CAPÍTULO 14 - SENSIBILIDADE ESPIRITUAL

(Romanos 14)

"ORA, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas." (Rm 14:1) Podemos errar tanto de um lado como do outro. Podemos nos tornar tão estreitos a ponto de rejeitarmos um irmão fraco na fé, ou receber alguém digno de repreensão, com base em questões duvidosas, e especulações da razão. O Espírito Santo gostaria que evitássemos cuidadosamente ambos os extremos. Em muitas coisas, como comer e beber, considerar certos dias como santos, ou todos os dias iguais -- em todas as coisas como estas, não devemos julgar uns aos outros, mas devemos andar juntos em amor.

"Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo." (Rm 14:10) Não se trata aqui de sermos levados a juízo por causa de nossos pecados, ou do pecado. Isto já ficou estabelecido antes nesta epístola (capítulo 8:1,33,34). O Senhor nos assegura que não seremos levados a juízo. (Jo 5:24.) Qual é, então, o significado aqui? Simplesmente a questão apresentada. O fato de que todos serão colocados diante de Deus, O qual não pode cometer um erro naquilo que Ele aprova, deveria ser uma prova salutar a nos prevenir do injurioso hábito de julgarmos uns aos outros. "De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. Assim que não nos julguemos mais uns aos outros." (Rm 14:12,13) É claro que isto não nos ensina a sermos indiferentes quando a Pessoa de Cristo, ou a verdade que nEle há, é atacada: Paulo teve que resistir até mesmo a Pedro. Mas aqui nos é ensinado a "não pôr tropeço ou escândalo ao irmão". (Rm 14:13) Pôr tropeço é não andar segundo o amor. Um irmão fraco, que me veja comendo coisas oferecidas aos ídolos, pode ser levado a fazer o mesmo, e sua consciência, sendo corrompida, ele pode cair na idolatria, e colocar-se, com o passar do tempo, sob o poder de Satanás e, no que diz respeito à comunhão, afastar-se de Cristo; na verdade, o mesmo lugar onde uma pessoa ímpia precisou ser colocada para a destruição da carne (1 Co 5:5). Isto seria destruir um irmão, ao invés de destruir a carne, ou, por outro lado, ter sua consciência destruída. Em qualquer circunstância, o amor procuraria não colocar uma pedra de tropeço no caminho de um irmão. Ficamos sabendo de casos como o de uma pessoa que guarda o dia do Senhor como se fosse o shabbat (o sábado dos judeus), com uma piedade tipicamente judaica, enquanto outra, para mostrar ter um conhecimento superior a esse respeito, pratica coisas no dia do Senhor que seriam uma profanação aos olhos da outra. O resultado, em ambos os casos, tem sido desastroso. Durante anos, tanto a consciência como a comunhão de ambos estiveram perdidas ou destruídas. No entanto, não suponha, nem por um momento, que a expressão "não destruas" possa significar a destruição da vida eterna. As Escrituras não podem se contradizer. Se parecer significar isto, então ficará evidente que não entendemos o verdadeiro significado de pelo menos um dos textos. Se a vida eterna que temos em Cristo pudesse ser destruída, então já não seria eterna. E, acerca daqueles que têm vida eterna, Jesus disse: "Nunca hão de perecer". (Jo 10:28) Isto basta para a fé. Todavia, é da maior importância termos constantemente diante de nós a consciência do tribunal de Cristo. Isto nos preservará de julgarmos demais, ou de nos devorarmos uns aos outros.

O grande tema aqui é servir a Cristo de modo aceitável a Deus. "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens." (Rm 14:17,18) Estas são palavras preciosas: justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Se Deus reinar em nossos corações, haverá consistência; haverá aquilo que é condizente com o santo lugar em que nos encontramos. "Sigamos pois as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros." (Rm 14:19) Isto nos levará a evitarmos fazer qualquer coisa, seja comer carne ou beber vinho, com que um irmão possa se escandalizar. Todavia isto não deve nos levar a comprometer o evangelho.

Se Paulo tivesse se recusado a comer com os gentios a fim de não escandalizar a Pedro, aquilo não teria servido para a edificação, mas teria comprometido o evangelho. Seria o mesmo que dizer que Cristo não é suficiente para sua salvação eterna, que você precisa também guardar a lei. Isso porque para alguns a lei era considerada superior a Cristo. De modo semelhante, se uma sociedade de homens viesse a dizer que Cristo só não é suficiente para a libertação de um pecador e para sua completa salvação, e que você deveria assumir perante eles o compromisso de não beber vinho, não seria fé, amor, ou edificação você comprometer o evangelho sujeitando-se a isso. Isso logo o levaria, como os mestres judaizantes, a apartar-se de Cristo.

Se Cristo não tiver a preeminência, algo mais logo terá. Satanás sempre procura usar coisas boas para tirar o lugar que é devido a Cristo. A lei é boa, a temperança é boa; mas vigiemos para que nenhuma delas venha a roubar-nos de Cristo. Precisamos nos amparar "à direita e à esquerda". (2Co 6:7) Estes comentários são dirigidos para os casos em que a temperança é colocada no lugar de Cristo. Que cada um de nós esteja plenamente persuadido em sua própria mente, e lembremo-nos de que "tudo que não é de fé é pecado". (Rm 14:23) Questionemo-nos na presença de Deus: Será que preciso disto para meu corpo que pertence ao Senhor? Será que há algum irmão que conheço que ficará escandalizado se eu tomar isto? Faço-o por fé? É agradável ao Senhor que eu tome ou faça isto?

E sejamos bem cuidadosos em não nos gloriarmos nestes assuntos, ou em julgarmos nosso irmão. "Tens fé? Tem-na em ti mesmo DIANTE DE DEUS. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova." (Rm 14:22)