CAPÍTULO 7 - DUAS NATUREZAS EM CONFLITO

(Romanos 7)

TEMOS agora em detalhe aquilo de que fomos libertados no capítulo 6. E será impossível entender este capítulo se não tivermos em mente esta ordem. A verdade do capítulo 6 deve estar totalmente assimilada antes de tentarmos entender o capítulo 7. O apóstolo disse: "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça." (Rm 6:14) Esta é uma afirmação muito importante, e o apóstolo agora explica como é que nós (isto é, aqueles que estavam sob a lei) fomos libertados. Em seguida ele descreve a condição de uma alma vivificada debaixo da lei, antes de sua libertação. Isto ele explica de forma bem completa, e, por fim, trata, com gozo, o tema da libertação, levando-nos ao capítulo 8.

Portanto, em primeiro lugar, como foi que aqueles que estavam debaixo da lei foram libertados dela? "Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?" (Rm 7:1) Este fato demonstra a importância da verdade que já foi apresentada -- a identificação com a morte de Cristo; considerando-nos mortos com Ele, e vivos para Deus. Pois se aqueles que viviam debaixo dela, continuassem a viver debaixo dela, seriam responsáveis por cumpri-la em cada jota e cada til (Mt 5:18), caso contrário ela os amaldiçoaria. Neste caso o cristianismo não seria de nenhuma ajuda. O homem poderia continuar sob a maldição. A lei tinha domínio sobre um homem enquanto ele vivesse. Sua responsabilidade para com a lei só terminava na morte. A lei acerca do matrimônio prova isso: somente a morte dissolve o vínculo de responsabilidade. Enquanto o marido viver, a esposa não pode se casar com outro; seria adultério. Isto era algo patente a todos os que conheciam a lei.

De modo semelhante o crente não pode, por assim dizer, ter dois maridos. Ele não pode estar vivo na carne, casado com a lei (debaixo da lei), e também estar casado com Cristo. Não há dúvida de que os homens dirão que deve ser assim, que você deve ter ambos, a lei e Cristo; mas não estamos explicando aqui o que dizem os homens, mas o que dizem as Escrituras. Deus nos diz que não podemos ter Cristo e a lei. E do mesmo modo como uma esposa só é liberada do antigo marido pela morte, assim também nós só podemos ser libertos do antigo marido, o princípio da lei, pela morte. Embora seja verdade que ainda não tenhamos morrido, ainda assim, veja a importância da verdade que aprendemos no capítulo 6, que diz para nos considerarmos mortos, identificados com Cristo na morte. Só que agora isto é visto em sua relação com a lei em primeiro lugar.

"Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus." (Rm 7:4) Portanto eles estavam mortos para a lei pelo corpo de Cristo como se tivessem morrido de verdade. Passaram de sob o seu domínio para um estado completamente novo. Não têm mais nada a declarar ao antigo marido; mas entram em um novo parentesco, unidos a um novo marido, a Um ressuscitado de entre os mortos, o próprio Cristo.

Mas será que os grandes mestres não irão dizer a você ser isto antinomianismo, estar morto para a lei, nada mais ter a ver com ela, ou ela com você? Dirão que isto poderia levá-lo a produzir fruto para o pecado. Seria terrível, diriam eles. Mas o que é que Deus diz a este respeito? Ele diz que tudo isso é "a fim de que demos fruto para Deus". Isto está perfeitamente de acordo com o que foi apresentado antes. "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça." (Rm 6:14) Estar debaixo da lei é estar debaixo da sua maldição, pois todos provaram ser culpados (Rm 3). Mas agora somos um com o Cristo ressuscitado, tendo todos os pecados perdoados, e o pecado julgado, a fim de podermos dar fruto para Deus.

