quando estamos ocupados com Cristo e Seus interesses (Gl 5:22-25).

“A Palavra de o Cristo**”** (JND) é a verdade que pertence especificamente a Cristo e à Igreja. Isto é indicado na expressão **“o Cristo”** que denota a união mística da Cabeça com os membros do corpo (1 Co 12:12-13). “Sabedoria, ensino e admoestação” são instruções específicas relativas à colocação dessa verdade em prática.

“Salmos, hinos, cânticos espirituais” são três tipos de composições Cristãs que expressam pensamentos e sentimentos espirituais em relação ao Senhor, à verdade e ao caminho em que trilhamos. “Salmos” não são, como alguns pensam, os Salmos do Velho Testamento. Estas são composições baseadas em experiências Cristãs pelas quais os santos passaram, caminhando com o Senhor. Se fossem os salmos do Velho Testamento, o Espírito de Deus teria acrescentado o artigo “os” como em Lc 24:446 e At 13:33. Os Salmos do Velho Testamento são composições judaicas expressando sentimentos e experiências judaicas; elas não têm um caráter Cristão e não transmitem adequadamente o conhecimento e sentimento Cristão. Por exemplo, o nome do Pai, que é característico do Cristianismo, não é conhecido neles. Portanto, a vida eterna não está em vista nos Salmos (Jo 17:3). Além disso, o conhecimento da obra consumada de Cristo não é conhecido pelos escritores dos Salmos, nem a aceitação do crente em Cristo diante de Deus por meio da habitação do Espírito. Os Salmos do Velho Testamento não retratam os sentimentos de quem tem uma consciência purificada e conhece a paz com Deus. Consequentemente, eles são compostos com um elemento de medo do julgamento de Deus, mesmo que eles tenham fé. Além disso, a esperança nos Salmos não é o céu, mas viver na Terra no reino do Messias de Israel (Sl 25:13, 37:9, 11, 29, 34, etc.). A adoração é também de uma ordem judaica em um templo terrestre. O lugar da adoração de um Cristão dentro do véu é totalmente desconhecido. Além disso, o clamor em muitas das orações nos Salmos é por vingança contra seus inimigos, que não é a atitude de um Cristão que abençoa aqueles que o amaldiçoam e ora por aqueles que os tratam injustamente. Os Cristãos podem lê-los e obter um entendimento das circunstâncias do remanescente judaico na Tribulação vindoura, e obter neles conhecimento dos princípios morais de Deus que são aplicáveis aos santos de todas as épocas, e assim receber consolo e esperança em suas circunstâncias da vida.

“Hinos” são composições que expressam adoração e se dirigem diretamente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo. Estes podem tomar a forma de orações. “Canções espirituais” são composições que contêm verdades espirituais de acordo com a revelação Cristã pelas quais somos instruídos e exortados no caminho Cristão. Eles podem estar na forma de “ensino” a nós sobre algum aspecto da verdade do Novo Testamento, ou de “admoestação” quanto a algum ponto prático da vida Cristã.

Quando estamos imersos nessas coisas espirituais que têm a ver com Cristo, o poder do Espírito será evidente em nossa vida, e Cristo será visto em nós.

RELAÇÕES TERRENAS ONDE CRISTO DEVE SER MANIFESTADO

Capítulos 3:18–4:6

Nesta próxima seção, Paulo mostra que uma manifestação do caráter de Cristo deve ser vista em todos os aspectos de nossas vidas – no círculo familiar, em nossa vida profissional e no alcance dos perdidos no mundo. Em cada relacionamento e em cada esfera, aqueles que estão em sujeição são tratados primeiro. A esposa é exortada antes do marido, os filhos antes dos pais e os servos antes dos senhores.

Cristo Demonstrado no Círculo Familiar

Cap. 3:18-21 – Paulo fala primeiro do círculo familiar. As relações de maridos e esposas, pais e filhos não surgiram com a introdução do Cristianismo – essas relações remontam ao começo da existência do homem. Mas o que o Cristianismo trouxe para a vida familiar é o Senhorio de Cristo como sendo o novo fator motivador de todo comportamento correto nessas relações. Isto é indicado nesta próxima passagem pelo uso frequente do termo – “o Senhor”. Ele eleva todo o assunto a um plano mais elevado do que era conhecido nos tempos do Velho Testamento.

