A DUPLA APLICAÇÃO DO FATO

Confiando ter apresentado o fato da vinda do Senhor de forma completa, devemos agora colocar diante do leitor a dupla aplicação desse fato — sua aplicação em relação ao povo do Senhor, e sua aplicação em relação ao mundo. A primeira é apresentada, no Novo Testamento, como a vinda de Cristo para receber Seu povo para Si; a última é tratada como "o dia do Senhor" — uma expressão usada com frequência também nas Escrituras no Antigo Testamento. Estas coisas nunca são confundidas nas Escrituras, conforme veremos ao nos ocuparmos das várias passagens. os cristãos as confundem e é por esta razão que encontramos com frequência "a bendita esperança" envolta em densas nuvens e associada, na sua maneira de pensar, com circunstâncias de terror, ira e juízo, coisas que não têm absolutamente coisa alguma a ver com a vinda de Cristo para o Seu povo, mas que estão intimamente ligadas com "o dia do Senhor".

Portanto, que o leitor cristão tenha bem definido em seu coração, com base na clara autoridade das Sagradas Escrituras, que a grande e específica esperança que deve sempre acalentar é a da vinda de Cristo para o Seu povo. Esta esperança pode se realizar nesta mesma noite. Não há qualquer outra coisa para se esperar, nenhum evento para ocorrer entre as nações, nada para acontecer na história de Israel, nada no governo de Deus neste mundo, nada, em suma, em qualquer que seja a sua forma, para se interpor entre o coração do verdadeiro crente e sua esperança celestial. Cristo pode vir hoje à noite para o Seu povo. na verdade não há nada que impeça. Ninguém pode dizer quando Ele virá, mas podemos dizer com júbilo que Ele deve vir a qualquer momento. E, bendito seja o Seu nome, quando Ele vier para nós, não será acompanhado das circunstâncias de terror, ira e juízo. Não será com trevas e escuridão e tempestade. Tais coisas acompanharão "o dia do Senhor", como o apóstolo Pedro explica claramente aos Judeus em seu primeiro grande sermão, no dia de Pentecostes, no qual cita as seguintes palavras da solene profecia de Joel: "E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.

O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes..." antes de quê? Da vinda do Senhor para o Seu povo? Não, mas antes "que venha o grande e terrível dia do Senhor". Quando nosso Senhor vier para receber o Seu povo para Si nenhum olho O verá, nenhum ouvido ouvirá Sua voz, exceto seu próprio povo amado e redimido. Lembremo-nos das palavras das testemunhas angelicais no primeiro capítulo de Atos. Quem viu o bendito Senhor subindo aos céus? Ninguém além dos que eram Seus. Bem, Ele "há de vir assim como para o céu O vistes ir". Do mesmo modo como foi na ida, assim será na volta, se acatarmos o que dizem as Escrituras. Confundir o dia do Senhor com Sua vinda para Sua Igreja é ignorar os mais claros ensinos das Escrituras e privar o crente de sua verdadeira e justa esperança.

E aqui talvez não possamos fazer melhor do que chamar a atenção para uma passagem muito importante e interessante na Segunda Epístola de Pedro: "Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a Sua majestade. Porquanto Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória Lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em Quem Me tenho comprazido. E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com Ele no monte santo; e temos, mui firme [ou confirmada], a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações" (2 Pe 1:16-19).

Esta passagem exige a maior atenção do leitor. Ela apresenta, da forma mais clara possível, a diferença entre "a palavra dos profetas" e a esperança peculiar do cristão, a saber, "a estrela da alva". Devemos nos lembrar de que o grande assunto da profecia é o governo de Deus do mundo em conexão com a descendência de Abraão. "Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel. Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança" (Dt 32:8,9).