"Porque quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, obravam em nossos membros para darem fruto para a morte." (Rm 7:5) Este versículo determina o caráter do ensino que se segue. Você não pode dizer, "Quando estávamos na carne", a menos que tenha sido libertado daquele estado. Você não poderia dizer, "Quando estávamos em Londres", a menos que tenha saído de lá. É muito importante entender isto. Com frequência pergunta-se: Será que esta parte do capítulo 7 trata-se da experiência apropriada a um cristão? Certamente que não, pois se fosse, não estaria dizendo "quando estávamos na carne". Pode ser, como logo veremos, a experiência pela qual a maioria, se não todos, os cristãos já passaram. Mas costuma-se dizer que esta é a experiência de um inconverso. Tampouco pode ser isto; pois os inconversos não têm prazer na lei de Deus no homem interior.

(Rm 7:22.) Trata-se, evidentemente, da experiência de uma alma vivificada, nascida de Deus, uma nova criatura que se apraz na lei de Deus no homem interior; mas alguém que ainda continua debaixo da lei, e ainda não aprendeu o que é a libertação pela morte.

O correto seria dizermos que a experiência descrita do versículo 5 ao 24 é a miserável experiência de uma pessoa nascida de Deus, se colocada debaixo da lei. E quando nos lembramos de quantos cristãos estão exatamente nesta condição, não é de se estranhar que tantos sintam-se tão miseráveis. Portanto devemos entender que as palavras, "porque, quando estávamos na carne", significam quando estávamos na carne sob o primeiro marido, a lei. A lei só pode se dirigir ao homem como estando vivo. Era assim que ela considerava o homem, ordenando e exigindo obediência, se fosse o caso de alguém, sob ela, vivo na carne. Uma vez morto, todos os mandamentos e requisições cessam. Você não pode dizer a um homem morto para amar a Deus ou ao seu próximo; mas enquanto estiver vivo em uma natureza que só pode pecar, o mandamento só produz transgressão. A lei devia requerer justiça; mas como o homem não era justo, porém culpado, ela tornou-se assim um ministro de justiça e morte.

Todavia a porção do cristão é esta: considerar-se morto com respeito à carne, mas vivo para Deus. Uma vida inteiramente nova proveniente de Deus. O assunto todo será bastante simplificado se mantivermos estas duas coisas distintas: a velha vida, ou velha natureza, chamada a carne -- o terreno no qual o homem foi provado sob a lei; e a nova vida, ou nova natureza, a qual o crente possui, a própria vida eterna do Cristo ressuscitado. Vimos como fomos libertados da escravidão do pecado por estarmos mortos para um e vivos para o outro. Isto não quer dizer que o pecado está erradicado, mas que estamos mortos para ele.

O versículo 6 trata agora deste mesmo princípio de morte -- e vida em ressurreição em Cristo -- aplicado à questão da lei. Não é que a lei esteja morta, ou abolida em si mesma, mas nós estamos mortos para ela: "Mas agora estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra." (Rm 7:6) A lei efetivamente produziu toda essa experiência verdadeiramente miserável, mas agora estamos livres da lei. Será que você pode verdadeiramente dizer o mesmo? É da maior importância ter esta questão resolvida antes de examinarmos essa miséria da qual fomos libertados. Pela morte e ressurreição de Cristo nós estamos, não apenas completamente justificados de nossos pecados, mas passamos de uma condição de pecado e morte, para uma condição inteiramente nova; sim, uma nova criação de vida e justiça. Do que éramos para o que Cristo é. Em Adão nós estávamos em pecado e morte; agora estamos unidos, somos um com Cristo em ressurreição; estamos onde Ele está e somos o que Ele é. "Qual Ele é, somos nós também neste mundo." (1 João 4:17) Sua própria vida nos é comunicada. Isto é algo tão real para a fé agora, como será para a vista muito em breve. Uma nova criação em Cristo Jesus. Deve ser entendido que trata-se de uma plena e completa justificação dos pecados e do pecado, e da libertação de todas as exigências da lei. Perguntamos outra vez: Você já está liberto assim? É preciso que exista esta completa libertação para que se possa servir em novidade de vida. Você já passou assim da carne -- o estado de Adão, para Cristo? Pode você dizer: "Sim, agora tudo é Cristo"? Você dirá que a carne ainda está ali, e que há pecado. É verdade. E que a lei ainda continua ali.