É apropriado que Paulo se dirija primeiro à unidade familiar, pois é um alvo primordial do inimigo. A desintegração da vida familiar é uma das coisas que marca “os últimos dias” no testemunho Cristão (2 Tm 3:1-2). Mas isso não precisa ser assim. Se seguirmos os princípios básicos que Paulo aborda nesses versículos a respeito do amor, da submissão e do Senhorio de Cristo, seremos capazes de enfrentar e derrotar todos os desígnios do inimigo contra a família. Ele mostra que há certas obrigações e responsabilidades na vida doméstica, e quando essas coisas são aplicadas, o lar Cristão andará de acordo com a ordem de Deus e terá Sua bênção e proteção das incursões do inimigo.

Esposas (v. 18)

A esposa Cristã deve “estar sujeita” ao marido, não porque o marido insiste nisso, mas porque isso “convém ao Senhor”. Isso expressa o lugar em que a Igreja foi estabelecida em relação a Cristo (Ef 5:22-24). Um motivo para sua submissão pode muito bem ser seu amor pelo marido – e isso, é claro, é bom. Mas como uma mulher Cristã sob o Senhorio de Cristo, ela tem um motivo maior para sua submissão – ela se submete porque é o que o Senhor quer que ela faça. Uma vez que toda esposa Cristã, em condições normais, quer agradar ao Senhor, ela deve ser feliz em fazê-lo, pois é a vontade de Deus.

Nota: Paulo não diz que a esposa deve obedecer ao marido, como as crianças e os servos devem fazer. Isso é porque ela não tem o mesmo relacionamento que os filhos e servos têm com o cabeça da família. Se a obediência fosse exigida da esposa, isso tornaria o relacionamento num casamento Cristão uma coisa legal. A submissão é diferente de obediência. É algo que vem do coração, enquanto que na obediência o coração da pessoa pode estar longe do ato de obedecer. Além disso, se problema entra no relacionamento do casamento, a submissão pode curar muitas das dificuldades que surgem. J. N. Darby disse: “A submissão é o princípio curativo da humanidade”.

Ocupar um lugar de submissão no relacionamento conjugal implica que ela não deve tomar o papel da liderança ou usurpar a autoridade do marido em casa.

Maridos (v. 19)

O marido Cristão deve “amar” sua esposa. Ele deve não apenas iniciar o amor no relacionamento, mas também é ele quem deve mantê-lo. Quando uma mulher Cristã sabe que é amada pelo marido, isso vai ajudá-la muito a se submeter a ele. Se um marido “se irrita contra ela [a trata com amargura – ARA], como Paulo adverte, isso só tornará o casamento mais difícil.

Crianças (v. 20)

As crianças devem entender que quando elas “obedecem” aos pais, estão fazendo algo que é “agradável ao Senhor”. Obedecer “em tudo” significa até mesmo em coisas que elas possam não gostar de fazer. Novamente, se as crianças souberem e tiverem certeza de que são amadas por seus pais, isso ajudará grandemente em sua disposição de obedecer. É bom notar que a palavra “pais” está no plural. Isso reprime a tendência de as crianças obedecerem a um dos pais e não ao outro – talvez ao pai, mas não tanto à mãe. Os pais sendo plurais também sugerem que são um em seus desejos para com as crianças e que estão levando-as na mesma direção.

Pais (v. 21)

Os pais não devem fazer exigências injustificadas a seus filhos, por meio das quais os “irritam” e eles acabam “perdendo o ânimo”. Isso é dito aos pais, mas não às mães, porque os pais têm uma tendência maior a fazer exatamente isso.

Cristo Demonstrado no Local de Trabalho

Cap. 3:22-25 – A próxima esfera de responsabilidade que Paulo aborda é o local de trabalho, onde os servos e senhores têm seus respectivos papéis.

