Ester

O livro de Ester começa com Israel vivendo em uma terra estrangeira como consequência do juízo de Deus sobre eles. Isso tipifica Deus colocando de lado os judeus nacionalmente após terem rejeitado e crucificado o Senhor Jesus Cristo. O rei Assuero, que governava sobre o mundo de então “desde a Índia até Etiópia” (Ester 1:1) é uma figura de Deus que governa sobre o mundo inteiro a partir dos bastidores (Daniel 4:17).

O primeiro capítulo, portanto, nos dá uma imagem do que Deus está fazendo hoje no tempo em que Israel foi colocado de lado. O rei Assuero (tipificando Deus) fez “um banquete a todos... desde o maior até ao menor” (Ester 1:1-5). Isso é uma figura da grande festa que Deus tem provido para toda a humanidade no evangelho de Sua graça (Lucas 14:16). O objetivo da festa de Assuero era “mostrar as riquezas da glória do seu reino, e o esplendor da sua excelente grandeza”. Do mesmo modo o evangelho nos fala da glória de Deus e das “abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.” (Efésios 2:7-8). Assim como a festa de Assuero durou “por muitos dias”, Deus tem estendido o convite para Sua festa por muitos dias — cerca de dois mil anos até agora! Os convidados que aceitaram o convite do rei Assuero e compareceram à sua festa foram chamados de “nobres e príncipes”. De igual modo, aqueles que aceitam o convite de Deus para o banquete do evangelho são igualmente feitos “reis e sacerdotes” (Apocalipse 1:6).

Durante a festa o rei proveu “leitos de ouro e de prata” para os convidados descansarem (Ester 1:6-8). A prata e o ouro nas Escrituras são símbolos de redenção e justiça divina. Essas coisas dão ao crente um lugar de descanso na salvação e, consequentemente, ele tem paz com Deus e descanso em sua alma (Mateus 11:28). Na festa havia também lindos “pendentes” coloridos para o deleite dos convidados. Eles ficavam suspensos do alto por “argolas de prata” e eram uma figura das bênçãos celestiais dos cristãos, que são suas através da redenção (Efésios 1:3). Além do mais, o rei serviu aos convidados “muito vinho real”. Isso nos fala do gozo que Deus dá àqueles que recebem e creem no evangelho de Sua graça (Juízes 9:13; Salmos 104:15; 1 Tessalonicenses 1:6).

A rainha gentia “Vasti”, que desfrutava de um lugar muito privilegiado no reino por estar associada publicamente ao rei, foi também convidada para a festa. Seu papel seria contribuir para a glória do rei exibindo ao povo a sua beleza. Mas quando ela foi chamada, “recusou vir”, pois seu coração estava cheio de orgulho e rebeldia (Ester 1:9-12). Ela gostava da posição que tinha de estar publicamente associada ao rei, mas não queria nada com sua festa. Vasti é uma figura da Igreja professa, que foi exteriormente identificada com Deus diante do mundo, porém sem possuir uma fé genuína (Apocalipse 18:7).

No último dia da festa (Ester 1:5, 10) a rebeldia de Vasti atingiu o ponto máximo e por causa de sua desobediência e por se negar a se apresentar de uma maneira que pudesse glorificar o rei, ela foi destituída de seu lugar como rainha (Ester 1:13-22). Isso é um prenúncio do que irá acontecer à cristandade professa e apóstata no final do Dia da Graça. Quando o Senhor vier (no Arrebatamento) Ele irá destituir publicamente a cristandade ao deixar para trás aqueles que eram meros professos. Ele irá “vomitar” a coisa toda de Sua boca (Apocalipse 3:16). Assim a cristandade será “cortada” e deixada de lado nas tratativas de Deus (Romanos 11:17-22). Do mesmo modo como Vasti experimentou “o furor do rei Assuero” (Ester 2:1), a cristandade apóstata será julgada por Deus na Manifestação de Cristo.

O exercício no capítulo 2 de Ester é o de encontrar alguém para ficar no lugar de Vasti. No processo de se buscar uma que pudesse assumir esse lugar é que Ester entra em cena (Ester 2:1-7). Ela é uma figura do remanescente judeu que irá se tornar o foco da atenção de Deus depois que a falsa Igreja tiver sido julgada. Isso indica a retomada das tratativas de Deus para com Israel. Por ser órfã, Ester não tinha qualquer suporte neste mundo, e isso descreve muito bem o caráter necessitado dos judeus durante os longos anos de sua diáspora. Eles estarão totalmente privados de Deus. Ester havia sido adotada e criada por Mardoqueu, seu primo. Ele é um tipo de Cristo, que irá cuidar providencialmente do remanescente judeu.