Certamente. E que você pecou. Sim, isto também é verdade. Mas para que foi que Cristo morreu? Acaso não foi tanto para os seus pecados como para o seu pecado? Encontra-se você pecando agora ou libertado do pecado? Todavia, veremos isso tudo revelado mais completamente no capítulo 8.

Tão somente insistimos neste ponto: somente uma alma libertada pode entender a horrível experiência descrita no que se segue. O inconverso ou o iludido fariseu nada sabem acerca desta amarga experiência. Trata-se exatamente da ocasião em que a nova e santa natureza foi implantada, e junto com ela o profundo anseio por uma verdadeira santificação; para então descobrir não ter poder na carne para fazer aquilo que desejaríamos. Sim, a lei do pecado e da morte é como um senhor de escravos, e não há poder para se fugir dele. E quanto mais tentarmos guardar a lei, dirigida aos homens como vivos na carne, mais profunda será a miséria de fazermos as mesmas coisas que a nova e santa natureza tanto odeia. Sim, algo que não traria nenhuma dificuldade para um inconverso, ou para um que não é nascido de Deus, enche a alma vivificada de intensa miséria.

Será que é esta a sua condição? Se estiver vivificado, e debaixo da lei, estamos certos de que é esta a sua condição, em algum grau de intensidade. Oh, o quanto da agitação e dos esforços de nossos dias está direcionado a encobrir essa sua miséria e fazer com que você se esqueça dela! Bem, não se desespere; cremos que cada um que é nascido de Deus passa por isso em maior ou menor intensidade; e é frequente que aqueles que passam por ela em sua maior profundidade são os que mais se decidem a glorificar a Deus. Tanto o que faz deste capítulo a experiência de um pecador inconverso, como o que a considera como a experiência apropriada a um cristão, estão igualmente compreendendo mal. "Que diremos pois ? É a lei pecado? De modo nenhum: mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás." (Rm 7:7) Se fôssemos seguir nossa própria inclinação, mesmo quando há em nós a nova vida, e a nova e santa natureza implantada, acabaríamos naturalmente nos voltando para a lei, e nos colocaríamos sob ela. É isto o que sempre acontece quando o Espírito Santo não é reconhecido. E trata-se de algo notável, nestes versículos, que o Espírito Santo não seja nem uma vez citado. Como já dissemos, existem poucas pessoas que não estejam passando atualmente por esta experiência; e aquelas que já receberam libertação podem olhar para trás e ver o proveito que obtiveram desse exercício de coração.

A primeira coisa, portanto, que aprendemos é esta: que a lei não é pecado; é por ela que aprendemos o que o pecado é. A lei expôs a raiz. "Porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás." (Rm 7:7) Quando a nova natureza foi dada, a espiritualidade da lei foi sentida. Um homem sem a nova natureza diria que a concupiscência não é pecado, a menos que você venha a transgredir de fato, cometendo o pecado na prática. Mas quando a lei se aloja na consciência, ela detecta a concupiscência, e digo: "Ora, isto é pecado!" Sim, a própria concupiscência é pecado; isto é, a própria raiz é pecado.

"Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, obrou em mim toda a councupiscência: porquanto sem a lei estava morto o pecado." (Rm 7:8) E essa raiz, sendo pecado, toma ocasião, pelo mandamento, para operar em mim todo tipo de desejo por aquilo que é proibido. "Porquanto sem a lei estava morto o pecado." (Rm 7:8) Estava inativo. Proíba uma criança de ir ao jardim e ela imediatamente desejará fazê-lo; e então, se a sua vontade atuar sobre ela, ela irá.

"E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri." (Rm 7:9) Uma pessoa, antes de ser vivificada, pensa que está viva e que pode viver e fazer o que deseja. Sim, ele dirá que estava vivo sem lei. Pergunte a um homem natural: Você está salvo?" Ele responderá: Não sei; espero que sim. Frequento um lugar de adoração e estou fazendo o melhor que posso, e espero acabar chegando no céu. Oh, sim, dirá ele, estou vivo. Não existe nem sequer a idéia, em seu pensamento, de estar perdido. Ele não diz uma palavra que expresse a mínima possibilidade de estar precisando de um Substituto na cruz. E se você perguntar até mesmo a cristãos professos, ficará surpreso ao receber as mesmas respostas.