Servos (Escravos)

Esses crentes eram escravos. Escravidão é algo que Deus nunca pretendeu para o homem; foi introduzido por homens perversos para propósitos sem princípios. É interessante e instrutivo ver que em cada epístola de Paulo que trata desse assunto, ele não encoraja os crentes escravos a fazer um esforço para se livrar de sua situação. Em vez disso, ele diz a eles como se comportar em sua situação para que o testemunho da graça de Deus no evangelho seja promovido. Isso porque o Cristianismo não é uma força para corrigir injustiças sociais no mundo; esse não é o objetivo do evangelho. Quando o Senhor veio em Sua primeira vinda, Ele não tentou reformar o mundo retificando seus erros sociais e políticos. Ele fará tudo isso num dia vindouro, quando intervier em juízo na Sua Aparição. Então toda coisa torta neste mundo será corrigida (Is 40:3-5). Assim, os Cristãos não foram chamados para acertar o mundo, mas para esperar pelo dia vindouro. Devemos deixar o mundo como está e anunciar o evangelho que chama os homens do mundo para o céu. Não há, portanto, nenhuma orientação nas epístolas para os Cristãos corrigirem os erros da escravidão, ou qualquer outra injustiça social no mundo. Isto é porque estamos “no” mundo, mas não somos “do” mundo (Jo 17:14). O Senhor disse que se o Seu reino fosse “deste mundo”, então Seus servos lutariam nessas causas (Jo 18:36). Mas, como não é esse o caso, devemos “deixar o caco se esforçar com os cacos da Terra” (Is 45:9 – JND).

Paulo sabia como era importante para os Cristãos manter um bom testemunho diante do mundo. Sua grande preocupação para os servos Cristãos era que eles se comportassem de uma maneira correta, de modo que “o nome de Deus e a doutrina” não fossem “blasfemados” (1 Tm 6:1). Esses crentes escravos não deveriam fugir (como Onésimo fez antes de ser salvo – Fm 15), mas permanecer em sua posição de vida e glorificar a Deus diante de seus senhores tratando-os com verdadeiro respeito, e não “servindo só na aparência, como para agradar aos homens”. Se eles servissem com “em simplicidade de coração, temendo a Deus”, isto prestaria um poderoso testemunho da realidade de sua fé em Cristo. Assim, eles deveriam trabalhar para seus mestres “de todo o coração, como ao Senhor”, pois, na realidade, eles estavam servindo “a Cristo, o Senhor”. Isso mostra que, independentemente de onde um crente está em seu status social, ele ainda tem uma oportunidade para testemunhar por Cristo. Nem todos somos missionários, mas todos podemos compartilhar o evangelho com aqueles a quem interagimos em nossa vida diária e, assim, servir ao Senhor dessa maneira.

Para encorajar estes servos nisso, Paulo lembra-lhes de que o Senhor estava tomando nota de tudo o que eles fizeram, e que Ele iria “galardoá-los” num dia vindouro com a posse da “herança”. Que inversão estava por vir a estes crentes escravos! Eles tinham bem poucos bens neste mundo – eles não podiam possuir propriedade, etc. – mas eles estavam destinados a serem co-herdeiros com Cristo sobre a herança de todas as coisas criadas no universo!

Senhores (cap. 4:1)

Por fim, Paulo se dirige aos senhores Cristãos. Mais uma vez, não lemos sobre ele dizendo-lhes para cessar com o seu envolvimento na escravidão. Em vez disso, ele os instrui sobre como se comportar como senhores de uma maneira que honre a Deus. Eles deviam remunerar seus servos com o que era de “justiça e equidade” por seus serviços prestados. Os senhores deveriam estar conscientes de que eles tinham um “Senhor no céu” a Quem são responsáveis.

Vivendo no mundo ocidental onde a escravidão foi abolida há muito tempo, podemos estar inclinados a pensar que esta passagem não tem aplicação para nós hoje. No entanto, quando somos empregados remunerados em alguma empresa, em princípio, estamos no local de trabalho na mesma posição que esses servos Cristãos. Durante as horas de nossas ocupações, prestamos nossos serviços a várias empresas por salários. Portanto, as orientações dadas aqui aos servos têm uma aplicação prática para nós quando estamos em nossos empregos. Da mesma forma, os empregadores que possuem uma empresa e têm funcionários, em princípio, estão na posição de senhores, e devem administrar suas empresas de uma maneira que honre o Senhor.

A história da Igreja revela que essa orientação foi geralmente aceita pelos escravos Cristãos – a tal ponto que era bem conhecido no mundo da escravidão que um escravo Cristão tinha um preço mais alto em leilão. É um tributo à fé Cristã. Deve ser o mesmo hoje; qualquer empregador que possa contratar um empregado Cristão deve ser grato, porque o Cristão deve cuidar do negócio de seu patrão com a devida diligência e tratá-lo como se fosse dele (Ef 6:5-8; 1 Pe 2:18).

