O ESTADO INTERMEDIÁRIO

Seol e Hades Seol (em hebraico do antigo testamento) e Hades (em grego do novo testamento) são uma e a mesma coisa. Enquanto a morte é a condição do corpo sem a alma e o espírito, seol ou hades [1] é a condição da alma e do espírito sem o corpo. A morte demanda o corpo, hades pede pela alma e espírito. Hades é uma condição ao invés de um lugar de almas e espíritos que partiram e simplesmente significa "o mundo do invisível".

[1] "Concise Bible Dictionary" p. 357, "J. N. Darby translation", Salmos 6:5 (nota de rodapé), Mateus 11:23 (nota de rodapé), F. W. Grant, "Facts and Theories as to a Future State" p. 144, "Help and Food", vol. 14, p. 140, vol. 21, p. 138, H. E. Hayhoe, "Paradise", p. 2, A. J. Pollock, "Hades and Eternal Punishment", p. 3,10-12. Há ocasiões, entretanto, quando seol é ainda mais abrangente incluindo também a sepultura onde o corpo jaz (Gn 37:35, 42:38, 44:29,31; Números 16:30,33; I Rs 2:6,9; Salmos 49:15, 141:7).

É uma condição temporária de pessoas que deixaram o corpo num intervalo entre a morte e a ressurreição. É também chamada de estado de separação (ou intermediário) uma vez que a morte separou a alma e o espírito do corpo. Seol ou Hades são expressões vagas usadas em geral para descrever os espíritos que partiram, sejam eles justos ou injustos, salvos ou perdidos. Assim é aplicado para ambos [2], o Senhor Jesus Cristo (Atos 2:27,31, 13:35) e os santos (1Co 15:55), tanto quanto para os perdidos (Lc 16:23, etc.). Pessoas neste estado fora do corpo são totalmente conscientes tendo memórias e emoções, etc. (Lc 16:23-25), mas não têm conhecimento das coisas que estão acontecendo no presente neste mundo, uma vez que estão em outro (Jó 14:21; Ec 9:5; Isaíasaias 63:16; I Sm 28:15-19 quando trazido para cima, Samuel teve de ser informado da condição presente de Israel). O fato de que "os mortos não sabem coisa nenhuma" (Ec 9:5) não significa que eles não têm consciência ou que não existam. O contexto de Eclesiastes diz respeito às coisas "debaixo do sol" (Ec 1:3, etc.), ou seja, neste mundo. Você não sabe o que está acontecendo exatamente agora no palácio de Buckingham, porque você não está lá, mas isto não significa que você está inconsciente. Você simplesmente não está lá para saber.

[2] J. N. Darby, "Collected Writings", vol. 13, p. 179, C. E. Stuart, "The Unclothed State", p. 6, W. Scott, "The Book of Revelation", p. 49, 414, F. W. Grant, "Facts and Theories as to a Future State", p. 151, "Help and Food", vol. 14, p. 140, vol 30, p. 57, "Scripture Truth", vol.28, p.247. !3

Na versão inglesa Autorizada de King James, a palavra hades é, infelizmente, traduzida como "inferno" [3]. Isto pode confundir algumas pessoas, pois inferno, é o lugar final e eterno do condenado e é distintamente diferente do hades, o estado temporário daquele que partiu. Os seguintes versículos no NT (versão de João Ferreira de Almeida), onde está "inferno" deveria ser "hades": Mateus 11:23, 16:18; 1Co 15:55; Ap 1:18, 20:13-14.

[3] A versão de João Ferreira de Almeida em português também traduz hades como "inferno" em algumas passagens.

Desde a vinda de Cristo temos agora o privilégio de saber mais a respeito da condição de "fora do corpo" (hades). Há uma divisão no hades entre os justos e os injustos e um grande abismo está colocado entre eles de modo que ninguém pode passar de um para outro (Lc 16:26). Sabemos agora que os justos no hades estão no paraíso e os injustos estão em prisão. Uma ilustração foi usada por A. C. Hayhoe no passado e ajuda a entender esta divisão. O salão de reuniões onde ele vivia foi construído de tal modo que ao entrar você imediatamente estava diante de um patamar onde de um lado havia escadas que levavam para o andar superior e, do outro lado, escadas que levavam para o porão. Caso você visse alguém, andando na rua, entrar nesse prédio e desaparecer porta adentro (o que ele estava comparando com a morte), não veria exatamente, como um observador externo, se ele se dirigia ao andar superior ou ao porão. O mesmo ocorre quando alguém passa pela morte. O corpo vai para a sepultura e a alma e espírito vão para o hades: para o paraíso ou prisão.

