CAPÍTULO 8 - EXPERIÊNCIA VITORIOSA

(Romanos 8)

"PORTANTO agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." (Rm 8:1) Que declaração maravilhosa! Não se trata meramente do que será a justificação do crente quando for manifestado diante do trono de Cristo, mas "agora" não há nada para condenar naqueles que estão em Cristo Jesus. Se olho para o que sou na carne, só encontro o "miserável homem que sou!" Se olho para o que sou em Cristo Jesus, vejo que agora não há condenação. Estou morto para tudo aquilo que sou como um filho de Adão -- morto para o pecado, morto para a lei, mas vivo para Deus em Cristo Jesus. Então, sendo agora de outro, e estando em outro, em Cristo Jesus ressuscitado de entre os mortos, não me encontro apenas na posição de um que produz fruto para Deus, mas de um para quem "agora nenhuma condenação há". Você está assegurado disto? Será que pode existir alguma condenação para aquele Cristo ressuscitado que está agora na glória de Deus? Portanto, se você estiver nEle, como poderá haver condenação para você?

As palavras que vêm a seguir, "que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito", são omitidas nas melhores traduções; todavia nós as encontraremos, como um resultado, no versículo 4. Em alguma época posterior elas foram inseridas aqui como se fossem uma condição, uma prevenção. Mas vamos nos deter na importância deste versículo como o próprio fundamento da libertação. Nenhuma alma poderá conhecer a verdadeira libertação do poder do pecado se não conhecer primeiro o absoluto favor de Deus em Cristo. Quão maravilhoso é, após um capítulo de amargas experiências, após haver esgotado completamente toda esperança de encontrar algo de bom em si mesmo, na velha natureza, poder descobrir que, como mortos com Cristo, e vivos de entre os mortos em Cristo, encontramo-nos no absoluto favor de Deus, sem nenhuma condenação! Que perfeita paz! Nada para nos inquietar; nada para nos condenar. E é o próprio Deus Quem diz: "nenhuma condenação".

Querido jovem crente: Será este o sólido alicerce sobre o qual, e no qual, você permanece? Se assim for, podemos passar ao versículo 2.

"Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte." (Rm 8:2) Vimos a lei terrível, ou seja, o poder do pecado; acaso não o conhecemos e sentimos seu poder? Mas que nova lei -- ou poder, ou princípio -- é esta? Será o poder de minha nova natureza como nascido de Deus? Não; apesar de que, como nascido de Deus, tive prazer na lei de Deus, mas isso, como já vimos, não me livrou da lei do pecado. Mas agora sim, esta me livra: a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus. Trata-se de Deus, o Espírito Santo, habitando em nós; já não se trata de morte, mas do Espírito de vida.

Então, como já vimos, possuímos uma vida justificada. Agora temos o poder -- a lei do Espírito de vida. Em outro lugar aprendemos que a vida que agora temos é eterna, e o Espírito é eterno. Portanto o poder que tenho é eterno. Vimos que a carne, ou o pecado, continua em nós -- aquilo que é nascido da carne; mas aqui encontramos a libertação do seu poder: libertos da lei do pecado e da morte; libertos pelo infinito, pelo eterno poder, a lei do Espírito de vida. Não diz que "me livrará", mas que "me livrou". Nossa velha natureza pecaminosa é tão depravada que, apesar de ser nascido de Deus, de ter prazer na lei de Deus e desejar guardá-la; ainda assim a lei que há em meus membros me colocou no cativeiro. E acaso não foi assim que aconteceu? Mas somos agora libertos de seu poder, por um poder maior -- a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus. Oh, quão bom seria se pudéssemos ter uma fé mais simples na Palavra de Deus; sim, e também no Espírito Santo que habita em nós! Este versículo resume todo o contexto do capítulo 6. Trata-se do princípio de nos reconhecermos mortos para o pecado e vivos para Deus em Jesus Cristo, princípio este aplicado pelo poder do Espírito.