Cristo Demonstrado na Propagação da Verdade no Mundo

Cap. 4:2-6 – Na seção anterior as exortações eram para grupos específicos de indivíduos, mas agora elas se ampliam para os crentes em geral. As exortações aqui têm a ver com o apoio dos santos à divulgação da verdade por meio da oração e da conduta piedosa. Eles são encorajados a orar pelas coisas em geral, e particularmente pelos servos do Senhor em seu trabalho de comunicar a verdade, e que os santos manteriam um testemunho apropriado para com os perdidos.

Paulo diz: “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças” (v. 2). Muitas vezes oramos por algo, mas desistimos. Isto não é bom. O Senhor ensinou que os homens devem “orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18:1). Já foi dito que precisamos orar tanto quanto precisamos respirar! A alma floresce na atmosfera de oração, mas definha sem ela. Perseverar na oração não significa que devemos insistir com Deus em relação a algo que queremos e persistir em pedir até que Ele nos dê o que estamos pedindo. Isso manifesta um espírito não subjugado que insiste em ter seu próprio caminho. Se essa é a nossa atitude, para nos ensinar uma lição, Deus pode nos conceder o nosso pedido, mas enviar com ele carência à nossa alma (Sl 106:15). Tiago nos diz que, em todas as nossas orações, devemos acrescentar: “Se o Senhor quiser” (Tg 4:15; Mt 26:39). Isso manifesta um espírito de submissão à vontade divina e um reconhecimento de que, em última análise, queremos a Sua vontade no assunto. “Velando nela” é observar a resposta do Senhor aos nossos pedidos de oração. Isso manifesta fé. Fazê-lo “com ação de graças” manifesta confiança no Senhor. É dizer: “Qualquer coisa que o Senhor der como resposta (seja ‘sim’ ou ‘não’), sei que será o melhor para mim, por isso vou me regozijar e dar graças mesmo antes de Ele tornar Seu pensamento conhecido”.

Como mencionado, mais especificamente, Paulo desejou as orações dos santos pelo trabalho de divulgar a verdade. Ele diz: “para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do Mistério de Cristo” (v. 3).

Vs. 5-6 – Quanto à sua conduta, ele disse: “Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo [oportunidades – JND]. Vossa palavra seja sempre agradável [com graça – JND], temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um”. Se andarmos com sabedoria em nossa vida diária, teremos “oportunidades” de compartilhar o evangelho com os perdidos (“os que estão de fora”). Andar “para com” implica uma busca genuína de seu bem-estar. Isso abre as portas quando as pessoas percebem que estamos genuinamente interessadas nelas. “Remindo o tempo” refere-se a libertar o tempo livre (o significado de resgatar) em nossos horários ocupados para ser usado no serviço ao Senhor. Paulo fala disso também em Efésios, mas em conexão com uma esfera diferente (Ef 5:15-21). Colocando as duas referências juntas, vemos que existem realmente apenas duas esferas de serviço em que devemos usar nosso tempo:

- Remindo o tempo para ajudar as pessoas da comunidade Cristã (“vós” – Ef 5:19, 21). - Remindo o tempo para ajudar os que estão fora da comunidade Cristã (“os que estão de fora” – Cl 4:5).

Esses versículos em Colossenses 4 têm a ver com alcançar os perdidos com o evangelho. É significativo que “orar” seja mencionado antes de alcançar “os que estão de fora”. Isso mostra que todo trabalho de evangelização deve ser feito em sensível dependência do Senhor.

“A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal” (AIBB) tem a ver com a forma como nos aproximamos dos outros. Devemos sempre nos comportar de maneira graciosa, cortês e gentil em todas as nossas interações com os homens do mundo. Isso vai funcionar para ganhá-los para Cristo. Mas nosso discurso também deve ser “temperado com sal”. Isso fala de fidelidade. Assim, devemos nos lembrar de ter uma palavra para a consciência do incrédulo, para que eles possam perceber que eles têm a haver com Deus, e que eles precisam estar preparados para encontrá-Lo. As consciências dos incrédulos precisam ser tocadas, mas cortaremos seus ouvidos se os “importunarmos” o tempo todo. Paulo disse que nosso discurso deve ser temperado aqui e ali com uma palavra fiel às suas consciências. Podemos ser excessivamente zelosos ao tentar salvar incrédulos e sermos conhecidos por pressionar demais as consciências dos homens. Isso faz com que as pessoas percam o interesse e se afastem. Zelotes como este parecem pensar que este versículo diz: “A vossa palavra seja sempre salgada, temperada com graça.” No entanto, é bem o contrário. A Escritura indica que é possível ter “zelo de Deus, mas não com entendimento” (Rm 10:2). O zelo é bom, mas precisa ser guiado pelo conhecimento e sabedoria. Paulo disse aos gálatas: “É bom ser zeloso, mas sempre do bem” (Gl 4:18). Ele acrescenta aqui: “para que saibais como vos convém responder a cada um”. Isso implica que, se andarmos em sabedoria para com os que estão de fora, estimularemos o interesse deles e eles “pedirão” de nós “a razão da esperança que há em nós (1 Pe 3:15). Quando eles têm esse espírito, podemos conduzi-los a Cristo.