Antes que Ester pudesse ser introduzida num relacionamento com o rei ela precisava passar por uma purificação (Ester 2:8-14). Isso nos fala dos exercícios pelos quais o remanescente judeu terá de passar durante a Grande Tribulação. Durante aquele período eles serão purificados e tornados aptos para receber seu Rei (Daniel 12:10; Malaquias 3:2-4; Zacarias 13:9). Durante o tempo da purificação de Ester, Mardoqueu não se comunicou abertamente com ela porque seus dias de purificação ainda não tinham terminado. Todavia, ele mantinha grande interesse nela e passava todos os dias pelo lugar onde ela estava para saber a respeito dela. Do mesmo modo, durante a Grande Tribulação, Cristo não se comunicará diretamente com o remanescente judeu, mas irá observar seu progresso com grande interesse (Isaías 8:17; 18:4; 54:8; Cânticos 5:6; Gênesis 42:7; 23-24; 43:30). Ele fará isso até que a obra de arrependimento e purificação tenha sido completada no remanescente, quando então Ele Se revelará a eles (Gênesis 45).

No capítulo 3 o rei Assuero promoveu no reino a Hamã, o agagita, e deu a ele “um assento acima de todos os príncipes”. Hamã, que era um adversário dos judeus, é um tipo do Anticristo. Sua promoção no reino prenuncia o tempo quando Deus irá permitir que o Anticristo alcance um lugar de proeminência e poder na terra. Hamã usava de sua posição para sua própria exaltação e exigia que todos se prostrassem diante dele em reverência. Do mesmo modo o Anticristo irá exigir a adoração de todos (2 Tessalonicenses 2:3-4). Todavia, Mardoqueu se recusava a prostrar-se diante de Hamã (Ester 3:2). Isso trouxe à tona o ódio de Hamã, e ele decidiu “destruir a todos os judeus, o povo de Mardoqueu, que havia em todo o reino de Assuero” (Ester 3:5-15). Isso é um prenúncio da terrível perseguição (a Grande Tribulação) que o Anticristo irá promover em seus esforços para exterminar os judeus tementes a Deus. Hamã tinha dez filhos que estavam ligados a ele em sua causa (Ester 5:11, 14; 9:7-10). Eles são, talvez, um tipo da confederação de dez nações da Europa Ocidental chamada “a Besta”, que irá ajudar o Anticristo a colocar em prática sua perseguição contra o remanescente fiel. O rei deu a Hamã seu “anel”, autorizando-o a levar adiante seu plano maligno (Ester 3:10). Isso nos fala de Deus permitindo que o Anticristo promova sua perseguição contra remanescente por um tempo determinado. Ele fará assim para testar a realidade da fé do remanescente e aperfeiçoar Sua obra neles.

No capítulo 4 a vida dos judeus estava em grande risco por causa dos ímpios desígnios de Hamã. Isso produziu muito pranto e lamento em cada província do império (Ester 4:1-3). Trata-se de uma figura da tristeza e profundo exercício de alma que o remanescente judeu experimentará durante a Grande Tribulação. Mardoqueu também “vestiu-se de saco e de cinza, e saiu pelo meio da cidade, e clamou com grande e amargo clamor”. Isso ilustra os sentimentos que Cristo terá da mais profunda simpatia pelo remanescente, já que este irá passar pelo período de tribulação (Isaías 63:9). O livro dos Salmos ilustra particularmente os sofrimentos de Cristo em Sua empatia para com o remanescente.

Sentindo o terrível apuro de seu povo, Ester é encorajada a “que fosse ter com o rei, e lhe pedisse e suplicasse na sua presença pelo seu povo” (Ester 4:4-9). Todavia, isso era algo que ela nunca tinha feito antes e temia fazer, pois ninguém podia entrar na presença do rei de vontade própria sem ser condenada à morte. Todavia, a lei Persa permitia que o rei estendesse o “cetro de ouro” para a pessoa, o que representa a graça divina, de modo que essa pessoa pudesse viver e não morrer. Isso nos fala da divina graça sendo estendida ao homem (Ester 4:10-11). Mardoqueu falou a Ester (por intermédio de “Hatá”) e insistiu com ela para que se aproximasse do rei, pois esse era o único meio de livramento de seu povo (Ester 4:12-14). Então, após muita oração e jejum, Ester decidiu se dirigir ao rei (Ester 4:15-17). De igual maneira o remanescente, depois de um grande exercício de alma, irá se aproximar de Deus pela fé.