Ainda assim, há muitos jovens leitores que podem se deparar com esta dificuldade, ao experimentarem a completa degradação da carne, conforme é descrita no capítulo 7. Talvez alguém diga: "Vejo como meus pecados foram perdoados; mas, descobrir, a partir de então, que a velha natureza que possuo é completamente má; descobrir que não há poder em se tentar guardar a lei de Deus, não importa o quanto eu gostaria de consegui-lo; descobrir, para minha surpresa, uma natureza má, uma lei de pecado, que me mantém cativo; que minha própria natureza -- o pecado na carne -- só praticou aquilo que eu odiava e condenava. Como, então, você pode me afirmar que não há condenação?" Vamos ler o versículo seguinte em busca de uma resposta.

"Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Rm 8:3,4) Aqui está o que a lei não podia fazer, e que Deus fez. A lei não podia libertar, nem da culpa, nem do poder do pecado. Ela era fraca tanto para libertar como para ajudar o homem na carne, pois a carne era pecado; e se atuasse sob a lei, só poderia transgredir, ainda que fosse em alguém vivificado e ansiando por libertação.

É bem aqui que surge a pergunta: Será a libertação uma questão de se apreender a verdade, ou meramente de se conhecer a verdade? A libertação do Egito responde à nossa dúvida. Assim como uma alma vivificada, eles creram na Palavra de Deus por intermédio de Moisés e Aarão (Ex 3:7-10; 4.31,32), e ansiavam por libertação (Ex 5:1-3), e, por assim dizer, passaram pela experiência de Romanos 7 fazendo tijolos nas olarias do Egito, tornando-se mais desventurados do que nunca, e nem um pouco libertados. Acaso foi o aumento de conhecimento, ou de apreensão, que os livrou? Porventura o conhecimento das promessas de Êxodo 6 os libertou? Será que um conhecimento mais profundo do favor providencial de Deus, do capítulo 7 ao 11, os libertou? Nem um pouco. Eles foram libertados verdadeiramente com base na redenção, mas isto foi pelo poder de Deus.

Já que não havia nenhum poder na santa lei de Deus para libertar, sua única prerrogativa era a de amaldiçoar o culpado. Em Romanos 8.2, portanto, encontro o poder que me libertou da lei do pecado e da morte. No versículo 3 vemos a incapacidade da lei em libertar por intermédio da fraqueza da carne, e a seguir, o modo como Deus libertou, e a base na qual a libertação foi operada. Esta parte resolve também a seguinte questão: Como é que não há condenação para mim, uma vez que a carne é tão completamente vil? "Deus, enviando o Seu Filho." Exatamente quando tudo mais falhou em libertá-los do Egito, o cordeiro precisou ser levantado e morto; o israelita, embora ainda não libertado, estava totalmente protegido pelo sangue. Portanto, a base para a libertação aqui é: "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado (ou, um sacrifício pelo pecado) condenou o pecado na carne." (Rm 8:3) Não somente entregue por nossas iniquidades, e ressuscitado para nossa justificação, como já vimos; mas a morte expiatória do Filho de Deus enviado por causa do pecado -- a própria raiz. É assim que agora, havendo tanto os pecados como o pecado sido ambos condenados, julgados, é que não há, positivamente, nada deixado para ser condenado. É, portanto, com base na obra expiatória do Filho que o Espírito de vida em Cristo Jesus concede completa libertação.

Assim como a libertação do Egito significava a saída de um lugar, ou de uma condição de escravidão para outra de liberdade, também o crente é, pelo Espírito de vida, levado para fora de um lugar, ou de uma condição, chamada "na carne", para outro lugar, ou condição, chamado "em Cristo", havendo o pecado sido perfeitamente julgado, por ter o Santo Filho de Deus sido feito pecado por nós. E isto não para que pudéssemos continuar em escravidão, mas para que fôssemos libertos, a fim de que as justas demandas da lei pudessem ser cumpridas em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.