Resumo da Parte Prática da Epístola Que Resulta na Demonstração de Cristo nos Santos

O que foi dito até aqui encerra a parte principal da epístola. Se ela for seguida pelos santos com exercício moral, o caráter de Cristo será visto em nós. Existem três elos no desenvolvimento desta verdade:

- O QUE deve ser manifestado – o caráter de Cristo (cap. 3:12-15). - COMO deve ser manifestado – por estar cheio de Cristo e Seus interesses em tudo o que falamos e fazemos (cap. 3:16-17). - ONDE deve ser manifestado – em todas as esferas da vida do crente (caps. 3:18-4:6).

SAUDAÇÕES DE ENCERRAMENTO

Colossenses 4:7-18

As saudações finais que Paulo anexa ao corpo da epístola apresentam um belo quadro da graça, da bondade e do interesse mútuo que existirá no círculo Cristão quando os santos estiverem se movendo de acordo com a verdade do Mistério. Eles ilustram as condições felizes de comunhão entre os santos no corpo de Cristo enquanto eles se movem juntos. Várias pessoas são mencionadas por vários motivos:

Vs. 7-8 – “Tíquico” (At 20:4; Ef 6:21; 2 Tm 4:12; Tt 3:12) é mencionado primeiro. Foi ele quem levou a epístola aos colossenses. Epafras poderia ter sido escolhido para fazer isso, sendo que ele era colossense, mas como ele foi encarcerado com Paulo (Fm 23), não foi possível. Tíquico também deveria trazer as notícias pessoais sobre o “estado” de Paulo em Roma. Ao mencionar isso, vemos que Paulo sabia que os santos colossenses estariam interessados em seu bem-estar pessoal, mesmo que não tivessem visto o rosto dele antes (cap. 2:1). Isso é Cristianismo normal.

Não se fala muito de Tíquico na Escritura, a não ser o que lemos nesta passagem. Paulo fala de três coisas dele aqui. Ele era um “irmão amado”, um “fiel ministro”, e um “conservo no Senhor”. Ter amor e fidelidade combinados em uma pessoa é uma raridade. É um equilíbrio ideal. Muitas vezes, quando os homens procuram ser fiéis, são inconscientemente severos e rudes. Eles tendem a manifestar pouca preocupação com a paz de espírito dos santos. Por outro lado, aqueles que são distinguidos pelo amor podem ser amáveis à custa da fidelidade. Nenhum desses extremos caracterizou Tíquico; seu amor não impediu sua fidelidade. Paulo acrescenta: “para que saiba do vosso estado e console os vossos corações”. Isso não é se intrometer nos assuntos alheios, mas a mostra de um genuíno cuidado e preocupação pelos irmãos. Isso mostra como o amor Cristão se deleita em compartilhar.

V. 9 – “Onésimo” foi um escravo que roubou seu senhor e fugiu. De alguma forma ele cruzou caminhos com Paulo e a graça de Deus operou em seu coração e ele foi salvo. (Veja na epístola de Paulo a Filemom a história toda.) Ele era agora um “fiel e amado irmão” (TB) e deveria ir com Tíquico a Colossos com a carta a Filemom. Fidelidade e amor pelas quais ele foi distinguido são as mesmas duas coisas que foram ditas de Tíquico. No entanto, nada é dito indicando que ele tenha ministrado a Palavra, como foi o caso de Tíquico. Isto é provavelmente porque ele ainda era muito jovem na fé.

