A História Religiosa de Constantino

Tudo o que sabemos sobre a religião de Constantino até o período de sua assim chamada “conversão” indica que ele era, exteriormente, se não zelosamente, um pagão. O próprio Eusébio admite que ele estava, nesta época, em dúvida sobre qual religião abraçaria. Política, superstição, hipocrisia e inspiração sobrenatural foram as influências decisivas, em menor ou maior grau, em sua futura história religiosa. Mas seria certamente injusto supor que sua profissão do cristianismo, e suas declarações públicas em seu favor, eram nada mais do que uma deliberada e intencional hipocrisia. Tanto seu caminho religioso quanto eclesiástico admitem uma explicação muito mais elevada e natural. Mas também não podemos acreditar que tenha havido algo de inspiração divina, seja em sua visão ao meio-dia ou em seu sonho à noite. Pode ter ocorrido alguma aparição incomum no sol ou nas nuvens, que a imaginação converteu em um sinal miraculoso da cruz; e a outra aparição pode ter sido fruto do exagero de um sonho em decorrência de seu estado de elevada ansiedade: mas toda essa história pode agora ser considerada uma fábula, cheia de bajulações ao grande imperador, e muito gratificante para seu grande admirador e panegirista, Eusébio. Não há como colocá-la entre os registros autênticos da História.

Política e superstição tiveram, sem dúvida, uma grande influência na mudança que se operou na mente de Constantino. Desde sua juventude ele tinha testemunhado a perseguição aos cristãos e deve ter observado uma vitalidade na religião deles que se erguia acima do poder de seus perseguidores, e sobrevivia diante da queda de todos os outros sistemas. Ele tinha visto um imperador após outro, que tinham sido inimigos públicos do cristianismo, morrerem a mais terrível morte. Apenas seu pai – dentre todos os imperadores – o protetor do cristianismo durante a longa perseguição, tinha descido a um túmulo honrado e pacífico. Fatos tão marcantes não poderiam falhar em influenciar a mente supersticiosa de Constantino. Além disso, ele pode ter apreciado com sagacidade política a influência moral do cristianismo, sua tendência a impor obediência pacífica ao governo civil, e a imensa adesão que obviamente havia na mente de quase metade de seu império.

Os motivos do imperador, no entanto, são fazem parte da nossa história, não necessitando nos ocupar por muito mais tempo. Porém, de modo a enxergarmos com mais clareza esse período tão importante e de grande reviravolta na história da igreja, pode ser interessante olhar para o estado da igreja em que Constantino a encontrou em 313, e como ele a deixou em 337.