Portanto, no momento em que alguém é nascido de Deus, tudo isso muda. Ora essa; como pode ser isto?, dirá ele, Tenho uma natureza que deseja exatamente aquilo que Deus proíbe! Ele volta-se, então, para a palavra da lei de Deus e vê morrer toda esperança de ser, na carne, aquilo que esperava poder conseguir. "E eu morri." (Rm 7:9) Sim, estamos agora diante da difícil morte do velho "EU". Ele anseia por santidade; ele volta-se para os mandamentos que são ordenados para vida: Quem os fizer viverá por eles (veja Ezequiel 20:11), mas vê que são para morte. Ele descobre que o pecado tem o controle da situação, e que usa o próprio mandamento para matá-lo. Não se esqueça de que isto se passa "quando estávamos na carne". (Rm 7:5) Veja só como a última esperança de bondade na carne nos foi tirada!

"E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom." (Rm 7:12) A lei veio de Deus; não era má, e nem pecado; era "santa, e o mandamento santo, justo e bom". (Rm 7:12) Não tornou-se em morte para mim; "mas o pecado, para que se mostrasse pecado". (Rm 7:13) Oh, o que é descobrir que eu -- minha própria natureza -- como um filho de Adão, era só pecado, e que pelo mandamento minha natureza deveria tornar-se, e tornou-se, excessivamente pecaminosa!

E vamos mais além. "Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado." (Rm 7:14) Sim, a lei não podia exigir menos do que justiça, mas o que encontro em mim?

"Sou carnal, vendido sob o pecado." (Rm 7:14) Você sabia disso? Será que já se reconheceu como um indefeso escravo do pecado? Isto é tudo o que o velho "EU", a carne, é. Descobrir isto é detestar tudo o que faço; é descobrir que não tenho poder para fazer o que desejaria; é reconhecer que a lei é boa e que só exige de mim o que é bom.

"De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim." (Rm 7:17) Isto é uma grande descoberta. Aprendo que há uma natureza, o pecado, que ainda se encontra em mim, apesar de eu poder olhar por cima dele como algo distinto de mim mesmo, de meu novo "EU". "Bem", digo eu, "O que é que há, então, nessa velha natureza, no velho EU?" Não há nem um pouquinho de bem em mim, isto é, em minha carne, ou minha velha natureza. "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum: e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem." (Rm 7:18) Trata-se de algo por demais humilhante descobrir que eu, como filho de Adão, não tenho nenhum poder para fazer o bem -- sim, muito pelo contrário! "Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço." (Rm 7:19) É este o verdadeiro caráter da velha natureza, mesmo quando a nova natureza deseja fazer o bem e ser santa -- sim, já que a nova natureza é santa, por ser nascida de Deus. De modo que não é a nova natureza, o novo "EU", que pratica o mal, quando a velha natureza está fazendo exatamente aquilo que a nova natureza condena.

"Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu" -- não mais eu como uma nova criatura que sou, -- "mas o pecado que habita em mim". (Rm 7:20) Há, portanto, dois princípios, ou naturezas, no homem nascido de Deus. O princípio da velha e depravada natureza é chamado de uma lei.

"Acho então esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo." (Rm 8:21) É este o invariável princípio da velha natureza -- "quando quero fazer o bem, o mal está comigo". "Sim", você dirá, "é exatamente isto que descobri, para minha profunda tristeza; ao ponto de isso ter me levado a concluir que, se sou assim, não posso ter nascido de Deus". Aqueles que não são nascidos de Deus nunca descobriram ser nem metade ruim do que você descobre que é em seu velho "EU". Mas, acaso as palavras que vêm a seguir não provam que você é nascido de Deus -- isto é, que você possui um novo "EU", ou uma nova natureza?

"Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus." (Rm 7:22) Certamente isto prova que, sem dúvida alguma, existem duas naturezas; pois como poderia a velha natureza, que é pecado, se deleitar na lei de Deus? Todavia, "segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus". (Rm 7:22) "Bem", dirá você, "parece ser uma contradição". É exatamente isto que as duas naturezas são uma para a outra; sim, estão em contradição direta àquele homem interior que tem prazer na lei de Deus. Veja o versículo 23: "Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros."