V. 10 – Os próximos três homens foram convertidos do judaísmo – “a circuncisão” (v. 11). Eles pediram que Paulo enviasse suas saudações aos colossenses. O primeiro deles foi “Aristarco”. Ele era um “macedônio de Tessalônica”, que veio a Roma com Paulo na viagem memorável que sofreu naufrágio em Melita (At 27:2). A julgar pelo seu nome, ele provavelmente era um prosélito gentio do judaísmo, mas tendo crido no evangelho, ele havia se convertido ao Cristianismo. Como Tíquico, Aristarco tinha acompanhado Paulo em sua terceira viagem missionária (At 19:29, 20:4) e foi usado pelo Senhor na pregação e ensino (Fm 24). Em algum momento, ele havia sido preso e encarcerado com Paulo. Assim, Paulo o chama de “meu companheiro de prisão” (TB).

“Marcos” (João Marcos – At 12:12), que era “sobrinho de Barnabé”, também enviou suas saudações. Doze anos antes, ele havia se “apartado” de Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária (At 13:13; 15:38), mas tendo recuperado a confiança do apóstolo, estava mais uma vez servindo com ele. Nota: Marcos não é dito ser um ministro fiel como eram Tíquico, Onésimo e Epafras. Supomos que isso aconteceu porque ele falhou em seu serviço com eles e desertou os apóstolos em Perge. Já que os santos em Colossos provavelmente sabiam da falha de Marcos, Paulo queria que eles soubessem que ele havia recuperado a confiança dos irmãos e mais uma vez foi “muito útil” no ministério (2 Tm 4:11). Assim, Paulo recomendou-o aos colossenses para que o recebessem, se ele fosse para eles. Apesar de ser um servo que havia falhado, Marcos foi levado mais tarde a escrever o segundo evangelho que retrata o Senhor como o Servo perfeito. Os “mandamentos [instruções – TB]” aos quais Paulo se refere são os decretos apostólicos que foram dados aos crentes gentios (At 15:20, 29; 16:4, 21:25).

V. 11 – “Jesus, chamado Justo” também enviou suas saudações. Os santos o chamavam de “Justo” em vez de Jesus, porque eles evidentemente acreditavam que o nome de “Jesus” – que é o “nome que é sobre todo o nome” (Fp 2:9) – deveria ser reservado somente para o Senhor. Este verso levou os irmãos a encorajar aqueles que receberam o nome Jesus por nascimento a mudarem seu nome por outro quando eles são salvos.

Os irmãos citados acima eram uma verdadeira “consolação” para Paulo. A palavra grega traduzida como “consolação” aqui não é encontrada em nenhum outro lugar na Escritura. Isso mostra que Paulo sentiu a perda de sua liberdade e realmente sentiu falta da comunhão que ele havia desfrutado entre os irmãos.

Vs. 12-13 – Paulo então envia saudações de três crentes gentios que estavam com ele em Roma. O primeiro deles é “Epafras”, que era colossense (“que é dos vossos”). Paulo chama especial atenção para o fervor desse homem na oração. Ele era um ministro capacitado da Palavra (cap. 1:7), e em geral acredita-se que foi por meio de seus trabalhos que a assembleia colossense foi formada. Mas parece que seu maior ministério foi o da oração. Ao estar em cativeiro com Paulo, ele foi separado de seus irmãos locais, mas trabalhou em oração pela causa deles. Como mencionado em nossas observações no capítulo 1:9, talvez o maior serviço que podemos fazer pelos santos é orar por eles.

Vemos do modo como Paulo fala da oração aqui que definitivamente há um conflito espiritual envolvido. Ele diz que Epafras estava “combatendo sempre [seriamente – JND] por vós em orações”. Na margem da KJV diz “esforçando”. (Veja também o capítulo 1:29-2:1 e Lc 22:44 na Tradução JND). Há espíritos malignos “nos lugares celestiais” (Ef 6:12) – a esfera da atividade espiritual –que trabalham para impedir as orações dos santos (Dn 10:12-13). É por isso que precisamos perseverar na oração (v. 2).