Israel, que então encontrava-se em escravidão, é agora visto livre; liberto para servir Jeová. E assim também foi conosco; após termos sido vivificados, continuamos na escravidão da carne, ou sob a lei. Aprendemos agora acerca da total malignidade da carne, e de nossa incapacidade, deixando assim de buscar o aperfeiçoamento da carne. Não estamos mais nela, mas em Cristo; libertados pelo Espírito. Devemos agora andar em conformidade com o Espírito, e o Espírito irá atuar em nós em poder, com base na obra de Cristo.

A carne é deixada de lado por aqueles que não andam "segundo a carne". Uma outra posição é ocupada agora por aqueles que andam "segundo o Espírito". Há, por assim dizer, duas classes. "Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o espírito para as coisas do espírito." (Rm 8:5) Uma é morte, a outra é vida. E mais ainda: "a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser." (Rm 8:7) Segue-se disso que aqueles que estão neste terreno, aqueles que estão na carne, não podem agradar a Deus.

Acaso você, jovem crente, já chegou a esta conclusão -- que sua velha natureza, a carne, o pecado, é completamente incapaz de agradar a Deus? Trata-se de uma raiz que só produz o mal, não importa o quanto você tente melhorá-la. Ela é só inimizade contra Deus. Não dê ouvidos a esse abominável sentimento de que a cobiça não é pecado enquanto você não cometer aquilo que está cobiçando. O pecado é a própria raiz da cobiça, como vimos no capítulo 7, versículo 8. Não, aquela raiz precisou ser julgada, e o infinito sacrifício foi feito pelo pecado. "Àquele que não conheceu pecado, O fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus." (2 Co 5:21) É só com base nisto que somos libertados da culpa e da condenação que é devida ao nosso pecado, a carne; e nesta base não nos encontramos mais na carne, mas no Espírito. E aqui surge uma questão de profundo interesse. Quando, e como, podemos concluir, ou saber, que não estamos na carne, mas no Espírito? Trata-se de uma questão muito importante, seja para crentes novos ou velhos. Vamos analisar isto com mais cuidado.

Não há dúvida alguma de que "Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo". (Fp 1:6) Todavia, há diferentes estágios da obra de Deus na alma, como vemos tipificado na redenção de Israel.

O versículo 9 responderá a esta importante questão: Quando podemos concluir que não estamos na carne, mas no Espírito? "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós." (Rm 8:9) Portanto, fica claro que se o Espírito de Deus habita em você, você poderá concluir com segurança que não está na carne. Haveria, então, um período distinto entre a vivificação, ou novo nascimento de uma alma, e a habitação do Espírito de Deus em nós? Seja o período longo ou curto, as Escrituras sempre apresentam este fato. Sim, no caso de Cornélio e dos que estavam com ele, assim como nos crentes batizados em Samaria, que não receberam o Espírito Santo até que os apóstolos descessem de Jerusalém.

Cornélio era, evidentemente, uma alma vivificada, assim como toda a sua casa (Atos 10:2), mas não libertada, e é por esta razão que ele permaneceu na carne, até que a Palavra chegou a ele com o poder do Espírito Santo, e, por conseguinte, o próprio Espírito Santo (Atos 10:44). Surge, portanto, a pergunta: Você já recebeu o Espírito Santo? Se ainda não, mesmo tendo sido vivificado, você continua na carne, procurando a sua melhoria -- ainda que seja pelas obras da lei. Cornélio não poderia ser considerado um cristão até haver recebido o Espírito Santo; e nem você pode considerar-se, no sentido pleno da palavra, até que tenha recebido o Espírito. "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle." (Rm 8:9) Outro dia encontramos um homem já idoso, que disse haver permanecido no Egito por trinta anos. E você, leitor, está escravizado ou salvo? -- na carne ou no Espírito? Não se trata de uma pergunta para ser recebida com leviandade.