Paraíso - Os justos no hades estão no paraíso com Cristo (Lc 23:43; 2Co 12:1-4; Ap 2:7). Paraíso significa "o jardim das delícias" e descreve o estado dos justos repousando em bênção consciente. O apóstolo Paulo compara isto com o terceiro céu (2Co 12:1-4; Mateus 18:10). Ele também se refere ao crente nesta condição como estando "despido" (2Co 5:4) o que é "muito melhor" que estar vivo neste corpo neste mundo (Fp 1:23). Os Judeus criam que Abraão, o patriarca deles, estava no mais alto lugar de felicidade. Assim quando o Senhor falou de Lázaro estando no "seio de Abraão" eles puderam entender claramente que Ele se referia ao seu estado de bênção (Lc 16:22).

Agora que podemos falar mais especificamente do estado desencarnado do justo estando no paraíso, hades, o termo mais vago e geral quase desaparece quando aplicado ao crente que partiu. É usado só uma vez nas epístolas com respeito aos santos (1Co 15:55). Para ilustrar isto poderíamos falar de uma pessoa que conhecemos que tenha ido para a Inglaterra, mas após saber de seu particular paradeiro, diríamos que ela (a pessoa) se encontra em Londres, morando com a família real. Tal é o caso com o crente que partiu deste mundo através da morte. Ele não está simplesmente no hades, mas "com Cristo" no paraíso (Lc 23:43; Filipenses 1:23).

Prisão - Os injustos no hades estão em uma prisão (Is 24:21-22 "os reis da terra"; 1Pe 3:19-20). É um estado temporário onde as almas e espíritos dos pecadores que partiram estão confinadas esperando pela sentença final no grande trono branco (Ap 20:11-15). Enquanto neste confinamento eles estão sofrendo tormentos (Lc 16:23-24; Isaías 57:20-21). Embora esta prisão dos espíritos que partiram seja somente um estado temporário, os que entram nela têm seu destino irrevogável e eternamente selado.

Alguns ficam perplexos quanto ao que significa Cristo pregando "aos espíritos (homens) em prisão" (1Pe 3:18-20) e supõem que Ele deve ter ido, após sua morte, com a missão de dar aos perdidos uma última chance de escaparem. Esta suposição é, certamente, um erro. O fato de que foi pregado aos espíritos em prisão é inegável, mas foi quando eles eram homens sobre a terra que Cristo lhes pregou pelo Espírito através de Noé (Gn 6:3; 1Pe 1:11, 3:18-19). Eles rejeitaram a pregação e consequentemente estão agora em prisão. O fato de que lhes foi pregado mostra assim que não estão neste lugar de prisão injustamente, mas a pregação teve lugar quando eles estavam na terra e não após Cristo ter morrido.

O abismo - O abismo (Lc 8:31; Ap 9:1-2,11, 11:7, 17:8, 20:1-3) é o lugar temporário de confinamento para os espíritos angélicos maus. Os anjos maus serão lançados no abismo quando o reino de Cristo se estabelecer na terra (Is 24:21-22). Alguns anjos maus já estão lá (2Pe 2:4; Judas 6). Eles permanecerão lá até o grande dia de julgamento no fim do Milênio (os mil anos de reinado de Cristo) que neste tempo serão lançados no lago de fogo (2Pe 2:4; Judas 6; Mateus 35:41).

Satanás também será preso no abismo durante o Milênio (Ap 20:1-3) após o qual ele será lançado no lago de fogo (Mt 25:41). "Tartarus" (2Pe 2:4 "no mais profundo da escuridão" como traduzido na versão de J. N. Darby) aparentemente é um lugar especial de confinamento solitário no abismo no qual alguns dos anjos caídos estão sendo temporariamente mantidos devido à malignidade pessoal deles (Jd 6). Anjos não são sujeitos à morte e nem participam da ressurreição (Lc 20:35-36).