Epafras cuidou dos colossenses com “grande zelo”. Assim, ele tinha o coração de um pastor. O grande objetivo em suas orações era que os santos em Colossos fossem “perfeitos e completos em toda a vontade de Deus” (JND). Isto se refere aos santos sendo estabelecidos na verdade do Mistério. Paulo orou para esse fim também (cap. 1:9). É triste dizer que, apesar das orações e trabalhos de Paulo e Epafras e outros, os santos colossenses nunca alcançaram este objetivo. Em quatro ou cinco anos, esses mesmos santos da província da Ásia se afastaram de Paulo e de sua doutrina (2 Tm 1:15). Eles não se afastaram do Senhor. Eles permaneceram Cristãos, pois desistir de sua confissão de serem crentes no Senhor Jesus Cristo seria apostasia; isso nenhum Cristão verdadeiro fará. Mas eles não queriam mais ser identificados com os ensinamentos de Paulo por causa da reprovação e da perseguição relacionadas a ele (2 Tm 1:8, 16-18).

O zelo e cuidado de Epafras não era apenas para seus irmãos locais em Colossos, mas também para “os que estão em Laodiceia (a 15 quilômetros de Colossos) e os de Hierápolis (a 19 quilômetros de Colossos). Ele sabia que a má doutrina se alastraria “como gangrena” (2 Tm 2:17 – AIBB), e essas assembleias vizinhas também estariam sob o perigo do ensino místico.

V. 14 – “Lucas, o médico amado”, também enviou suas saudações. Aparentemente, ele permaneceu com Paulo até o final da vida de Paulo (2 Tm 4:11).

“Demas” cumprimentou-os também. Mas nem uma palavra é dita sobre ele. Paulo não diz que ele foi amado ou fiel, como ele afirma dos outros. Isso nos faz pensar se ele estava se afastando em sua alma, e Paulo não tinha nada louvável a dizer dele. Paulo fala de Demas da mesma forma em sua epístola a Filemon que acompanhava essa epístola (Fm 24). Tudo o que sabemos é que, da próxima vez que lemos sobre ele, Paulo diz: “Demas me desamparou [abandonou – JND], amando o presente século” (2 Tm 4:10). Paulo não diz que Demas foi para o “presente século mau**”**, uma expressão usada em sua epístola aos gálatas (Gl 1:4). Isso não significa que Demas saiu e se tornou um devasso, mas que ele adotou uma forma mundana na sua interpretação dos princípios Cristãos, e isso o levou a seguir um caminho diferente daquele que Paulo percorreu.

Vs. 15-16 – Paulo desejou que os colossenses passassem suas saudações à assembleia em Laodiceia, uma vez que eles estavam próximos – e especialmente a Ninfas que mantinha as reuniões da assembleia em sua casa. Ele também queria que esta epístola fosse lida pela assembleia de Laodiceia depois de ter sido lida pelos colossenses. E vice-versa, ele desejava que a carta “que veio de Laodicéia” fosse lida entre os colossenses porque a substância das duas cartas era complementar. Por essa razão, muitos instrutores bíblicos acreditam que a epístola que veio de Laodicéia era a epístola de Paulo aos Efésios. Mas por que eles teriam a carta para os efésios? F. G. Patterson e outros explicaram que desde que a epístola aos Efésios não foi dirigida à assembleia em si, mas sim aos “santos” naquela área, era uma carta circular que deveria ser passada adiante – embora J. N. Darby observe que não há muita base para apoiar a ideia. (Veja a nota de rodapé7 em sua Tradução de Efésios 1:1) Se os laodicenses tivessem prestado atenção à verdade da epístola aos colossenses, ela os teria preservado do desmoronamento espiritual naquela assembleia (Ap 3:14-21). Eles se degeneraram a um estado tão baixo que, em vez de reterem a Cabeça da Igreja, eles O deixaram do lado de fora de sua porta!

V. 17 – Antes de terminar a epístola, Paulo dá uma palavra de encorajamento para “Arquipo”. Ele disse: “Atenta para o ministério que recebeste no Senhor para que o cumpras”. Supõe-se que Arquipo era filho de Filemom e Afia já que é mencionado junto com eles em sua casa (Fm 1-2). Parece que Arquipo era negligente em relação à obra que o Senhor lhe havia dado a fazer e que ele precisava dessa palavra de encorajamento. Hoje há muitos homens com dons e capazes na profissão Cristã que precisam dessa mesma exortação. Em vez de usarem seu dom, eles estão dando atenção às coisas terrenas e mundanas. Arquipo pode ter se cansado e acabou ficando desanimado. De qualquer forma, se o Senhor nos deu algo para fazer por Ele, devemos nos alegrar em fazê-lo (Gl 6:9; 1 Co 15:58). O Senhor nos deu algum trabalho para fazer por Ele? Então vamos “atentar” para fazer isso.