O versículo 10 não implica na erradicação do pecado, ou no aperfeiçoamento da natureza má. "E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado." (Rm 8:10) Se a doutrina da perfeição na carne fosse verdadeira, o corpo não poderia estar morto, e nem morrer, pois pelo pecado veio a morte. Vemos o efeito do pecado no corpo, e isto inclui a morte. "Mas o Espírito vive (ou "o Espírito é vida") por causa da justiça." Existe morte em razão do pecado; existe vida em razão da justiça – não nossa, mas da justiça de Deus, cumprida pela morte de Seu Filho por nós.

Deve o corpo, portanto, permanecer morto por causa do pecado? Não. "E, se o Espírito dAquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita." (Rm 8:11) Quão completa a vitória de Cristo! A redenção de nossos corpos fica assim assegurada. O Espírito de Deus habita em nós? Então a vivificação de nossos corpos mortais é certa.

Não estamos, portanto, na carne, embora ela esteja em nós; mas não somos devedores a ela, para vivermos após ela.

O fim do pecado, ou da carne, é morte. Descobrimos, para nossa tristeza, que a morte está sempre pronta para agir no corpo. "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis." (Rm 8:13) Se nossa velha natureza não tivesse sido deixada para agir em nós, não teríamos necessidade de mortificar as obras do corpo. Não se trata de mortificar o corpo, mas as obras do corpo. O importante é vermos que isto é pelo Espírito. Este é um assunto apresentado na sua totalidade em Gálatas 5.16-25.

"Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus." (Rm 8:14) Jesus disse: "O servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre". (Jo 8:35) Não estamos na escravidão, mas na maravilhosa liberdade e privilégios do Filho. Acaso não foi esta a primeira mensagem que Ele, ressuscitado, deu a Maria? "Vai para Meus irmãos e dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus." (Jo 20:17) "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." (1 João 3:1) E qual é a prova de tudo isso? "Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus." (Rm 8:14) E também, "se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei". (Gl 5:18) Com toda a certeza, o Espírito não pode nos guiar sob aquela administração da lei, a qual aboliu (veja 2 Coríntios 3.7-18). Como temos visto até aqui, colocar um crente sob a lei, ou colocá-lo sob a direção da lei, é colocá-lo sob o ministério da morte e da maldição. O Espírito sempre nos levará a refletir a glória do Senhor, e a sermos transformados na mesma glória.

O Espírito concede liberdade, não escravidão. Qual é a sua porção -- a liberdade dos filhos de Deus, ou a escravidão do servo, do escravo? Os filhos não deixam de ser filhos para voltarem a ser escravos. "Porque não recebestes o Espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8:16,17) Poderia um filho deixar de ser filho?

Poderia Cristo, o Filho, deixar de ser o Filho? Porventura não ouvimos de Seus lábios que Deus é nosso Pai, tanto quanto é Pai dEle também? Este parentesco não pode nunca mudar, não pode nunca deixar de existir. Oh, as riquezas da Sua graça! Que maravilha é que nós, que estamos cônscios de que tão somente merecíamos Sua eterna ira, tenhamos sido introduzidos em um parentesco tão imutável -- filhos de Deus. Um só espírito com o Filho. Agora, sem nenhuma escravidão a ser outra vez temida, mas possuindo o Espírito de adoção, será que por meio dEle clamaríamos, como pecadores distantes de Deus, "Tem misericórdia de nós"? Não! Clamamos, isto sim, Abba, Pai! E, note bem, é este o testemunho do próprio Espírito.

"O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com Ele padecemos para que também com Ele sejamos glorificados." (Rm 8:16,17) Sim, os dois grandes fatos pelos quais o Espírito dá testemunho, são os desta passagem: nossa permanente filiação e nossa posição de herdeiros. E, em Hebreus 10, Ele testemunha que somos aperfeiçoados para sempre, continuamente, pelo sacrifício único de Cristo, de maneira que Deus não Se lembrará mais de nossos pecados. Não há nada que seja negado, ou duvidado com maior frequência, do que estes dois benditos fatos.

