O Encerramento do Período de Pérgamo

O concílio de Éfeso estava longe de pôr fim a essas contendas vergonhosas. Em vez de restaurar harmonia à igreja, só fez aumentar suas angústias. João, bispo de Antioquia, e outros clérigos orientais, julgaram Cirilo e seus amigos de terem agido muito injustamente e com precipitação inadequada no caso de Nestório: assim ergueu-se uma nova controvérsia, e em meio a isto nasceu uma nova heresia — o eutiquianismo, que muito perturbou as igrejas orientais por cerca de vinte anos.

Eutiques, abade de um convento em Constantinopla, na ânsia de sua oposição ao nestorianismo, correu ao extremo oposto. Ele foi acusado de inconsistência quanto às doutrinas da encarnação, e denunciado como herege. Isto levou a outro concílio que ocorreu na Calcedônia no ano 451, e que é chamado de Quarto Concílio Geral. Mas os detalhes dessas disputas locais fogem do escopo deste livro. Nosso plano é dar ao leitor um esboço distinto no menor espaço possível, e apenas apresentar alguns poucos detalhes em casos em que o nome da pessoa se tornou um sinônimo para as opiniões que ensinava, tais como Ário, Pelágio, etc., ou quando os eventos, tais como as grandes perseguições, merecem a atenção da igreja ao longo de todas as eras.

Para levar a cabo esses propósitos, será agora necessário voltarmos nossa atenção mais especialmente ao poder crescente e às sublimes pretensões da igreja de Roma. Em Leão, o Grande, podemos ver o encerramento do período de Pérgamo, e a aproximação da monarquia papal. Mas antes de nos aventurarmos nessas águas turbulentas, faremos bem em estudarmos nosso mapa divino — a história profética de Deus da igreja durante aquele período tenebroso e, muitas vezes, tempestuoso.

The Inquirer, 1839, p. 232↩

Veja História do Batismo Infantil, de Dr. Wall. Nós citamos sua tradução (para o Inglês) dos “pais”. Tendo recebido os agradecimentos do clero da Câmara dos Comuns, da Convocação, e as honras de D. D. da Universidade de Oxford, por sua grande obra em defesa do batismo infantil, podemos confiar em suas citações como essencialmente corretas, e como as mais favoráveis em relação ao tema.↩

N. do T.: o livro foi escrito no século XIX↩

Política Eclesiástica, de Hooker, livro 5. Burnet em Artigos, artigo 27.↩

Pelos reformadores, e mais tarde pelos puritanos, foram feitos esforços para encontrar nas Escrituras o que a igreja de Roma tinha mantido como tradição; os protestantes recorriam à Bíblia para tudo, e os católicos para os “pais”.↩

Reflexões sobre a História de Wall, de Gale, vol. 3, p. 84↩

História Geral da Igreja, vol. 3, p. 310. Veja também História da Igreja, por James Craigie Robertson, vol. 1, p. 295.↩

Robertson, volume 1; Neander, volume 3; Crenças do Mundo, de Gardner, volume 2.↩

Waddington, vol. 2, p. 252.↩

Crenças do Mundo, de Gardner.↩

Enciclopédia Britânica, vol. 19, p. 420. Dezoito Séculos Cristãos, de White, p. 94.↩

Veja A Igreja e o Mundo, 1866.↩

História Eclesiástica, vol. 1, p. 366, Murdock e Soames. Robertson, vol. 1, p. 316.↩

“O erro fundamental do monge Pelágio era a negação de nossa total corrupção pelo pecado derivado de Adão, e expiado unicamente pela morte e ressurreição do segundo Homem, o último Adão. Por isso ele pregava que a liberdade era verdadeiramente possuída por todos os homens, não apenas no sentido de isenção de alguma restrição exterior, mas da liberdade da natureza de escolher entre o bem e o mal, negando, assim, a escravidão do pecado no interior do homem. Assim, mesmo em sua aplicação cristã, ele parece ter compreendido a graça como pouco mais do que o perdão por esta ou aquela ofensa, e não como a concessão de uma nova natureza ao crente, devido a qual ele não pratica o pecado, pois nasceu de Deus. Assim não havia lugar no esquema pelagiano para o homem estar perdido de um lado, e para o crente estar salvo no outro. De fato, ele pregava que a raça humana era concebida em uma inocência como a do estado primordial de Adão até que pecasse e então caísse sob a culpa e suas consequências. Os pelagianos negavam a imputação do pecado de Adão, vendo nele nada mais do que a influência de um mal exemplo. Assim, enquanto a ruína moral do homem o fazia perder a força, bem como o relacionamento com o Cabeça da igreja, por um lado, pelo outro lado, sob a graça, estavam contadas todas as naturais e as sobrenaturais dotações da família humana. Por isso, a lei da consciência e o evangelho eram considerados como diferentes métodos e diferentes estágios de justiça, sendo os recursos e operações da graça válidos apenas de acordo com as tendências da vontade. Novamente, a redenção em Cristo se tomou, se não um mero aperfeiçoamento, com certeza uma exaltação e transfiguração da humanidade. O próprio Cristo não era nada além do padrão supremo de justiça, alguém que estimulava uns a guardarem perfeitamente a lei moral, e, por Sua obra, estimulava outros ao amor e ao exemplo pelos conselhos evangélicos da perfeição moral superior à lei.” W. Kelly↩

N. do T.: aqui não se refere ao que conhecemos hoje como “denominações evangélicas”, mas simplesmente no sentido puro da palavra, isto é, daquilo que defende o evangelho.↩

Para detalhes, veja Notas sobre o Livro de Gênesis.↩

N. do T.: este texto foi escrito no século XIX↩

Veja Crenças do Mundo, de Gardner, vol. 2, p. 531↩

Manual dos Concílios, de Landon, p. 225; Neander, vol. 4, p. 141; Mosheim, vol. 1, p. 468.↩