Aqui está, portanto, o escopo e tema da profecia — Israel e as nações. Até uma criança é capaz de entender isto. Se percorrermos os profetas, do início de Isaías ao final de Malaquias, não encontraremos qualquer menção da Igreja de Deus, sua posição, sua porção ou suas perspectivas. Não há dúvida de que a palavra profética é profundamente interessante, e é extremamente útil para o cristão estudá-la, mas ela será útil na medida em que este entender sua própria abrangência e objetivo, além de enxergar a diferença entre ela e a esperança que cabe ao cristão. Podemos afirmar sem medo de errar que é totalmente impossível alguém estudar as profecias do Antigo Testamento corretamente sem enxergar claramente o verdadeiro lugar da Igreja.

Não podemos tentar entrar no assunto da Igreja neste breve tratado. Trata-se de um assunto que já foi repetidamente abordado e escrutinado em outras publicações, e podemos agora apenas pedir que o leitor pondere e examine a afirmação que deliberadamente fazemos aqui, a saber, que não existe uma única sílaba sobre a Igreja de Deus — o corpo de Cristo — de uma capa a outra do Antigo Testamento. Existem tipos, sombras e ilustrações que, com a plena luz que agora temos do Novo Testamento, podemos ver, entender e apreciar. Mas não teria sido possível a qualquer crente do Antigo Testamento enxergar o grande mistério de Cristo e da Igreja, principalmente por isto não ter sido então revelado. O apóstolo inspirado nos diz expressamente que é algo que estava "oculto", não nas Escrituras do Antigo Testamento, mas "em Deus", conforme lemos em Efésios 3:9, "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo". Do mesmo modo, em cl lemos do "mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos" (Cl 1:26).

Estas duas passagens deixam fora de qualquer questão a veracidade de nossa afirmação para aqueles que tiverem o desejo de serem governados tão somente pela autoridade das Sagradas Escrituras. Elas nos ensinam que o grande mistério — Cristo e a Igreja — não é para ser encontrado no Antigo Testamento. Onde é que temos, no Antigo Testamento, qualquer menção de Judeus e Gentios formando um só corpo e sendo unidos pelo Espírito Santo a uma Cabeça viva no Céu? Como tal coisa poderia ser possível enquanto a "parede de separação que estava no meio" permanecesse como uma barreira intransponível entre circuncisos e incircuncisos? Se alguém precisasse citar uma característica especial da antiga dispensação, mencionaria logo "a rígida separação entre judeus e gentios". Por outro lado, se lhe fosse solicitado que mencionasse uma característica especial da Igreja, ou do cristianismo, ele imediatamente responderia: "A união íntima de judeus e gentios em um só corpo". Em suma, as duas condições estão em claro contraste e era totalmente impossível que ambas pudessem ser válidas ao mesmo tempo. Assim, enquanto a parede de separação permanecesse, a verdade da Igreja não poderia ter sido revelada. Mas após a morte de Cristo ter derrubado essa parede, o Espírito Santo desceu do Céu para formar um corpo e uni-lo, por Sua presença e habitação, à Cabeça ressuscitada e glorificada nos Céus. Tal é o grande mistério de Cristo e da Igreja, para a qual não poderia existir uma base que fosse menos do que uma redenção consumada.

Pedimos agora ao leitor que examine este assunto por si mesmo. Busque nas Escrituras para ver se estas coisas são realmente assim. Esta é a única maneira de se chegar à verdade. Devemos deixar de lado todos nossos pensamentos e argumentos, nossos preconceitos e preferências, e abordarmos as Sagradas Escrituras como uma criancinha. É assim que aprenderemos a vontade de Deus sobre este assunto tão precioso e interessante. Descobriremos que a Igreja de Deus, o corpo de Cristo, não existiu de fato até após a ressurreição e ascensão de Cristo e a consequente descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Além disso, descobriremos que a plena e gloriosa doutrina da Igreja não foi apresentada até os dias do apóstolo Paulo. (Veja Romanos 16:25, 26; Ef 1-3; Colossenses 1:25-29).