Portanto, negar a existência das duas naturezas em um homem nascido de novo é negar o ensino claro da Palavra de Deus. Porventura Jesus não falou que "o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito"? (Jo 3:6) Trata-se, portanto, de um completo novo nascimento; de uma nova natureza, uma nova criação, que é do Espírito e que é espiritual. Aquilo que é nascido de uma carne ou natureza pecaminosa é, ou seja, permanece sendo, carne e pecado. E aprendemos aqui que se estamos sob a lei, isto é, se estamos no terreno da carne, debaixo da lei com vistas ao aperfeiçoamento da carne, como milhares de pessoas estão, então descobrimos que, na guerra travada pelas duas naturezas, acabamos presos "debaixo da lei do pecado que está nos meus membros". (Rm 7:23) Trata-se de uma realidade terrível, mas iremos acabar conhecendo a malignidade de nossa velha natureza na prática, se não crermos no que Deus diz acerca dela. Todavia, se for este o caso, ou seja, de um homem nascido de Deus, sob a lei, não conhecendo a distinção entre as duas naturezas, ele estará sentindo-se extremamente miserável, se for sincero e estiver buscando ardentemente por justiça e santidade de vida. É exatamente o que encontramos aqui.

"Miserável homem que eu sou!" (Rm 7:24) E agora já não é mais "Quem me ajudará a melhorar a carne?", mas sim, "quem me livrará do corpo desta morte?" Sim, o "EU", o velho homem, o corpo desta morte, deve ser abandonado. Precisamos ter um Libertador, e este Libertador é Cristo.

"Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor." (Rm 7:25) Poucas palavras, mas oh!, que gloriosa vitória e livramento! Após chegar à plena descoberta de minha completa incapacidade, e da imutável malignidade da velha natureza, os olhos são agora levantados para Cristo, e o coração dilata-se no pleno gozo da gratidão. Esta libertação será melhor explicada no próximo capítulo.

Há um erro que é cometido com frequência aqui, e devemos nos precaver cuidadosamente contra ele. É comum que se diga, ou que se insinue, que o que vimos acerca da velha natureza, a carne, a lei do pecado nos membros, é verdadeiro acerca do crente antes que ele consiga a libertação; mas que depois sua velha natureza muda ou é erradicada -- ou que, em todos os seus aspectos, melhora muito; que é, de repente ou gradualmente, santificada etc. etc., e que não há mais uma natureza má nos santos que são libertos, ou santificados. Será que é assim, ou não? Deixemos que as próprias palavras que se seguem, as quais vêm depois de nossa libertação e ações de graças, respondam a esta importante questão.

"Assim que eu mesmo com o entendimento" (ou o novo homem) "sirvo à lei de Deus, mas com a carne" (ou a velha natureza), "à lei do pecado." (Rm 7:25) Não nos encontramos mais no terreno da carne, como vivendo sob a lei e procurando aprimorar a carne -- não nos encontramos mais na carne. Mas, o fato de que a carne permanece no santo libertado -- na mesma pessoa que, com o novo entendimento, ou natureza, serve a lei de Deus, é algo declarado com a maior ênfase possível. Mas a carne, e a lei do pecado, ainda permanecem em mim. Podemos discordar, discutir, ridicularizar, mas aqui está a verdade da Escritura, e é algo que cada crente descobre ser verdade. Assim nos vemos na necessidade de sermos guardados irrepreensíveis, em nosso espírito, alma e corpo. (Leia 1 Tessalonicenses 5:23.) Coloque a velha natureza sob a lei, tente encontrar algo de bom nela e, imediatamente, você experimentará o que está descrito aqui. Uma só questão mais, antes de deixarmos este assunto. Como pode haver tantos cristãos passando por esta experiência? Simplesmente porque, apesar de nascidos de Deus, estão, por meio de ensinos falsos ou incorretos, colocados debaixo da lei, e nunca conheceram o verdadeiro caráter da libertação. Passemos, a seguir, a indagar que libertação é esta.