V. 18 – Paulo encerra a epístola, acrescentando: “Saudação de minha mão, de Paulo” Este era um costume seu, uma vez que havia homens que tinham forjado uma carta afirmando que era dele (2 Ts 2:2). Assinar a epístola por sua própria mão deu-lhe autenticidade. Este era seu costume (1 Co 16:21; Gl 6:11; 2 Ts 3:17).

CONTRACAPA

A circunstância que trouxe esta epístola aos colossenses foi o surgimento de uma série de falsas doutrinas emanadas da filosofia grega, do judaísmo heterodoxo e do misticismo oriental. Esses erros foram o começo do que mais tarde se tornaria conhecido como gnosticismo. Esta linha de ensino tenta explicar a existência de Deus, da criação, da origem do mal, etc., à parte da revelação divina das Escrituras, professando ser de uma revelação mais elevada do que aquelas que os apóstolos tinham entregue aos santos. O pior desses erros foi a negação da Deidade e da verdadeira Humanidade de Cristo. Essa blasfêmia ameaçou tirar os santos da verdade da Pessoa e da Obra de Cristo e precisou ser refutada.

A epístola é útil hoje para repreender ideias filosóficas e noções místicas que as pessoas às vezes têm em conexão com assuntos divinos, mas ela tem mais um propósito mais importante por estar em nossas Bíblias; é uma das duas únicas epístolas que revelam a verdade de “o Mistério” – a mais elevada de todas as verdades. O mistério é aludido em Rm 16:25; 1 Co 2:7, 4:1 e 1 Tm 3:9, mas só é desvendado em Efésios e Colossenses. Como a verdade do Mistério – no qual “todos os tesouros da sabedoria e da ciência” foi plenamente revelada nessas duas epístolas, toda a verdade foi revelada para os santos (Judas 3). Não há, portanto, qualquer necessidade de alguém ir além do Mistério em busca de mais verdade. Entender isso livrará os Cristãos de se desviarem indo após novas ideias as quais já havia a previsão de que surgiriam nos últimos dias (1 Tm 4:1; 2 Tm 4:3-4).

Notas

[←1]

N. do T.: Disposição natural do ânimo para suportar com serenidade e resignação as contrariedades, insultos, vexames e ofensas.

[←2]

N. do T.: Essa palavra não é encontrada na Escritura, mas a sua verdade certamente é. Refere-se à essência de Deus mesmo. Há pelo menos dez atributos notáveis nas Pessoas da Divindade: Eternidade, Infinidade, Onisciência, Onipotência, Onipresença, Imutabilidade, Impecabilidade, Soberania, Autossuficiência e Justiça. (Definições Doutrinais, Bruce Anstey, pág. 81)

[←3]

N. do T.: J. N. Darby traduz essa passagem como “sin apart”. Traduzir isto ao português como “apartado (ou separado) do pecado” não estaria correto, pois poderia dar a impressão de que o Senhor Jesus escolheu Se apartar ou Se separar do pecado. Mas a ideia é que o pecado não encontrava lugar n’Ele e, portanto, não agia n’Ele. Nós devemos nos separar ou apartar do pecado pois, do contrário o pecado vai encontrar em nós a capacidade de agir. N’Ele não havia “pecado” o que é diferente da ideia que frequentemente vemos na Cristandade professa de que o Senhor Jesus “escolheu” não pecar.

[←4]

N. do T.: O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida que prega certas práticas de mortificação própria, rituais, ou uma severa renúncia aos prazeres mundanos e na austeridade visando o desenvolvimento espiritual, como, por exemplo, a Ioga.

[←5]

N. do T.: A palavra grega aoristo significa sem limite. Numa tradução mais livre, significa indefinido ou indeterminado. Indica uma ação que ocorreu pontualmente em algum momento do passado, sem relacioná-la com o presente. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.

[←6]

N. do T.: Em algumas versões em português a palavra “nos” está grafada em itálico, significando que não se encontra nos manuscritos.

[←7]

N. do T:. Nota de Rodapé da tradução de J. N. Darby em Efésios 1:1: “Talvez seja interessante mencionar que embora ‘em Éfeso’ seja achado em quase todas as cópias, muitas autoridades têm deixado isso de fora. Alguns, sem suficiente fundamento, a têm considerado como um tipo de circular. Compare Colossenses 4:16”

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