No capítulo 5 Ester se aproximou do rei “ao terceiro dia”. Isso é uma figura o remanescente judeu, quebrantado e aflito, se aproximando de Deus em oração e súplicas, e obtendo graça em um tempo de grande tribulação. É notável que isso tenha acontecido no terceiro dia. Nas Escrituras o número três fala de ressurreição (Jonas 1:17; 2:10; Mateus 12:40; Hebreus 11:19) e aponta como figura para a ressurreição nacional de Israel (Daniel 12:1-2; Ezequiel 37). Nessa ocasião Deus irá intervir a favor do remanescente judeu e trazer livramento a eles (Os 6:2).

No capítulo 6 o rei viu que era a hora de exaltar publicamente a Mardoqueu e exibi-lo diante de todo o povo em “veste real” e portando a “coroa real”. Isso é uma figura do que acontecerá na Manifestação de Cristo: Deus irá exaltá-Lo publicamente e exibi-Lo diante do mundo na glória do Seu reino (2 Tessalonicenses 1:10).

No capítulo 7 o plano maligno de Hamã foi descoberto e ele foi executado. De maneira similar, quando Cristo vier publicamente e em poder o Anticristo será removido repentinamente de seu posto e julgado (Apocalipse 19:20).

No capítulo 8 a casa de Hamã (sua propriedade) foi dada a Ester e ela, por gratidão, entregou tudo a Mardoqueu. Isso é uma figura dos judeus naquele dia entregando a Cristo o lugar que pertence a Ele por direito (Salmos 110:3). Então “tirou o rei o seu anel, que tinha tomado de Hamã e o deu a Mardoqueu.” (Ester 8:2). Isso nos fala de Deus dando a Cristo aquele lugar de governo e autoridade na terra que o Anticristo havia usurpado. Compare com Isaías 22:15-25. “Então Mardoqueu saiu da presença do rei com veste real azul-celeste e branco, como também com uma grande coroa de ouro, e com uma capa de linho fino e púrpura” (Ester 8:15). Isso é uma figura de Cristo em sua glória oficial do reino. Como consequência os judeus tiveram “alegria, e gozo, e honra”, e isso, evidentemente, se refere ao gozo do remanescente no dia de seu livramento (Ester 8:16-17). Nessa ocasião “muitos, dos povos da terra, se fizeram judeus”. De igual maneira, no futuro Milênio “muitas nações se ajuntarão ao Senhor” (Zacarias 2:11; 8:23; Salmos 47:9).

No capítulo 9 Mardoqueu instituiu uma “festa” (chamada “Purim”) na qual os judeus “descansaram” em todas as províncias do reino. Eles trocaram presentes uns com os outros e tiveram grande alegria, jejuaram e se regozijaram. Isso nos fala do descanso milenial que prevalecerá naquele dia na terra.

No capitulo 10 “impôs o rei Assuero tributo sobre a terra, e sobre as ilhas do mar” (Ester 10:1). Isso nos fala de todas as nações sendo tributárias de Israel (Isaías 60:5-6, 16; 61:6; Salmos 72:10). Nessa ocasião o rei fez “o relato da grandeza de Mardoqueu” (Ester 10:2). Isso se refere à exaltação universal de Cristo. Mardoqueu passou o restante de seus dias “procurando o bem do seu povo, e proclamando a prosperidade de toda a sua descendência” (Ester 10:3). Isso nos fala e Cristo devotando Suas energias para a bênção de todos em Seu reino milenial.

O ponto que não queremos deixar passar ao considerarmos os detalhes desta figura é que o livro de Ester começa com Israel visto como deixado de lado por conta de sua infidelidade (Ester 1:1-2). Então Deus (Assuero) estende seu favor aos gentios (Ester 1:3-9), mas quando a cristandade (Vasti) fracassa (Ester 1:10-22), Deus passa a lidar com os judeus e levanta deles um remanescente (et) para usufruir das bênçãos do reino — embora sejam prejudicados por um curto período de tempo pelo estratagema de Hamã (o Anticristo) (Ester 2-10).