Finalmente, veremos que as verdadeiras e inequívocas fronteiras da história terrena da Igreja são o Pentecostes (Atos 2) e o arrebatamento, ou o traslado dos santos para o céu (1Ts 4:13-17).

Chegamos, portanto, à posição da qual podemos ter uma visão da esperança que é pertence à Igreja, e essa esperança é, com toda certeza, "a resplandecente estrela da manhã". A respeito desta esperança os profetas do Antigo Testamento não emitiram sequer uma sílaba. Eles falam de forma ampla e clara do "dia do Senhor" — um dia de juízo sobre o mundo e suas práticas (veja Isaías 2:12-22 e referências) —, todavia o "dia do Senhor", com todas as circunstâncias de ira, juízo e terror que lhe são peculiares nunca deve ser confundido com Sua vinda para o Seu povo. Quando nosso bendito Senhor vier para o Seu povo não haverá coisa alguma de terrível. Ele virá em toda a doçura e ternura de Seu amor para receber os Seu povo amado e redimido para Si. Ele virá terminar a preciosa história de Sua graça. "Aparecerá (ophthesetai) segunda vez, sem pecado [Isto é, à parte de qualquer questão relacionada ao pecado], aos que o esperam para salvação" (Hb 9).* Ele virá como noivo para receber a noiva; e quando assim vier, ninguém além dos que são Seus ouvirão Sua voz ou verão Sua face. Se Ele viesse nesta mesma noite para o Seu povo — e pelo que sabemos Ele pode vir — se a voz do arcanjo e a trombeta de Deus forem ouvidas esta noite, então todos os mortos em Cristo — todos os que foram colocados a dormir por Jesus — todos os santos de Deus, tanto aqueles dos tempos do Antigo quanto do Novo Testamento, que dormem em nossos cemitérios e sepulcros, ou nas profundezas do oceano, todos ressuscitariam de seu sono temporário. Todos os santos que estivessem vivos seriam transformados num momento, e todos seriam arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares, e voltar com Ele para a casa do Pai. (Jo 14:3; 1 Tessalonicenses 4:16, 17; 1 Co 15:51-52).

[* A expressão "que O esperam para salvação" refere-se a todos os crentes. Não se refere, como alguns poderiam supor, apenas àqueles que detêm a verdade da segunda vinda do Senhor. Isso tornaria nosso lugar com Cristo em Sua vinda dependente de conhecimento, ao invés de depender de nossa união com Ele pela presença e poder do Espírito Santo. O Espírito de Deus, na passagem acima, assegura da forma mais graciosa que todo o povo de Deus espera, de uma maneira ou outra, pelo precioso Salvador, e isso é o que realmente acontece. As pessoas podem não enxergar todos os detalhes. Elas podem não desfrutar de igual clareza de opinião ou profundidade e plenitude de compreensão, mas, com toda certeza, elas ficariam contentes de, a qualquer momento, poderem ver Aquele que as amou e Se entregou a Si mesmo por elas.]

É isto que significa o arrebatamento ou retirada dos santos, e não tem nada a ver diretamente com Israel ou com as nações. Trata-se da esperança distinta e única da Igreja, e não existe sequer uma pista disso em todo o Antigo Testamento. Se alguém afirmar que existe, que apresente. Se existir, não terá dificuldade para mostrar. Nós declaramos, solene e deliberadamente, que não existe. Pois para tudo o que diz respeito à Igreja — sua posição, sua vocação, sua porção, suas expectativas — devemos nos dirigir às páginas do Novo Testamento e, dentre aquelas páginas, em especial às Epístolas de Paulo. Confundir "a palavra profética" com a esperança da Igreja é causar dano à verdade de Deus e iludir as almas do Seu povo. É verdade que o inimigo tem tido êxito neste sentido em toda a extensão da Igreja professa. E é por isso que tão poucos cristãos têm ideias realmente bíblicas sobre a vinda de seu Senhor. A maioria perscruta a profecia em busca da esperança da Igreja, confundindo "o Sol de justiça" com a "Estrela da manhã", misturando a vinda de Cristo para o Seu povo com Sua vinda com o Seu povo e considerando a Sua "vinda" ou o estar com Ele como algo idêntico à Sua "aparição" ou "manifestação".*

[* N. do T.: Em algumas versões da Bíblia em português é usada indistintamente a palavra "vinda" em ambas as situações. Na versão em inglês, à qual o autor se refere, são utilizadas palavras como "coming" para o primeiro caso e "appearing" ou "manifestation" para o segundo caso.]