Sim, um é o fato de nós, se crentes, sermos perfeitos para sempre. O outro é que somos co-herdeiros juntamente com Cristo. O Espírito dá testemunho disso. E, note bem, se somos co-herdeiros de toda a glória vindoura de Jesus -- o Filho do homem -- não deixe passar por alto estas poucas palavras: "se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados". (Rm 8:17) Para constatar que isso foi assim, basta ver toda a história do livro de Atos. O mundo, e especialmente a sua parte religiosa, odiava os discípulos de Cristo tanto quanto odiava o Senhor. E os discípulos sofriam com Ele. E por que não acontece o mesmo hoje? É porque o mundo religioso agora finge ser cristão; e, oh! nós também acabamos descendo a esse mesmo nível. Mas, à medida que formos guiados pelo Espírito, acabaremos certamente sofrendo o ódio do mundo. Será que você, amado leitor, sabe o que é ser guiado pelo Espírito? Ou será que você está sendo guiado pelas organizações e pelos projetos do mundo religioso? Se assim for, não é de admirar que não saiba o que é desfrutar do parentesco de um filho de Deus, ou o que é sofrer com Cristo. Acaso você pode afirmar estar sendo guiado pelo Espírito de Deus em sua vida diária -- em suas compras, em seus negócios -- ou será que você é simplesmente guiado pelas máximas deste mundo? Se assim for, você está entristecendo o Espírito, e não pode desfrutar do bendito parentesco dos filhos de Deus -- co-herdeiros com Cristo. Trata-se de algo maravilhoso ter o Consolador, o Espírito Santo, sempre habitando conosco, bem capaz de cuidar de nós e de todos os nossos interesses aqui, como filhos que somos de Deus. Oh, que maravilha é ser guiado por Ele em todas as circunstâncias!

Não podemos superestimar e nem subestimar a obra do Espírito, seja ela em nós, como nos falam os versículos 2 ao 13, ou de Sua obra por nós, nos versículos 14 ao 27. Então, até o final do capítulo, encontraremos Deus por nós, em toda a Sua eterna e absoluta soberania -- no Seu derradeiro e tão bendito propósito para conosco, que possamos ser também glorificados juntamente com Cristo. Sim, lembremo-nos de que é este o fim que Deus tem em vista, em todos os nossos sofrimentos e aflições. Que cada leitor conheça, portanto, que aquele que não possui o Espírito de Cristo, se não for isto o que o caracteriza, esse tal não é dEle. E, mais ainda, se não estiver sofrendo com Cristo, é de se questionar se alguém assim é um co-herdeiro de Cristo, guiado pelo Espírito.

Basta recusar-se a ser guiado pelo Espírito, e você poderá receber as honras e o aplauso do mundo religioso. Se for guiado pelo Espírito, certamente você será rejeitado, assim como Cristo foi rejeitado, e passará a ser seu feliz privilégio sofrer com Ele. Mas, oh!, o que é isto em comparação com a glória a ser revelada em nós? Que contraste há entre ser guiado pelo Espírito, e ser guiado pelas modas deste mundo! Oh, quantos são os que sacrificarão a eternidade em troca das modas deste pobre e enganado mundo, enquanto, ao mesmo tempo, fingirão, sim, até mesmo pensarão, ser cristãos! Engano fatal! Se for este o estado de qualquer leitor destas linhas, que Deus possa usar estas palavras para despertá-lo de seu sono enganador. Certamente todos nós precisamos destas perscrutadoras palavras: "se é certo que com Ele padecemos".

"Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus." (Rm 8:18,19) Quem podia, melhor do que Paulo, considerar este assunto? Prisões e cadeias o esperavam em cada cidade -- uma vida de constante sofrimento com Aquele a Quem tanto amava servir; e ainda assim ele diz: "As aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada". Deveras, "a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus". Que solução para o espantoso paradoxo de toda a criação! Os gemidos dos campos de batalha cessarão; a miséria, a pobreza e a degradação das multidões; os sofrimentos da criação, tudo chegará ao fim.

"Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus." (Rm 8:20,21) Que dia será aquele! Sim, a criação deve tomar parte na gloriosa liberdade. Ele provou a morte por cada criatura. Trata-se de um pensamento dos mais agradáveis. Se a miséria e a morte reinaram por tanto tempo, e o pecado do homem afetou tanto a criação, ainda assim a emancipação da criação deverá ser o resultado da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

"Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do corpo." (Rm 8:22) Repare que não é para a salvação de nossas almas que esperamos, e ansiamos, mas pela redenção do corpo. Isto pode ser tanto para os que estão na sepultura, como para os que serão transformados em um momento. Isto acontecerá na vinda do Senhor. No que diz respeito ao corpo, nem mesmo nós estamos livres do sofrimento, e de gemermos, até a vinda de nosso Senhor. Ainda não vimos Sua vinda e, por conseguinte, só podemos aguardar e ter esperança. Trata-se de um erro fatal supor que isso tudo signifique que não sabemos que temos a salvação; pelo contrário, sabemos que temos vida eterna -- "Aquele que crê no Filho TEM a vida eterna". (Jo 3:36) Não há espera para tal. Mas podemos aguardar em paciência pela redenção do corpo.

"E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E Aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito, e é Ele que segundo Deus intercede pelos santos." (Rm 8:26,27) Isto é algo extremamente bendito para nós. Ele conhece tudo o que nos diz respeito, e não somente a nós, mas conhece também os planos e propósitos de Deus. Podemos estar a poucos dias ou anos da redenção do corpo. Ele certamente sabe o que é apropriado para nós em circunstâncias assim. E Deus, que ouve, conhece qual é a intenção do Espírito. Se não orarmos no Espírito, podemos estar certos de que estaremos pedindo coisas que são bem inconsistentes com a dispensação ou período em que vivemos.

Entraremos agora na terceira ou última divisão de nosso capítulo. Talvez nem sempre estaremos aptos a entender, mas podemos dizer: "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto". (Rm 8:28) Sabemos disso porque Deus é sempre por nós. É isto que é apresentado até o final do capítulo. "Daqueles que são chamados por Seu decreto." Deus não nos chamou por causa de qualquer bem que pudesse existir em nós, ou de qualquer desejo de nossa parte. Notemos atentamente qual foi o Seu propósito, pois Seu chamado é o resultado de Seu decreto ou propósito.

Este é, portanto, o Seu propósito: "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho; a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". (Rm 8:29) Ele conhecia de antemão aqueles que iria chamar; e Ele os predestinou, aqueles que chamou, para este destino glorioso, para que sejam como Seu Filho, conformados à Sua imagem. Que propósito tremendo este, que Seu Filho fosse o Primogênito entre muitos irmãos! Que imenso privilégio o de termos sido chamados para compartilhar dessa posição de glória! Não devemos alterar nem uma só palavra a fim de adaptar isto aos pensamentos ou raciocínios humanos. "E aos que predestinou a estes também chamou: e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou." (Rm 8:30) Aqui é tudo de Deus, que não pode falhar. Esta é a Sua ordem. Predestinados, chamados, justificados, glorificados. De eternidade a eternidade. Que sequência maravilhosa! Que consolo inestimável para os tão sofridos filhos de Deus! Porventura Ele não nos chamou? Então isto prova que nos predestinou; e Ele nos justificou; e não deixará de nos levar para a glória. A fé certamente confiará nEle. A incredulidade com prazer deixaria que Satanás introduzisse raciocínios que eliminassem toda esta verdade fundamental. "Que diremos pois a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8:31) Sim, se Deus é assim por nós, quem ou o quê pode ser contra nós? Veja como aprouve a Deus nos persuadir disto.

"Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" (Rm 8:32) Alguma dúvida? Fica assim manifesto que todas as coisas devem cooperar para o nosso bem, já que Deus não poupou nem Seu próprio Filho. Que amor eterno e infinito teve Ele ao entregá-Lo por todos nós! Podemos esperar seja o que for, tendo em vista a imensidão e o caráter deste amor.

Como já vimos nesta epístola, já que é Deus, em Sua justiça, Aquele que é o Justificador, o Deus que justifica, "quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?" (Rm 8:33) Quem os condenará? Se Deus é nosso Justificador, poderá alguma criatura nos condenar? Foi Deus Quem demonstrou a Sua aceitação pelo nosso resgate ao ressuscitar Jesus de entre os mortos para nossa justificação. Deus O entregou por todos nós; e Ele O ressuscitou de entre os mortos para a justificação de nós todos; e Ele é a imutável justiça de todos os eleitos de Deus. "Quem os condenará?" (Rm 8:34) Deus não pode nos condenar sem condenar a Ele que foi levantado de entre os mortos para ser nossa justiça. Nossa justificação não poderia ser mais perfeita, pois tudo vem de Deus. Nossa justificação, portanto, é de Deus, e é completa e estabelecida eternamente. Resta apenas mais uma questão. Poderá qualquer circunstância alterar o amor de Cristo, ou alterar o amor de Deus em Cristo para conosco? Há tantos que duvidam que o amor de Cristo possa permanecer, caso não o mereçamos continuamente, que esta acaba sendo uma questão de grande importância. Será que não se trata de um grande erro supor que alguma vez tenhamos merecido, merecemos, ou iremos merecer esse amor? Será que são os nossos méritos, o que o Espírito de Deus coloca diante de nós?

Leia do versículo 34 ao 39. Veja quão belo e simples é: Ele coloca Cristo diante de nós. Vamos acompanhar a Palavra, uma sentença após a outra. "É Cristo Quem morreu." (Rm 8:34) Será que Ele morreu por nós porque merecíamos o Seu amor? Poderia existir um amor como este, e, ainda por cima, amor por nós quando mortos em delitos e pecados? "Ou antes, Quem ressuscitou dentre os mortos." (Rm 8:34) Contemple-O, o Ressuscitado de entre os mortos, como o princípio da nova criação. E isto com o propósito expresso de nossa justificação. E tudo isso, quando o que merecíamos era só a eterna ira.

"O qual está à direita de Deus." (Rm 8:34) Aquele que carregou os nossos pecados, e que foi feito pecado por nós, nosso Representante, está à direita de Deus, como se tivesse tomado posse daquele lugar para nós. Então vem o inimigo, que enganou Eva, e diz: "Tudo isso é verdade se você nunca pecar mais após a sua conversão, mas se algum cristão pecar, certamente o pecado o separará do amor de Cristo". Querido jovem crente, veja se seu escudo não está abaixado quando o diabo lança insinuações assim contra você. A resposta preciosa é esta: "Também intercede por nós". (Rm 8:34) Sim, "vivendo sempre para interceder por eles". (Hb 7:25) Imagine de quantos pecados esta intercessão nos preserva!

Mas será que se um crente, um filho de Deus, por causa de seu descuido, pecar, será que Ele irá, ainda assim, em seu infinito e imutável amor, interceder pela causa daquele que caiu? "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados." (1 João 2:1,2) Sim, mesmo então, em imutável amor, Ele é o mesmo Jesus, que "também intercede por nós". Assim, tudo provém de Deus e não pode falhar. Leia agora toda a lista apresentada por estes versículos, e fiquemos persuadidos, como estava o apóstolo, de que nada "nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor". (Rm 8:39) Não há condenação para aqueles que Deus justifica, aqueles que Ele tem por justos. E não há separação do infinito e eterno amor de Deus para conosco, em Cristo Jesus nosso Senhor.