O Poder da Oração

Ao traçar a linha prateada da graça de Deus em Seu povo amado, temos agora que tomar nota de um relato que foi amplamente difundido entre os cristãos após o início do terceiro século. Ocorreu perto do fim do reinado de Aurélio, e que o levou, como dizem alguns, a mudar o rumo de sua política para com os cristãos. Em uma de suas campanhas contra os germânicos e sármatas, ele se viu em uma situação de extremo perigo. O sol ardente brilhava em cheio nas faces de seus soldados; eles foram cercados pelos bárbaros e estavam exaustos por feridas e cansaço, e sedentos: enquanto isso, o inimigo se preparava para atacá-los. Nessa situação extrema, a 12ª legião, que diziam ser composta por cristãos, avançou e se ajoelhou em oração. De repente, o céu ficou coberto de nuvens, e começou a cair uma forte chuva. Os soldados romanos pegaram seus elmos para recolher as refrescantes gotas, mas a chuva logo aumentou e se tornou uma tempestade de granizo, acompanhada de trovões e raios, que deixou os bárbaros tão alarmados que garantiu aos romanos uma vitória fácil.

O imperador, perplexo com tal resposta miraculosa às orações, reconheceu a intervenção do Deus dos cristãos, conferiu honra à legião, e emitiu um decreto em favor da religião deles. Depois disto, se não antes, eles passaram a ser chamados de “legião do trovão”. Historiadores, a partir de Eusébio, têm tomado nota desse marcante acontecimento.

Mas, como uma lenda frequentemente contada, muitas coisas lhe foram acrescentadas. Há boas razões para crer, no entanto, que uma resposta providencial em favor dos romanos foi dada à oração. Isto parece bastante evidente. E para a fé não há nada incrível em tal evento, embora algumas das circunstâncias relatadas sejam questionáveis. Por exemplo, uma legião romana naquela época provavelmente teria cinco mil homens: embora possa ter havido um grande número de cristãos na 12ª legião, que era uma legião distinta, ainda assim é difícil acreditar que todos eles eram cristãos.

Em seu retorno da guerra, eles sem dúvida relataram a seus irmãos a misericordiosa intervenção de Deus em resposta à oração, pois a igreja registraria e disseminaria a história entre os cristãos, para Seu louvor e glória. Mas os fatos são ainda mais plenamente confirmados pelos romanos. Eles também acreditavam que a libertação tinha vindo do céu, mas em resposta às orações do imperador aos deuses. Assim, o evento foi comemorado, de sua maneira habitual, em colunas, medalhas e pinturas. Nelas, o imperador é representado estendendo as mãos em súplicas; o exército recolhendo a chuva em seus elmos; e Júpiter lançando seus raios sobre os bárbaros, que jazem mortos no chão.

Alguns anos depois desse marcante evento, Marco Aurélio, o filósofo e perseguidor, morreu. Grandes mudanças rapidamente se seguiram. A glória do império, e o esforço para manter a dignidade da antiga religião romana, expirou com ele, mas o cristianismo fez grandes e rápidos avanços. Homens hábeis e eruditos surgiram nessa época e, ousada e poderosamente, defendiam, usando suas penas como instrumento, o cristianismo. Estes eram chamados de Apologistas. Tertuliano, um africano, que dizem ter nascido em 160, pode ser considerado o mais hábil e mais perfeito exemplo dessa classe.

Os mais esclarecidos dentre os pagãos agora começam a sentir que, se a religião deles tinha que suportar o poder agressivo do evangelho, ela deveria ser defendida e reformada. Assim começou a controvérsia, e um certo Celso, um filósofo epicureu, que dizem ter nascido no mesmo ano que Tertuliano, firmou-se como líder do lado controverso do paganismo. Foi por volta desse período – os últimos anos do segundo século – que os registros sobre a igreja começaram a se tornar mais interessantes, por serem mais definidos e confiáveis. Mas antes de prosseguirmos adiante com a história geral, seria interessante refazer nossos passos e olhar brevemente para a história interna da igreja desde o princípio. Veremos, assim, como algumas das coisas que ainda são observadas, e com as quais estamos familiarizados, foram primeiramente introduzidas.

Veja História dos Judeus, de Dean Milman, livro 16, volume 2, página 380↩

Veja História Romana, Enciclopédia Britânica, vol. 19, página 406.↩

Veja História Eclesiástica, de Mosheim, vol. 1, página 67; e os primeiros capítulos de Cristianismo Primitivo, de Cave.↩

N. do T.: Apesar do capítulo 10 de Mateus, assim como Marcos 16:15, dizerem respeito à comissão dos judeus e ao evangelho do reino, é evidente que muitos pontos podem ser aplicados também aos cristãos, e descrevem muito bem o sofrimento e perseguição sofridas por causa do nome de Cristo. O caráter judaico e a pregação do evangelho do reino (e não o evangelho da graça de Atos 16:31) de Mateus 10 podem ser facilmente observados por uma leitura atenciosa e em oração: “Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus…E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem.” (Mateus 10:5–7, 22–23).Para mais detalhes sobre o caráter judaico dos evangelhos e sobre a diferença entre o evangelho do reino e o evangelho da graça, acesses estes links:

Missão possível – http://www.3minutos.net:2008:09:33-misso-possvel.html

Por que Jesus nao voltou como prometeu em Mateus 10? – http://www.respondi.com.br:2012:01/por-que-jesus-nao-voltou-como-prometeu.html

O que significa perseverar ate’ o fim? – http://www.respondi.com.br:2013:03/o-que-significa-perseverar-ate-o-fim.html

O que é o “Evangelho do Reino”? – http://www.respondi.com.br:2005:06/o-que-o-evangelho-do-reino.html

MATEUS 10-13 – http://dispensacao.blogspot.com.br:2014:07/mateus-10-13.html

Chapter-a-Day - Mateus – http://www.stories.org.br/mt_p.html↩

História da Igreja, de Neander, vol. 1, p. 95.↩

Cristianismo Primitivo, de Cave, p. 20.↩

N. do T.: com exceção das próprias Escrituras↩

N. do T.: bispo significa “supervisor” ou “ancião” de uma assembleia (igreja) local. Na Palavra de Deus, o bispo ou ancião nunca aparece como um cargo eclesiástico assalariado (como inventaram os homens no decorrer dos séculos), mas sim como simplesmente um ofício (ou papel) exercido em uma assembleia. Para saber mais leia: Anciaos, Presbiteros [Bispos] e Guias (http://aordemdedeus.blogspot.com.br:2011:07/anciaos-presbiteros-bispos-e-guias.html), Existem anciaos hoje? (http://aordemdedeus.blogspot.com.br:2011:07/existem-anciaos-hoje.html)↩

N. do T.: e certamente para muitas outras seitas cristãs↩

N. do T.: O escritor deste livro vivia na Inglaterra no século XIX↩

Veja As Genuínas Epístolas de Clemente, Policarpo, Inácio e Barnabé, por Ab. Wake, 6ª ed. Bagster.↩

Sermões em Apocalipse, por W. Kelly↩

História Eclesiástica, de Neander, vol.1, p. 142↩

N. do T.: Antigo instrumento de tortura↩

Para mais detalhes, veja a História da Igreja, de Milner, vol. 1, p. 194↩