Isso tudo é um erro dos mais sérios, para o qual queremos alertar nossos leitores. Quando Cristo vier com o Seu povo "todo olho O verá". Quando Ele Se manifestar, os Seus também serão manifestos com Ele. "Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória" (Cl 3:4). Quando Cristo vier exercer juízo, os Seus santos virão com Ele. "Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos; para fazer juízo contra todos" (Jd 1:14, 15). O mesmo é encontrado em Apocalipse 19, onde Aquele que cavalga o cavalo branco é seguido pelos exércitos nos céus em cavalos brancos, vestidos de linho fino, branco e puro. Esses exércitos não são anjos, mas santos, pois não lemos de anjos vestidos de linho branco, o que é uma clara expressão, no próprio capítulo, das "justiças dos santos" (versículo 8). Portanto, é por demais evidente que para os santos estarem acompanhando Seu Senhor quando Ele vier em juízo, devem estar com Ele antes disso. O evento de sua subida para estar com Ele não é apresentado no livro do Apocalipse, a menos que esteja subentendido — como não temos dúvida de que está — no arrebatamento da criança no capítulo 12. A criança é, com certeza, Cristo, e já que Cristo e o Seu povo estão indissoluvelmente unidos, o Seu povo encontra-se assim completamente identificado com Ele, bendito seja para sempre Seu santo e precioso nome! Todavia, fica claro que não faz parte do escopo do livro de Apocalipse apresentar-nos a vinda de Cristo para o Seu povo, o arrebatamento deste para encontrá-Lo nos ares, ou seu retorno para a casa do Pai. Estes benditos eventos ou fat devem ser procurados em outras passagens como, por exemplo, João 14:3, 1 Coríntios 15:23, 51, 52 e 1 Tessalonicenses 4:14-17. Que o leitor pondere nestas três passagens; que possa absorver, no íntimo de sua alma, o seu ensino claro e precioso. Não há coisa alguma difícil acerca delas, não há qualquer obscuridade, névoa ou incerteza. Um bebê em Cristo pode entendê-las. Elas apresentam da forma mais clara e simples possível a verdadeira esperança do cristão, a qual, repetimos com ênfase e insistimos com o leitor como sendo a instrução direta e positiva das Sagradas Escrituras, é a vinda de Cristo para receber para Si mesmo o Seu povo — todos os que Lhe pertencem. Ele virá para levá-los de volta à casa de Seu Pai, para que estejam ali Consigo enquanto Deus executa Seus procedimentos governamentais para com Israel e as nações, preparando, por meio de Seus Atos judiciais, o caminho para a revelação do Seu Primogênito ao mundo.

Então, se alguém perguntar a razão de não encontrarmos a vinda de Cristo para os Seus no livro de Apocalipse, a resposta é que esse livro é principalmente um livro de juízo — um livro governamental e judicial, pelo menos do capítulo 1 ao 20. É por esta razão que até a Igreja ser apresentada ali ela está sob juízo. Nos capítulos 2 e 3 não vemos a Igreja como o corpo ou a noiva de Cristo, mas como uma testemunha responsável na terra, cuja condição está sendo cuidadosamente examinada e rigidamente julgada por Aquele que anda em meio aos candeeiros. Portanto, não estaria de acordo com o caráter ou objetivo do livro de Apocalipse apresentar, de forma direta, o arrebatamento dos santos. Ele nos mostra a Igreja na terra ocupando um lugar de responsabilidade. Isto aparece, em Apocalipse 2 e 3, como "as coisas que são". Mas dali até o capítulo 19 de Apocalipse não há uma sílaba sequer sobre a Igreja na terra. O que fica bem claro é que a Igreja não estará na terra durante aquele solene período. Ela estará com sua Cabeça e Senhor no divino abrigo da casa do Pai. os redimidos são vistos no céu, nos capítulos 4 e 5, como os vinte e quatro anciãos coroados. Eles estarão ali, bendito seja Deus, enquanto os selos forem abertos, as trombetas estiverem soando e as taças forem derramadas. Pensar na Igreja como estando no mundo em Apocalipse 6-8, colocá-la em meio aos juízos apocalípticos, fazê-la passar pela "grande tribulação" ou sujeitá-la à "hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo para tentar os que habitam na terra", seria o mesmo que falsificar sua posição, roubar dela seus direitos garantidos e contradizer a clara e positiva promessa de seu Senhor.*

[* Em uma publicação futura teremos oportunidade de mostrar que, após a Igreja ter sido removida para o céu, o Espírito de Deus irá agir tanto entre os judeus como entre os gentios. Veja Ap 7.]

Não, de modo algum, amado leitor cristão; jamais permita que homem algum o engane, por quaisquer que sejam os meios. A Igreja é vista na terra em Apocalipse 2 e Apocalipse 3. Ela é vista no céu, junto com os santos do Antigo Testamento, em Apocalipse 4 e Apocalipse 5. O livro de Apocalipse não nos diz como ela chegou ali, mas nós a vemos ali em elevada comunhão e santa adoração. Depois, em Apocalipse 19, Aquele que cavalga o cavalo branco desce, com os Seus santos, para exercer juízo sobre a besta e o falso profeta — para vencer todo inimigo e todo o mal, e reinar sobre toda a terra pelo bendito período de mil anos.

Tal é o claro ensinamento do Novo Testamento para o qual sinceramente chamamos a atenção de nossos leitores. E ninguém suponha que, ao ensinarmos assim, ao enfatizarmos que a Igreja não estará na "grande tribulação" e não passará pela "hora da tentação", nosso objetivo seja apresentar uma senda fácil para os cristãos. Não se trata disso. O fato é que a condição real e normal da Igreja neste mundo, e, por conseguinte do cristão individualmente, é de tribulação. Assim diz nosso Senhor: "no mundo tereis aflições". E "também nos gloriamos nas tribulações".

Portanto, não se trata de uma questão de se evitar aquilo que já é a porção determinada para nós neste mundo, se tão somente formos fiéis a Cristo. Mas é certo que toda a verdade da posição da Igreja e de sua expectativa está envolvida nesta questão, e esta é a razão de insistirmos tanto para que nossos leitores atentem a isto em oração.

O grande objetivo do inimigo é arrastar a Igreja de Deus para um nível terreno, desviar totalmente os cristãos da esperança que lhes foi divinamente designada, levá-los a confundir as coisas que Deus diferenciou, ocupá-los com as coisas terrenas, fazendo com que misturem de tal maneira a vinda de Cristo para o Seu povo com Sua aparição em juízo para o mundo, que fiquem incapazes de cultivar aquelas afeições nupciais e as aspirações celestiais que lhes pertencem por serem membros do corpo de Cristo. O inimigo de bom grado fará com que fiquem procurando por diversos eventos terrenos que possam separá-los da esperança que lhes cabe, a fim de não poderem viver — como Deus gostaria que pudessem — numa premente expectativa, com um desejo ardente pelo surgimento da "resplandecente Estrela da Manhã".

O inimigo sabe muito bem o que o aguarda, e certamente não devemos ignorar sua astúcia, mas nos dedicarmos ao estudo da Palavra de Deus, aprendendo assim, como certamente aprenderemos, a dupla aplicação do glorioso fato da vinda do Senhor.